sábado, julho 02, 2005

Aeroportos 1

O Lobby da Ota e o velho eixo Norte-Sul

Parece que a solução preferida pelo actual Governo PS, incapaz de resistir aos argumentos do lobby Norte-Sul, passa por uma decisão em dois compassos: Primeiro, adaptar o aeroporto de Alverca, transformando-o numa espécie de extensão da Portela, até 2015. Com esta medida de recurso, anunciada frequentemente por oposição à Ota (que não é...), pretende-se garantir que o incremento previsto de tráfego aéreo de pessoas e mercadorias nos próximos 10 anos seja devidamente aproveitado pelo aeroporto de Lisboa, e não desviado para outras paragens. Segundo, construir o aeroporto da Ota, para inaugurar em 2015, 2020 ou 2030. Esta decisão, que é muito cara e apresenta problemas técnicos importantes (nebulosidade elevada e constante, níveis de ocupação urbana/industrial da área, obstáculos naturais à navegação aérea, proximidade do leito de cheias do Tejo, etc.) reflecte uma capitulação face aos interesses instalados naquela zona (capacidade de armazenagem e distribuição residente no eixo compreendido entre Vila Franca de Xira e Santarém) e sobretudo perante o lobby atávico do eixo Norte-Sul.

Sucede que o que precisaríamos era de uma viragem estratégica de fundo na definição da ossatura identitária do País.
A nossa independência esteve associada, durante 837 anos, ao eixo Norte-Sul (projecção constitutiva da nacionalidade) e à aliança anglo-portuguesa, nascida do casamento de Philippa of Lancaster, de Inglaterra, com João I, de Portugal (1387), e reforçada pelo Tratado de Metween (1703). Não creio que este eixo continue a fazer sentido. Pelo contrário, a sua manutenção forçada tem sido um obstáculo decisivo ao desemburramento do País. No quadro europeu actual - e que aí vem - Portugal precisa de reorientar corajosamente a sua ossatura identitária. E na minha opinião deverá fazê-lo redesenhado as suas unidades administrativas principais. Para tal, e para além das 2 Regiões Autónomas já existentes (Madeira e Açores), deveriam ser criadas mais duas: a de Lisboa e Vale do Tejo e a do Norte. No resto do País, proceder-se-ia a uma redução forçada e drástica do número de municípios, mantendo o actual esquema básico de administração (excepção feita dos chamados Governos Civis, que deveriam acabar antes da actual legislatura!)

Se virmos a coisa por este prisma perceber-se-à facilmente que o Porto deverá expandir-se para Norte e para Leste, reforçando estrategicamente os seus laços históricos e fraternais com a Galiza e Leão (Vigo, Santiago, Ourense, Corunha, Salamanca), mas buscando ao mesmo tempo uma via de acesso rápido ao resto da Europa), e que Lisboa tem que crescer em direcção ao Sul e também, obviamente, a Leste (Setúbal, Badajoz, Madrid, Barcelona). A nova Lisboa do século 21 deve cruzar o rio Tejo sem medo dos castelhanos! E para isso, um novo aeroporto deveria nascer na Margem Sul, no Montijo, em Rio Frio, em suma, entre os estuários do Tejo e do Sado.

A este novo eixo estratégico fundamental da ossatura identitária portuguesa costumo chamar o EIXO TRANS_IBERIANO. Ao velho eixo Porto-Galiza, deveríamos passar a chamar, como poeticamente lhe chamou José Rodrigues Miguéis, PORTUGALIZA. As novas nações europeias serão sobretudo nações em rede, sentimentais, no grande território do Atlântico aos.... De contrário, será o fim da Europa.

Em O Grande Estuário, projecto dinâmico e aberto de reflexão pública sobre Lisboa, a Grande Área Metropolitana de Lisboa e a Região de Lisboa e Vale do Tejo, continuamos a pensar que será possível manter o aeroporto da Portela, com duas extensões próximas (Montijo e Tires). Mas poderá realmente a Portela manter-se por muito mais tempo onde está? Poderiam as pistas do Montijo e de Tires, e novas obras na Portela, configurar uma solução sustentável até 2020-2030? As opiniões dividem-se... e os estudos técnicos também. Segundo Rui Rodrigues, a queda da taxa de crescimento do número de voos e de passageiros, em consequência de novas e mais rápidas ligações ferroviárias entre Lisboa e Madrid (AV e VE), afastaria, pelo menos para já, a necessidade imperiosa de equacionar a construção de uma nova infraestrutura de raiz. O argumento parece razoável, e ainda mais se lhe acrescentarmos os efeitos expectáveis de uma alta contínua do preço do petróleo (praticamente inevitável no actual quadro mundial de aproximação do chamado Peak of Oil Production). Em todo o caso, se um dia tivermos que avançar para um novo aeroporto internacional que altere radicalmente o actual estado de coisas, então a solução mais conforme com a inadiável actualização das nossas prioridades estratégicas no novo contexto europeu estará seguramente ao Sul do Tejo (Rio Frio...) e não no beco da Ota. Entretanto, esta discussão deve ser pública, e não um cozinhado de políticos levianos. O que não aceito é o autoritarismo governamental quando se apropia deste tema como coisa sua (não é!) Precisamos de esclarecimento cívico, sem filtros, nem ruído de despiste (media scrambing).


Actualização [10.07.05]

Recebi de Rui Rodrigues um conjunto de análises, estudos e opiniões sobre o binómio Rede Ferroviária/Novo Aeroporto de Lisboa, que vale a pena consultar. Mantenho porém a opinião de que Alverca não é alternativa à Ota. O novo aeroporto internacional de Lisboa deverá situar-se algures entre os rios Tejo e Sado. Rio Frio continua a ser uma hipótese lógica e interessante.

OTA - DOCUMENTOS

AEROPORTOS DA PORTELA E MÁLAGA - Evolução comparada
A futura rede de AV irá permitir não só retirar tráfego à Portela mas, mais importante, reduzir a sua taxa de crescimento, permitindo retardar ainda mais a sua saturação.
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AEROPORTO DA OTA - UM VOO SEM SENTIDO
A Ota não coexiste com a rede existente nem com novas linhas a construir. A Portela está muito longe da saturação.
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OTA VERSUS PORTELA
Seria muito mais lógico utilizar esses recursos financeiros para projectos de desenvolvimento e apoio ao tecido produtivo, que geram riqueza e criam emprego, ou em outras infraestruturas mais necessárias, tais como a ferrovia, que têm comparticipação de 80% e que será, no futuro, o meio mais rentável de transporte para mercadorias.
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OTA CONDICIONA O TGV
A localização errada, na Ota, condiciona, assim, uma futura rede ferroviária que sirva o País impediu, consequentemente, que se chegasse a um acordo com Espanha e levando por isso à actual situação de impasse, que terá como resultado a não ligação das duas capitais ibéricas por TGV.
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LIGAÇÕES À OTA NÃO VÃO FUNCIONAR
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MINISTRO LEVIANO
Uma sessão parlamentar onde o Ex Ministro Jorge Coelho (aqui identificado como o orador) sugere algumas ideias muito "divertidas" sobre a Ota e fala do Chek-in na Gare do Oriente (o TGV utiliza bitola europeia (distância entre carris) ao contrário do que se passa naquela estação).

Atenção: Nesta sessão parlamentar foram apresentados os argumentos e pressupostos para a construção do novo aeroporto na Ota. Tudo com documentação lida e preparada no Ministério do Equipamento. Este documento permite observar a ligeireza com que todo este processo foi tratado.
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REDE DE MERCADORIAS E DE ALTA VELOCIDADE
Apresentação Powerpoint da Associação Comercial do Porto sobre Rede de Mercadorias e de Alta Velocidade. (O ficheiro pode ser visto em 3 a 5 minutos e que faz um resumo de vários trabalhos sobre este tema.)
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OAM #82 02 Julho 2005

6 comentários:

Anónimo disse...

Grande merde este comentário!
não vale para nada!
qq um aeroporto montijo , rio frio, não podem avaçar neste portugal pequeno!

viva ESPAÑA

Anónimo disse...

Interessante a unanimidade que se criou neste país contra a Ota e o TGV, pena é que ela não se tivesse criado quando se efectuaram os projectos sumptuarios do Euro, da Casa da Música, do edificio Transparente (?), do Metro do Porto, o caótico tunel do metro do Terreiro do Paço, o elefante branco de Sines, vulgo terminal XXI e outras idiotoces em que este Portugal é fecundo. Trata-se de dois projectos estruturantes da maior importancia e talvez porque em Portugal contrariar evidencias passa por ser sinal de superior inteligencia, se tenha criado esta espantosa unaninimidade.
Senão vejamos, não se deve construir o aeroporto na Ota porque isso implica dispendio de verbas do erário público?-E se fôr feito em Rio Frio, custará zero?
Há especulação fundiária na Ota? Provávelmente..e em Rio Frio? Desde que no tempo do marcelismo foi aventada essa hipótese que alguns interesse começaram a convergir para a zona, seria interessante conhecer a constituição e a génese do lobby de Rio Frio.
E já agora , será possível construir em Rio Frio sem criar uma nova travessia com capacidades ferroviárias no Estuário do Tejo?...já pensaram no custo e no impacto visual de tão colossal mamarracho em pleno Estuário?.provávelmente incentivando a construção da tão propalada Ponte Chelas Barrreiro..será aliás uma excelente notícia para os utilizadores da ponte 25 de abril, que já tÊm que pagar a ponte Vasco da Gama , de que não se servem.
Como se poderá continuar a navegar no Tejo..ou será que se vai construir uma ponte com 16 kms, cujo tabuleiro se situe à altura da Ponte 25 de Abril?
Onde se situa maioritáriamente a população portuguesa, a Sul do Tejo ou a Norte? Se o aeroporto se situar longe do centro de gravidade populacional isso não irá obrigar a um maior número de deslocaçãoes , isto é, não perderemos todos, não teremos maiores custos de deslocação, mais gastos de combustível, maiores impactos ambientais?
Sendo impensável nos dias de hoje construir um aeroporto que não seja servido por um transporte de massas de tipo ferroviário, não será rentabilizador que o shuttle do aeroporto utlize a mesma infraestrutura do TGV, o qual deverá obrigatóriamente, caso se construa, ligar as duas maiores concentrações urbanas portuguesas, Lisboa e Porto?
Claro que um aeroporto situado na Ota vai tornar absurdo que se voe entre Lisboa e o Porto,mas isso não será uma vantagem decorrente da própria existencia do TGV? O TGV foi crido precisamente para substituir o avião nas ligação de curta/média distancia. O ambiente ganhará com isso, a comodidade dos utilizadores também...
Ok, argumentarão alguns e porque não manter a Portela? A Portela não é eterna,atingirá a saturação algum dia , portanto a questão estará somente em saber quanto tempo levará a construir um aeroporto que substitua o actual e se já se manifestam os indicios de que esse ponto de saturação se aproxima. A Portela já sofre de limitações operacionais importantes que resultam não utilização de parte do horário nocturno, pelo que a análise do numero de voos não é esclarecedora para se avaliar do grau de saturação do aeroporto do lado "ar".
Será mais esclarecedor avaliar os picos de utilização e têr em conta que entre voos têm que obrigatóriamente ser mantidos intervalos de 2 minutos, intervalos que são maiores nos casos dos aviões de maior dimensão..a dimensão dos aviõe tem vindo a aumentar sempre e não será possível, provávelmente receber os Airbus A380 sem aumentar as dimensãos da pista única. Os aeroportos são plataformas logisticas de extrema importancia e a Portela presta um péssimo serviço á carga aerea.
Por último, mesmo sem esgotar as razões porque acho que se não deve utilizar "ad eternum" o aeroporto da Portela, as questão de segurança. Sabem que a pista principal (para os efeitos práticos quase a única que é utilizada) passa sobre um conjunto de instalações sensiveis do ponto de vista da segurança, a começar pela própria ponte 25 de Abril?...sabem que em diverasa ocasiões os acidentes foram evitados in extremis? Sabiam que um Triatar aterrou em pane seca em Lisboa e que os reactores se apagaram quando tocou na pista (no taxiway aliás)? Sabiam que um charter espanhol aterrou no Montijo julgando que estava aterrar em Lisboa? E que no tempo dos aviões a hélice houve um que quiz aterrar na avenida Gago Coutinho (então chamada av. do Aeroporto)e que outro tomou as luzes do Hosptal de S. Maria pelo inicio da pista?
Sabem que houve ocasiões mesmo em que os desatres não foram evitados, apenas tendo havido a sorte de as aeronaves não se terem despenhado sobre o casario:Além do avião de sá Carneiro, caiu um Beechcraft da Força aerea que efectuava calibração de instrumentos, caiu no Tejo um Dakota da Força Aérea que se dirigia para a Guiné e caiu um Boeing 707 em frente à Caparica. Estando os acidentes concentrados sobretudo nas fases de aterragem e descolagem e estando tráfego aéreo a aumentar a cada dia, não está aumentar também a probabilidade de algo acontecer? Não se responsabilizaria o Governo (qualquer governo) por não ter tomado a tempo as providencias para evitar uma ocorrencia desse gánero? Não caiu um avião em Queeens, não caiu um Concord em La Gonesse? se os aeroportos JFK e Charles de Gaulle não se situassem no exterior das cidades de New York e de Paris onde se teriam despenhado os aparelhos?
Em todo o mundo as organizações de cidaddãos, os grupos de pressão, os lobbies ambientalistas , os autarcas, puganm pela retirada dos aeroportos de dentro das cidades..é um sinal da nossa originalidade (ou será espírito de contradição?) que em Portugal se passe exactanente o contrário!

António Maria disse...

É difícil debater com opinadores anónimos! Das duas uma: ou confiam nos seus argumentos, e são bem vindos, independentemente das posições defendidas; ou insistem em permanecer anónimos, e então poderão não passar de fontes voluntárias ou involuntárias de contra-informação e ruído informativo. Vá lá Senhor Anónimo, se acredita no que escreve, dê-se a conhecer. - oam

Anónimo disse...

Obviamente que não tenho problema em dar a cara em defesa das minhas opiniões..só inclui a minha prestação de forma anónima pq na altura não fui capaz de entrar de outra forma, não sou blogger nem sou utilizador habitual dos blogs por isso espero que relevem a minha ignorancia nessa matéria..o meu nome é António Manso, sou engenheiro mecÂnico, especializado em logistica e transportes,estudioso de assuntos aeronauticos e a minha actividade profissional tem decorrido sobretudo na área dos transportes.
Presentemente sou consultor independente

Anónimo disse...

Já leram a entrevista dada pelo "Dono da Ota" ao Correio da Manhã? (www.correiomanha.pt)
O Sr.António Varela (o tal "dono da Ota") é sócio do Dr.Mário Soares (que por coincidência ou não, também está ligado a um caso muito duvidoso com aviões e relacionado com Diamantes). Pensem nisto! Cumprimentos

Anónimo disse...

Não venho opinar sobre a OTA. O que me apetece dizer é o seguinte: em Portugal a maioria das opiniões críticas vêm sempre de áreas políticas que falam, falam, falam, mas sabem que nuca serão poder. Por isso falam tanto. Nunca serão responsabilizados por nada porque nada fazem. Exemplos?
O F.Louçã! O J. Sousa! O Miguel S. Tavares! A mairia dos ambientalistas! E tutti quanti!
Até o Marcelo rebelo de Sousa. veja-se: como líder de um grande partido acabou por desistir, não foi capaz. Mas a opinar, é um tratado. Ele é para os portugueses a sua masturbação crítica semanal. Adoramos ver alguém a deitar abaixo tudo o que mexe à volta. Somos todos grandes especialistas de tudo mas não sabemos fazer nada - ou não estamos para nos maçar. O governo que faça, que mande, que se enterre, que...
Com a OTA é o mesmo.
Outro exemplo: todos falamos mal da Assembleia da Republica: não fazem nada, não se entendem, discutem, é uma vergonha...
Mas quando vinte professores se reunem para debater um problema de escola, aquilo é um circo! Quando vinte associados de um qualquer clube de província se reunem para discutir o orçamento, é uma vergonha. Poucos sabem estar numa reunião: ouvir, intervir oportunamente, avançar com objectividade e pragmatismo. Mas não: repetem-se, não se percebem, não sabem fazer-se entender, insultam-se à volta do acessório e esquecem o essencial que acaba por ser resolvido à uma da manhã por meia dúzia de estremunhados que já estão por tudo.
Sempre e só o velho problema: atraso cultural, ileteracia, mentalidade educada nos princípios de sacristia e salazarismo mental.
Brrr! Fartinho desta gente toda!
Dassss!