terça-feira, maio 31, 2011

A morte de Pinóquio

Quer ganhe, quer perca, José Sócrates tem o destino marcado: a expulsão do paraíso que julgava eterno...



O PSD volta a alargar a sua vantagem para o PS. Na oitava sondagem da Intercampus para o PÚBLICO e a TVI, os sociais-democratas somam agora 37,0% da preferência dos votos, contra 32,3% dos socialistas. O CDS sobe, a CDU mantém e o BE cai. Público (30-01-2011).
Neste momento tudo leva a crer que o PS perderá as eleições do próximo domingo. Os portugueses já não suportam mais a criatura. Eu, por exemplo, mudo imediatamente de canal sempre que o nariz espetado e descarado deste Pinóquio me assalta a casa por um dos canais do MEO. Sei que vai mentir com o descaramento típico de todo o vigarista que se preze, e assim sendo, mudo de programa, ou desligo a televisão. Prefiro manter-me a par dos seus compulsivos delírios de propaganda e manobras de intoxicação mediática, recorrendo aos canais da Net. É menos intrusivo.

As opções de José Sócrates no dia 6 de Junho são apenas estas:
  • no caso improvável de o PS ganhar as eleições, José Sócrates não terá parceiro com quem governar e será por isso forçado a ceder o lugar a alguém que possa e saiba fazer a ponte entre o PS e o PSD. Hoje uma voz amiga soprou-me que estaria tudo preparado para que o socialista ex-fundador da JSD, e actual presidente do Tribunal de Contas, Guilherme d'Oliveira Martins (1), assumisse a espinhosa missão de formar um governo de maioria PS-PSD-CDS, caso o improvável cenário de uma derrota de Passos Coelho viesse a ocorrer;
  • no caso de o PSD ganhar as eleições, formando maioria absoluta com o CDS, ou mesmo precisando do PS para consagrar a estabilidade parlamentar necessária para aplicar rapidamente as medidas mais dolorosas e reformadoras do Memorando de Entendimento, a sorte de José Sócrates é a mesma: despedimento com justíssima causa! A sentença foi aliás decretada pelo consigliere Almeida Santos (primeiro está a família!)

Uma votação mais expressiva no PCP e no Bloco, que deverá, apesar das sondagens, ocorrer, tornaria as coisas ainda mais críticas para o ainda primeiro ministro que conduziu o pais à bancarrota. Se ao menos os ortodoxos do PCP e do BE percebessem quantos milhares de votos perderam pelo simples facto de terem rejeitado quaisquer conversações com a dita Troika, talvez fizessem ainda um esforço nos dias que restam da campanha para evitarem mais verborreia populista, e proporem uma ou duas ideias claras ao país. Louçã está neste momento a perder votos para o PCP, para o PS, para o PSD, para o CDS, para o Partido da Terra, e até para o partido vegetariano!

O PS precisa de uma boa derrota para acordar do estado de hipnose a que foi sujeito pela tríade de Macau e pelo ilusionista José Sócrates Pinto de Sousa. Sem um abalo até às raízes não será provável a clarificação urgente de que necessita para sobreviver ao longo da pesada década que temos pela frente.

A Esquerda está perdida no novelo do seu próprio oportunismo irresponsável. Mas só o PS tem condições de iniciar um processo de aggiornamento socialista capaz de contagiar o PCP e sobretudo o BE, ansiosos ambos por verem superados os atavismos marxistas, estalinistas e trotsquistas que os têm condenado à insignificância partidária e à incapacidade de assumirem o pragmatismo que as gerações mais jovens naturalmente reclamam.

A situação é complexa. Mas há algo cada vez mais evidente: um voto no PS é provavelmente o único voto inútil destas eleições.


NOTAS
  1. Os episódios em volta dos relatórios sobre as PPP rodoviárias podem ter algo que ver com isto. O actual presidente do T.C. aparece, em aparente sintonia com Cavaco, como protector de Sócrates, retendo o relatório que "arrasa" a gestão que a tríade de Macau fez do dossier das PPP rodoviárias do continente (um encargo escandaloso de 20 mil milhões de euros!) Por outro lado, hoje, 30 de Maio, o mesmo Guilherme d'Oliveira Martins deixou publicar, a menos de cinco dias das eleições, um relatório sobre as PPP de Alberto João Jardim na Madeira, onde o governo autónomo é severamente criticado. Link1. Link2. Link3. Link4.

segunda-feira, maio 30, 2011

BCP? What else!

As acções do BCP estão quase ao preço das cápsulas: 0,457€. George...?



Será que a Caixa vai continuar a dar uma ajudinha? Com os senhores da tríade de Bruxelas, Frankfurt e Nova Iorque aqui tão perto, será difícil :(

domingo, maio 29, 2011

Travem os agiotas!

Em vez de juros usurários, porque não exigir à tríade uma taxa média de 0,01%?


Fed Gave Banks Crisis Gains on Secretive Loans Low as 0.01%Bloomberg, 26.05.2011.

May 26 (Bloomberg) -- Credit Suisse Group AG, Goldman Sachs Group Inc. and Royal Bank of Scotland Group Plc each borrowed at least $30 billion in 2008 from a Federal Reserve emergency lending program whose details weren’t revealed to shareholders, members of Congress or the public.

(...) New York-based Goldman Sachs’s borrowing peaked at about $30 billion, the records show, as did the program’s loans to RBS, based in Edinburgh. Deutsche Bank AG, Barclays Plc and UBS AG each borrowed at least $15 billion, according to the graphs, which reflect deals made by 12 of the 20 eligible banks during the last four months of 2008.

(...) Other banks listed in the Fed charts borrowed less than their peers. New York-based Morgan Stanley and Paris-based BNP Paribas, France’s biggest bank by assets, took no more than about $10 billion. Citigroup Inc., JPMorgan Chase & Co. and Merrill Lynch & Co., which is now part of Bank of America Corp., borrowed less than $5 billion each — Bloomberg, 26.05.2011.

O cálculo do resgate da dívida soberana portuguesa está de momento avaliada em 78mM€. As organizações que integram a tríade do resgate —Mecanismo Europeu de Estabilização Financeira (MEEF), Fundo Europeu de Estabilização Financeira (FEEF) e Fundo Monetário Internacional (FMI)—, pretendem cobrar juros por esta operação na ordem dos 5,9%! São juros agiotas, mas inferiores aos mais de 10% para onde actualmente caminham as operações de colocação comercial da dívida soberana portuguesa.

Enquanto esteve aberto o guichet do BCE, através do qual os bancos comerciais pediam dinheiro emprestado à taxa de 1%, dando como colateral títulos de dívida soberana com rendimentos garantidos acima dos 4% (hoje estes rendimentos já andam muito próximos dos 10%), foi o fartar vilanagem que o mitómano Sócrates saudou alegremente como prova da sua eficácia na condução de Portugal à bancarrota.

Quando qualquer coisa cresce a 7% ao ano, significa que duplica numa década. Quando cresce a 10%, significa que duplica em apenas sete anos!

Foi conhecendo esta lei matemática, e depois de constatar que o negócio das dívidas soberanas se tinha transformado em mais uma perigosa bolha especulativa, que o BCE decidiu fechar a sua peculiar portinhola de Quantitative Easing. O ataque especulativo à moeda única europeia, por via do ataque às dívidas soberanas dos PIGS, tornara-se uma ameaça real à própria integridade do euro. Bruxelas, Berlim e Paris não tiveram outra saída que não fosse enveredar por programas de resgate dos países membros aflitos, criando estratégias de endividamento em cascata capazes de travar a espiral de pilhagem especulativa em curso.

Assim, a União Europeia passa a financiar-se junto dos mercados a juros aceitáveis, e depois empresta aos PIGS a juros inaceitáveis e sob condições draconianas. Eu até estou de acordo com todas as condições draconianas da última versão do Memorando de Entendimento da Troika (pois são essenciais à reforma da nossa degenerada democracia), mas não estou de acordo, nem com os prazos, nem com o preço do dinheiro emprestado e a emprestar. O FMI, e sobretudo os FEEF e MEEF, estão a comportar-se como agiotas, e pior do que isso, poderão afogar-se na sua própria ganância. Se os juros e os empréstimos forem impagáveis, a cobrança dos ganhos poderá revelar-se impossível, forçando os credores a aceitar um perdão parcial da dívida (o já célebre hair cut) — ou seja, a sua renegociação.

Durante a crise que levou ao colapso do Lehman Brothers, em 2008, a Reserva Federal (FED), o grande cartel bancário que nos EUA equivale aos bancos centrais de outros países, emprestou secretamente mais de 80 mil milhões de dólares a um grupo de bancos americanos e europeus, a prazos de 28 dias, cobrando juros de 0,01%, com o pretexto de evitar uma corrida aos bancos. Mais tarde, Henry Paulson, Ben Bernanke e Timothy Geithner, convenceram o Senado a realizar uma punção fiscal sem precedentes, de 700 mil milhões de dólares, para resgatar a banca de potenciais faltas de liquidez, cobrando-lhes juros de favor cada vez mais próximos do zero. Esta política de empréstimos sem juros, reservada apenas aos bancos (ZIRP), começou no Japão, mas tem feito o seu caminho. No entanto, o contraste com os juros cobrados às empresas, aos cidadãos, e agora, aos governos, é de tal modo escandaloso, que não poderá deixar de causar conflitos sociais e políticos num futuro bem próximo.

Os mais de 42 milhões de americanos que recorrem hoje às senhas alimentares (food stamps) querem saber as razões desta discriminação, e querem deixar de alimentar um sistema financeiro tão evidentemente injusto e corrupto. Os europeus, à medida que as senhas de alimentação forem entrando na sua rotina, para complementar as suas degradadas pensões de reforma, o custo crescente do seus serviços públicos de saúde e o desemprego sistémico, cada vez menos subsidiado, também!


POST SCRIPTUM (30.05.2011 9:11)

O trauma da reestruturação entrou definitivamente na ordem do dia das dívidas soberanas europeias, a começar pela Grécia, seguindo-se-lhe depois, inevitavelmente, Portugal, Irlanda, Espanha, Itália, etc.

Hipóteses em cima da mesa:
  1. estender os prazos de pagamentos;
  2. diminuir as taxas de juro abusivas;
  3. aparar a dívida (hair cut), i.e. deixar os credores (mas sobretudo os especuladores) com uma parte dos lucros esperados no tinteiro;
  4. não pagar de todo e mandar o euro às urtigas (uma hipótese radical que, na realidade, significa transformar um pesadelo de 10-20 anos, num definhamento até ao fim deste século, no mínimo!)
 Mas pode haver um passe mágico, ou seja, uma quinta hipótese que contorne estas soluções demasiado espinhosas: fazer um acerto de contas prévio entre os países que são simultaneamente devedores e credores. Esta é, pelo menos, a proposta criativa de dois professores associados da Europe Business School: Anthony J. Evans (Economics) e Terence Tse (Finance).
The idea

The idea is very simple - if Portugal owes Ireland €0.34bn of short term debt, and Ireland owes Portugal €0.17bn, we can write off Ireland's obligations and leave Portugal with a reduced debt of €0.17bn.

If you are both a debtor and a creditor you do not need money to settle claims. Rather than require additional funds to deal with choking debt, why not write it off?
The diagrams above show the before and after situation, based on analysis done by students. The simulation itself took place on May 17th 2011 and involved three separate trading rounds — inThe great EU debt write off”.

Parece um jogo vídeo. Mas não estamos todos, de facto, imersos numa economia virtual?

sábado, maio 28, 2011

Um presidente de sal

A dimensão do próximo governo será um indicador fundamental das intenções de Passos Coelho. Cavaco não existe!

Cavaco Silva continua a projectar uma sombra ambígua sobre o país
Passos admite ter que negociar dimensão do Governo
Se tiver maioria absoluta mantém os 10 ministros e insiste que será "eficaz". Se não a tiver, Passos admite "ter que negociar" a dimensão de um executivo. Portas quer 12 — Expresso.

Desde quando é que uma estátua de sal pode imiscuir-se no formato do próximo governo de Portugal? A rainha de Boliqueime fala quando devia estar calada, e não diz nada quando devia falar. Não temos presidente, temos um traste presidencial, aliás com um orçamento muito exagerado para os tempos de austeridade que aí vêm. Primeira medida do próximo governo: diminuir o peso e o custo do governo, do parlamento e... da presidência da república!

Sócrates foi logo atrás das hienas presidenciais, seguido de Portas. Todos acham, em coro, que Passos Coelho é imaturo por exigir um governo mais leve, mais eficiente e menos caro. O silêncio do PCP e do Bloco são a este propósito sintomáticos dos males de que padecem — no fundo, vivem acomodados nos respectivos nichos partidários e parlamentares, comendo lentilhas e debitando orações que já ninguém escuta.

Mas há factos que arrumam qualquer polémica num ápice. Aqui vai:
Ora digam-me lá se a estátua Cavaco Silva, o mentiroso compulsivo Sócrates e o Paulinho das feiras não perderam uma boa oportunidade para estarem calados.


ÚLTIMA HORA (28.05.2011 20:50)

Cavaco desmente crítica a Governo com 10 ministrosTVi24 (28.05.2011 19:41). Ora bem! Ainda bem!! Está na altura de Cavaco Silva por alguma ordem no seu falanstério.

ÚLTIMA ACTUALIZAÇÃO: 30.05.2011 10:11

Debitocracia

Devemos exigir uma auditoria popular à nossa dívida externa

Para além de ser imperioso, nas eleições de 5 de Junho, correr com Sócrates e a tríade que tomou de assalto o PS, o governo e o país, também deveremos exigir do próximo governo, parlamento e presidência da república, uma auditoria imediata à nossa dívida externa, com todas as consequências que daí possam advir — por exemplo, a eventual acusação e julgamento dos piratas que levaram Portugal à bancarrota, ou mesmo, a imposição de uma renegociação euro-a-euro da própria dívida, separando o trigo do joio. Se forem detectadas dívidas odiosas, deveremos estar preparados para as repudiar.

O nosso caso será certamente diverso do da Argentina, Equador, ou Grécia. Mas será assim tão diferente? Ora vejam este excepcional documentário sobre o caso, muito mal explicado, da crise soberana da Grécia.


Debtocracy International Version por BitsnBytes

OUTRO VÍDEO — mostrando um ponto de vista bem diferente, no que respeita à natureza do Capitalismo, a recém difundida (23.05.2011) produção da HBO: To Big to Fail, defende que a salvação dos bancos (cujos pormenores até agora clandestinos, uma decisão do tribunal supremo dos EUA obrigou o FED a revelar recentemente), ou melhor, o mais recente e extraordinário processo de concentração ainda curso foi a única forma de evitar um colapso financeiro mundial de proporções nunca vistas, e uma corrida aos bancos que teria provavelmente destruído a moeda americana em poucas semanas. Esperemos pela chegada deste documentário, com o toque de Midas da HBO, chegue em breve a Portugal.



ÚLTIMA ACTUALIZAÇÃO: 29.05.2011 16:57

sexta-feira, maio 27, 2011

Ao virar da esquina

O pacifismo da Geração à Rasca e do Movimento 15M pode mudar num ápice para algo mais criativo e revolucionário!



O mundo ocidental está cada vez mais endividado. Na realidade tem uma dupla dívida: aquela que contraiu consigo mesmo, nos últimos quarenta anos, substituindo progressivamente o trabalho criativo e a produção dos bens essenciais pelo consumo conspícuo, pelo hedonismo pueril, pelo egoísmo atroz, pelo esvaziamento da sensibilidade, e por uma crescente tendência para o suicídio demográfico; e aquela enorme dívida, de mais de dez gerações de europeus, ao resto do mundo, que colonizaram, parcialmente destruíram e de onde hoje os últimos herdeiros (nós!) começam, finalmente, a ouvir a voz, o clamor e a resposta. Não é só Portugal que está enredado no buraco da sua inconsciência colectiva, mas também a Espanha, a Grécia, a Itália, a Bélgica, o Reino Unido, os Estados Unidos e o Canadá, e em breve a França e a Alemanha. Pois nem a China, nem a China e todas as ditaduras do petróleo juntas poderão, mesmo que quisessem, por precisarem muito, salvar-nos do buraco infinito da nossa dívida entranhada e acumulada ao longo dos últimos seiscentos anos. Vamos empobrecer. Vamos sofrer. Mas saberemos aceitar com dignidade este destino inexorável?

Quem está no poder na Europa perde as eleições, independentemente do quadrante partidário. Foi assim na Grécia, na Irlanda, em Espanha, na Alemanha, e será assim em Portugal no próximo dia 5. O populismo rotativista, interesseiro, sem ideologia, demagogo, mediático, domina a Europa há pelo menos duas décadas. Resta saber se vai continuar a ser assim, tão pacífico e envernizado, quando cresce por todo o continente o número daqueles que não suportam mais os resultados desta hipocrisia aparentemente eterna e desta mentira diária. Um novo populismo, inorgânico, por enquanto sem líder, já despontou no horizonte do desespero colectivo.

As manifestações instantâneas que responderam ao apelo lançado pela Geração à Rasca, os acampamentos urbanos que como um enxame frenético responderam, também através das redes sociais, ao apelo do Movimento 15M, são a face pacífica de uma rejeição monumental dos actuais regimes democráticos, ou, para ser mais preciso, das suas práticas desastrosas e contaminadas por uma verdadeira pandemia de incompetência e corrupção. Passado o ciclo eleitoral, que terminará em 2013, ou mesmo em 2012, na Alemanha, veremos onde irá parar na Europa o pacifismo e a indecisão destes fluxos de inquietação e agitação sociais — pós-democráticas, se os tomarmos na perspectiva dos formatos institucionais da política; pós-contemporâneos, se os analisarmos numa perspectiva cultural mais ampla.

Há um ponto de ruptura que podemos antever com alguma precisão no pacifismo algo patético dos acampamentos de jovens e desempregados que crescem na Ibéria. Esse ponto verificar-se-à na intersecção entre um limiar de desemprego estrutural na ordem dos 15-25%, a estagnação económica, a inevitável e objectiva desvalorização fiscal, e o colapso dos sistemas de segurança social na sequência da praticamente inevitável reestruturação das dívidas soberanas actualmente alinhadas por essa Europa fora. Sem casa, as pessoas vão para a rua. Sem pão, nem leite, as pessoas revoltam-se. A violência anda por aí, contida, segregada no espaço concentracionário das subclasses sem identidade nem horizonte. Mas se a revolta colectiva explodir num voo orientado de vontades, então a violência desesperada dos egos ofendidos e humilhados dessa multitude crescentemente avisada terá encontrado um caminho de libertação psicológica e sobretudo cultural. O que será, ninguém sabe. Mas que será algo, será. Todos começámos já a pressenti-lo.

“subcomandante insurgente Marcos”, do Ejército Zapatista de Liberación Nacional
Esta manhã, quando percorria a avenida Jorge V a caminho da praia, indagava: de onde raio vieram estes novos enxames sociais carregados de energia, para já contida? Serão um mero reflexo educado do grande levantamento cultural que varre a margem sul do Mediterrâneo? E se assim for, tendo em conta o envelhecimento da Europa, conseguirão estes enxames forçar efectivamente alterações profundas nas execráveis partidocracias que temos? Que futuro se pode esperar? Que futuro podemos desejar?

Lembrei-me então do Exército Zapatista de Libertação Nacional, um movimento extraordinário de autodefesa dos índios mexicanos de Chiapas, que em 2005 decidiu renunciar à luta armada, mas que se tornou conhecido mundialmente pelos seus famosos acampamentos, nomeadamente electrónicos, e pelo seu lendário “subcomandante insurgente Marcos” — um filósofo, um esteta e um guerrilheiro que, à falta de melhor, chamaria pós-dadaísta. As semelhanças iniciáticas, sobretudo do M15M, com o mundo onírico-revolucionário dos novos Zapatistas, parecem-me óbvias.

As soluções eleitorais que teremos ou não teremos pela frente serão, não tenhamos ilusões, estádios de uma grande crise em desenvolvimento. A violência privada dos adolescentes do asfalto, e o pacifismo patético da Geração à Rasca são, também, momentos efémeros de um processo cultural que em breve sofrerá alterações bruscas, imprevisíveis e radicais. Uma recomendação aos inquietos: leiam e ouçam a prosódia humanista do “subcomandante insurgente Marcos”. É preciso reinventar e treinar uma nova narrativa sobre a metamorfose.


ÚLTIMA HORA: Barcelona: 120 feridos após confrontos entre “indignados” e polícia na Praça Catalunha. Público, 27-05-2011 15:45 



Comentário: as polícias europeias têm que aprender rapidamente novas tácticas de confronto urbano com manifestantes desarmados. O que este vídeo mostra é uma triste sobrevivência de comportamentos policiais próprios de ditaduras imbecis. O gozo sádico das bastonadas policiais tem que ser substituído por regras de contacto físico próprias de democracias adultas.

ÚLTIMA ACTUALIZAÇÃO: 27.05.2011 20:05

quarta-feira, maio 25, 2011

O devaneio de Lars von Trier

A arte também escreve direito por linhas tortas


Lars von Trier e Hitler por afpportugues

O devaneio de Lars von Trier foi bem mais oportuno do que a superficialidade patética dos organizadores de Cannes conseguiram entender. Temo bem que a próxima onda anti-judaica comece nos EUA, causada por dois fenómenos interligados:
  • o poder asfixiante e ruinoso para os EUA da mais poderosa organização sionista do mundo — a AIPAC—, sustentáculo crucial do cada vez mais ilegal e criminoso estado de Israel;
  • e o facto dos principais bancos de investimento especulativo e agências de notação financeira envolvidos no descalabro financeiro mundial estarem nas mãos, outra vez, de famílias judaicas que não aprenderam nada com a História!
Não sei bem o que se passa. Mas passa-se alguma coisa e é preocupante.

O caso Strauss-Kahn, um socialista judeu, meio Sefardita, meio Ashkenazi, que por acaso anunciara em fevereiro passado a necessidade de substituir a moeda americana por uma moeda mundial, sugere uma divisão no seio das elites financeiras judaicas mundiais cujos contornos são ainda confusos.

A decisão de Obama de exigir a Israel que regresse às suas fronteiras originais, isto é de 1948, seguida da viagem a uma das suas origens, a irlandesa, e por via desta, ao Reino Unido, sabendo-se que estes três países estão no mesmo estado de falência, crise social e cerco agiota que nós, deixa-me a cogitar.

Os episódios sintomáticos de uma nova crise anti-sionista, mas que poderá transformar-se, como sempre aconteceu ao longo da história humana dos últimos dois milénios e meio, numa nova vaga anti-judaica, sucedem-se. E a causa é, no fundo, a de sempre: povos e nações endividaram-se para além do razoável, socorrendo-se para tal dos famosos money changers. Estes não resistiram à miragem do lucro infinito, ajudando para tal os seus clientes, pobres, remediados, ricos e soberanos, a viverem muito para além das suas possibilidades, numa bolha de liquidez virtual. Acontece, porém, que as balanças desequilibradas terão um dia que regressar ao ponto inicial, de uma forma ou doutra. E aqui, para mal dos inocentes, começam os problemas!



Lembro apenas mais um caso relativamente recente, que passou incógnito entre nós, mas que é sumamente revelador. Refiro-me à demissão forçada de Helen Thomas, a mais prestigiada correspondente da Casa Branca, depois de uma conversa casual com um jovem jornalista e músico da RabbiLive.com —
Thomas retired following negative reaction to comments she had made about Israel, Jews, and Palestine during a brief interview with Rabbi David Nesenoff of RabbiLive.com.[1][41][42][43][44][45] Nesenoff was on the White House grounds for an American Jewish Heritage Celebration Day, and he questioned Thomas as she was leaving the White House via the North Lawn driveway:

    Nesenoff: Any comments on Israel? We're asking everybody today, any comments on Israel?

    Thomas: Tell them to get the hell out of Palestine.

    Nesenoff: Ooh. Any better comments on Israel?

    Thomas: Hahaha. Remember, these people are occupied and it's their land. It's not German, it's not Poland...

    Nesenoff: So where should they go, what should they do?

    Thomas: They can go home.

    Nesenoff: Where's the home?

    Thomas: Poland, Germany...

    Nesenoff: So you're saying the Jews go back to Poland and Germany?

    Thomas: And America and everywhere else. Why push people out of there who have lived there for centuries? See?

    Nesenoff: Are you familiar with the history of that region?

    Thomas: Very much. I'm of Arab background.

    Nesenoff: I see. Do you speak Arabic?

    Thomas: Very little. We were too busy Americanizing our parents... All the best to you.
   
    —May 27, 2010, RabbiLive.com

domingo, maio 22, 2011

Mar e ferrovia

Maldito "TGV": líder do PSD acerta finalmente o passo.
Os contentores não sabem voar!

Porto de Sines, Terminal XXI. Foto©: msc-irene-jose-antonio-modesto
O líder do PSD tem uma tendência para dar tiros no pé em temas irrelevantes, que vão desde a antecipação de temas polémicos para uma próxima revisão constitucional, quando é sabido que esta não pode ocorrer sem um largo consenso (maioria de 2/3 ou 4/5) negociado entre os partidos com assento parlamentar, até à redução do número de feriados, ontem avançada por Passos Coelho, sem o menor sentido de oportunidade eleitoral. Esperemos que deixe de asnear até ao fim da campanha, e se concentre na denúncia das responsabilidades de Sócrates na bancarrota do país e na degradação alarmante das condições sociais e de trabalho dos portugueses. Passos Coelho venceu claramente o líder despótico do PS no debate televisivo da passada sexta-feira. Mas tem que saber manter e alargar esta vantagem durante a campanha de caça ao voto oficialmente aberta este fim-de-semana, não dando mais tiros no pé, e concentrando-se na repetição do que é essencial para sairmos do atoleiro para onde nos levou a turma de piratas que tomou de assalto o PS:

O essencial são sete (1) ideias básicas, que todos compreendem:
  1. assumir as nossas dívidas colectivamente, sem deixar de apurar as responsabilidades de quem nos trouxe até este ponto, e pagar o que devemos disputando cêntimo a cêntimo a propensão agiota dos nossos credores (o PSD deve contar com todos os partidos neste debate, incluindo Louçã e o PCP);
  2. renegociar as 120 parcerias público privadas (PPP), em nome da austeridade e da democracia (expondo nomeadamente o escandaloso comportamento dos grandes escritórios de advogados portugueses na inconcebível captura do interesse público pela ganância de uma burguesia inculta, indolente, rentista e corrupta);
  3. descolonizar o Estado de uma ponta a outra, tornando-o mais leve, mais eficiente, mais justo, mais transparente, melhor escrutinado e muito mais independente (levando a cabo, neste particular, uma verdadeira descentralização administrativa do país, a qual deverá começar pela criação das duas cidades-região autónomas de Lisboa e Porto, e uma reforma equilibrada do restante mapa autárquico);
  4. aliviar o nosso sistema fiscal e burocrático, adequando-o à necessidade absoluta de estimular a actividade económica privada, ou seja, à criação de empresas e emprego capazes de gerarem riqueza: bens transaccionáveis e exportações (o crescimento pela via do consumo morreu no poço de dívidas onde colectivamente caímos!)
  5. definir uma plataforma de convergência democrática com os demais partidos com assento parlamentar, e com toda a sociedade civil, tendo por objectivo estabelecer uma nova visão do país: estratégica, ambiciosa, clara, justa, responsável, partilhada e calendarizada;
  6. olhar para o nosso país como uma das principais portas de entrada na Europa, maximizando para tal a nossa rede de portos, estabelecendo as necessárias e urgentes adaptações da rede ferroviária existente e prevista aos novos conceitos de interoperabilidade ferroviária europeia, e refazendo o nosso tecido industrial e de serviços em conformidade com esta prioridade.
  7. fazer deste pequeno país uma verdadeira potência diplomática mundial, e dos nossos diplomatas uma imbatível task force de mediação e negociação diplomáticas, altamente especializada nos grandes diálogos globais já em curso, sobre a nova divisão do mundo entre os países da Ásia-Pacífico e os países da Euro-América, historicamente atlânticos, e sobre as zonas críticas do Índico-Golfo Pérsico, Médio Oriente, Mar Cáspio e Mediterrâneo oriental.
No entanto, para sustentar esta ordem de prioridades, dada a debilidade das nossas finanças públicas, a desorganização da nossa economia, a enorme pressão fiscal existente, o peso da burocracia e a corrupção partidária, vai ser preciso um golpe de asa!


E se abríssemos as portas à China em 2011, como a China abriu as portas a Portugal há 454 anos atrás?

Investidores chineses interessados no BPN
Jornal de Negócios (20 maio 2011)

Segundo apurou o jornal junto de duas fontes com conhecimento do processo, existem investidores chineses a estudar o pacote de privatizações inscrito no Memorando de Entendimento entre o Governo e a troika, tendo já mostrado interesse na TAP, EDP e BPN.

No caso do banco, a oficialização de uma oferta é muito provável. "Eles estão muito interessados no BPN e é praticamente certo que farão uma oferta", adianta uma das fontes.

“Também estão a olhar com atenção para a TAP, EDP e porto de Sines.” O Memorando da troika estabelece que o novo Governo terá de "acelerar o programa de privatizações", cuja receita está estimada em 5,5 mil milhões de euros.

A China já estabeleceu uma base de operações em Cabo Verde, para vigiar e apoiar a frota marítima que mantém activa no Atlântico sul. Tem vindo a dar apoio técnico, financeiro e de mão-de-obra à reconstrução da ligação ferroviária entre o Índico e a o Atlântico, ligando o porto angolano do Lobito aos portos de Dar es salaam, na Zâmbia, e de Nacala, ou da Beira, em Moçambique. Falta-lhe um ponto de apoio privilegiado no Atlântico norte. E falta-lhe sobretudo estabelecer uma porta de entrada, pela via marítima, na Europa, mais ampla e segura do que os mares infestados de piratas do Índico, o sempre problemático mar arábico e a garganta estreita e ameaçada do Mar Vermelho. Esta necessidade é urgente se tivermos presentes dois factos: por um lado, o alargamento do Canal do Panamá estará pronto em 2014; por outro, em matéria de abastecimento petrolífero e movimento comercial entre a Ásia e a Europa, a única válvula de escape a um bloqueio do Canal do Suez, ou a uma guerra de grandes proporções no Médio Oriente, chama-se Mar Atlântico, Golfo da Guiné (Angola, Nigéria e as duas Guinés, principalmente), Brasil, Venezuela, Portugal, Espanha.

Em Portugal, mas não no Reino Unido, nem na Holanda, a China, a Índia, o Japão, a Austrália e a Indonésia poderão encontrar os portos mais próximos e amigáveis para entrega das suas mercadoria à Europa — na condição, claro, de estabelecermos rapidamente as nossas ligações ferroviárias, em bitola UIC, a Espanha e ao resto do continente europeu. Serão três os principais portos de águas profundas a poderem desempenhar este crucial papel de válvulas de segurança do comércio mundial entre o Oriente e o Ocidente, em caso de colapso do Médio Oriente: Sines, Lisboa (sobretudo a Trafaria depois do fecho da golada), Setúbal e Cádis. Todos estes portos terão que estar em breve ligados por ferrovia em bitola europeia a França, Itália, Alemanha, Reino Unido, Polónia, etc. Estas ligações, sem rupturas de carga, servirão para o transporte de mercadorias (sobretudo durante a noite) e passageiros (sobretudo durante o dia).

A China desenha as suas estratégias a pensar na sua iminente supremacia económica e financeira mundial, cuja data foi recentemente adiantada de 2020 para 2016! Assegurar acessos amigáveis ao Atlântico, ao continente africano, ao Brasil e à Europa é uma prioridade estratégica que salta à vista. Daí a importância do Canal do Panamá alargado, que duplicará a capacidade de transporte assim que os super porta-contentores da chamada classe Post-Panamax entrem em acção. Daí o interesse manifestado pela China em Portugal e Espanha como a grande porta ocidental da Europa.


O adiamento inevitável do embuste da Ota em Alcochete



O principal agente da globalização chama-se TRANSPORTE MARÍTIMO + CONTENTORES, e o alargamento do Canal do Panamá, assim como a recuperação da via férrea entre Lobito e Nacala (ou Beira) pelos chineses, mostram à evidência o que já está em marcha e que nenhum Cavaco, nem nenhum político galdério do PSD, ou do PS, irá travar. Aliás, a eventual compra do BPN pela China poderá até salvar a face de quem a perderia se soubéssemos tudo o que passou neste banco de piratas!

A agenda escondida do ataque infundado, superficial e tecnicamente desastrado ao dito "TGV" é esta: uma vez construída a linha de bitola europeia entre o Pinhal Novo-Poceirão e Caia, o embuste da Ota em Alcochete cairá imediatamente, e a Portela terá mais uma ou duas décadas de vida antes de se voltar a discutir a necessidade de um novo aeroporto. E como quem manda a partir de agora no nosso país são os nossos credores (espanhóis, alemães, franceses e ingleses — por esta ordem) e um grande investidor soberano chamado China (que além de ser o principal comprador de dívida europeia, se anuncia como comprador dos cacos do BPN, da TAP, e ainda do que houver para privatizar na EDP e no Porto de Sines), a ferrovia em bitola europeia para mercadorias e passageiros (que já une Espanha à França, ao contrário do que a santa ignorância afirma) irá mesmo avançar.


Iberia anuncia ‘drásticos’ recortes laborales en Manises al caer su actividad un 45 % por el AVE.

La dirección de Iberia tiene previsto tomar "medidas drásticas" en el aeropuerto de Valencia tras caer la actividad de la compañía un 45 % en este recinto desde el mes de abril como consecuencia de la supresión de los vuelos a Madrid, que solamente opera ahora a través de su firma franquiciada Air Nostrum. La empresa de bandera cuenta con una plantilla de 200 trabajadores en Manises, donde se incluye el personal de los distintos servicios prestados a los pasajeros desde que aterrizan y despegan los aviones ("handling"), así como los técnicos de mantenimiento de las aeronaves.

Iberia eliminó las citadas rutas con la capital de España -Ryanair también ha dado ese paso desde el arranque de la temporada de verano (finales de marzo)- ante el desplome de pasajeros por la puesta en funcionamiento del tren de alta velocidad AVE entre ambas ciudades. LEVANTE (20 maio 2011).

A AENA, ao contrário da lucrativa ANA, tem neste momento mais de 13 mil milhões de euros de prejuízos. O erro de previsão, para não dizer o dinheiro fácil, a especulação e a corrupção deram nisto:

  • Madrid - investimento na expansão do Aeroporto de Barajas: 6 mil milhões de euros.
    Objectivo: aumentar a capacidade do aeroporto para 70 milhões de passageiros.
    Resultado: diminuiu de 52 milhões, em 2007, para 48 milhões em 2009
  • Barcelona - investimento: 5,1 mil milhões de euros.
    Objectivo: aumentar a capacidade do aeroporto dos 30 milhões para os 55 milhões de passageiros.
    Resultado: diminuiu de 33 milhões, em 2007, para 27 milhões em 2009.
  • Málaga - investimento: 1,8 mil milhões de Euros
    Objectivo: aumentar a capacidade de 12 para os 30 milhões de passageiros.
    Resultado: diminuiu de 13,5 milhões, em 2007, para os 11,6 milhões, em 2007.
Foi por coisas parecidas que a Grécia foi à falência, e não sabemos se a Espanha não irá também. Por cá, dado o atraso cultural dos nossos políticos e a falta de know how dos nossos bancos e empresários, andámos entretidos a derreter a poupança que tínhamos e que não tínhamos em desnecessárias autoestradas, criminosas barragens, ventoinhas que serão comidas pela ferrugem antes de se tornarem rentáveis, hospitais PPP a que poucos terão acesso uma vez falida a nossa querida Segurança Social, rotundas, piscinas e muitos, muitos estudos e encomendas aos gabinetes de consultores e escritórios de advogados.

Já no que se refere à ferrovia, que o Bloco Central se entreteve a destruir durante as décadas de 80 e 90, para justificar as estradas e as autoestradas que não sabemos como pagar, vamos mesmo ter que regressar a ela, pelo menos nas principais ligações transversais a Espanha: eixos Lisboa-Madrid,  Aveiro Salamanca e Porto~Vigo.

E vejam só: em vez de os nossos industriais, banqueiros, engenheiros, economistas, financeiros e rapaziada partidária exultarem com a perspectiva, andam a chorar pelos cantos por um NOVO AEROPORTO EM ALCOCHETE!

Já alguém contou quantos Airbus A380 demandam por rota regular o aeroporto de Barajas? E quantos Airbus A380 tem a Iberia? Para ambas as perguntas a resposta é ZERO! 

Os grandes aviões só servirão para conectar directamente, e não saltitando aeródromos secundários, cidades-regiões com mais de 10 milhões de habitantes e milhares de empresas de grande dimensão; ou seja, Portugal não participa neste campeonato.

Finalmente, olhem para onde olham os chineses quando estes olham para o nosso país:
  • Sines: um porto estratégico a ser ligado por ferrovia de bitola europeia a toda a Península Ibérica, e a Paris, Londres, Milão, Berlim, etc.
  • BPN: um banco falido que pode bem servir para estabelecer uma base financeira na península;
  • TAP: outra empresa falida, mas com boas ligações aéreas entre a Europa e o Brasil, que poderá ser melhor aproveitada se não depender do governo de turno e definir uma estratégia clara e racional. Aposto que os chineses, se acabarem por comprar a empresa, irão subdividi-la em TAP Europa (Low Cost), TAP Atlântico e TAP Ásia, transformando-a numa extensão da sua rede de aviões e aeroportos amigos. Como é óbvio, a Portela chega-lhes bem, porque é rentável, ao contrário do embuste da Ota em Alcochete. Ou seja, o que os nossos economistas, engenheiros e comentadores julgam ou deixam de julgar tem cada menos impacto nas decisões.
Esta não é uma recessão qualquer. E os 13 mil milhões do buraco orçamental da AENA (a ANA espanhola) vão ter que ser pagos por alguém. Para já os espanhóis ocupam mais de 60 praças em outras tantas 60 cidades.... Ou seja, o Cairo aqui tão perto!

POST SCRIPTUM — um leitor amigo chamou-me a atenção para o facto de não ter referido o turismo. Tem razão: o turismo continua a ser fundamental na economia portuguesa, e há todavia muito para melhorar nesta actividade. Apesar de tudo, é um dos poucos que progride e aumentou significativamente, a partir do momento em que as companhias aéreas Low Cost começaram a operar em força nas cidades de Faro, Lisboa, Porto e Funchal. Temo, no entanto, que a profundidade da crise das dívidas soberanas no Ocidente, a par da crise energética, venham a reduzir em breve as expectativas de crescimento do turismo mundial, e sobretudo europeu. As taxas médias de crescimento do turismo mundial baixaram dos famosos 8%, em 2005, para os 4% a 5% previstos para este ano, ou seja, sensivelmente metade. Não depende de nós inverter esta situação. Daí não lhe ter dado a prioridade estratégica que dei a outras matérias.

Última actualização: 24.05.2011 11:59

sexta-feira, maio 20, 2011

Fukushima: a grande mentira nuclear

Central nuclear finlandesa em construção. Um desastre semelhante ao de Fukushima será um desatre imediato para a Finlândia, Suécia, Noruega, Dinamarca, Rússia, Alemanha, Polónia, Estónia, Letónia e Lituânia.
Os demónios atómicos da energia nuclear pacífica saíram da garrafa de mentiras em que a ciência comprada se transformou  
Reactor totalmente fundido desde primeiro dia do desastre
 DN, 20 maio 2011

Milhares de documentos tornados públicos pela empresa que gere a central nuclear de Fukushima mostram que alguns dos factos conhecidos desde o início do desastre eram mentira. As instalações ficaram fortemente danificadas logo após o sismo de Março e o reactor número um está totalmente fundido desde o primeiro dia. Os reactores dois e três estarão em situação idêntica.

Fukushima: a imprensa portuguesa acorda finalmente para as notícias alarmantes que começaram a sair a 16 de maio. Mais vale tarde...

Os reactores EPR (que franceses e alemães querem impingir ao resto do mundo), e as centrais nucleares em geral, vão seguramente passar por um escrutínio público sem precedentes depois da tragédia em curso, cuja extensão e cuja gravidade têm vindo a ser escondidas do grande público.

Tal como em Fukushima, se um dia houver um grande terramoto na Finlândia, que cause o mesmo tipo de estrago (fundição dos reactores atómicos) que o terramoto do Japão causou à central nuclear supostamente preparada para todas as eventualidades, a central de Olkiluoto, em construção, derramará também, por imposição política dos países alvo das nuvens de partículas radioactivas, a inundação dos compartimentos onde se encontram os reactores, e a expulsão da água radioactiva para o mar. A própria Alemanha, e a Rússia, perante dilema tão terrível, poderão ter que deixar contaminar todo o Báltico, em vez de permitir que a nuvem radioactiva invade ambos os países! A alternativa a este dilema será, à menor percepção de um desastre de semelhantes proporções, cobrir imediatamente as instalações nucleares com cimento — à semelhança do que tem vindo ser feito em Chernobyl.

Hillary Clinton exigiu (tanto quanto se consegue perceber agora da sequência dos eventos conhecidos) às autoridades japonesas o desvio da radioactividade para o mar. Estas não tiveram outra alternativa senão envenenar as suas próprias águas territoriais! Mesmo assim, EUA e Canadá não evitaram a invasão dos respectivos territórios por nuvens radioactivas muito preocupantes.

Isto é o mais parecido que pode haver com uma guerra nuclear involuntária. O debate sobre o uso pacífico da energia atómica vai ganhar uma dimensão inteiramente nova a partir de Fukushima.


ACTUALIZAÇÃO (30.05.2011 8:51)

Como previmos, Fukushima foi mesmo um tiro no porta-aviões nuclear

Atendendo a que tanto a indústria petrolífera, como a nuclear, foram, são e serão (a última, na fase de desmantelamento das centrais e armazenamento do lixo nuclear) pesadamente subsidiadas pelos governos, parte deste dinheiro público irá agora para as renováveis: biocombustíveis em África, Ásia e América do Sul; eólicas e solar na Europa e África (sobretudo no Mediterrâneo). Big time para a I&D no sector energético!

Germany will shut all its nuclear reactors by 2022, parties in Chancellor Angela Merkel's coalition government agreed today (30 May), in a reaction to Japan's Fukushima disaster that marks a drastic policy reversal.

As expected, the coalition wants to keep the eight oldest of Germany's 17 nuclear reactors permanently shut. Seven were closed temporarily in March, just after the earthquake and tsunami hit Fukushima. One has been off the grid for years.

Another six will be taken offline by 2021, Environment Minister Norbert Roettgen said early on Monday after late-night talks in the chancellor's office between leaders of the centre-right coalition.

The remaining three reactors, Germany's newest, will stay open for another year until 2022 as a safety buffer to ensure no disruption to power supply, he said. — EurActiv (30 May 2011)

quinta-feira, maio 19, 2011

Fukushima: cada vez mais perigoso

Fukushima: reactor, unidade 3 (à direita) e unidade 4 (à esquerda) a 16 de março de 2011.

Desastre nuclear de Fukushima agrava-se rapidamente
  • A publicação de mapas meteorológicos norueguesas foi suspensa depois de verificada a extensão alarmante das nuvens radioactivas sobre os Estados Unidos e Canadá!
  • Em menores concentrações, atingiram já a costa portuguesa!!
  • Onde está a imprensa portuguesa!!!
  • Façam o favor de perguntar...

CINCO FACTOS:
  1. enquanto os europeus andavam entretidos com a Líbia, e Portugal com Sócrates e o FMI, Hillary Clinton fez uma visita de emergência ao Japão, sob o pretexto da solidariedade, depois de conhecido o impacto do terramoto na central de Fukushima (não foi o maremoto, mas o terramoto, que destruiu os reactores);
  2. desta visita, presume-se agora, resultou a instrução de inundar de água os reactores por forma a evacuar a radioactividade para o mar do Japão, que por acaso também é o Mar da China;
  3. os japoneses terão cumprido a exigência por um motivo simples: a alternativa a este desvio da radioactividade para o mar seria uma invasão ou ameaça de invasão nuclear dos Estados Unidos com nuvens de radioactividade, o que aliás aconteceu — ou seja, uma ameaça à segurança americana;
  4. entretanto, o NILU (Noruega) deixou de publicar, desde 12 de maio, os mapas metereológicos que acompanhavam a deslocação das partículas radioactivas provenientes de Fukushima, ao tornarem-se evidentes as grandes nuvens de radioactividade sobre os Estados Unidos e Canadá.
  5. a situação continua fora de controle, como revelam os últimos acontecimentos, de que a imprensa portuguesa só dará conta tarde e a más horas!




ÚLTIMAS NOTÍCIAS SOBRE O DESASTRE NUCLEAR EM CURSO

TEPCO says it’s “difficult” to start injecting nitrogen needed to prevent blast at Reactor No. 3
May 19th, 2011 at 12:56 AM (ENENEWS)

Radiation level at No.3 reactor water intake rises

The operator of the damaged nuclear power plant in Fukushima has reported a sharp rise in the concentration of a radioactive material in samples of seawater near the Number 3 reactor.

Tokyo Electric Power Company says it detected 110 becquerels of radioactive cesium-134 per cubic centimeters in seawater samples taken on Wednesday morning.

The level is 1,800 times the national legal limit, compared to 550 times, which was reported the previous day.

The utility also found 120 becquerels of cesium-137, 1,300 times higher than the limit.

Last Wednesday at the same location near the water intake of the Number 3 reactor, water contaminated with highly radioactive substances was found flowing into the sea from a pit. TEPCO says it detected cesium-134 at 32,000 times the legal limit.

In its latest announcement, TEPCO said the concentration of radioactive iodine in seawater samples from the same location fell from 1,900 times the limit on Monday to 630 times on Tuesday.

The utility also said it detected radioactive materials at levels higher than the national limit at 2 of the 4 survey points along the shoreline near the plant.

It says cesium-134 with a concentration level 1.8 times the limit was found at a point 330 meters south of the water drainage gates of the Number 1 to 4 reactors.

Thursday, May 19, 2011 02:57 +0900 (JST)

NILU ends public forecasts as map shows large radiation clouds now over US, Canada (VIDEOS)
May 12th, 2011 at 12:54 PM (ENENEWS)

quarta-feira, maio 18, 2011

Geração à Rasca alastra a Espanha

Um nova revolução mundial a caminho?
Cidadania activa espanhola exige uma democracia real, contra o bipartidismo e a corrupção. ¡Democracia Real Ya!



As democracias europeias são hoje democracias degeneradas. Por um lado, são populistas (à esquerda e à direita); por outro, são corporativas e plutocráticas; e para culminar tamanho entorse, estão infectadas por uma verdadeira pandemia de corrupção. Os resultados estão à vista: empobrecimento, crescimento das desigualdades, insustentabilidade social, e uma grande inércia intelectual. É que os intelectuais crescidos ao longo dos últimos trinta anos estão, na sua maioria, enfiados nos bolsos da plutocracia, ou aninhados no conforto burocrático de um imenso Estado, e sob a protecção de uma verdadeira biopolítica partidocrática.

Os sinais da crise social não poderiam ser mais óbvios. Por enquanto, são pacíficos. Mas a violência pode surgir de um momento para o outro, e alastrar. Diz-nos a história dos movimentos sociais que a provocação vem quase sempre dos nervosos aparelhos policiais quando, como agora, estão à beira de perder o comando político.

Está na hora de criar uma República Electrónica Europeia. A sua missão é simples de definir: substituir as actuais democracias degeneradas, burocráticas e partidocráticas, por democracias reais. Deve ser um processo inteligente, pacífico, em rede, e massivo. Não temos muito tempo para evitar o pior.

Síndroma da China

A central nuclear de Fukushima está fora de controle.
3000 pessoas evacuadas



2011 preparava-se para ser o ano de partida para uma nova vaga de centrais nucleares, depois de uma batalha vencida pela liberalização deste negócio. Mas a central japonesa que actualmente derrete, explode e contaminará durante séculos (ou milénios) toda uma região cujo perímetro de radioactividade letal se alarga dia a dia, veio alterar radicalmente estas expectativas. O reactor nº 1 da central de Fukushima começou a derreter, sabe-se agora, não por causa do tsunami, mas tão só por causa da violência dos sismos que abalaram a principal ilha japonesa no passado dia 11 de março. Se pensarmos no número de centrais existentes no Japão, na Europa, na Rússia, na Índia, na China e nos Estados Unidos, e nas probabilidades de grandes terramotos causarem tragédias desta magnitude, percebe-se com facilidade que o renascimento do optimismo nuclear acaba de sofrer um duro golpe.

A central nuclear de Fukushima é privada, e também por esta circunstância se porá em causa, por causa desta tragédia que ainda não acabou nem tem fim à vista, o entusiasmo de muitos cientistas, especialistas e especuladores por uma nova geração de centrais nucleares mais produtivas, mas cuja segurança ninguém parece poder garantir.

O Japão já estava à beira do colapso financeiro antes da tragédia sísmica e nuclear, nomeadamente por causa da sua astronómica dívida pública. Agora, o inevitável colapso da sua economia em consequência do desastre nuclear que recomeçou, somado às graves crises financeiras americana e britânica, elevarão a crise sistémica que abala a economia mundial desde 2008 para um patamar potencialmente catastrófico.

Recomendações (sobretudo depois de saber que o BES, o BCP e a Caixa estão de cofres vazios): guarde o ouro e as pratas que tiver em sua casa, e compre mais se puder. Use os cartões de débito, e de preferência de crédito, e guarde liquidez (notas de euro) em casa, para dois meses pelo menos. Se tem quintas ou quintinhas, não se desfaça delas — visite-as e pense no seu potencial alimentar. Não compre mais carros, nem casas! Desfaça-se das acções quanto antes, sobretudo de bancos, empresas de construção, cimentos e telecomunicações. O que aí vem não é bom!

China Syndrome “might just have happened at Fukushima” — Molten fuel may have “melted through everything into the earth”.
May 16th, 2011 at 04:22 PM. TIME.com

Nearly 3,000 evacuees rushed to hospital by ambulance — From shelters in Fukushima, Iwate and Miyagi.
May 17th, 2011 at 03:22 AM. JAPAN TODAY

“There have been nuclear explosions” — “Ongoing nuclear reaction taking place now”.
May 17th, 2011 at 04:53 PM. ENENEWS

... the “nuclear power policy makers”, historical pillars of the development of this energy from the 1950s, just like their fierce rivals the environmentalists who emerged in the 1970s, will quickly see that their monopoly of the debate on this subject is coming to end. Fukushima, the Internet and the crisis are in the course of shattering the nuclear debate’s traditional expertise, limited to mode "pro" or "anti". The implications of such an upheaval for the various industry players and policy makers faced with choices for national energy are on an unprecedented scale since they involve a whole segment of global energy production. — Confidential letter - GlobalEurope Anticipation Bulletin Nr 55 - May 16, 2011.

Tokyo Electric Power Company shares dropped over 9 percent on the Tokyo Stock Exchange on Tuesday after its credit rating was cut by US rating firm Moody's.
May 17, 2011 17:29 +0900 (JST). ENENEWS.

TEPCO shares ended the day at 380 yen, or about 4.7 dollars, falling below 400 yen at closing for the first time in 40 days. Stock prices for other utilities also plunged.

Moody's Investors Service said it downgraded TEPCO's rating by 2 notches because it's unclear how the Japanese government will help the utility pay huge amounts of compensation to people affected by the Fukushima nuclear plant accident.

Market sources say a growing number of investors are concerned about the future of Japan's nuclear power industry.

Tepco Misleading Public Over Nuclear Crisis. By Tsuyoshi Inajima and Yuji Okada - May 18, 2011 6:41 AM GMT+0100 (Bloomberg)

Interview with Akira Tokuhiro, Nuclear Engineer: Fukushima and the Mass Media
Posted: 05/17/11 05:28 PM ET. The Huffington Post.

The most terrifying fact is that the Japanese power plants are using ‘dirty’ fuel, which most countries have rejected and banned. Needless to say that the Americans built them. Since the Earth is moving Counterclockwise most of the fall-out will drop on U.S., unless very strong winds take it somewhere else. [...]

Virtually any nuclear engineer connected with the industry he or she supports cannot be fully trusted right now to give us the full truth about Fukushima because the truth is simply too damaging to the nuclear industry and they know it. The attitude the industry has as well as the ugly reality that this same energy is tied to the economy which supports full on capitalism must be scaled back Tokuhiro advised. He tells me it is difficult to speak of this in the U.S., but adds that we need to go back to a time when shops were closed on Sundays and we spent time with our families, not using up more energy but actually staying home. I added that we still do this on Sunday and it is often very difficult to find shops open here in France on Sunday except for the local outdoor markets.

Última actualização: 19 maio 2011 00:15

terça-feira, maio 17, 2011

FMI-BCE: dois porta-aviões ao fundo!

Strauss-Kahn substituído pelo cérebro do FMI que trabalhou com Pinochet
Judeu, financeiro, socialista, arrogante e predador sexual, anunciou, como chefe do FMI, que queria substituir o dólar por uma moeda mundial. O resultado está à vista. DSK era, afinal, um alvo fácil de abater.

Tristane Banon, escritora e jornalista foi também uma das vítimas de DSK

Dinheiro, poder e sexo selvagem sempre andaram juntos ao longo da história. Os predadores sexuais abundam nas classes e corporações poderosas: dos campos, fábricas e prisões, às casas reais, aos recém-chegados ao festim —os governos democraticamente eleitos—, às corporações de juízes e médicos, e às igrejas e ordens religiosas.

Mas não abundam só nestas esferas quase intocáveis do poder. Também nos círculos mais pequenos da vila provinciana, da aldeia, e das famílias, é fértil o terreno dos interditos e da caça sexual. O historial é interminável e foi bem tratado por autores tão eloquentes quanto Sade e Foucault. No fundo, à espreita de um corpo física ou economicamente frágil há sempre um bando invisível de faunos e vampiros sedentos, prontos a atacar. No fundo, à espreita de uma alma frágil, há sempre um predador espiritual com o texto da sedução mais apropriado ao desencadear da captura erótica e, finalmente, da submissão carnal, cuja necessidade de ocultação induz não raras vezes o crime.

Nas sociedades ocidentais modernas, abastadas e educadas, a lei e os costumes evoluíram felizmente em direcção à protecção da integridade da pessoa e da vontade humana face ao desejo alheio e às acções não-consentidas que este possa desencadear. Nenhuma violência, nem ludibrio, são consentidos, por configurarem uma violência física ou psicológica inaceitável. A crescente participação das mulheres na sociedade veio equilibrar decisivamente a balança para o lado dos mais fracos e fracas, penalizando cada vez mais fortemente a violência sexual e a violência familiar contra crianças e mulheres. Pelo que se vai sabendo de Dominique Strauss-Kahn, a justiça só peca por tardia.



E no entanto, a prisão do ainda director-executivo do FMI parece servir como uma luva aos interesses imediatos dos Estados Unidos e da Inglaterra, dois países à beira de um novo colapso financeiro. 

Há uma guerra financeira em curso movida pelo dólar-libra contra o resto do mundo, tendo a Eurolândia como principal teatro de operações. Começaram por atacar a Irlanda, a Grécia e Portugal, e agora querem apressar a ofensiva, indo directamente ao coração do sistema financeiro que ultimamente tem escapado às garras de Wall Street: o FMI e o BCE. Curiosamente, acabam de colocar esta semana no comando interino do FMI o homem que dirigiu o programa de resgate do Chile na era Pinochet. E conseguiram na semana passada assegurar, na próxima presidência do BCE, um sucessor de Jean-Claude Trichet 100% sintonizado com os money-changers desesperados de Wall Street e da City: Mario Draghi, ex-vicepresidente e director executivo da Goldman Sachs. Há só um problema: nem Washington, nem Londres, têm fôlego financeiro suficiente para impedir o maremoto das economias emergentes!

É possível que a DSK tenha sido apanhado por uma armadilha sabiamente montada pelos serviços secretos americanos. Mas para as duas problemáticas aqui abordadas, é indiferente. Se a criatura é, como transparece de vários relatos, um predador sexual, deve ser detido e castrado quimicamente, independentemente dos custos estratégicos que isso possa ter. Se havia suspeitas sobre a sua conduta, não deveria ter chegado onde chegou. Se não é culpado do que é acusado, deve ser absolvido.

Temos que separar os tabuleiros de análise, para não confundir tudo. Mas uma coisa é certa, as mudanças no FMI e no BCE vão aumentar a turbulência financeira mundial, sobretudo se os chineses e brasileiros decidirem que chegou o momento de exigir o peso que lhes é devido na instituição.

Última questão: onde ficam os portugueses no meio desta guerra financeira?

REFERÊNCIAS
Strauss-Kahn Case Bolsters Push for Change in IMF Selection (Bloomberg)

The arrest of International Monetary Fund Managing Director Dominique Strauss-Kahn may bolster a drive by Brazil and other emerging markets for a greater voice in the selection of the IMF and World Bank chiefs. [...]

The IMF’s No. 2 official, John Lipsky, last week said he would leave when his term expires Aug. 31. Lipsky is acting managing director during Strauss-Kahn’s absence from Washington. [...]

Emerging markets have also seen their clout grow under Strauss-Kahn. Last year, IMF nations agreed to rule changes that will give China the third-largest percentage of votes. In 2010, the U.S., as the largest contributor to the IMF’s resources, had 16.7 percent of the votes, followed by Japan and Germany with about 6 percent each.

Yi Gang, deputy governor of the People’s Bank of China, last month urged the fund to “continue to make substantive progress in reforming other parts of its governance, including the merit-based selection of the management.” [...]

Germany prefers having a European as head of the IMF if Strauss-Kahn quits, Chancellor Angela Merkel said today. There are “good reasons” for Europe to keep the post amid the euro area’s debt crisis, even as the role of developing nations grows, Merkel told reporters in Berlin.

[but...] Another possible candidate to replace Strauss-Kahn is Zhu Min, 59, a special adviser to the IMF and a former deputy governor at China’s central bank, said Shen Jianguang, a former IMF economist now at Mizuho Securities Asia Ltd. in Hong Kong.


John Lipsky (bios/ IMF)

Before coming to the Fund, Mr. Lipsky was Vice Chairman of the JPMorgan Investment Bank. [...]

Previously, Mr. Lipsky served as JPMorgan's Chief Economist, and as Chase Manhattan Bank's Chief Economist and Director of Research. He served as Chief Economist of Salomon Brothers, Inc. from 1992 until 1997. From 1989 to 1992, Mr. Lipsky was based in London, where he directed Salomon Brothers' European Economic and Market Analysis Group [...]

He also participated in negotiations with several member countries and served as the Fund's Resident Representative in Chile during 1978-80.

International Monetary Fund director Dominique Strauss-Kahn calls for new world currency (Telegraph)

Dominique Strauss-Kahn, managing director of the International Monetary Fund, has called for a new world currency that would challenge the dominance of the dollar and protect against future financial instability.

DSK ou l’archétype du “Sexus politicus” (Courrier International)

Le récit le plus détaillé est celui de Tristane Banon, une journaliste et romancière qui a rencontré DSK il y a plusieurs années pour une interview. Le lieu du rendez-vous était insolite : une garçonnière proche de l’Assemblée nationale, avec pour tout mobilier un grand lit et une télévision. “La partie interview a duré cinq minutes et demie”, précise Tristane Banon ; le temps que l’ancien ministre de l’Economie pose sa main sur elle et lui propose de transformer l’entretien en ce que la terminologie du FMI appellerait une physical affair. “J’ai déjà croisé des dragueurs un peu lourds, dit-elle. Mais là, c’était effrayant. Il n’était plus lui-même.”

IMF forgives its Director's Amourous Affairs (Mediavigil)

International Monetary Fund said Saturday that it would stand by its managing director, Dominique Strauss-Kahn, despite concluding that he had shown poor judgment in a sexual affair with a subordinate.

After receiving a report from an outside law firm, the executive board of the fund said there was no evidence Strauss-Kahn had abused his power or shown favoritism in his brief relationship with a senior official at the fund, who later resigned to take a job in London.

Still, the longest-serving member of the board, A. Shakour Shaalan, described the affair as a "serious error of judgment" on the part of Strauss-Kahn, 59, a former French finance minister who took charge a year ago and is now steering the fund through the most serious global financial crisis in decades.

In a statement, Strauss-Kahn said, "I am grateful that the board has confirmed that there was no abuse of authority on my part, but I accept that this incident represents a serious error of judgment."

segunda-feira, maio 16, 2011

Os fariseus desta democracia

Rembrandt, pormenor da pintura sobre a expulsão dos cambistas do templo
“A minha casa será chamada casa de oração, mas vós a tendes convertido em covil de ladrões”

O capitalismo de Estado lusitano chegou ao fim

Se repararmos bem, a democracia portuguesa é a coisa mais parecida que há com o templo de onde Jesus, um dia, expulsou a corja de fariseus e de cambistas (especuladores) que o tinham transformado numa praça financeira, numa repartição de tráfico de influências e numa casa de putas.

O povo, ou pelo menos uma parte maioritária do mesmo, acreditava então e continua a acreditar hoje que os templos e as casas da democracia são lugares de fé, e não corredores e gabinetes sob protecção policial onde operam sem freio, sorridentes, bem vestidos e perfumados nas melhores casas (1), e comendo à noite, fora do olhar plebeu, as melhores iguarias (2), os coveiros da prosperidade, da saúde e da honra de quem distraidamente os elege ou aceita como pastores.

O descaramento dos piratas que tomaram de assalto o PS e vociferam em nome do socialismo e do contrato social brada aos céus. É, de facto, a coisa mais parecida com a propaganda fascista clássica, só que numa variante pós-moderna. Está na altura de percebermos todos que os partidos do centro-direita são, por incrível que pareça, a última barreira democrática interna à destruição do templo democrático e sua transformação no mero biombo farisaico de uma nova forma de ditadura — neo-corporativa, a soldo da pirataria financeira mundial e sob protecção legal de grandes e mafiosos escritórios de advogados. A outra barreira a esta degenerescência e iminente redução de Portugal à categoria de estado falhado é, por incrível que pareça também, o Memorando da Troika —cuja leitura atenta, já possível em português, não me canso de recomendar, por oposição à canalha que faz tudo para o esconder.

A máquina de propaganda que se apoderou do Partido Socialista e do Estado, paga pelos nossos impostos e em clara subversão da lei constitucional e da boa-fé democrática, substitui e espezinha o programa, a inteligência e a cultura genuinamente socialistas.

A cegueira ou cobardia de quem no PS sabe disto e teme agir com coragem poderá revelar-se fatal para toda uma geração de portugueses, sobretudo se a crise sistémica mundial do capitalismo evoluir para uma nova guerra mundial e subsequentes nacionalismos desesperados. A alusão de Eduardo Catroga às relações de pragmática política entre Sócrates e Hitler é menos disparatada do que parece. Ele não comparou os dois políticos sob o prisma do anti-semitismo, mas sublinhou, e bem, o paralelismo da teatralidade das encenações, do histrionismo das criaturas, e das retóricas. Para ser mais exacto, a versão adoptada por Sócrates deve mais ao sobrinho de Freud, Edward L. Bernays, do que a Joseph Goebbels. Digamos que o primeiro é a versão americana e pós-moderna (avant la lettre) do segundo. Ambos, curiosamente, escreveram textos fundamentais sobre o tema da Propaganda, em 1928.

There is really little point to discussing propaganda. It is a matter of practice, not of theory. One cannot determine theoretically whether one propaganda is better than another. Rather, that propaganda is good that has the desired results, and that propaganda is bad that does not lead to the desired results. It does not matter how clever it is, for the task of propaganda is not to be clever, its task is to lead to success. Joseph Goebbels, “Knowledge and Propaganda” (1928), in German Propaganda Archive.

THE conscious and intelligent manipulation of the organized habits and opinions of the masses is an important element in democratic society. Those who manipulate this unseen mechanism of society constitute an invisible government which is the true ruling power of our country. Edward L. Bernays, Propaganda (1928).

Pensemos no batalhão de criaturas incógnitas que escrevem os telepontos diários de Sócrates e alimentam minuto-a-minuto os tickers televisisvos. O resultado é sempre o mesmo: insistir de cada vez, sempre que possível, numa ideia simples, maniqueísta e de enunciação breve (o que hoje se chama sound bite). Por exemplo: não contem com Sócrates para governar com o FMI (criação e diabolização de um inimigo externo, e ocultação da bancarrota óbvia do Estado conduzida pelo PS; ou: o Memorando do FMI, ou da Troika (consoante as audiências para quem fala), é o PEC4 (transformando assim o invasor num derrotado: vieram comer a minha mão...), sim, é o PEC4! sim, é o PEC4!! (insistência minuto-a-minuto); ou sobre o PSD e o CDS: a Direita quer destruir o estado social; a Direita quer privatizar a saúde; a Direita quer privatizar as reformas; a Direita quer despedir os funcionários públicos; a Direita quer subir os impostos! Ou seja, tudo o que Sócrates e o PS têm vindo a fazer ao longo dos últimos seis anos, em nome, diz a propaganda minuto-a-minuto de Sócrates, da salvação do estado social, é agora imputado como agenda secreta demoníaca da Direita. Se tivermos presente que Sócrates utiliza diariamente todos os canais televisivos em horário prime, primeiro como governante, e depois como falso descamisado, podemos calcular o formidável poder de manipulação empregue diariamente por esta máquina de propaganda contra toda a Oposição — mas pior ainda, contra todo um povo aflito e com péssimas perspectivas de futuro.

No entanto, a realidade é esta: ao mesmo tempo que Sócrates manipula o eleitorado, fixando-o no medo da Direita (não nos esqueçamos de que a propaganda nazi, tal como a propaganda americana, da publicidade, ao business coaching, ao marketing em rede e à cientologia, são ferramentas de controlo pacífico das mentes), aquilo que este ditador disfarçado pela moda realmente faz é comprometer-se com a Troika na suspensão do contrato social em todas as vertentes previstas: saúde, reformas, educação e redistribuição fiscal da riqueza.

Fá-lo, porém, negando publicamente o que assinou, sem qualquer receio da contradição e da mentira descarada. A fórmula típica da propaganda eficaz é uma vez mais simples: atribuir minuto-a-minuto esta capitulação e este programa de destruição do estado social à Direita! E ao mesmo tempo que acusa o PSD e o CDS de quererem destruir o estado social, e o PCP e Bloco de Esquerda de serem responsáveis por esta mesma destruição, na qualidade de aliados e muletas da Direita, os piratas da tríade de Macau, em aliança ou não com a Maçonaria, procuram desesperadamente nos corredores obscuros da corrupção salvar desta mesma destruição a incapaz burguesia rentista que ainda temos e a recém chegada turma de novos-ricos e financeiros paridos pela partidocracia. Como? Invocando os direitos adquiridos das PPP e os direitos adquiridos dos monopólios que atrofiam o nosso potencial de crescimento!
Os contratos entre o Estado e as empresas são os novos direitos adquiridos. Parecem gravados na pedra.

Enquanto for bastante mais barato reduzir os direitos dos cidadãos e aumentar impostos do que rever contratos entre o Estado e o sector privado, a história a que temos assistido nas democracias ocidentais e em Portugal continuará a ser a mesma: o Estado capturado pelos partidos e interesses privados, a tirar a quem tem apenas a Lei e a Constituição do seu lado para dar a quem tem contratos.

Eis uma abordagem a roçar o esquerdismo, dirão alguns. Pois não é. A democracia capitalista de mercado tem na liberdade, igualdade e no Estado de direito - e não dos contratos - os seus pilares fundamentais. O que temos hoje é tudo menos mercado. Porque uns são manifestamente mais iguais que outros, porque uns têm manifestamente mais poder sobre o Estado que outros. Terá a troika o poder de curar esta ferida do capitalismo? Helena Garrido in “Direitos, contratos e desigualdades”, negócios online, 13 maio 2011.

Desconfiança a Alta Velocidade

“O Estado também tem compromissos, por exemplo, com os reformados que durante uma vida confiaram nessa instituição entregando-lhe, por outro lado, mensalmente uma parte do seu ordenado e prescindindo, por outro lado, de receber outra parcela de forma a que a entidade patronal contribuísse para a constituição da sua reforma. E o que fez o Estado desses compromissos? Teve de os abandonar, dada a situação financeira a que conduziu o país. Manuela Ferreira Lete, Expresso 14 maio 2011.

Os jornalistas mais conhecedores e sérios já não conseguem esconder o embuste e a calamidade provocada por quem conduziu conscientemente Portugal à bancarrota. Como disse Estela Barbot —uma empresária certamente conservadora no voto, consultora do FMI— os responsáveis pela falência do país são quem canalizou os poucos recursos disponíveis, isto é a nossa fraca poupança, os limitados fundos comunitários e os empréstimos externos, para estádios de futebol (hoje falidos) e autoestradas desnecessárias e economicamente impagáveis. De forma ainda mais detalhada é preciso dizer, explicar e repetir ao país, até à saciedade, que na ordem de principais responsáveis pela bancarrota de Portugal não estão os encargos com os funcionários públicos, mas quatro evidências contabilísticas da responsabilidade de Sócrates e dos piratas que o acompanham:
  1. as 120 Parcerias Público-Privadas
  2. o Estado paralelo escondido do orçamento de Estado (Parpública, empresas privadas regioanis e municipais de capital 100% público, fundações, etc.)
  3. os juros da dívida pública
  4. e os encargos sociais com o subsídio de desemprego a que os cidadãos desempregados têm todo o direito, sobretudo se descontaram para tal eventualidade. 
A falência portuguesa é da exclusiva responsabilidade dos últimos três anos de governação PS, sob o império da tríade de Macau, associada ou não à Maçonaria, associada ou não a redes internacionais que se dedicam a roubar literalmente estados inteiros.

Tão importante quanto pagar as dívidas, é investigar e responsabilizar, criminalmente se for o caso, os seus principais responsáveis, e sobretudo operar uma grande metamorfose social. Sem recuperar as condições fiscais mínimas da liberdade empresarial e criativa, o nosso potencial de crescimento continuará estagnado e caminhará mesmo para uma recessão profunda e duradoura. A consequência desta hipótese de definhamento económico, social e cultural da nossa sociedade, a concretizar-se, seria o caminho mais rápido para a implantação de uma nova ditadura em Portugal. Os embriões adormecidos desse novo poder invasivo estão à vista de quem os quiser ver.

Francesco Franco: “Portugal não vai ter uma segunda hipótese para voltar a ser competitivo e pôr fim a um processo de acumulação de dívida externa que se arrasta há mais de 15 anos”.

Só uma subida dos impostos sobre o consumo, um corte forte nos custos unitários do trabalho e uma estagnação dos salários proporcionada pela chamada desvalorização fiscal irá, no curto prazo, ajudar Portugal a reequilibrar o pesado défice externo e voltar a crescer.

A Taxa Social Única (TSU) deverá descer dos actuais 23,7% para 11% a 12% para ter efeitos imediatos e relevantes na descida dos custos do trabalho e aumento da competitividade./ A redução das contribuições para a Segurança SOcial não significa um emagrecimento do seu financiamento que deverá ser assegurado por outras taxas que não as do trabalho. Anabela Campos, “É preferível reduzir os custos de trabalho a salários”, Expresso, 14 maio 2011.

Não se pode pedir mais produção, como faz e bem o PCP, se esmagarmos pela via fiscal e pelo excesso de zelo burocrático os produtores e os criadores de riqueza.

Há dias visitei um pequeno agricultor biológico que há vinte anos, num hectare e meio de terra recuperada a um pinhal, se dedica a esta alternativa ao colapso inevitável da agricultura intensiva, toda ela baseada no petróleo e no gás natural. Perguntei-lhe duas coisas: como tem evoluído o ambiente do teu negócio nos últimos anos; e que parte do ganho foi comida pelos factores de produção. A resposta foi desoladora:

“Tenho cada vez menos condições para continuar; o trabalho pago e o Estado levam quase tudo — 90% do que vendo vai para salários, licenças, taxas, impostos, selos, segurança social, seguros e médicos do trabalho. Actualmente sou forçado a subsidiar com uma pequena herança recente o meu próprio negócio e as pessoas que trabalham comigo.”

Como querem o PCP e o Bloco apelar à produção se, na realidade, autorizaram no parlamento e continuam a insistir em ideologias cujo resultado prático é a destruição da própria possibilidade de começar? Temos a segunda maior taxa de emigração dos últimos 160 anos por algum motivo. Chegou o momento de acordarmos e de sermos inflexíveis para com os ladrões e os populistas profissionais!

POST SCRIPTUM (16-05-2011 23:30)— Clara de Sousa perguntou a José Sócrates, durante o debate deste com Jerónimo de Sousa, porque razão não havia ainda uma tradução oficial do Memorando da Troika. Sócrates meteu os pés pelas mãos, como é costume quando apanhado em falso, e disse que achava que havia. Achava!

NOTAS
  1. Uma loja de luxo em Beverlly Hills (a Bijan) publicitava na montra principal os seus clientes VIP, entre estes um tal primeiro ministro de Portugal, José Sócrates. Alguém perguntou a esta criatura se é verdade? E se é, alguém lhe perguntou onde obteve o dinheiro para as compras? A diferença entre Lisboa e Luanda, ou entre Lisboa e Port-au-Prince é cada vez mais insignificante.
  2. O CM apanhou o “socialista” Pinóquio Pinto de Sousa à saída de um restaurante de luxo no Porto, onde jantou com seis apoiantes do PS. «A refeição custa, em média, 100 euros por pessoa», lê-se na legenda da fotografia publicada na última página do jornal. Vinham certamente da campanha eleitoral, muitos cansados de explicar ao povo porque devem votar no "estado social".

sábado, maio 14, 2011

O dilema de votar

Pintelho (Puffinus obscurus)

O voto no PS é um voto inútil
Só uma vitória do centro-direita poderá salvar a Esquerda!

Na guerra das sondagens, quem paga mais consegue, por vezes, travar as más notícias, e sobretudo inundar os média com muito ruído. A sondagem da Marktest dava há dois dias atrás uma vantagem clara ao PSD (39,7%) sobre o PS (33,4%), apesar das quedas fortíssimas, que ainda podem ser invertidas, do PCP e do Bloco. Ontem, a Intercampus respondeu com uma sondagem, no mínimo hilariante, onde o PS supera o seu próprio resultado de 2009 (passando de 36,56 para 36,8%), batendo o PSD (33,9%), uma vez mais com o PCP e o Bloco em colapso eleitoral. Mas a verdade é que quase 50% dos eleitores ainda não decidiram! Como diz a Manuela Moura Guedes só um PIG (Povo Idiota e Grunho) é que votaria em quem lhe acaba de assaltar a casa. Mas o mais grave é que os grunhos, uma vez de bolsos vazios, o que ocorrerá ao longo dos próximos dois anos, mudarão de ideias num ápice — e não será para alimentar, uma vez mais ainda, a demagogia populista da Esquerda! Não sei, pois, o que é que a dita Esquerda, perdida entre o irrealismo panfletário do PCP e do Bloco, e o comportamento proto-fascista do cadáver adiado do PS, tem a ganhar com o actual curso dos acontecimentos. Agarrados aos pequenos e grandes poderes, agarrados às pequenas e grandes mordomias, agarrados à falsa profissão que têm, os partidocratas levaram Portugal à falência, por acção ou por omissão hipócrita e oportunista. Talvez seja altura de arrepiarem caminho e pensarem a sério sobre o seu próprio futuro, já que não pensam no país, nem no povo que os sustenta.
Greece [Ireland and Portugal] Defaulting on Debts Anticipated by 85% in Global Poll of Investors

Eighty-five percent of those surveyed this week said Greece probably will default, with majorities predicting the same fate for Portugal and Ireland, which followed Greece in seeking European Union-led bailouts, a new Bloomberg Global Poll shows. The outlook for all three countries deteriorated since January.

“All these countries will go bust at some stage,” said Wilhelm Schroeder, a poll participant who helps manage the equivalent of about $172 million for Schroeder Equities GmbH in Munich. “I just can’t see a scenario in which these countries get out of their debt problems”— Bloomberg.
Os americanos e os ingleses são suspeitos, pois são quem mais aposta no insucesso do euro. Provavelmente cairão primeiro do que a Eurolândia. Mas isso não altera um facto óbvio: a União Europeia está confrontada com problemas gravíssimos que poderão, no limite, conduzir a um congelamento, ou mesmo à implosão nacionalista do projecto. O regresso das fronteiras demográficas, a incapacidade de transformar a tragédia do norte de África numa oportunidade para ambas as margens do Mediterrâneo, e a incapacidade de lançar uma estratégia económico-financeira que amorteça o colapso financeiro em curso, por efeito da explosão da bomba relógio do endividamento —soberano, das empresas, dos especuladores perdedores, e dos consumidores—, são ameaças globais à estabilidade e ao sonho europeu.

O apoio da China ao euro pode não ser suficiente. E se não for, ou os grandes blocos geoestratégicos se sentam a uma mesa e equilibram a geometria da globalização, como outrora portugueses e espanhóis fizeram em Tordesilhas, ou os tambores de uma nova guerra mundial começarão em breve a rufar.

A queda praticamente inevitável da moeda americana e o colapso do Japão, hoje com uma dívida pública —a mais elevada do mundo— que supera (antes da tragédia que recentemente assolou o país) os 225% do PIB, conjugados com a procura crescente de recursos energéticos, industriais e alimentares por parte dos países emergentes (China, Índia, Brasil, Rússia) e da África, são já os cenários das guerras assimétricas em curso, mas também da nova grande guerra por vir. É para isto que a Europa, e cada um dos estados membros da União tem que se preparar a sério. Entre nós, portugueses, não podemos continuar a discutir os problemas como se estivéssemos na Cova da Iria, e o drama maior que se desenrola aceleradamente diante de todos, fosse uma fantasia longínqua de que estaríamos, pelo amor que a Virgem nos dedica, protegidos. Só não vê quem não quer ver — por medo, ou oportunismo.

Onde está a tradução do Memorando de Entendimento da Troika? 

Como dizia e bem Eduardo Catroga, a precária comunicação social que temos só se interessa por pintelhos, isto é, por minudências que ninguém conhece — como, por exemplo, a pequena ave marítima chamada Pintelho (Puffinus obscurus), que não é o pentelho a que tantos púdicos reagiram ofendidos. O pentelho, palavra específica e correcta para pelo púbico, é também uma designação comum no Brasil para as melgas, chatos e sarnas, i.e. aquele tipo de criaturas humanas que não desgrudam e fazem perder a paciência a qualquer santo, como se o futuro do país fosse apenas mais um concurso para descerebrados, ou mais um reality show. “O Pentelho” é, por exemplo, o título brasileiro do filme protagonizado por Jim Carrey, The Cable Guy. Pentelhos são, no caso que aqui interessa, as agendas vigiadas e manipuladas da comunicação social. Em inglês chamam-se scramblers a estas ferramentas de perturbação da comunicação correcta dos sinais. Por cá deveríamos passar a chamar-lhes pentelhos!

Sobre o que interessa a todos, o silêncio é de ouro.

O governo assinou um memorando crucial para o país — mas não o traduziu, nem divulgou junto de quem lhe sustenta as mordomias, a pirataria e os vícios. Os partidos, a quem pagamos para pouco fazerem, também não se deram ao trabalho de traduzir o memorando, e por isso falam de pintelhos (minudências que ninguém conhece) e de pentelhos (ruído para entreter), em vez de explicar aos portugueses o que os nossos credores impõem, e bem, à corja que tem o país nas mãos e o conduziu à bancarrota, com reflexos inevitavelmente dolorosos para todos nós. Mas também a precária comunicação social que temos (que ou depende do partido que está no governo, ou de quem os financia e compra espaço publicitário) se esqueceu de traduzir o que a Troika desenhou para os próximos três (ou trinta!) anos da nossa vida colectiva, encontrando aí uma boa desculpa para esconder o tema dos olhares indiscretos das audiências. A tradução, no entanto, existe! Mas devêmo-la a mais um acto de cidadania da Blogosfera, desta vez por iniciativa do blogue Aventar. O Memorando da Troika, em português, encontra-se aqui, e é de leitura e discussão obrigatórias.

PCP e Bloco podem recuperar e enterrar o PS — para bem da Esquerda, incluindo o PS!

O PCP e o Bloco de Esquerda podem acolher centenas de milhar de votos de eleitores descontentes com a ladroagem e manipulação proto-fascista do PS de Sócrates. Basta moderarem a linguagem, falarem claro e colocarem-se, como é sua obrigação, ao serviço do país e da justiça social.

Depois de o PSD e o CDS terem esclarecido que não formarão governo com o PS, nomeadamente por este ter sido capturado por uma teia de piratas, associações secretas, máfias e famílias ricas ignorantes —improdutivas, incapazes de competir a céu aberto e rentistas (1)—, a agremiação cientologista do Pinóquio das Beiras ficou literalmente sem base de sustentação pós-eleitoral. Ou seja, quer perca, quer ganhe (uma ficção alimentada pelas sondagens da treta), não tem com quem dançar o tango. Logo, voltaria a cair, antes de aprovar o orçamento de 2012. Novas eleições se seguiriam, ou em alternativa, Cavaco chamaria alguém do PS, do PSD ou do CDS para liderar a formação de um governo de convergência nacional. Se este improvável cenário viesse a ocorrer, Eduardo Catroga seria porventura the man for the job!

Ou seja, o voto no PS é um voto completamente inútil. Pelo contrário, votar no PCP, ou no Bloco de Esquerda, para quem for incapaz de votar na Direita, abre a porta a três desenhos partidários futuros da maior importância:
  • a expulsão dos corpos estranhos que envenenam o PS, permitindo assim a refundação deste partido; 
  • uma reforma generativa efectiva no interior do PCP, com possível mudança de sigla e adopção de um programa político e social adequado aos tempos que aí vêm, claramente aberto aos cenários da governação que não se limitem apenas às autarquias; se pode governar cidades, vilas, aldeias e bairros, porque carga de água não pode governar o país?
  • e, finalmente, a desinfecção do Bloco, eliminado os ácaros leninistas, estalinistas e trotskistas que ainda impedem esta associação intelectual pequeno-burguesa de contribuir de forma útil e pragmática para a alternância democrática no nosso país.

A Direita será com toda a probabilidade governo depois do dia 5 de junho. Vou votar em Passos Coelho para que isso aconteça, deixando de votar à esquerda pela primeira vez na minha vida. E a motivação é puramente pragmática: só derrotando o possuído PS actual, e portanto só abrindo caminho a um governo do PSD, ou do PSD-CDS, daremos tempo à Esquerda para renascer...

Compreendo os eleitores de esquerda incapazes de votar à direita. Trata-se de um atavismo como outro qualquer. Eu, por exemplo, algures na minha tenra infância tornei-me benfiquista, por motivos que desconheço inteiramente. Se me perguntarem se sou capaz de mudar de clube, direi que não. E no entanto nunca entrei num estádio de futebol! Nem nunca vi um jogo de futebol profissional ao vivo!! Então, perguntar-se-à, por que serei eu benfiquista, se ainda por cima o Benfica é há décadas um perdedor sem remédio? Por atavismo. No entanto, talvez porque os partidos chegaram à minha vida quando era já adulto e consciente, o medo atávico da traição à marca não existe. Voto em consciência, e não como um autómato emocional. Faço apostas e cálculos. Procuro, em suma, na pequena escala do meu voto pessoal, influir nos resultados. No caso vertente, o meu diagnóstico é claro: a Esquerda aburguesou-se e corrompeu-se em trinta e tal anos de delegação inusitada de poderes. Faz parte do problema, e precipitou-o na última década e meia, levando o país à bancarrota. É tempo de expiar os erros, e preparar, com honestidade e inteligência, o futuro!

POST SCRIPTUM



— É preciso deixar bem claro que a Esquerda, partidária, sindical e cultural, viveu em perfeita simbiose oportunista com Os Donos de Portugal —sobre quem recentemente Francisco Louçã, Jorge Costa, Luís Fazenda, Cecília Honório e Fernando Rosas publicaram um livro. Essa mão mal cheia de endogamia familar (os Mellos, os Espírito Santo, os Champallimaud, os Roquete, os Ulrich, os Ricciardi, e os d'Orey — ver aqui a árvore genealógica publicada no livro citado) está associada quase toda ao principal espinho do nosso sobre endividamento: as 120 parcerias público-privadas (ver mapa 1; ver mapa 2). Mas de quem é, em última instância, a culpa, se não da democracia populista que temos? O FMI entendeu num ápice onde estava o tumor da nossa democracia, e o que é preciso para extirpar o bicho. Mas como reagem Sócrates, os sindicatos, o PCP, e o Bloco? Com o FMI, nunca! É por estas e por outras que precisamos de uma cura de direita! É que há muita gente a querer trabalhar, criar empresas e ganhar dinheiro honestamente! O biocapitalismo incestuoso que tivemos até esta bancarrota acabou!