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quarta-feira, julho 09, 2008

Crise Iraniana 4

Mini nuke
Os EUA querem experimentar as suas mini-bombas nucleares no Irão!

Jogos de Guerra no Golfo Pérsico
Sionistas e Cowboys querem III Guerra Mundial

1:54 | Quinta-feira, 10 de Jul de 2008
Irão realiza novo lançamento de mísseis no Golfo Pérsico
Durante os exercícios, as forças armadas lançaram o torpedo Hoot, uma arma extremamente rápida com capacidade para atingir submarinos inimigos. -- Expresso.
L'Iran "mettra le feu" à Tel Aviv et à la flotte US en cas d'attaque
NOUVELOBS.COM | 08.07.2008 | 10:54

"Le régime sioniste fait actuellement pression sur les dirigeants de la Maison Blanche pour préparer une attaque contre l'Iran", déclare le représentant du guide suprême Ali Khamenei, "s'ils commettent une telle stupidité, la première réponse de l'Iran sera de mettre le feu à Tel Aviv".

... Armée parallèle

Crées au lendemain de la victoire de la révolution de 1979, les Gardiens de la révolution islamique sont une armée parallèle avec ses propres forces terrestres, navales et aériennes.
Armée idéologique du régime, ils disposent de nombreuses missiles, notamment les Shahab-3 capables d'atteindre le territoire israélien et les bases militaires américaines dans la région.
Samedi, le chef des Gardiens, le général Mohammad Ali Jafari, a menacé "les ennemis" de "frappes fatales" dans le Golfe.

Il a ajouté qu'en cas d'attaque contre l'Iran, "les tactiques (...) de guerre éclair des bateaux des Gardiens ne laisseront aucune chance de s'enfuir aux ennemis".

Téhéran pourrait fermer le détroit stratégique d'Ormuz, par où transite environ 40% du pétrole mondial, si les intérêts de l'Iran étaient en jeu, avait également averti samedi le chef d'état-major de l'armée iranienne. LINK

A verdade é que os Estados Unidos e o Reino Corrupto de Sua Majestade Britânica estão falidos, outra vez! Daí que lhes convenha muito estourar com a União Europeia (ver comportamentos da Irlanda, da República Checa, da Polónia e da França capturada) e provocar uma III Guerra Mundial, usando o Sionismo e Israel como espoletas dum ataque ao Irão.

Israel nunca foi um fim em si, mas um instrumento. Continua a sê-lo, apesar da ilusão de muitos judeus justos e razoáveis.

A contra-informação dirá que o Irão apenas quer petróleo mais caro. Mas não se iludam! O verdadeiro objectivo de Londres (que continua a mandar em Nova Iorque) é re-assegurar o controlo das reservas petrolíferas mundiais, operando, como sempre fez, uma partilha escandalosamente desigual dos recursos. Só que agora, recuperar uma tal supremacia energética, no momento em que o petróleo do Mar Norte está cada vez mais aguado, e está iminente a explosão do casino mundial de derivados --uns inimagináveis 675 BILIÕES DE US DÓLARES ($675 000 000 000 000), ou seja, o PIB do planeta multiplicado por dez! (1)-- parece uma missão desesperadamente impossível. A menos que, juram os falcões e os idiotas de serviço (entre os quais algumas plumas na nossa subserviente praça jornalística), se arranje um bom pretexto para invadir o Irão, desencadeando um Guerra Mundial Preventiva!!

Iranian missile test fire

Passo 1 da estratégia provocatória: levar os corruptos governos do Ocidente e a sua massa de eleitores mediaticamente hipnotizados a acreditar que o Irão não só não deve defender-se contra uma agressão em fase adiantada de preparação, como, qual novo Iraque, é uma ameaça nuclear à democracia e à civilização! Como escreve Elaine Meinel Supkis, é obrigação estrita dos dirigentes iranianos preparar o país para a iminência de um ataque israelita-americano contra a sua soberania, que a realizar-se será, como foi no Iraque e é na Palestina, uma carnificina contra a população civil daquele país. O verdadeiro terrorismo que hoje existe no mundo, não vem do Islão, mas do terrorismo de Estado praticado impunemente pelas grandes potências, com os Estados Unidos à cabeça!

Iranian missile range

Passo 2 da estratégia provocatória: desestabilizar a União Europeia, por forma a impedir consensos contra o ataque há muito decidido contra o Irão, desestabilizando ao mesmo tempo toda a região, por forma a criar pretextos para alastrar imediatamente o conflito à Síria, ao Líbano e ao próprio Paquistão. Para isso, tal como fez no Afeganistão, na Colômbia, na Nicarágua, na Venezuela, ou mais recentemente na Bolívia, a CIA e as Operações Especiais do Pentágono estão particularmente activas na criação de movimentos de oposição terrorista a Teerão, como acaba de ser revelado pelas declarações recentes de um general paquistanês.
'US backs Jundullah to destabilize Iran'
Press TV. Wed, 09 Jul 2008 03:42:04

Pakistan's former Army Chief, Retired General Mirza Aslam Baig, says the US is supporting the outlawed Jundullah group to destabilize Iran.

He said that the US is providing training facilities to Jundullah fighters--located in eastern areas of Iran--to create unrest in the area and affect the cordial ties between Iran and its neighbor Pakistan.

Baig added that Iran and Pakistan are under the siege of western conspiracies.

The intelligence agencies of the coalitional forces are very active in Afghanistan and work against the interests of Iran, Pakistan, China and Russia in the region, he said as quoted by Pakistan Daily newspaper.

The former Pakistani official hailed Islamabad's decision to hand over the captured Jundullah members to Iran, saying those working against the interests of Iran and Pakistan should be dealt with iron fist.

Jundullah is a terrorist group, headed by Abdolmalek Rigi, which operates in Iran's Sistan-Baluchistan and Pakistan's Baluchistan.

Last month Pakistan handed over Abdolhamid Rigi, brother of Abdolmalek, to Iran.

MGH/PA -- PressTV



NOTAS
  1. Sobre este ponto, recebi um comentário vindo do Brasil, de um blogue "económico" que recomendo vivamente, chamado Rumores da Crise. Aqui fica um extracto de um belo artigo dedicado ao casino dos "derivados" (ou "derivativos"):
    ... O ataque neoliberal ao trabalho improdutivo, segundo a lógica do capital, não foi suficiente para reverter a queda da rentabilidade na economia real que tem como fundamento a crise do valor, situação que se agravava com a revolução da informática. Não só a expansão do trabalho improdutivo necessário ao desenvolvimento do capital punha em xeque a acumulação, mas as novas formas de produção e gestão, movidas pela concorrência global, que incorporam tecnologia e ciência, aumentam vertiginosamente o capital fixo e a produtividade, expulsando homens de antigos empregos. É a crise do trabalho agravando a crise do valor.

    As exportações de capitais dos países desenvolvidos para países em desenvolvimento como a China, Índia e outros, em busca de uma maior rentabilidade, aumentaram a disponibilidade de mercadorias no mundo que precisam de um mercado para se realizarem. É quando o crédito se expande de forma jamais vista e o pagamento dos produtos adquiridos no mercado é transferido para um trabalho futuro que nunca acontecerá, pois a tendência do capitalismo é racionalizar e dispensar trabalho de forma crescente. Aí está a base das bolhas, que injetam dinheiro fictício no mercado e na produção (fictício por ser vazio de substância, não representar valor, trabalho abstrato), e aprisiona a economia real aos seus movimentos já que esta não consegue por ‘meios normais’, ‘valorizar o valor’(Marx). -- 16.08.2007, Procura-se uma Nova Bolha, por Rall in Rumores da Crise.

OAM 389 08-07-2008, 23:09 (última actualização: 13-07-2008 00:15)

quinta-feira, dezembro 06, 2007

Crise Iraniana 3

President George W. Bush during a press conference at the White House
G.W. Bush anuncia que Irão não tem em curso nenhum programa nuclear militar.
Mandel Nagan/Agence France-Presse--Getty Images.

Dois Vietnames e meio

An Assessment Jars a Foreign Policy Debate About Iran
By STEVEN LEE MYERS
Published: December 4, 2007

"WASHINGTON, Dec. 3 -- Rarely, if ever, has a single intelligence report so completely, so suddenly, and so surprisingly altered a foreign policy debate here.

"An administration that had cited Iran's pursuit of nuclear weapons as the rationale for an aggressive foreign policy -- as an attempt to head off World War III, as President Bush himself put it only weeks ago -- now has in its hands a classified document that undercuts much of the foundation for that approach.

"The impact of the National Intelligence Estimate's conclusion -- that Iran had halted a military program in 2003, though it continues to enrich uranium, ostensibly for peaceful uses -- will be felt in endless ways at home and abroad.

... "There are still hawks in the administration, Vice President Dick Cheney chief among them, who view Iran with deep suspicion. But for now at least, the main argument for a military conflict with Iran -- widely rumored and feared, judging by antiwar protesters that often greet Mr. Bush during his travels -- is off the table for the foreseeable future." -- The New York Times.

Ao contrário do que se fartaram de escrever as araras que comentam as grandes questões internacionais, o Irão não está a desenvolver nenhum programa militar nuclear, pelo menos desde 2003. Reconheceram-no agora os serviços secretos que trabalham para G. W. Bush, mais de um mês depois de tal conclusão ter sido sublinhada por Mohamed ElBaradei, o Director-Geral da Agência Internacional de Energia Atómica.

O jogo do gato e do rato em que o cowboy do Texas caíu que nem um patinho, serviu às mil maravilhas a China, a Rússia, a Venezuela, os Emiratos Árabes, a Arábia Saudita e o próprio Irão. O petróleo disparou para além do que é devido ao Pico Petrolífero; a Rússia investiu no reforço do seu potencial militar (nuclear estratégico e convencional); a Arábia Saudita comprou dezenas de caças de última geração ao Sr. Blair (com luvas pelo meio e nada de investigações detalhadas sobre o assunto); o Iraque sabotou com sucesso a legislação que Bush queria fazer passar no parlamento do país ocupado, desenhada com o fito de hipotecar boa parte do petróleo iraquiano à sua própria família e amigos; a China acaba de emergir como actor estratégico de primeiro plano na diplomacia mundial; em suma, os Estados Unidos estão na mais completa falência, estourando mais de 50% das suas receitas fiscais numa cruzada para a qual já não têm, nem tomates, nem combustível. A Europa andou, como sempre, a pavonear a sua indigência estratégica. Quando é que o Solana se reforma?

E agora, em que ficamos? A China proibiu por duas vezes navios de guerra norte-americanos de visitarem os seus portos, ao mesmo tempo que aparece como pacificadora das grandes tensões diplomáticas mundiais (Coreia do Norte, Irão, ...). A Rússia voltou a patrulhar em força o Atlântico e o Mediterrâneo, tendo programado grandes exercícios aero-navais para o início de 2008. China e Japão acertam estratégias financeiras globais no que respeita ao lucrativo negócio do chamado carry trade. A Europa está borrada de medo com o que possa acontecer nos próximos dois anos em consequência do tsunami financeiro em curso.

Os Estados Unidos, único país que atacou (por duas vezes) um país com bombas atómicas, continua a investir milhares de milhões de dólares na sofisticação do seu arsenal nuclear, provocando assim a actual intensificação da corrida aos armamentos em todo o mundo, seja no sector das armas convencionais, das armas proibidas (nucleares, química e biológica), ou ainda do explosivo sector da guerra electrónica. Pela natureza do seu actual modelo económico especulativo e consumista, assente na expansão infinita de uma dívida que depois exporta para o resto do planeta, assim como pela ilusão imperial em que ainda vive, esta gigantesca e rica democracia tem vindo a transformar-se no mais perigoso perturbador da paz mundial. É um tigre ferido, e como tal muito perigoso. Precisa de ajuda e teremos que ajudá-la. Os tempos difíceis que aí vêm convidam, como nunca, à humildade, à inteligência e à cooperação.


OAM 290 06-12-2007, 01:54

segunda-feira, outubro 01, 2007

Portugal 8

Aznar, o Cruzado Menor de Bush
Aznar, o Cruzado menor de Bush (detalhe, cortesia)


Espanha:
a viragem atlântica


Quando se deu a cimeira das Lajes (Açores) entre Bush, Blair e Aznar, tendo por anfitrião José Manuel Durão Barroso (então primeiro ministro português), eu estava no Círculo de Bellas Artes de Madrid. Mal se soube da notícia, um amigo espanhol e galego exclamou na minha direcção: "Esto cambia todo! Ahora estamos en el mismo barco!!"

Aznar viria a ser derrotado pouco tempo depois e os socialistas subiram ao poder. Os soldados espanhóis retiraram do Iraque. Mas os Institutos Cervantes, esses, proliferaram como cogumelos por todo o planeta: Alexandria, Argel, Atenas, Beirute, Belgrado, Berlim, Brasília, Dublin, Istambul, Calgari, Casablanca, Chicago, Cairo, Curitiba, Estocolmo, Hanoi, Praga, Moscovo, Pequim, e um extenso etc....

Chega-nos agora, via El País e Público, a transcrição esclarecedora de uma conversa entre Bush e Aznar sobre a invasão do Iraque. Há uma frase entre todas que destaco, pelo seu significado para a discussão ibérica que começa:

"O que estamos a fazer é uma mudança muito profunda para Espanha e para os espanhóis. Estamos a mudar as políticas que o país tem seguido nos últimos 200 anos."

Era a prova discursiva que me faltava à hipótese que venho defendendo sobre a nova orientação estratégica da Espanha e os desafios renovados que esta mudança de vector coloca a Portugal.


Bush e Aznar em discurso directo

01.10.2007

No encontro no rancho do Presidente americano, Bush diz a Aznar que ambos são guiados por um sentido histórico de responsabilidade.

BUSH: Somos a favor de conseguir uma segunda resolução no Conselho de Segurança e queríamos fazê-lo rapidamente. Queríamos anunciá-la segunda ou terça-feira [24 ou 25 de Fevereiro de 2003].

AZNAR: É melhor na terça-feira, depois da reunião do Conselho de Assuntos Gerais da União Europeia. É importante manter o momentum conseguido pela resolução da cimeira da UE [em Bruxelas, segunda-feira 17 de Fevereiro]. Nós preferíamos esperar até na terça-feira.

BUSH: Poderia ser na segunda à tarde, tendo em conta a diferença horária. De qualquer maneira, durante a próxima semana. Redige-se a resolução de modo a que não tenha elementos obrigatórios, que não mencione o uso da força, e que diga que Saddam Hussein tem sido incapaz de cumprir as suas obrigações. Este tipo de resolução pode ser votada por muita gente. Seria parecida com a que se conseguiu para o Kosovo [a 10 de Junho de 1999].

AZNAR: Apresentar-se-ia ao Conselho de Segurança antes e independentemente de uma declaração paralela?

CONDOLEEZA RICE: Na verdade não haveria declaração paralela. Estamos a pensar numa resolução tão simples quanto possível sem muitos pormenores de cumprimento que pudessem servir a Saddam Hussein para os utilizar como etapas e consequentemente não as cumprir. Estamos a falar com [Hans] Blix [chefe dos inspectores da ONU] e com outros da sua equipa para ter ideias que possam servir para introduzir a resolução.

BUSH: Saddam Hussein não vai mudar e continuará a jogar. Chegou o momento de nos desfazermos dele. É assim. Eu, pela parte que me toca, procurarei a partir de agora usar uma retórica o mais subtil possível, enquanto tentamos a aprovação da resolução. Se alguém veta [Rússia, China e França têm como os EUA e o Reino Unido poder de veto no CS da ONU] nós vamos. Saddam Hussein não está a desarmar. Temos de o agarrar já agora. Temos mostrado um grau incrível de paciência. Faltam duas semanas. Em duas semanas estaremos prontos, em termos militares. Creio que conseguiremos a segunda resolução. No Conselho de Segurança temos três africanos [Camarões, Angola e Guiné] os chilenos, os mexicanos. Falarei com todos eles, também com [Vladimir] Putin naturalmente. Estaremos em Bagdad no final de Março. Há 15 por cento de hipóteses de que nesse momento Saddam Hussein esteja morto ou tenha ido embora. Mas estas possibilidades só existem depois de termos mostrado a nossa resolução. Os egípcios estão a falar com Saddam Hussein. Parece que indicou que estaria disposto a exilar-se se o deixassem levar mil milhões de dólares e toda a informação que quisesse sobre armas de destruição maciça. [O líder líbio, Muammar] Kadhafi disse a [Silvio] Berlusconi que Saddam queria ir. [O Presidente egípcio, Hosni] Mubarak disse-nos que nestas circunstâncias há muitas possibilidades de que seja assassinado.
Gostaríamos de actual com mandato das Nações Unidas. Se actuarmos militarmente fá-lo-emos com grande precisão e focalizando muito os nossos objectivos. Temos feito chegar uma mensagem muito clara a Saddam Hussein: tratá-los-emos como criminosos de guerra. Sabemos que acumulou uma enorme quantidade de dinamite para fazer voar pontes e outras infra-estruturas e fazer saltar pelos ares os poços de petróleo. Temos previsto ocupar esses poços muito em breve. Também os sauditas nos ajudariam a pôr no mercado o petróleo que fosse necessário. Estamos a desenvolver um pacote muito forte de ajuda humanitária. Podemos vencer sem destruição. Estamos a planear já o Iraque pós-Saddam, e acredito que há boas bases para um futuro melhor. O Iraque tem uma boa burocracia e uma sociedade civil relativamente forte. Poderia organizar-se numa federação. Enquanto isso, estamos a fazer todos os possíveis para ter em conta as necessidades políticas dos nossos amigos e aliados.

De modo a ajudar-te

AZNAR: É muito importante contar com uma resolução. Não é a mesma coisa actual com ela ou actuar sem ela. Seria muito conveniente contar no Conselho de Segurança com uma maioria que apoiasse essa resolução. De facto, é mais importante contar com maioria do que se alguém emitir um veto. Achamos que o conteúdo dessa resolução deve dizer entre outras coisas que Saddam Hussein perdeu a sua oportunidade.

BUSH: Sim, claro. Seria melhor isso do que fazer uma referência aos “meios necessários” [referência à resolução tipo da ONU que autoriza a utilização de todos os meios necessários].

AZNAR: Saddam Hussein não cooperou, não desarmou, deveríamos fazer um resumo dos incumprimentos e enviar uma mensagem mais elaborada. Isso permitiria por exemplo que o México se mexesse [referência à posição contrária à segunda resolução, que Aznar ouviu da boca do Presidente Vicente Fox numa escala realizada na Cidade do México a 21 de Fevereiro].

BUSH: A resolução será feita de modo a ajudar-te. Tanto me faz o conteúdo.

AZNAR: Faremos com que te cheguem uns textos.

BUSH: Nós não temos nenhum texto. Só um critério: que Saddam Hussein desarme. Não podemos permitir que Saddam Hussein alargue o prazo até ao Verão. Ao fim e ao cabo teve quatro meses nesta última etapa e esse tempo é mais do que suficiente para se desarmar.

AZNAR: Ajudava-nos esse texto para sermos capazes de o patrocinar e sermos seus co-autores e conseguir que muita gente o apoiasse.

BUSH: Perfeito.

AZNAR: Na próxima quarta-feira [26 de Fevereiro] vejo [Jacques] Chirac. A resolução já terá começado a circular.

Cumprimentos a Chirac

BUSH: Parece-me muito bem. Chirac conhece perfeitamente a realidade. Os seus serviços de espionagem já lha explicaram. Os árabes estão a transmitir a Chirac uma mensagem muito clara: Saddam Hussein deve ir embora. O problema é que Chirac acha que é o Senhor Árabe e na realidade está a fazer-lhes a vida impossível. Mas não quero ter nenhuma rivalidade com Chirac. Temos pontos de vista diferentes. Dá-lhe os melhores cumprimentos da minha parte! Quanto menos rivalidade ele sentir que há entre nós, melhor para todos.

AZNAR: Como se combina a resolução e o relatório dos inspectores?

RICE: Na verdade não haverá relatório a 28 de Fevereiro. Os inspectores apresentam um relatório escrito a 1 de Março, e a sua comparência perante o Conselho de Segurança não acontecerá antes de 6 ou 7 de Março de 2003. Não esperamos grande coisa desse relatório. Como nos anteriores, Blix dará uma no cravo e outra na ferradura. Tenho a impressão de que Blix será agora mais negativo do que antes sobre a vontade dos iraquianos. Depois da comparência dos inspectores no Conselho de Segurança devemos prever o voto sobre a resolução uma semana depois. Os iraquianos, entretanto, tentarão explicar que vão cumprindo as suas obrigações. Nem é certo nem será suficiente, ainda que anunciem a destruição de alguns mísseis.

BUSH: Isto é como a tortura chinesa da água. Temos de lhe pôr fim.

AZNAR: Estou de acordo. Mas seria bom contar com o máximo de gente possível. Tem um pouco de paciência.

BUSH: A minha paciência está esgotada. Não penso passar da metade de Março.

AZNAR: Não te peço que tenhas uma paciência infinita. Simplesmente que faças o possível para que tudo se enquadre.

BUSH: Países como o México, Chile, Angola e Camarões devem saber que o que está em jogo é a segurança dos EUA e agir em relação a nós com um sentido de amizade. [O Presidente Ricardo] Lagos deve saber que o Acordo de Comércio Livre com o Chile está pendente de confirmação no Senado e que uma atitude negativa neste tema poderia pôr em perigo essa ratificação. Angola está a receber fundos do Millenium Account [fundo de ajuda da Casa Branca] e também podem ficar comprometidos se não se mostrarem positivos. E [Vladimir] Putin deve saber que com a sua atitude está a pôr em perigo as relações da Rússia com os Estados Unidos.

AZNAR: Tony queria chegar até 14 de Março.

BUSH: Eu prefiro o dia 10. Isto é como o jogo do polícia mau e do polícia bom. Eu não me importo de ser o polícia mau e que Blair seja o bom.

Milosevic, Madre Teresa

AZNAR: É verdade que é possível que Saddam se exile?

BUSH: Sim, existe essa possibilidade. E até que seja assassinado.

AZNAR: Exílio com alguma garantia?

BUSH: Nenhuma garantia. É um ladrão, um criminoso de guerra. Comparado com Saddam, [Slobodan] Milosevic seria uma Madre Teresa. Quando entrarmos vamos descobrir muito mais crimes e vamos levá-lo ao Tribunal Internacional de Justiça de Haia. Saddam Hussein acredita que escapou. Crê que a França e a Alemanha conseguiram congelar as suas responsabilidades. E acredita que as manifestações da semana passada [sábado 15 de Fevereiro] o protegem. E que eu estou muito debilitado. Mas as pessoas que o rodeiam sabem que as coisas são diferentes. Sabem que o seu futuro está no exílio ou num caixão. Por isso é tão importante manter esta pressão sobre ele. Kadhafi disse-nos indirectamente que só isso é que pode acabar com ele. A única estratégia de Saddam Hussein é atrasar, atrasar, atrasar.

AZNAR: Na realidade, o maior sucesso era ganhar o jogo sem disparar um só tiro e entrando em Bagdad.

BUSH: Para mim seria a solução perfeita. Eu não quero a guerra. Sei o que são as guerras. Sei a destruição e a morte que trazem. Eu sou o que tem de consolar as mães e as viúvas dos mortos. Claro, para nós essa seria a melhor solução. Para além de tudo, poupávamos 50 mil milhões de dólares.

AZNAR: Precisamos que nos ajudes com a nossa opinião pública.

BUSH: Faremos tudo o que pudermos. Quarta-feira vou falar sobre a situação no Médio Oriente, propondo um novo esquema de paz que conheces, e sobre as armas de destruição maciça, os benefícios de uma sociedade livre, e situarei a história do Iraque num contexto mais amplo. Talvez vos sirva.

AZNAR: O que estamos a fazer é uma mudança muito profunda para Espanha e para os espanhóis. Estamos a mudar as políticas que o país tem seguido nos últimos 200 anos.

BUSH: Eu sou guiado por um sentido histórico da responsabilidade, como tu. Quando daqui a alguns anos a História nos julgar não quero que as pessoas se perguntem por que é que Bush, ou Aznar ou Blair não enfrentaram as suas responsabilidades. No final, o que as pessoas querem é gozar de liberdade. Há pouco tempo, na Roménia, recordaram-me o exemplo de [Nicolae] Ceausescu: bastou que uma mulher lhe chamasse mentiroso para que todo o edifício repressivo viesse a baixo. É o poder imparável da liberdade, Estou convencido de que conseguirei a resolução.

AZNAR: Óptimo.

Moreno e muçulmano

BUSH: Eu tomei a decisão de ir ao Conselho de Segurança. Apesar das divergências na minha Administração, disse à minha gente que tínhamos de trabalhar com os nossos amigos. Será estupendo contar com uma segunda resolução.

AZNAR: A única coisa que me preocupa é o teu optimismo.

BUSH: Estou optimista porque acredito que estou certo. Coube-nos fazer frente a uma séria ameaça contra a paz. Irrita-me muitíssimo ver a insensibilidade dos europeus face ao sofrimento que Saddam Hussein inflige aos iraquianos. Talvez porque é moreno, longínquo e muçulmano, muitos europeus pensam que está tudo bem com ele. Não esquecerei o que me disse uma vez [Javier] Solana: é porque os americanos pensam que os europeus são antisemitas e incapazes de enfrentar as suas responsabilidades. Essa atitude defensiva é terrível. Tenho de reconhecer que com Kofi Annan tenho relações magníficas.

AZNAR: Partilha as tuas preocupações éticas.

BUSH: Quanto mais os europeus me atacam mais forte sou nos EUA.

AZNAR:Teremos de tornar a tua força compatível com o apreço dos europeus.

Exclusivo PÚBLICO/ El País, 28-09-2007

-- OAM 253, 01-10-2007, 15:34