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terça-feira, novembro 26, 2019

A TAP tão bonitinha...

Humberto Pedrosa e David Neeleman donos de 45% da TAP, até ver...

Quem Quer Casar com a Carochinha?

Notícia do JdN: “Saída de Neeleman da TAP preparada para o primeiro trimestre de 2020” (1)

Desfecho previsto (2), lógico, e agora confirmado (3): David Neeleman, isto é, a Atlantic Gateway, isto é a brasileira Azul, a primeira companhia aérea brasileira em destinos, a segunda em frota, e a terceira em passageiros, vai despachar a posição que detém na TAP. Resta saber quem vai querer casar com uma carochinha coxa, com um buraco na asa de quase 4 mil milhões de euros... O Barraqueiro não será com certeza!

Comentário de um companheiro que sabe destas coisas e vê o futuro com uma bola de cristal —a quatro mãos ;)

Acho piada às alternativas sugeridas quanto a eventuais parceiros.

A Lufthansa desde o road show do ex-CEO Fernando Pinto, na sequência do PEC IV, disse logo ao gaúcho que era ele que tinha de ir ter com a Lufthansa e não o contrário. O gaúcho Pinto, à época, andava com aquela conversa de “quem quer casar com a TAP, uma noiva muito bonitinha”. A Lufthansa que pertence ao grupo da Star Alliance, não se imagina que tenha alterado a posição. Ou seja, de não interesse no casamento com uma noiva sem dote.

A AirFrance pertence a outro grupo e faz parceria com a KLM. Vão dividir frotas para melhor gestão de equipamento. A KLM, com a frota da Boeing, e a AirFrance, com a da Airbus, havendo ainda alguns B777 para as rotas principais.

Quanto à British Airways, na realidade, tratando-se de um episódio andaluz, e da América Latina, a Iberia que o jornalista que deu a notícia escondeu, está a finalizar a compra da Air Europa. Com esta empresa no bolso (do Grupo Globália) fica com o aeroporto de Barcelona e irá atacar o mercado aéreo iberoamericano que lhe faltava dominar na América do Sul: o Brasil! Se a TAP for saneada dos 4 mM€ acumulados em dívida de longo e médio prazo, é possível (mas quem avança com este cacau todo?) Por outro lado, a BA-Iberia, isto é o IAG, só aceitaria considerar este negócio se o Costa e a sua malta (a mulher do Medina, etc.) ficassem clara e definitivamente fora do baralho.

A UNITED Airlines, nem pensar. Não se vai prender pelos 25% da TAP (que Neeleman detém), tem mais que fazer.

A TAP é neste momento uma incumbente da AZUL para o Brazil e para os EUA, estando mais dependente desta do que a AZUL da TAP.

O governo ao querer fiscalizar os brasileiros na administração executiva da TAP, nomeando mais um boy (a mulher do Medina), supostamente para controlar a gestão gaúcha, foi a gota que fez transbordar o copo...

Entretanto, a malta da engenharia da TAP está toda a ser corrida a osso para dar espaço a engenheiros do Brasil. Imagino que a engenharia da TAP deve estar a fazer grandes festas.

O Zé Povinho que vá preparando os 4 mM€ para se chegar à frente.

E ainda queriam oferecer à TAP um NAL da Ota na Ota, e depois da Ota em Alcochete, ou seja, mais 10mM€ de mão beijada (aeroporto e acessos).

O que vale é que a malta votou PS e agora vai ter de pagar. E pagar bem. Sabe bem pagar tão pouco. Pingo Doce, venha cá!


PS: imagino que o PCP, o Bloco, o Livre, o PAN e o que resta do couve ecológica do PCP vão exigir a nacionalização da TAP. Mas já foi, não se lembram?

POST SCRIPTUM

David Neeleman está claramente a posicionar-se para a venda, salientando as mais valias que trouxe para a TAP

“Eu pessoalmente em conjunto com a Azul, empresa que eu controlo, acreditamos no futuro da TAP e detemos hoje direitos equivalentes a mais de 70% dos direitos económicos da TAP”, salienta.

... “ao longo das últimas décadas o Estado Português fez várias tentativas para privatizar a TAP”

[mas] “durante muitos anos não conseguiu encontrar nenhum interessado em investir na TAP dada a sua situação de iminente falência e falta de tesouraria”.

Como recorda, em novembro de 2015 a empresa tinha a frota mais antiga da Europa, devia cerca de 900 milhões à banca, com aproximadamente 80% a vencer em menos de 1 ano, devia 183 milhões a fornecedores, tinha apenas 79 milhões em caixa, não tendo recursos para pagar os salários dos seus trabalhadores do mês seguinte”.

[...]

David Neeleman aponta ainda que quando decidiu concorrer à privatização “criei um plano estratégico, convidei um sócio português, e reuni capital em conjunto com a Azul e seus acionistas para poder dar um futuro à TAP. Logo na primeira semana sob a nossa gestão, pagámos cerca de 100 milhões de euros de dívidas anteriores à nossa entrada e continuamos a fazê-lo. Hoje a TAP tem 245 milhões de euros em caixa, mais de três vezes o que tinha na data da privatização”.

Em seu entender, o futuro “passa por uma transformação significativa da empresa, continuando a reduzir o peso da sua dívida, reduzindo a dependência relativamente aos mercados africanos e brasileiros, renovando integralmente a sua frota, tornando-a mais competitiva e sustentável num mercado cada vez mais competitivo e no qual desde 2017 fecharam cerca de 92 companhias de aviação em todo o mundo”.


—in Jornal de Negócios, 26/11/2019 16:54


NOTAS

1. https://www.jornaldenegocios.pt/empresas/transportes/aviacao/detalhe/saida-de-neeleman-da-tap-preparada-para-o-primeiro-trimestre-de-2020?ref=DestaquesTopo

2.
https://zap.aeiou.pt/prejuizos-tap-neeleman-governo-281288

3.
https://observador.pt/2019/11/26/acionista-da-tap-david-neeleman-quer-vender-a-sua-parte/

quinta-feira, março 07, 2019

Costa mau e Costa péssimo

António Costa - O Programa da Cristina - captura de écrã (editada)

António Costa é um verdadeiro ás, a fugir


Mariana Mortágua tem razão: “O que está em causa é o negócio de venda do Novo Banco. O Governo não pode chutar para o Banco de Portugal e para o anterior Governo as responsabilidades”, diz, lembrando que o Bloco sempre avisou que esta venda iria dar problemas, porque o privado iria usar a garantia.

A resolução do BES foi decidida em Bruxelas, não em Lisboa. O BES não recorreu ao BCE, quando podia, pela razão simples de que não quis ou não pôde (...) mostrar os livros daquele polvo medonho, condição para qualquer operação de reforço de capitais autorizada por Bruxelas. Por outro lado, Portugal, atado ao programa de estabilização financeira da Troika, não tinha poder para decidir resgatar o BES com dinheiros públicos, o tal empréstimo que Ricardo Salgado foi pedir a Passos Coelhos e ao Aníbal. Ou seja, ao contrário do exemplo que Ricardo Salgado evocou na sua última entrevista radiofónica, desde que Portugal entrou em pré-bancarrota, o Banco de Portugal, subordinado ao Banco Central Europeu, deixou de ter plena autonomia para tomar certas decisões, tal como o nosso governo perdeu desde o Memorando de Entendimento de 2011, e não recuperou até hoje, autonomia suficiente para tomar certas decisões de natureza financeira. Em suma, o Banco de Portugal não é o Banco de Inglaterra, e António Costa, e antes dele Pedro Passos Coelho e José Sócrates não são a Rainha de Inglaterra. Por algum motivo pouco estudado surgiu o Brexit!

No entanto, uma vez realizada a experiência da resolução do BES, de que a DG COMP e o BCE foram decisivos e co-responsáveis protagonistas, as trapalhadas que vieram depois (venda do Novo Banco à Lone Star, etc.) já não são, de facto, da conta da toda poderosa direção geral da concorrência europeia, a DG COMP, mas sobretudo do governo que liderou o negócio com o famigerado abutre financeiro. 

António Costa, que sabe muito bem que pautas lhe foram transmitidas pelos banqueiros portugueses no almoço do Ritz de 16 de novembro de 2015, não pode tentar tapar o Sol com a peneira. Afirmou hoje, textualmente, o seguinte:

“Eu creio que desde a data da resolução em 2014 todos temos o dever de não estar surpreendidos com o que venha a acontecer com o Novo Banco: ficou claro qual era o estado da instituição financeira e tudo aquilo que aconteceu desde então tem permitido perceber que quando se fez a separação entre o chamado banco mau e o chamado banco bom, verdadeiramente o que ficámos foi com um banco mau e um banco péssimo”, apontou, referindo-se à operação realizada ainda na vigência do anterior Governo PSD/CDS-PP.” 
“Nós temos de ir à raiz do problema, a auditoria que foi ordenada pelo Governo será em tudo idêntica à da Caixa Geral de Depósitos e sobre a fase anterior à resolução”

Esta manobra só pode ter uma intenção: matar à nascença o apuramento da verdade sobre as responsabilidades de António Costa no buraco negro em que a venda do Novo Banco se transformou, sugerindo que uma parte das mesmas poderão estar, como de facto estão, em Bruxelas. Mas falta, ainda assim, retirar as necessárias conclusões sobre o que fazer ao 'banco péssimo'. E este é um dossier que pertence exclusivamente ao primeiro ministro da geringonça.

Convém, enfim, recordar o que o primeiro ministro disse sobre a venda do Novo Banco.

 

quinta-feira, maio 03, 2018

Até tu, Galamba?


João Galamba, porta-voz do PS, afirmou esta quarta-feira que o caso de José Sócrates “envergonha qualquer socialista, sobretudo se as acusações vierem a confirmar-se”. É, assim que, esta quarta-feira, o segundo dirigente socialista - depois de Carlos César aos microfones da TSF - a falar em vergonha relativamente ao processo que envolve o antigo primeiro-ministro. 
Disse que é o “sentimento de qualquer socialista” ao ver um “ex-primeiro-ministro e secretário-geral do PS” a ser “acusado de corrupção e branqueamento de capitais”. “Obviamente envergonha qualquer socialista, sobretudo se as matérias da acusação vierem a confirmar-se”, acrescentou ainda na rubrica Esquerda-Direita, na SIC Notícias. 
E se Carlos César também falou em vergonha em relação à polémica em torno de Manuel Pinho, João Galamba diz-se perplexo: “Estamos sobretudo perplexos com a revelação pública de um ministro de um Governo do PS que recebia mensalmente verbas quando disse que tinha cessado toda e qualquer relação com o BES. Gerou perplexidade em toda a gente”. 
in DN, 2/5/2018

LEITURA DO ENIGMA

A maioria absoluta cor-de-rosa não está garantida—ou está mesmo longe de estar garantida. Por via destas dúvidas, o PS já abriu a porta a uma coligação com o Bloco (li-o nas palavras do cardeal Santos Silva). Vamos, pois, provavelmente, ter uma Geringonça reforçada. Mas para aí chegarmos será preciso assegurar que o pássaro Sócrates não saia da gaiola, e que se perceba rapidamente, sobretudo nas hostes do PS e arredores, que o antigo primeiro ministro já só dispõe de um exército de sombras.

Ou seja, começou uma espécie de noite das facas longas em versão português suave. Manuel Pinho será porventura a primeira rola a ser abatida.

Só falta saber até onde irá a matança. Estamos a ver como começa, mas não sabemos ainda como vai acabar.


Post scriptum:

A evolução dos preços do petróleo em 2018 poderá arrumar rapidamente com a esperança de António Costa numa maioria absoluta. Por isso, na minha opinião, decidiu antecipar a minha recomendação de 2015: casar com Francisco Louçã—pois um bloco central à maneira antiga não é possível, nem recomendável.

sexta-feira, março 30, 2018

Os criminosos

A banca transformou-se numa espécie de casino de criminosos


Os criminosos e as suas propriedades


Estado empresta 5,8 mil milhões para Banif, BES e Novo Banco 
DN, 30/3/ 2018, 01:33 
Os bancos portugueses contribuíram com mais de mil milhões de euros para o Fundo de Resolução em cinco anos. Mas o dinheiro colocado pelas instituições financeiras está longe de ser suficiente para assegurar as responsabilidades assumidas com os colapsos do BES, do Banif e com a venda do Novo Banco. E tem sido o Estado a entrar com a maior parte do dinheiro necessário para a entidade que paga os custos com resoluções. O Tesouro assumiu já compromissos de 5800 milhões, entre empréstimos, garantias e linhas de crédito.

Os criminosos e as suas propriedades é um título certeiro do saudoso pintor e escritor Álvaro Lapa, cuja retrospetiva comissariada por Miguel von Haffe Pérez no Museu de Serralves é de visita obrigatória.

A banca —70% da qual já não obedece a portugueses— e a partidocracia indígenas são uma associação de criminosos, cujo crime maior é a preparação do país para a sua entrega completa aos investidores/credores internacionais (1): China, Turquia, França, Espanha, USA, Irlanda, Qatar, etc. Em breve, porém, o problema da independência de Portugal regressará com um furioso e imparável bang! Só não consigo imaginar o que restará da próxima guerra civil portuguesa.

As empresas estratégicas, da energia (EDP/CHINA), incluindo a rede elétrica (REN/China), os aeroportos (Vinci/Qatar/França), todos os principais portos portugueses (Sines/China; Leixões/Turquia, Aveiro/Turquia, Figueira da Foz/Turquia, Lisboa/Turquia, Setúbal/ Turquia), autoestradas, seguradoras, hospitais, aviões (a falida TAP, só subsidiada consegue voar), e em breve a decadente e também falida ferrovia já não dependem da nossa vontade, nem dos nossos interesses.

Quando o Governo fala de resultados da economia nacional, fala realmente de quê e de quem? Quando a próxima bancarrota vier, que teremos para dar pelas dívidas que a canalha estimulou ou contraíu?

Mas se os principais setores estratégicos do país já não nos pertencem, outrotanto está agora a suceder ao pequeno capital e aos pequenos proprietários urbanos e rurais. Um século de congelamento das rendas urbanas conduziu à fragilidade económica e financeira extrema dos proprietários urbanos, tendo como resultado a completa impotência do país (proprietários, inquilinos e Estado!) face à gentrificação furiosa do eixo Lisboa-Cascais e do Porto. Algo semelhante ocorre também, e em breve atingirá velocidade de cruzeiro, nas propriedades rústicas, a começar, desde logo, pelo setor florestal. Sem qualquer estratégia para a propriedade rústica, salvo manter os privilégios de Lisboa aos latifundiários alentejanos do costume, e promover a usura da terra e da água com tecnologias agropecuárias e florestais intensivas, a expropriação progressiva dos pequenos e médios proprietários, e a expulsão das populações rurais que restam, está em curso. O país é cada vez mais apetecível, menos para os indígenas que o devoram e estragam.

Isto já não vai lá com partidos.

É praticamente impossível salvar a nossa paisagem partidária do seu rápido declínio, em grande medida causado pela estupidez oceânica dos seus protagonistas, e pela ganância e corrupção das elites burocráticas e rentistas que tomaram o regime de assalto.

Precisamos de pensar e desenvolver uma nova cartografia social e política, começando (é uma ideia que tenho vindo a desenvolver) por pensar, desenhar e escrever os algoritmos dos mapas democráticos que poderão ajudar ao renascimento da democracia e da liberdade, que neste momento mais não são que palavas. E palavras leva-as o vento!

POST SCRIPTUM — a falta de capital indígena é a principal causa do descalabro em curso. Falta indagar o que nos trouxe até aqui. Os investimentos da China e de Angola, ou ainda da Turquia, ou dos países árabes são bem-vindos desde que sirvam uma estratégia de real diversificação equilibrada da nossa dependência do capital global. Mas não é isto que tem vindo a ocorrer. Estamos a entregar setores estratégicos inteiros a governos que não sabemos se um dia destes não entrarão em guerra comercial com a Europa. Percebe-se que a China, a Rússia, a Turquia e o Irão estejam interessados em virar o sul da Europa contra o Norte. Mas será do nosso interesse cair nesta armadilha? O desespero nascido da indigência económica, financeira e orçamental, e da corrupção, nunca foi bom conselheiro.

NOTAS
  1. A promiscuidade entre políticos, banqueiros, franciscanos (!) e governos estrangeiros é completa e desavergonhada.
Observador: A negociação com os chineses da CEFC – China Energy Company Limited para investirem no Montepio Seguros começou na apresentação de uma proposta por parte do gabinete do primeiro-ministro, revela o Público na sua edição de hoje, a partir de informação que ficou registada em ata da Associação Mutualista Montepio Geral. 
A proposta chinesa encaminhada pelo gabinete de António Costa, com o objetivo de “encetar conversações” com vista “a desenvolver parcerias nas áreas dos seguros e da banca”. Uma intenção que acabou por se concretizar, após reunião da associação mutualista no passado mês de setembro, com o acordo de venda de 60% da Montepio Seguros ao grupo chinês. Está tudo na ata 187 da reunião do Conselho Geral do Montepio – Associação Mutualista. 
— in Montepio. Proposta de investidor chinês chegou via Governo, Observador
Entretanto, o Gabinete de António Costa desmentiu... a "manchete" do Público. Em que ficamos? Investigue-se! 

Atualizado em 6/4/2018 11:26

domingo, março 05, 2017

O Assalto ao Banco de Portugal (novos episódios)

Sede do Banco de Portugal
Foto ©desconhecido

Saberá Carlos Costa demasiado para continuar onde está?


A reportagem da SIC é uma espécie de embuste mediático destinado a facilitar o assalto da Geringonça ao Banco de Portugal. Oculta, por um lado, o histórico do BES desde 2006, e por outro também oculta o simples facto de os principais bancos portugueses estarem sob supervisão direta do Banco Central Europeu, e não de Carlos Costa, desde 4 de novembro de 2014. Por fim, o que é evidente foi ter existido um triângulo político-financeiro inexpugnável montado por José Sócrates, Ricardo Salgado e os capturados BES (imparidades de, pelo menos, 6 mil milhões de euros), BCP (imparidades de, pelo menos, 7 mil milhões de euros) e Caixa Geral de Depósitos (imparidades de, pelo menos, 5 mil milhões de euros).
Fuentes próximas a la investigación han explicado que la investigación, que se inició hace dos años, se dirige hacia un entramado de empresas tipo trust que tiene su origen en una filial del banco portugués Espírito Santo en Madeira y que habría utilizado a Cahispa para efectuar inversiones sin pagar al fisco. 
— in Bloqueados más 1.500 millones de euros de cuentas de los bancos Espírito Santo y BNP, El País, 2/11/2006.
Nessa palestra sobre a estratégia de Pequim em África, citada numa publicação ligada ao Departamento de Estado dos EUA, o analista sul-africano apenas aflorou as "ligações estratégicas" entre Pequim e companhias e bancos portugueses com influência em países como Angola. 
Ontem por telefone, Davies-Webb salientou ao PÚBLICO o caso da Eskom (1), empresa do Grupo Espírito Santo, com um papel preponderante de ligação entre Pequim e o poder em Luanda, junto do qual a instituição portuguesa tem influência. 
(1) Davies-Webb referia-se certamente à ESCOM. 
— in Portugal "ajudou a aproximar" China e Palop, Público, 12/12/2006.

Carlos Costa talvez tivesse tido razões ponderosas para não provocar uma corrida ao BES e ao resto dos bancos instalados no nosso país. Há muito, pelo menos desde quando Vitor Constâncio pontificava no Banco de Portugal, e José Sócrates no país, que o Grupo BES deveria ter merecido outra atenção dos reguladores e do poder político. São por isso muitos os co-responsáveis pelos danos causados ao país pelo colapso do BES. Encurralar agora Carlos Costa como um bode expiatório do desgraçado estado financeiro em que Portugal se encontra, quando nem José Sócrates, nem Ricardo Salgado, nem vários outros arguidos foram ainda acusados pelo que supostamente fizeram, diz bem da degradação a que chegámos.

Desde novembro e dezembro de 2006 (buscas nas sucursais do BES em Espanha e alerta sobre papel do BES em Angola), tal como desde maio de 2013 (relatório do BPI sobre o BES), e sobretudo depois de 22 de maio de 2014 (notícia da Reuters sobre investigações no Luxemburgo sobre o GES), ou ainda desde a revelação da SIC, feita por José Gomes Ferreira a 20 de junho de 2014, sobre o pedido de ajuda de Ricardo Salgado a Pedro Passos Coelho (recusado), que as campainhas de alarme sobre o Grupo Espírito Santo soavam sem cessar.

Durante todos este tempo, e sobretudo depois do alerta do BPI de janeiro-maio de 2013, dado a conhecer ao Banco de Portugal em agosto do mesmo ano, e até 21 de julho de 2014, não apenas os socialistas, mas também Cavaco Silva, Marcelo Rebelo de Sousa, Marques Mendes e a imprensa económica em geral asseguravam publicamente a saúde do BES.

A resolução do BES foi anunciada por Carlos Silva no domingo, dia 3 de agosto, às 23:15 minutos. 

Ou seja, segunda-feira, 00:15 da madrugada do dia 4 de agosto em Bruxelas e Frankfurt. 

Por incrível que pareça, até hoje nenhum órgão de comunicação, jornalista, ou analista se deteve sobre este pormenor. Porquê este dia e esta hora? Completava-se a 4 de agosto de 2014 os vinte dias mínimos necessários à entrada em vigor do mecanismo de resolução bancária aprovado pelo Parlamento Europeu no dia 15 de julho de 2014. Antes desta data teria sido impossível, ou ilegal, resolver o BES, cuja sangria era já imparável.

Até à data e hora em que ocorreu a resolução do BES o governador do Banco de Portugal não tinha nenhum instrumento que impedisse a falência descontrolada do BES em caso de uma denúncia explícita da situação real do universo Espírito Santo. Ações de persuasão sobre Ricardo Salgado não tiveram qualquer efeito. Mas acima de tudo, não podia decidir nada de essencial sem a aprovação do BCE.

Carlos Costa não teve outra alternativa que não fosse esperar pelo mecanismo de resolução bancária e pelo BCE. Ou seja, foi o BCE quem determinou o curso dos acontecimentos, em linha, aliás, com o futuro mecanismo único de supervisão bancária que entraria em vigor a 4 de novembro de 2014.

Em junho de 2014 Pedro Passos Coelho disse não a Ricardo Salgado, em primeiro lugar porque os bancos portugueses já se encontravam sob controlo do BCE, e depois porque sabia que um empréstimo de 2500 milhões de euros ao GES através de um sindicato bancário patrocinado pela Caixa Geral de Depósitos seria transformar o suicídio do BES/GES num genocídio bancário.

As medidas determinantes desenhadas para impedir que o colapso do GES-BES se transformasse numa derrocada completa do sistema financeiro português foram desenhadas e lançadas pelo Banco Central Europeu. Não pelo Banco de Portugal. Logo...

A caravana do populismo prefere agora, porém, usar a confusão para eleger um bode expiatório e, assim, tentar tomar de assalto o Banco de Portugal, peça essencial para proteger a Caixa Geral de Depósitos recauchutada das suas próximas avarias.

PS1: Cheguei a pedir no Facebok e no Twitter a demissão de Carlos Costa logo após a reportagem da SIC, mas bastaram 48 horas para rever os meus próprios posts neste blogue e perceber que estava errado. Carlos Costa pode muito menos do que a sua circunstância. E o Governo de Portugal, em matéria de bancos, já não manda nada, ou muito pouco. Por um lado, porque mais de 60% dos bancos portugueses foram desbaratados por um regime corrupto e incompetente (BPN, BCP, BPI, Banif), e por outro, porque quem manda no Banco de Portugal é o BCE.

PS2: Se alguém puxar por um fio da meada Caixa Geral de Depósitos, chamado ARTLAND, saberemos a razão de tanto nervosismo no seio da Geringonça a propósito do Banco de Portugal e da Caixa. Mas para que tal aconteça é preciso que uma fonte mistério se sente ao colo de um jornalista, não é?


A DECISÃO DO BCE E OS ÚLTIMOS DIAS DO BES

2014

30 junho
Termina Programa Assistência Económica e Financeira (PAEF), acordado em maio de 2011 entre as autoridades portuguesas, a União Europeia e o FMI. Segue-se uma fase de monitorização pós-programa – Post-Programme Surveillance, no âmbito da supervisão das instituições europeias; Post-Program Monitoring, no âmbito da supervisão do Fundo Monetário Internacional (FMI). Estima-se que este programa de vigilância/monitorização se manterá até 2035, com visitas semestrais ao país.

15 julho
—Parlamento Europeu aprova regulamento do resolução bancária (entra oficialmente em vigor passados 20 dias da data da sua publicação no Jornal Oficial da União Europeia).
—Goldman Sachs: compra 2,27% do BES.

21 julho
—Cavaco Silva afirmou que os portugueses podiam confiar no BES de acordo com informações que recebia do Banco de Portugal.

22 julho
—BES revela à CMVM que a Goldman Sachs comprou 127,6 milhões de ações a que então correspondia 2,27% do capital.

23 julho
—Imprensa portuguesa entusiasma-se com o apetite da Goldman pelo BES
—Citi recomenda a compra de ações do BES...
—Muitos idiotas dão ordem de compra, e muitos ingénuos adiam a sua saída do buraco chamado BES...
—Goldman vende neste mesmo dia 4,4 milhões de acções, ficando fora da participação qualificada.

29 julho
— A-G do BES é adiada sine die a pedido da ESFG depois de ver aceite por parte das autoridades luxemburguesas o seu pedido de protecção contra credores.

30 julho
—Publicação no Jornal Oficial da União Europeia do regulamento da resolução bancária (entra em vigor 20 dias após esta data: 19/8/2014.

01 de agosto, sexta-feira
—BCE retirou o estatuto de contraparte ao BES, suspendendo assim o acesso do banco às operações de política monetária.
—BCE exige ao BES a devolução, até dia 4 de agosto, dos 10 mil milhões de euros emprestados.
—A imprensa anuncia, oito dias depois do sucedido, que a Goldman Sachs deixou de ter uma participação qualificada no capital do BES após vender mais de 4,4 milhões de ações, ficando com menos de 2% da instituição. Esta alienação da posição ocorreu, recorde-se, no dia 23 de julho!
Ou seja, a Goldman vendeu, não dia 30 de julho, o que comprara no dia 15. No dia em que os brokers e a imprensa económica recomendaram a compra de mais lixo ao BES, a Goldman Sachs vendeu o dito lixo!

03 de agosto, domingo, 23:15/ ; 04 de agosto, segunda-feira, 00:15, em Bruxelas e Frankfurt
-Resolução do BES

04 de novembro
—Os principais bancos portugueses—BCP, Novo Banco, BPI, CGD— passam a estar sob controlo direto do BCE.

2016

03 de agosto
O Banco Central Europeu revogou a autorização do Banco Espírito Santo para o exercício da atividade de instituição de crédito. A decisão de revogação da autorização do BES implicou a dissolução e a entrada em liquidação do banco.



DESENVOLVIMENTO DO TEMA NOS MÉDIA

Assalto ao Castelo, que caíu no colo do jornalista Pedro Coelho, é apenas mais uma árvore da floresta que ninguém quer mostrar, nem ver. Desde logo, e a começar, Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa.
Expresso, 06.03.2017 às 11h06 WET 
Carlos Costa enviou esta segunda-feira uma carta à presidente da Comissão parlamentar de Orçamento, Finanças e Modernização Administrativa (COFAP), Teresa Leal Coelho, pedindo para ser ouvido para prestar esclarecimentos sobre o seu papel e o do Banco de Portugal no caso BES, depois de na reportagem da SIC, "Assalto ao Castelo", ter-se admitido que o governador ignorou informações que lhe teriam permitido afastar mais cedo Ricardo Salgado da liderança do banco da família Espírito Santo.

Publicado: 05/03/2017, 02:46 WET
Atualização: 06/03/2017, 12:47 WET

quarta-feira, março 02, 2016

Pânico na banca portuguesa


Santander-Totta-Banif persegue agora o Novo Banco


O lóbi ligado ao Cavaco está em pânico. A campanha começou com Vítor Bento, depois foi o programa Prós e Contras, e ontem o apelo feito por Alexandre Patrício Gouveia no programa do Medina Carreira. Este responsável quer que o BCE aceite as exigências locais. Como se o BCE tivesse que obedecer ao Governo português.
O programa Olhos nos Olhos de ontem fica para a história. Alguns responsáveis do país só agora perceberam que já não mandam nada. RR

Ontem ouvimos no programa Olhos nos Olhos (TVI) um apelo lancinante pela manutenção do ex-BES (Novo Banco) sob controlo do regime populista, incompetente, irresponsável e corrupto que conduziu o país à bancarrota. Tarde demais.

O pânico foi descrito assim por Alexandre Patrício Gouveia:

“...o Banco Central Europeu entende —e já transmitiu essa mensagem, essa posição, a várias entidades em Portugal— que o mercado da banca comercial deve ser repartido entre a Caixa Geral de Depósitos, o Banco Santander, o BBVA, e o La Caixa da Catalunha. Tem esta visão como uma forma fácil e rápida de resolver o problema, acabando com os problemas de gestão bancária em Portugal, arrumando o assunto com grandes grupos bancários.”

O banco Santander é o maior banco da zona euro, e está entre os 30 maiores bancos do planeta, mas como assinalámos em post anterior (“Banca portuguesa por um fio”) apenas 0,77% da instituição pertence aos acionistas que detêm o respetivo controlo gestionário: a família Botín.

Este pequeno detalhe significa que a preocupação do BCE relativamente ao Santander, que necessita de reforçar a sua almofada de capital (TLAC) em mais de 27 mil milhões de euros, até 2019(1), é de natureza sistémica, enquanto a sua preocupação relativamente aos Banifs e Novos Bancos desta Europa se resume à necessidade de tirar as maçãs podres do cesto bancário europeu, procedendo cumulativamente ao reforço das suas grandes instituições bancárias, absorvendo nomeadamente os ativos bons dos pequenos e médios bancos insolventes. O Novo Banco detém responsabilidades em depósitos na ordem dos 20 mil milhões de euros, mas ninguém ofereceu até hoje mais de 2000 milhões pela instituição(2). Que aconteceria se a TVI repetisse a graça que deitou o Banif ao chão, entregando os despojos bons ao Santander?

Para o BCE é essencial demonstrar que o mecanismo de resolução aplicado ao falido BES funciona. Dificilmente aceitará qualquer desvio à sua estratégia, menos ainda a nacionalização do Novo Banco, e muito menos a sua integração na Caixa Geral de Depósitos, pois implicaria transpor para os contribuintes mais um enorme custo bancário, ao arrepio do próprio Mecanismo Único de Resolução que entrou em vigor no dia 1 de janeiro de 2016.

Alternativa ao Santander já houve. Chamou-se Fosun. O que não houve foi coragem para vender o NB a este grupo chinês. Agora, tudo será mais difícil.


ÚLTIMA HORA

CMVM suspende negociação das ações do BPI
RTP 02 Mar, 2016, 11:14 / atualizado em 02 Mar, 2016, 12:01

Mais um banco fora da órbita indígena. Desta vez nas mãos de els nostres germans catalans! Como seria de esperar, Isabel dos Santos, e Angola em geral, não resistiram às pressões do... BCE. Pobre país, o nosso, que mais parece uma carcaça moribunda rodeada de abutres. Quem nos conduziu ao precipício é incapaz de nos salvar. Da esquerda à direita, entenda-se. Tempo de renovar a casta dirigente, nos partidos, nas empresas e nos bancos.


NOTAS

  1. “El grupo Santander necesitaría 27.600 millones extra para cumplir las nuevas exigencias para bancos sistémicos”. Expansión, 25/9/2015.
  2. Apesar de avaliado em 4mM€ ninguém ofereceu pelo Novo Banco mais de 2mM€. Aliás, nos últimos seis meses o ex-BES poderá ter perdido 50% do seu valor. Para chegarmos a esta estimativa basta ponderar nisto: o Stoxx 600 Europe Banks (47 bancos europeus, entre os quais o BCP) perdeu 40% do seu valor desde 31 de julho de 2015 (28,8% nos últimos 12 meses). Outro valor a ponderar é este: o BCP perdeu 60% nos últimos doze meses. E ainda: em 2015 o Novo Banco teve prejuízos de 980 M€. Em suma, o banco bom do BES, atualmente sob um regime de resolução bancária diretamente controlado pelo BCE/Banco de Portugal, poderá neste momento valer pouco mais do que 220 M€ (2000 M€ - 800 M€ - 980M€), apesar de deter uma carteira de depósitos de 20 mil milhões de euros.

sábado, agosto 29, 2015

DDT é fatal


BES-GES: desde o ‘corte de cabelo’ de Chipre que os ‘investidores’ sabem o que lhes poderá acontecer se não tiverem juízo.


“Neste momento, é difícil alguém avaliar o valor patrimonial das ações do BES porque não há nada definido, mas é seguro dizer que tende para zero” — in Dinheiro Vivo

Os vigaristas do BES/GES terão dito aos seus clientes com poupanças ou endinheirados que, face à ameaça de uma razia nos depósitos acima dos 100 mil euros, em caso de problemas —de qualquer modo, terão assegurado, altamente improváveis num banco tão sólido como o BES, n’est-ce pas senhor Cavaco de Belém, senhor Carlos Costa, e Professor Marcelo?—, o melhor seria colocar o dinheiro em produtos financeiros de retorno garantido, em tudo semelhantes aos depósitos, mas a salvo dos ‘cortes de cabelo’. Foi, não era?

As pessoas têm que se convencer, de uma vez por todas, que os governos e os bancos de hoje, mais os rendeiros e devoristas do regime, e os seus arautos mediáticos, disfarçados de observadores e jornalistas, formam uma aliança de inconscientes, ou malfeitores.

Segurem o dinheiro em bens tangíveis: terras férteis e com água, casas e apartamentos bem localizados nas cidades, ouro, prata, contas em mais de um banco, e maços de notas debaixo do colchão, pelo menos para um ano de despesas!

Os que investiram, especularam, ou simplesmente tentaram proteger as suas poupanças, confiando nos gestores das suas contas e carteiras de títulos, vão ficar a ver navios, ainda por cima gastando mais dinheiro com advogados que prometem o improvável. Estava e está escrito nos documentos oficiais do BCE, porra!

PS: só não percebo como é que o Marcelo Rebelo de Sousa se consegue ver ao espelho de Belém. Bem faria seguir as pisadas de Santana Lopes, não trocando o certo pelo incerto...

sábado, julho 18, 2015

A opinocracia indígena



Culpado de investir, ou de esconder um conflito de interesses?


Miguel Sousa Tavares tinha 2 milhões investidos no GES mas diz que não sabia
Observador, 17/7/2015 8:46

Escritor terá investido cinco vezes num ano no GES, através do fundo ES Liquidez. No total foram 2 milhões de euros, diz o semanário Sol. Mas Sousa Tavares diz que nunca "soube" nem "nunca autorizou".

Miguel Sousa Tavares dá mais explicações sobre investimentos no GES
Observador, 17/7/2015, 23:53

O escritor diz que se quisesse ter investido no GES, tê-lo-ia feito de forma direta; diz que está a ser "um alvo colateral" e queixa-se de violação de sigilo bancário.

Agora é só compilar o que MST foi dizendo e escrevendo sobre o BES, o GES e a (também) sua família Espírito Santo. Ou ainda sobre o famoso 'TGV', cujo projeto aprovado foi anulado pelo Tribunal de Contas, satisfazendo assim o cartel do NAL em Alcochete.

Se a linha de alta velocidade e bitola europeia Pinhal Novo-Poceirão-Caia tivesse ido para a frente o embuste da cidade aeroportuária de Alcochete-Canha-Rio Frio, ou seja o novo aeroporto de Lisboa na Margem Sul (ex-NAL da Ota) teria caído imediatamente, destruindo toda a estratégia de investimento especulativo imaginada pelo senhor Ricardo Espírito Santo (+ BPN, Cavaco, PSD, PS e PCP) para aquela-sub-região.

Convém lembrar aos investigadores, jornalistas e procuradores, que a compra de 4000ha da Herdade de Rio Frio, por 250 milhões de euros, ocorreu 34 dias antes de José Sócrates ter anunciado, a 10 de janeiro de 2008, o fim do NAL na Ota e o novo NAL de Alcochete.

Um dos testas de ferro da SLN (e de Cavaco), o senhor Fantasia, munido de empréstimos do BPN, BCP, BES, Banif e Banco Popular, foi um dos principais protagonistas das aquisições de terrenos na zona destinada ao futuro mega aeroporto de Lisboa e à correspondente cidade aeroportuária, como lhe chamou o visionário Mateus.

Há também, ao que consta, nesta trapalhada toda, o envolvimento dum fundo financeiro do PS sediado na Holanda. Há, ou não há?

Felizmente, o Memorando, a venda da ANA, e as Low Cost rebentaram com este monumental e previsivelmente ruinoso negócio de piratas, no qual também existiram os interesses do senhor Ho, pois parte do financiamento do NAL da Ota em Alcochete viria da privatização da ANA e da venda dos terrenos da Portela para aí construir uma China Town de luxo!

A Grécia estourou, entre muitos outros motivos, pela ruína e corrupção somadas do novo aeroporto de Atenas e das Olimpíadas.

E no entanto, em Portugal o turismo não parou de crescer desde o Memorando, sem precisar de qualquer novo aeroporto. O aeromoscas de Beja existe, mas não consta que tenha ajudado ao crescimento do turismo no Alentejo! Foi, sim, preciso remover as proteções que durante mais de uma década foram levantadas contra as companhia aéreas Low Cost.

Caímos na pré-bancarrota por causa do roubo sem freio dos recursos e dos empréstimos, mas também pela obstrução criminosa ao crescimento criada pelo Bloco Central da Corrupção, de que a banca portuguesa foi obviamente parte cúmplice e interessada.

Sobre o trovão que opina sem cessar, aqui fica a moral da história: um opinocrata que não declara os seus interesses é um opinocrata destituído de credibilidade. Que tal demitir-se de opinar, ou colocar um carimbo na testa antes de opinar?

quinta-feira, maio 21, 2015

Pais do Amaral: saída de pista na reprivatização da TAP

Paes Amaral: saída de pista em sessão de treino—Le Mans

Grexit, venda do Novo Banco e TAP— anda tudo ligado, e pode explodir!


Sem uma boa venda da maioria do capital da TAP, haverá bail-in do Novo Banco. Os cacos do BES, com a exposição que tem ao buraco financeiro da TAP, se esta continuar a afundar-se no lodaçal devorista da pseudo esquerda, jamais se venderão pelo preço capaz de evitar uma fatura pesada endossada ao Fundo de Resolução, i.e. ao sistema bancário e contribuintes indígenas. E se a venda do Novo Banco borregar ou for ao desbarato, ocorrerá certamente um novo tombo no sistema financeiro, os eleitores e contribuintes serão chamados a desembolsar mais austeridade, o défice público disparará, e o ataque dos credores externos será tão impiedoso como foi na Grécia. Será que os sábios-economistas contaram este segredo ao Alexis Costa? Ou não contaram, porque também não sabiam?

Amaral tinha duas mãos cheias de nada e naturalmente ficou pelo caminho.

Do ponto de vista financeiro, empresarial e estratégico, parece evidente a superioridade da opção Azul, ou da JetBlue Airways. Efromovich apenas está interessado nos 'slots' que a TAP detém nos aeroportos europeus, enquanto a JetBlue, pelo contrário, poderá criar com a TAP uma grande companhia aérea euro-atlântica, com ligações privilegiadas a África e um lote muito amplo de parcerias (code-sharing, etc.) de voo, nomeadamente com a Ásia. O hub da TAP na Portela, com o hub  da JetBlue no JFK (NY), criarão potencialmente sinergias e mais valias importantes. Os 34% que ficarão na mão do estado poderão, pois, render bom dinheiro quando parte deste capital for disperso em bolsa, sempre depois de 2017.

O António Maria reserva desde já um lote de 1000 ações—intencionais, claro.



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domingo, maio 10, 2015

Novo Banco, Nova TAP


Se o Novo Banco não puder esperar até 2016, então a TAP também não


Os protagonistas da agonia da TAP, e já agora, da SATA, comportam-se como baratas tontas, procurando desesperadamente empurrar as culpas do desastre à vista uns para os outros. Todos coincidem, porém, na teimosia: ninguém arreda pé das posições entretanto ocupadas.

A arara do SPAC já não diz coisa com coisa, vociferando apenas que os pilotos que representa preferem uma vitória de Pirro a ceder no que todos os demais trabalhadores deste país cederam: cortes nos salários. O governo prefere perder trinta milhões de euros e ganhar uma crise governamental, a assumir compromissos passados que lhe custariam bem menos dinheiro e chatices. E por fim o novo caceteiro do PS, António Costa, rasga todos os documentos que o PS assinou com a TAP, com Bruxelas e com a Troika, desde 2009 até que o governo de que fez parte foi corrido deixando para trás um país na bancarrota que levará décadas a reerguer, ameaçando agora os possíveis interessados na reprivatização da empresa.

A situação da TAP é simples de descrever
  1. Custa em combustível 800 milhões de euros por ano (logo, precisa desesperadamente de renovar a sua frota envelhecida, com aviões mais económicos: A350 e A320).
  2. Custa em pessoal 580 milhões de euros por ano (um rácio desastroso face ao número de passageiros que transporta).
  3. Tem uma dívida de 1.062 milhões de euros (o equivalente a uma Ponte Vasco da Gama).
  4. Mas o seu passivo total registado é bem maior: 2.072 milhões de euros (ver Relatório Anual e Contas de 2014)
  5. Assumiu ainda compromissos firmes para aquisição de 12 Airbus A 350-900 num montante superior a 2.500 milhões de euros (vender estas posições equivaleria a um harakiri imediato da companhia).
  6. Os seus principais ativos são: o hub da Portela, pilotos, pessoal de manutenção, slots (reserva de pista para descolar e aterrar aviões), e ainda as encomendas e reservas de doze a quinze A350, e oito A320. A marca TAP e o famoso goodwill da empresa valem pouco mais que um caracol.
  7. Tem manifesto excesso de pessoal quando comparada com as companhias concorrentes.
  8. As mordomias de que ainda gozam administradores, pilotos e demais pessoal estão a desaparecer em toda a parte.
  9. As provisões ilegais da Parpública e os empréstimos por baixo da mesa, nomeadamente do ex-BES e da Caixa geral de Depósitos, que permitiram à gestão político-partidária da TAP empurrar os problemas com a barriga, e continuar a endividar-se, foram falsas soluções entretanto descontinuadas pelos grandes credores do país.
  10. Finalmente, sem capital fresco e uma reestruturação profunda, o modelo estratégico imaginado por Fernando Pinto ruirá como um baralho de cartas antes das próximas eleições, se entretanto não for encontrado um comprador credível que tome a maioria do capital social da TAP, reestruture a empresa e invista!

A TAP e o Novo Banco estão indissociavelmente ligados


O ex-BES e o ex-GES foram as principais alavancas financeiras da TAP, a par do Crédit Suisse. Por esta razão estas duas entidades foram as principais assessoras financeiras da primeira tentativa falhada de reprivatização. Seria bom sabermos em que posições estão neste momento o Crédit Suisse e o Novo Banco face a este processo. Saíram de cena? Continuam dentro?

As dívidas da TAP ao GES/BES não foram para o banco mau (não podia!), e portanto estão na carteira do Novo Banco. Qual é a exposição do Novo Banco à TAP? Alguém sabe? Eu presumo que seja muito elevada, e por isso presumo também que ninguém comprará o Novo Banco sem saber previamente o que vai acontecer à TAP.

Imaginem que os piratas do PS regressavam ao poder e recusavam pagar as dívidas. Alguém quererá correr semelhante risco?

Penso que não, e daí a pressa em atacar a bolha cheia de pus em que a TAP se transformou, de uma vez por todas. Enquanto não for esclarecido o futuro da TAP —reprivatização, ou TAPezinha—, a compra do Novo Banco não arrancará, e se não arrancar nos prazos previstos, isto é, até ao fim de junho, o BCE fará o que fez aos Espírito Santo: resolve a TAP num fim-de-semana!


As baratas tontas
“Conseguimos infligir um dano de €30 milhões na TAP”  — Hélder Santinhos, SPAC. Expresso, 08.05.2015

Hélder Santinhos, dirigente daquela estrutura sindical, realçou que os custos da greve, que teve início a 1 de maio e se prolonga até ao dia 10, são na casa dos 30 milhões de euros e as exigências feitas pelo sindicato ao Governo o e à TAP representam 6,5 milhões de euros por ano.

Pires de Lima desafia António Costa a explicar como vai salvar a TAP

O secretário-geral do PS não se limitou a defender que os privados não devem controlar a TAP, como fez um aviso: “Espero que ninguém pense em comprar mais de 49%.”

[...]

As declarações de Costa sobre a TAP (e também a Carris e o Metro) levaram também o líder parlamentar do PSD a acusar o secretário-geral do PS de “condicionar o mercado”. Luís Montenegro lembra que foi “o PS que lançou a privatização e que a incluiu no PEC I, II, III e IV”, estranhando que seja o líder socialista que “agora vem condicionar o mercado levantando problemas sobre a privatização...”

Diário de Notícias, 10/05/2015

ÚLTIMA HORA

TAP quis dar mais ajudas de custo e horas extra. Pilotos rejeitaramDinheiro Vivo, 11/05/2015

Afinal o Governo andou a negociar de gatas, em vez de avançar para um Requisição Civil, como deveria ter feito. Como é possível querer vender uma empresa e entupi-la de compromissos insustentáveis para quem quer que se disponha a pegar nos cacos e reestruturar a TAP?
Atualização: 11/05/2015, 10:16

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quinta-feira, abril 16, 2015

Ricardo Salgado manipulou e escondeu



Pedro Saraiva: "Considera-se provado que Salgado fez manipulação intencional das contas" da ESI

De acordo com os dados apresentados, a dívida financeira da ESI chegou a mais de 8.000 milhões, o que tinha custos em juros de mais de 400 milhões anuais. "A ESI estava falida desde 2009. Com prejuízos acumulados de mais de 2.000 milhões de euros. E o GES tentou ocultar esta situação", afirmou Pedro Saraiva.

Negócios online. 6 Abril 2015, 10:52 por Maria João Gago

Espírito Santo caiu do altar. Falta agora a Justiça fazer o seu trabalho até ao fim. E para capitalismo familiar, autoritário e provinciano, basta. Esperemos que sirva de lição aos demais. Ou muito me engano, ou as próximas vítimas serão os rendeiros da família Mello. É só espreitar a parte visível dos livros...

Basicamente, a independência económico-financeira do país morreu, 600 anos depois da conquista de Ceuta (22 de agosto de 1415). Acabaram-se as patacas, e agora é a vez da Isabel dos Santos ir comprando as rendas e os cacos do ido império. Menos mal que ainda há quem compre!

PS: a citação do Negócios foi entretanto 'corrigida' para "Considera-se provável que Salgado fez manipulação intencional das contas". Ora esta emenda é pior do que o soneto! A sintaxe "Considera-se provável que (...) fez ..." não existe na língua portuguesa, nem em nenhuma quadro lógico.

Atualização: 16/04/2015, 12:39 WET 


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quinta-feira, abril 02, 2015

Islândia a caminho de revolução financeira

In Iceland, as in other modern market economies, the central bank controls the creation of banknotes and coins but not the creation of all money Photo: Getty Images

E se os bancos comerciais fossem proibidos de criar dinheiro?


Os casos negros do BPP, BPN e BES, e as zonas quase negras do BCP, Montepio e Caixa Geral de Depósitos, avisam-nos que a confiança nos bancos morreu, e que é preciso mudar o sistema financeiro num ponto essencial: proibir os bancos comerciais de criarem dinheiro, nomeadamente sob a forma de crédito e sob a forma de securitização de créditos e confeção de produtos financeiros complexos cujo único resultado, no final das corridas especulativas, são bolhas que rebentam, deixando pelo caminho estados insolventes, empresas na ruína, famílias no desespero e convulsões sociais na rua.

Mas então quem estaria autorizado a criar dinheiro, metálico, eletrónico, criptológico e sob a forma de crédito? Apenas os bancos centrais. No caso da UE, apenas o BCE. Os bancos comerciais e de investimento passariam a poder emprestar apenas o dinheiro criado pelos bancos centrais, e estariam proibidos de criar crédito que não resultasse diretamente das suas efetivas reservas monetárias. Por exemplo, a pirataria financeira dos LBO (Leverage Buyout), a que alguns ex-banqueiros indígenas se dedicam no nosso país, acabariam de um dia para o outro. Capiche?

Não tenhamos ilusões: o dinheiro não pode estar nas mãos de banksters!

Iceland looks at ending boom and bust with radical money plan

Icelandic government suggests removing the power of commercial banks to create money and handing it to the central bank

By AFP/ Telegraph 8:18PM BST 31 Mar 2015

[...] In Iceland, as in other modern market economies, the central bank controls the creation of banknotes and coins but not the creation of all money, which occurs as soon as a commercial bank offers a line of credit.

The central bank can only try to influence the money supply with its monetary policy tools.

Under the so-called Sovereign Money proposal, the country's central bank would become the only creator of money.

Monetary Reform
A Better Monetary System For Iceland

A Report By Frosti Sigurjonsson
Commissioned by the Prime Minister of Iceland
—in documentcloud


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segunda-feira, março 30, 2015

Para quem fica o lombo do BES?

Fosun poderá ganhar a corrida pelo Novo Banco


A entrada da China no sistema financeiro português é bom para o equilíbrio das alianças estratégicas que o país deve manter e potenciar ao longo desta curva apertada da globalização. O reforço da posição espanhola ou catalã não convém nada e deve ser evitada. O investimento chinês vem na continuidade da estratégia anuncida por Hu Jintao quando visitou Lisboa.

Quanto às indemnizações dos que foram enganados pelo GES/BES é assunto que compete ao Fundo de Resolução, ao Governo e ao banco mau.

Fosun favorita à compra do Novo Banco. Preço pode atingir eur5,2 mil milhões mas sem riscos de litigância - Expresso.pt


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sábado, fevereiro 21, 2015

Bataglia entala Espírito Santo

Helder Bataglia na Assembleia da República
Img. derivada de foto original © Manuel de Almeida @ Lusa

Estou francamente mais preocupado com as responsabilidades do Governador do Banco de Portugal e do Presidente da República no colapso do GES-BES do que com Helder Bataglia


O senhor Bataglia é um middleman que cobra bem pelas suas informaçãoes e pelos seus serviços de intermediação. Contra isto, nada a dizer.

O Grupo BES recorreu a este homem muito bem relacionado para obter bons investimentos em África (contra isto, nada a dizer), na sua tentativa de fugir à tenaz financeira de Frankfurt, que jurou destruir o banqueiro de Salazar, que, relembremos, trouxe para o nosso país (de forma legal, entenda-se) ouro sequestrado aos judeus pelo regime nazi de Hitler, a troco do volfrâmio essencial ao endurecmento do aço das blindagens de tanques e navios de guerra, e que Portugal então vendeu em grandes quantidades ao governo alemão chefiado por Adolf Hitler, mas também aos Aliados.

O que, por outro lado, diz tudo do gansgsterismo financeiro, de que o Grupo BES foi um dos principais braços, e que tem mantido, até hoje, o país no bolso, é o diagrama da obscuridade, da dissimulação, das cumplicidades, da ilegalidade e da corrupção que vamos conhecendo.

Não esquecer nunca que as cumplicidades da banca, de que o BES é caso exemplar, vão até ao PCP (a quem o BES pagava uma espécie de avença publicitária à Festa do Ávante!), e englobam, obviamente, os sindicatos, nomeadamente através do atual SG da UGT—que saiu em defesa do seu posto de trabalho, mas não em defesa dos clientes do banco que foram assediados por gerentes de conta com Papel Comercial que hoje sabemos não ter passado de uma burla.

Bastaria publicar uma listagem de todos os administradores não executivos e presidentes de mesas de assembleias gerais das 500 maiores empresas do país (incluindo a União das Misericórdias e as recentemente privatizadas a 100%%—como os CTT, por exemplo), para termos uma radiografia perfeita da captura do regime e respetivos trastes partidários pela lógica rendeira, devorista e especulativa que atirou e continua a atirar Portugal para o lixo.

Para terminar, este instantâneo do Jornal i:

“Até agora, foram poucos os convocados à Comissão de Inquérito ao BES que admitiram saber da existência deste veículo: um deles foi Bataglia, os outros foram Francisco Machado da Cruz e José Castella, que confirmaram ser administradores desta sociedade, mas que afirmaram nunca ter olhado para as contas da sociedade.”


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segunda-feira, fevereiro 16, 2015

BES e o segundo bail-in

Clique para ampliar

A experiência de Chipre repete-se, com cobertura da cleptocracia indígena


O assalto aos clientes do famoso Papel Comercial do BES (clique na imagem para ver bem o que se me afigura ser claramente uma burla) é uma repetição do bail-in executado em Chipre—embora incidindo apenas, neste caso, sobre um dos bancos do sistema (até ver...).

O ex-Banco BES vendeu aos seus clientes Premium, BES 360º (1), uma aplicação a um ano, a que chamou "investimento em papel comercial, E.S.International", com retorno assegurado: "no vencimento capital e juros garantidos").

Ou seja, o elaborado esquema Ponzi do BES atraiu clientes incautos para um empréstimo a que chamou investimento, mas cujo único objetivo foi financiar o já insolvente grupo de interesses da família Espírito Santo.

Ou seja, estamos perante um roubo a clientes bancários para salvar o próprio banco que os rouba.

Mas o mais grave é que este crime está a ter cobertura institucional do banco central indígena, na medida em que aparentemente Carlos Costa aprova a tentativa do chamado Novo Banco de isentar-se das suas responsabilidades, que as tem, uma vez que o ex-BES foi alvo de uma operaçao de resgate, denominada resolução, a qual é, pelo  menos em parte, financiada com dinheiro dos contribuintes.

Falta saber qual é o papel do BCE neste assalto.

Os clientes de Papel Comercial do BES, vítimas deste bail-in por baixo da mesa, devem dirigir-se diretamente ao BCE, e à opinião pública europeia, pois o Banco de Portugal não existe, e a corja partidária está toda comprometida com a insolvente banca portuguesa.

Sobre esta vigarice vale a pena ler o post de Mariana Mortágua, deputada do Bloco de Esquerda e membro da comissão de inquérito ao BES —"E quem comprou obrigações do GES?"

RECOMENDAÇÃO: AFASTE-SE DOS BANCOS!
INVISTA EM OURO E PRATA, TERRA FÉRTIL, CERTIFICADOS DE AFORRO, US TREASURIES, E DÍVIDA PÚBLICA EUROPEIA, E COLOQUE QUANTIAS INFERIORES A 50 MIL EUROS DE PARTE EM DEPÓSITOS A PRAZO. PROPOSTAS MAIS COMPLICADAS DO QUE ESTAS, DA PARTE DO SEU GESTOR DE CONTA, ESQUEÇA!

Miguel Reis: Banco de Portugal está a deformar “grosseiramente a realidade”
Jornal de Negócios. 15 Fevereiro 2015, 21:16 por Lusa

O advogado Miguel Reis, que representa alguns clientes do BES, considera que o Banco de Portugal está a deformar “grosseiramente a realidade” e que a informação veiculada pelo banco central na sexta-feira é uma “operação de branqueamento”.

“...o comunicado do Banco de Portugal “não espanta ninguém e apenas serve para confirmar que [se vive] sob um sistema bancário selvagem, sem qualquer controlo de um regulador responsável”.

“...Miguel Reis destacou que o Banco Espírito Santo (BES) “não vendeu a ninguém títulos de dívida de empresas do GES” e que “não havia dívidas a quem quer que fosse, que o BES tivesse comercializado, comprando a um credor para ceder o crédito a outro”.

De acordo com o advogado, o que aconteceu foi que “o BES celebrou contratos, por força dos quais os seus clientes lhe emprestaram dinheiro, para que ele o emprestasse a empresas do GES”, e “não houve um único caso em que algum administrador de qualquer das empresas do GES tenha negociado o que quer que fosse com as pessoas que emprestaram o dinheiro”.

“Por isso, me parece que esse dinheiro deve ser tratado como todo o outro dinheiro que foi entregue por outras pessoas, nomeadamente por todos os depositantes ao BES”, defendeu Miguel Reis, reiterando que não há “nenhuma diferença” entre estas aplicações e os demais depósitos.”

POST SCRIPTUM—o "banco bom", o chamado Novo Banco que ainda anda à procura de comprador (ao que parece será mais uma empresa estratégica que o governo de Pequim vai comprar!) pagou o papel Comercial emitido pelo ex-BES, mas recusa-se a pagar o Papel Comercial emitido pelo ESI. Mas não é tudo a mesma trampa?

NOTAS
  1. "O serviço para clientes ‘premium' do BES dá pelo nome de BES 360º e assenta no conceito "360º à sua volta". O acesso resulta de uma análise do banco a variáveis como o rendimento, a profissão e o envolvimento financeiro de clientes com recursos a partir dos 35.000 euros. Através do serviço Mapa 360º o gestor indica as melhores opções de investimento mas também o apoia nas principais decisões financeiras, como sejam a aquisição de habitação ou a reforma." — in Económico.

sábado, fevereiro 14, 2015

China quer os lombinhos do BES

Bank of China (ao centro). Hong-Kong.

Portugal, 1415—China, 2015 (600 anos depois...), ou a profecia de Xangai


Bank of China, "wholly state-owned", quer o lombo sem gorduras do exBES, o chamado 'banco bom', deixando obviamente milhares de antigos clientes com as poupanças a arder.

Bank of China é um dos interessados no Novo Banco
Dinheiro Vivo 14/02/2015 | 00:00
Está desvendado mais um nome entre os interessados no Novo Banco. O Bank of China está na corrida à instituição liderada por Eduardo Stock da Cunha, segundo apurou o Dinheiro Vivo. O banco chinês manifestou o seu interesse junto do assessor financeiro escolhido pelo Banco de Portugal que está a assessorar a venda - BNP Paribas - e já terá sido, inclusivamente, uma das entidades que foi validada. Ou seja, que cumpre os critérios exigidos pelo Banco de Portugal para aceder à informação financeira.

Não deixa de ser uma ironia, ou melhor uma farsa, que um país em bancarrota, como Portugal, dirigido por um governo dito neoliberal, esteja a despachar as suas principais empresas estratégicas, outrora públicas e hoje privadas, bancos incluídos, para o setor empresarial público da comunista República Popular da China. Os gregos, ao menos, usam a imaginação!

A estratégia chinesa é bem-vinda, sobretudo para o novo desenho das interdependências lusitanas, mas sob condição de os indígenas ignaros que nos governam saberem o que andam a fazer. Não sabem.

Neste ponto convém sublinhar que dos aldrabões do PSD e CDS, ao indigente cor-de-rosa que governa os Açores, o que transparece é tão só o afã de venda ao desbarato dos dedos da República Portuguesa. Os anéis, como sabemos hoje melhor do que ontem, marcharam com a descolonização maltrapilha e o tumulto pré-revolucionário que se seguiu à queda do Salazarismo.

Dizem os imbecis de Belém e de São Bento que Portugal cumpre com as suas obrigações perante os credores. Vê-se!!!

Zheng He (1371-1433)—almirante muçulmano, eunuco, chinês, considerado hoje o Grande Navegador da China

Um chinês de Xangai predisse uma vez que em 2015 o Império do Meio seria o banco do mundo. Curiosamente, seiscentos anos depois da conquista de Ceuta, que marca o início da grande diáspora marítima europeia e a primeira experiência de Globalização. A profecia de Xangai está a ponto de cumprir-se, embora, na minha modesta opinião, uma vez cumprida, terá vida curta. Antes de 2030 o mundo voltará a dividir-se ao meio: o hemisfério oriental, para uns, o hemisfério ocidental, para outros.

Esta fatalidade dever-se-à a duas ocorrências, uma imprevista, e outra inevitável.

A causa imprevista do fracasso futuro do projeto imperial chinês chama-se Pico do Petróleo, cujas implicações são muito complexas, mas que podem resumir-se a dois constrangimentos fulcrais: a chegada de um período longo (60 a 120 anos) de crescimento zero (entre 0 e 1%), e uma prolongada crise financeira, social, cultural e militar com origem na extrema dificuldade de diminuir os elevadíssimos níveis de endividamento e de exposição a derivados financeiros especulativos por parte da maioria dos principais países do planeta.

A causa inevitável, por sua vez, é o crescimento do consumo interno na China e a melhoria das condições de vida dos seus habitantes, a qual exercerá uma pressão enorme sobre os recursos disponíveis locais e do planeta, e uma pressão explosiva sobre a inflação interna enquanto o país não regredir para ritmos de crescimento substancialmente inferiores aos atuais, que, apesar de tudo, já começaram a diminuir.

Repetir a receita do Japão (yen carry-trade), que os próprios Estados Unidos têm vindo a copiar, afigura-se materialmente impossível apesar da guerra cambial e de juros em curso desde o colapso do Lehman Brothers. Haverá, pois, um momento em que os problemas internos da China serão mais importantes do que o sonho imperial. Quando tal acontecer, e esse dia está mais próximo do que parece, a China lembrar-se-à do imperador que ordenou a Zheng He a destruição da sua famosa e poderosa armada.

Que deve fazer Portugal?

Os dirigentes chineses afirmaram que a sua relação com Portugal, mas também com a Alemanha, o Reino Unido, a Grécia, Moçambique e Angola, Brasil, Argentina, etc., é de natureza estratégica. Ou seja, que visa o longo prazo e os interesses comuns. Acredito que sim. E Portugal deve cuidar com zelo desta relação estratégica. Mas não enfraquecendo a tal ponto as suas defesas naturais que se transforme numa mera província chinesa na Europa.


NOTAS
  1. Bank of China
    “In 1994, the Bank was transformed into a wholly state-owned commercial bank. In August 2004, Bank of China Limited was incorporated. The Bank was listed on the Hong Kong Stock Exchange and Shanghai Stock Exchange in June and July 2006 respectively, becoming the first Chinese commercial bank to launch an A-Share and H-Share initial public offering and achieve a dual listing in both markets. In 2013, Bank of China was enrolled again as a Global Systemically Important Bank, becoming the sole financial institution from emerging economies to be enrolled for three consecutive years.”

quarta-feira, janeiro 28, 2015

Batata quente da TAP vai explodir no próximo governo

Tal como a PT, a TAP é um fruto podre do senhor BES e do... PS


Pelo andar dos carroceiros, a TAP vai mesmo falir durante o próximo mandato. Trata-se de uma batata quente do tamanho ou maior ainda que a PT, e foi vítima dos mesmos pontapés que atiraram o BES e a Portugal Telecom para o charco, arrastando atrás de si centenas de empresas, e milhares de especuladores e incautos.

O BES e o Crédit Suisse, dois grupos financeiros conhecidos e abraços com a Justiça, por causa das suas piratarias de alto coturno, eram os fiadores, e os consultores, para quase tudo, da TAP. Foram estes banksters, por exemplo, que aconselharam o Governo, nomeadamente através do senhor Arnaut, do senhor Relvas e doutra corja da mesma laia, no processo de privatização abortado da TAP.

Convém recordar que o BES (ESI), antigo dono da Portugália Airlines, impingiu a PGA à TAP no tempo do Pinóquio Sócrates, mais precisamente em 2006—por cento e quarenta milhões de euros.

Por fim, relembro que o gaúcho Fernando Pinto foi contratado milionariamente, no ano 2000, para privatizar a TAP, transitando para esta companhia duma extinta empresa chamada Varig, de que a VEM era parte integrante e que, adquirida pela TAP em 2007, por 500 milhões de euros, num negócio que conviria investigar, pois até envolveu a Geocapital, de que Almeida Santos ainda é o presidente da respetiva Mesa da Assembleia Geral, nunca deixou de dar enormes prejuízos ao Grupo TAP, ano de 2014 incluído.

Creio mesmo que a operação TAP, apesar de mal orientada estrategicamente, pois não se preparou para a emergência das companhias Low Cost, tem sido mais ou menos rentável, mas os lucros obtidos têm servido sistematicamente para tapar o buraco sem fundo da agora designada TAP Maintenance & Engineering. Alguém colocou alguma vez a hipótese de estarmos na presença de um sistema de vasos comunicantes, onde os prejuízos circulam num sentido, e os lucros noutro?

Reproduzo, a propósito dos últimos desenvolvimentos do fogo fátuo em volta da segunda tentativa de privatização da TAP, a opinião de um leitor atento...

TAP - Uma privatização à grega
Avianca não entrega proposta para compra da TAP.
       
Segundo o Económico, o colombiano não está muito inclinado a entregar proposta para compra da TAP.

Parece pois que as coisas irão orientar-se para que a bomba-relógio vá cair direitinha nas mãos do PS quando este chegar a governo lá para o final do ano.

Como já se disse, a maturidade máxima do negócio do Gaúcho ocorreu no dia em que a Ryanair começou a operar em Lisboa. Parece que esta constatação é de alguma forma incontestável pois, segundo o relatório trimestral da TAP, o 3º trimestre, em vez de demonstrar um bom desempenho, revelou-se dececionante, e o 4º trimestre, com as paralizações, também não ajudou. Ainda faltam os dados do final do ano de 2014, que deixam antever, porventura, um cenário ainda mais complicado.

A receita por milha voada/ passageiro está claramente em queda, o que implica níveis de rentabilidade do próprio negócio em declínio. Eventualmente a Carga Aérea poderia dar uma ajuda. Mas apesar da competição na Portela ser reduzida, as coisas na TAP não se equilibram, ne por aqui.

A indecisão do colombiano decorre do acompanhamento do processo que se fez em 2012.
As condições de concurso foram substancialmente alteradas, sendo evidente na posição do colombiano que o seu interesse na TAP dependeria da total liberdade na área do pessoal. Como existem restrições em matéria de despedimentos e de rescisões de contratos, morre a margem de manobra para restringir a despesa.
Não será preciso perceber muito de gestão para entender que os efeitos são mais imediatos atuando diretamente na despesa, do que na receita, sabendo que esta (a receita) demora muito mais tempo a concretizar-se, para mais numa indústria altamente competitiva, onde as vantagens da TAP no médio curso (de onde provêm 60% das receitas) são praticamente nulas. Resta, pois, à TAP explorar a rota Lisboa-Terceira, que a Ryanair não disputará tão cedo.

O Diário Económico de ontem revela que as Low Cost (Ryanair, etc.) estão especialmente satisfeitas com os níveis de reserva conseguidas para Ponta Delgada, o que coloca a SATA numa situação especialmente desconfortável, pois as rotas para Ponta Delgada foram em tempos dadas à SATA como nicho protegido de mercado (à TAP deram a Terceira). A SATA é, assim, outra bomba-relógio, que deverá rebentar no futuro governo (PS?), e ainda durante a vigência do atual Governo Regional dos Açores (PS), que reivindicou publicamente a última vitória eleitoral do PS nos Açores como resultado da sua boa governação. Houve foguetes, champanhe a rodos, coisa de arromba. Vamos ver agora como irá acabar a festa.

No tocante ainda à TAP e à Terceira, a saída dos americanos das Lajes vai trazer complicações várias à economia da Terceira e do Açores. Mais uma bomba nas mãos do PS. Como é a TAP que opera na Terceira, com o poder de compra do pessoal em baixo, também não haverá muito dinheiro para a compra de bilhetes em aviões da TAP. Como em Porto Santo, vamos assistir a outro kaput da operação TAP nas ilhas adjacentes.

Talvez a Ryanair venha um dia a estar interessada na operação Lisboa-Terceira. Será que uma frequência de dois voos semanais poderá interessar-lhes?

E no meio disto tudo temos ainda o Montijo.

A Vinci quer maximizar os lucros na Portela. A TAP, para a sua sobrevivência, quer as Low Cost fora da Portela, coisa que no passado conseguiu através dos obstáculos colocados pela ANA às companhias Low Cost, mas que agora numa lógica de lucro rápido, não há como pressionar...

A TAP, ao restringir a sua operação ao mini-hub da Portela, por efeito evidente da concorrência e da falta de aviões que não deixem cair porcas pelo caminho, será uma má notícia para a Vinci. Esta irá certamente colocar mais pressão sobre o futuro governo. Imagino que no contrato assinado entre o governo e a Vinci tenham sido estabelecidas cláusulas de salvaguarda sobre tráfego, obrigando a compensações públicas caso a dminuição do mesmo seja imputável à TAP. Se é assim nas auto-estradas, não vejo que para a Vinci seja de outra forma.

A Vinci está, pois, muito atenta ao processo de privatização da TAP, bem como às opções futuras da TAP, nomeadamente em matéria de gestão. A falência da TAP é certamente um dos cenários que a Vinci tem em cima da mesa. Qual será o cenário da Portela e do Porto se a TAP fechar num dia e abrir no outro com uma nova configuração, onde haja uma redução de rotas? Estima-se em dois anos o tempo que leva outras companhias aéreas a ocuparem inteiramente o espaço deixado por uma companhia que faliu. Dois anos para a Vinci, com contas ao dia, é certamente muito tempo.

Vamos ver se a malta ainda não terá de entrar com o caroço para a Vinci. É claro que se pode agradecer ao BES/ESI, ao Gaúcho e ao Sérgio, se tal vier a ocorrer!

Apesar da queda do preço do petróleo, a TAP ainda cobra a "taxa de combustível".

Imagino que o Gaúcho lançou mão daquilo que ele diz ser o hedging, ou seja, um seguro para compra de Jet Fuel a determinado preço. Um swap no seu melhor! Ou seja, a TAP terá feito um seguro de combustível para preços superiores aos atuais, e agora está a pagar mais do que deveria pelo Jet Fuel. Deve ser por algo deste género que a malta que viaja na TAP, ao contrário de outras companhias aéreas, continua a pagar esta espécie de taxa FP. Como esta houve e há ainda outra que se chama VEM...

R.

PS. Num cenário de falência da TAP, ou de eventual privatização, cada vez mais afastada, a empresa simplesmente deixará de operar em Faro. Por sua vez, o destino da frota e do pessoal da PGA está traçado: não se podendo despedir pessoal, quem é que vai ter que os suportar durante dois anos sem fazerem nada? Acertaram! Será a TAP.

R.

terça-feira, janeiro 06, 2015

Pobre Mário

Mário Soares
Foto ©Ana Nabais/ Sol

Ó Mário, meio milhão chega, não?


Quem diria! Como não há-de defender o Marquês de Maçada... atualmente a fazer jogging numa prisão alentejana.

SOL, 30 dez 2014: Desde 2011, o BES atribuiu à Fundação Mário Soares um apoio financeiro de 570 mil euros. O grupo liderado por Ricardo Salgado é assim o maior financiador da instituição do ex-Presidente da República, avança o Correio da Manhã.

O último financiamento no valor de 300 mil euros foi feito em Março de 2013, cerca de um ano antes da crise no Grupo Espírito Santo.

Ou seja, como o BES recorreu à lei do Mecenato para apoiar a Fundação Mário Soares, afinal fomos nós, os contribuintes saqueados, quem financiou, mais uma vez e mais uma vez por baixo da porta, dando, ainda por cima, os louros ao Tio Ricardo, a famosa fundação do Pai da Pátria.

O património desta fundação compõe-se, supomos, dos livros escritos, lidos e colecionados por Mário Soares, mais as cartas da prisão e as diplomáticas. Mas uma fundação tem que possuir fontes de rendimento próprias. Quais são, neste caso? Apenas a massa sacada anualmente aos contribuintes nacionais e autárquicos pela nomenclatura instalada, sem que os ditos contribuintes tenham uma palavra a dizer sobre o assunto?

É triste ver uma criatura descer tanto em tão pouco tempo. A III República será, pelo andar da carruagem, mais uma anedota da rápida decadência de Portugal à medida que foi perdendo o império, sem abdicar, porém, da mania das grandezas à custa do sistémico empobrecimento indígena.

PS: o último artigo publicado por MS no DN não deixa de ser mais uma prova do lamaçal em que este regime se afoga dia a dia. Então não é que Mário Soares propôs a Cavaco Silva um acordo de cavalheiros (ainda que sob a forma de ameaça grosseira) que não passa da falsa e básica alternativa do Dilema do Prisioneiro? Assim não se safa...


Última atualização: 6 dez 2015, 11:14 WET

segunda-feira, dezembro 22, 2014

O acontecimento do ano

Brasões de um Portugal agoniado

O colapso do regime começou pelo nó promíscuo entre o PS e um banco do regime


O colapso do BES é, apesar de tudo, mais importante, pelas piores razões, do que a também vergonhosa prisão de um ex-primeiro ministro de Portugal, por suspeitas de corrupção, lavagem de dinheiro e fraude fiscal.

Um ano horrível para Portugal.

Curiosamente, ambos os colapsos, económico-financeiro e político-partidário, têm origem num erro de cálculo de Mário Soares.

sábado, dezembro 20, 2014

2015: os dois erros fatais de Mário Soares e o fim deste regime

Soares diz que o Governo está "moribundo" e "vai cair" (outubro, 2013)
© Daniel Rocha/Arquivo

José Sócrates e Jorge Coelho foram os testas de ferro de Mário Soares, e perderam. Nem Ricardo Salgado os salvou. Muito pelo contrário!


Soares começou por avaliar mal a China e Angola, crendo que a Europa e os amigos do seu amigo Frank Carlucci, que cairiam parcialmente em desgraça depois do 11 de Setembro, nomeadamente em Portugal, lhe manteriam as costas quentes para dizer o que quisesse, de modo cada vez mais incontinente, e para mover as suas tropas à vontade no território manifestamene exíguo do país que sobrara da implosão do nosso exangue império colonial.

Soares não estudou e por isso não conseguiu ver o óbvio: que a China precisaria de África e da América do Sul para a sua própria sobrevivência estratégica e crescimento sustentado. Não percebeu que a projeção global da China em direção ao Atlântico se faria naturalmente através de uma ligação entre Pequim (com Xangai e Macau) e Maputo, Luanda, Lisboa e Brasília (além de Buenos Aires e Caracas). Não leu os meus posts, onde escrevi, entre outras coisas, que a China estabelecera o ano de 2015 para se tornar o banco do mundo (incluindo o banco da América, da Rússia e da Europa), e assim passar a ser, de facto, a nova e única potência global em condições de desafiar a supremacia do império americano.

Observação: nesta nova divisão do mundo é preciso lançar a iniciativa de uma espécie de novo Tratado de Tordesilhas (a que chamei Tordesilhas 2.0), sob pena de, se algo de semelhante não for conseguido, Ocidente e Oriente cairem outra vez numa dinâmica de confrontação extremamente perigosa. Um alinhamento acéfalo e cobarde da Europa com os Estados Unidos só poderá dar péssimos resultados, como estamos neste momento a ver e perceber, finalmente.

A desastrosa política da NATO, comandada desde Washington, acossando e provocando as fronteiras da Rússia, mergulhou a Europa numa gravíssima crise de liderança.

Esperemos que Angela Merkel, que conhece bem os russos, tenha a sabedoria de reencaminhar a União Europeia para uma cooperação estratégica com Moscovo, em nome de uma Eurásia livre da prepotência americana. A Rússia precisa da ligação ferroviária entre Lisboa e Vladivostoque para se proteger da excessiva importância da ligação ferroviária Pequim-Madrid—que só não chega ainda a Lisboa porque o lóbi pirata do aeroporto da Ota em Alcochete conseguiu, até agora, condicionar a ação de Passos Coelho (1).

Por todos os motivos, neste particular aspeto da movimentação tectónica em curso, Portugal só tem uma opção estratégica que valha o nome: manter-se fiel à sua geografia, fiel às suas velhas alianças, mas também fiel à memória histórica, à sua memória histórica!

Ser um pequeno mas confiável parceiro do Ocidente e do Oriente onde estivemos ao longo dos últimos 600 anos—de facto até ao início deste século, pois Timor só obteve a sua independência efetiva em 2002— é uma missão histórica e a nossa principal estratégia para todo o século 21. Quem não percebeu ou não quer perceber esta subtileza histórica não tem lugar no futuro e deve, desde já, deixar de atrapalhar o presente.

Em Macau, para onde Mário Soares enviou uma tropa fandanga de aventureiros, ficou uma mancha terrível de corrupção grosseira e insaciável. Em Angola, Soares não só apoiou o cavalo errado, como teve mau perder e, desde então, foi sempre fustigando José Eduardo dos Santos, movendo sempre que quis a indigente imprensa local para denunciar a cleptocracia de Luanda.

José Sócrates bem tentou agarrar a areia com as mãos, quer dizer, bem tentou entrar no novo filão estratégico a que os país está destinado, viajando para Luanda, Maputo, Macau, Pequim, Caracas, Brasília. Até enviou o BES para Angola e para a China, onde mal estava presente. Até destacou a Mota-Engil para Angola, Moçambique, Brasil e alguns países mais da América Latina. Mas houve algo que falhou. O que foi? Só encontro uma explicação: a perceção de que Sócrates, Jorge Coelho e o resto da tríade de Macau era afinal a malta fixe do velho Mário Soares e do seu ajudante de campo, António Almeida Santos!

Que há de errado nesta configuração? Talvez isto: o aliado africano de Mário Soares foi Jonas Savimbi, e o aliado chinês chamou-se Stanley Ho — um milionário que perdeu 89% da sua fortuna em 2008 e cujos numerosos descendentes andam envolvidas em disputas de herança.

Como Mário Soares nunca fez as necessárias agulhas para os verdadeiros poderes da China e de Angola, e em Moçambique se manteve neutro, dificilmente se poderia esperar que o futuro das estratégias de Pequim e de Luanda passasse por velhos inimigos, ou por gente que se portou tão mal em Macau e nunca verdadeiramente olhou para Pequim com a atenção devida.

Na linhagem descendente e alinhada de Mário Soares, ninguém tentou mudar de direção exceto, em boa verdade, José Sócrates. Acontece, porém, que a mudança de direção teve mais de deriva oportunista do que estratégia. Basta ver a sanha moralista da deputada Ana Gomes, ou do filho de Mário Soares, João Soares, contra a cleptocracia angolana e a ditadura chinesa, para que fique claro que o Partido Socialista e os seus governos não são aliados confiáveis da China, nem muito menos de Angola.

Entretanto, José Sócrates e a sua turma de corruptos e irresponsáveis levaram o país à pré-bancarrota, deixando a maioria dos bancos portugueses na ruína, entregues a uma fuga criminosa de capitais e à ocultação de passivos mais ou menos clandestinos. Sem dinheiro, os banqueiros despediram Sócrates e o governo. O PS viria a perder compreensivelmente as eleições a favor de uma nova geração do PSD, capitaneada por Pedro Passos Coelho.

À medida que foi preciso corrigir o país, os casos de corrupção começaram a saltar.

Por outro lado, a estratégia diplomática portuguesa acertou o passo com a racionalidade e o pragmatismo, obtendo um significativo apoio por parte da China e de Angola. Foi isto que enfureceu Mário Soares e a corja corrupta do PS, mas também muita gentinha igualmente corrupta do PSD e do CDS/PP.

O timoneiro Soares chegou então à conclusão de que era preciso derrubar o governo de Passos Coelho fosse como fosse. António José Seguro não alinhava? Despediu-se o Tozé! A pressão sobre Cavaco Silva foi enorme, e veio dos dois lados: do PS de Soares e do PSD de Durão Barroso. Passos Coelho, porém, resistiu melhor do que se esperava.

Nem o golpismo impotente e de última hora de Mário Soares, atraindo toda a esquerda partidária neocorporativa e indigente para a rua, com as tropas de choque sindicais assediando continuamente ministros e comunicação social, empurrando os trabalhadores para greves que são becos sem saída (Professores, Metro, CP, Carris e TAP são bons exemplos da criminalidade sindical à solta), nada disrto derrubou a coligação, nem chegará para salvar o PS de uma mais que provável extinção partidária.

O carreirista limitado que é António Costa foi obviamente empurrado para o papel que hoje, sem jeito algum, e apesar da babada e desmiolada imprensa indigente que o apoia, desempenha: o de testa de ferro de segunda ordem de Mário Soares.

Esperemos que a Justiça que entretanto se libertou do disléxico Monteiro e de toda a canga de invertebrados judiciários que serviram a casta que nos arruinou, faça o seu trabalho depressa e bem, destapando um a um os potes da riqueza sequestrada aos portugueses, e recupere, se não todo o saque, pois parte dele foi delapidado em obras inúteis, contratos ilegítimos que terão que ser denunciados e corrigidos, e muita festa regada com Champagne, pelo menos nos ajude a restaurar, como povo, a honra perdida.

NOTAS
  1. O governo português, nesta particular mas importante matéria, só tem que fazer uma coisa: cumprir os acordos com Espanha e fazer a sua parte na construção da nova rede ferroviária europeia em bitola europeia. Para isto tem dinheiro europeu. Para as parvoíces que enfiaram no GTIEVA não tem, nem terá.