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segunda-feira, setembro 29, 2014

Nova crise global pode estar iminente



Se pensam que vai ser fácil deitar a mão aos 25mM€ do próximo QREN pensem duas vezes!


Há uma evidente conspiração em curso para despedir António José Seguro do PS e Pedro Passos Coelho do PSD. O primeiro caíu ontem. Quanto a PPC vamos ver se resiste à ofensiva combinada dos bonzos do PS e do PSD, protagonizada mediaticamente por Marcelo Rebelo de Sousa, Marques Mendes, Pacheco Pereira, Manuela Ferreira Leite, Morais Sarmento, Ângelo Correia, Mário Soares, José Sócrates, António Vitorino, Augusto Santos Silva, etc. O objetivo desta corja é só um: fazer regressar o Bloco Central da Corrupção e os principais cleptocratas e rendeiros do país (ex-Grupo BES, Grupo Mello, Mota-Engil, EDP, etc.) ao controlo pleno do regime. A desculpa piedosa será certamente religiosa, e deve chamar-se qualquer coisa como 'defender a todo o custo os centros de chulice indígena', perdão, queria escrever, 'centros de decisão nacionais'. Acontece, porém, que o tempo deixou de ser favorável a esta gente. E assim sendo conviria que os democratas deste país acordassem e se dispusessem a despachar a mencionada corja para o caixote do lixo da história.

Que tenciona fazer o sargento-ajudante Costa?

Vai renunciar à dívida do país? Não vai cumprir as recomendações que a Troika certamente dará ao governo dentro de dias? Vai mandar à fava o BCE quando forem realizados e conhecidos os próximos testes de esforço à banca portuguesa? Vai aumentar os salários? Vai investir — onde? Vai continuar o esforço de desendividamento público e privado — como? Vai sair da NATO e aliar-se ao Bloco de Esquerda? E se não, vai enviar tropas portuguesas para o Iraque e a Síria? Que pensa das manobras de desestabilização mundial em curso por parte dos Estados Unidos, Inglaterra, Israel e Arábia Saudita, contra a Rússia, contra a China e contra milhares de milhões de muçulmanos? Alinha, ou não?

Sabemos que o grande objetivo da corja rendeira e devorista é a caça ao último pacote de ajuda comunitária, no montante de 25mM€, para ser aplicado no período de 2014-2020. Que vai fazer António Costa, se porventura ganhar as próximas eleições, a este respeito? Quais são as suas prioridades, para além de favorecer quem o apoiou? Finanças públicas? Segurança Social? Saúde? Educação? Energia? Transportes —quais? Reforma do estado — como e por onde?

Uma coisa vai ser certamente difícil conseguir. Chama-se crescimento. E sem crescimento, ou com crescimento negativo, lá irá por água abaixo o bluff Costa.

IMF warns on rising debt levels
By Chris Giles and Robin Harding in Washington
FT. April 9, 2014 1:42 pm

Rising levels of debt prompted by five years of ultra-low interest rates could exacerbate the dangers of bringing monetary policy back to normal, the International Monetary Fund warned on Wednesday.

New Global Crisis Imminent Due To “Poisonous Combination Of Record Debt And Slowing Growth", CEPR Report Warns
Zero Hedge. Submitted by Tyler Durden on 09/29/2014 07:52 -0400

The world has not yet begun to deleverage its crisis-linked borrowing. Global debt-to-GDP is breaking new highs in ways that hinder recovery in mature economies and threaten new crisis in emerging nations – especially China. The latest Geneva Report on the World Economy argues that the policy path to less volatile debt dynamics is a narrow one, and it is already clear that developed economies must expect prolonged low growth or another crisis along the way.

[...]

It warns of a “poisonous combination of high and rising global debt and slowing nominal GDP [gross domestic product], driven by both slowing real growth and falling inflation”.

[...]

The total burden of world debt, private and public, has risen from 160 per cent of national income in 2001 to almost 200 per cent after the crisis struck in 2009 and 215 per cent in 2013.

“Contrary to widely held beliefs, the world has not yet begun to delever and the global debt to GDP ratio is still growing, breaking new highs,” the report said.

sábado, maio 17, 2014

Todos prometem crescimento!

Os stocks acumulam-se...

Todos prometem o que não existe. E há idiotas que acreditam e votam nas promessas — são os eleitores...


A promesa de crescimento é uma ladainha populista que só convence os idiotas e os que vivem aninhados no orçamento de estado. E Você, que não é idiota, acredita que vem aí crescimento, só porque o governo promete que agora sim, ou porque o pascácio do PS diz que com ele é que vai ser?

Então repare bem (clique nos gráficos para ampliar)

As vendas a retalho da Caterpillar mostram o fim do boom Keynesiano

Milhões de carros por vender em todo o mundo...
O Baltic Dry Index, que mede a procura de navios e carga marítima, o gráfico do colapso nas vendas da Caterpillar, líder mundial de máquinas usadas na contrução civil, as acumulações clandestinas de carros por vender que acabam na sucata (Unsold Cars), ou a queda imaprável do crédito privado na Europa, são indicadores da natureza sistémica da crise, cujo fim pressupõe outros paradigmas de desenvolvimento humano — precisamente aquilo de que as democracias populistas fogem, como o Diabo foge da cruz.

Tudo o que vimos até agora foi um maremoto de liquidez virtual deslocando-se dos bancos centrais para os bancos e governos, perpetuando o mito de que são ambos demasiado grandes para falir. À economia não chega, nem pode chegar, um cêntimo que seja!

Outro dado indesmentível da impossibilidade de crescimento económico nas atuais circunstâncias vem do setor financeiro, onde, não só é patente e escandalosa a indigência da banca portuguesa (BES, BANIF, BCP, ex-BPN, etc.), como é assustadora a exposição catastrófica do Deustche Bank (8º maior banco do mundo) ao buraco negro dos derivados financeiros.

Exposição do DB aos derivados financeiros especulativos

Deutsche Bank Scrambles To Raise Capital: Will Sell €8 Billion In Stock At Up To 30% Discount
Tyler Durden on 05/18/2014 11:46 -0400. Zero Hedge.

This is a chart we have been presenting since last year, updated periodically, showing just how vast Deutsche Bank's potential undercapitalization is/would be if, as in the case of Lehman, for some reason gross exposure suddenly became net, and there was counterparty failure. It is also the reason why we predicted as recently as last month when Deutsche announced it would issue another €1.5 billion in Tier 1 capital, that the German megabank's capital raising is far from over.

Sure enough, just out from Bloomberg:

    Deutsche Bank preparing a capital increase, aims to raise EU8 billion through new shares by end of June, Handelsblatt says, citing unidentified people in the finance industry.
    Deutsche Bank likely to get new single investor
    Negotiations ongoing, haven’t been made final
    Deutsche Bank declined to comment: Handelsblatt

Who will buy the shares?

Atualizado: 18/05/2014 19:06 WET

segunda-feira, fevereiro 03, 2014

Países emergentes ameaçam crescimento da economia mundial | iOnline

Tínhamos avisado!

Arrefecimento da China e quebra do preço das matérias primas podem provocar nova tempestade alargada

É possível que muito em breve a economia mundial volte a ser assolada por uma nova tempestade, desta vez por via dos países emergentes. O Fundo Monetário Internacional (FMI) considera que estas economias, em particular as da América Latina, podem trazer uma nova incógnita ao crescimento mundial. Ainda não se fala abertamente em crise mas os alertas multiplicam-se, em particular aos investidores no sentido de se protegerem a tempo de modo a não se tornarem vulneráveis à nova onda de incerteza.

Países emergentes ameaçam crescimento da economia mundial - Pag 1 de 3 | iOnline

terça-feira, janeiro 08, 2013

Hipocrisia constitucional

Marcel Duchamp, Eau & gaz à tous les étages. 1958, Paris. (1)

A Constituição não pode castrar a liberdade e o futuro

“We all know what to do, we just don’t know how to get re-elected after we have done it.” — Jean-Claude Juncker, primeiro ministro do Luxemburgo e presidente do Euro Grupo.

Basta ler o preâmbulo da nossa Constituição para percebermos que a mesma tem mais olhos que barriga. Ou seja, que promete o que não pode, em si mesma, assegurar: “...abrir caminho para uma sociedade socialista” (2).

Uma constituição consubstancia, ou deve consubstanciar, os princípios civilizacionais e culturais que um dado povo pretende assumir e fazer respeitar tendo em vista atingir determinados patamares de liberdade, bem estar, justiça e felicidade. No entanto, deve-se ter o cuidado de não forçar um texto constitucional a prometer algo cuja realização dependa mais do trabalho, da boa administração, da cooperação e dos recursos disponíveis, do que do mero respeito pelos princípios e regras morais. As constituições definem limites à prepotência e traduzem pactos de utopia, mas não podem decretar o progresso dos povos. Este depende do que estes forem capazes de realizar no dia a dia, mas também de circunstâncias que nem sempre conseguem ou podem controlar.

Vem isto a propósito da frente oportunista que de repente se ergueu para travar a inevitável austeridade decorrente da bancarrota do país. Os credores condicionam os seus empréstimos e as suas ajudas in extremis ao cumprimento de um memorando destinado a reduzir no mais curto prazo possível o excesso de endividamento público e privado, interno e externo. A dívida soberana, empresarial e doméstica dos portugueses não deveria nunca ultrapassar os 180% do PIB. Mas o facto é que está bem acima dos 300%. Logo, sob pena de termos que entregar o país aos credores, é nossa obrigação inalienável tudo fazer para corrigir no mais curto prazo possível décadas de irresponsabilidade, populismo e cleptocracia. A Constituição não o permite? Não é verdade, mas se fosse, então haveria que suspendê-la, ou suspender temporariamente a aplicação de algumas das suas normas, até que a situação excepcional em que nos encontramos fosse ultrapassada.

A Constituição prevê emergências graves cujo efeito pode ser a suspensão parcial dos direitos constitucionais (3). Em caso de guerra ou ameaça grave iminente ao regular funcionamento das instituições democráticas pode haver lugar a uma limitação de alguns dos direitos constitucionais. Ora bem, uma insolvência soberana, ou o perigo visível de deixar o país resvalar para um período de graves convulsões sociais e luta política sem quartel, são emergências mais do que evidentes desde que o governo de José Sócrates se viu sem dinheiro para pagar aos funcionários públicos e teve, em tal contingência humilhante, previsível e anunciada, que submeter o país a uma espécie de protetorado. Os argumentos da corja devorista que em fila indiana se juntou à porta do Tribunal Constitucional com o único fito de travar a extensão da austeridade aos seus próprios privilégios indecorosos não colhem, pois, para nada!


Quanto mais depressa nos livramos da canga da dívida, melhor para todos

“Since the Second Wold War, debt levels in the developed economies have continually risen, with a notable increase since 1990. According to a study by the Bank for International Settlements (BIS), the combined debt of governments, private households, and non financial companies in the 18 core countries of the OECD rose from 160 percent of GDP in 1980 to 321 percent in 2010. In real terms, after inflation is taken into account, governments have more than four times, private households more than six times, and non financial companies more than three times the debt they had in 1980.” […]
“Today the developed world looks for a “next buyer” to take over its excessive debt load. Unfortunately, there is no such buyer in sight. The Ponzi scheme will have to be unwound.”
—  Daniel Stelter, Ending the Era of Ponzi Finance. BCG, january 2013 (4).

Entre 2005 e 2010 os países da OCDE reduziram as suas importações de petróleo em 15%. Se esta tendência se mantiver, em 2020 a redução das importações chegará aos 50%. Entretanto, países que foram grandes exportadores de petróleo passaram a importar este recurso precioso: Estados Unidos, Reino Unido, Indonésia, Austrália, ou o próprio Dubai. Nos EUA, 2/3 do petróleo consumido vai para o transporte automóvel, 60% na OCDE. Por outro lado, 98% dos transportes continuam a depender do petróleo. Como se isto não bastasse, o aquecimento global é mesmo uma realidade, e os fenómenos climáticos extremos agravam-se em número e dimensão catastrófica das ocorrências. Os Estados Unidos, por exemplo, estão ainda a braços com os efeitos de duas grandes calamidades: a devastação provocada, nomeadamente no estado de Nova Iorque, pelo Furacão Sandy, e a seca extrema que tem vindo a destruir as colheitas de cereais em vários estados americanos, nomeadamente no Iowa, no Minnesota e Wisconsin. A cereja em cima deste bolo estragado é o gigantesco movimento das placas tectónicas da economia mundial...


Para onde vão as classes médias?Global Trends 2030: Alternative Worlds.

Os países industriais mais desenvolvidos (o gráfico do Economist protege os cenários sombrios do mundo anglo-saxónico) encolhem visivelmente, enquanto países e regiões emergentes sul americanos, africanos e sobretudo asiáticos atravessam momentos de euforia expansionista. No entanto, para um número crescente de investigadores, além do gravíssimo problema das alterações climáticas, a humanidade enfrenta o fim de 250 anos de um longo e porventura único período de crescimento económico e desenvolvimento tecnológico. Na realidade, desde 1956 que os avisos têm vindo a ser feitos: M. King Hubbert (Nuclear Energy and the Fossil Fuels, 1956), Donella H. Meadows, Dennis L. Meadows, Jørgen Randers, e William W. Behrens III (The Limits to Growth, 1972), David Hackett Fischer (The Great Wave—Price Revolutions and the Rhythm of History, 1996), Jared Diamond (Collapse: How Societies Choose to Fail or Succeed, 2005), Robert Hirsh (Peaking of World Oil Production: Impacts, Mitigation, and Risk Management, 2005), etc. No ano passado, um paper escrito por Robert J. Gordon —Is U.S. Economic Growth Over? Faltering Innovation Confronts the Six Headwinds; NBER Working Paper 18315, August 2012— veio reavivar a discussão sempre reprimida do declínio de um modelo de civilização e tecnologia único e porventura sem herdeiros. A civilização industrial baseia-se em três combustíveis fósseis de grande poder energético, formados ao longo de milhares ou milhões de anos, mas cuja existência a baixo custo é limitada: o carvão, o petróleo e o gás natural.

Como disse recentemente Richard Heinberg, numa palestra em Sydney (5):
“Our economy is based on a model of constant growth - growth in production, consumption and population. Economic growth has provided rising standards of living in the West and seen millions in China and India lifted out of poverty. This model has been disrupted in many countries by the global financial crisis, which is now seeing another round of casualties, particularly in Europe. Will things settle down with growth resuming, or will our economies bump up against a wall of finite resources? And if they do, what will this mean the global balance of power?”

Por sua vez, Robert J. Gordon resume assim a sua hipótese:
“This paper raises basic questions about the process of economic growth. It questions the assumption, nearly universal since Solow’s seminal contributions of the 1950s, that economic growth is a continuous process that will persist forever. There was virtually no growth before 1750, and thus there is no guarantee that growth will continue indefinitely. Rather, the paper suggests that the rapid progress made over the past 250 years could well turn out to be a unique episode in human history.”

Os desafios imediatos, ao longo de toda esta década, e depois dela, não poderiam ser mais radicais.

A crise portuguesa, apesar de localmente agravada e precipitada por quem capturou o regime para benefício de uns tantos piratas e banksters, é tão só um dos vários epifenómenos de um grande terramoto económico, social e financeiro global preste a eclodir. Daí que a nossa resposta precise urgentemente de evoluir para um outro patamar de discussão e decisão!


Gráfico do BCG sobre as alternativas de resposta à crise das dívidas

O artigo de Daniel Stelter publicado este mês por The Boston Consulting Group é uma resposta construtiva à bazuca analítica de Robert J. Gordon. Se a hipótese deste último se confirmar, em linha, embora por via diversa, com as hipóteses de M. King Hubbert, Donella Meadows, Jared M. Diamond, Robert Hirsch, e outros, a metamorfose que nos espera será muito dolorosa. Na melhor das hipóteses, entraremos num longo período de deflação, depressão económica e colapso social, ao qual se seguirá eventualmente um novo renascimento. Mas para que esta hipótese, por assim dizer, positiva, seja viável, teremos que conservar boa parte das tecnologias e sistemas energéticos conhecidos, o que implicará forçosamente, no que ao petróleo se refere, uma redução drástica do seu consumo. Bastaria talvez, para atingirmos este objetivo verdadeiramente estratégico, que metade ou mesmo 2/3 da frota automóvel mundial passasse a usar gás natural liquefeito (GPL) em vez de gasolina ou gasóleo. Que implicações logísticas envolveria uma tal operação? É bem possível que alguém anda a estudar este assunto.

Robert J. Gordon — Um gráfico que perturba muitas ideias feitas.

Há, no entanto, problemas urgentes que precisam de ser atalhados com inteligência, precisão e coragem. O primeiro destes problemas é o sobre-endividamento associado ao populismo democrático e à explosão dos casinos financeiros do Ocidente. Os contratos de derivados financeiros não transparentes e não regulados (ditos OTC—over the counter), envolvendo sobretudo a especulação com taxas de juro e com o mercado cambial, equivalem a uma bomba-relógio dez vezes maior do que PIB mundial. A somar a esta bomba temos as ações desesperadas dos governos, as quais conduziram, por exemplo, em Espanha, a enterrar 90% dos seus fundos públicos de pensões na compra de dívida governamental, boa parte da qual seria por sua vez aplicada na compra de ativos tóxicos do sobre-endividado e corrompido sistema bancário espanhol. Esta gangrena tem que ser estancada rapidamente, sob pena de lançar países como a Espanha, Portugal, Irlanda, Grécia, Chipre, etc., em um de dois cenários catastróficos: ou o colapso irreparável seguido de uma desorganização económica, social e política gravíssima, ou a estagnação — que não é menos triste.

The Wall Street Journal—Spain Drains Fund Backing Pensions Jan, 2013)

A alternativa ao colapso, segundo o artigo publicado este mês pelo BCG, passa por fazer duas coisas: pagar as dívidas —assegurando um plano credível, transparente, verificável e publicamente partilhado com os credores— e realizar, sem mais demoras, todas as reformas estruturais necessárias.

Curiosamente, as dez medidas propostas por Daniel Stelter são um mix de austeridade, proteção das camadas mais desfavorecidas e reformas estruturais que não anda muito longe do que tem sido feito em Portugal, apesar dos protestos naturais de quem está submetido a tão violento tratamento de choque. Resumindo, eis o que propõe o BCG:
  1. Atacar imediatamente o fardo da dívida, tendo em conta que há dívidas incobráveis.
  2. Reduzir compromissos que não disponham do necessário financiamento.
  3. Aumentar a eficiência da governação e diminuir a percentagem do PIB consumido pelo Estado.
  4. Mitigar a escassez progressiva de recursos humanos (atacar a recessão demográfica).
  5. Desenvolver uma política de imigração inteligente (atacar a recessão demográfica).
  6. Investir na Educação (proteger e aumentar o PIB per capita).
  7. Reinvestir na manutenção e melhoria de eficiência das infraestruturas; promover o investimento privado, nomeadamente pela via fiscal — estimulando o investimento, por um lado, penalizando a distribuição de rendimentos, por outro.
  8. Incrementar a eficiência no uso dos recursos: baixar a intensidade energética da economia; potenciar as energias renováveis; apostar na eficiência dos materiais.
  9. Cooperar, além de competir (aposta em diplomacias económicas positivas).
  10. Lançamento da próxima onda Kondratiev.

O desafio deste artigo é claro:
“...the developed world needs to prove Robert Gordon wrong. By investing in a growing and hghly productive workforce and making it easier for engineers and technologists to innovate and for entrepreneurs to start new businesses, the developed economies need to unleash a new Kondratiev wave of global economic development.”

Não tardaremos a saber quem tem razão. Na opinião de Robert J. Gordon, a instalação de água e luz nas nossas casas foi uma revolução tecnológica infinitamente mais importante e duradoura do que a invenção do iPhone, ou do Facebook (7). Em que ficamos?


NOTAS
  1. Marcel Duchamp, Water and Gas on All Floors (Eau et gaz à tous les étages), June-Sept. 1958, Paria. Imitated ready-made: white lettering on blue enamel plate (15x20cm), facsimile of the plates affixed to apartment houses in France in the early 1890s.
    in toutfait.com
  2. “A Assembleia Constituinte afirma a decisão do povo português de defender a independência nacional, de garantir os direitos fundamentais dos cidadãos, de estabelecer os princípios basilares da democracia, de assegurar o primado do Estado de Direito democrático e de abrir caminho para uma sociedade socialista, no respeito da vontade do povo português, tendo em vista a construção de um país mais livre, mais justo e mais fraterno.”
    —in Constituição da República Portuguesa, AR.
  3. “Os órgãos de soberania não podem, conjunta ou separadamente, suspender o exercício dos direitos, liberdades e garantias, salvo em caso de estado de sítio ou de estado de emergência, declarados na forma prevista na Constituição.” (Suspensão do exercício de direitos — Artigo 19.º, 1).
    —in Constituição da República Portuguesa, AR.
  4. BCG—The Boston Consulting Group
    Collateral Damage; Ending the Era of Ponzi Finance; Ten Steps Developed Economies Must Take. By Daniel Stelter, January 2013. (PDF)
  5. Richard Heinberg, The End of Growth, Festival of Dangerous Ideas, Sydney Opera House, Australia, 26/10/2012 (vídeo).
  6. Robert J. Gordon, Is U.S. Economic Growth Over? Faltering Innovation Confronts the Six Headwinds; NBER Working Paper 18315, August 2012.
  7. “A thought experiment helps to illustrate the fundamental importance of the inventions of IR #2 compared to the subset of IR #3 inventions that have occurred since 2002. You are required to make a choice between option A and option B. With option A you are allowed to keep 2002 electronic technology, including your Windows 98 laptop accessing Amazon, and you can keep running water and indoor toilets; but you can’t use anything invented since 2002.

    Option B is that you get everything invented in the past decade right up to Facebook, Twitter, and the iPad, but you have to give up running water and indoor toilets. You have to haul the water into your dwelling and carry out the waste. Even at 3am on a rainy night, your only toilet option is a wet and perhaps muddy walk to the outhouse. Which option do you choose?
    I have posed this imaginary choice to several audiences in speeches, and the usual reaction is a guffaw, a chuckle, because the preference for Option A is so obvious. The audience realizes that it has been trapped into recognition that just one of the many late 19th century inventions is more important than the portable electronic devices of the past decade on which they have become so dependent.”— in Robert J. Gordon, Is U.S. Economic Growth Over? Faltering Innovation Confronts the Six Headwinds; NBER Working Paper 18315, August 2012.

Última atualização: 12 jan 2013, 10:55 WET

domingo, julho 22, 2012

Depois do colapso


Ouçam-na! 

Carlota Perez defende que uma nova Idade do Ouro pode estar ao virar da esquina. Depende de nós, de uma boa teoria económica, de revisitar a história das crises dos últimos duzentos anos, e de passar da ajuda intensiva aos bancos e ao capital (já chega!), para o lado da economia e das pessoas.




As notícias de Espanha e de Itália confirmam os cenários previstos e anunciados por vários analistas sobre o colapso financeiro e social em curso desde 2007, dos Estados Unidos à Europa. Depois da deflação, que continua, e das bolhas imobiliárias, assistimos desde finais de 2011 à formação de uma monumental bolha de dívidas soberanas, de momento e aparentemente fora de controlo.

Os governos precisam de cada vez mais dinheiro, para pagar aos funcionários públicos, acudir ao crescente exército de desempregados e de trabalhadores precários, assegurar a manutenção do estado social, e remunerar os custos cada vez mais pesados dos serviços das suas dívidas públicas. No entanto, o dinheiro esfumou-se! As suas fontes principais têm sido, desde há pelo menos vinte anos a esta parte, a expropriação da poupança do trabalho e da indústria pela via da destruição das taxas de juro e da inflação escondida,  e o casino financeiro da globalização. Ambas, porém, secaram ou sucumbiram perante a impossibilidade objetiva de viver muito mais tempo com juros negativos, com moedas que disputam entre si o carry-trade da desvalorização competitiva, ou de poder fechar o abismo que entretanto separa a riqueza criada pelo mundo e o valor nocional do mercado altamente especulativo dos chamados derivados OTC — criado, sem rei nem roque, pelo chamado shadow banking (hedge funds, etc.)

Este buraco negro, onde produtos como os Collateralized debt obligations (CDOs), os Credit default swaps (CDS), ou os Interest rate swaps, etc., supostamente defendem as arriscadas operações de financiamento especulativo de investidores públicos e privados, ultrapassa já os 700 biliões de dólares (7x10E12 USD), ou seja, qualquer coisa como doze vezes o PIB mundial. Haverá um momento, em breve, certamente explosivo, em que os governos corruptos e demo-populistas acabarão por ter que romper o cordão umbilical que os liga às tetas bancárias e aos banksters de quem há demasiado tempo dependem e a quem há uma eternidade servem!

A especulação bolsista entrou em derrapagem, os bancos comerciais caíram rapidamente na armadilha da insolvência publicamente assistida, deixou de haver confiança, até nas transações interbancárias, em suma, o crédito morreu — excepto, durante um breve período, que ainda decorre, para os governos que, ou escrituram mais moeda a partir do nada, gerando desta forma mais dívida pública insustentável, ou, como tem vindo a suceder na União Europeia, servem-se dos bancos privados para substituir os mercados que deixaram de responder às emissões obrigacionistas, induzindo-os a comprarem eles próprios dívida pública a juros e rentabilidades cada vez mais especulativas, com dinheiro que, por sua vez, o BCE empresta aos bancos praticamente sem juros, pedindo aos ditos bancos comerciais apenas duas coisas: colaterais soberanos, que são cada vez mais débeis, ou mesmo surrealistas, e a recapitalização daqueles bancos desfalcados de reservas minimamente suficientes e confiáveis face ao ambiente imprevisível e caótico que é hoje a finança mundial.

Alguém terá em breve que dar um grande murro na mesa, ou então a insolvência dos bancos, dos governos e das pessoas conduzirá o mundo para um beco sem saída. Da última vez que tal ocorreu, refiro-me à Grande Depressão que se seguiu ao colapso bolsista de 1929, a Europa acabaria por mergulhar nos terrores e horrores do Fascismo e de uma Guerra Mundial que ainda hoje, mais de meio século depois, não deixa dormir muita gente.

Carlota Perez (sítio web) mostra a saída para mais esta grande crise do Capitalismo moderno.

Tal como Steve Keen (sítio web), acredita que há soluções para superar o inacreditável atavismo dos poderes instituídos nas falsas respostas que têm vindo a dar a esta crise sistémica. Seguindo as ideias originais destes dois autores, cito e recrio livremente algumas das suas principais propostas.

  • É preciso afastar a viciada finança dos casinos montados pelo shadow banking. Para aqui chegarmos, é necessário ter a coragem de começar por impor um custo fiscal aos ganhos de capital, com taxas comparáveis às que se impõem aos rendimentos das empresas produtivas e aos rendimentos do trabalho, e uma aplicação universal, quer dizer, à escala do próprio mercado globalizado dos mercados financeiros (uma solução, portanto, oposta ao proteccionismo e às guerras financeiras entre países).
  • É preciso desenhar e aplicar um esquema inteligente de perdão sustentado das dívidas das pessoas e das empresas produtivas, a par do refinanciamento da economia real, de quem investe e de quem trabalha.
  • É preciso estudar, desenhar e lançar uma reforma inovadora das instituições públicas e governamentais de modo a livrá-las da presente captura por parte de burocracias partidárias indesejáveis, e das máfias financeiras, adequando-as aos paradigmas de uma nova era dourada — assente na eficiência energética e uso reciclável dos recursos limitados à nossa disposição, na ecologia e numa cultura espiritual alargada, fundada no enorme potencial das novas tecnologias de representação e transporte virtual da realidade.
  • É preciso levar a cabo uma redefinição e uma reorientação estratégica da função dos estados e dos governos, tendo por objetivo um aumento radical da sua eficiência cognitiva, organizativa, energética e tecnológica.

Esperamos, no entanto, as mais fortes e destrutivas resistências da parte dos poderes instalados, sejam eles oriundos da instituição financeira, dos monopólios rendeiros, das burocracias paralisadas pelo medo, ou dos próprios partidos políticos — das esquerdas às direitas parlamentares.

As ONGs e a Blogosfera têm desempenhado um importante papel na denúncia do que é obsoleto e corrupto, mas também no anúncio das oportunidades que um novo ciclo civilizacional nascido da presente crise sistémica poderá trazer à humanidade. O seu contributo passado, presente e futuro é inestimável. No entanto, creio que o surgimento de novos partidos políticos, tecnicamente bem apetrechados e com critérios de exigência deontológica e ética de outro calibre, e sobretudo sem os vícios burocráticos que os privilégios induziram na generalidade das forças partidárias que se eternizaram de modo descaradamente imobilista nos regimes demo populistas europeus e americanos, poderá fazer toda a diferença!

sábado, julho 14, 2012

Banksters e ogres

Le Petit Poucet (o pequeno polegar), Gustave Doré (1832-1883) illustração. in Wikipedia.

Há uma lógica intrinsecamente assassina na luxúria financeira

Con menos de la mitad de la fortuna de los ricos se pagan las deudas de la Eurozona

“Economistas alemanes abogan por que los mas adinerados contribuyan a resolver la crisis de la zona del euro obligándoles a comprar deuda pública, o, como alternativa, estableciendo un impuesto temporal que grave las grandes fortunas.”

“Con menos de la mitad de la fortuna de los ricos, concretamente, con el 40% de su patrimonio, se podría pagar la totalidad de la deuda que acumulan los estados que comparten el euro.”

“La discusión en Alemania tiene su origen en las propuestas presentadas por el prestigioso Instituto Alemán de Estudios Económicos (DIW) de Berlín para que los mas adinerados contribuyan a resolver la crisis de la zona del euro, entre ellas la de la compra forzosa de deuda pública.”

in Público.es

Se 99% da população europeia está a ser progressivamente expropriada de mais de 30% da sua poupança, sob a forma de confisco fiscal, desemprego em massa, inflação dissimulada e desvalorização de ativos, não percebo porque é que este sacrifício não pode ser melhor redistribuído, abrangendo também os 1% de ricos e muito ricos desta envelhecida e decadente Europa.

Mas percebo isto: sem uma enorme pressão popular e em particular das classes médias profissionais, o confisco fiscal e o desemprego em massa prosseguirão, pois os poderes políticos-partidários, legitimados pela preguiça e por uma inacreditável ingenuidade democrática dos povos, foram na sua grande maioria capturados pela armadilha do endividamento, e as criaturas que os exercem são quase sempre mordomos e motoristas atentos e obrigados da grande cleptocracia financeira gerada pela dita "globalização".

Os banksters, que são a versão financeira pós-moderna dos míticos ogres retratados magistralmente por Gustave Doré, não deixarão a sua posição dominante se não à força de novas leis, várias condenações em tribunal, e até alguns encontrões na praça pública.

Por sua vez, as criaturas que simultaneamente exercem o poder e estão na folha de pagamentos da cleptocracia pós-moderna também não desistirão das suas posições privilegiadas enquanto não forem expostos e corridos de onde estão pela fúria democrática que, felizmente, cresce dia a dia.

Se a concentração financeira e a substituição tecnológica do trabalho vieram para ficar, então teremos que rever de alto a baixo o Contrato Social. Colocar o mundo inteiro no desemprego, obrigando-o a pagar as dívidas impostas pelas malhas da especulação montada pelos ogres da globalização é o mesmo que regressar à escravatura e ao arbítrio ilimitado e Kafkiano do poder. A pouco e pouco vamos todos percebendo que é urgente reagir e parar a luxúria insaciável e assassina dos novos ogres.

99% da população europeia corre sérios riscos de cair numa servidão pior do que a servidão da gleba, pois agora já nem um pedaço de terra temos para cultivar as couves, o feijão, o milho e as batatas!

O Capitalismo, como sempre, entrou num período sujo e sangrento de destruição dos excessos de capacidade produtiva e de produção, acrescido agora de um extraordinário excesso de endividamento geral em consequência do acumular de bolhas especulativas engendradas e impostas pelos banksters de Wall Street e da City — Goldman Sachs, JP Morgan, Morgan Stanley, Bank of America, Citibank, HSBC, e alguns mais. Só que desta vez exagerou, e o tiro acabará por sair-lhe pela culatra.

O Capitalismo pensava que tinha dominado finalmente os efeitos indesejáveis da Revolução Francesa. Mas engana-se. As novas guilhotinas populares poderão surgir de um momento para o outro, em qualquer lugar, e alastrar como fogo na pradaria num dia de vento! Até agora, alguns piratas financeiros já foram de cana, nomeadamente nos Estados Unidos. Não tardaremos a saber de fuzilamentos na China a este mesmo propósito. E na Europa, a procissão popular contra o esbulho só agora começou. Temos, pelo menos, mais uma ou duas décadas de fúria cumulativa pela frente.

Seria, no entanto, conveniente fazer desta fúria um momento construtivo e de inovação civilizacional, em vez de repetirmos os erros e as litanias igualmente assassinas dos epígonos miseráveis do marxismo. Se formos por aqui, persistindo na fé que muitos temos mantido na dita Esquerda, esperam-nos apenas tempos de destruição em massa :(

Se, pelo contrário, aproveitarmos o potencial das novas redes tecnológicas e sociais,  e a cultura cosmopolita e conhecimentos técnicos acumulados ao longo dos últimos cinquenta anos, veremos que o potencial de acomodação da presente crise sistémica do Capitalismo, e sobretudo da sua superação para um patamar civilizacional mais equilibrado e sustentável, sem perder, nem a liberdade, nem a democracia, abre cenários de criatividade social a uma escala nunca vista, nem experimentada.

A globalização dos ogres pós-modernos tem que ser substituída por uma globalização verdadeiramente humana e panteísta.

segunda-feira, junho 25, 2012

Ora viva Herr Schäuble!

Wolfgang Schäuble © Photo: Armin Kübelbeck

As coisas começam a ficar claras

Já não é só o nosso transmontano a devolver aos piratas de Wall Street e Washington os elogios sobre quem melhor rouba o próximo!

Quem empacotou lixo com nomes bonitos e perfumados e atraiu os fundos de... pensões!!! nomeadamente alemães :( à armadilha de melhores rendimentos para compensar a corrida de lémures contra os juros induzidos pelos bancos centrais, foram as Nove Donas Brancas de Wall Street e da City. Será que alguém duvida ainda que estamos no meio da primeira Guerra Mundial Financeira do século 21?

Do que esta corja de Wall Street e da City está mesmo a precisar é de uma verdadeira tosquia com Máquina Zero! Esqueçam os bancos, e resgatem os investidores de boa-fé, assim como a generalidade dos contribuintes, do Buraco Negro dos Derivados, das burocracias parasitárias e das clientelas partidárias — quanto antes!

Eu espero sinceramente que a União Europeia encoste os novos Drakes de sua majestade pirata ao molhe, avançando sem medo com o PSI na gestão da parte odiosa das dívidas soberanas europeias, e de caminho dê um salto em frente na união financeira, política e militar da Europa.

As pátrias europeias não passam hoje de embustes para enganar tolos. 

Precisamos de uma verdadeira democracia europeia, onde predomine o direito, a transparência, a defesa da propriedade privada legítima e a defesa das poupanças individuais e familiares. Onde ganhe preponderância um novo estilo de eficiência governativa, sem a escandalosa captura partidária e burocrática dos estados e das democracias que quase destruiu um continente. Onde, em suma, a liberdade criativa das pessoas e das comunidades seja a verdadeira e eficiente soberana.

A Tragédia dos Comuns não pode ser o trampolim fácil dos oportunistas de sempre, nem o pretexto para a emergência de novas ditaduras burocráticas assentes na corrupção infinita protagonizada pelo capitalismo de estado que uma vez mais pretende insinuar-se e destruir as democracias ao som das suas hipócritas cantorias populistas.

A China será em breve exemplo do que quero dizer, com a sua mistura altamente tóxica e explosiva de uma ditadura burocrática com a selvajaria do capitalismo pirata. A grande bolha das afinal falsas emergências económicas do Oriente, mas também do Brasil, ou de Angola, todas elas penduradas no consumismo financeiro euro-americano e na corrupção sem limites, irá rebentar antes mesmo da implosão das economias ocidentais fatalmente atraídas pelo buraco negro dos derivados.

Algum equilíbrio global será porventura possível, mas antes de lá chegarmos, isto é, antes de percebermos que será necessária uma nova divisão do mundo em duas metades, teremos infelizmente que passar por grandes apertos, tensões, guerras financeiras não declaradas e possivelmente até por uma proliferação de guerras convencionais associadas a conflitos virais, nomeadamente eletrónicos, cujas configurações só agora começamos a perceber. O efeito destruidor destes conflitos irá crescendo de dimensão até transformarem-se numa nova guerra mundial, altamente mortífera e devastadora no plano económico e financeiro.

Tempo para comprar proteção, sobretudo local. 

As minhas recomendações permanecem, pois, no plano puramente defensivo: apostar no ouro, na prata, no imobiliário próximo dos centros urbanos, bem servido de transportes públicos e com custos de condomínio mínimos, e nas nossas melhores terras e árvores: oliveiras, amendoeiras, sobreiros, castanheiros, figueiras, alfarrobeiras, laranjeiras, limoeiros e vinha. De preferência, dispensando pesticidas e adubos químicos de toda a espécie.

Do ponto de vista político: prioridade absoluta às autarquias locais. Todo o poder às paróquias e freguesias, mesmo ou até sobretudo depois do processo de concentração em curso!

domingo, junho 24, 2012

O anti Bernanke

Ben Bernanke (Foto: Manuel Balce Ceneta/AP)

Alguém que traduza isto, do inglês para português, e do calão económico para linguagem simples que qualquer autarca ou governante da Tugolândia entenda. No essencial, o que Michael J. Burry diz sobre a América vale para todos nós.


Nem pedófilos, nem piratas económicos foram até agora presos no meu país. É um péssimo sinal. Um sinal de que o Salazarismo afinal não morreu — adormeceu, mas manteve-se no essencial. Continuamos a ter um regime burocrático, paternalista e autoritário, onde o poder se reproduz biologicamente como uma confederação indolente de famílias e clientelas, apesar do partido único ter dado lugar, no mesmíssimo Palácio de São Bento, à reiteração de um estado parasitário secular, embora com mais algumas cores partidárias. O respeito pelo regime é o mesmo, mas o número de beneficiários aumentou tão desmesuradamente que abriu falência. Enquanto não desfizermos este monstro a golpes de transparência, não iremos a parte alguma.

O "crescimento" de que falam Passos de Coelho e inSeguro é um embuste servido em bandeja de prata pela imprensa indigente e mendicante que temos (ver o Expresso deste fim-de-semana).

Do que ambos estão na realidade a falar, sob o pretexto de irrigar a economia e promover o crescimento, é de algo bem diferente: continuar a confiscar o país, destruindo a sua economia antiga e sobrevivente, em nome da perpetuação da partidocracia vigente e da imensa mole de funcionários públicos e equiparados que a sustenta eleitoralmente.

A nossa sorte, no meio do azar, é que a Alemanha já não pode, mesmo que quisesse (e não quer!) continuar a alimentar burros a Pão de Ló.


POST SCRIPTUM

ALAN GREENSPAN, the former chairman of the Federal Reserve, proclaimed last month that no one could have predicted the housing bubble. “Everybody missed it,” he said, “academia, the Federal Reserve, all regulators.”

But that is not how I remember it. Back in 2005 and 2006, I argued as forcefully as I could, in letters to clients of my investment firm, Scion Capital, that the mortgage market would melt down in the second half of 2007, causing substantial damage to the economy. My prediction was based on my research into the residential mortgage market and mortgage-backed securities. After studying the regulatory filings related to those securities, I waited for the lenders to offer the most risky mortgages conceivable to the least qualified buyers. I knew that would mark the beginning of the end of the housing bubble; it would mean that prices had risen — with the expansion of easy mortgage lending — as high as they could go.

Michael J. Burry in "I Saw the Crisis Coming. Why Didn’t the Fed?", April 3, 2010, The New York Times.

Ao contrário do que se possa pensar, Michael J. Burry não é mais um especulador qualquer, que faz das suas "teorias" artilharia para convencer os clientes. Em primeiro lugar, MJB fechou o seu hedge fundScion Capital—, o qual lhe rendeu em menos de oito anos (nov. 2000 a jun. 2008) mais de 400%, enquanto a Standard&Poor's, no mesmo período, apenas arrecadou 2%. Em segundo lugar, MJB aposta na especulação a longo prazo, e não nas bolhas destrutivas de curto prazo. Não é um industrial, mas um financeiro, i.e. colocar dinheiro onde lhe parece que poderá obter rendimentos razoavelmente seguros no médio e longo prazo. Finalmente, a denúncia que fez no The New York Times, em abril de 2010 —“I Saw the Crisis Coming. Why Didn’t the Fed?”—, sobre a incúria das autoridades políticas e financeiras americanas relativamente à tempestade cuja poeira era já claramente visível em 2005-2006, valeu-lhe uma perseguição policial típica das ditaduras burocráticas do Oriente.

Última atualização: 25 jun 2012 11:45

quinta-feira, junho 14, 2012

Quem parará este dominó?

As semelhanças são surpreendentes!
©2008-2012 *cycoze

À segunda vez, chama-se pânico!

Alemanha emite dívida a taxa negativa antes de eleições na Grécia

As obrigações vendidas pelo Governo liderado por Angela Merkel têm maturidade em Abril de 2018 e foram vendidas a um preço que lhes confere uma taxa de juro implícita de -0,31%, segundo os dados da Bloomberg relativos à emissão. A procura foi equivalente a 2,25 vezes a oferta, ficando acima da média deste ano, segundo a Reuters — Jornal de Negócios.

Na realidade, isto significa que estamos a caminho da deflação, por queda imparável do valor dos ativos, e pior ainda, prenuncia um colapso financeiro e monetário em larga escala. É por isto que os bancos deixam o dinheiro que pedem emprestado ao BCE, no próprio BCE (!), e é por isto que os fundos de investimento, as grandes fortunas (nomeadamente dos piratas gregos) e os bancos começaram uma corrida para se protegerem debaixo das asas da tia Merkel. Paga-se para que a Alemanha aceite os nossos empréstimos.... na esperança de ver algum no fim desta corrida de lémures.

Antes de multiplicar a massa monetária europeia, os alemães quererão certamente receber mais cartas de capitulação soberana como a que Rajoy escreveu, querem fundir uma ou duas dúzias de bancos e caixas públicas por essa Europa fora, querem concentrar algumas indústrias e serviços estratégicos do espaço europeu, querem avançar politicamente na união fiscal e financeira da UE, querem ver encolher alguns dos grandes especuladores americanos (Lehman Brothers, Madoff e MF Global já foram; Morgan Stanley e JP Morgan vão a caminho, outros se seguirão) e, por fim, esperam poder domesticar a City londrina e os covis fiscais propriedade pessoal de sua majestade inglesa Isabel II...

Todos contra o euro, ou todos contra o dólar? Sabemos que ao lado do euro estão a China e a Rússia. E que contra os EUA está o mundo inteiro. Grande expectativa pois para o próximo Domingo e para a infernal semana depois das eleições gregas. A provável entrada da Itália no clube dos resgatados ainda este mês ou o mais tardar em julho será a próxima dor de cabeça para todos nós.

Monti calls for political unity, fears domino effect

Prime Minister Mario Monti made a dramatic appeal to Italy's politicians yesterday (13 June) to back his tough economic medicine to avoid the country becoming the next victim of the euro debt crisis. Moody’s downgraded Spain and Cyprus, and panic mounted in Greece ahead of a Sunday vote that could see the country leave the eurozone — EurActiv.

Juros espanhóis disparam para máximos históricos depois de corte de "rating"Jornal de Negócios.

Preço da dívida soberana espanhola cola aos 7%

Almunia insiste en la posibilidad de que desaparezcan bancosHoy.

Como esta madrugada escrevíamos: depois da desclassificação da dívida soberana espanhola (perdeu todos os 'A's) por parte de todos os vendilhões de notações financeiras, virá o downgrading dos grandes bancos privados espanhóis (BBVA, Santander, etc.) e uma subida imparável dos juros implícitos a pagar por novas emissões de dívida pública. 6,926% é para todos os efeitos 7%, e 7% de incremento seja no que for significa que para um tempo T, qualquer quantidade Q duplica ao fim de 10T: montante, tamanho, intensidade, velocidade, etc. Ou seja, um empréstimo de 100 mil milhões de euros, a 7% de juros implícitos ao ano, pedidos em 2012, serão 200 mil milhões a pagar em 2022 :(

A menos que não se pague.... ou se pague apenas uma parte. Foi este género de PSI, ou de carecada nos benefícios esperados (haircut), que derrubou a MF Global e vai derrubar ainda muitos especuladores, bancos e fundos de investimento. O problema está, contudo, no perigo de um repúdio da dívida odiosa, se ocorrer de forma tumultuosa e descontrolada, arrastar também para o abismo a poupança de boa fé que, por exemplo, foi canalizada para os fundos de pensões. Daí a oportunidade das reflexões do economista australiano Steve Keen sobre a necessidade de proceder a um jubileu da dívida que castigue os especuladores, mas salve os devedores que honestamente pouparam e investiram.


 

Max Keiser: toutes les banques du monde entier sont insolvables.

Todos os grandes bancos estão basicamente em situação de insolvência. É por esta razão que os bancos centrais estão a comprar ouro. Ouro mesmo, não confundir com certificados de ouro, ou com ouro digital, pois estes últimos são mais uma das fantasias especulativas que podem esfumar-se em menos de um segundo (como Gerald Celente teve a oportunidade de saber da pior maneira). Ouro, mas ouro que se possa morder!

E quem pode, como a China, está também a acumular reservas de petróleo, matérias primas e bens alimentares desfazendo-se enquanto é tempo do papel higiénico verde que atulhou nas últimas duas décadas em troca das exportações que arrasaram a indústria americana, e não só. Se ao menos fosse Renova Black!

Desde 2008 que recomendo a compra de ouro, prata e quintinhas com água, boa terra e proximidade dos centros urbanos. Recomendei também que quem vivesse em periferias mal servidas de transportes e distantes do local de trabalho que vendesse as casas e se aproximasse dos centros urbanos e dos nós de transportes públicos (mesmo trocando um T4 por um T2, ou um T3 por um T1).

Agora já é provavelmente tarde para vender seja o que for, pois o dinheiro ou desapareceu, ou está guardado para as emergências. Se as coisas piorarem, como parece que vai acontecer, a solução já não passa pela venda de ativos, pois haverá que dá-los às hienas que andam por aí à espera de carne ferida, mas pela cooperação ativa das pessoas, começando pela família e pelos amigos. Há que partilhar recursos e partilhar o que temos, defendendo até ao limite o que foi poupado ou herdado.

O pior que nos poderia acontecer a todos seria corrermos para o abismo da deflação, pois deste buraco não sairíamos nada bem.

The Man Nobody Wanted to Hear
Global Banking Economist Warned of Coming Crisis

William White predicted the approaching financial crisis years before 2007's subprime meltdown. But central bankers preferred to listen to his great rival Alan Greenspan instead, with devastating consequences for the global economy — Spiegel Online.

sábado, maio 19, 2012

Quebec: Primavera borda

Manifestação nas ruas de Montreal, 17 de maio, contra a subida prevista das propinas do ensino superior em 82 %. | AFP/Rogerio Barbosa

A crise árabe alastra ao... Canadá!

Le projet de loi spéciale déposé jeudi 17 mai au soir par le gouvernement québécois pour briser le mouvement de grève des étudiants, qui prévoit une forte restriction du droit de manifester, a été reçu comme une douche froide par les étudiants et l'opposition. Le texte instaure notamment toute une série d'amendes pour les organisateurs de piquets de grève, allant de 1 000 à 125 000 dollars (de 777 euros à 97 000 euros).

Un individu seul, par exemple, encourrait une amende de 1 000 à 5 000 dollars. Une association d'étudiants qui organiserait un tel rassemblement ou lancerait le mot d'ordre de bloquer l'accès à une université risquerait, elle, de devoir payer de 25 000 à 125 000 dollars, le double en cas de récidive — in Le Monde, Amériques.

Como diz uma amiga Québécoise que viveu muitos anos em Portugal, mas que a queda do dólar forçou a regressar ao seu belo mas frio país, o Canadá começa a estar entalado entre a anarquia e a ditadura :( Lá como cá e no resto do mundo pós-industrial e pós-moderno o estado social está sobre endividado e começa a romper pelas costuras da sua insustentabilidade financeira, motivada nomeadamente pela decadência produtiva, pelo consumismo, pelo ilusionismo orçamental, pela especulação, e pelo envelhecimento, crescimento e distorção demográficas.

Também por aquele país andam agora os chineses a cobrar em ativos materiais as vantagens da sua balança comercial. É na realidade inacreditável: o Canadá exporta matérias primas para a China, e importa da China produtos industriais, nomeadamente de alta tecnologia, não conseguindo aparentemente inverter o seu crítico défice comercial com Pequim: mais de 23 mil milhões de dólares canadianos (ver dados oficiais).

Enquanto não percebermos que a crise é global, e que deriva de um pico generalizado dos recursos disponíveis num mundo com uma demografia excessiva e de pernas para o ar, continuaremos a insistir na berraria interminável das ideologias obsoletas do século passado, como se não tivéssemos já provado os sabores amargos de ambas, e não fosse tragicamente evidente que nenhuma delas tem soluções para a tragédia que se aproxima.

É vital para a sobrevivência da espécie humana civilizada e tecnologicamente avançada perceber
  1. que a demografia humana chegou a um limiar de crescimento e de composição etária distorcida, a partir do qual não pode continuar a evoluir sem perdas insolúveis de qualidade;
  2. que os recursos são limitados, e em particular os recursos que permitiram a revolução industrial deixaram de ser facilmente acessíveis, tornando-se por isso cada vez mais caros;
  3. e que o fim do colonialismo ocidental tornou subitamente inviável a perpetuação de vantagens nacionais e regionais baseadas na simples imposição de regimes de troca e de exploração aos mais fracos.




A crise financeira em curso é um sintoma iniludível do grande colapso anunciado em 1972 por Donella Meadows et al. em The Limits to Growth. Há quem pense que o tempo para mitigar o desastre se esgotou irremediavelmente (Hirsch report). No entanto, será sempre melhor e mais produtivo procurar soluções onde aparentemente não as há, pensando fora da caixa quadrada das ideologias, do que deixarmo-nos levar pela alternativa: anarquia ou ditadura.

No Quebec milhares de estudantes saíram à rua contra as propinas. A dimensão dos protestos deu à luz a expressão Printemps Érable, num alusão simultânea à árvore nacional do Canadá (o bordo) e às manifestações da chamada Primavera Árabe. Esta sincronização aparentemente espontânea das lutas sociais, mais do que preocupante, é um sinal claro de que é urgente repensar os modelos sociais e culturais da humanidade.

sábado, abril 14, 2012

O mundo vai acabar amanhã

Donnella Meadows (1941-2001) na sua quinta

A nossa sociedade é insustentável e, desde 2008, ingovernável

Há uns anos atrás, mais precisamente em 1990, expus numa galeria de arte em Lisboa uma espécie de alto-relevo realizado com tubos fluorescentes verdes. Os tubos representavam as silhuetas de duas cadeiras de frente uma para a outra, a uma distância de alguns metros. Ao alto e entre as mesmas lia-se uma frase: O MUNDO VAI ACABAR AMANHÃ!

O título desta alegoria é Os Dois Filósofos. A frase é simultaneamente falsa e verdadeira. Para quem morre, o mundo acaba (é o ponto de vista subjectivo), mas para quem está vivo, o mundo continua (é o ponto de vista objectivo). As cadeiras estão vazias, assinalando desta forma a natureza puramente teórica e lógica da aporia. Nenhum filósofo e todos os filósofos estão, por assim dizer, sentados alternadamente numa ou noutra das cadeiras. O conteúdo da obra será relativo, mas a sua forma, pelo contrário, tal como a proposição que exibe, é absoluta.

Vem esta divagação cultural a propósito da gigantesca crise em que estamos mergulhados em Portugal, na Grécia, em Espanha, na Itália, no Reino Unido, nos Estados Unidos, e em breve também em França, na China, na Alemanha, etc. Este colapso começou por ser financeiro, mas neste momento alastra como um fogo sem fim pela pradaria humana do planeta, ameaçando minar as suas bases económicas e os próprios regimes políticos. Tal como quando a monarquia francesa caia aos bocados, e Maria Antonieta recomendava que dessem croissants ao Povo, pois faltava o pão, também hoje assistimos incrédulos à notícia do quadril partido do rei de Espanha durante uma caçada de elefantes no Botswana — na mesma semana em que o seu reinado esteve a beira do precipício financeiro e do colapso social!

No entanto, todos ralham e ninguém tem razão, ou pelo menos toda a razão.

O endividamento mundial é simultaneamente público e privado, tem origens especulativas, mas também deriva dos populismos eleitorais, ou, pelo contrário, do esforço desesperado dos fundos de pensões, para contrariar a queda imparável dos rendimentos das poupanças por efeito da destruição suicida das taxas de juro.

Esta crise, sobre a qual já ninguém se entende, é uma consequência antecipada do que M. King Hubbert prognosticou em 1956 (o Pico do Petróleo), e  Donella Meadows e a sua equipa previram no tão célebre à época quanto esquecido depois The Limits to Growth (1972), isto é, que a exaustão dos recursos e o crescimento exponencial da economia e população mundiais se cruzariam algures entre 2030 e 2050, daí resultando, se nada fosse entretanto acautelado, o colapso da civilização industrial e pós-industrial e a vida como a conhecemos, sobretudo no Ocidente, ao longo dos últimos cem anos —numa história cuja escrita tem mais de sete milénios.

Tenho pois más notícias para todos vós. Eram conhecidas, mas a iliteracia da maioria dos humanos, incluindo economistas e políticos, impediu-nos de ouvir e ver a realidade dos factos e das projeções matemáticas. Talvez o desenho animado There's No Tomorrow, na mesma linguagem iconográfica e oral que serviu para vender os tempos modernos e o sonho americano, nos acorde a todos para a dura realidade.



Como escreveu Edward Hugh, em Portugal Gradually Shuffles Its Way Towards the Front of the Debt Queue, não conseguiremos debelar o nosso grave endividamento privado, público e externo antes de 2016 se não crescermos, pelo menos, a 3% ao ano.

(…) debt dynamics are (other things being equal) quite dependent on economic growth rates. Just how dependent can be seen from the chart below, prepared by Jürgen Michels and his team at Citi. As can be easily seen, it only needs a growth rate of one percentage point on average below the troika baseline scenario for debt to be sent uncontrollably upwards, and the more the average growth rate deviates downwards the more rapidly debt rises.

Mas esta é precisamente uma taxa de crescimento muito elevada se a colocarmos no mapa do crescimento mundial. Basta reparar como qualquer pequeníssimo sinal de retoma do crescimento nos Estados Unidos, na Europa, ou de regresso da China a taxas anuais acima dos 9%, ou ainda o mínimo sinal de instabilidade política nas zonas petrolíferas, faz disparar os preços do petróleo e a inflação para níveis pré-explosivos!

A inflação vai chegando, aliás, aos bolsos de cada um, não só pela via da subida dos preços da energia e dos bens alimentares, como sobretudo e cada vez mais por uma desvalorização silenciosa do dinheiro, bem como pela perda de rendimentos diretos e indiretos.

Estamos numa encruzilhada fatal. Mas enquanto não a reconhecermos, diminuirão também as possibilidades de evitarmos o pior :(

domingo, fevereiro 19, 2012

SMS Milénio afugenta Cavaco

PCP, a próxima revolução não é para velhos!

Alunos da António Arroio em protesto esperam por Cavaco Silva.
Uma visita programada para hoje [16 Fev 2012] de manhã por Cavaco Silva à Escola António Arroio, em Lisboa, foi cancelada à última razão por os elementos de segurança terem entendido que não estavam reunidas as condições necessária para garantir a presença do Presidente sem incidentes. 

Diário de Notícias, 16 Fev 2012.

 A meia-volta que Cavaco Silva deu ao saber que tinha uma turma de meninos e meninas protestando contra a subida dos transportes e sei lá mais o quê dá bem a medida do potencial revolucionário da juventude nos tempos que correm. Aos três anos já gatinham para cima dos teclados, aos seis dominam o SMS, e aos dez podem montar um golpe de Estado como se fosse um videojogo! 

Que tempos fantásticos nos esperam, e às velhas carcaças do poder. Barroso anda que nem uma barata tonta a pedir programas de emprego para os jovens dos 15 aos 24 anos. Mas estas não são idades de estudo, para que o país saia da iliteracia geral que o tolhe há décadas, para não dizer centénios? 

A par do envelhecimento populacional, um dos problemas da inércia política local e europeia deve-se, em meu entender, ao encapsulamento da juventude numa bolha protegida de consumismo, ao mesmo tempo que o prémio para aqueles que conseguem a qualificação académica que os pais nunca sonharam ter (licenciaturas, mestrados, doutoramento, pós-Docs...) tem sido a emergência de novas formas de escravatura laboral e desprezo social. 

Aconselhar as mulheres a terem filhos, quando nenhuma segurança institucional, económica, social e cultural lhes é dada em troca pelo serviço demográfico pretendido, só pode ser disparate de bispo iletrado e mais um suspiro presidencial. 

A primeira coisa que uma jovem sabe nos dias de hoje é que se quiser ter filhos vai ter que suportar, muito provavelmente, sozinha, o preço dessa decisão. Como se esta recompensa cínica pela química hormonal e pela memória cultural não fosse em si mesma um insulto à sua inteligência e independência, acresce que a sociedade, plasmada no Estado, não só não está disposta a pagar o preço mínimo da sua própria reprodução, como ainda sobrecarrega a progenitora com custos sucessivos — seja pela via das ameaças profissionais, seja nos preços da assistência médica e social, da alimentação, do vestuário, da educação e do próprio consumo estatutário dos filhos e das filhas à medida que vão crescendo.

Pela simples aritmética demográfica pode concluir-se que a geração milénio, isto é nascida depois de 1980, não vai ter quem lhe pague as reformas. Mas pior do que isto, esta mesma geração já hoje se confronta com um muro cada vez mais duro de vencer: por um lado, é muito difícil encontrar emprego, e por outro, os que neste momento têm trabalho, têm-no a título precário, mesmo quando ocupam postos profissionais altamente qualificados.

A chamada Primavera Árabe, a auto proclamada Geração à Rasca, Los Indignados e o movimento Occupy Wall Street nasceram há pouco mais de um ano. Seria precipitado dizer que acalmaram, que não tinham objetivos, ou que os poderes instituídos (de Washington ao Cairo), os movimentos fundamentalistas, e os partidos de esquerda, ou de direita (Tea Party, etc.), conseguiram anestesiar o ímpeto inicial desta verdadeira revolta à escala global, e que tudo regressará lentamente ao status quo ante. Não creio. Não creio mesmo nada!

A crise financeira, que é sistémica, está para lavar e durar. Começou em 2008 e sofrerá sucessivos episódios agudos ao longo, no mínimo, de toda a presente década. Na medida em que o colapso financeiro em curso é um sucedâneo —da crise energética, da crise de recursos, da crise climática, da crise demográfica, da nova divisão internacional do trabalho provocada pelo processo de descolonização, e das dramáticas assimetrias culturais existentes— só quando e se a humanidade for capaz de enfrentar com sucesso as causas de tantos dramas contemporâneos, começará então a estabelecer novas regras de reprodução social da espécie.

Os velhos partidos e os velhos sindicatos estão tão desfasados da realidade e dos desafios que temos pela frente quanto os partidos convencionais, as democracias populistas que temos, e as burocracias enquistadas nos aparelhos de poder. Já a imaginação juvenil, quando associada à dos jovens profissionais altamente qualificados, mas cujo futuro se afigura ameaçado, fazem um cocktail explosivo que, mais cedo ou mais tarde, rebentará com os alicerces das sociedades que ruem por toda a parte e à vista de todos, irrompendo então pelos bordéis dos poderes inconscientes, decapitando então, como sempre, os últimos tiranos.

A fuga do nosso imprestável presidente da república perante uma manifestação de jovens estudantes de arte é um verdadeiro sinal dos tempos!

domingo, outubro 23, 2011

A formiga e as cigarras europeias

A Alemanha tem razão, os bancos, não!

Sacrificar a poupança, nomeadamente de quem produz, em nome da rigidez dos direitos sociais adquiridos, de uma desmiolada cultura do consumo, e de um sistema bancário insolvente, será o caminho mais expedito para o colapso em cadeia do actual sistema capitalista. Não precisaremos de nenhum marxista para nos ajudar!

Se a cigarra triunfar, mais uma vez, sobre a formiga, em vez de uma transição pacífica para o pós-capitalismo teremos miséria e guerra nos próximos anos e décadas — OAM.

O fracasso redondo do Conselho Europeu deste fim-de-semana mantém em suspenso uma divergência fundamental entre a Alemanha, mais alguns países do norte da Europa, e a França, mais os endividados países do Sul:
  • Quem vai pagar as dívidas soberanas da Grécia, Itália, Bélgica, Alemanha, França, Reino Unido... ?
  • Quem vai pagar as dívidas externas do Luxemburgo, Suíça, Reino Unido, Noruega, Bélgica, Dinamarca, Suécia, Áustria, França…, quando o colapso da bolha de derivados financeiros atingir o zénite? 
  • Quem vai reequilibrar as deterioradas balanças de pagamentos da Espanha, Itália, França, Reino Unido, Portugal, Grécia…? 
  • Quem vai salvar os bancos sobre expostos às bolhas especulativas (imobiliária, soberana e dos mercados cambiais) da sua cada vez mais grave crise de liquidez e de um dominó de insolvências? 
O GEAB deste mês fala da falência inevitável de 10 a 20% dos bancos ocidentais! As praças financeiras de todo o mundo, entretanto, tornaram-se os alvos compreensíveis de uma indignação à escala global que apenas começou a crescer, que dificilmente será neutralizada pelas polícias, e que poderá muito bem ditar o fim do capitalismo tal qual o conhecemos nos últimos quatrocentos anos.

Há basicamente duas posições:

Uma é a posição da França e de todos os demais países europeus sobre endividados, para quem a solução passa por monetarizar as dívidas nacionais, expandindo a liquidez do euro e emprestando assim sem limite aos governos e aos bancos, com a consequente desvalorização monetária e disparo da inflação, nomeadamente por via do preço acrescido das importações e pelo estímulo artificial do consumo privado e público. Esta solução significaria, pura e simplesmente, um novo assalto à robustez comercial e industrial da Alemanha, um ataque sem precedentes à produtividade e competitividade externa desta trave mestra da União Europeia, e uma destruição inexorável da poupança europeia, onde quer que a mesma se encontre — nos países, nos negócios equilibrados, e nas pessoas produtivas e prudentes. Esta solução implicaria promover o que não pode deixar de ser considerado um crime: financiar os bancos, os especuladores profissionais e os governos populistas da Europa, à custa de quem planeou, produziu e poupou!

A outra solução, propugnada nomeadamente pela Alemanha, e agora também por Durão Barroso, passa por envolver os especuladores e os bancos na reestruturação inevitável dos países simultaneamente sobre endividados e incapazes a prazo de pagar os serviços das respectivas dívidas públicas sem colapsar económica, política e socialmente — casos da Grécia, Portugal, Bélgica e talvez mesmo de países como a Itália, a Espanha, ou a própria França. O BCE e Sarkozy aceitaram em Junho passado um haircut das expectativas de retorno especulativo das bolhas imobiliária e soberana na ordem dos 21%, mas a Alemanha exige agora maior responsabilização por parte dos especuladores privados no colapso financeiro em curso: 50 a 60%.

Acontece, porém, que este contra-ataque alemão à lógica insaciável do capital financeiro vem colocar em causa a situação já de si extremamente frágil de dezenas, se não mesmo centenas de bancos e fundos de investimento por essa Europa fora e ainda onde quer que haja sociedades financeiras e bancos atolados de obrigações soberanas europeias: Estados Unidos, China, Japão, Rússia, Abu Dhabi, Brasil, etc. A pressão sobre Angela Merkel não pode, pois, deixar de ser brutal.

Conseguirá a União Europeia sair deste dilema?

Os preços da alimentação tendem a acompanhar os preços do petróleo. Ler Gail Tverberg.

No decurso das décadas de 1950 até meados da de 1970, o fim do colonialismo e uma redistribuição mundial menos desequilibrada e menos injusta dos recursos disponíveis, sobretudo do petróleo, do gás natural, dos metais e das matérias primas alimentares, acabaria por induzir uma desindustrialização acelerada dos Estados Unidos e da Europa ocidental, com a subsequente deslocalização de sectores industriais inteiros para países com contingentes aparentemente infindáveis de trabalho barato e socialmente desprotegido. O consequente desequilíbrio resultante do aumento e encarecimento progressivo das importações, e a ameaça do abrandamento económico resultante da diminuição da actividade industrial nos países mais ricos do planeta, conduziram sucessivamente os Estados Unidos e a Europa ao desenvolvimento de uma estratégia de compensação apoiada em três pilares:
  1. a expansão do consumo interno, desenvolvendo para tal toda uma ideologia cultural apropriada (a sociedade de consumo);
  2. o crescimento do campo tecnológico e cognitivo, de que resultaria uma expansão sem precedentes nos sectores da educação, da investigação e do desenvolvimento de produtos inovadores (tecnológicos, mas também culturais);
  3. e a inovação financeira, sobretudo orientada para o desenvolvimento de estratégias de financiamento virtual de economias cujas rentabilidade e deterioração dos termos de troca com o exterior se prefiguraram desde muito cedo nos radares dos estrategas mais atentos.
Foi precisamente a aceleração contínua destes três factores que conduziu o capitalismo mundial à crise sistémica anunciada em 2005-2006, declarada em 2008, e que viria a mergulhar os Estados Unidos, a Europa e o resto do mundo na grande complicação em que agora se encontram. A bolha especulativa da China que acompanha a previsão, para 2012, do primeiro défice comercial chinês dos últimos vinte anos, mostra até que ponto estamos perante uma crise global, e até que ponto os países emergentes são incapazes de sustar o poder destruidor do buraco negro financeiro responsável por esta prolongada e profunda crise sistémica do capitalismo.

O paradigma do consumismo e do consumo conspícuo chegou ao fim, nomeadamente por efeito da inflação crescente, dos limites explosivos do endividamento, e ainda por causa do crescimento demográfico que de uma forma ou doutra implica um melhor aproveitamento e redistribuição dos recursos disponíveis à escala mundial. A tecnologia, por sua vez, evoluiu para uma rede geograficamente dispersa e desnacionalizada, diminuindo progressivamente a densidade dos antigos centros de ciência e tecnologia americanos, japoneses e europeus. A inovação financeira, por fim, acaba de esbarrar nos limites materiais da deteriorada hegemonia monetária da América, renovando o debate sobre a sustentabilidade do actual sistema bancário e financeiro global, desenhado à imagem e semelhança de um modelo que parece ter dado resultados desastrosos na China imperial, e volta agora a mergulhar a Europa numa sucessão catastrófica de bolhas especulativas.

É possível que os Estados Unidos estejam a preparar uma nova moeda, ou até a retoma da indexação do dólar ao ouro, através de uma operação súbita, surpreendente e sem precedentes de decuplicação do valor da onça de ouro. Para aqui chegar teria, porém, que lançar sucessivos pacotes de Quantitative Easing e afogar praticamente o planeta em notas verdes e inflação. Num cenário desta grandeza, que faria a União Europeia?

Uma parte da União Europeia, viciada no bem-estar gratuito, no consumismo, na corrupção, e no endividamento especulativo, não quer sofrer, quer continuar a satisfazer os seus caprichos sem pagar o preço justo das coisas, exige, portanto, dinheiro grátis, que alguém pague as contas, e que se esse alguém não aparecer (e for impossível sangrar mais o indefeso contribuinte europeu), então, que não se pague e pronto! A solução protagonizada nomeadamente por Cavaco Silva é portanto esta: que o contribuinte refinancie os bancos e que estes, depois de refinanciarem os governos, as nomenclaturas e as burocracias, e depois de pagarem os dividendos aos especuladores (nomeadamente do BPN), que retomem paulatinamente as operações de crédito à economia e ao consumo. Haverá riscos elevados de cairmos numa inflação galopante, e de uma desvalorização imparável do euro? Sim, há! Mas não faz mal, diria um qualquer assessor de Belém — os alemães, os árabes, os chineses, os iranianos, os russos e os brasileiros que paguem a crise!

A Alemanha já por duas vezes viu o seu sucesso industrial e económico ser desbaratado pelo resto de uma Europa, ou decadente e com maus hábitos difíceis de perder, ou simplesmente indolente. Será que iremos assistir a um terceiro suicídio colectivo?

Juntei a este escrito uma selecção de factos, observações e opiniões que me parecem de grande oportunidade para melhor compreendermos o que está em causa. De algum modo complementam as minhas reflexões sobre a nova e perigosa disputa entre as cigarras e as formigas desta velha Europa.


REFERÊNCIAS

Esta pirâmide entrou em modo especulativo (Ponzi) a partir da decisão de descolar o USD do ouro. Os CDO, CDS, e toda a parafernália de produtos financeiros criados para segurar/especular com o endividamento exponencial, privado e público, são as causas próximas do colapso sistémico actualmente em curso — OAM.
  1.  The European Financial Crisis in One Graphic: The Dominoes of Debt   (October 24, 2011)
    “After 19 months of denial, propaganda and phony fixes, the political and finance leaders of the European Union are claiming a "comprehensive solution" will be presented by Wednesday, October 26-- or maybe by the G20 meeting on November 3, or maybe on Christmas, when Santa Claus delivers the gift global markets are demanding: a "solution" that actually pencils out and that forces monumental writeoffs of debt and thus equally monumental losses on European banks and bondholders”.

    in Charles Hugh Smith.

  2. German Parliament Slows Euro Rescue Decisions
    “Europe’s leaders had only just presented themselves to their guests as a picture of unity, amid speeches praising the outgoing president of the European Central Bank (ECB), Jean-Claude Trichet, before the sparks began flying in another part of the building. Unfortunately, the German chancellor told a group of stunned men, she would not be able to make a decision on the euro bailout fund at the European Union summit on the following Sunday, because she needed the approval of the German parliament, the Bundestag, first. But because this approval was not to be expected, Chancellor Angela Merkel, a member of the center-right Christian Democratic Union (CDU), proposed postponing the meeting of the 27 heads of state and government.

    European Council President Herman Van Rompuy protested, saying a postponement was absolutely out of the question, if only out of consideration for the other member states. “This is the last exit on the highway,” French President Nicolas Sarkozy said excitedly. “If we don’t reach a decision now, we’re dead.”

    But it was of no use. By the end of last week, it was clear that the decisions would be postponed. Grudgingly, the majority of the EU was forced to follow the Germans’ lead.”

    By Ralf Neukirch, Christian Reiermann and Christoph Schult, in Der Spiegel (23-10-2011)
     
  3. M3 has ceased to be published by the US Federal Reserve
    The world is left without any reliable data on the dollar-value.

    As announced last February 15 by Leap/E2020, yesterday March 23, 2006, the US Federal Reserve has ceased publishing M3, the most reliable indicator of the amount of USDs circulating in the world.

    The Fed has also ceased publishing a number of less important indicators (such as the amount of EuroDollars, large-denomination time deposits, and repurchase agreements) which could have been used to calculate M3 on the basis of other aggregates.

    It is important to bear in mind that the Fed continues to calculate M3 and the other indicators. It doesn’t cease to gather these data, but it no longer shares the information with US citizens and the rest of the world. To use a simple image, it is as if, on the eve of a war, the Pentagone suppressed GPS guidance, including for its own allies.

    Such measure, which has had no equivalent since 1945, when the dollar imposed itself as the global monetary reference, is a major break in the confidence contract between the US and its Allies.

    in GEAB
    (March 24, 2006)
     
  4. The Seeds of Our Destruction Were - And Still Are - Sown in the Bond Markets

    Paul Brodsky:  All the way through 2006, where a monetary aggregate called M-3 -- which was the only aggregate that included repurchase agreements, which is the process by which banks fund themselves with each other -- grew almost 12% a year. It is an enormous amount, and that basically tells you that this overnight lending among banks provided the fuel from which all of the term credit, or the 30-year mortgages ultimately, and the auto loans, and revolving consumer credit that, of course, has never paid down from whence that came. So in effect, we knew that the system became highly susceptible to any hiccup.

    And what we were looking at was an economy where, according to recent data, we have got $53 trillion dollars in dollar-denominated claims, according to the Fed. Well, I actually think it is higher than that, significantly higher than that, but let us just take their figure. On top of a $2.7 trillion dollars in actual money, or M-zero, or to put it another way, currency in circulation plus bank reserves held at the Fed.

    So the system is levered at least 20 to 1, and there is effectively 20 times more debt than money with which to repay it. And so that is a long-winded way of setting the table for where we come down in our macro views. Clearly, it has great ramifications, negative ramifications, for the currency, and given that the dollar is the world’s reserve currency, we think it has significant ramifications for the global monetary system in general.

    [...]

    I think debt is still probably marked too high on balance sheets. Certainly at banks. And so I think it is still out there; it is still lurking. It does not necessarily have to be recognized, ever, frankly, if the Fed produces enough inflation that takes them out in nominal terms. But it is still out there, and I would argue it is not only sub-prime, but as we are seeing now, it is turning into prime as well.

    [...]

    Chris Martenson:  [...] Suppose, for the moment, though, that somehow things do get away from the Fed, they find themselves following, not leading the market. It has happened to them before. It has not happened recently, but certainly, that used to be the case. So I do not know, so there are all these people who have bond funds that are levered up 20 times, 10 times, some big giant number, and all of a sudden the rumor comes through the grapevine that China has decided enough is enough and they are quietly liquidating their custody account into what ever bids they can find. Would we not find that those levered bond funds would potentially get caught in the equivalent of a long squeeze, in essence? I mean, they would have to get out there and start liquidating into this madness. Is that a possibility? Let us admit that it is a possibility; how probable it is, is another question. Do you think the Fed has, with its infinite capability, can really step in and battle that?

    Paul Brodsky:  Well, functionally, yes, they can. Because again, let us say China has three trillion in dollar reserves (just to pick a round number). Yes, the Fed could print five trillion if they wanted to. They would always have more money than bonds outstanding, number one. And they could always assume anyone else’s debt, because there is literally no limit.

    [...]

    ...if we anger them for whatever reason and they decide as retribution, and maybe it is an economic decision that they just do not want to own Treasurys any more and they decide to liquidate. I would suspect at that point, you would see a, maybe even a formal devaluation, of dollars. And we could go into that in a bit if you would like, but I would think that is the point at which you would see obviously the Fed would have to come and buy a bunch and monetize a lot of debt. But my guess is that would see something more formal. And you would go into a weekend and you would come out of the weekend with a completely different new monetary system.

    Chris Martenson:  Okay, interesting. So where I am, what I am hearing here, is a fairly simple story then, had a very long, very protractive credit bubble, it ran up pretty hard. And the Fed has nearly infinite or probably infinite capability to just manufacture credit, or what we call "money," out of thin air. All U.S. debt is denominated in U.S. dollars in this point in time, so there is really no external forcing function. So, guess what, printing can always happen. You started all of this by saying that when you peered through this landscape, what you saw was actually a currency risk. Let us go there for a second, if we could. What do you, how would that play out, if it does not really play in a big bond market route, something has to give in this story. You are saying it is the currency; what does that play out like?

    Paul Brodsky:  I think the Fed is going to have to continue printing. They are going to go significant QE3 at some point; I do not know exactly what form it will take, but they are going to have to monetize debt. The process of doing that is, I am sure your listeners know, is when you buy debt, you print money with which to buy it. And which moves new money out, ostensibly into the system, but as we have seen, it only goes into banks as excess reserves. This process is the exact process of inflation, so if you print a dollar, you are diminishing the purchasing power of that dollar through dilution. And it is a very easy thing to understand more dollars chasing, let us say, the same amount of goods and services and assets, must drive the price level higher for those goods services and assets. And so what we see happening is, through this process of money printing, we will have rising prices that rise much faster than wage growth or income growth, and it is going to make the ability to service debt that much harder.

    [...]

    Chris Martenson: Uh-huh

    Paul Brodsky: So it looked as though we have output growth and in nominal terms, we did. However, I had to fire someone who was a consumer and so on and so forth and a taxpayer. And so the real economy actually shrunk while nominal growth grows. And so this is what has already been happening. The pressure is the fundamental economic pressures that build, through this juggling act of trying to keep all the balls in the air by printing money and giving the appearance of growth, and trying to instill confidence among consumers and among factors of production, and among manufacturers and so on and so forth. It really can’t last if there is no fundamental reason for it to continue. So in reality we think that they will print a lot of currency, the real economy will shrink. However, the good side of this whole thing, in an aggregate sense, and I am not judging the merits or whether or not it is moral or anything along those lines, but since the U.S. and Western Europe and Japan, the great majority of our populations are indebted. By printing all this money, the prices will rise and eventually even our wages will rise, but the only thing that won’t rise, is the amount we owe. And so this process of inflation reduces the burden of repaying debts. Both in the private and the public sector. While it does not reduce the debt at all but it does act as a de-leveraging. You can de-lever either by letting credit deteriorate and that has all terrible ramifications because you actually do have real contraction in the economy. Or you can print money up to meet the notional value of the debt. And those are the two ways to de-lever and I think they are clearly going to print money and that is the process of de-leveraging they are going to take. Thereby inflating the way the burden of paying the debt.

    Chris Martenson: Yeah, there is all kinds of reasons that, there is really no opposition to the idea of printing. At the political sphere, they love it. Politicians tend to get tossed out during deflationary episodes. Inflation you know, they tend to hold their jobs. So there is a job, job’s creation act for political people buried in there. And also, government cannot tax deflation. Meaning if I hold an asset like a house, and it inflates 100%, some of that is taxable, depending on the size, or any asset that inflates, that is a taxable moment. A deflating asset is not a taxable amount. So you cannot tax deflation. There is another reason why we hate deflation, because it does not perpetuate the entire model of continued growth. But you know at some point, in every credit bubble - and this has been true through all of history and Reinhart and Rogoff certainly proved that - at some point, you just hit the limit, you cannot go any further. Even leaving aside that we remove the natural resource pressure from peak oil or from other resources or that there are natural limits being hit, forget about all of that. There is always a moment when your credit bubble just cannot go any further. There are no more noses that can fog mirrors, that can take out a loan. In your estimate, you are looking at all of this, they have been pulling on the ripcord of the chain saw as hard as they can trying to get this thing started again. Have they? And if they cannot, do we not just face some sort of deflationary outcome anyway?

    Paul Brodsky: I think before we ever get to a truly deflationary outcome, meaning output contraction, shall we say. The Fed will formally devalue the currency, which will solve all these problems. They can do it tomorrow if they chose.

    Chris Martenson: Isn’t everybody trying to devalue their currency?

    Paul Brodsky: Well, they would devalue it to gulp and not against the Euro, or not against the Yen or the Renminbi. That alternating currency devaluation tag team, whack-a-mole, beggar-thy-neighbor  policy, works obviously for exporters and it works in the very near term but it really does not solve the problem which is all of these currencies are baseless and are losing their purchasing power versus the goods and services with inelastic demand properties. Such as natural resources and things of scarcity.

    Chris Martenson: Uh-huh

    Paul Brodsky: So it makes perfect sense that while they are trying to politically, through policy, devalue their currencies versus other fiat currencies. That is not a long-term solution. When I say devaluation, I mean against the currency that is scarce and that policy makers cannot manufacture because ultimately it comes down to if I have a widget that I want to exchange for money, no matter where I am in the world, the money I want in exchange, I want to know that that’s going to have. I want to have confidence in it that that is going to retain its purchasing power. And it will get to the point ultimately where the one I am going to want is something other than what you are offering. There is precedent obviously, that gold has backed money. And we happen to think that that is the end game. Ultimately, you will see probably the Fed formally devalue the dollar versus gold. After 40 years of it being untied, and that is all. This is just the pendulum swinging back we think. And they will do it at a price, a gold price, in dollar terms, that will reflect the amount of past monetary inflation that we have seen.

    Chris Martenson: Yikes

    Paul Brodsky: Or something close to that.

    Chris Martenson: That is a big number.

    Paul Brodsky: It is a big number, we think it is about little north of $10,000 currently.

    [...]

    What I am saying is, the government will want to retain control, the only way they will be able to do that, is through going back, is devaluing. As they devalued it in 1971, the irony is, they will be going back to a gold standard or a quasi gold standard. I think that the method that they will do that, you know they will print a lot of money with which to tender gold at some big number. That will be highly inflationary. And then they will probably make a market, target a gold price as today they target Fed funds and interest rate. They will target a gold price. You know we will buy your gold at $10,000 we will sell you our gold at $10,200 and if too many people tender, then they will take the price down and vice versa. And what I think that would do, that is not a gold standard by the way, that is maintaining a credit market in effect. However, what it would still place a little more pressure on lenders to watch their backs in terms of the unreserved credit that they are carrying. And it would probably, more than anything, just instill confidence.]

    in Chris Martenson, Transcript for Paul Brodsky
     
  5. The collapse of paper money & the vertical move of gold

    It is the charging of interest on money issued as loans from a central bank that is the foundation of capitalism. It should be noted that prior to capitalism, charging interest on money lending was considered immoral by Christians, Muslims and Jews alike.

    Outlawed by Islam, considered by the Catholic Church to be a sin and contrary to the Law of Moses, because of William Patterson’s combination of money and debt, money lending is now the basis of all modern economies.

    Jews, barred from all trade guilds in Medieval Europe, were allowed only two avocations in the Middle Ages, that of money lending and the selling of used clothing. It is not without irony that the once shunned practice of money lending has now catapulted Jewish bankers to their pre-eminent position of power and wealth in the world today.

    [...]

    When capitalism—institutionalized money lending in debt-based economies—became the world’s predominant economy, bankers found themselves temporarily on top. The operant word is temporarily because where credit and debt is concerned, that which goes up always comes down.

    [...]

    In 1971, capitalism began to unravel when the US was forced to suspend the convertibility of the US dollar to gold. Without gold’s constraint on the money supply, governments—especially the US—began printing and borrowing money virtually without limit. Today, that limit has been reached.

    William Patterson’s 300 year-old house of cards and credit is now collapsing as defaulting debt consumes what’s left of savings. Despite the efforts of governments to save the system that allows them to spend money they don’t have, the end of the banker’s reign is near.

    By Darryl Robert Schoon, in Goldsurvival, July 18, 2011.
É por isto que os bancos querem que os governos tapem o buraco dos derivados especulativos com a expropriação fiscal do cidadão comum — OAM.
act. 24-10-2011 01:38