sexta-feira, junho 27, 2008

TAP



Motivo de despedimento

O presidente da TAP, através da agência de comunicação que serve a empresa, encharcou hoje os meios de comunicação social com os efeitos dramáticos da subida do preço do petróleo nos resultados previsivelmente negativos do exercício de 2008. Anunciou 102 milhões de euros de prejuízo, e disse que se a loucura dos preços do crude continuasse, a TAP poderia perder até ao fim do ano 150 milhões de euros... ou mais! Consequência: os aumentos de salários não negociados em anterior convenção colectiva teriam que esperar, a famosa distribuição de lucros extraordinários de 2007 teria que ser repensada, e alguns dos Slots (i.e. voos de e para determinados destinos, com dia e hora fixadas) seriam cancelados após a época alta de Agosto.

Esta manobra de intoxicação mediática tem, porém, dois problemas:
  1. Esconde o facto de, ainda em 11 de Abril passado, a mesma agência de comunicação que promoveu hoje a aparição aflita do gaúcho Fernando Pinto, dando más novas ao país, ter fabricado uma entrevista vergonhosa para a SIC com sinais diametralmente opostos. A TAP anunciava então (há escassos dois meses, sublinhe-se) "resultados históricos de 32,8 milhões de euros." A jovem estagiária, olhando atentamente para a cábula, anunciava: "os lucros (da TAP) aumentaram 350% relativamente a 2006" (Ena!). E o gaúcho Pinto acrescentava, naquele seu tom de mula monocórdica: "os melhores resultados de sempre na história da TAP"... (Ena!)
  2. Por outro lado, a manobra de contra-informação omite de forma completamente desonesta o impacto da concorrência das companhias de baixo custo (Low Cost) nas importantes perdas de mercado da TAP, quer na Portela, quer sobretudo nos aeroportos do Porto e de Faro. A TAP foi aliás praticamente varrida de Faro, e está a ser varrida do Porto a grande velocidade. Porque será que o gaúcho não mencionou hoje, nem contabilizou hoje tão evidentes perdas? Eu se fosse accionista, quereria saber...
Mas o mais grave de tudo isto é a forma como o Administrador Delegado da TAP, empresa do Estado português, pretende agora alijar as suas directas responsabilidades no que toca à forma absolutamente imprudente como geriu o dossiê dos combustíveis da empresa. Se ouvirem a entrevista à SIC com atenção repararão que Fernando Pinto, a certa altura, afirma não ter segurado as suas compras de Fuel, não tendo assim operado, como deveria ter operado, no mercado de futuros. A justificação que deu é extraordinária: as informações que então detinha apontavam para uma descida a curto prazo do preço do petróleo. Em 11 de Abril! Quem foi que lhe deu semelhantes conselhos? A TAP fez o orçamento de 2008 contando com o petróleo a 70 dólares, quando já toda a gente do metier sabia que o crude chegaria, pelo menos, aos 100 USD, em 2008. Hoje, a meio do ano, o barril ultrapassou a barreira dos 140 dólares. Isto é, apenas o dobro do valor que serviu de referência ao orçamento da TAP para este ano! Em qualquer empresa privada do mundo, este simples facto seria suficiente para despedimento com justa causa. Que vai agora fazer o governo do Senhor Sócrates? Dar cobertura a tamanho desleixo? Se o fizer, que andará a esconder dos contribuintes?

As grandes empresas de aviação há muito que estão a segurar as suas compras de combustível. A Air France-KLM, por exemplo, segurou a compra de 78% do seu consumo de Fuel até Março de 2009, com base em preços de $70 e $80 o barril. Quando o petróleo chegou aos $120, a companhia francesa-holandesa poupou $35 por barril efectivamente comprado!

Vale a pena ler o que sobre este tema escreveu Caroline Brothers no Herald Tribune do passado dia 10:

European Airlines Press Fuel-Price Edge

... The airline industry's biggest lobbying group, the International Air Transport Association, or IATA, has said that every dollar increase in the price of oil costs a cumulative $1.6 billion for airlines.

Crude oil prices, which have more than doubled over the past year, had their biggest gains ever Friday, with light sweet crude jumping nearly $11 to a record high of $138.54 a barrel on the New York Mercantile Exchange.

... Air France-KLM has hedged 78 percent of its fuel consumption through March 2009, at $70 to $80 a barrel, Jean-Cyril Spinetta, the chairman and chief executive of the airline, said last month. Through that policy of hedging fuel four years in advance, the company saved about $35 a barrel when oil was at $120 a barrel.

A team of 10 people work full time on hedging oil prices for Air France-KLM, Pierre-Henri Gourgeon, finance director of the company, said Monday. Gourgeon added that the company could not pass the full cost of fuel price increases over to its customers. Instead, it is investing about $1 billion a year in new, more fuel-efficient aircraft, to which savings from fuel price hedging contribute significantly.

But that does not mean that Air-France-KLM has not felt a pinch. The company has already seen demand slow on its trans-Atlantic routes, Gourgeon said, though its European routes have not suffered. "Rather than decrease capacity we will adjust our growth plan slightly," he said.

Other European airlines have also taken the hedging route. British Airways hedged 72 percent of its fuel needs for the first half of the financial year and 60 percent for the second half. Lufthansa has hedged 83 percent of its fuel requirements through the end of 2008 and said that it saved euro 109 million, or $172 million, last year by doing so.

Even low-cost carriers like Air Berlin, easyJet and Ryanair are hedging, with Ryanair recently reversing a longstanding avowal to never do so.

But some European airlines are less protected. According to the French bank BNP Paribas, the Spanish carrier Iberia Lineas Aereas de Espana has insured 47 percent of its 2008 fuel requirements, while Aer Lingus of Ireland has hedged 36 percent. The troubled Austrian Airlines has hedged only 20 percent of its 2008 fuel needs and is reportedly under pressure to find a "strategic alliance" with a stronger carrier, most likely Lufthansa or Air France-KLM. -- By Caroline Brothers, Posted on: Tuesday, 10 June 2008, 06:00 CDT, Herald Tribune.

A situação da TAP vai tornar-se rapidamente insustentável, primeiro porque o petróleo vai chegar aos $150 ou aos $170 até ao fim deste ano; segundo, porque as companhias easyJet, Ryan Air e Air Berlin, entre outras, vão continuar a roubar passageiros à transportadora nacional; terceiro, porque o tráfego com o Brasil vai sofrer inevitavelmente uma quebra -- do lado brasileiro, devido à excessiva valorização do Euro; do lado português, devido à penúria do reino. Tudo isto era previsível, e sobre isto mesmo a blogosfera não se cansou de chamar a atenção de quem nos lê.

Há escassos dois meses a comunicação social portuguesa ainda comia tudo o que a Líbano Monteiro lhe enfiava pelo tubo catódico dentro. Agora, bom agora, só mesmo se a filha do Edu (RMVS dixit) acudir, é que a TAP se salva! Entretanto, sobram motivos para a rescisão do contrato entre a transportadora aérea nacional e o incompetente gaúcho que a tem governado nos últimos anos.

PS: ainda a propósito dos devaneios de Fernando Pinto, vale a pena ver esta reportagem da TVI sobre o aproveitamento de aeródromos militares para companhias Low Cost, onde surpreendentemente se descobre a nova vocação do gaúcho aos comandos da TAP: moço de shopping! Reportagem TVI.

OAM 382 26-06-2008, 23:15 (última actualização: 01-07-2008 15:24)

2 comentários:

Jose Silva disse...

António,

Na empresa onde trabalho, PME industrial do vale do Ave, com 40 trabalhadores, em que 2/3 dos custos são derivados do petroleo, estamos atentos ao preço deste e já pensamos implementar uma cobertura do risco tal como a AirFrance KLM. Numa das nossas clientes, produtora de racções, também das redondezas, existe um técnico que em full-time executa essa actividade.

Conclusão: Ou isto é mais um caso de incompetência lisboeta, habitaul diga-se, pois estão habituados a gerir em deficits, coisa que não acontece, nem é possível no resto de Portugal, ou a explicação será outra. Já está assegurada a tal fusão TAM+TAP+TAG e agora é necessário dramatizar a situação para facilitar o negócio.

Anónimo disse...

Ferreira Leite vai pôr em causa novas SCUT e TGV
http://sol.sapo.pt/PaginaInicial/Politica/Interior.aspx?content_id=99586&tab=community

Vejamos as obras que MFLeite contesta (Obra/Território/Posição de MFLeite):
- TGV: âmbito Nacional; MFL contesta
- Novas Sctus: âmbito Nacional; MFL contesta
- Alcochete: Lisboa; MFL em suspeito silêncio
- TTT: Lisboa; MFL em suspeito silêncio
- Zona Ribeirinha: Lisboa; MFL em suspeito silêncio

Assim se vê a força do PSD centralista...

Abraços
Jsilva