segunda-feira, fevereiro 21, 2011

FMI

Geração à Rasca têm melhores antecedentes do que Vicente Jorge Silva pensa...



Vale a pena ouvir este extraordinário libelo de um artista contra a miséria democrática e o pântano cultural a que uma certa corja financeira e partidária conduziu o país. José Mário Branco está muito mais próximo das gerações “rasca” (X) e “à rasca” (Y) do que muita gente do tempo de Vicente Jorge Silva e da minha (um pouco mais nova) geração — cujo conforto herdado sem esforço de uma ditadura podre, mas poupada e com poupanças, se vê agora exposto como um acto de dilapidação histórica de recursos e oportunidades. Andámos distraídos. Confiámos demasiado em economistas de bolso e penduras de toda a espécie. O resultado está à vista. Muitos de nós fizemos asneira sem intenção dolosa, e até sem proveito próprio, mas a verdade é que deixámos o país caminhar para a ruína. Mais vale acordar agora deste pesadelo, e fazer o que tem que ser feito, do que permanecermos na cobardia porreira, irresponsável e oportunista.

A entrada do Fundo Europeu de Estabilização Financeira, do BCE e do FMI em Portugal é não só inevitável, como necessária, pois doutro modo, o saque actualmente em curso por parte das ratazanas que correm pelos corredores, prateleiras e fundos ainda fornecidos deste moribundo regime demo-burocrático, será mais catastrófico para todos nós e para os nossos filhos, netos e bisnetos. Teremos pela frente, no mínimo, cem anos de vergonha e solidão.

Ainda hoje li no Expresso um alarve da EDP ameaçar o país a propósito dos devaneios eólicos da empresa que o cabotino Mexia conduziu ao sobre endividamento (um passivo de mais de 29 mil milhões de euros).

A EDP, apesar deste descomunal endividamento, ainda vale alguma coisa, ao contrário da TAP, e é por isso que cairá um dia destes no papo de uma grande energética espanhola, alemã ou chinesa. É o preço de ter embarcado num processo de expansão encostado à especulação bolsista e a uma das várias tetas, hoje secas, do orçamento do Estado português. É o preço de se ter atravessado numa tecnologia que vive à conta dos impostos de dois países igualmente falidos: Portugal e os Estados Unidos. É o preço de não ter percebido a tempo que o mercado de emissões de CO2 equivalente não passou afinal de uma tentativa falhada de criar uma nova bolha especulativa que sucedesse à bolha imobiliária mundial e de alguma forma atenuasse o efeito devastador, e de duração desconhecida, do buraco negro dos derivados financeiros (cujo valor nocional supera em mais de dez vezes o PIB mundial).

Pois bem, a EDP, tal como a Mota-Engil, o BES e o Grupo Mello, entre outros, continuam a berrar pelas tetas orçamentais, mais do que todos os sindicatos juntos. Querem dinheiro! E os sindicatos? E nós? Vamos deixar que o capitalismo imbecil e clientelar, que não há meio de aprender que o colonialismo e a chulice autoritária acabaram, prossiga a sua tarefa assassina e suicida de liquidar Portugal?!

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