sábado, agosto 25, 2012

Superavit?

Há quem tenha visto máquinas destas a sair do país recentemente.

Os números não dão para festejar

2012, janeiro-junho
— importações de bens e serviços: 28.033M€ + 5.172M€ = 33.205M€
— exportações de bens e serviços: 22.846M€ + 8.590M€ = 31.436M€

O texto que vem publicado no sítio do governo é uma autêntica contorção retórica para tentar vender o invendável, isto é, que Portugal tem vindo a colocar a sua balança comercial em ordem, com as exportações a superar as importações. Em primeiro lugar, os números do INE mostram claramente que continuamos a importar mais do que exportamos. Por outro lado, se ficamos a saber o que agravou o peso das importações —alimentação, bebidas, combustíveis e lubrificantes—, já na melhoria da performance das exportações falta esmiuçar os agregados compilados.

"Em junho de 2012, as exportações e as importações de bens e serviços registaram variações homólogas de 5,6% e de -4,6%, respetivamente, valores que comparam com variações homólogas no mês anterior de 4,6% para as exportações e de -10,2% para as importações. No mês em análise, a taxa de cobertura das importações pelas exportações de bens e serviços situou-se em 105,6%. Ainda em junho de 2012, as exportações e importações de bens registaram variações homólogas de 9,1% e de -2,1%, respetivamente. No mesmo mês, as exportações de serviços registaram uma variação homóloga de -2,2% e as importações de serviços registaram uma variação homóloga de -16,1%.
De janeiro a junho de 2012, as exportações e as importações de bens e serviços registaram variações homólogas de 6,4% e de -5,8%, respetivamente. A taxa de cobertura das importações pelas exportações de bens e serviços situou-se em 97,7%. Para o mesmo período, as exportações e importações de bens registaram variações homólogas de 9,0% e de -5,3%, respetivamente. No período em análise, as exportações de serviços registaram uma variação homóloga de 0,1% e as importações de serviços registaram uma variação homóloga de -8,7%."
In  Portal do Governo (ver Boletim do BdP)

Depois deste arrazoado inútil vamos ao que interessa.

  1. O valor das importações de produtos alimentares e bebidas sofreram, entre janeiro e junho deste ano, uma variação de +88,2%, repito +88,2%!  Este, sim, é um número que deveria preocupar o governo, em vez de o levar a filtrar fantasias demagógicas sobre o comportamento atípico das nossas importações e os efeitos depressivos da austeridade orçamental, do terrorismo fiscal e da pulhice financeira em curso. O Index Mundi mostra uma subida de preços dos Food and Beverage, entre janeiro e julho deste ano, na ordem dos 10,8%, e uma subida do preço do trigo na ordem dos 25,8%. Como explicar os +88,2%, senhor Gaspar, senhor ASP, senhor Passos de Coelho?
  2. A importação de combustíveis e lubrificantes, apesar do decréscimo do uso e da circulação automóvel, tiveram uma variação em valor de +16,0%. Que tal, de uma vez por todas, em vez de ler as patetices do Expresso desta semana sobre a abundância petrolífera mundial, optar por uma viragem estratégica e urgente do nosso modelo de transportes e mobilidade? Com a fiscalidade verde a pisar duro além-Pirinéus, a importação de alimentos pesará cada vez mais negativamente na balança comercial, e os TIR, depois de novas guerras no asfalto, acabarão por encostar. Já alguém pensou, nomeadamente no parlamento, que este assunto é demasiado grave para continuar cativo dos gabinetes do costume?
  3. A grande queda nas importações, por sua vez, dá-se no material de transporte e acessórios, presumo que e sobretudo na importação de automóveis e respetivos acessórios — um ajustamento inegável, que poderia ser ainda mais acentuado e benéfico se acabassem com o bacanal que é a importação de automóveis de luxo para a burocracia do estado e das empresas públicas e fundações que vivem exclusivamente à custa do património público e dos impostos.
  4. Por sua vez, o aumento de 3,5% nas exportações de material de transporte e acessórios deve-se provavelmente à saída em massa de material de transporte usado em obras públicas!
  5. Finalmente, a saída para fora do país de máquinas usadas nomeadamente na construção civil e em obras públicas teve, imagino, um importante impacto na subida de 23,5% das exportações de bens de capital e acessórios (que incluem, segundo o BdP, "máquinas, exceto material de transporte".)
Sobre a farsa do défice orçamental, estamos conversados! Repito o que escrevi no Facebook: o ministro Gaspar, se fosse sério, demitia-se. Não por não ter conseguido aumentar as receitas, que conseguiu, apesar das perdas no IVA, mas por não ter baixado a despesa onde mais era preciso (nas denominadas rendas excessivas), como prometeu à Troika e a todos nós, submetendo-se, com todo o governo, a começar pelo subalterno do BES que hoje é PM, aos rendeiros e burocratas de sempre. No entanto, ministro Gaspar, ainda tem uma hipótese de emendar a mão. Sabe porquê? Porque a situação económica, social e financeira de Portugal vai agravar-se no próximo ano, e muito!

4 comentários:

Anónimo disse...

Para bem das nossas carteiras, espero que a troika continue por cá muitos e bons anos!Por outro lado, se a troika ficar por cá muitos anos, é por não serão bons anos. :)

Cravo disse...

Não esquecer também uma parcela significativa no aumento das exportações que tem sido o ouro. A multiplicação de estabelecimentos de compra de ouro tem servido para recolher, entre outra joalharia, as alianças de casamento pelo país fora e derretê-las para vender ao estrangeiro em lingotes.
Evidentemente é um negócio com os dias contados, porque o ouro não cresce nas árvores:
http://www.dinheirovivo.pt/Economia/Artigo/CIECO056021.html

António Maria disse...

É bem certo! E ainda o ouro e outros metais raros da sucata informática (computadores, telemóveis, etc.) que sai do país para extração destes valores preciosos em países sem normas de segurança e proteção do trabalho (Índia, China, Vietnam, etc.)

JS disse...

"... Also, China was the world’s largest producer of gold in 2011. Just sayin’...."
Charles Lane Editorial Writer
The failing case for gold

http://www.washingtonpost.com/opinions/charles-lane-the-failing-case-for-gold/2012/08/27/

O Ouro e as moedas-fiat ...