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terça-feira, março 17, 2020

Carcavelos na frente de ataque ao Covid-19

Praia de Carcavelos, por do sol, 11 de março, 2020
Foto: OAM


Para melhorar a imunidade ao Covid-19, apanhe 10 minutos de Sol por dia, sem roupa, nem cremes!


Hoje um amigo meu mostrava-me, a propósito da pandemia em Espanha, as taxas de contágio por 100 mil habitantes, sublinhando que parecia haver uma clara correlação entre esta taxa e as temperaturas e humidade relativas no país vizinho:

Ceuta: 1,2
Canárias: 5,1
Baleares: 6,4
Andaluzia: 6,6
Múrcia, 6,6
Galiza, 9,1
C. Valenciana: 9,8
(...)
Castela-Leão: 13,9
Astúrias: 17,3
Castela-La-Mancha: 27,9
País Basco: 28,5
Navarra: 41,9
Madrid: 62,5
La Rioja: 98,5.

O vírus propagou-se e propaga-se a grande velocidade em Madrid num mês de março frio e seco. As temperaturas primaveris de Lisboa estavam e estão, neste mesmo mês, 3 a 4 graus acima das de Madrid. A propagação foi e tem sido claramente mais lenta, ainda que as estatísticas espanholas sejam sempre mais asserivas e menos instrumentalizadas pelo poder político do que no nosso país.

Outro fator na velocidade da propagação é certamente a concentração demográfica e o fator cosmopolita do agregado populacional (um grande aeroporto e o turismo, por exemplo).

Estes dois fatores, um de atraso na propagação do vírus, outro de aceleração, parecem poder explicar o caso português. O vírus entrou pelo Norte (mais frio e especialmente conectado com a Itália através das indústria), e mais tarde cresceu rapidamente em Lisboa (mais quente, mas com um aeroporto sob grande pressão turística, proveniente na sua maioria das cidades europeias).

O calor e a humidade parecem, pois, menos propícios à propagação do vírus. Ver este vídeo, ler este artigo (1).

Curiosamente Wuhan tem temperaturas similares a Lisboa, e um aeroporto (situado a uma altitude de 115m) que movimenta quase 25 milhões de passageiros (a Portela está a 114 m de altitude e movimentou, em 2019, 30 milhões de passageiros). Por este aeroporto situado no centro da China circulavam diariamente, antes de ter sido temporariamente encerrado por causa do Covid-19 (em 23 de janeiro), milhares de passageiros europeus.




Pandemia e matemática do absurdo

Se fizerem zero testes, haverá zero infectados. Percebem agora porque o governo não comprou os kits de teste necessários? Ou porque o Ministério da Saúde está a negar a cedência destes kits a boa parte do SNS e aos médicos do setor privado? Ou seja, há seguramente mais infectados em Portugal do que as estatísticas do governo rezam. Esta manipulação estatística da pandemia é especialmente caricata na Rússia, onde até hoje se registaram apenas 93 casos! Mas tem um propósito: ganhar tempo e esconder as deficiências da capacidade de resposta dos serviços públicos de saúde.

Por outro lado, a matemática pura do crescimento exponencial não se aplica ao Covid-19 da forma alarmista com que tem vindo a ser divulgada por um matemático lunático (2) na nossa amalucada comunicação social, para quem, no desmiolado programa da Fátima Campos Ferreira, corremos o risco de ter no fim do ano mais infectados pelo Covid-19 do que população: 12 milhões!

Em Portugal, seguindo cálculos simples, podemos dizer que, se houver kits de teste ao Covid-19 suficientes (ver o exemplo que dei sobre a matemática do absurdo) poderemos vir a ter qualquer coisa como 50% da população infectada, isto é, 5,1 milhões de portugueses. Destes, poderão morrer de complicações resultantes da infeção, 1 a 2%, maioritariamente oriundos de grupos de risco (pessoas que padecem de outras doenças especialmente vulneráveis ao Covid-19 e pessoas com mais de 65 anos, sobretudo na faixa dos 80), ou seja, mais ou menos entre 50 mil e 100 mil pessoas. É muito? Depende de como olharmos para esta estatística. Por ano morrem em Portugal 110 mil pessoas (a maioria das quais por doença e idade avançada). Já imaginaram o que seria se todas as televisões passassem o tempo a falar de cada português que morre dia a dia? Tal como refere um estudo da Goldman Sachs sobre este mesmo fenómeno nos Estados Unidos, haverá um certa sobreposição entre as vítimas do novo Corona vírus e mortalidade previsível.

Dito isto, que é importante para contraiar a histeria e a manipulação política que esconde as insuficiências de um governo ideológico mal preparado para lidar cm catástrofes, devemos apostar tudo na contenção do Covid-19 através de quarentenas seletivas, sobretudo para atrasar a propagação, esperando assim que o tempo quente e a humidade dissipem o semi-bicho até à próxima estação fria e seca. Mas, ainda assim, não podemos deitar fora o bébé com a água do banho! Não podemos parar a economia e a vida durante dois meses, pois se formos por aqui, não morreremos do vírus, mas de medo e estupidez. E abriremos portas a todos os populismos e gangsters que sempre espreitam as melhores oportunidades para cavalgarem o poder.

Já agora, contrariando a litania sem fim promovia pelas televisões (que gostam imenso de bater nas redes sociais), vale a pena saber o que é que a Goldman Sachs transmitiu recentemente a 1500 dos seus clientes sobre o novo Coronavirus.

Alguns destaques:

—o vírus não gosta de calor;
—atingirá sensivelmente 50% da população americana que, em consequência de uma mortalidade prevista de 2%, atingindo fatalmente sobretudo grupos de risco e idosos com mais de 80 anos, causará a morte a cerca de 3 milhões de americanos, boa parte dos quais se sobrepõe aos 3 milhões de pessoas que já morrem anualmente no país, a maioria dos quais por doença e idade avançada;
—por fim, a Goldman Sachs espera que o pico da pandemia nos Estados Unidos seja atingido dentro de oito semanas, ou seja, em meados de abril...

“Half Of America Will Get Sick”: Here Is What Goldman Told 1,500 Clients In Its Emergency Sunday Conference Call

Around the time the Fed stunned markets with its 5pm Sunday emergency bazooka intervention, Goldman was holding an emergency conference call in which some 1,500 clients and companies dialed-in, making comparisons to “Lehman Sunday” especially apropos.

For those wondering what Goldman said, here is the bottom line via TME:

50% of Americans will contract the virus (150m people) as it’s very communicable. This is on a par with the common cold (Rhinovirus) of which there are about 200 strains and which the majority of Americans will get 2-4 per year.

70% of Germany will contract it (58M people). This is the next most relevant industrial economy to be affected.

Peak-virus is expected over the next eight weeks, declining thereafter.

The virus appears to be concentrated in a band between 30-50 degrees north latitude, meaning that like the common cold and flu, it prefers cold weather. The coming summer in the northern hemisphere should help. This is to say that the virus is likely seasonal.

Of those impacted 80% will be early-stage, 15% mid-stage and 5% critical-stage. Early-stage symptoms are like the common cold and mid-stage symptoms are like the flu; these stay at home for two weeks and rest. 5% will be critical and highly weighted towards the elderly.

The mortality rate on average of up to 2%, heavily weighted towards the elderly and immunocompromised; meaning up to 3m people (150m*.02). In the US about 3m/yr die mostly due to old age and disease, those two being highly correlated (as a percent very few from accidents). There will be significant overlap, so this does not mean 3m new deaths from the virus, it means elderly people dying sooner due to respiratory issues. This may, however, stress the healthcare system.

There is a debate as to how to address the virus pre-vaccine. The US is tending towards quarantine. The UK is tending towards allowing it to spread so that the population can develop natural immunity. Quarantine is likely to be ineffective and result in significant economic damage but will slow the rate of transmission giving the healthcare system more time to deal with the caseload.

China’s economy has been largely impacted which has affected raw materials and the global supply chain. It may take up to six months for it to recover.

The global GDP growth rate will be the lowest in 30 years at around 2%.

S&P 500 will see a negative growth rate of -15% to -20% for 2020 overall.

There will be economic damage from the virus itself, but the real damage is driven mostly by market psychology. Viruses have been with us forever. Stock markets should fully recover in the 2nd half of the year.

In the past week, there has been a conflating of the impact of the virus on the developing oil price war between KSA and Russia. While reduced energy prices are generally good for industrial economies, the US is now a large energy exporter, so there has been a negative impact on the valuation of the domestic energy sector. This will continue for some time as the Russians are attempting to economically squeeze the American shale producers and the Saudi’s are caught in the middle and do not want to further cede market share to Russia or the US.

Technically the market generally has been looking for a reason to reset after the longest bull market in history.

There is NO systemic risk. No one is even talking about that. Governments are intervening in the markets to stabilize them, and the private banking sector is very well-capitalized. It feels more like ‪9/11 than it does like 2008.”

in ZeroHedge

NOTAS

  1. Já depois de publicado este post tive acesso a um artigo que recomendo.
    “Leaders Of Western Nations Misled Over Quarantine/Social Distancing Spring equinox and rise in solar uv radiation will predictably bring mild epidemic to an abrupt halt (except for quarantined populations)”. By Bill Sardi, March 21, 2020
  2. Admito que o matemático Jorge Buescu sabe fazer contas e que a sua inexperiência em televisão o deixou muito nervoso, até porque queria fazer passar a mensagem da necessidade imperiosa de impor uma quarentena total (só possível depois de declarado um Estado de Emergência). Lendo-o, é mais fácil perceber os seus argumentos sobre as fases de propagação da pandemia: fase exponencial, pico, e fase logarítima. A sua tese é que se o país fechar, ou seja, se 'todas' (digamos 90%) as pessoas ficarem em casa durante três semanas (12-15 dias) reduzindo a zero novos contatos com pessoas e superfícies infectadas, em vez de termos um crescimento exponencial do número de infectados, muito rápido, que só pararia quando se atingisse 100% da população (o que, com uma mortalidade de 2%, significaria mais de 200 mil fatalidades), essa curva exponencial transformar-se-ia numa curva logarítima, i.e. com um crescimento exponencial no início, mas rapidamente atingindo um pico, a partir do qual, o crescimento do número e infectados seria mais lento. Ou seja, teríamos neste caso entre 60 e 70% da população infetada, em vez de 100% e, extremanente importante, a propagação seria retardada, impedindo o colapso do sistema de saúde. O senão desta opção é o estrago que provocará na economia, o qual será em muitos casos irreversível (falência de empresas e perdas de emprego, por exemplo). Daqui também uma explicação para o Estado de Emergência: impor a paragem de boa parte da economia (reduzindo a população ativa de 5 para 1 milhão de pessoas, por exemplo) não é fácil! Buescu socorre-se das lições da China, e agora de Itália, para defender a bondade do seu argumento. Na China a pandemia parece controlada, e em Itália há sinais de que o 'lock down' está a produzir efeitos.

  3. Dois artigos importantes para perceber o argumento do matemático.

    JORGE BUESCU, “Subitamente, a esperança chega de Itália” (Observador, 17/3/2020)

    JORGE BUESCU, “A matemática que explica o tsunami europeu. E português” (Observador, 15/3/2020)

quarta-feira, junho 17, 2015

Carcavelos merece!

Av. Maria da Conceição. Obras nos passeios melhoram mobilidade.

O António Maria faz hoje 2000 posts. E foi em Carcavelos que quase todos foram escritos


Esta foto de obras em curso mostra o passeio da principal avenida da vila de Carcavelos, a Avenida Maria da Conceição, que se prolonga a sul pela magnífica Avenida Jorge V até à praia, onde para lá das cada vez mais preciosas ondas se estende o horizonte da nossa imaginação.

Carcavelos pode e deve especializar-se na qualidade da sua magnífica praia e do seu monumental céu, na ampla oferta educativa privada, nacional e internacional, de que dispõe, e ainda nos equipamentos de saúde e de apoio à deficiência e à terceira idade. A sua famosa feira poderia evoluir para um corredor de comércio local permanente —de flores, frutos e hortas— da estação de caminho de ferro até à praia, negociando com esperteza as contrapartidas que a futura Quinta dos Ingleses urbanizada deve retribuir à comunidade e ao futuro económico e cultural desta pérola marítima por abrir.

Mas para tudo isto ser um êxito, teremos que começar por melhorar radicalmente a mobilidade de veículos e pessoas, e acabar com as caca canina que os donos egoístas e sem educação deixam os seus animais depositar pelos caminhos por onde a gente passa. Retretes para cães e multas para os donos inconscientes são duas medidas complementares para limpar os passeios de uma vila que bem merece a nossa atenção, inteligência e o cumprimento escrupuloso das regras urbanas da tranquilidade, nomeadamente noturna.

Esperemos que não voltem a estacionar carros em cima dos passeios, fazendo das estreitas ruas desta vila verdadeiras armadilhas para os peões.

quarta-feira, junho 04, 2014

Carcavelos, um grande pólo educativo e de lazer

É esta corja que quer um parque verde?

O populismo é uma praga que tem saído muito cara a todos nós


Carcavelos: “Construção é um exagero e uma brutalidade” 
(não é!)

Depois de um período de discussão pública onde a população se manifestou preocupada [FALSO] pela dimensão e estilo de ocupação daquele que é o último reduto “verde” na beira-mar do Concelho  [FALSO], o próximo passo será a aprovação pelo elenco liderado por Carlos Carreiras do projecto que trará cerca de 4 mil novos habitantes aquela zona nos próximos vinte anos de construção [ÓTIMO!, Carcavelos agradece!!!]

Além dos surfistas também a comunidade das artes e da história, bem como os ambientalistas estão preocupados [FALSO] com o delapidar de um património colectivo [FALSO: É PRIVADO, COMO O SEU APARTAMENTO, OU AUTOMÓVEL] que ninguém gostaria de ver destruído [COMO SE PODE DESTRUIR O QUE NÂO HÁ?] para construir mais casas.

ARTIGO COMPLETO

O artigo citado mistura alhos com bugalhos e é um exemplo de indigência bloguista, ou de interesses, sempre os mesmos, que se movem para manter arranjinhos vários no lugar — como, por exemplo, as concessões de praia que, para alguns, não passam há décadas de negócios de sub-aluguer, com visíveis consequências na degradação de algumas das tascas existentes ao longo do paredão.

A Quinta dos Ingleses, que conheço há mais de 30 anos, é hoje um lugar onde se fazem despejos ilegais de lixo e entulho (até de obras públicas!!!), onde os exibicionistas mostram os pirilaus às meninas que passam, e onde existem uns edifícios a cair de podre aparentemente cedidos ao Grupo Sportivo de Carcavelos, onde ninguém sabe o que se lá faz ou passa.

A Quinta dos Ingleses há muito que deixou de ser um espaço verde civilizado, não passando de uma espécie de logradouro gigante de Carcavelos e dos frequentadores da praia que o usam como parque de estacionamento e esplanada para servir bifanas de madrugada, como se tudo aquilo fosse público, quando é privado. Que tal ocupar os apartamentos e pichar os automóveis dos artistas que danificaram e danificam os muros privados de Carcavelos com as suas inscrições anónimas?

Diz-se que vai nascer uma selva de betão na urbanização da Quinta dos Ingleses. Não é verdade. E quanto à qualidade dos projetos, todos esperamos que a fasquia seja alta, pois naquela localização outra coisa mais bruta e analfabeta seria deitar dinheiro à rua. Todos esperamos que a requalificação paisagística de todo o terreno e da própria Praia de Carcavelos atinja os melhores padrões exigíveis e seja integralmente suportada pelos promotores.

NOVA School of Business & Economics

Não podemos ver a idealizada urbanização sem ponderar também o novo pólo universitário previsto para a zona oriental da orla carcavelense. É que aos quase quatro mil novos residentes previstos para a Quinta dos Ingleses, que ocuparão os seus 939 fogos, haverá que contar também com os três mil alunos, professores, técnicos, administrativos e auxiliares previstos para o futuro campus da NOVA—School of Business & Economics, parte dos quais buscará naturalmente residência em Carcavelos.

Carcavelos tem uma excelente praia, um magnífico jardim na Quinta da Alagoa, espera-se que um hotel ligado ao Vinho de Carcavelos se construa um dia na Quinta do Barão, o El Corte Inglés teve ou ainda tem um terreno reservado para construir a grande unidade que servirá os concelhos de Cascais, Oeiras, Sintra e Amadora, o Santini já montou a sua fábrica e esplanada de sucesso numa ala do antigo mercado municipal da vila, em suma, quem quer, e por que motivo quer, travar uma dinâmica positiva como esta?

Eu conheço alguma gentinha que ainda crê que Carcavelos é um quintal onde podem berrar à vontade, atulhar os passeios com carros, deitar as cascas de melão e os caracóis depois de chupados à rua. Espertalhaços que têm pequenos arranjinhos de décadas dos quais apenas resultam estruturas de legalidade duvidosa e maus hábitos. Pois bem, esta malta não é a maioria dos residentes de Carcavelos. E se têm dúvidas, vamos a votos!

Sobre o mesmo assunto neste blogue: Carcavelos, a nova pérola da Linha?

domingo, abril 20, 2014

Carcavelos, a nova pérola da Linha?

Memória de uma presença civilizada

A Quinta dos Ingleses merece mais do que abandono e entulho a céu aberto


Vivo em Carcavelos há mais de quatro décadas. Vim de Macau, cresci alguns anos nos corredores do Convento de Mafra, vivi em Lisboa, no Porto, no Mindelo de São Vicente de Cabo Verde, parti várias vezes para outros lugares, vivi sob a chuva miudinha da Corunha, não resisto a ver o Porto e o mar da Foz do alto do Monte Cativo ao entardecer, pisar a terra que o meu avô deixou ao meu pai e o meu pai me deixou, em Cinfães do Douro, com o magnífico e temeroso rio sempre no mesmo lugar, é uma obrigação da memória. Mas depois, depois destas intermináveis andanças, acabo sempre por voltar à avenida dos meus passeios filosóficos e à praia que corre dentro de mim.

Vi arder por mais de uma vez os pinheiros, que já não existem, da metade poente da quinta, ao descer e subir a Avenida Jorge V. Ouvi por três ou quatro vezes a algazarra local dos partidos em volta da urbanização há muito prevista no lugar que os ingleses um dia compraram, porque quinta de vinho deixara de ser (1), e era então lugar propício para ali amarrar o cabo submarino de telecomunicações que ligaria em 1870 o Reino Unido à Índia, passando por Portugal, naturalmente!

Os ingleses nunca chegaram a deixar a Quinta dos Ingleses, nem o primeiro campo de football que Portugal teve. A antiga casa senhorial do século 18, que a Eastern Telegraph Company usara como centro de operações, transformar-se-ia mais tarde no St Julian's School, também conhecido como o colégio inglês, notável, caro quando tínhamos o escudo, caríssimo agora que temos o euro, pequeno para as encomendas que abrem espaço à concorrência para mais de uma réplica. A gente culta da era Salazarista, incluindo os intelectuais comunistas, só se não pudessem deixariam de colocar os seus filhos no Colégio Inglês. E continua a ser assim. Um lugar com tão notável passado foi, no entanto, queimado e abandonado à sua sorte. As guerras partidárias populistas contra os donos do terreno foram degradando paulatinamente aquela mancha verde, metade da qual foi reduzida a mato, a local de despejos ilegais de entulho, incluindo por parte de entidades públicas (!), e de parquemanto grátis para a malta. Grátis a que propósito?! Será poventura grátis estacionar junto à Câmara Municipal de Cascais, ou nas imediações da Junta de Freguesia de Carcavelos?

Antevisão do arquiteto José Adrião (ver proposta)



Antevisão do arquiteto José Adrião (ver proposta)

O Plano de Pormenor (PP)

Não tenho já qualquer paciência para partidos políticos, sobretudo quando as suas guerras intestinas e os seus torneios florais giram à volta do mesmo: comissões por baixo da mesa e empregos para dar e vender. E também tenho cada vez menos paciência para os penduras da partidocracia, ou para as corporações e sinecuras que de tempos a tempos agitam a populaça em nome dos direitos e da democracia, acenando sempre com alguns tremoços grátis. Será que este povo bronco, indolente e oportunista terá percebido desta vez que o que o Estado lhe dá é para ser pago, mais cedo ou mais tarde, pelo próprio ou pelos seus filhos e netos? Será que esta crise lhe ensinará alguma coisa nova, ou continuará alarvemente a abrir esplanadas ilegais a que os burocratas municipais e polícias fecham os olhos apesar das sucessivas queixas? Continuará estupidamente a estacionar nas curvas, em cima dos passeios, dos canteiros e diante das entradas de garagem, como se tudo fosse seu e de borla? Até quando? Até ficar sem carro, suponho.

A contestação ao novo plano de pormenor para a Quinta dos Ingleses, que li, é em geral superficial e oportunista. Da discussão pública que teve lugar, e que pode ser consultada de fio a pavio no sítio da Câmara Municipal de Cascais (pdf) percebe-se que houve regras e foram respeitadas as leis vigentes. Ou seja, os proprietários têm à sua disposição uma superfície de construção idêntica à área da sua propriedade e, por seu lado, a comunidade e a vila de Carcavelos disporão de mais de 50% do terreno para usos públicos, urbanos e sociais. Ninguém perde e todos ganham, suponho.

Salvo se houver uma coligação oportunista na Assembleia Municipal de Cascais que boicote, uma vez mais, a resolução deste problema, teremos em breve aprovado o Plano de Pormenor do Espaço de Reestruturação Urbanística de Carcavelos Sul (PPERUCS; abrev.: PP) Outra coisa, muito diferente, é saber o que farão os promotores com tal aprovação, e o grau de empenhamento e exigência posto no desenvolvimento da obra pela mesma Câmara Municipal que lhe deu luz verde.

A futura Quinta dos Ingleses urbanizada, acomodando um parque urbano e um magnífico espaço verde, a par de um estacionamento decente junto à praia (barato, mas pago, espero, pois há sempre a alternativa do comboio e outros transportes coletivos, e ainda a partilha do automóvel para diminuir a intensidade energética da nossa miserável economia), atraindo alguns milhares de novos residentes de classe média a Carcavelos, para aqui viver, ou estudar, trabalhar, montar negócio, ou tudo em um, é uma oportunidade que deve ser agarrada com todas as mãos e sobretudo com a cabeça.

Os índices de ocupação, corrigidos de 2001 para cá (de 1450 para 939 fogos) e as volumetrias parecem-me em geral razoáveis. Mais piso recuado, menos piso recuado (uma cedência da CMC às críticas sem fundamento e à demagogia populista que se traduzirá na obtenção das mesmas áreas noutros sítios), não vejo nada nesta proposta que possa assemelhar-se aos verdadeiros monstros urbanísticos que o famoso Judas deixou alegremente construir, nomeadamente em São Pedro do Estoril e à entrada de Cascais.

Tudo depende, isso sim, da qualidade dos arquitetos que vierem a ser chamados a desenhar em concreto todo aquele espaço, e todos os edifícios previstos. Nós temos hoje em Portugal arquitetos, paisagistas e designers de elevadíssima qualidade e mérito reconhecido dentro e fora de portas, e nem sequer é preciso recorrer aos de sempre, nem muito menos aos que marcam ponto nos corredores partidários do poder. Faça-se um concurso público, como se a Quinta dos Ingleses fosse, que o é, património municipal, e até património nacional. Dali se fez parte da rota das Índias das telecomunicações, em 1870. Ali continua, pronto a crescer, um dos mais prestigiados colégios do país. Em frente está a praia onde nasceu o Surf português. E ali se bateu a terra do primeiro campo de futebol que Portugal teve, caramba! Só neste ponto dou inteira razão a quem afirmou ao Público: ... o direito de propriedade “não se pode confundir com o direito de construir”— sem cultura (acrescento eu).

Os construtores da futura Quinta dos Ingleses têm perante si próprios e perante a comunidade um dever de qualidade e um dever de carinho pelo génio do lugar. A Câmara Municipal de Cascais, por sua vez, tem o dever de aproveitar com a máxima energia e sabedoria uma das poucas pérolas que lhe restam na frente marítima do concelho. Por fim, os carcavelenses, sabem que uma vila capaz de atrair no curto prazo vários milhares de residentes e fregueses à Quinta dos Ingleses, à requalificada Praia de Carcavelos, ao novo polo académico da Universidade Nova, ao futuro El Corte Inglés, e ao centro da vila, é um autêntico maná nos tempos dificílimos que temos e ainda teremos pela frente. A maioria dos carcavelenses que gostam da sua vila sem dela nada esperar salvo que continue pelos tempos fora, sabe também que os notáveis da sua rua nem sempre são os melhores conselheiros.

Precisamos de sarar esta ferida!

O populismo fala de uma mancha verde. Onde está? Imagem: José Adrião Arquitetos

FICHA PARA CONSULTAR O PROJETO E A DISCUSSÂO PÚBLICA

Cascais
Quinta dos Ingleses (proprietários: St Julian's School e Alves Ribeiro)
Plano de Pormenor do Espaço de Reestruturação Urbanística de Carcavelos Sul (PPERUCS; abrev.: PP)
Área de intervenção: 54,11ha
Área de Solos em domínio privado do Município e a integrar em domínio público: 31,00ha
Área de implantação (edifícios): 14,37ha
Impermeabilização de solos: 27,34ha (50,53%/ índice limpo: 47,51%)
Área Total de Construção (edifícios): 61,79ha (100,21%)
Número de fogos: 939 (1450 no plano rejeitado em 2001)

Documentos de consulta no sítio da CMC (pdf)
Planta de Implantação II - Modelo de Ocupação (pdf)

Relatório de ponderação do período de discussão pública das propostas de Plano de Pormenor do espaço de reestruturação urbanística de Carcavelos sul (pdf)

Discussão
  • 91 participações escritas: reclamações/ observações/ sugestões (Nota: há participações idênticas subscritas por mais de uma pessoa)
  • 35 opiniões favoráveis ao PP
  • 7 opiniões contrárias ao PP
  • 48 participações críticas objeto de ponderação
  • a participação 84, apresentada pelo Movimento Fórum por Carcavelos, é um abaixo-assinado com 3.723 subscritores.

Ponderação
  • Área de intervenção: 50 hectares
  • 25% da área de intervenção do PP é Parque Urbano (incluindo áreas verdes, ribeira, rede de mobilidade interna e equipamentos desportivos)
  • 40% da área é composta por Parque Urbano e outros espaços verdes, público e privados
  • A área verde nuclear do Parque Urbano, incluindo a ribeira abrande cerca de 10ha, correspondente a 1/5 da área de intervenção do PP
  • 50% da área total passa a domínio municipal

Entulho asfáltico vertido na Quinta dos Ingleses

RECORTES DE IMPRENSA
Moradores protestam no domingo contra mega-urbanização em Carcavelos - PÚBLICO e Lusa, 04/04/2014 - 15:51

A representante do grupo Forum de Carcavelos, que junta mais de 3000 pessoas, considera que os blocos de betão previstos - dois edifícios de seis pisos e outro de quatro pisos, um hotel de cinco pisos, um condomínio privado e espaços residenciais e comerciais - são “inadmissíveis”.

Urbanização em Carcavelos sem impactos no surf e na praia, diz estudo - PÚBLICO, Marisa Soares, 02/04/2014 - 07:50

Durante o período de discussão pública, que terminou a 17 de Fevereiro, a autarquia recebeu 91 contributos e aceitou algumas das alterações propostas: a urbanização não pode incluir condomínios fechados e três dos prédios mais próximos da Avenida Marginal terão seis e não sete pisos, retirando cerca de 30 fogos aos 939 previstos.

Mega-urbanização reacende polémica sob ameaça judicial de 264 milhões de euros - PÚBLICO, José António Cerejo, 14/02/2014 - 12:49

A discussão pública do novo plano de pormenor de Carcavelos Sul, que abrange uma área de 54 hectares no interior da qual se situa o colégio inglês (St. Julian’s), termina na segunda-feira. Ao longo de quase dois meses os argumentos dos defensores e dos críticos do projecto voltaram a ser esgrimidos sem grandes novidades em relação a 2001.
Entulho asfáltico vertido na Quinta dos Ingleses

NOTAS
  1. Quinta do Cabo Submarino em Carcavelos. José Morais
Entulho de obras vertido na Quinta dos Ingleses

Edifício degradadao com a inscrição "G S CARCAVELOS"




Atualizado: 21-03-2014 13:18 WET

domingo, outubro 14, 2012

Portuguese Graffiti



Só pode ser um negócio

Em julho passado fui visitar a recém inaugurada estação de Metro do aeroporto. Como no resto do sistema de transportes ferroviários de Lisboa a bilhética é um perfeito exemplo de estupidez kafkiana e as barreiras físicas são verdadeiras guilhotinas à espreita da primeira velhinha distraída, ou grávida com bébé ao colo. Quando um acidente fatal ocorrer os burocratas que gerem o Metro e a CP não se esqueçam de reler este post! Eu não me esquecerei de assistir ao processo-crime que então for levantado.

Mas a história deste post é outra. Chama-se GRAFFITI

O país está cheio de maus graffiti e sobretudo de tags. Deixou de haver qualquer ética artística nesta forma de inscrições urbanas e suburbanas radicais. Quando regressava de comboio a Carcavelos entrei numa composição coberta de tags, e com todas as janelas pintadas com tinta prateada opaca.

Pela primeira vez na minha vida fiz uma viagem naquela que é uma das mais belas linhas de caminho de ferro deste planeta e não pude ver o cais, não pude ver a ponte, não pude a central de carvão de Belém, não pude ver as marinas, nem a Torre de Belém, nem depois o rio, a outra margem, o Bugio, os fortes da Caxias, nada! As janelas já não se abrem, pelo que podemos ficar cegos ou asfixiados à menor alteração das circunstâncias.

Tal como nas greves dos maquinistas, a rapaziada inútil dos graffiti está-se cagando para os desgraçados que não têm alternativa no seu dia a dia aos transportes públicos.

Curiosamente os comboios são borrados, ao que me dizem, nas estações de limpeza… em Carcavelos, etc. Enquanto as mães e as irmãs aspiram e lavam os interiores por uma côdea de pão mensal, os estupores deliciam-se a borrar de pintura cara o exterior das composições.

Há, porém, um caso muito curioso que tenho vindo a observar há já uns dois ou três anos na praia de Carcavelos.

A Câmara de Cascais tem um serviço de limpeza de graffiti. O processo funciona com jatos de areia fina (ou algo parecido) sobre as superfícies pintadas. É moroso e seguramente pouco saudável para os pulmões dos imigrantes contratados que costumam fazer aquele perigoso serviço. Limpos os muros, duram um par de semanas, até que novo graffiti recubra os túneis de acesso à praia, ou partes dos muros da praia. Ao que parece, não é feito nenhum tratamento anti-graffiti. Ou se é feito, resulta totalmente inútil.

As latas de spray não são baratas. Pela dimensão das "obras de arte" podemos calcular custos de produção, incluindo logística, apreciáveis. Os pobres escrevem tags, mas os meninos burgueses, venham de onde vierem, "pintam". Quem paga? Quem fornece as latas? É assim tão difícil estabelecer o circuito entre vendedores de latas e quem as compra? Não há obrigatoriedade de faturas? Quem anda a enganar quem neste milionário negócio chamado graffiti?

Ganham os que vendem latas, ganham os que vendem máquinas e produtos para limpar, ganham os que vendem tintas para reparar e voltar a pintar os muros, os edifícios públicos, as casas e as lojas.

Perdem os proprietários das casas, perdem os cidadãos que vêm os seus impostos municipais subir para que os ineptos governos municipais brinquem ao gato e ao rato com os ditos "artistas de rua".

Os poderes podem tentar diminuir este fenómeno de vandalismo urbano e destruição de propriedade alheia promovendo eventos de arte pública inclusiva. Já foi tentado com resultados satisfatórios nalgumas cidades por esse mundo fora. Mas não basta. É preciso multar de forma pesada os aventureiros. Nalgumas cidades australianas, as multas chegam aos 5 mil dólares. Em Singapura —um paraíso de prosperidade—o tratamento é ainda mais radical.

In 1993 in Singapore, after several expensive cars were spray-painted, the police arrested a student from the Singapore American School, Michael P. Fay, questioned him and subsequently charged him with vandalism. Fay pleaded guilty to vandalizing the car in addition to stealing road signs. Under the 1966 Vandalism Act of Singapore, originally passed to curb the spread of communist graffiti in Singapore, the court sentenced him to four months in jail, a fine of S$3,500 (US$2,233), and a caning. The New York Times ran several editorials and op-eds that condemned the punishment and called on the American public to flood the Singaporean embassy with protests. Although the Singapore government received many calls for clemency, Fay's caning took place in Singapore on 5 May 1994. Fay had originally received a sentence of six lashes of the cane, but the then President of Singapore Ong Teng Cheong agreed to reduce his caning sentence to four lashes.

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