sexta-feira, agosto 31, 2012

Outra vez Alcochete!

Os Donos de Portugal - ver documentário

O Bloco Central da Corrupção não desiste

Lisboa, 31 Ago 2012 (Económico) — Ravara II
Novo estudo, apoiado pelas Ordens dos Engenheiros e dos Economistas e pela associação de pilotos, defende investimento de 323 milhões de euros.
A construção de um mini-aeroporto em Alcochete para complementar a Portela, em Lisboa, é uma alternativa que volta a ganhar força junto de diversos meios empresariais e públicos, em comparação com a solução da base aérea do Montijo. O Governo já tem em mãos um estudo - apoiado pelas Ordens dos Engenheiros e dos Economistas e pela Associação dos Pilotos Profissionais de Linha Aérea (APPLA), e realizado por cinco consultoras de engenharia -, que conclui que a melhor solução para acompanhar o aumento previsto de tráfego na Portela é construir uma pista de cerca de 3.300 metros no Campo de Tiro de Alcochete. Um investimento avaliado em 230 milhões e que estaria concluído num prazo de cinco anos.
[... ] "A solução do ‘Portela+1' está limitada no tempo, porque a partir de uma certa altura não há perspectivas de crescimento. E isso terá influência nas empresas que estiverem interessadas na privatização da ANA e da TAP, porque essas empresas também precisam de perspectivas de expansão dos seus negócios", defende Artur Ravara, um dos autores do estudo e um dos mais conceituados especialistas aeroportuários de Portugal (Ler mais).

Lisboa, 06 Dez 2007 (Lusa) — Ravara I
Novo Aeroporto: Ex-presidente do LNEC diz que estudo da CIP não tem informação que permita comparar Ota e Alcochete
Lisboa, 06 Dez (Lusa) - O ex-presidente do LNEC Artur Ravara afirmou hoje que o estudo da CIP sobre o novo aeroporto de Lisboa "está muito longe" de ter informação que permita fazer a comparação da Ota com Alcochete, da mesma forma que foi feita com Rio Frio.
"Sobre a Ota, temos o estudo comparativo [entre a Ota e Rio Frio] que foi feito em 1997/1998 e que tem informação suficiente para se lançar o concurso. Sobre Alcochete, temos o estudo da CIP, com informação que justifica aprofundar o assunto, mas está muito longe de ter informação suficiente para se fazer uma comparação como a de 1998", afirmou Artur Ravara.
Neste sentido, durante a sua intervenção no seminário "Um Aeroporto para um Portugal Euro-Atlântico", o engenheiro apontou algumas das falhas do estudo patrocinado pela Confederação da Indústria Portuguesa (CIP).
"É surpreendente que na conversão de uma zona que é um campo de tiro há mais de 100 anos, não haja uma palavra sobre descontaminações", argumentou, acrescentando que o documento refere que o terreno disponível "é plano, mas não menciona que tipo de trabalho e que custos são necessários para a regularização hidráulica". 
Por isso, o ex-presidente do Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC) considera que "estamos muito longe de ter informação que permita comparar as duas localizações".
Expresso 6 dezembro 2007 (Ler mais)

O iminente Ravara, que agora perora por Alcochete, é a mesma criatura reformada e que de aeroportos percebe zero (não encontrei uma única referência a aeroportos no seu CV *), que em 2007 demonizava Alcochete, por causa da contaminação dos solos e outros problemas, e defendia a pés juntos a Ota. Ou seja, mais um empregado da Ota em Alcochete ao serviço do BES, da Mota-Engil e da Brisa. Não são estes que querem à viva força encomendas, obras, PPPs e promessas de novos ativos e campos de especulação imobiliária para salvar os respetivos coiros coçados de tanta renda excessiva?!!! Não são estes piratas que têm nas mãos as autoestradas, pontes e parte do serviço ferroviário do país, e ainda querem a ANA e retomar Alcântara e a ponte Chelas-Barreiro? Será que a Troika vai neste descarado conto do vigário? E o Álvaro, resistirá a mais esta investida impiedosa dos coveiros do país?

Esta manobra desesperada tem uma tradução:

— como a TAP só vale as dívidas que tem, a maneira de ganhar algum com a alienação conjunta da TAP+ANA regressa ao modelo de roubalheira inicial: quem comprar a ANA, por muito mais do que a TAP, diria a arara Borges, ficará com a promessa de um NAL da Ota em Alcochete, a começar devagarinho (por causa dos chatos da Blogosfera), mas que depois, sim, dará patacas como sempre deram os negócios cleptocratas neste país:

— ele vai ser a urbanização da Portela, ele vai ser a urbanização dos terrenos que a SLN, através do facilitador Fernando Fantasia comprou em Rio Frio (1), ele vai ser a urbanização dos terrenos que o fundo de investimento secreto do PS comprou também em Rio Frio, ou mais precisamente no Canha (não desmente, senhor Seguro?), ele vai ser a nova Ponte Chelas-Barreiro (até os camaradas do PC apoiam, caralho!), mas ele vai ser, no fim, se não travarmos mais este roubo organizado, um novo e gigantesco buraco, que depois terão que empandeirar a preço negativo a algum sócio chinês, angolano ou árabe.

Mas talvez seja possível, um dia destes, meter toda esta corja de ladrões na prisão. Como tem vindo a repetir Adriano Moreira, o norte de África está a um passo de atravessar o Mediterrâneo!


PS: em 2050 Portugal terá menos três milhões de pessoas do que hoje (leiam as previsões da ONU!), ou seja, terá sensivelmente a mesma população do que a Catalunha, cujo buraco orçamental e o poço de dívidas dá bem a medida do que pode acontecer aos países quando as elites rendeiras tomam o freio nos dentes. Claro que o famoso Ravara, de demografia também percebe zero. De economia e finanças, idem, presumo.


* O engenheiro, além de pré-esforçado e temas sísmicos, tem o CV típico de um alto funcionário da burocracia do Estado. Dos inúmeros cargos burocráticos que ocupou destaco o de "Membro do Conselho Consultivo da Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento, desde 1988." Presumo que conheça bem o senhor Rui Machete, sumidade do PSD, da FLAD e da SLN (a tal que investiu 250 milhões de euros na localidade conhecida por Canha, dias antes de Sócrates anunciar que a Ota passaria a ser em Alcochete). Só falta mesmo um Wikileaks lusitano para conhecermos os detalhes!

NOTAS
  1. Sim, o mesmíssimo Fernando Fantasia da trapalhada da compra da casa de Cavaco Silva na Aldeia da Coelha.

domingo, agosto 26, 2012

Bloco de Taifas

Catarina Martins por Nelson Garrido, in Público (07-05-2012)

Roma e Pavia não se fizeram num dia, mas conseguirá o Bloco de Esquerda deixar de ser uma frente de tontos (perdão, "de massas"), da UDP e do PSR?

Ninguém pode esperar que a UDP se demita do núcleo dirigente mais importante do Bloco de Esquerda. Qualquer solução de liderança que garanta a matriz deste projecto terá de englobar no centro pessoas afectas à UDP. Essa é a nossa responsabilidade — Joana Mortágua, UDP, Encerramento da VII Conferência, 07-Jun-2012.

Foi porventura Miguel Portas quem preparou, a tempo e horas, a metamorfose do Bloco de Esquerda, pedindo, na sequência do desaire eleitoral das últimas Legislativas, que os velhos dirigentes dessem lugar aos mais novos. 

Na realidade, o que o Miguel propôs ao "povo do Bloco" (designação ridícula e pouco inspirada do álgido Louçã), foi algo bem mais estratégico, e que agora, depois da iniciativa do ainda grande Coordenador do Bloco, estará criticamente à prova: libertar o Bloco das suas sombras marxistas-leninistas. Será ou não o Bloco de Esquerda, pós-Louçã e pós-Fazenda, capaz de libertar-se da ortodoxia que criou esta frente partidária como uma clássica marioneta eleitoral de quem pensa ainda ter consigo as chaves da revolução socialista?

Ao contrário de Louçã e de Fazenda, o Miguel não era um partido dentro de um "bloco", mas um dissidente entre dissidentes do cadáver hirto que ainda é o estalinista PCP. Como deputado europeu aprendeu rapidamente a ver o mundo da política e do poder com outros olhos. Percebeu então que, ou o Bloco de Esquerda caminhava rapidamente para uma força política com peso eleitoral específico, e para isso teria que abandonar o cadavérico lastro esquizofrénico do modelo autoritário de Estado e de Praxis a que Lenine chamou centralismo democrático, mas que nunca passou da imagem vermelha no espelho do absolutismo czarista, ou estaria condenado a breve trecho à nulidade eleitoral, histórica, política e cultural.

Conheci Miguel Portas, e conheci melhor, muito melhor mesmo, Francisco Louçã. Como ex-trotskysta que sou, dos idos anos 70 do século passado, sempre olhei para os sociais-democratas do PS como um rebanho de Mário Soares, para os "comunistas" do PCP como um  remake impossível de José Estaline, mas acima de tudo, sempre tive as maiores desconfianças de toda a genética maoísta. Ou seja, o senhor Fazenda da UDP sempre me foi indiferente e me pareceu ser um grande pedregulho destinado a entorpecer qualquer viabilidade mais do que conjuntural à nuvem de esperança que rodeou o nascimento do Bloco de Esquerda. Como se pode comprovar pelas palavras ditas por Joana Mortágua em junho passado, o Bloco é um filho da UDP e assim deverá continuar!

O apoio dado por Louçã e Pureza a João Semedo e a Catarina Martins na corrida à substituição da esgotada liderança histórica do Bloco é uma solução de compromisso, podre e que ruirá sob o impacto das próximas eleições autárquicas, se não antes.  Por sua vez, o bloqueio imposto pela UDP à hipótese de Ana Drago suceder a Luís Fazenda na chefia do grupo parlamentar do Bloco é a prova provada de que esta força eleitoral está condenada a regressar às catacumbas do maoísmo e do trotsquismo se, entretanto, ninguém ousar o óbvio: convocar o eleitorado do Bloco a pronunciar-se livremente e por voto secreto sobre o seu futuro e sobre quem prefere ver a liderar o partido depois de Francisco Louçã.

O processo seria simples e expedito: os futuros eleitores da próxima mesa eleitoral do Bloco teriam que declarar sob palavra de honra que eram eleitores do Bloco, que acreditavam neste partido e que desejavam que o mesmo se transformasse num grande protagonista político, cívico e cultural da vida portuguesa, em disputa leal e livre com os demais partidos que aceitam as regras básicas da democracia.

Os diversos candidatos deveriam apresentar-se, pois, não perante um colégio eleitoral manipulado (como os que existiam no tempo de Salazar e Caetano), mas diante de todos os militantes, simpatizantes e eleitores do Bloco de Esquerda, defendendo as suas ideias e pedindo o apoio eleitoral necessário à eleição.

Só assim o Bloco poderá transformar-se rapidamente num aliado natural do PS com capacidade de empurrar este volúvel e corrompido partido para a margem esquerda do espectro eleitoral. Só assim, também, o PP de Portas definirá melhor a sua posição face ao PSD, formando com este partido, de uma vez por todas, um bloco eleitoral estável, em vez de continuar a piscar o olho à "esquerda" e à "direita", como uma puta vulgar.

Eu se fosse a Joana Amaral Dias juntava-me à Ana Drago e punha-me ao caminho, sem pestanejar, falando abertamente com o eleitorado do Bloco. A UDP e o PSR já não existem!

sábado, agosto 25, 2012

Superavit?

Há quem tenha visto máquinas destas a sair do país recentemente.

Os números não dão para festejar

2012, janeiro-junho
— importações de bens e serviços: 28.033M€ + 5.172M€ = 33.205M€
— exportações de bens e serviços: 22.846M€ + 8.590M€ = 31.436M€

O texto que vem publicado no sítio do governo é uma autêntica contorção retórica para tentar vender o invendável, isto é, que Portugal tem vindo a colocar a sua balança comercial em ordem, com as exportações a superar as importações. Em primeiro lugar, os números do INE mostram claramente que continuamos a importar mais do que exportamos. Por outro lado, se ficamos a saber o que agravou o peso das importações —alimentação, bebidas, combustíveis e lubrificantes—, já na melhoria da performance das exportações falta esmiuçar os agregados compilados.

"Em junho de 2012, as exportações e as importações de bens e serviços registaram variações homólogas de 5,6% e de -4,6%, respetivamente, valores que comparam com variações homólogas no mês anterior de 4,6% para as exportações e de -10,2% para as importações. No mês em análise, a taxa de cobertura das importações pelas exportações de bens e serviços situou-se em 105,6%. Ainda em junho de 2012, as exportações e importações de bens registaram variações homólogas de 9,1% e de -2,1%, respetivamente. No mesmo mês, as exportações de serviços registaram uma variação homóloga de -2,2% e as importações de serviços registaram uma variação homóloga de -16,1%.
De janeiro a junho de 2012, as exportações e as importações de bens e serviços registaram variações homólogas de 6,4% e de -5,8%, respetivamente. A taxa de cobertura das importações pelas exportações de bens e serviços situou-se em 97,7%. Para o mesmo período, as exportações e importações de bens registaram variações homólogas de 9,0% e de -5,3%, respetivamente. No período em análise, as exportações de serviços registaram uma variação homóloga de 0,1% e as importações de serviços registaram uma variação homóloga de -8,7%."
In  Portal do Governo (ver Boletim do BdP)

Depois deste arrazoado inútil vamos ao que interessa.

  1. O valor das importações de produtos alimentares e bebidas sofreram, entre janeiro e junho deste ano, uma variação de +88,2%, repito +88,2%!  Este, sim, é um número que deveria preocupar o governo, em vez de o levar a filtrar fantasias demagógicas sobre o comportamento atípico das nossas importações e os efeitos depressivos da austeridade orçamental, do terrorismo fiscal e da pulhice financeira em curso. O Index Mundi mostra uma subida de preços dos Food and Beverage, entre janeiro e julho deste ano, na ordem dos 10,8%, e uma subida do preço do trigo na ordem dos 25,8%. Como explicar os +88,2%, senhor Gaspar, senhor ASP, senhor Passos de Coelho?
  2. A importação de combustíveis e lubrificantes, apesar do decréscimo do uso e da circulação automóvel, tiveram uma variação em valor de +16,0%. Que tal, de uma vez por todas, em vez de ler as patetices do Expresso desta semana sobre a abundância petrolífera mundial, optar por uma viragem estratégica e urgente do nosso modelo de transportes e mobilidade? Com a fiscalidade verde a pisar duro além-Pirinéus, a importação de alimentos pesará cada vez mais negativamente na balança comercial, e os TIR, depois de novas guerras no asfalto, acabarão por encostar. Já alguém pensou, nomeadamente no parlamento, que este assunto é demasiado grave para continuar cativo dos gabinetes do costume?
  3. A grande queda nas importações, por sua vez, dá-se no material de transporte e acessórios, presumo que e sobretudo na importação de automóveis e respetivos acessórios — um ajustamento inegável, que poderia ser ainda mais acentuado e benéfico se acabassem com o bacanal que é a importação de automóveis de luxo para a burocracia do estado e das empresas públicas e fundações que vivem exclusivamente à custa do património público e dos impostos.
  4. Por sua vez, o aumento de 3,5% nas exportações de material de transporte e acessórios deve-se provavelmente à saída em massa de material de transporte usado em obras públicas!
  5. Finalmente, a saída para fora do país de máquinas usadas nomeadamente na construção civil e em obras públicas teve, imagino, um importante impacto na subida de 23,5% das exportações de bens de capital e acessórios (que incluem, segundo o BdP, "máquinas, exceto material de transporte".)
Sobre a farsa do défice orçamental, estamos conversados! Repito o que escrevi no Facebook: o ministro Gaspar, se fosse sério, demitia-se. Não por não ter conseguido aumentar as receitas, que conseguiu, apesar das perdas no IVA, mas por não ter baixado a despesa onde mais era preciso (nas denominadas rendas excessivas), como prometeu à Troika e a todos nós, submetendo-se, com todo o governo, a começar pelo subalterno do BES que hoje é PM, aos rendeiros e burocratas de sempre. No entanto, ministro Gaspar, ainda tem uma hipótese de emendar a mão. Sabe porquê? Porque a situação económica, social e financeira de Portugal vai agravar-se no próximo ano, e muito!

sexta-feira, agosto 24, 2012

RTPPP



Raios Te Partam! ou Rendas Novas?

Não há nenhuma televisão pública em Portugal, no sentido em que podemos falar da BBC como um serviço público de televisão. A RTP é uma televisão privada paga com dinheiro dos contribuintes ao serviço da partidocracia instalada, e é culturalmente nula.

Como se isto não fosse suficiente para proceder à sua alienação imediata, acresce que alguns dos seus distintos trabalhadores, não satisfeitos com a promiscuidade mal-disfarçada entre negócios públicos e privados de que beneficiam há décadas, chegam a promover alegremente os seus negócios pessoais e as suas criações literárias no prime time dos vários canais da televisão pública!

Tal como o Diário de Notícias foi alienado e bem, a RTP/RDP e as suas intermináveis sucursais, deve ser pura e simplesmente vendida a privados, com duas ressalvas: as marcas RTP e RDP não serão transmitidas na venda, nem os arquivos audio e audiovisuais, devendo as marcas e o património audiovisual permanecerem propriedade do Estado.

Nos tempos tecnológicos que correm, quer o governo, quer o parlamento, quer os governos regionais, quer as autarquias, quer as universidades, podem, a custos residuais, montar serviços próprios de comunicação audiovisual interactiva e realidade expandida online. E com a vantagem de promoverem muito mais emprego, diversidade de conteúdos, criatividade e competitividade.

Portanto, senhor Borges, deixe-se de meias tintas, ou pior ainda, de tentar criar mais uma PPP (neste caso, uma RTPPP!) para alimentar mais uma família esfomeada da tribo de cleptocratas que arruinou o país.

Acabe com a RTP/RDP e pronto. Já basta de economia extractiva e de rendas.

O Estado tem que encolher onde está a mais, e não onde está a menos!


RTP, Centro de Produção, Chelas, 2007 (antevisão)

A RTPPP do Borges

A notícia do Sol reproduzida pelo Jornal de Negócios não passa de mais um balão a ver se sobe!

O essencial do recado é tenebroso: o senhor Borges que foi (é?) da Goldman Sachs parecia bem encaminhado na entrevista: é preciso acabar com a RTP e pronto, mas depois borrou a pintura.

Privatizar, não... concessionar a privados, sim!

Ou seja, eles tomam conta da coisa e emagrecem a casa (suponho), mas ficarão obrigados a prestar serviço público. Pergunta: que entende o senhor Borges por serviço público?

O preço da iguaria chamada "serviço público" será o Zé Povinho que continuará a pagar, pagando a taxa, a qual continuará a ser extraída ilegitimamente do seu bolso através da fatura de eletricidade que lhe é enviada mensalmente pela empresa pública chinesa Três Gargantas. Isto se, temo bem, a Troika continuar a assobiar para o ar a propósito desta ninharia que consta dos objetivos do Memorando.

Como a maioria dos portugueses subscreve hoje serviços privados de televisão, telefone e dados, o senhor Borges pretende que o lorpa português continue a pagar duas vezes pelo lindo serviço público da RTP (a propósito, qual é?)

Outra pergunta: mas concessionar não significa que os concessionários terão que pagar algo ao concedente, isto é ao Estado, isto é, a nós, contribuintes? Em que ficamos: pagam eles, ou pagamos nós?

Até onde este governo pensa que vai continuar a enganar os contribuintes que anda a roubar diariamente para manter banqueiros criminosos, governantes irresponsáveis e burocratas inúteis?

Governo admite concessionar a RTP e fechar a RTP2 (act)

O conselheiro especial do Governo para as privatizações, afirmou que a RTP pode ser "concessionada" a operadores privados e não vendida, como previsto anteriormente. [...]

António Borges admitiu, porém, que o destino da RTP 2 deverá ser o encerramento. "Muito provavelmente. É quase inevitável. É um serviço que custa extraordinariamente caro para uma audiência muitíssimo limitada."

No caso da RTP 1, Borges admitiu que a possibilidade de uma concessão a privados "é uma hipótese muito atraente sob vários pontos de vista". "Por um lado não se vendia a RTP, mantém-se propriedade do Estado, mas entrega-se a um operador privado que tem provavelmente melhores condições para gerir a empresa", disse nesta entrevista à TVI.

"O operador vai ficar, evidentemente, com as obrigações de cumprir o serviço público e continuar a receber pelo serviço público um apoio do Estado com a diferença que esse apoio será bastante, seguramente, inferior aquele que a RTP recebe hoje".
Borges avançou ainda que esse valor poderá ser equivalente à taxa do audiovisual, 140 milhões de euros anuais." A RTP tem custado ao Estado 200 a 300 milhões de euros por ano", disse.

Antes da entrevista de António Borges, o jornal “Sol” avançava na sua edição online que o Estado fará a concessão total do serviço público de televisão e rádio (RTP e RDP) a um operador privado, por um período de 15 a 25 anos, mantendo a propriedade pública da empresa.

Segundo a mesma fonte, esta solução de privatização cumpre três objectivos do Governo: libertar o Orçamento do Estado dos elevados custos que o grupo RTP/RDP tem representado (em média dos últimos cinco anos, cerca de 240 milhões de euros anuais); garantir o cumprimento do serviço público de conteúdos, através de um contrato a assumir pelo concessionário privado que ganhar o concurso; e manter a propriedade pública da empresa.

in Jornal de Negócios, 24 agosto 2012

quarta-feira, agosto 22, 2012

Républica

TOYZE — "Républica" (2012). Para O António Maria
©TOYZE & OAM

Pedi a alguns artistas amigos para imaginarem a República — a que temos, e a por vir.

O boneco, ou melhor dito, a boneca dos gémeos Carvalho, também conhecidos por TOYZE,

é ainda uma ré pública, uma ré puta,

a porca portuguesa de cara velada, cruz ao peito e tetas chupadas como uma etíope esfomeada qualquer. Mas nem por isso menos sedutora, a puta!

Figura inteira que projeta sombras de Portugal.

Pernas de lingerie que se enrolam até virarem serpente. Que morde a maçã-bomba, de onde foge o pé, a lagarta e o rastilho.

Discretamente, a bandeirinha, a carteirinha, o coração e o fio dental.

Portugal puta de muito chulo. Foi sempre assim? Não faz mal? Faz!


sexta-feira, agosto 17, 2012

É o petróleo, estúpido!

O petróleo está mais caro hoje do que em 2008 :(
Gráfico: Bloomberg, in ZeroHedge

Crescer 3% ao ano é altamente improvável :(

Em 3 de julho de 2008 o petróleo de Brent custava 145,66 dólares, ou 92,76 euros. Em 16 de agosto de 2012 custava 116,90 dólares, ou 94,9835 euros. Recessão? Pois claro!

Estes dados, de que a nossa imprensa não tem dado suficiente conta, e sobre cuja origem venho alertando os meus leitores desde 2005, são tanto mais alarmantes quanto boa parte dos cenários de avaliação e investimento público (Banco de Portugal, Caixa Geral de Depósitos, PPPs rodoviárias e hospitalares, TAP, transportes públicos, autarquias, fundações e observatórios, etc.) foi sendo programada, nomeadamente durante o consulado criminoso de José Sócrates, tendo por referência do custo da energia um preço médio do barril de crude na casa dos 60-70 euros!

Não só não cresceremos a 3%, como alvitra Medina Carreira quando afirma que abaixo desta fasquia o estado social irá à falência (já foi), como nos espera uma longa e assassina depressão. 

Estou convencido que o melhor negócio que aí vem é a importação de fornos de cremação, pois o espaço nos cemitérios começa a faltar por essas aldeias e vilas fora, já para não falar em Lisboa e Porto, onde a cremação se tornou moda e necessidade de há uma década para cá. É bom não esquecer que, segundo a ONU, Portugal poderá ver a sua demografia reduzida em 3,9 milhões de almas até ao fim deste século.


E a verdadeira má notícia é esta: não vai baixar abaixo dos 60-70 euros, nunca mais!

On a euro basis, the spot price for Brent crude oil, a global benchmark, has surpassed its prior record high and set a new record high of 96.53 euros per barrel on March 13, 2012, as the currency exchange rate has declined (see chart above). The prior record of 92.76 euros per barrel was set on July 3, 2008. However, on a U.S. dollar basis, the spot price for Brent crude oil remains under the prior record high of $145.66 per barrel, which was set on July 3, 2008. On March 13, 2012, the Brent crude oil spot price was $126.30 per barrel. 
in "On a euro basis, Brent crude oil spot price surpasses prior record high",  march 28, 2012, eia
As consequências do fim da energia barata, induzida pelo esgotamento há muito previsto do petróleo fino e acessível, e o regresso de múltiplas formas de energia, velhas, novas e super-novas, todas elas caras, são inexoráveis:

  • mudança profunda do paradigma de desenvolvimento da humanidade, 
  • novas vagas de destruição do consumo e do excesso de capacidade produtiva (i.e. desemprego estrutural crescente e duradouro), 
  • depressão económica e episódios de inflação empinada,
  • racionamento de bens essenciais, 
  • empobrecimento acelerado das classes médias, nomeadamente profissionais, 
  • enfraquecimento das democracias, 
  • subida do autoritarismo fiscal, judicial, burocrático e policial, 
  • militarização cibernética de vários países, nomeadamente europeus,
  • conflitos bélicos em larga escala.

Hoje, abaixo dos 60 USD/Brent temos o colapso imediato das economias dependentes da exportação de crude, e acima dos 100 USD/Brent começa a recessão em toda a parte.

Uma das consequências da crise insuperável do modelo de crescimento e desenvolvimento assente numa energia tão poderosa e barata quando foi o petróleo, é o endividamento público e privado das nações, e o provável colapso de muitas delas. Ao contrário do que as minhas imprecações sugerem, a causa da tragédia que se desenrola diante de todos é sistémica, e só em parte pode ser agravada ou mitigada pelas abomináveis criaturas que nos governam. Esta derrocada, de que estamos a conhecer desde o despedimento de Sócrates a fase de falência anterior à bancarrota, irá desorganizar o aparelho do Estado, convocando cenários previsíveis de colapso social, seguidos de respostas que poderão, uma vez mais, assumir contornos militares. É o que sucederá quando os tribunais, as repartições de finanças e as polícias deixarem de funcionar em termos minimamente aceitáveis.

Embora sejamos impotentes para sustar a tragédia que se aproxima como um ciclone devastador, depende de nós, e só de nós próprios, unir ou dividir ainda mais a sociedade na frente que é urgente criar para resistir ao impacto global que o pico do petróleo terá em todo o mundo. Uma cidade com construções anti-sísmicas bem feitas e regulamentos rigorosos a que ninguém se pode eximir resistirá sempre melhor do que uma tribo dividida, corrupta e desorganizada.

É disto que se trata quando proponho com carácter de urgência uma Nova Constituição e uma sociedade simultaneamente mais coordenada e descentralizada.

domingo, agosto 12, 2012

Por uma Nova Constituinte

Esta era a República de Stuart Carvalhais. Como será a próxima?

Precisamos de uma 4ª República. A democracia portuguesa degenerou pela terceira vez e conduziu o país à falência.

Se a Troika falhar a sua missão, em grande medida por causa das resistências egoístas dos grupos de interesse sentados à mesa do Orçamento (banqueiros, burguesia rendeira, partidos, corporações, sindicatos e instituições criadas para a caça ao subsídio), cairemos na situação da Grécia. E se os defensores do euro e de uma verdadeira União Europeia soçobrarem perante os egoismos nacionais e corporativos que mostram já descaradamente as suas múltiplas cabeças, então não restará a Portugal outro caminho que não seja a mais desesperada bancarrota.

Nada está decidido, mas o pior pode mesmo começar a rolar encosta abaixo depois do próximo dia 12 de setembro, quando o Bundesbank decidir se apoia ou não o endividamento direto do BCE a partir dos pedidos hemorrágicos de liquidez por parte das cleptocracias, burocracias e forças populistas que detêm o poder na maioria dos sobre endividados países europeus.

Chegou o momento de exigir o fim deste regime e da sua constituição. Chegou o momento de exigir uma nova assembleia constituinte e uma nova constituição democrática para Portugal.

Mas não tenhamos dúvidas, o status quo não cederá aos melhores argumentos que possamos elaborar se a tal não for forçado. E para aqui chegarmos só há uma solução:

— boicotar todas a eleições daqui em diante em nome da formação de uma nova assembleia constituinte.

Os partidos existentes, mas também as autarquias e os cidadãos em geral devem propor textos constitucionais alternativos ao ainda vigente, simplificados e que permitam, por um lado, superar as deficiência congénitas da Constituição de 1975, responsável pela degenerescência da 4ª República, e por outro, definir qual a posição clara que Portugal deve assumir face à União Europeia.

Precisamos de fundar a 4ª República, de forma democrática, racional, e sem golpes de estado!

Do ponto de vista do Novo Partido Democrata —que de momento não passa de uma ideia em fase de maturação na minha própria cabeça— a 4ª República deve estender e reforçar os conceitos de democracia, liberdade e economia inclusiva.

Desde logo, a ideia de democracia representativa deve ser alargada e deixar de ser confundida com a simples e degenerada democracia electiva que se foi impondo ao país como uma fatalidade partidocrata, incompetente, irresponsável, corrupta e gravemente subsidiária da velha burguesia extractiva e rendeira que durante séculos manteve o país na cauda do mundo.

A democracia electiva deve ser mais transparente e mais restrita na ocupação do espaço físico, económico e mental dos portugueses. Deve ser menos cara, e mais fiscalizada. Deve ser, por outro lado, complementada por outras formas de democracia e exercício livre da cidadania responsável, começando por conferir uma autonomia radicalmente distinta aos poderes autárquicos e regionais, os quais deverão passar a ser, formal e de realmente, independentes dos partidos políticos.

Os partidos políticos, por sua vez,  deverão sofrer uma delimitação institucional clara dos poderes derivados da representação electiva, quer no plano dos poderes legislativos, quer na faculdade de gerar maiorias governamentais a partir dos espectros parlamentares saídos das eleições.

Se esta é porventura a maior alteração estrutural que poderá ser introduzida numa futura constituição, muitas outras, fundamentais, mas também de pormenor, deverão ser objecto de discussão e votação na futura assembleia constituinte de que este regime precisa como de pão para a alma.

Desde logo, acabar com o lixo ideológico e hipócrita da verborreia marxista. Desde logo, acabar com o obtuso tribunal constitucional. Desde logo, acabar com o conselho de estado, criando em seu lugar um senado independente do presidente da república e do parlamento, com poderes limitados mas bem definidos, e cujos membros são automaticamente cooptados em função de critérios objectivos: ex-presidentes da república, ex-primeiros ministros, ex-presidentes do supremo tribunal de justiça, ex-presidentes da assembleia da república, ex-presidentes das regiões autónomas, ex-presidentes da assembleia nacional de autarquias, ex-presidente do conselho nacional das ordens profissionais, ex-presidente da associação nacional de sindicatos, ex-chefes de estado-maior do exército, marinha e força aérea, ex-comandante-geral das polícias, …

Estas ideias costumam constar de programas partidários, mas não é o caso!

O que vos proponho é simultaneamente mais simples e mais exigente: montar um laboratório sobre o futuro da nossa democracia, onde estas e outras questões sejam discutidas de forma livre, informada e programática.

Seis ideias para começar:
  1. NOVA CONSTITUINTE — NOVA CONSTITUIÇÃO
  2. GARANTIR A SEPARAÇÃO DOS PODERES DO ESTADO
  3. PODER LOCAL INDEPENDENTE — A FREGUESIA COMO AGRUPAMENTO DE GOVERNANÇA LOCAL, BASE DE UM PODER AUTÁRQUICO NÃO PARTIDÁRIO
  4. LIMITAÇÃO DE TODOS OS MANDATOS ELETIVOS
  5. LEI DE INCOMPATIBILIDADES REFORÇADA NA ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA E NO GOVERNO
  6. ELIMINAÇÃO DAS RENDAS, SUBSÍDIOS, ISENÇÕES E PRIVILÉGIOS ILEGÍTIMOS OBTIDOS ATRAVÉS DA CAPTURA DO ESTADO POR INTERESSES PARTICULARES

Segue o diagrama, em desenvolvimento, do futuro laboratório para UMA NOVA CONSTITUINTE

Diagrama (em desenvolvimento) do Laboratório NPD-lab (1.2) NPD-lab-1.2


Última atualização: 16 agosto 2012 17:41

O Pico da Ponte 25A

Fertagus, empresa privada de comboios liga com sucesso as duas margens da Grande Lisboa
Foto ©Andre Ferreira, Comboios.org

Com o petróleo definitivamente acima dos 100 dólares, e a caminho do patamar dos 120, e depois 150, 200..., acabou-se a festa automóvel e rodoviária. Tempo para o transporte público elétrico inteligente, sustentável e de “altas prestações”!

Os combustíveis em Portugal, de 2005 para 2011, tiveram um aumento médio de 35% para a gasolina, e de 46% para o gasóleo.

No mesmo período, o tráfego na Ponte 25 de Abril caiu 8,3% — 156 mil veículos/dia no ano de 2005, 155 mil em 2006, 155 mil em 2007, 153 mil em 2008, 143 mil em 2011. Esta queda deu-se já depois do sucesso verificado na travessia ferroviária proporcionada pela Fertagus, que quase duplicou entre 2000 e 2006.

Estas e outras conclusões resultam de mais um dos incisivos artigos de Rui Rodrigues sobre as alternativas inteligentes ao bordel da despesa pública excessiva e irracional que alimenta a burguesia rendeira do regime — praticamente a mesma que serviu o Salazarismo (1), embora muito mais pesada desde que corrompe o insaciável e tragicamente incompetente sistema partidário montado sobre os destroços da ditadura.
“Segundo um estudo sobre a terceira travessia rodoviária do rio Tejo, encomendado pela própria Lusoponte, no ano de 2005, a situação sobre o tráfego na Ponte 25 de Abril era a seguinte:

- Os utilizadores desperdiçavam 320 milhões de Euros, por ano, em combustíveis, para além do que ocorreria numa situação normalizada de tráfego;

- Cada utilizador gastava diariamente uma a duas horas a atravessar a Ponte, dependendo do número de acidentes, que já se aproximava da média de três por dia, o que correspondia a 160 mil horas/dia, ou a 58,4 milhões de horas/ano para o total dos utilizadores da Ponte.

- Em média e anualmente, eram lançadas na atmosfera 350 mil toneladas de dióxido de carbono (CO2) para além do que ocorreria numa situação normalizada de tráfego.

No mesmo estudo, concluía-se que na hora de ponta da manhã, no sentido Sul-Norte, a relação Volume de tráfego/Capacidade era, no ano de 2000, VT/C = 140% (1 hora de espera diária). Previa-se no referido estudo que, em 2007, VT/C = 159% (1,5 horas de esperas diárias). Em 2017, VT/C = 190% (2,3 horas de esperas diárias).

O estudo concluía que a resolução do problema passaria pela construção de uma terceira travessia rodoviária Algés-Trafaria. Estes dados estimados pela Lusoponte, em 2005, são muito interessantes e permitem avaliar com mais precisão o que mais tarde veio realmente a ocorrer.”
A prova do "erro" dos entusiastas da Terceira Travessia Rodoviária. Crise económica e Fertagus estagnam tráfegos nas duas pontes sobre o Estuário do Tejo

Entretanto…
“Em 1999, entrou em funcionamento o comboio na Ponte 25 de Abril, que permitiu criar uma nova ligação ferroviária entre as duas margens do rio Tejo, efectuando actualmente a conexão desde Setúbal (margem sul de Lisboa) até ao Areeiro (margem Norte), tendo o tráfego quase duplicado de 11,6 milhões de passageiros, no ano 2000, para 21,4 milhões em 2006 (mais 84,4%).”

“O projecto da circulação ferroviária na Ponte 25 de Abril melhorou a mobilidade entre as duas margens do Rio Tejo, criou centenas de postos de trabalho, directos e indirectos e beneficiou o ambiente por ter retirado 20 mil veículos na Ponte tendo permitido, além disso, economizar tempo e dinheiro aos 80 mil passageiros/dia deste novo meio de transporte, com uma pontualidade de 99,2%. Provavelmente, foi um dos melhores investimentos efectuados em Lisboa em termos de acessibilidades.

(…)

Se fossem comprados mais comboios, seria possível aumentar o número de passageiros de 80 mil para 120 mil, por dia. Tendo em conta que, na região de Lisboa, em média, cada viatura transporta 1,2 passageiros, o aumento de pessoas transportadas por via-férrea, na ponte, poderia diminuir o número de carros em muitos milhares. Esta opção seria muito mais barata, simples e eficaz do que construir uma nova travessia rodoviária.”

in Filas na Ponte 25 de Abril consomem 320 milhões de Euros em combustível, Rui Rodrigues, Público, 11.08.12 - 07:20

Energy Return on Energy Invested (ERoEI), in The Ultimate Pyramid.

Não se creia, porém, que o otimismo idiota sobre o futuro radioso do crescimento, alimentado nas duas últimas décadas pela especulação financeira e pelo aumento populista da massa monetária global, os quais conduziram a um endividamento exponencial das nações e, desde 2008, ao colapso do crédito nos EUA, no Japão e na Europa, nada tem que ver com a inépcia e a corrupção no nosso burgo lusitano, ou nos PIIGS. Na realidade, como neste lúcido artigo de Pater Tenebrarum se escreve:
“In the euro area, this method of overnight rate targeting has produced roughly a 130% expansion of the true money supply in the first decade of the euro’s existence – about twice the money supply expansion that occurred in the US during the ‘roaring twenties’ (Murray Rothbard notes in ‘America’s Great Depression’ that the US true money supply expanded by about 65% in the allegedly ‘non-inflationary’ boom of the 1920’s).

This expansion of money and credit is the root cause of the financial and economic crisis the euro area is in now. This point cannot be stressed often enough: the crisis has nothing to do with the ‘different state of economic development’ or the ‘different work ethic’ of the countries concerned. It is solely a result of the preceding credit expansion.”

in Pater Tenebrarum, The ‘Maturity Crunch’ (Acting Man, August 9, 2012)
O pico do petróleo, isto é, o fim do petróleo barato e de boa qualidade, que por sua vez induz o encarecimento inexorável de quase tudo — do petróleo pesado ao gás natural, passando pelo preço da água, das matérias primas e alimentares, até chegar finalmente ao preço do.... dinheiro— está na origem da iminente e catastrófica crise sistémica do Capitalismo!

É também por este motivo que as imparáveis doses de metadona financeira são cada vez menos eficazes, e o motor do crescimento afoga a cada subida do Brent, ou a cada desvalorização do dólar... e agora também do euro, frutos da expansão inflacionista da massa monetária destinada a impedir a cada vez mais provável rotura das redes de segurança social instaladas pelo Welfare State. Se estas ruírem, o colapso puro e duro de todo o sistema financeiro, económico, social e político do Ocidente será inevitável.

Os gráficos não mentem...

Bridgewater: os estímulos monetários produzem cada menos efeito no crescimento

De facto, como se lê no estudo da Bridgewater comentado pela ZeroHedge, os grandes especuladores e sobretudo os bancos têm sido protegidos da crise e até, nalguns casos, beneficiados com a mesma, mas não a economia, que parece ter entrado num lago de estagnação cujos limites estão cada vez mais longe.
The three contractions in global growth that have occurred since the financial crisis were offset by heavy blasts of fiscal and monetary stimulation by global governments and central banks. But each wave of support has also had less impact on global conditions than the previous wave. We remain concerned that the ability of those policy responses to stabilize the situation is diminishing. The third wave stabilized global growth after last summer’s dip and allowed for the bounce in global conditions and markets over the early part of this year – but its impact on global conditions was more modest than that of earlier waves of stimulation. As the third wave has ended, global growth has again rolled over.

— Bridgewater, in It's A Centrally-Planned World After All, With Ever Diminishing Returns, ZeroHedge, 08/11/2012 11:54.

Mesmo que a energia baseada na fissão dos núcleos atómicos do Tório fosse uma alternativa à energia nuclear baseada no Urânio, temos dois problemas eventualmente irreparáveis: as primeiras centrais nucleares de Tório integradas nas redes elétricas existentes nunca estariam operacionais antes de 2027-2030, e mesmo que estivessem, até lá, a probabilidade de resolver o problema da preponderância dos combustíveis líquidos no paradigma energético dominante desde 1930 parece muito baixa.

Quanto às ditas energias renováveis, além de caras e de se aproximarem rapidamente do seu pico de sustentabilidade, representam uma percentagem quase ridícula das necessidades diárias de energia à escala mundial.

Só há, assim, um caminho: reduzir os consumos! 

A eficiência energética será uma oportunidade de negócio irrecusável. Mas ainda assim, insuficiente. O mundo depois de 2015, 2020, ou no limite 2030, não passará sem racionamento de energia, o quer dizer, sem racionamento alimentar, sem uma dramática destruição do poder de compra das populações e mais do que provável destruição da classe média tal como a conhecemos ao longo do último meio século, o empobrecimento geral das populações e fome em larga escala — com o seu cortejo de pandemias e guerras.

Na pior das hipóteses haverá uma quebra súbita e brutal na curva de crescimento demográfico mundial, como previu Thomas Malthus em 1798, ao publicar An Essay on the Principle of Population. Falta saber qual será a causa eficiente de tal colapso demográfico. Uma III Guerra Mundial? Há que afirme a pés juntos que já está em marcha.


NOTAS
  1. Enquanto o IVA subiu para os 23% em muitos produtos essenciais, nomeadamente alimentares, ou ainda nas portagens das autoestradas, já nas portagens da Ponte 25A e Vasco da Gama, ambas administradas pela Mota-Engil/Lusoponte, permanecem a 6%. O motivo é óbvio: não prejudicar os lucros estimados deste escandaloso e intolerável monopólio. O génio da coisa, Joaquim Ferreira do Amaral, foi várias vezes ministro laranja neste regime, e depois administrador da Lusoponte. A empresa passou entretanto de mãos, para a Mota-Engil, comandado por outro génio deste regime e grande timoneiro do partido hoje chefiado pelo Jota Tó Zé Seguro, Jorge Coelho — "Quem se mete com o PS, leva!"

POST SCRIPTUM

Um vídeo conhecido mas oportuno  sobre o Peak Oil

sexta-feira, agosto 10, 2012

RTP ou Nova Constituinte?

Em democracia nada justifica uma máquina de propaganda audiovisual ao serviço do governo de turno

Já não precisamos da RTP, obrigado. Precisamos, sim, de uma Nova Constituinte!

Um editorial tem 4.000 caracteres. Para este bastariam 56: vender uma licença de televisão não é privatizar a RTP. Pedro Santos Guerreiro, in Negócios, 5 agosto 2012.

Desde que se começou a falar da privatização da RTP, escrevi sempre o mesmo:

UM — Não precisamos de qualquer televisão pública no estado atual das tecnologias de comunicação. Assim como se privatizaram todos os jornais do estado que chegaram a coalhar o panorama mediático nacional e já ninguém se lembra porque duraram tanto tempo, o mesmo ocorre com os ainda existentes canais de propaganda audiovisual ao serviço das teias governamentais de turno, entretanto transformados em verdadeiros nichos de emprego político e fonte de despesismo escandaloso e inútil do ponto de vista da informação. Os arquivos da RTP devem ir para uma secção da Biblioteca Nacional e servirem a cidadania, toda a indústria, assim como os estudiosos académicos.

DOIS — Os maquiavelismos sórdidos que o licenciado instantâneo Relvas tem procurado implementar a propósito da falsa privatização da RTP-RDP em curso, apenas desacreditam o governo do Jota Passos de Coelho e demonstram à saciedade que este regime corrupto já não tem emenda.

Esperemos que a Troika esteja suficientemente atenta para não deixar passar mais esta farsa e falsificação dos termos acordados do memorando que preside ao resgate em curso.

A democracia portuguesa ainda vigente degenerou e o texto constitucional a que falsamente obedece morreu. É preciso retirar as inadiáveis consequência do cadáver adiado que temos entre mãos e preparar um funeral condigno. Isto é, é urgente convocar uma NOVA ASSEMBLEIA CONSTITUINTE para refundar esta insolvente, incompetente e corrompida democracia populista.

A Constituição em vigor é uma inutilidade manifesta, atropelada à esquerda e à direita todos os dias.

Ou apostamos na União Europeia e rasgamos a atual farsa constitucional, completamente esburacada pelos alçapões que a cleptocracia e o populismo multiplicaram ao longo das últimas décadas. Ou, se não tivermos força democrática suficiente para mudar este regime bloqueado, espera-nos um rápido e desastroso declínio da economia e das liberdades, com a consequente expulsão do paraíso europeu.

O tempo de optar entre o PSD e o PS, ou entre a esquerda desmiolada e oportunista que temos e o resto do espectro partidário acabou. Tal como no tempo da ditadura, a única atitude livre e democrática que nos resta é anunciar e boicotar publicamente os próximos atos eleitorais, e reclamar a formação de uma NOVA ASSEMBLEIA CONSTITUINTE.

Queremos, ou deveríamos querer, uma democracia simples, responsável e transparente.

Queremos ou deveríamos querer uma verdadeira União Europeia, próspera, sustentável, livre, democrática, justa e regionalmente equilibrada.

Mas para aqui chegarmos, o primeiro passo é mesmo derrotar a cleptocracia instalada e os seus vassalos.

quinta-feira, agosto 09, 2012

Neuer TAP ;)

Será um dos doze A350 XWB da nova TAP?

Guten Morgen, meine Herren 01-2013 TAP Passagiere auf dem Flug nach Frankfurt, Istambul, Shanghai, Sao Paulo und Luanda. Dies ist Ihr Kommandeur, Ana Portela!

Bom dia, senhores passageiros do voo TAP 01-2013, para Frankfurt, Istambul, Xangai, São Paulo e Luanda. Esta é a vossa comandante, Ana Portela!

Segundo o Jornal de Negócios (7/8/2012), e Público (3/8/2012), a TAP comprou a VEM-Varig em 2005, em parceria com a Geocapital, de Stanley Ho e Jorge Ferro Ribeiro. A VEM, que hoje se chama TAP Maintenance&Engineering, tinha à data do negócio uma dívida fiscal ao estado brasileiro superior a 100 milhões de euros, que continua por pagar sete anos depois. Em 2007 a holding do senhor Ho, de cuja assembleia geral o "socialista" António Almeida Santos é presidente, desfez-se da participação. Alguém sabe porquê, e como?

Entretanto…

O Marcelo das televisões, que ora é Professor com P grande, ora ex-presidente do PSD, ora autarca, ora conselheiro de estado, ora jornalista —dependendo do que pretende em cada momento—, tornou-se num moço de recados. Dá pena vê-lo e ouvi-lo :(

Agora que o negócio macaísta da Portela e as esperanças do BPN em Alcochete, ambos com a bênção do BES, parecem estar definitiva e felizmente comprometidos, o Marcelo das televisões inquieta-se (imaginem!) com o rumo da privatização da TAP. Que podem entrar estrangeiros não europeus na TAP, alerta. Que os pilotos querem ficar com 20% da companhia, mas que grande "surrealismo" — remata.

É curiosa a sintonia desta personagem com outro moço recém-chegado ao palco da tragicomédia em que se transformou a democracia populista e corrupta portuguesa: António José Seguro.

Estas duas almas ainda não perceberam que foram atropeladas pelas próprias incongruências das malhas que tecem e de que foram tecidas.

Mas também o senhor Oliveira Martins do PS, segundo propalam as agências de comunicação, anda preocupado com a privatização da TAP. Mas onde vive esta alma de escriba do regime? Esqueceu-se já de que não fez o que devia ter feito enquanto presidente do Tribunal de Contas quando mandava Sócrates? Põe-se agora em bicos de pés? Para defender o quê? Só se for os tachos cor-de-rosa da ANA e do cadáver adiado da TAP.

Digo e repito: este regime incompetente e corrupto está definitivamente ferido de morte. Precisamos de uma Nova Constituinte.

Mas vamos ao que interessa! Que cenários se nos oferecem, enfim, para salvar a insolvente TAP?

  • Cenário 1: a Carochinha é rejeitada por todos os candidatos, ou o seu casamento é sabotado pelos desesperados vampiros que a deixaram no estado anémico (1) em que se encontra :(
  • Cenário 2: a Carochinha acaba por encontrar uma princesa disposta a casar com ela ;)

Como hoje estamos particularmente bem dispostos, rejeitamos o cenário 1, por ser uma alternativa estúpida que, apesar de tudo, um país endividado até ao tutano não pode eleger.

Resta-nos então esperar pelo sucesso do périplo de Álvaro Santos Pereira. E aqui a nossa aposta vai para um entendimento cordial entre a Lufthansa (maioria eficiente no capital da nova empresa) e a Turkish Airlines, como principais protagonistas financeiros e gestionários do negócio mediado pelo governo português.

Para fortalecer o alcance estratégico desta aliança podemos considerar ainda participações minoritárias oriundas de Angola e do Brasil, e o envolvimento acionista dos pilotos da TAP na nova companhia — garantindo-lhe à partida um elevado nível de prestações operacionais. Além do mais, o acordo de boa fé celebrado entre o sindicato dos pilotos e o então ministro "socialista" João Cravinho — está vivo, não está? pode testemunhar, não pode?! — a tal obriga.

Neste cenário não vejo aliás nenhuma necessidade de associar a privatização da ANA, que deveria ser apenas uma privatização do direito de exploração dos aeroportos — não da sua posse—, à alienação dos terrenos do aeroporto da Portela. O que o Estado pode e deve assumir clara e publicamente é a reserva dos terrenos da Campo de Tiro de Alcochete para um eventual futuro novo aeroporto de Lisboa, se as circunstâncias de crescimento de alguns dos países emergentes —Brasil, Angola, África do Sul, China (2)— e alternativas credíveis ao imparável encarecimento do petróleo, o justificarem.

Até lá, Portela + 1, ou seja, Portela + Montijo

E entretanto é preciso explicar ao beautiful Sérgio Monteiro, como se ele fosse muito burro, ou muito ignorante, que o país precisa de uma ligação ferroviária em bitola europeia entre Lisboa e Madrid. Ou mais precisamente, de uma rede nacional de bitola europeia, para comboios de mercadorias e para comboios de passageiros, ligada à rede espanhola de bitola europeia, que por sua vez está sendo ligada em pelo menos duas portas fronteiriças à rede francesa, italiana, alemã, polaca, de transporte ferroviário.

Para já é essencial ligar o Pinhal Novo ao Poceirão, e o Poceirão a Palmela, a Setúbal e a Sines, até Évora e até ao Caia, em nome das nossas exportações, mas também em nome das novas empresas espanholas, alemãs, holandesas, brasileiras, angolanas e chinesas que ligações ferroviárias rápidas e sem roturas de carga entre a frente portuária do país e o centro da Europa irão seguramente atrair.

A Alemanha precisa de acessos alternativos aos países emergentes em caso de saturação das saídas pelo Mar do Norte, ou em caso de guerra no Golfo Pérsico, ou ainda para contornar a chantagem intermitente do senhor Vladimir Putin de deixar os teutões a morrer de frio. As imensas reservas africanas de gás natural podem chegar a Sines e de Sines chegar à Alemanha, à Polónia e à Ucrânia através de um gasoduto transiberiano  (que em vez de atravessar a Sibéria, atravessa a Ibéria!)

Só fazendo da frente portuária atlântica entre Sines e Viana do Castelo um longo eixo estratégico de novas indústrias e plataformas logísticas globais, e se, repito, a questão energética for resolvida, haverá uma oportunidade viável e justificável de finalmente trasladar o aeroporto de Lisboa, da Portela para a margem esquerda do estuário do Tejo.


ÚLTIMA HORA

Brasil com acções fiscais de 210 milhões 
14 Agosto 2012 | 00:01 
Jornal de Negócios  Online
O novo accionista da TAP vai ter uma pedra no sapato que parece não parar de aumentar. Apesar da administração do grupo português continuar a apostar na reestruturação da TAP Manutenção e Engenharia Brasil, a dívida da subsidiária ao Estado brasileiro e as acções fiscais em curso ultrapassam os 300 milhões de euros, segundo as contas feitas pelo Negócios. Em 2011, os valores penhorados da TAP M&E Brasil ascendiam aos 21,3 milhões, menos 4,5 milhões do que no ano anterior, segundo o relatório e contas da TAP.

A TAP é ainda um grupo 100% público, mais precisamente do Estado português. Uma das suas ruinosas empresas, a TAP Maintenance & Engineering já viu penhorados bens por valor superior a 21 milhões de euros, e tem processos fiscais por valores superiores a 210 milhões de euros, movidos pelo lesado Estado brasileiro.

E agora? Quem paga? Uma vez mais, nós, os contribuintes? E o gaúcho continua onde está, a ganhar o que ganha e a dar entrevistas?

Por onde anda este governo? Foi todo para a pessegada do Pontal?! Alguém que comece a preparar rapidamente a sucessão do assalariado do BES que com a nossa proverbial distração deixámos chegar a PM!


NOTAS
  1. No Diário Económico de ontem (8-8-2012) divulgam-se números cada vez mais próximos do grande buraco da TAP anunciado pela blogosfera, e em particular pelo António Maria. A dívida acumulada da TAP aproxima-se rapidamente, como previmos, dos TRÊS MIL MILHÕES DE EUROS. Mas se tivermos presente que foram encomendados em finais de 2007, e confirmados no início deste ano, doze novos aviões A350 XWB (consultar as ordens de compra de A350 XWB confirmadas em junho de 2012 pela Airbus —PDF), cujo preço deverá rondar ou até superar os dois mil trezentos e oitenta milhões de euros (consultar tabela da Airbus neste PDF), a conta é simples: 2.325.000.000 (passivo) + 2.380.880.000 (aviões) = 4.705.880.000.
    Ou seja, para os nossos estimados seis mil milhões já só faltam 1.294.120.000€.

    No mesmo artigo do Diário Económico apuram-se estes números:

    Capitais próprios negativos em 343,2 milhões de euros.
    Dívida da empresa conhecida: 1.232 milhões de euros.
    Total do passivo: 2.325 milhões de euros.
    Prejuízos em 2011: 76,8 milhões de euros (+34,5% do que em 2010), justificados pelo desastrado gestor Fernando Pinto como consequência do aumento do preço do petróleo. Presume-se que as companhias que demonstraram lucros usam um combustível diferente (água?)

    Conclusão: entre passivos acumulados, ativos sobre avaliados, responsabilidades futuras e tudo que falta ainda esmiuçar, a nossa previsão continua a não ser exagerada! Mas o mais escandaloso é o gaúcho continuar a esconder os números do desastre a quem tem pago as contas: o contribuinte!
  2. Se os problemas do acesso a energias baratas e da gestão ecológica dos recursos forem resolvidos, então as perspetivas económicas da porta portuguesa da Europa mudarão completamente de escala. Vale a pena a este propósito ler todo o artigo da McKinsey que a seguir citamos.
    The original Industrial Revolution, hatched in the mid-1700s, took two centuries to gain full force. Britain, the revolution’s birthplace, required 150 years to double its economic output per person; in the United States, locus of the revolution’s second stage, doubling GDP per capita took more than 50 years. A century later, when China and India industrialized, the two nations doubled their GDP per capita in 12 and 16 years, respectively. Moreover, Britain and the United States began industrialization with populations of about ten million, whereas China and India began their economic takeoffs with populations of roughly one billion. Thus the two leading emerging economies are experiencing roughly ten times the economic acceleration of the Industrial Revolution, on 100 times the scale—resulting in an economic force that is over 1,000 times as big. 

    — in Winning the $30 trillion decathlon: Going for gold in emerging markets, McKinsey Quarterly, August 2012.

Última atualização: 14 agosto 2012 23:47

quarta-feira, agosto 08, 2012

Espanha, uma bomba-relógio

Este é porventura o mapa mais terrível da Europa em 2011 :(

Cortar o rabo (Espanha) e duas orelhas (Grécia e Irlanda) à Europa, só depois de morta!

It's also interesting to see how unemployment often does not follow national borders. Northern Italy, for example, seems to have more in common with the German-speaking area of Europe than with southern Italy. Sometimes, however, the national borders make a big difference, e.g. between Spain and Portugal. The European Unemployment Map, in Flute Thoughts (2012-08-07).

Se a Alemanha deixar cair a Grécia, acender-se-à o rastilho de uma verdadeira bomba-relógio chamada Espanha. É que em cima das dívidas que não param de crescer e aparecer de onde declaradamente não existiam —por exemplo, da rica Catalunha e da flamejante Comunidade Valenciana— o explosivo nível de desemprego no país vizinho mostra que o paraíso das autonomias que o mundo conheceu nas últimas três décadas poderá, de um orçamento de estado para o outro, desaparecer. O mapa dramático do desemprego é o mapa de uma Espanha de novo dividida em duas, onde a Esquerda e a Direita continuam a expor feridas dolorosas que não cicatrizam.

Longe vá o agoiro, mas à medida que a situação piora, e não tem deixado de piorar desde 2008, a nossa apreensão, enquanto país cujo grau de aproximação económica, financeira e cultural a Espanha nunca foi tão intensa, só poderá aumentar. Alguns dos meus grandes amigos são espanhóis, da Galiza, da Extremadura, das Astúrias, de Madrid, de Sevilha, de Barcelona. Temo, com eles, o que aí vem.

Sabemos todos que as mudanças democráticas na Ibéria (como na Grécia) foram superficiais, que debaixo das novas formas institucionais democráticas, o estado autoritário das elites financeiras sem concorrência, das elites rendeiras, das burocracias familiares, das corporações empresariais, profissionais e sindicais, continuou estruturalmente intacto, apesar dos novos sistemas representativos adoptados depois das quedas das ditaduras e ditadores nos idos anos setenta. Os partidos políticos, depois de capturados pela velha cultura das encomiendas, tornaram-se os novos veículos de uma inércia institucional antiga, de onde os velhos poderes não só não foram arredados, como cresceram em poder e sofisticação.

Em Portugal, por exemplo, o espírito medieval da espoliação plasma-se ainda e escandalosamente no modo quase pueril como os corruptos governos da indigente e demo populista democracia que temos encarregam o quase monopólio que fornece energia ao país —a EDP— de cobrar impostos dissimulados e taxas através das faturas emitidas mensalmente aos seus clientes. Que a EDP seja hoje uma empresa maioritariamente controlado pelo estado chinês não preocupa nada a burguesia compradora local, quem nos governa, e muito menos os narcisos partidários que diariamente se exibem nos múltiplos canais de propaganda do regime.

Não vale pois a pena esconjurar os males históricos que persistem e que são nossos, a nossa comum menoridade institucional, isto é, a falta de verdadeiras democracias na Ibéria, com teorias da conspiração sobre a Alemanha, de quem esperamos como coisa natural, que não é, a qualidade, robustez e fiabilidade dos seus produtos. E já agora não convém esquecer que a Alemanha é a última interessada na expulsão dos PIIGS. Seria preciso que as elites corruptas, o atavismo burocrático e as corporações oportunistas destas democracias enviesadas fossem completamente imutáveis para que tamanho desastre se tornasse inexorável. Por enquanto existem forças de mudança que podem fazer a diferença.

Uma explicação clara sobre o interesse alemão na defesa do euro e da unidade europeia decorre da sua dependência do grande mercado interno comunitário. Este, a transformar-se num mercado externo, acabaria por prejudicar seriamente as exportações alemãs. Como escreve Charles Hugh Smith, “Germany [...] aligned its largest import market, Europe, with its own currency.”

Mais esta citação:

There is a terrible irony in export-dependent nations being viewed as “safe havens.” Their safe haven status pushes their currencies higher, which then crushes their export sector, which then weakens their entire economy and stability, undermining the very factors that created their safe haven status.

As long as Germany stays within the Eurozone, Japan is the primary example of this dynamic. Should Germany leave the euro and return to its own currency, it too will begin orbiting the financial black hole of declining exports driven by a strengthening currency in a global recession.

Charles Hugh Smith
While All Eyes Are on Europe, Japan Circles a Black Hole (August 7, 2012)

Os que genuinamente lutaram contra as ditaduras e desejaram a democracia na península ibérica já não têm forças suficientes para lutar. E os mais novos, que julgam viver em plena e saudável democracia, acabam de descobrir, espantados, uma realidade inesperada que mal conseguem perceber e contra a qual ainda não estão preparados para lutar. É aliás mais provável que emigrem antes de pensarem mudar os estados falhados onde afinal viveram até agora sem o saberem.

Esperam-nos a todos tempos difíceis. Mas por enquanto, repito, ainda existem algumas forças de mudança que podem fazer a diferença. Assim as saibamos reunir!


Última atualização: 8 agosto 2012 10:03

sábado, agosto 04, 2012

Depois da EDP

Esquema de reator nuclear de tório arrefecido com flúor líquido (LFTR)

M. King Hubbert — a linha do tempo da energia fóssil (1956)

Nuclear ou nada?

As energias fósseis tornaram-se demasiado caras, poluentes e escassas. Os painéis solares ocupam demasiado espaço e são pouco eficientes. As ventoinhas eólicas dependem do capricho dos ventos. Mais barragens é o mesmo que assassinar os rios e os essenciais ecossistemas estuarinos e entregar a água à especulação das máfias financeiras. As soluções nucleares conhecidas são demasiado perigosas. Mas haverá alguma maneira de produzir energia nuclear segura, barata e abundante, sem colocar em causa a sustentabilidade ecológica do planeta?

Parece que sim — e desde que a energia nuclear foi descoberta!

Segundo os defensores de uma alternativa nuclear segura ao colapso induzido pelo Pico do Petróleo, as centrais nucleares do futuro, muito antes de chegarmos à fusão nuclear, deverão enveredar pela fissão dos núcleos atómicos do tório. Esta alternativa baseia-se numa interação estável entre tório, urânio-233 e flúor líquido, a qual não serve, ao contrário das reatores nucleares convencionais, para enriquecer urânio com vista à fabricação de armas de destruição maciça. Esta é tristemente, a razão pela qual os reatores baseados na fissão de tório foram preteridos relativamente aos reatores de fissão alimentados com urânio-238.

“As we have for most of human history, we stand at the edge of an energy crisis. The methods by which we have powered our society have come to a limit, and a change is necessary. Seven hundred years ago in England, the energy crisis was caused by massive deforestation and a lack of firewood. It was solved by turning to coal, a filthy, inexpensive, and abundant fuel. But as the skies darkened over the cities of England and the United States, people turned to gas and oil to improve the situation. Now all of these fossil fuels will have to be replaced due to the environmental damage they cause and the social, political, and financial instability they engender.

In one of the great historical tragedies of human history, this marvelous new energy source was discovered during a time of war, and was immediately put to work for destructive means. This colored and affected forever how world leaders and the public would view this incredible discovery, and is a legacy that we find ourselves, even seventy years later, still trying to move past.”

A Plan to Power the World with Thorium. Energy From Thorium.




A crise energética que tem vindo a perturbar o crescimento e a estabilidade da economia mundial desde 1973 é uma crise real e um problema de fundo. Confundi-la com um mero efeito da especulação e da ganância dos produtores de petróleo, gás natural e carvão, é uma ilusão perigosa.

A virulência dos movimentos especulativos existem precisamente por causa de dois fenómenos combinados: o aumento da procura, resultante do crescimento demográfico e económico mundiais, e o declínio cada vez mais evidente do petróleo de boa qualidade, fácil acesso e barato.

A nossa civilização não sobreviverá como a conhecemos se não encontrar rapidamente, isto é, no prazo de uma década (2020) ou duas (2030), novas fontes de energia abundante, relativamente segura e barata.

As energias renováveis mais conhecidas e em uso são intrusivas, instáveis, caras e insuficientes. Por outro lado, a necessária eficiência energética que as economias, os governos e as pessoas terão que interiorizar como absolutamente imprescindível à sustentabilidade global da vida neste planeta é parte da solução, mas não resolve o problema do paradigma que está na base da melhoria da qualidade de vida dos seres humanos nos últimos duzentos e cinquenta anos: o acesso, desenvolvimento, e produção de formas condensadas de energia facilmente acessíveis, abundantes, transportáveis e baratas. Se este paradigma se romper, o retrocesso civilizacional, precedido de um rápido período de colapsos económicos, financeiros e sociais, será inevitável.

A ideia de que podemos esperar pela liquefação dos gelos polares para chegarmos a novos depósitos de hidrocarbonetos é simplesmente risível, para não dizer suicida. Por outro lado, à medida que os petróleos pesados, ou que se encontram a profundidades marítimas cada vez mais difíceis de aceder e controlar com segurança, aumentam em percentagem nos barris de crude colocados nos mercados, o preço da energia, de toda a energia, dispara. E se abaixo dos 60 dólares por barril os países que vivem preguiçosamente da mono extração de crude e gás natural colapsam, acima dos 100 dólares é a vez de a economia mundial abrandar, ver crescer as suas dívidas e acabar por entrar em recessão, ou mesmo em depressão — como a que ameaça mergulhar neste momento os EUA, o Japão e a Europa.

Não tenhamos dúvidas, por mais grave e escandalosa que seja a corrupção instalada nas sociedades contemporâneas, a começar pela que beneficia os mais ricos dos mais ricos, e os mais poderosos dos mais poderosos, e os mais oportunistas dos oportunistas, a verdade nua e crua é que sem uma transição do atual paradigma energético para outro mais sustentável mas igualmente abundante e barato, não veremos luz ao fundo do túnel.

Para os mais ricos e poderosos fica também um aviso: se pensam que poderão sobreviver sem classes médias, ou reconduzir a esmagadora maioria das populações à miséria, o vosso engano é redondo e terrível. Nada do que hoje rodeia o vosso conforto poderia existir se não houvesse uma redistribuição aceitável da riqueza produzida. Pensem apenas em termos de economia de escala. O que é rentável para sete mil milhões de almas, não é rentável para setecentos milhões, menos ainda para setenta milhões, e impensável sequer para os sete milhões dos pornograficamente ricos deste mundo.

Talvez seja, pois, o momento de discutir sem preconceitos a possibilidade de desenvolver uma energia nuclear abundante, pacífica, barata e segura. O futuro da EDP está à vista, e não é brilhante!

EDP: 2012 abaixo de 2004

A EDP vale hoje menos do que em 2004
Gráfico: Digital Book (edição: OAM)

De crise do Subprime para cá, a EDP esteve sempre a cair, salvo durante os episódios Horizon/Sachs e venda da Golden Share à Three Gorges
Gráfico: Jornal de Negócios (edição OAM)

De 2009 para cá a EDP-R esteve sempre a cair, salvo durante o espectáculo da privatização
Gráfico: Jornal de Negócios (edição OAM)

Bastaram menos de treze milhões de euros para fazer brilhar a EDP no PSI20. Não é preciso dizer muito mais...

O PSI-20 fechou a subir 1,41% para 4.633,45 pontos, com 13 acções a subir e seis a descer. Entre os congéneres europeus a tendência foi igualmente de ganhos acentuados, com Madrid e Milão a destacarem-se ao avançarem mais de 5%. A EDP foi a acção que mais impulsionou o índice nacional, ao subir 4,28% para 1,901 euros, uma evolução que foi acompanhada pela EDP Renováveis, que avançou 1,87% para 2,45 euros. A subida das acções da eléctrica liderada por António Mexia surgiu apesar da Fitch Ratings ter cortado o “rating” da dívida da empresa, citando o ritmo de desalavancagem da empresa e as incertezas regulatórias — in Jornal de Negócios online.

A notícia podia ter sido escrita doutra maneira. Por exemplo: PSI20 fecha no positivo, mas longe das subidas de Madrid e Milão. Seria uma informação mais correta e que ajudaria a pensar melhor.

Depois, anunciar a EDP como estrela, uma vez mais, quando tudo aponta para um destino incerto nesta sobre endividada empresa, já começa a cheirar a encomenda. Está, aliás, na altura de investigar a história recente desta outrora empresa pública que durante décadas não deveu nada a ninguém e prestou modestamente bem os seus serviços à comunidade. Hoje é um monstro arrogante, destruidor de patrimónios naturais, caro, que vive de rendas pagas pelos contribuintes mas sem explicação convincente que as justifiquem, e que depois de vendida ao estado chinês continua a perder valor todos os dias.

Esta é que é a verdade. Os empurrões para cima que vai levando na tentativa de conter o dique da desgraça, é do mesmo género daqueles que têm tentado estancar, sem sucesso, a agonia do BCP. No PSI20 de hoje, para impedir que as ações do BCP caíssem abaixo dos nove cêntimos foram precisos pouco mais de sete milhões de euros. E para fazer brilhar a EDP deram-se ordens no valor aproximado de 12,9 milhões de euros. Até onde irá esta farsa?

O que conviria fazer neste momento de colapso é investigar com meios e urgência as causas de algumas das grandes delapidações que atingiram o país: BPN, BPP, BCP, PPPs, etc.

O BCP parece-me claramente um caso de polícia por esclarecer. Qual foi o papel da Caixa Geral de Depósitos no assalto ao BCP? Quem organizou, quem executou, quem beneficiou e que resultou no fim desta falhada tentativa de dotar o PS, ou parte dele, de um braço financeiro?

No caso da EDP urge investigar e explicar direitinho o que foi a operação Horizon Wind Energy.

Num momento em que os banksters já sabiam da implosão iminente da bolha do subprime e do destino a curto prazo da bolha associada às energias renováveis, a Goldman Sachs, proprietária da empresa dedicada às então subsidiadas energias alternativas, nomeadamente eólica, vende a Horizon Wind Energy, numa operação relâmpago aparentemente inexplicável, a uma pequena empresa, a EDP, de um pequeno país chamado Portugal.

Os gráficos bolsistas não enganam: o início mediático da crise imobiliária, com os primeiros write downs de ativos subprime do HSBC, em fevereiro e setembro de 2007, coincide com a preparação e posterior venda da Horizon Wind Energy (HRE) à EDP, cujos títulos em bolsa sobem tipicamente no frenesim da especulação.

A Goldman Sachs comprou em 2005 a familiar e texana Zilkha Renewable Energy, mudando-lhe o nome para Horizon Renewable Energy (HRE), a qual foi subindo de valor até finais de 2007, momento em que a bolha especulativa atingiu o pico.

A Goldman Sachs usou assim a HRE como uma das suas muitas vacas financeiras durante a expansão da bolha imobiliária —acompanhada aliás por uma não menos especulativa bolha verde, cujos contornos haviam sido já claramente descritos em 2007.

Percebido o pico tornou-se inadiável despachar o problema para uma vítima qualquer. Essa vítima (inocente?) foi uma das principais empresas estratégicas portuguesas, a EDP.

Passada a euforia inicial desta extraordinária e nunca explicada compra de novo rico, a EDP iniciaria um ciclo descendente, imparável até hoje, salvo no interregno da venda ao estado chinês do que restava ainda de público na empresa. No dia 3 de agosto de 2012 a principal empresa energética instalada em Portugal vale menos do que valia no mesmo dia de 2004!

Se isto foi apenas um negócio desastroso para Portugal, então o seu principal responsável, António Mexia (1), deveria ser chamado a responder pela operação. Se foi mais do que isso, então é um daqueles casos que claramente marcam o fim deste regime cleptocrata e nepotista (2).

Há quem afirme, com dados abundantes, que a a Goldman Sachs martelou os livros da dívida soberana grega depois de ter estimulado o seu crescimento galopante. Há quem diga, com dados firmes, que os Estados Unidos, através dos seus braços financeiros (Goldman Sachs, Bank of America, Citi bank, JP Morgan, etc.) e agências de notação fieis, tentaram enredar alguns países europeus no mesma armadilha do endividamento e corrupção de elites que outrora lançaram a vários países latino-americanos. “Nas meigas non creo, pero haberlas hailas”.

Mas quem a esta hora deve estar mesmo a torcer a orelha são os chineses!


NOTA
  1. Só dois dias depois da publicação deste escrito li, por envio de um amigo, o depoimento do Professor Pinto de Sá (IST) sobre o calibre do personagem Mexia, e dos danos que casou à EDP. É realmente muito pior do que imaginei!
  2. A anunciada contratação de uma sobrinha-neta de Eduardo Catroga para a Fundação EDP revela até que ponto é difícil nos dias que correm, a um protagonista tão relevante da nomenclatura vigente, arranjar um emprego para um ente certamente querido e familiar através de um simples telefonema que não seja para a própria empresa que dirige. O regime atingiu, como se vê, o grau zero da decência. Já nem o nepotismo sobrevive sem descaramento.


Última atualização: 6 julho 2012 18:19