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domingo, junho 14, 2009

Portugal 108

A quem compete defender o Atlântico?
Governo dá acordo de princípio a treino de F-22 dos EUA nas Lajes
13.06.2009 - 09h26 Nuno Simas (Público)

É o primeiro passo para o acordo. O Governo comunicou ontem ao secretário da Defesa dos Estados Unidos, Robert Gates, a posição de princípio de Portugal favorável à utilização das Lajes, nos Açores, como base de treino dos F-22 e, no futuro, os F-35, disse ao PÚBLICO fonte governamental.

... Ainda os contactos eram apenas exploratórios e já o Bloco de Esquerda (BE) contestava mais esta possível cedência aos Estados Unidos. Os bloquistas açorianos chegaram a defender, no início deste ano, um referendo regional sobre o assunto nas ilhas.

Parece que o Bloco de Esquerda não tem emenda. Como qualquer pupilo maoísta desmiolado, ou trotsquista pueril, os bloquistas, ao que parece, tencionam lançar um cavalo de batalha contra o aluguer temporário de uma parte do estratégico espaço territorial lusitano à força aérea aos Estados Unidos da América. Como se a tontice destes oportunistas de esquerda não fosse já de si preocupante (e eu votei neles, para derrotar o papagaio Sócrates!), alguém do arquipélago açoriano, certamente embalado pela demagogia autonomista do oportunismo partidário em curso, sugeriu que o assunto fosse entregue a um referendo local!

A pergunta simples que devemos fazer ao senhor Louçã é esta: quem, na sua douta opinião, deve defender o Atlântico Norte da progressão chinesa? A Alemanha? A França? Espanha?! Ou pelo contrário, esse velho triângulo de interdependências, interesses comuns e alianças há muito formado pela Inglaterra, Estados Unidos da América e Portugal?

Dir-me-à, o douto Louçã, que é pela paz. Também eu — caramba!

Estará no entanto o douto Louçã a par da actual geo-estratégia chinesa? E se está, acha mesmo que é melhor encomendar a alma portuguesa a Nossa Senhora de Fátima e rezar uns tantos terços pela paz — em vez de termos uma política externa? Qual é a política externa do Bloco, douto Louçã? E já agora, fará o senhor alguma ideia das implicações que a inflexão atlantista operada pela Espanha, na célebre Cimeira dos Açores, poderá ter num Portugal distraído?

Gostaria muito de ouvir o douto Louçã responder a estas perguntas singelas, antes de começar, eu próprio, uma batalha de palavras contra o que temo ser a incapacidade congénita do actual Bloco de Esquerda para ganhar juízo.

O BE necessita urgentemente de uma nova geração de políticos de esquerda, pragmáticos, patriotas e europeístas, que rapidamente passe à frente e substitua os fossilizados ideólogos que continuam a prevalecer num partido que tem pela frente todas as condições para substituir um PS porventura vitimado de doença terminal. Quando o PS que foi corroído pelo egoísmo, pela imbecilidade e pela corrupção, sucumbir, estará o Bloco de Esquerda preparado para o substituir — ou sucumbirá com o próprio PS, vítima de incorrigível entorse genética?

Eu não digo que a proposta americana deva ser aceite estupidamente e sem negociação dura, como parece decorrer do anúncio patético do pateta que o papagaio Sócrates colocou no Ministério da Defesa. Antes pelo contrário! Defendo obviamente uma negociação dura, inteligente e estratégica com a América, sobretudo neste complicado momento de reajustamento das placas tectónicas dos poderes mundiais. A prioridade de um pequeno país como Portugal, a par da integração europeia, é saber tirar o máximo partido das suas vantagens específicas. Ora o maior activo estratégico de Portugal é o seu imenso e decisivo território marítimo, a que se segue o decisivo polígono da Lusofonia formado por Lisboa, Brazília, Luanda, Cidade da Praia e Maputo.

Portugal pode ser o honest broker de uma nova aliança atlântica global, ao mesmo tempo que medeia e modera a natural progressão de Pequim em direcção às fontes de abastecimento energético e alimentar. Deve por isso esmerar-se neste desígnio e tecer as necessárias redes de influência. Eleger cuidadosamente e potenciar os seus nichos de poder e saber é, em suma, algo que o país não pode sacrificar no altar da imbecilidade esquerdista de que o doutor Francisco Louçã não sabe ou não quer libertar-se.

A nossa pequenez acompanha há muito o nosso instinto de sobrevivência e a qualidade de uma diplomacia com mais de 800 anos. Não desvalorizemos este património por causa de uma qualquer distracção imperdoável, ou em nome do que não passou duma trágica moda intelectual: o chamado marxismo-leninismo.


OAM 590 14-06-2009 16:11

segunda-feira, novembro 19, 2007

Espanha 2

Cimeira dos Açores title =
Cimeira dos Açores, 16 de Março de 2003.

Hummmm... Passa-se algo de estranho!

Durão Barroso transformou-se no alvo de protestos dos internautas espanhóis, por ter afirmado que Portugal acolheu a Cimeira dos Açores, prévia à invasão do Iraque, para satisfazer um pedido dos seus «aliados e amigos, sobretudo Espanha». -- Durão atacado em Espanha por causa da Cimeira dos Açores, Sol, 19-11-2007.

Hoje de manhã interrogava-me, durante uma conversa telefónica com um amigo, sobre o motivo que teria levado José Manuel Durão Barroso a denunciar o logro em que teria caído durante a cimeira de guerra que antecedeu a segunda invasão do Iraque por uma coligação internacional comandada pelos Estados Unidos.

Segundo afirmou Barroso à TSF/DN, foram-lhe mostrados documentos que evidenciavam a existência de Armas de Destruição Maciça no Iraque. Veio a saber-se depois que as fotografias exibidas eram falsas. Ou seja, Portugal comportou-se como um aliado, mas foi levado ao engano. O reparo é tardio, mas ainda assim necessário, sobretudo quando se tornou evidente aos olhos de todo o mundo o atoleiro em que se transformou o Médio Oriente depois das invasões aliadas do Afeganistão e do Iraque.

Só não entendi porque motivo resolveu Durão Barroso adiantar que a realização da cimeira na Ilha Terceira dos Açores resultara da aceitação de um pedido expresso da Espanha (ou seja, de Aznar) para que a reunião tivesse lugar em Portugal. Fugir de responsabilidades? Parece-me pouco e seria demasiado amador uma tal escapatória retórica semanas depois do desaire diplomático constituído pela visita do rei de Espanha a Ceuta (abrindo deste modo caminho ao projecto de União Mediterrânica proposto por Sarkozy) e dias depois do incidente, ainda não terminado, entre o rei de Espanha e o presidente da Venezuela, do qual resultou a ameaça, proferida por Hugo Chávez, de transferir para Portugal a sua agência de negócios com a Europa, e o provável fim das cimeiras ibero-americanas (uma figura neo-colonialista fora de prazo, que deverá ser substituída por um outro tipo de cimeiras diplomáticas entre a União Europeia e a América Latina.)

Há outras possibilidades de interpretação: avisar Dick Cheney e Bush sobre a indisponibilidade das Lages para um ataque ao Irão, ou ainda legitimar a visita de Chávez a Lisboa, demonstrando em ambas as situações que há sintonia total entre o governo socialista, o principal partido da oposição e o Presidente da Comissão Europeia no que se refere à diplomacia atlântica portuguesa, com especial incidência no fortalecimento das relações económicas e diplomáticas entre Lisboa, Brasília e Caracas.

Entretanto, os serviços de contra-informação espanhóis, presumidamente sob ordem de Zapatero (pelo vistos, cada vez mais sensível aos actos políticos do seu antecessor), montaram sem demora uma campanha nacional mediática, com forte recurso à Internet, sobre a "provocação" de Durão Barroso, insistindo na continuação da histeria nacionalista montada em torno do episódio "TU, POR QUÉ NO TE CALLAS!" Que estranho! Quando teve lugar a famosa Cimeira dos Açores, eu estava em Madrid, e recordo-me perfeitamente do modo cirúrgico como a imprensa e a televisão espanholas apagaram Durão Barroso de todas as "fotos de família" (ver El País 1 e El País 2).

Aqui há gato!

Os movimentos tectónicos das placas diplomáticas mundiais têm vindo a acelerar de forma surda à medida que o dólar emagrece e a economia americana cai numa "recessão sistémica", ameaçando infectar boa parte dos mercados mundiais, com especial impacto na Europa e no Japão. Se os países produtores de petróleo abandonarem a moeda americana, que sucederá às montanhas de dinheiro virtual acumuladas pelos bancos, governos e sociedades de investimento? É isso mesmo: cairemos numa recessão mundial, da qual estarão possivelmente a salvo poucos, mas importantes países: a China, a Rússia, os Árabes com petróleo, o Brasil, a Venezuela...

A Espanha, segundo vários observadores internacionais, poderá ser uma das grandes vítimas da crise financeira mundial em curso, por causa da dimensão da sua bolha imobiliária e do tamanho da sua bolha financeira. De quem é a culpa? Não é certamente do povo espanhol. Mas talvez seja de quem montou e mantém uma das maiores máquinas de lavagem de dinheiro negro e magia financeira da Europa. Quando ocorrer o trambolhão, talvez venhamos a saber quem são.

Por outro lado, a Espanha poderá entrar muito em breve numa profunda convulsão interna, por causa dos movimentos independentistas do País Basco e da Catalunha. Pretextos não faltam: a mais do que provável auto-proclamação independentista do Kosovo, a possível cisão do reino Belga, a epidemia financeira mundial, a crise climática (a que está associada a polémica em volta do desvio de grandes rios espanhóis, como o Ebro) e ainda o facto de a Espanha ter vindo a vender grandes quantidades de ouro para segurar a sua pesada dívida externa: 1,45 biliões de euros, ou seja 145% do PIB (Cotizalia, 10-10-2007). Desviar a atenção pública para incidentes potencialmente geradores de sentimentos patrióticos, pode ser uma explicação para o que está a ocorrer. Se for, é mau presságio.

Madrid tem vindo a pressionar Portugal no sentido de lhe ser dado acesso mais rápido aos nossos mercados urbanos e aos nossos portos, ao mesmo tempo que incentiva, com apoios económicos vários, o investimento espanhol no nosso país, com particular ênfase nos sectores financeiro, energético, imobiliário e agro-alimentar. A porta atlântica tornou-se uma necessidade estratégica de primeira ordem para Madrid. O Uruguai adoptou o Português como segunda língua de ensino obrigatório no país. O novo jogo euro-atlântico já começou e passará por triangulações estratégicas entre Washington, Londres e Lisboa; e entre Brasília, Caracas, Luanda e Lisboa. Que lugar terá a Espanha neste jogo? Se continuar a ter uma presença relevante na América Latina, será seguramente um rival de Portugal neste jogo; se provocar sentimentos de rejeição nas suas antigas colónias, o seu protagonismo poderá ser posto em causa a prazo. Escaldante, não?

Como se tudo isto não fosse suficiente para precipitar uma pequena fricção entre Madrid e Lisboa (que poderá, se não for acalmada, colocar em causa a XXIII cimeira Luso-Espanhola, prevista para o terceiro trimestre de 2007, e entretanto adiada), haveria que considerar também a evolução da situação diplomática no Médio Oriente. Está presentemente em curso uma mudança da maior importância na estratégia anglo-americana para o conflito entre Israel e a Palestina, traduzida já na elevação deste último estado ao patamar de novo aliado estratégico do Ocidente, como há muito preconizam vários dirigentes europeus, nomeadamente alemães. Ou seja, Bush vai sair da Casa Branca, Aznar já saíu e não vai voltar, Blair transformou-se no obreiro da nova aliança entre judeus, cristãos e muçulmanos, e Barroso pretende escovar, antes que seja tarde, as suas responsabilidades na sujeira dos Açores. Ah!... agora compreendo o recado sacana do precoce político lusitano!

Em suma, a declaração do ex-primeiro ministro português e actual presidente da Comissão Europeia (que, à semelhança de Tony Blair, pretende continuar politicamente activo,) não foi um acto falhado, mas um passo de dança.


OAM 279, 19-11-2007, 21:16