sexta-feira, outubro 05, 2012

A III República morreu

Cavaco: senhor guarda, apetecia-me algo...
Polícia: entendo, senhor

©ASN para O António Maria

O fiasco de 5 outubro de 2012

A comemoração do 5 de outubro, reservada à nomenclatura que levou o país à ruína, correu mal. Bandeira de pernas para o ar, uma senhora aos gritos, e uma promissora cantora lírica entoando uma ária de Fernando Lopes Graça... ao fim desta República, presumo.
A cerimónia no Pátio da Galé foi marcada por um incidente. No final do discurso do Presidente da República, Cavaco Silva, uma senhora tentou chegar junto dos lugares dos convidados principais. SIC-N e RTP.
Os fins de regime têm sempre este ar. As elites vivem nas nuvens, deslocam-se em viaturas de luxo com motorista, ouvem ritualmente discursos de circunstância e no fim beberricam espumante rosé, devoram folhadinhos de gamba e entornam chantilly sobre as gravatas e os decotes. Desta vez, a nomenclatura anda muito irritada com o Gaspar, por causa da fiscalidade progressiva. Basta pensar nas vivendas cor-de-rosa implantadas em plena zona protegida da serra de Sintra para perceber o alcance da diatribe oratória desferida hoje pelo apparatchik chamado António Costa. Falou do que o preocupa e preocupa a sua tribo alargada —a partidocracia. Acha que o sacristão pouco Seguro que hoje fala em nome do PS não chega para tanta encomenda desesperada. Entendo perfeitamente!

Os bem pagos juízes e procuradores, os bem pagos reitores, os bem pagos gestores, e os que não sendo tão bem pagos têm, apesar disso, a possibilidade recorrente de cobrar comissões escondidas por mexeram com tanta facilidade na massa orçamental (desde que os deixem renovar eternamente os mandatos, claro!), acorreram à cerimónia. É o pequeno preço a pagar por servir os banqueiros — perdão, os populares, ou melhor, o povo!

Cavaco Silva iça bandeira republicana de pernas para o ar. Estava escrito!

A monarquia constitucional, corrompida até aos ossos, não caiu à primeira pancada. Levou aliás onze anos a cair, depois que o anúncio do seu funeral foi feito no Porto, a 31 de janeiro de 1891, nas vésperas da bancarrota do país. Nesses onze anos de agonia, a tropa partidária que então comandava a desgraça continuou na galhofa parlamentar, e o rei em caçadas.

A I República, que havia proibido o voto às mulheres, andou de golpe de estado em revolução, de revolução em guerra civil, enviou uma expedição militar para o matadouro da I Guerra Mundial, criou uma espiral de inflação nunca vista, e não morreu sem antes coligir um bom número de assassínios, incluindo um fundador do regime, um primeiro ministro e um presidente da república

Desta vez não vai demorar onze anos, nem dezasseis. Palpita-me que esta III República incapaz, corrupta e moribunda não irá além de 2015. As pessoas honestas e inteligentes que estão no PSD, no CDS/PP, no PS, nas empresas, nos escritórios e nos ateliês já não têm muito tempo a perder. O poder já anda escondido — mas nem assim! A multitude está na rua, e vai continuar a engrossar o descontentamento nacional perante uma democracia capturada pela estupidez e pela ganância de sempre.

A esquerda parva acha que os ventos lhe são favoráveis. Engana-se, como hoje se viu.

É preciso ir preparando, com lucidez e coragem, o nascimento da 4 República!


POST SCRIPTUM

Mário Soares faltou, que digo eu, boicotou as cerimónias privadas do 5 de outubro. E fê-lo com estrondo. Tiro-lhe o chapéu pela lucidez e instinto político. Como disse: "Quem tem medo compra um cão!"


Última atualização: 6 out 2012 12:41

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