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quarta-feira, março 11, 2009

Portugal 91

Manuel Alegre ou decide ou desaparece

Se avançar já, tem hipóteses de federar uma nova esquerda responsável (coisa que o Bloco não é); se deixar apodrecer a situação, restar-lhe-à o triste caixote do lixo da História.

Partido Socialista
Carlos Candal: “Não é pensável que o Manuel Alegre faça o que tem feito sem levar um chuto"
11.03.2009 - 10h44 PÚBLICO
O ex-deputado socialista Carlos Candal defendeu em declarações ao Rádio Clube Português (RCP) que o Partido Socialista deveria avançar com um processo disciplinar contra Manuel Alegre. “Não é pensável que o Manuel Alegre faça o que tem feito, e continue a fazer, sem levar um chuto”, disse Candal.

Partido Socialista
Santos Silva sugere saída de Alegre das listas de deputados
11.03.2009 - 08h00 :, Leonete Botelho e Nuno Simas PÚBLICO
Augusto Santos Silva parece ter ontem quebrado o tabu sobre se Manuel Alegre vai ou não ser candidato a deputado nas listas do PS. Tentando não comentar a entrevista do histórico socialista ao "Expresso" porque se trata de "questões que estão resolvidas", o ministro dos Assuntos Parlamentares explicou o que quer dizer: "Se eu não concordar com o programa eleitoral do PS, não me candidato a deputado. Se não concordar com a declaração de princípios do PS, não estou lá a fazer nada", afirmou no debate Cara a Cara, da TVI24.

O PS, em nome da mitigação dos próximos desastres eleitorais, tomou uma decisão: correr com Manuel Alegre. Tem todos os motivos formais para o fazer, e a conveniência é muita.

Se Alegre cindir, formará seguramente um novo partido para concorrer às próximas eleições.

Neste caso, o eleitorado que agora pensa votar nos eternos juvenis do Bloco de Esquerda, como protesto contra os piratas neoliberais que sequestraram o Partido Socialista, transformando-o num autêntico partido da grande burguesia compradora e burocrática lusitana, partir-se-à ao meio: uma metade vai para Louçã, e outra para Alegre. Se isto acontecer, o PS sem maioria absoluta que sair das próximas legislativas terá argumentos de sobra para forçar um novo Bloco Central... com o próximo líder do PSD, o neoliberal imberbe Pedro Passos Coelho — deixando as velhas esquerdas a berrar no deserto.

Resumindo e concluindo, o ponto de ruptura da actual situação política chama-se Manuel Alegre.

E o mais importante agora são os tempos de decisão. Se Manuel Alegre decidir já, poderá federar uma vasta sensibilidade da esquerda realista portuguesa para a utopia de uma renovação democrática do regime. É não apenas um sonho por que vale a pena lutar, mas sobretudo a única saída para a continuidade do actual regime democrático, antes de uma alternativa presidencialista a la française.

Se, ao contrário, continuar a hesitar, e decidir tarde de mais (por exemplo, depois das eleições europeias), o tal eleitorado da esquerda realista partir-se-à ao meio, ou inclinar-se-à mesmo mais para Louçã, do que para um retardatário hesitante, sobre o qual pairará então a sombra do oportunismo pessoal.

O tempo da decisão é agora, e não daqui a três meses, como preferem os estrategas do PS.

A hipótese de Manuel Alegre hibernar até que passe o ciclo eleitoral, com a eventual ilusão de poder então capitalizar os descontentes no interior do partido, e eleger um sucessor de Sócrates que ponha em causa a tríade de Macau, é um passo muito arriscado. A verdade é que este PS se transformou num partido do BES, do BCP e da Mota-Engil, e nada fará mudar a sua nova natureza tão cedo. O PSD, por sua vez, está a redefinir-se como um partido das PMEs e das autarquias — caminho muito rentável, política e eleitoralmente, se o souber fazer com audácia e muita criatividade. A esquerda actual, no contexto da gravíssima crise em curso, não tem soluções — apesar de atrair eleitores desiludidos.

O PCP não passa dum cadáver estalinista adiado, sem qualquer possibilidade de imaginar o futuro. Estão agarrados à burocracia que controlam, dependem do voto senil, e daí não saem.

O Bloco de Esquerda, depois das posições assumidas recentemente sobre a NATO e sobre Angola, confirma à saciedade a sua incorrigível imaturidade política e radicalismo saloio. Nada farão para além de se digladiarem por lugares e correr atrás do tumulto.

E no entanto há um grande eleitorado de esquerda, de uma esquerda inteligente e realista, que não sabe onde votar, ou mesmo se deve votar. Formas mais espontâneas, criativas e realistas de democracia em rede estão a nascer na infoesfera. Se Alegre matar a possibilidade de surgimento de um novo partido democrático com efectivo potencial de acção, a alternativa que nos resta é começar rapidamente a construir uma autêntica Democracia Virtual, cuja vitalidade e sentido de responsabilidade global conduza ao nascimento de novas formas de poder democrático efectivo, capazes de substituir a tempo o moribundo regime que actualmente conduz o país para a fossa.


Post scriptum — O Bloco de Esquerda (BE) tem uma deficiência genética impossível de ultrapassar: nasceu com um corpo medieval dividido entre três estalinistas, de famílias diferentes, e um líder trotsquista. Embora sejam notáveis os esforços de moderação por parte de Francisco Louçã, já da parte dos seus correlegionários estalinistas sobra o disparate e a arteriosclerose ideológica. Nesta configuração, a previsível subida eleitoral do BE terá seguramente a vantagem de retirar a maioria absoluta ao PS. Mas que não se iludam os velhos juvenis do Bloco: não são eles que atraem os votos, mas antes uma parte do eleitorado PS que ali se refugia temporária e tacticamente, para impedir —por qualquer meio— a renovação da actual maioria absoluta.

Assim sendo, se Manuel Alegre decidir abandonar o PS antes das eleições europeias, arrastando consigo muita gente socialista descontente com o take over do PS por uma tríade de piratas neoliberais e cínicos, o Bloco seria imediatamente confrontado com uma crise interna.

Os ex-maoistas são pouco dados à subtileza, e por conseguinte jamais aceitariam a integração do BE num projecto maior, partilhado com Alegre. Mas o partido do poeta —se vier a existir— exerceria uma pressão formidável sobre o BE à medida que as sondagens fossem revelando a transferência do voto inteligente para a nova esperança socialista. E aí, por uma espécie de atracção electrónica irresistível, haveria grande probabilidade de Francisco Louçã (nomeadamente por causa de todo o historial da IV Internacional) propor uma fusão do Bloco com o então emergente Partido Socialista Reconstruído. Haveria pois duas cisões e a formação de uma nova estrela no moribundo universo partidário a que chegámos. Como há muito prevejo, esta recomposição do Centro-Esquerda provocaria a precipitação da crise larvar do PSD, conduzindo mais cedo ou mais tarde a uma recomposição do Centro-Direita.

Manuel Alegre, pense bem!


OAM 553 11-03-2009 13:35 (última actualização: 12-03-2008 01:41)

sábado, março 22, 2008

Portugal 26



A ruína de um paradigma escolar

21-03-2008. O bullying, a violência na escola que atingia crianças e jovens, está agora a aterrorizar os professores, afirmou hoje Maria Beatriz Pereira, investigadora e autora de várias obras sobre a violência escolar.

"Os professores são as novas vítimas do bullying", sustentou, em declarações à Lusa, a investigadora que é docente da Universidade do Minho (UM) e presidente da Comissão Directiva e Cientifica de Doutoramento em Estudos da Crianças. Embora sem números oficiais, Maria Beatriz mostra-se "muito preocupada" com a forma como o bullying, a agressão continuada e sem motivo, está a atingir os professores. -- Expresso.

Uma professora de francês da Escola Secundária Carolina Michaelis, no Porto, foi brutalizada, em plena aula, quando tentava tirar o telemóvel a uma aluna.
... Enquanto a professora a tentava tirar o telemóvel à estudante, os restantes alunos assistiam e riam-se da situação. Nos comentários ao vídeo no YouTube a atitude é criticada por outros alunos da escola. -- Expresso.

O vídeo da escola secundária Carolina Michaelis difundido pelo YouTube, e depois retransmitido pelas cadeias televisivas e jornais em linha, como o Expresso e o Público electrónicos entre outros, tem despertado uma enorme atenção pública, nomeadamente na blogosfera, tendo-se registado milhares de comentários em linha sobre o escandalosa reportagem do acontecimento. No rescaldo do protesto massivo dos professores portugueses contra a política educativa do actual governo "socialista", este incidente entre uma professora e uma aluna, em volta de um telemóvel, veio subitamente revelar, em formato voyeuriste, a profunda crise do sistema escolar actual.

Não é normal nem recomendável que uma professora se envolva numa disputa física com uma estudante, quando poderia e deveria dispor de recursos imateriais mais apropriados, expeditos e eficazes para atingir o desejado fim -- no caso, impedir o uso indevido do telemóvel no decorrer de uma aula. Numa palavra, não compete ao corpo docente de uma instituição de ensino policiar os seus alunos na forma que compete às polícias, mas antes aplicar e fazer cumprir comportamentos cívicos instituídos e regras disciplinares aplicáveis na instituição em concreto, segundo os procedimentos de informação, persuasão, ordenação e punição constantes dos regulamentos. Em caso de recusa, por parte da estudante, de cumprimento do pacto escolar, os professores devem recorrer aos apropriados instrumentos de denúncia, endereçando às instâncias competentes a responsabilidade de fazer cumprir as normas estabelecidas e conhecidas, ou, na sua impossibilidade, penalizar o infractor de acordo com o que esteja previsto nos regulamentos. Em suma, um professor não pode nem deve fazer justiça pelas suas próprias mãos, nem sobretudo pode confundir a sua acção pedagógica com a sua acção disciplinar. Cada uma tem as suas regras, a sua própria democracia e procedimentos regulamentares específicos. Confundir estes dois planos pode originar facilmente o desastre. Como se viu neste caso.

A sala de aula é um laboratório de democracia, e nisto é hoje diferente do que foi noutros tempos, nomeadamente quando a regra era a da ditadura, a do paternalismo discricionário e a do obscurantismo. Significa isto, por exemplo, que os professores têm que adquirir conhecimentos especializados, não apenas das disciplinas que ensinam, não apenas de cultura política democrática, não apenas das dinâmicas frenéticas urbanas pós-contemporâneas (âmbitos onde o défice é infelizmente elevadíssimo), mas também e com carácter de urgência, nos domínios cada vez mais prementes e exigentes da pedagogia comportamental, da produção sócio-cultural e da mediação de conflitos. É certamente algo mais do que se tem oferecido aos professores nos diversos estádios de preparação para as duras tarefas que enfrentam. E para deles podermos exigir uma tão grande metamorfose pedagógica, cultural e profissional, preciso será forçosamente, não apenas introduzir mecanismos de avaliação e escalonamento das competências e desempenhos, mas também proporcionar-lhes muito melhores condições económicas, sociais e institucionais de vida e trabalho.

Os modelos de aprendizagem e os conteúdos da aprendizagem terão que passar por uma mudança radical de paradigma face às emergências explosivas e simultâneas das tecnologias de informação e sobretudo das realidades aumentadas e virtuais. Sem uma conjugação de tudo isto, que é muito e não pode resolver-se com mezinhas burocráticas, nem com a perpetuação da geografia e regime dos poderes educativos dominantes, é o próprio conceito de sistema educativo que tenderá a caminhar rapidamente para o caos e a implosão. Os quase campos de concentração em que as escolas e universidades americanas se têm vindo a transformar são a este propósito um eloquente e ao mesmo tempo dramático aviso!


Post scriptum
-- 22-03-2008 12:14. O VALOR DE UM TELEMÓVEL -- Quando revejo uma e outra vez o drama capturado pelo telemóvel de um dos alunos da turma, pergunto-me: que terá levado a professora a ter perdido a paciência e o auto-controlo? Que sentido de propriedade e sobretudo de identidade une uma adolescente ao seu telemóvel, a tal ponto de a mesma perder completamente as estribeiras e entrar num transe de manifesta histeria?

É preciso conhecer três fenómenos que correm actualmente em paralelo para começar a entender o fenómeno: 1) a pulverização social incrementada pelo estado desregulado, especulativo e obsessivo do Capitalismo pós-contemporâneo; 2) a difracção da realidade vivencial causada pela explosão das famílias; 3) o aumento da realidade vivencial potenciada pela evolução muito rápida das tecnologias de comunicação hiperrealista.

O Capitalismo na sua fase declinante torna-se cada vez mais egoísta, desumano e provocador da desintegração social. Nada na sua agenda prevê a existência do humano, quanto mais a felicidade do homem! O Capitalismo declinante quer apenas uma coisa: escravos. O resto da humanidade, no que aos paraísos da riqueza diz respeito, que se dane! Ou seja, as disfunções da família, da escola, das cidades, dos governos e dos Estados, pouco lhe importa. A sua única preocupação é reunir as condições ideais para um dia destes ver-se livre, de forma expedita e relativamente indolor, de uma parte substancial da humanidade.

As famílias urbanas de hoje são cada vez mais ocorrências instáveis e anacrónicas, sendo frequentemente fruto de oportunismos de vária ordem, sem qualquer compromisso efectivo com o futuro, nem responsabilidades seriamente assumidas. Nenhum constrangimento ideológico as protege, e tudo parece conspirar contra a sua duração. Em tais circunstâncias é praticamente impossível impedir a explosão em curso dos núcleos familiares. Das famílias mono-nucleares passámos às famílias polinucleares e destas à sua imparável pulverização funcional e desligamento afectivo. A tendência imparável para chutar os filhos para a órbita da sociedade e das suas instituições educativas, extra-familiares, públicas ou privadas, revela uma dramática desresponsabilização maternal e paternal, em nome do direito ao trabalho, em nome do direito à felicidade pessoal e em nome da produtividade, i.e. da exploração capitalista! Com o empobrecimento acelerado do Estado social, induzido pela exportação de boa parte das actividades económicas produtivas do Ocidente para os novos paraísos da escravatura laboral, verifica-se uma tendência cada vez mais nítida no Capitalismo declinante para a rejeição dos custos inerentes à reprodução demográfica saudável das sociedades "desenvolvidas". Estas tornaram-se aglomerados humanos des-familiarizados, entregues a uma economia de serviços, ao consumo, e a caminho de uma precoce e fatal senilidade sociológica. As crias que pela força do imperativo biológico apesar tudo nascem e se desenvolvem encontram pela frente um mundo fragmentado de realidades e aparências, materiais e imateriais, onde muito dificilmente conseguem aprender a distinguir o bem do mal, ou simplesmente até, os graus de realidade e de liberdade da bolha antropotecnológica onde estão imersos.

Um telemóvel, para uma criança, para uma adolescente, ou para um jovem com menos de 30 anos, não é um mero telefone. Muito mais do que isso, é uma interface tecno-social agarrada ao corpo. Não se pode arrancar das suas mãos uma tal interface pela mesma razão que se lhes não pode arrancar um braço! O telemóvel é um feitiço total. Que faculta a quem o possui e criou, ao longo dos dias e das noites, o dom da ubiquidade e da telepresença, a autoconfiança, a liberdade, a amizade e a própria estruturação de uma identidade reflectida e instanciada. O telelé organiza a comunidade social do indivíduo como já não o faz a família, nem a escola, nem essa entidade longínqua e ideológica a que chamamos sociedade. No interior de um telemóvel guardam-se os segredos mais íntimos de cada um, e nele habitam pessoas virtuais e avatares, cuja sobrevivência frágil depende em primeiro lugar de uma instintiva dedicação tecnológica ao novo midia. O telemóvel é uma extensão social do corpo e como tal deve ser protegida pela mesma ordem jurídica que defende o resto do corpo biológico natural. Esta realidade emergente não pode deixar de gerar confusão e conflito. Precisamos de um tempo de aprendizagem e adaptação, tanto no plano comportamental, como no das leis e regras dos edifícios jurídicos pré-tecnológicos. No Japão, a conversação telefónica no espaço público, via telemóvel, está socialmente interdita, por ser considerada um prática intrusiva. O acordo quanto a isto foi conseguido, sobretudo por razões culturais antigas, e é hoje respeitado por todos. Mas como o telelé é muito mais do que um telefone, rapazes e sobretudo raparigas decoram os seus aparelhos das maneiras mais inusitadas e divertidas, tratam-nos como brinquedos de estimação, e usam-nos durante as suas longas viagens de metro, não para aumentar a cacafonia das conversas triviais, mas antes para imergirem no labirinto interminável, lúdico, agonistico ou puramente instrumental, das suas vidas virtuais. É esta fronteira sensível da hiperrealidade que a nervosa e incauta professora profanou sem se dar conta do verdadeiro terramoto emocional que iria provocar, na sua sala de aula e na comunidade mediática que hoje discute o incidente.


OAM 339 22-03-2008, 02:30