quinta-feira, abril 05, 2007

Socrates 10

Jose SocratesEm 1996 não houve nenhuma licenciatura de engenharia Civil na UnI

Outro PM, por favor...

A história das pseudo habilitações académicas do actual primeiro ministro portugués (PM) anda na blogosfera desde 2005. Tinha sido o momento ideal para José Sócrates resolver o problema, esclarecendo o país e pedindo desculpas por alguma coisinha feita com menos lisura. Preferiu meter a cabeça na areia e confiar nos seus assessores de imprensa (e de manipulação mediática.) O tempo foi passando até que, depois da sujeira da OPA à Portugal Telecom e em plena batalha campal em volta do embuste da Ota, o assunto saltou para os média convencionais, no âmbito do escândalo que entretanto rebentou na Universidade Independente (verdadeira forja de canudos académicos sem qualquer credibilidade). Primeiro, o Público, depois, o Expresso, e finalmente as televisões, começaram a escarafunchar o tema, não sem o auxílio precioso da blogosfera, com particular destaque para Do Portugal Profundo. Que fez o primeiro ministro? Nada. Ou melhor, tentou, através dos seus assessores, dos cães de fila ministeriais (com particular relevo para Augusto Santos Silva) e dele próprio, matar a "não-notícia" no berço. Furibundaram, ameaçaram e sobretudo contradisseram-se ao longo de duas semanas, em que o principal interessado, José Sócrates, nada disse ao país, balbuciando apenas ontem, acabrunhado, a promessa de um esclarecimento para breve.

Como escrevi a 14 de Março, neste mesmo blog, as habilitações académicas de um primeiro ministro, desde que saiba ler, escrever e contar, não têm importância nenhuma, apesar de todos querermos, claro está, melhorar os níveis de literacia e em geral as qualificações académicas e profissionais da generalidade dos portugueses, e por maioria de razão, dos nossos dirigentes políticos. Se para outro fim não servir o triste episódio das qualificações formais de José Sócrates, que ao menos sirva para os partidos políticos chegarem a um consenso parlamentar sobre as formas de tratamento na Administração Pública. Tal como se acaba de proibir o consumo de tabaco nos locais públicos, também os tratamentos por Doutor, Arquitecto, Engenheiro, Major, Comendador, etc., deverão ser removidos da esfera pública, à excepção dos casos em que tais tratamentos ocorrerem entre pares, no quadro efectivo de uma relação profissional. Em democracia, cada um tem nome próprio e é Senhor ou Senhora da sua liberdade e dignidade cidadãs. Não precisa de exibir penduricalhos académicos ou profissionais fora dos contextos restritos em que tal se justifica. Muito menos deve fazê-lo em nome, ainda que subrepticiamente, de hierarquias económicas ou de poder. Já lá vai o tempo dos pergaminhos, em que o burguês ascendente comprava títulos nobiliárquicos. "Foge cão, que te querem fazer barão! Para onde, Senhor, se me querem fazer conde?!" Recordo-me, como se fosse hoje, desta frase repetida pela minha avó paterna, uma mulher culta, uma memorável cozinheira e possivelmente a pessoa mais mordaz que conheci.

Voltando ao drama de Sócrates, quanto mais tempo passa, pior. Os personagens sinistros começaram a aparecer. Quem é esse tal António Morais? Deu quatro cadeiras ao finalista José Sócrates? Mas como, se tem vindo a ser corrido de todas as faculdades por onde passa, por manifesto e sistemático absentismo? Mas como, se as ditas disciplinas não constam do CV de 43 páginas deste ex-director do Gabinete de Estudos e Planeamento de Instalações (GEPI) do Ministério da Administração Interna e ex- presidente do Instituto de Gestão Financeira e Patrimonial da Justiça (por nomeação de José Sócrates e Alberto Costa)? Quem é este factotum e que papel desempenha na engrenagem que começamos a descortinar? Enquanto director da GEPI, encomendeu 20 estudos e projectos à empresa Lisparra, de que é sócio-gerente! Qual foi o montante pago pelo Estado e para que foi exactamente? Todos gostaríamos de saber.

Se os tempos fossem outros, seria fácil controlar os estragos causados pelo ridiculum vitae do actual primeiro ministro. Bastaria suspender os jornais imprevidentes, retirar as licenças de emissão às rádios e televisões que publicassem informações e/ou opiniões sobre o caso, e prender os principais bloguistas do país. Felizmente vivemos numa democracia, apesar das calinadas nervosas do Sr. Augusto Santos Silva, do chumbo da comissão parlamentar de acompanhamento do novo aeroporto de Lisboa (NAL) e do projecto de concentração unipessoal de poderes policiais e judiciais apadrinhado pelo actual primeiro ministro. E porque vivemos em democracia iremos mesmo saber se José Sócrates mentiu ou não mentiu sobre as suas habilitações académicas, e se mentiu, se falsificou, ajudou a falsificar, solicitou ou permitiu a falsificação de documentos para dar consistência a essa mentira. Nenhuma ameaça às liberdades constitucionais demoverá o povo português, e os eleitores socialistas, de apurar a verdade e pedir, se for caso disso, que os responsáveis assumam as respectivas responsabilidades.

Posso estar redondamente enganado, mas a intuição diz-me que este primeiro ministro, ou se demite rapidamente, ou terá que ser demitido pelo presidente da república, em nome da lei e da decência do regime.

OAM #188 05 ABR 07


Última hora

Diploma exibido na RTP-N confirma "licenciatura" ao Domingo!
07-04-2007. "Acabo de ver na RTP-N imagem do certificado de licenciatura de Sócrates. Do documento consta que a data da conclusão da licenciatura foi 08-09-1996, um Domingo.
A data da conclusão da licenciatura é a da realização do último (e bem sucedido) exame do curso. Portanto, Sócrates realizou um (ou mais!) exames ao Domingo, dia em que a Universidade tinha de estar fechada, tendo então obtido o grau de Licenciado.
Ao contrário do que se tentou fazer passar na servil comunicação social (com a excepção das peças de Ricardo Felner) 8 de Setembro (Domingo) é mesmo a data conclusão do curso. Não (ou não apenas) da passagem do documento." -- Irnério

Esta notícia foi objecto dum saboroso comentário Do Portugal Profundo, entitulado Rasganço Domingueiro, no qual se lembra a importância do dia da formatura para qualquer estudante universiário e das antigas praxes radicais que envolviam essas datas memoráveis. É evidente que o exame final nunca poderá ter ocorrido nesse fatal Domingo, a 8 de Setembro de 1996. Como é igualmente inverosímil que o putativo licenciado se não tivesse dado conta do erro administrativo e não tivesse reclamado a sua correcção. -- OAM

UnIgate:
um canudo fraudulento?
06-04-2007. Uma consulta retroactiva à Way Back Machine (um arquivo -infalsificável- da Internet, sediado no Presidio de San Franciso, CA, EUA), proporcionado por um comentário de hoje a um "post" Do Portugal Profundo, prova que o programa do curso de Engenharia Civil da Universidade Independente (UnI) foi sendo construído paulatinamente ao longo dos seus primeiros cinco anos de existência, i.e. entre os anos lectivos de 1993/94 até 1997/98. Ou seja, no ano lectivo 1995/96 (ano em que o actual primeiro ministro diz ter concluído a sua licenciatura) não havia sequer um programa de curso para o 5º e último ano da mesma! Além do mais, este primeiro curso da Engenharia Civil da UnI, aprovado oficialmente em Abril de 1995, só deveria ter iniciado, segundo as regras normais, no ano lectivo de 1996/97, o que significaria, se a normalidade se tivesse verificado, que os primeiros licenciados não poderiam ter saído daquela universidade antes do ano 2000! O facto de haver licenciados no curso em causa, em 1998, pela dita universidade, significa tão só que o mesmo começou, de facto, no ano lectivo de 1993/94, i.e. antes da sua homologação ministerial! Finalmente, para haver transferências de alunos de outros estabelecimentos de ensino para UnI com vista à conclusão do famigerado curso de Engenharia Civil, seria no mínimo necessário que a UnI tivesse já um plano curricular definido para o último ano do mesmo, coisa que manifestamente não sucedia em 1997, ano em que o sitio web da UnI publicou tudo o que tinha relativamente a este curso em matéria de plano de estudos. Daqui se conclui que resta apenas uma alternativa para explicar o diploma de José Sócrates: a sua emissão ter tido carácter meramente administrativo (o que é manifestamente ilegal.)

É pena que alguns órgãos de comunicação social continuem a ir comer à mão do dono (de parte substancial da publicidade, e de informação privilegiada) prestando um péssimo serviço à democracia. -- OAM

Na pista de Armando Vara/CGD
06-04-2007 21:19 SIC :: Reitor da UnI trabalhou na CGD
Banco esclarece que se tratou de um período de formação profissional

A Caixa Geral de Depósitos (CGD) esclareceu, esta sexta-feira, que o reitor da Universidade Independente (UnI), Jorge Roberto, esteve provisoriamente na direcção de comunicação tutelada por Armando Vara. A instituição adianta que isso só aconteceu durante alguns meses, num período de formação de pessoal.

A CGD esclarece que Armando Vara e o actual reitor não se conhecem. O banco diz ainda que oficialmente não foi informado de que Jorge Roberto tinha aceite o cargo de reitor da UnI e que nunca foi pedida autorização para tal.

Entretanto, Jorge Roberto, o reitor, está de férias, mas segunda-feira vai ser chamado à direcção de recursos humanos da CGD, para prestar todas as explicações.

Jorge Roberto teve nos últimos sete anos autorização do banco para leccionar na Universidade Independente.

O reitor e a CGD

O facto é que o novo reitor da UNI omitiu no curriculum enviado à imprensa ter trabalhado na CGD sob a tutela do socialista Armando Vara, sendo que este é também licenciado pela Independente.

Foi uma das primeiras medidas de Teixeira do Santos assim que entrou para o Governo. Na altura, no Verão de 2005, a promoção de Armando Vara para a administração da CGD causou polémica entre a oposição.

Sabe-se agora que Jorge Roberto trabalha há 25 anos na maior instituição financeira nacional. E, que passou alguns meses pela direcção de comunicação do banco que está sob a tutela de Armando Vara, socialista e amigo próximo de Sócrates.

Só que no curriculum de Jorge Roberto enviado à imprensa esse facto foi omitido. A assessora do próprio reitor confirmou à SIC essa informação mas explica que os tais 25 anos de trabalho no banco ficaram de lado porque se tratava de um curriculum que se referia apenas à actividade académica do reitor.

No curriculum do reitor não foi, no entanto, esquecida a prática de yoga e de horticultura.

Convém não esquecer, neste caso, que Armando Vara, administrador do banco [em cuja direcção de comunicação] trabalhou o reitor Jorge Roberto, fez o curso de Relações Internacionais na UnI e que acabou esse mesmo curso dias antes de ser nomeado para a CGD.

Recorde-se também que foi na Independente que Sócrates, amigo de Armando Vara, diz ter feito a licenciatura em Engenharia Civil.

No meio de tudo isto, o semanário Expresso escreve que o edifício da UnI é arrendado a uma empresa participada pela CGD e que as rendas estão por pagar há quase dois anos.

Devido a este incumprimento – e, ao que a SIC apurou, o banco fez accionar em Março a garantia bancária.

O semanário escreve ainda que segundo quatro colegas de turma, José Sócrates não ia às aulas e que só era visto nos exames das quatro cadeiras finais da licenciatura, todos eles realizados pelo mesmo professor: António José Morais que chegou a trabalhar no governo com o amigo de Sócrates, Armando Vara.

Da entrevista a António Caldeira, Do Portugal Profundo, in Correio da Manhã
06-04-2007. Foi devido a um comentário que me foi deixado na caixa do meu blogue Do Portugal Profundo e que expunha dúvidas sobre o curriculum académico de José Sócrates, com remissão para o blogue Porta-Bandeira. À medida que ia investigando e juntando factos e documentação, aumentavam as perplexidades. Por se tratar de matéria muito sensível, decidi publicar apenas em 22-2-2005 (dois dias depois das eleições legislativas, ainda que a investigação estivesse completa na semana anterior). Trata-se de uma investigação lícita e legítima relativamente a factos que têm natureza pública, como é o caso dos cursos, equivalências e títulos académicos e profissionais do primeiro-ministro de Portugal, sobre os quais não pode subsistir qualquer dúvida.

Em 2005, Sócrates tinha-se licenciado em 1981 (segundo o DN)
Um osso duro de roer
Filipe Santos Costa
DN 23-01-2005.

Quando voltou à Covilhã, em 1981, Sócrates já tinha complementado o bacharelato com a licenciatura, em Lisboa. Entrou para os quadros da câmara municipal e filiou-se na Juventude Socialista e no PS pela mão do amigo Jorge Patrão.
(...)
Apesar do esforço de organização e método, Sócrates evitou passos em falso, como o negócio em que entrou com o amigo Vara numa empresa de distribuição de combustíveis. Em 1990 os dois deputados do PS tornaram-se sócios da Sovenco - Sociedade de Venda de Combustíveis, com outros três parceiros, um dos quais, anos depois, havia de dar pano para mangas nos jornais Virgílio de Sousa, condenado a prisão por um processo de corrupção no centro de exames de condução de Tábua. A aventura empresarial de Sócrates foi curta (menos de um ano) e literalmente para esquecer: no ano passado, quando a revista Focus desenterrou esse episódio, o socialista jurou que estava a ouvir falar dessa empresa "pela primeira vez". Só após algum esforço de memória se lembrou que tinha sido sócio.
Comentário: como se pode ler nesta biografia jornalística, publicada pelo DN em 2005, José Sócrates obteve a sua licenciatura em 1981! Palavras para quê? É um artista português...

Esta data é nomeadamente referida na biografia do PM publicada na Net pelo Answers.com

14 comentários:

Diogo disse...

Estou com curiosidade de ver o esclarecimento de Sócrates prometido para a próxima semana. Deve ser substancialmente mais esburacado que o projecto da Ota.

António Maria disse...

unIgate*: um figurão chamado António José Morais

Leia-se, no Expresso (06-03-2007) a coluna "Professor de várias polémicas" sobre o personagem António José Morais. Afinal também foi actor da novela da "Fundação para a Prevenção e Segurança", que custou o cargo a Armando Vara (mas que se ficou por aí, como convém, nestes casos...) Tal como Vara, Morais não tardou a ascender a postos de decisão ainda mais altos e cruciais para o desempenho de misteriosas funções. Sempre com o apoio dos seus "alunos" Sócrates e Vara, e a concordância de personalidades subalternas mas colaborantes, como Severiano Teixeira e Alberto Costa. Está tudo no Expresso de hoje e no Público de ontem. Não inventei nada. Se querem realmente saber o que se passou com o CV do actual primeiro ministro, investiguem este figurão chamado António José Morais. -- OAM

* A expressão "unIgate" surgiu pela primeira vez, q eu saiba, num comentário meu a este caso. Ainda não houve nenhum assalto a nenhuma sede partidária, pelo q empreguei o acrónimo apenas no sentido de que o silêncio de JS e o hiperactivismo da sua "entourage", à medida q a popularidade do PM se afunda, fazem lembrar o modo como Nixon foi sendo cozido, também ele, em lume brando.

António Balbino Caldeira disse...

Obrigado, António pelo apoio e pela participação na luta . Bem haja!

António Maria disse...

Aos meus leitores,

Li e recomendo a crónica de Clara Ferreira Alves sobre o caso Sócrates. Nessa crónica, a cronista aproveita para desfazer a tremenda calúnia lançada sobre ela por um mal avisado (e apressado) Vasco Pulido Valente. De facto, segundo a própria, e eu acredito sem reservas, as suas habilitações académicas são inquestionáveis: licenciou-se mesmo em Direito na Universidade Coimbra. Vasco Pulido Valente deve-lhe, por isso, e já devia ter pedido, sinceras desculpas.

Serve a metáfora para nos questionarmos sobre a natureza do caso sobre as atribuídas habilitações académicas do actual primeiro ministro. Há calúnia, como no caso CFA versus VPV? Eu creio sinceramente que não. Toda a informação disponível aponta para a existência de um incidente muito grave (tratando-e de quem se trata) de falsas declarações, falsas atribuições académicas e profissionais e de possível falsificação de documentos. Se assim for, e cabe ao visado demonstrar o contrário, não há outra saída que não seja José Sócrates demitir-se do cargo que ocupa. Em nome da lei, da transparência democrática e da decência cívica.

Entretanto, recebi um comentário de outro tipo, sobre o qual vale igualmente a pena reflectir.

2007/04/03, às 14:04 (Anónimo)
Eu não percebo os Portugueses, durante anos tiveram os governos dos piores que se pode imaginar, todos perdemos imenso tempo durante a era Santana, e o periodo pre-Santana, quando Durão Barroso (esse sim, mentiu) dizia que estava a promover a candidatura de Vitorino, quando de facto estava a promover a dele.
Voces têm um Presidente da República que é uma vergonha, vai à India e queixa-se do que a comida é demasiado piquante, faz uma festa para os 50 anos da Europa e NÂO convida Mario Soares É mesmo do Poço de Boliqueime...

Agora tem alguém que trabalha a sério, que está a virar esse país para a modernidade, e vão fazer uma cabala para demiti-lo por causa dum canudo, duma Universidade que nem Universidade deveria ser.
O que é isso, estão loucos.....

O que vier depois, será sempre pior e estou començendo a achar que voceis o merecem.....

RESPOSTA:

Soubeste da menina pobre e africana que ganhou as Olimpíadas Europeias de Matemática? Apareceu em todas as televisões, jornais e revistas deste país. Uma compensação doce e ingénua para o facto de os nossos índices andarem sempre no fim das tabelas europeias e mundiais, nomeadamente no sector educativo.
Pois bem, veio a saber-se, não sei quanto tempo depois, que era tudo uma ficção criada pela rapariga. Foi a grande decepção para os espectadores televisivos! E no entanto, a rapariga continuava a ser uma figura sedutora. Eu se fosse empresário de marketing, de relações públicas, de teatro ou cinema, tê-la-ia contratado imediatamente. E no entanto, a desilusão, para muitos, foi indelével.

Sobre José Sócrates, o caso anda pelos corredores e na blogosfera desde 2005. O homem é um sedutor e fez passar esse mesmo pedigree numa biografia não oficial publicada no DN em 23 de Janeiro de 2005. No entanto, ao contrário do que dizes, e do que a bem montada máquina de propaganda do governo tem feito crer a alguns, ele não está a mudar nada de essencial neste país. Pelo contrário, está a montar um sistema de poder concentracionário, muito caro e perigoso para o nosso futuro imediato. A sua reforma da administração pública é uma farsa completa, o controlo do défice fez-se não pagando aos credores do Estado e aumentando os impostos, a Ota é um embuste escandaloso, a completa ausência de uma estratégia articulada em matéria de demografia, ordenamento do território, transportes, energia e sustentabilidade, lamentável, para não dizer um crime, sabendo-se o que se sabe sobre a crescente ameaça energética e climática em curso, sabendo-se da iminente recessão económica mundial (criada pela situação insustentável dos EUA) e sabendo-se do perigo imediato do plano de guerra americano-inglês contra o Irão (visando controlar completamente a principal zona petrolífera do planeta) que, na menos má das hipóteses, atirará a Europa para uma profunda recessão económica (muito desejada pela pandilha Bush-Cheney e Cia), e na pior, lançará o mundo numa guerra nuclear imprevisível. É isto que está em causa, e é sobre isto que não vejo nenhuma estratégia clara da parte do actual poder político português. Pelo contrário, apenas entrevejo jogadas de curto prazo, o regresso à emigração massiva dos portugueses e o perigo de o meu País se transformar rapidamente num Estado Falhado, não sem entretanto passar por uma fase de Estado Mafioso. É por isso que no UnIgate importa saber se o actual primeiro ministro de Portugal mentiu ou não mentiu sobre as suas habilitações literárias, e se forjou (ou permitiu que se forjasse em seu benefício) um diploma universitário falso e nulo de valor.

Tal como no caso da falsa campeã olímpica, não será por isso que o olhar do José Sócrates deixará de seduzir algumas pessoas. -- OAM

rb disse...

Só é pena, caro António Maria, que os impolutos, aqueles que não têm quaisquer telhados de vidroos, que são capazes de dar à voltra a todos esses problemas que enunciou e que são autênticos super-homens não venham para a política ...

António Maria disse...

Caro Ricardo Baptista,

Não creio que o problema resida na santidade desejável dos políticos! Eles, como nós, que o não somos, fazemos asneiras ao longo da vida, e creio que os portugueses são, em geral, bastante tolerantes quando se trata de perdoar pecados veniais. No entanto, no momento em que um político, investido das mais altíssimas funções de governação e representação do Estado, mente sobre uma coisa tão insignificante como as suas habilitações literárias, e depois deixa infectar a ferida, sem a menor noção do perigo que daí pode advir, sucede que o "povo" pode perder subitamente a confiança no dito político. Esse mesmo "povo" pode até recusar instintivamente a hipótese de um tal político continuar a confundir-se com a instituição, neste caso, a de chefe do governo de Portugal.

Dadas as circunstâncias que rodeiam, desde 2005, as sucessivas e contraditórias versões públicas do CV do primeiro ministro, e a teimosia enigmática de José Sócrates em alguns dossiês estratégicos para o país (reforma da administração pública, saúde, política de transportes e mobilidade, OPA da SONAE sobre a Portugal Telecom, compra anunciada da Portugália Airlines, privatização da ANA, etc...) creio que o homem deixou efectivamente de ser o político indicado para dirigir o actual governo.

O PS ganhou as eleições e como tal merece governar. Mas tal como ficou demonstrado ao longo das peripécias da última maioria governamental (PSD-PP/CDS), o eleitorado está farto de comportamentos políticos cabotinos, inconsequentes e a roçar intoleráveis tolerâncias para com os poderes fáticos e a corrupção endémica que vem corroendo a viabilidade imediata deste país. Um primeiro ministro que aumentou os impostos da maneira como o fez, quando anunciara expressamente, enquanto candidato ao cargo, que o não faria, colocou-se objectivamente na posição de poder ser apeado pelo presidente da república, que tem por missão indeclinável velar pelo regular funcionamento das instituições, entre elas o governo (que não pode, salvo motivo de força maior demonstrável, rasgar os compromissos eleitorais na base dos quais foi eleito.)

Creio que existem no PS personalidades competentes e à altura desta curva apertada da sua primeira (e seguramente última) maioria absoluta. Não vou sugerir nenhuma, por motivos óbvios. Creio, porém, que o furúnculo tem que ser lancetado, já! De contrário, contaminará todo o partido, lançando ainda o país no anedotário internacional.

Em política, o que parece é, e o homem que ocupa o actual cargo de primeiro ministro parece um troca tintas e um teimoso arrogante, com uma agenda de concentração de poderes inaceitável. Inaceitável!

OAM

Maio disse...

PROBLEMAS

1.
O problema não é um primeiro-ministro não ser engenheiro ou licenciado no que quer que seja.
O problema é fazer-se passar por tal, como todas as notícias até agora publicadas levam a supor.
Se isso for efectivamente verdade, depois do rigor e seriedade que exige aos outros, parece que só restará mesmo a José Sócrates fazer duas coisas: pedir desculpas e apresentar a demissão.

2.
A nomeação de alguém devidamente qualificado e da confiança política do Governo para o conselho de administração de uma empresa pública não é um problema nem deve constituir motivo de polémica.
Problema, que pode atingir foros de escândalo, é quando essa nomeação recai em comissários políticos sem a adequada experiência profissional, cuja habilitação académica, ainda por cima, poderá ter sido obtida de forma, no mínimo, pouco transparente, como parece ser o caso de Armando Vara.
Estamos ainda longe — ou talvez não… — de perceber os verdadeiros contornos da dependência da Universidade (In)dependente!…

António Maria disse...

Do blogue de José Maria Martins (advogado de Bibi/ julgamento do caso de peofilia/ Casa Pia)

05.04.2007. Porque escolheu José Sócrates a Universidade Independente

No ano lectivo 1995/1996 a Universidade Independente não tinha em funcionamento os 3º, 4º e 5º anos do Curso de Engenharia Civil.

Então porque é que José Sócrates foi "completar" a licenciatura de engenharia civil na Universidade Independente?

Porque escolheu José Sócrates a Universidade Independente para fazer as cadeiras de anos posteriores aos 1º e 2 º - únicos em funcionamento na Independente - do Curso de Engenharia?

O normal seria pedir a equivalência das cadeiras que tinha numa universidade que estivesse a leccionar todos os anos do Curso de Engenharia.

Elementar! (...)

Licenciatura de Socrates - O que fará a PGR?

05-04-2007. Se em Portugal houvesse respeito pelos eleitores e pelos cidadãos, José Sócrataes já tinha dado uma conferência de imprensa e falado sobre todos os factos relativos à sua alegada licenciatura.

Mas os assessores do Primeito Minisro - gastando dinheiro público , gastando horas de serviço pagas pelos contribuintes, em matéria que tem a ver com o cidadão José Sócrates e não com o Primeiro Ministro - lá andam numa lufa, lufa, a falar com jornalistas, segundo o Expresso a pressionar os jornalistas.

José Sócrates e o PS não se podem esconder atrás de uma cortina de fumo e dizer que esta questão da licenciatura é uma arma da Oposição.

Trata-se de retórica da mais infeliz.

E não pode o PS e José Sócrates dizerem que a questão da licenciatura aparece por causa dos problemas da Universidade Independente. (...)

Comentário: este antigo polícia parece saber do que fala...

António Maria disse...

A minha querida amiga canadiana volta simpaticamente ao ataque, em defesa de Sócrates. Passo a citá-la:

Antonio,

Se estou caída pelo charme do PM, é o charme da diferença entre Sócrates e os predecessores (e ainda pior os que pretendiam estar no lugar dele). De Marques Mendes nem se fala. Queres Paulo Portas? Escuta-me bem, vocês não têm muita escolha, o que infelizmente é o caso da maioria das democracias.

Temos um Primeiro-Ministro no Canadá, que é assim a assim, e tem um Governo minoritário. Parece que os partidos da oposição vão fazê-lo cair pela falta de engenho em cuidar do aquecimento global.....e parece que 60% dos Canadianos vão re-elegê-lo.... com um mandato mais claro de acção em prol do Ambiente. É assim que se faz: obrigar os Governos a agir.

O Governo Sócrates moralizou o sector das Finanças e obrigou os Portugueses, inclusivé os bancos, a pagar impostos como deve ser. Para mim, isso já é mais de que qualquer outro Governo fez desde que eu cheguei aqui, a começar pelo tecnocrata, de Cavaco Silva, que só pensava em gastar o máximo dos dinheiros europeus em betão, e deixava entretanto a galinhada fazer festa (os ministros dele) com os fundos.

Estou-me nas tintas para o canudo. O PM está com o rabo preso por uma história mal contada, e o pior é para ele, que agora duvida de si mesmo. Pode ser que depois disto seja ainda melhor dirigente... Se for demasiado encurralado, é capaz de comportar-se como uma besta ferida.... E no caso dele, será perigoso.

Os Portugueses só se preocupam com os benefícios e privilégios perdidos. Existe uma pequena elite, como tu e os teus leitores, que pensam um pouco nas políticas energéticas e de transportes que deveriam ser desenvolvidas, portanto é nisso que deveriam concentrar-se. Porque a sociedade civil portuguesa só se levanta quando há aparência de escândalo.... e não pela positiva!! Deve ser um atavismo dos tempos das cortes reais, quando só interessava os mexericos de alcóva!

bjs
C

Comentário:

Querida C,

Sabes como te levo muito a sério e respeito a tua visão estrangeira do meu país. Há anos que é assim...
Eu também me estou nas tintas para o canudo virtual do Sócrates. Estou de acordo também no ponto da "coragem", que ele manifestou ao enfrentar alguns lóbis poderosos (nomeadamente, o bancário e o farmacêutico.) Já não estou de acordo quanto à gestão que fez do défice público (mais aparente do que real); já não estou de acordo como atacou o monstro administrativo, sobretudo pela falta de uma visão transparente e racional das soluções a implementar, e ainda pela escandalosa dualidade de critérios (contratações nepotistas e partidárias para a mesma Função Pública que pretende sanear e a contínua alimentação de uma escandalosa indústria de assessorias e estudos inúteis, cujos contornos continuam a cheirar demasiado a esquemas de enriquecimento ilícito da élite político-partidária e financiamento ilegal de máquinas partidárias). Já não estou de acordo com o projecto de concentração de poderes na figura do primeiro ministro que recentemente levou ao parlamento. Já não estou de acordo na arrogância estúpida revelada na gestão do suspeitíssimo dossiê da Ota.

É este acumular de azelhices e preocupações, e não tanto o Ridiculum Vitae do homem, que a mim me preocupa. Sucede, porém, que este episódio pueril acabou por ser como o bater de asas de uma libélula em Lisboa que causa um terramoto em Tóquio. Não creias que deixei de pensar nas possíveis saídas para esta crise. Comecei aliás por sugeri-la desde que a mesma ia ainda no adro: um pedido de desculpas formal por parte do primeiro ministro relativamente à informalidade com que tratou o seu dossiê académico e a promessa de maior humildade no ataque inteligente aos principais problemas do país. Creio que isso teria bastado para obter o perdão da opinião pública. Creio que este gesto lhe permitiria, suplementarmente, adquirir a energia, de que precisa como pão para a boca, para sustar os lóbis que maior pressão têm exercido sobre ele, provavelmente ameaçando-o com chantagens várias (caso da Ota, da venda da Portugália Airlines à TAP, da venda da ANA e dos terrenos da Portela, etc....)

Neste momento, porém, a margem de manobra reduziu-se dramaticamente. A culpa é, em boa parte, dos assessores de comunicação que o rodeiam. Uns autênticos imbecis!

Eu não morro de amores pelo José Sócrates. Mas depois de perceber que ele ia ser o novo secretário-geral do PS, chegei a ver na sua figura jovem, decidida e atraente um re-make do JFKennedy. Tive esperanças genuínas no seu desempenho. Bem gostaria de estar completamente enganado nas minhas intuições sobre o que lhe vai acontecer. De resto, querida amiga, tens absoluta razão sobre a indigência que continua a marcar geneticamente, como um ferro de ganadeiro, pelo menos metade dos indígenas do meu país.
bj
a

António Maria disse...

Quem se mete com o PS, leva! É?

Parece que ao magarefe de Aveiro, de nome Raúl Ventura Martins, lhe foi encomendado o sermão de ameaçar o bloguista Do Portugal Profundo (por causa da averiguação democrática sobre as declarações do primeiro ministro sobre as respectivas habilitações académicas.) A ameaça vem, ao que parece, dalguns zangãos do aparelho PS. A menos que o dito aparelho repreenda estes Ninja afoitos, ficaremos a crer que sim, que foi mesmo uma ameaça do PS. Espero sinceramente que não seja o caso. Os partidos, que eu saiba, ainda desceram de divisão. Quer dizer, para a divisão do Pinto da Costa e quejandos.

rb disse...

"no momento em que um político, investido das mais altíssimas funções de governação e representação do Estado, mente sobre uma coisa tão insignificante como as suas habilitações literárias"

Fundamente essa forte acusação com factos?

Não posso deixar de reparar que faz um julgamento político sobre o governo para justificar a necessidade de demissão o que, só é legítimo fazer em eleições e revela a fragilidade da acusação citada.

Diogo disse...

[da "coragem", que ele manifestou ao enfrentar alguns lóbis poderosos (nomeadamente, o bancário e o farmacêutico.)]

Ontem, Marcelo Rebelo de Sousa (figura com quem não simpatizo), explicou bastante bem porque é que Sócrates não beliscou minimamente o lóbi das farmácias. Quanto aos bancos, continuam a pagar 11% de IRC não obstante os lucros escandalosos que apresentam trimestralmente. Coragem?

António Maria disse...

Mariano Gago prepara terreno favorável ao PM.

Resumo, em palavras minhas, os argumentos Do Portugal Profundo s/ a conferência do ministro, com que concordo plenamente.

O despacho provisório de encerramento compulsivo da UnI por Mariano Gago foi um passo na direcção certa. Compreende-se, por outro lado, que o ministro tenha procurado defender o seu chefe da melindrosa situação em que se colocou. E assim, sem faltar deliberadamente à verdade foi omisso em questões cruciais, tais como:

1. A UnI foi reconhecida em 1994. No entanto os cursos, incluindo o de Engenharia Civil, só foram criados por Portaria de 24 de Maio de 1995. O ministro diz, no entanto, que foram criados com efeitos retroactivos ao ano lectivo 1993/94. Como?! E há prova desta originalidade?

2. O ministo confirmou que a lista de diplomados de 1995-96 não foi comunicada ao ministério. Mas não explicou porquê...

3. Apesar de o ministro ter afirmado que a lista do corpo docente da UnI em 1995-96 foi publicada em Diário da República, não disse quando... nem se foi comunicado ao ministério, como deveria ter sido, a lista de docentes por disciplina;

4. Sobre José Sócrates disse que tinha sido "um caso que de certa maneira é exemplar". Que o dito Sócrates "pede equivalência" e, nos termos da lei, é-lhe fixado "um plano perfeitamente normal", e pronto.

-- "Exemplar"?! Exemplar de quê? Do estilo chico esperto lusitano? Ou das vantagens em se ser político do bloco central quando se precisa de um plano de equivalências expedito e indolor? De quê, realmente?!

-- "Um plano perfeitamente normal"?! Mas se está provado que não havia sequer plano curricular para o 5º ano, que o actual primeiro ministro seria suposto frequentar para terminar a sua licenciatura (pois o curso começara, de forma provavelmente irregular, em 1993-94), como foi possível estabelecer e vender ao putativo finalista um plano de equivalência currcular e fixar-lhe o subsequente plano de estudos?

-- Mariano Gago confirmou que José Sócrates "frequentou um MBA", ou seja que concluíu o respectivo plano curricular, mas que lhe falta a dissertação para obtenção efectiva do grau de MBA. No caso dos doutoramentos, realizados após licenciatura efectiva (nos MBA, presumo que seja algo parecido), por exemplo em Espanha e em França, quando se termina a fase curricular dos mesmos (normalmente 2 anos) pode requerer-se o chamado diploma de "estudos avançados", mas o grau de "doutor", só epois de defendida a tese (a qual pode levar mais dois anos... ou uma década!). Resumindo, o primeiro ministro não tem nenhum MBA!

-- Da suposta "Pós-Graduação em Engenharia Sanitária pela Escola Nacional de Saúde Pública", que o sitio do governo continua a atribuir ao primeiro ministro, continua-se a aguardar esclarecimento. -- OAM

António Maria disse...

Duas respostas rápidas (ao Diogo e ao Ricardo Baptista):

Ao Diogo: Roma e Pavia não se fizeram num dia, e por isso creio que a progressão dos genéricos, a abertura de farmácias em grandes superfícies e a des-corporatização do negócio das lojas farmacêuticas são passos certos numa direcção esperada, e a que as farmácias resistiram como puderam. Quanto aos floreados de MRS, sabemos bem para que servem... na maioria dos casos.

Ao Ricardo Baptista: O PM mentiu, sim senhor, quanto mais não seja por omissão, deixando que uma informação enganadora sobre a sua qualificação profissional se mantivesse no sítio oficial do governo durante dois anos! Se mentiu mais, já veremos. O silêncio comprometedor que manteve desde o início da crise reside precisamente na questão de saber como desfazer tal omissão mentireira. Vai ser uma operação de alto risco, a realizar com as melhores pinças do mercado e uma imprescindível precisão cirúrgica. Espero que a factura seja paga exclusivamente pelo próprio e desejo-lhe boa sorte!