sexta-feira, agosto 11, 2006

Londres: plano terrorista abortado?

Somos nós que temos que mudar...


Explosivos líquidos conduzem a novas medidas de segurança nos aeroportos.

Strange that our beloved PM decides to jet out on holiday when we are on the brink of the biggest terrorist attrocity of all time (TM). Unless nobody told him ?” — in Guardian news blog

Reino Unido, 10 Ago 2006 — O caos aeroportuário que se seguiu ao alerta vermelho lançado pelas autoridades britânicas foi enorme, sobretudo, mas não só, nos aeroportos londrinos. A queda das acções das companhias aéreas e das empresas de viagens e turismo não se fez esperar. Depois disto, é natural que os turistas tendam a reavaliar as vantagens e desvantagens das viagens aéreas em determinadas épocas do ano e para certos destinos, sobretudo quando o petróleo chegar aos 100 dólares e as medidas de segurança começarem a pesar cada vez mais nos rituais de partida e chegada (tempos de espera, atrasos cada vez maiores, inspecções minuciosas, etc.)

De acordo com as autoridades britânicas, mais de duas dezenas de cidadãos do Reino Unido, de origem paquistanesa, preparavam-se para fazer explodir em pleno voo 12 aviões civis de passageiros tendo por destino vários aeroportos dos Estados Unidos: Nova Iorque, Washington, Los Angeles, Boston, Chicago. Segundo as mesmas autoridades, o plano previa que os aviões explodissem durante o sobrevoo dos populosos subúrbios que rodeiam os aeroportos americanos. Ou seja, se o plano tivesse surtido efeito, o morticínio poderia facilmente chegar às 5 mil pessoas (entre tripulações, passageiros, habitantes e transeuntes situados nas áreas de impacto).

Os efeitos de uma tal acção de sabotagem, se tivesse tido êxito, conduziriam provavelmente a economia ocidental a uma súbita paragem cardíaca, autorizando Bush e Blair a precipitar o mundo numa mais do que provável guerra regional de consequências imprevisíveis. Sob o pretexto de defender o mundo livre do “fascismo islâmico”, Bush e Blair (aflitos com a deterioração acelerada das respectivas margens de manobra no Médio Oriente) dariam carta branca a Israel para ocupar o Líbano, assegurando deste modo o controlo efectivo e duradouro do novo oleoduto que liga o Mar Cáspio ao Mediterrrâneo, vital para a subsistência energética de Israel e maior tranquilidade de uma Europa excessivamente dependente do petróleo iraniano e do gás russo. O menor incidente com a Síria ou com o Irão levaria os EUA, o Reino Unido e Israel (numa espécie de santa aliança judaico-evangelista acolitada pelo Sr Blair) a nova aventura bélica no Médio Oriente, desta vez, de grandes proporções. O uso de armamento nuclear táctico não estaria à partida excluído.

Ao abortar esta anunciada conspiração terrorista islâmica, os serviços secretos ingleses e paquistaneses adiaram objectivamente a hipótese de uma intervenção a curto prazo dos Estados Unidos e do Reino Unido no Líbano, na Síria e no Irão. É uma boa notícia!

Faltam todavia muitos factos e explicações para entender o estranho oportunismo deste quadro de crise. Segundo algumas personalidades inglesas de origem paquistanesa, o alarme criado poderá não ter passado disso mesmo: de uma operação psicológica, destinada a desviar as atenções dos eleitores britânicos e do mundo em geral do terror que Israel levou e continua a levar ao Líbano, com a cumplicidade activa dos Estados Unidos e do Reino Unido. Numa visão mais sinistra, há quem veja no desarmar desta conspiração terrorista islâmica um calculado jogo de Poker destinado a manter a pressão sobre a opinião pública ocidental no sentido de a fazer aceitar o intolerável belicismo em curso sob comando da Administração Bush, a acolitagem de Tony Blair e o apoio invisível das maiores petrolíferas ocidentais (BP, Chevron-Texaco, Shell, Total, Eni, ConocoPhillips, ITOCHU, INPEX, etc.) O Médio Oriente continua a ser o prémio deste grande jogo, e o protectorado de Israel a principal desculpa da diplomacia ocidental.

Mas vamos admitir, como parece razoável fazê-lo neste momento, que uma vintena de jovens muçulmanos radicais, ingleses, de origem paquistanesa, se lançaram mesmo na concepção e preparação deste ataque suicida. A primeira pergunta que os ingleses e todos nós, ocidentais, temos que fazer a nós próprios é: porquê?! A melhor maneira de responder é pormo-nos no seu lugar... Imaginemo-nos uma minoria branca e cristã num país muçulmano tolerante, mas onde somos invariavelmente tratados como cidadãos de segunda classe, com empregos de segunda classe, com salários de segunda classe, e ainda por cima olhados como potenciais terroristas. Depois imaginemos que os longínquos países de onde os nossos pais vieram são objecto de cobiça dos nossos governos, e que estes lhes movem guerras sucessivas, com pretextos invariavelmente hipócritas ou cínicos, com o objectivo efectivo de os manipular e explorar, sem nenhum respeito pelas suas populações — irmãos, tios, cunhados, avós dos nossos pais... Talvez não seja assim tão difícil perceber o ódio crescente do mundo muçulmano pelo Ocidente. Somos nós que estamos errados. Somos nós que teremos que mudar, sob pena de nos afundarmos na nossa própria ganância, cegueira e bestialidade.

Ler a propósito: Guardian special report



Actualizações
[20 Ago 2006] Depois da histeria securitária gerada pelos serviços secretos e de segurança ingleses em volta deste putativo mega-atentado, crescem as suspeitas sobre a real verosimilhança do mesmo e as intenções ocultas do que começa a parecer cada vez mais como mais uma sórdida operação de guerra psicológica. Vale a pena ler algumas reflexões sobre os antecedentes deste tipo de operações e ainda sobre as fantasias em volta dos shampôs explosivos e outras patetices a la James Bond Ordem para Matar. O artigo é de Michel Chossudovsky e chama-se: Crying Wolf: Terror Alerts based on Fabricated Intelligence.
[17 Ago 2006] O alarmismo e a histeria securitária de ingleses e estado-unidenses em volta do anunciado mega-atentado abortado pelos serviços de informações britânicos e paquistaneses está a transformar-se numa verdadeira borla publicitária para os movimentos radicais muçulmanos. Ninguém conhece pormenores relevantes sobre a putativa conspiração terrorista, mas os aeroportos ingleses continuam num caos e as comunidades muçulmanas do Reino Unido vêm-se submetidas a uma enorme pressão policial e mediática. Abortaram uma operação de sabotagem destinada a gerar o pânico mundial, mas seis dias depois do grande alarme um avião civil da United Airlines foi forçado, por caças bombardeiros, a uma aterragem de emergência tão simplesmente por uma passageira de 60 anos ter sofrido um ataque de pânico!

A teoria da longa guerra contra o terrorismo, defendida pelo complexo industrial-militar americano (representado eufemisticamente pelos chamados neo-cons), parece ter uma voz londrina chamada John Reid. Este trabalhista, recém nomeado para o cargo de UK Home Secretary, parece mover-se na administração interna britânica com o mesmo tipo anfetamina securitária e anti-islâmica administrada a George W. Bush. Para ele, a ameaça islâmica radical é permanente, e assim sendo, haverá que montar um dispositivo anti-terrorista permanente, hiper-visível e irritantemente incómodo, como se as polícias não pudessem fazer o seu trabalho de modo mais discreto e sobretudo sem avisarem os terroristas pelos jornais e televisões do que andam a fazer... Esta entrada de leão do Sr. Reid está condenada a uma saída de sendeiro. Até agora, parece não ter feito mais do que uma monumental campanha de relações públicas a favor da Al Qaida! Se continuar com o mesmo estilo, talvez consiga mesmo afundar a indústria aeronáutica do seu país (companhias aéreas, aeroportos e alguns segmentos importantes da hotelaria e turismo). Finalmente, a sua propensão para políticas de anti-imigração e restrição de direitos e garantias democráticas, só poderá aumentar a vaga de fundo que no Partido Trabalhista se prepara para varrer o Sr. Blair para debaixo do tapete da História.

A Europa tem que definir urgentemente uma estratégia de coexistência pacífica e de cooperação económica e cultural construtiva com os principais países árabes e muçulmanos, sabendo ao mesmo tempo definir uma agenda democrática firme, embora paciente e ajustada, para os vários países envolvidos. O objectivo estratégico de fundo da Europa é impedir as consequências práticas das teorias reaccionárias que afirmanm estarmos perante um choque de civilizações. Esta é a visão da América mais reaccionária, decadente e imperial, protagonizada pela desesperada administração Bush. Não pode ser a visão da Europa. A reforma antecipada do actual Primeiro-Ministro inglês seria uma grande ajuda na clarificação desta diferença essencial

[11 Ago 2006] “(...) we must drop the metaphor of a ‘war on terrorism’. Wars are mostly fought with arms on battlefields between soldiers of opposing countries. Wars have beginnings and ends. None of these characteristics apply here. Terrorism can now be carried out with boxcutters and airplanes as easily as with explosives. Office buildings and commuter trains and coffee shops are today's battlefields. There are no uniforms, and often those doing the killing are acting in the name of causes or movements. And there is no end in sight. To the contrary, terrorism is now part of the fabric of contemporary life.” — Richard N. Haass in CRF.org.

OAM #135 11 AGO 2006

2 comentários:

Emanuel disse...

Esta operação britânico-americana dos supostos atentados aos aviões pode não ser uma operação de guerra psicológica, mas se não é... parece. Veio na altura certa para permitir aos israelitas ganharem tempo para impor a sua "might" e, simultaneamente, para conseguir dois objectivos importantes de comunicação do eixo EUA-Israel-Inglaterra, a saber, fazer esquecer o escândalo dos mortos civis do Líbano e da destruição da infra-estrutura do país, e reclamar o papel de vítima para esta santa aliança, numa altura em que o discurso do "terror" israelita só dá vontade de vomitar a milhões de europeus estupefactos com a barbárie em que descobrem subitamente viver e que parece ser a única forma de assegurarem o seu modo e estilo de vida assente no petróleo.
Para o estrondo das bombas Israelitas que cada vez mais nos abana até às entranhas, e nos obriga a repensar o estado em que ainda está a humanidade no início deste novo século, a santa aliança dá-nos este soporífero dos líquidos que rebentam e que só ela consegue exterminar... implacavelmente, perturbando directamente a vida de centenas de milhar de pessoas a seu bel prazer.
Na verdade, somos nós que temos de mudar, e é o ver e conhecer que nos pode fazer mudar. Esta verdade escancarada cada vez mais a um maior número de pessoas de todo o mundo é o que pode estragar os planos da santa aliança. E é para fazê-la esquecer que surge esta operação de guerra psicológica típica... toda a gente passará a dedicar-se a esconder a pasta de dentes nos porões dos aviões assumindo, assim, um importantíssimo papel na gloriosa luta contra o terrorismo.

Anónimo disse...

concordo com o seu texto, inclino-me mais para a hipotese de estratagema em que "o alarme criado poderá não ter passado disso mesmo: de uma operação psicológica".