quarta-feira, abril 11, 2007

Contra a guerra!



















Irão: a ameaça de uma guerra nuclear

General Leonid Ivashov

A análise da situação actual do conflito com o Irão mostra que o mundo enfrenta a possibilidade uma nova guerra...

Os Estados Unidos (EUA) e os seus aliados iniciaram a preparação psicológica da opinião pública mundial para a possibilidade de virem a usar armas nucleares tácticas para resolver o 'problema iraniano'. A máquina de propaganda americana está a operar no sentido de criar a impressão de que o uso 'cirúrgico' da arma nuclear com consequências limitadas é possível. No entanto, sabe-se que não é assim desde os ataques nucleares de 1945 contra Hiroshima e Nagasaki.

Depois do primeiro ataque, será totalmente impossível evitar o uso de todos os meios de destruição maciça disponíveis. Perante o extermínio das nações, as partes em conflito recorrerão a todos os meios à disposição sem qualquer limite. É por esta razão que, não só os arsenais nucleares dos vários países, incluindo aqueles cujo estatuto nuclear não é reconhecido oficialmente, entrarão em jogo. Não há nenhuma dúvida de que o emprego dos agentes da guerra química e biológica (e em geral, qualquer substância venenosa), que possam ser produzidos com um mínimo de recursos industriais e económicos, serão utilizados.

Neste momento, podemos assegurar que a paz e a humanidade estão em grande perigo.

Atente-se no aspecto técnico-militar da situação. Na prática, o objectivo operacional declarado pelos EUA - destruir 1500 alvos no território iraniano - não pode ser conseguido pelas forças já reunidas para cumprir esta missão. Este objectivo apenas poderá ser conseguido se forem utilizadas munições nucleares tácticas.

O exame do aspecto político-militar da situação revela factos ainda mais significativos. O plano de ataque ao Irão não inclui uma ofensiva militar terrestre. Ataques selectivos a instalações industriais podem causar danos severos ao potencial económico e defensivo do Irão. O número de vítimas será seguramente elevado, mas não catastrófico de um ponto de vista militar. Mas por outro lado, é impossível ganhar o controlo do território de um país do tamanho do Irão sem uma operação terrestre. Esta planeada ofensiva provocará uma consolidação de forças adversas não apenas no Irão, mas também noutros países muçulmanos e entre os muçulmanos por esse mundo fora. O apoio ao país vítima da agressão americano-israelita não parará de aumentar. Seguramente que Washington está ciente de que o resultado não reforçará, antes enfraquecerá a posição dos EU no mundo. Temos pois que olhar para os objectivos do ataque dos EU ao Irão a uma outra luz. A ofensiva nuclear americana visa, na realidade, o uso da chantagem nuclear na política global como meio de alterar fundamentalmente a actual ordem mundial.

São conhecidas outras provas da radicalização dos objectivos pretendidos pelos EUA e seus aliados. As fugas de informação produzidas em 2007, que expuseram os planos israelitas de utilizar três mísseis nucleares contra o Irão, foram muito perigosas para um país situado numa região hostil, mas ainda assim, seguramente deliberadas. Significaram que a decisão sobre a natureza das acções israelitas estava tomada, e que restaria apenas sensibilizar a opinião pública para o efeito.

O pretexto para uma operação contra o Irão não parece sério. Tanto do ponto de vista técnico e político, não há qualquer possibilidade de este país desenvolver armas nucleares nos tempos mais próximos.

Devemos recordar que as alegações de existência de armas de destruição maciça no Iraque foram usadas pelo Estados Unidos para desencadear uma guerra contra este país. Como consequência, o Iraque foi devastado e a contagem das mortes civis atingiu a casa das centenas de milhar, sem que nenhuma evidência da declarada causa do ataque fosse até hoje encontrada.

A questão realmente importante não é se o Irão pode ou não desenvolver armas nucleares. O único objectivo da acumulação limitada de armas nucleares sem o suporte de várias outras forças complementares de apoio é a contenção. A ameaça de retaliação na mesma moeda pode travar o agressor. Quanto à possibilidade de atacar outros países e ganhar uma guerra nuclear no caso de um conflito com uma coligação de grandes potências, exigiria um potencial que o Irão nunca teve nem irá ter num futuro previsível. As alegações de que o Irão se pode tornar num agressor nuclear são absurdas. Qualquer pessoa com um mínimo de informação teórica sobre temas militares entende esta evidência.

Então qual é a verdadeira razão pela qual os EUA estão a preparar este conflito militar?

As acções com consequências globais destinam-se a lidar com problemas globais. Neste caso, o problema não é sequer secreto - trata-se da possibilidade de um 'crash' do sistema financeiro mundial baseado no dólar. Actualmente a quantidade de moeda americana em circulação no planeta é dez vezes superior à totalidade dos activos dos EUA. Tudo o que existe nos Estados Unidos - indústria, edifícios, alta-tecnologia, etc. - foi hipotecado mais de dez vezes por todo o mundo. Uma dívida com tais proporções jamais poderá ser paga. Pode apenas ser aliviada.

Os montantes de dólares em contas individuais, organizações, e reservas monetárias nacionais são uma realidade virtual. Tais registos não têm contrapartidas em produtos, valores ou qualquer coisa realmente existente.

Anular esta colossal dívida ao resto do mundo transformaria a maioria da sua população em depositantes enganados. Seria o fim do solidamente estabelecido sistema fiduciário. O significado dos acontecimentos que se aproximam é verdadeiramente épico. E é por isso que o agressor ignora as consequências catastróficas da sua ofensiva. Os falidos 'bancos globais' precisam de um evento de 'força maior' de proporções globais para se safarem da situação em que se encontram.

A solução já se encontra nos planos. Os Estados Unidos não têm nada para oferecer ao mundo que possa salvar o declínio da sua moeda, excepto as operações militares como as que desencadeou na Jugoslávia, Afeganistão, e Iraque. Mas mesmo estes conflitos locais apenas têm efeitos de curto prazo. Algo muito maior é necessário, e a necessidade é urgente. O momento aproxima-se à medida que a crise financeira leva o mundo a perceber que a totalidade dos activos americanos, a totalidade do seu potencial industrial, tecnológico, etc., já não pertencem de pleno direito ao país. Tais activos terão pois que ser confiscados para compensar as vítimas, e os direitos de propriedade de tudo o que foi comprado com dólares por esse mundo fora - e subtraído à riqueza de várias nações - terão que ser revistos.

O que é que poderá desencadear a 'força maior' à escala requerida? Tudo parece indicar que Israel será sacrificado. O seu envolvimento numa guerra com o Irão - em especial uma guerra nuclear - está talhada para desencadear uma catástrofe global. As constituições dos estados de Israel e do Irão são baseadas nas religiões oficiais de cada um dos países. Um conflito militar entre Israel e o Irão evoluirá imediatamente para uma guerra religiosa, entre o Judaísmo e o Islão. Devido à presença de numerosas comunidades judaicas e islâmicas nos países desenvolvidos, haverá um banho de sangue global inevitável. As forças vivas da maioria dos países do mundo acabariam por entrar em conflito, praticamente sem permitir espaços de neutralidade. A julgar pelo crescimento das aquisições em massa de residências por cidadãos israelitas, especialmente na Rússia e na Ucrânia, muitas pessoas têm já uma ideia do que o futuro lhes reserva. No entanto, é difícil imaginar um paraíso sossegado onde alguém possa esconder-se da destruição que aí vem. Previsões da distribuição territorial dos combates, quantidades e eficiência dos armamentos envolvidos, natureza profunda das raízes do conflito e a severidade da componente religiosa, tudo junto conduzirá sem dúvida alguma a um embate em todos os aspectos muito mais aterrador do que a Segunda Guerra Mundial.

Para já, as reacções dos principais actores mundiais ao desenvolvimento da situação não deixa margem para grandes optimismos. As resoluções inconsequentes sobre o Irão, as tentativas de apaziguar o agressor que deixou de esconder as suas intenções fazem lembrar o Pacto de Munique nas vésperas da Segunda Guerra Mundial. O intenso vai-e-vem diplomático focalizado em todo o género de problemas excepto o principal de todos eles acima discutido é também um indicador do problema. É aliás uma prática comum nas vésperas de uma guerra, quando se procuram alianças com países terceiros ou assegurar a sua neutralidade. Tais políticas procuram evitar ou amenizar os primeiros ataques, que seriam os mais inesperados e devastadores.

É possível parar o banho de sangue?

O único argumento eficiente que poderá parar o agressor é a ameaça do seu isolamento global por instigar uma guerra nuclear. A implementação do cenário acima descrito pode tornar-se inviável na ausência completa de aliados à causa EUA-Israel, combinada com protestos vigorosos em vários países. Por isso, nos dias que correm, o distanciamento definitivo e sem compromissos de dirigentes nacionais, governos, políticos, figuras públicas, dirigentes religiosos, cientistas, e artistas em relação à preparada agressão nuclear seria um incalculável serviço à humanidade.

A actividade pública coordenada tem que ser organizada com a diligência adequada às condições próprias de um tempo de guerra. As forças de agressão já foram reunidas e concentradas nas posições de partida em estado de prontidão total para o combate. As forças militares americanas não fazem segredo de que tudo pode ocorrer dentro de algumas semanas ou dias. Há indicações indirectas de que os Estados Unidos lançarão um ataque nuclear contra o Irão este mês. Depois da primeira explosão, a humanidade encontrar-se-à num mundo inteiramente novo, num mundo absolutamente humano. As hipóteses de evitar que tal aconteça devem ser exploradas completamente.

O General Leonid Ivashov é o vice-presidente da Academia de assuntos geopolíticos. Foi chefe do departamento de assuntos Gerais no ministério da Defesa da União Soviética, secretário do Conselho de ministros de defesa da Comunidade de estados independentes (CIS), chefe do departamento de cooperação Militar do Ministro de defesa e Junta de chefes-de-estado dos exércitos Russos. O General Ivashof é colaborador frequente do Global Research.

Global Research, Abril 19, 2007
Strategic Culture Foundation - 2007-03-30
Título original: "Iran: The Threat of a Nuclear War", in Global Research.

Nota de publicação: não concordando necessariamente com todos os argumentos expendidos neste artigo, considero-o de leitura obrigatória nos tempos sombrios que correm. Por isso o traduzi nesta madrugada de Quarta-Feira. -- OAM

Post scriptum: a percepção dos perigos que espreitam neste momento a nossa tranquilidade e a paz no mundo, com especial incidência no Médio Oriente e Europa, tornam ainda mais aguda a crise de liderança e de govero que atingiu a actual maioria socialista (uma vez mais, na sequência de um escândalo com origem aparente na esfera privada dos fautores da mesma.) Portugal precisa de uma liderança democraticamente legitimada e indiscutível no que se refere à qualidade de carácter do seu principal responsável: o primeiro ministro. A maioria qualificada existe --é o Partido Socialista--, mas é imprescindível e urgente substituir o actual primeiro ministro. Não creio que haja falta de personalidades à altura no PS, e até no interior do actual governo. O que não podemos arriscar é termos à frente do país uma personalidade que o paralizou durante 3 semanas por causa das suas obscuras e reiteradamente mal descritas habilitações académicas. Que credibilidade terão a partir de agora as suas declarações? Se amanhã os Estados Unidos atacarem o Irão, que confiança poderemos ter nas decisões de uma personalidade cuja imagem de isenção e honestidade foi tão seriamente abalada? Que se passará então, inevitavelmente, no plano das relações entre o governo e a presidência da república?

Primeiro ministro de Portugal, José Sócrates, em nome da máxima e absolutamente necessária estabilidade institucional do seu país, demita-se! -- OAM

OAM #190 11 ABR 07

7 comentários:

Diogo disse...

Também traduzi um excelente texto do general Leonid Ivashov:

O general Leonid Ivashov era o chefe do Estado Maior das forças armadas russas quando aconteceram os atentados de 11 de Setembro de 2001. Este militar, que viveu estes acontecimentos por dentro, oferece-nos uma análise muito diferente da dos seus colegas norte-americanos. Tal como o fez na conferência «Axis for Peace 2005», explica-nos que o terrorismo internacional não existe e que os atentados do 11 de Setembro foram uma montagem.

http://citadino.blogspot.com/2006/05/general-leonid-ivashov-o-terrorismo.html

António Maria disse...

Custa a crer, mas as evidências sobre a provocação do 11-S são cada vez mais incontroversas. Um video que recebi há dias é prova disto mesmo. Vale a pena vê-lo e depois meditar sobre o sarilho em que estamos todos metidos, muito por causa do inevitável declínio do actual modelo de civilização -- consumidor voraz de recursos limitados, obsecado pela produtividade e pelo lucro, insensível à exploração e ao sofrimento humanos, belicoso e, em última análise, paranóico e potencialmente suicida! Será que a metade racional do mundo conseguirá aplacar a loucura em curso? -- OAM

O video é este:

Justice for 9-11!

"A brief but carefully presented and supported criminal indictment of George Bush, Dick Cheney, Richard Myers, and Condoleeza Rice for... all murders in the events of 9-11, presenting all the best evidence in a concise but powerful manner. It includes Larry Silverstein's admission that the explosives were used; and Norman Mineta's identification of Dick Cheney as the person who gave the order not to scramble jets, or fire any weapons in defense of the Pentagon". Link

António Maria disse...

Recebi um comentário confidencial de que reproduzo apenas o essencial:

"Soube, por fonte avisada, que muita gente sabe já, de fonte segura, que o diploma do primeiro ministro é falso. Há todavia um problema: a sua demissão, nesta altura, provocaria uma crise Europeia. Isto porque se pensa, nomeadamente em Bruxelas, que não haveria, nem tempo para eleições antecipadas, nem forma de remediar convenientemente e a tempo o problema da presidência portuguesa do Conselho da Comissão Europeia. Assim, todos procuram colocar panos quentes sobre o assunto, divergindo para questões laterais, como a de saber se alguém foi ou não beneficiado, etc. Se o diploma é falso, houve benefício. Ponto final. E o benefício de um lado implica, inevitavelmente, o benefício do outro. Nas televisões e rádios não se discute o essencial."

Comentário: estou de acordo, menos com a inevitabilidade de ter que manter Sócrates na presidência do governo. O primeiro ministro poderá sempre demitir-se e ser substituído por outro ministro do governo, ou outra personalidade indicada pelo Partido Socialista, sem qualquer problema constitucional. Ganharíamos todos. -- OAM

Diogo disse...

Outro vídeo muito bom sobre o 11 de Setembro (legendado em espanhol):

911 Mysteries Full Length Spanish Subtitles
.

António Maria disse...

Bush-Cheney-Blair e a desestabilização do Médio Oriente.

A citação que se segue pertence a um excelente artigo de John Pilger, pubicado na ZNet. Vale a pena ler o texto completo. Um testemunho mais da guerra em preparação contra o Irão.

IRAN MAY BE THE GREATEST CRISIS OF MODERN TIMES
As with Henry Kissinger and Donald Rumsfeld, who dare not travel to certain countries for fear of being prosecuted as war criminals, Blair as a private citizen may no longer be untouchable. On 20 March, Baltasar Garzón, the tenacious Spanish judge who pursued Augusto Pinochet, called for indictments against those responsible for "one of the most sordid and unjustifiable episodes in recent human history" - Iraq. Five days later, the chief prosecutor of the International Criminal Court, to which Britain is a signatory, said that Blair could one day face war-crimes charges.

artigo completo

António Maria disse...

Acabo de receber o boletim para assinantes do Global Europe Anticipation Bulletin, April 2007.

Passo a resumir algumas das suas antecipações, sem mais comentários...

## Intensification of the geopolitical oil crisis in May 2007 -- Iran and Venezuela on the frontline: Oil on the rise (100 USD) and Dollar on the fall (1,50) by summer 2007.
## According to the Iranian authorities, more than 60 percent of their oil sales (to Europeans and Asians) are now independent from the American currency.
## The attack on Iran will be a surprise-attack, more similar to the surprise bombing of Khadafi’s palace in Lybia in April 1986, than to the long process of invasion on the model of the two Gulf wars.
## There is a direct link, in terms of outfall, between Chavez decision to diversify his countr's oil sales (and to stop sending 60 percent of its oil exports from Venezuela to the US starting on May 1st, 2007) and the Iran crisis: in both cases, oil is at the core of the problem.
## it appeared to our researchers that the specific configuration of a potential conflict with Iran, by creating an unusual concentration of US aircraft carriers in the Persian Gulf (two locally based, the USS Stennis and USS Eisenhower, and a third en route for relief, the USS Nimitz31) off the coast of a regional power equipped with numerous and varied missiles (among which maybe the famed Russian
«aircraft killer» missile 32 already sold to China and which US aircraft carriers are not protected against33), conveys a high probability for the first US aircraft carrier to be sunk since 1945.

António Maria disse...

Um artigo publicado no Herald Tribune online, para reflectir...

The rise and fall of navies, by Paul Kennedy

"(...) consider one of the oddest disjunctures in world history. In the very first decades of the 15th century, the great Chinese admiral Cheng Ho led a series of amazing maritime expeditions to the outer world, through the Straits of Malacca, into the Indian Ocean, across even to the eastern shores of Africa. Nothing at that time compared with China's surface navy.

Yet, within another decade, the overseas ventures had been scrapped by high officials in Beijing, anxious not to divert resources away from meeting the Manchu landward threat in the north and about how a seaward-bound open-market society might undermine their authority.

Coincidentally, on the other side of the globe, explorers and fishermen from Portugal, Galicia, Brittany and southwest England were pushing out, across to Newfoundland, the Azores, the western shores of Africa."

(...)

"By 2010, China's submarine force will be nearly double the size of the U.S. submarine feet. The entire Chinese naval fleet is projected to surpass the size of the U.S. fleet by 2015."

(...)

What do naval strategic planners in the one continent assume about the future of the world that the planners in the second continent do not? Why is Chinese public television showing programs about the rise of Elizabeth I's navy at the same time that the British Ministry of Defense is mothballing or scrapping warships with names that go back over 400 years?

Armchair strategists will rush in with many answers to that question: For example, that Asia is more likely to see interstate conflicts in the future than Western Europe, China is determined to curb U.S. hegemony in the Pacific and everyone else is scared of China's military build-up, and, in any case, these faster-growing economies can afford both guns and butter. All of that may be true. But the plain fact remains that, in an age of great geopolitical uncertainties, the leading European nations are ignoring the ancient Elizabethan caution: "Look to thy Moat." Can that really be wise?