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quarta-feira, abril 01, 2009

G20-London 3

Change, please
A esperança de Obama por terra. Uma moedinha por favor!

Um embuste anglo-americano
Obama não resiste à rainha, nem aos banqueiros!

A reunião do G20 fracassou em quatro frentes essenciais:
  1. Na frente monetária: a hegemonia do falido dólar americano e a sobrevalorização artificial da falida libra inglesa deixaram de fazer qualquer sentido, dados os irreparáveis graus de endividamento destes dois países.

    As duas coisas urgentes a fazer, que Obama, Brown e Sarkozy rejeitaram ab initio são estas:
    • criar uma nova moeda de reserva internacional, nomeadamente através da incorporação das moedas chinesa, indiana, russa, brasileira e ainda a futura moeda única dos países árabes produtores de petróleo, no cesto onde se amassam os chamados SDR;
    • acabar com os movimentos de desvalorização agressiva do ouro, reforçando as reservas oficiais da mais antiga e fiável moeda do mundo nos cofres de todos os bancos centrais, por forma a estabelecer uma paridade mais fiável entre a riqueza real dos países e as aparências ilusionistas engendradas pela especulação corrupta e criminosa que, pelos vistos, Obama tenciona manter e alimentar.

    Os SDR (Special Drawing Rights) são uma espécie de moeda de reserva internacional destinada a fazer as vezes do ouro no comércio mundial. Chama-se por vezes a este contrato fiduciário, "ouro-papel", pretendendo-se com tal afirmação ostensiva dar aos Direitos Especiais de Saque a aparência de uma autêntica e universal moeda de reserva.

    De facto, sabemos que não é assim, pois o que os pilotos de guerra americanos e ingleses levam no bolso para o caso de caírem nalgum deserto iraquiano, ou nalguma montanha afegã, não são SDRs, mas moedas de ouro! Aliás, que diria qualquer um de nós, se alguém nos quisesse pagar um jantar, ou uma casa, com SDRs?

    De facto, esta pseudo moeda universal, nascida no interior do FMI em 1969, dois anos antes de Nixon pôr fim à garantia de trocar dólares por ouro, e que aparece invariavelmente no capítulo das reservas cambiais e de ouro dos relatórios anuais dos bancos centrais, não passa de um compromisso político decorrente ainda da vitória aliada na Segunda Guerra Mundial (1939-1945) e dos defuntos Acordos de Bretton Woods.

    Estes últimos impuseram basicamente a submissão de todas as moedas mundiais ao dólar americano. Mas a progressiva desvalorização desta moeda comercial e de reserva levou a que se cozinhasse os SDRs como uma nova opção em matéria de reserva monetária.

    A desvalorização agressiva do ouro em sucessivas operações especulativas orquestradas por americanos e ingleses, nem por isso impediu a desvalorização paulatina da nuvem de dólares americanos espalhados pelo globo. Todos os bancos centrais eram obrigados a comprar dólares para as suas trocas comerciais com o exterior — por exemplo, para comprar petróleo! Com o ouro artificialmente baixo e sobretudo ausente de boa parte das reservas cambiais existentes, e a desvalorização inevitável de um dólar que se imprimia (e continua a imprimir) como papel higiénico, alguém se lembrou de inventar um cabaz mais "democrático" de moedas, a fim de proporcionar alguma estabilidade aos mercados financeiros mundiais. A esse cabaz, que funciona ainda hoje como uma espécie de moeda franca do FMI, chamou-se SDR. Continha à data da sua criação (1969), dólares americanos, marcos alemães, francos franceses, libras inglesas e ienes japoneses. Hoje contém dólares americanos, euros, libras inglesas e ienes.

    Por razões óbvias, e sobretudo porque o dólar americano se encontra à beira do colapso, faria todo o sentido enriquecer este cabaz de divisas, com as moedas cada vez mais fortes dos chamados países emergentes. A cimeira do G20 deveria pois ser aproveitada, por exemplo, para agir nesta direcção, em vez de tentar prolongar o estertor do falido império anglo-americano, como é a manifesta intenção da América e de boa parte da Eurolândia.

  2. Na frente social: anunciar aos quatro ventos que o poderoso G20 irá criar 25 milhões de postos de trabalho, quando o desemprego mundial deverá atingir, segundo estatísticas das Nações Unidas, qualquer coisa como 230 milhões de pessoas em 2010, não passa de uma piada de mau gosto que as televisões acéfalas de todo o mundo irão vender como a prova de piedade dos piratas que causaram a tragédia actual e, não contentes com isso, nem sequer com o perdão já anunciado por Barak Obama, estão neste preciso momento a refinanciar as suas actividades corruptas e os seus bancos à custa do maior roubo fiscal da história da humanidade.

  3. Na frente da corrupção: a benção de Obama aos donos do mundo financeiro, respectivos bancos de investimento e paraísos fiscais, assim que chegou a Londres, ao lado do homem que alienou em 1999 metade das reservas inglesas de ouro (Gordon Brown), mostra bem o percurso da palavra change: da coragem de anunciar a mudança, à litania do pedinte! Jersey, Guernsey e Isle of Man são propriedade exclusivas da coroa inglesa. E são também conhecidos offshores. Que dirá Obama a Isabel II sobre isto?

  4. Na frente económica: o que está em curso é a montagem de uma gigantesca armadilha económico-financeira, com a face risonha de um programa de ataque à crise e apoio aos pobres — mais investimento = mais emprego, dizem —, mas cuja intenção escondida a sete chaves é rebentar com a poupança mundial, nomeadamente através de uma expropriação em larga escala dos rendimentos de países inteiros, vergados sob o peso das dívidas de curto prazo, cujo refinanciamento se fará por uma inflação monetária sem precedentes e pela captura do bem comum (as melhores paisagens e os melhores terrenos agrícolas, a água potável, as sementes, as redes de energia, os sistemas de transportes, as telecomunicações, etc.) — sob a forma de grandes e demagógicos programas de obras públicas, empacotados em Parcerias Público Privadas, cujos contratos assegurarão desde já a liquidez de curto prazo de que os governos tanto necessitam, ao preço de comprometer as independências dos países e a liberdade, prosperidade e felicidade dos povos. Os governos há muito que dependem dos bancos e sobretudo de grandes manipuladores financeiros como o JPMorgan Chase, Bank of America, Citibank, Goldman Sachs e HSBC Bank USA, ou dos entretanto caídos em desgraça shadow bankers (Bear Stearns, Lehman Brothers, etc.), bem como das suas inúmeras e camufladas delegações. Melhor conjuntura para começar uma revolução não poderia haver!




REFERÊNCIAS

  • Sobre o G20 neste blog: 1, 2, 3.

  • "The Relevance and Importance of Gold in the World Monetary System", by R. Peter W. Millar (PDF)

  • Mints coin it as consumers scramble for gold
    By Sarah Marsh and Jan Harvey/ Reuters
    Mon Mar 30, 2009 9:27pm EDT

    Russia's state-controlled Sberbank says it has never seen such strong demand for investment coins, while the U.S. Mint says sales of its one-ounce American Eagle gold bullion coins rocketed over 400 percent to 710,000 ounces in 2008.

    "The demand for gold and silver has been unprecedented," said Carla Coolman, a spokeswoman at the United States Mint.

    Austria's Philharmonic, named after the Vienna Philharmonic Orchestra, was the world's best-selling gold coin in the last quarter and sales soared 544 percent in the first two months of 2009.

    "There is no sign of demand abating," Austrian Mint Marketing Director Kerry Tattersall told Reuters, expecting sales this year to exceed 2008's record levels. "At present production is struggling to keep up with demand."

  • China and Argentina in currency swap
    By Jude Webber in Santiago/ Finantial Times.com
    Published: March 31 2009 01:25 | Last updated: March 31 2009 01:25

    China, which is pushing to end the dominance of the dollar as a worldwide reserve, has agreed a Rmb70bn ($10.24bn, £7.18bn, €7.76bn) currency swap with Argentina that will allow it to receive renminbi instead of dollars for its exports to the Latin American country.

    Xinhua, the official Chinese news agency, said the deal was signed on Sunday by Zhou Xiaochuan, governor of the People’s Bank of China, and Martín Redrado, Argentine central bank president, in Medellín, Colombia, where they are attending a meeting of the Inter-American Development Bank.

  • Chavez seeks Arab support for oil-backed currency

    BRIAN MURPHY
    Associated Press/ The Globe and Mail, Toronto
    March 31, 2009 at 5:56 PM EDT

    DOHA, Qatar — Venezuelan President Hugo Chavez tried Tuesday to court Arab support for another swipe at America as its economy stumbles: a proposal for a new, oil-backed currency to challenge the global prominence of the dollar.

    The idea never reached the full agenda of a summit of leaders from South America and the Arab League — and has little hope of gaining any momentum among the U.S. allies in the Middle East. But it managed to reflect broader sentiments at the gathering: That Western financial leadership has been deeply eroded by the economic meltdown.

  • RPT-EU says G20 not to focus on China financial calls

    BEIJING, March 29 (Reuters) - Europe is comfortable with China's growing world role but believes the G20 summit will be too early to decide on Beijing's calls for more say in global financial bodies, the EU Commissioner for External Relations said on Sunday.

    European Union Commissioner Benita Ferrero-Waldner told Reuters in Beijing that the London gathering of 20 major wealthy and developing powers this week would focus on "concrete results" to revive the global economy, not more distant issues.

    China caused a stir ahead of the Thursday summit when it suggested the world move to greater use of IMF Special Drawing Rights as an international reserve currency.

    "I don't think that this will be the question that really will be discussed thoroughly in London," Ferrero-Waldner said after talks with Chinese Foreign Minister Yang Jiechi and Vice Premier Li Keqiang.

    Likewise, she said, China's call for a bigger role in the International Monetary Fund (IMF) and other international financial bodies would not be a focus of the summit.

    "I think it's too early for us to give a really concrete answer," she said of these calls. "I think it is within the IMF, it is within the international financial institutions, that these questions have to be discussed."

    The idea of a new reserve currency system based on the IMF special drawing rights has not been entirely knocked down, but many G20 leaders have made clear that for now the U.S. dollar's status as the dominant reserve unit remains.

  • O buraco negro dos Derivados — 600 milhões de milhões de USD — representa 12 vezes o PIB do planeta!

    OCC’s Quarterly Report on Bank Trading and Derivatives Activities — Fourth Quarter 2008 (PDF)

    • The notional value of derivatives held by U.S. commercial banks increased $24.5 trillion in the fourth quarter, or 14%, to $200.4 trillion, due to the migration of investment bank derivatives business into the commercial banking system.
    • U.S. commercial banks lost $9.2 billion trading in cash and derivative instruments in the fourth quarter of 2008 and for the year they reported trading losses of $836 million. The poor results in 2008 reflect continued turmoil in financial markets, particularly for credit instruments.
    • Net current credit exposure increased 84% from the third quarter to a record $800 billion, and much of this is attributable to the sharp decline in interest rates in the fourth quarter.
    • Derivative contracts remain concentrated in interest rate products, which comprise 82% of total derivative notional values. The notional value of credit derivative contracts decreased by 2% during the quarter to $15.9 trillion. Credit default swaps are 98% of total credit derivatives.

    Derivatives activity in the U.S. banking system is dominated by a small group of large financial institutions. Five large commercial banks represent 96% of the total industry notional amount and 81% of industry net current credit exposure.

  • Reform International Financial Regulatory Framework:A Few Remarks
    Research Institute of Finance & Banking
    People's Bank of China

    In the midst of the current financial crisis, the needs for major reform of the global financial system and global financial stability framework have been increasingly recognized. Policymakers and international organizations have made substantial efforts to improve the international financial system including financial regulation and supervision. Various proposals have come forward on priority areas such as redefining the scope and boundaries of financial regulation and supervision, tackling issues of pro-cyclicality in the system, retooling capital and provisioning requirements as well as refining valuation and accounting rules, and some consensus has been reached. Among others, the Group of Thirty has published a Financial Reform report, and FSF and BCBS have undertaken some work on various aspects of financial regulation and Basel II framework. A number of regulators and the financial industry have initiated a centralized clearing and central counter-party mechanisms for OTC derivatives including credit default swaps (CDS). All these efforts will help to fend current crisis and future risks. However, we also note that several issues with respect to the financial regulatory framework have not received adequate attentions. In this note, we would like to explore these issues and provide relevant suggestions.


  • U.K. Bond Auction Fails for First Time in 14 Years - WSJ.com.
    Isto significa que já nem as emissões de dívida pública funcionam. Por isso Gordon Brown quer que os governos do G20 esmifrem os seus concidadãos para refinanciar o falido FMI. Refinanciado este, não serão só os países pobres do Terciro Mundo que poderão então acolher-se à sombra castigadora do FMI. Não — é a própria planície de sua majestade a rainha de Inglaterra!

  • OECD predicts 10% jobless rate for 2010

    By Chris Giles in London, Ralph Atkins in Frankfurt and Mark Mulligan in Madrid
    Published: March 30 2009 20:02 | Last updated: March 30 2009 20:46 — Finantial Times.co.

    One in 10 workers in advanced economies will be without a job next year, “practically with no exceptions”, the head of the Organisation for Economic Co-operation and Development said on Monday.

    In a graphic indication of the global recession’s transmission from the financial sector to the rest of the economy, Angel Gurría warned that the ranks of the unemployed in the 30 advanced OECD countries would swell “by about 25m people, by far the largest and most rapid increase in OECD unemployment in the postwar period”.

    He said the misery of joblessness – what Mr Gurría described as “rapidly turning into a jobs and social crisis” – would come as the OECD expected advanced economies to contract by 4.3 per cent in 2009 with little or no growth expected in 2010. The forecast is significantly worse than the International Monetary Fund’s most recent estimate of a 3-3.5 per cent contraction for 2009.

  • 20 Million Laid-off Migrant Workers May Send China's Unemployment Rate to 10% February 06,2009

    by CSC staff, Shanghai — China Stakes.com.
    20 million! The number of jobless migrant workers brought by the economic slowdown is even higher than the most pessimistic estimation.

    Chen Xiwen, deputy director of the Office of Central Financial Work Leading Group and director of the Office of The Central Leading Group on Rural Work, disclosed that, due to the financial crisis, about 20 million out of 130 million migrant workers, had returned home as they became jobless or failed to find jobs thanks to the economic slowdown.

    ... According to the estimation of the Ministry of Human Resources and Social Security, the over supply issue of labor will worsen in 2009, and the government will have to offer jobs to 24 million people, including 13 million new workers, 8 million laid-off workers and 3 million who are waiting for jobs.

  • China Unemployment Rate

  • 2009 world unemployment could rise by 40 million [to 230 million], says UN

    Invest in India — The global economic downturn could see 40 million more people lose their jobs by the end of the year, taking the unemployment rate to its highest in a decade, the U.N. labor agency said Wednesday.

    The number of unemployed in 2009 will largely depend on how effective governments’ economic stimulus measures are, the International Labor Organization cautioned.

    Worldwide unemployment by the end of the year will range between 210 million and 230 million people, the agency said in its annual Global Employment Trends report.

OAM 567 01-04-2009 18:26 (última actualização: 02-04-2009 00:09)

sábado, março 28, 2009

G20-London 2

Lula é menos racista do que parece
O presidente do Brasil Luiz Inácio Lula da Silva disse que a crise económica foi causada por "brancos de olhos azuis" e que é errado pensar que negros pobres ou povos indígenas devam pagar pelos seus erros. — BBC.



Lula da Silva, presidente do emergente Brasil, arrasa a diligência oportunista de Gordon Brown para levar a Cimeira de Londres do G20 a deixar tudo na mesma — isto é, a facturar às classes médias e sobretudo a milhares de milhões de pobres em todo o planeta 64 anos de capitalismo de casino (desde Bretton Woods), à conta do qual a maior nação do mundo —os EUA—, mas também o Reino Unido e uma boa fatia da Europa, se endividaram alegremente à conta do saque colonial e neo-colonial dos países com recursos energéticos e matérias primas essenciais, como se a sorte da humanidade fosse um Jogo do Monópolio onde os bancos centrais se entretêm a imprimir papel de cada vez que precisam de mais dinheiro, os vampiros da especulação se divertem a destruir empresas e a fabricar quimeras bolsistas, e os governos e nomenclaturas partidárias se deixam avidamente corromper até à medula.

O ponto a que chegámos é este: há uma inimaginável dívida acumulada no buraco negro dos mercados de derivados que é impossível pagar! Mas como o que caracteriza uma dívida é que ela sempre se paga —ou por quem deve, ou por quem emprestou— estamos metidos num sarilho de proporções trágicas. Centenas de milhar de empresas, centenas de bancos e fundos de pensões, milhões de famílias e dezenas de estados irão à falência na sequência do grande crash bolsista que ainda não ocorreu mas irá ocorrer, este ano ou até 2012. A cimeira de Londres é uma tentativa desesperada, sobretudo das elites americanas e inglesas (os tais brancos de olhos azuis), de evitar ir para onde a sua irresponsável e criminosa pirataria os levou: à falência! Querem como sempre continuar a beber os mais caros Champagne (Dom Perignon, Diadema Diamante e Heidsieck ), a snifar coca Colombiana em notas de 500 euros, a degustar ovas de Beluga em salvas de prata, a conduzir Bugattis forrados a couro de vitela, e a dispor de carne adolescente em bacanais exclusivos. Ou seja, querem, como sempre, que sejam os outros, nomeadamente os pobres, pretos, asiáticos e índios a sofrer e pagar!

Eu sou branco, mas como boa parte dos portugueses tenho sangue de várias cores. Do Brasil veio um bisavô alemão, loiro e de olhos muito azuis, e uma bisavó princesa índia — de Belém do Pará. De Portugal veio seguramente muito sangue celta, judeu e algum negro dos idos tempos da escravatura, quando muito escravo se miscigenou com a já então antiga miscelânea galaico-lusitana. Lula não fez uma afirmação racista. Falou sim através de uma poderosa metáfora, em defesa da esmagadora maioria da população mundial, que não é de facto responsável —mas está a pagar as favas— pela luxúria e pirataria assassina que nos conduziu a todos para esta dramática e perigosa situação.

Ou metemos na ordem o sistema internacional e regressamos ao padrão confiável do ouro e da prata, abandonando definitivamente a especulação cambial (FOREX) e a falsificação monetária legalizada (fiat money, money out of thin air) que vigoram desde 1914 e são literalmente responsáveis pela destruição em curso do planeta e da civilização, ou caminharemos muito rapidamente para o colapso. É preciso explicar isto às pessoas. E de caminho, é preciso meter isto nas cabeças obtusas dos economistas e das nomenclaturas político-partidárias deste mundo.

A estes últimos recomendo a leitura urgente de um livro: Gold Wars, de Fernidand Lips.

OAM 564 28-03-2009 11:34

quarta-feira, março 25, 2009

G20-London

Cimeira de Londres do G20
Última oportunidade de evitar uma desarticulação geo-política global

Carta aberta aos dirigentes do G20, publicada na edição internacional do Financial Times de 24 de Março de 2009

Minhas Senhoras e Meus Senhores,

A vossa próxima cimeira terá lugar dentro de dias em Londres, mas restam-vos menos de seis meses para evitar que o mundo mergulhe numa crise que levará pelo menos uma década a superar, acompanhada de um cortejo de tragédias e convulsões. Esta carta aberta do Laboratoire Européen d'Anticipation Politique / Europe 2020 (LEAP/E2020), que desde Fevereiro 2006 anunciou a chegada de uma "crise sistémica global", pretende explicar brevemente o que aconteceu, e como limitar mais danos.

Se apenas começastes a suspeitar da amplitude da crise há menos de um ano, a verdade é que o LEAP/E2020, no segundo número do seu « Global Europe Anticipation Bulletin » (GEAB N°2), havia já anunciado que o mundo entrara na "fase de desencadeamento" de uma crise de proporções históricas. Desde então, mês a mês, LEAP/E2020 continuou a produzir previsões muito fiáveis do desenrolar desta crise com a qual o mundo inteiro agora se debate. Por esta razão, escrevemos esta carta aberta que esperamos possa esclarecer as vossas escolhas nos próximos dias.

Esta crise tem vindo a agravar-se de forma perigosa. Recentemente, na 32ª edição do seu Boletim, o LEAP/E2020 lançou um alerta muito importante que vos diz directamente respeito, enquanto líderes do G20: se, reunidos em Londres no próximo dia 2 de Abril, não forem capazes de adoptar um certo número de decisões audaciosas e inovadoras, centradas no que é essencial e levadas à prática a partir do Verão de 2009, então a crise entrará no fim deste ano numa fase de "desarticulação geo-política generalizada", que afectará tanto o sistema internacional como a própria estrutura de grandes entidades políticas, tais como os Estados Unidos, Rússia, China ou a União Europeia. A partir deste ponto deixará de ser possível controlar a situação, para mal dos 6 mil milhões de habitantes deste planeta.

A vossa escolha: uma crise de 3 a 5 anos ou uma longa crise de pelo menos uma década?

Como nada vos preparou para enfrentar uma crise de tamanhas proporções históricas, a vossa preocupação incidiu apenas nos sintomas e nos efeitos secundários da crise. Pensaram que bastava adicionar mais combustível ou óleo ao motor mundial, desprevenidos do facto de que esse motor estava gripado, sem esperança de reparação. É de um novo motor que precisamos construir. Mas o tempo escasseia, pois em cada mês que passa deteriora-se um pouco mais o sistema internacional.

Como em todas as grandes crises, é preciso ir ao essencial. Como em todas as crises de dimensão histórica, a única saída está entre levar a cabo uma série de mudanças radicais, abreviando a duração da crise e as suas consequências trágicas ou, pelo contrário, recusar fazer essas mudanças numa tentativa de salvar o que sobra do actual sistema, não conseguindo porém mais do que prolongar a crise e aumentar todas as suas consequências negativas. Em Londres, no próximo dia 2 de Abril, podereis pois escolher entre abrir o caminho para a resolução da crise de uma forma organizada em 3 a 5 anos; ou, pelo contrário, arrastar o planeta para uma década terrível.

Contentamo-nos com oferecer três recomendações que consideramos de alcance estratégico no sentido de, como foi já adiantado pelo LEAP/E2020, se as mesmas não forem tomadas até ao Verão de 2009, tornar-se inevitável uma desarticulação geo-política global a partir do fim deste ano.

AS TRÊS RECOMENDAÇÕES DO LEAP/E2020

1. A chave da crise está na criação de uma nova moeda de reserva internacional!

A primeira recomendação resume-se a uma ideia muito simples: a chave da crise actual encontra-se na reforma do sistema monetário internacional herdado da Segunda Guerra Mundial a fim de criar uma nova moeda de reserva internacional. O dólar e a economia dos Estados Unidos já não estão em condições de continuarem a ser os pilares da ordem económica, financeira e monetária global. Enquanto este problema estratégico não for directamente abordado e resolvido, a crise agravar-se-à. Na realidade ele está no coração da crise do mercado financeiro de derivados, bancos, preços energéticos... e das suas consequências no desemprego e no colapso dos padrões de vida. É por isso de vital importância que este assunto seja o tema central da cimeira do G20, e que os primeiros passos da sua solução aí sejam dados. Na realidade, a solução deste problema é bem conhecida: trata-se de criar uma moeda de reserva internacional (que poderia chamar-se "Global") baseada num cesto de moedas das maiores economias, i.e. dólar US, Euro, Iene, Yuan, Khaleeji (a moeda única dos estados petrolíferos do Golfo, a ser lançada em Janeiro de 2010), Rublo, Real..., gerida por um "Instituto Monetário Mundial". Deverá pedir-se ao Fundo Monetário Internacional e aos bancos centrais envolvidos que preparem este plano para Junho de 2009 e o implementem em Janeiro de 2010. Este é o único caminho para recuperar algum controlo sobre os acontecimentos e ao mesmo conseguir uma gestão global partilhada com base numa moeda comum situada no centro da actividade económica e financeira.

Segundo o LEAP/E2020, se esta alternativa ao colapso sistémico em curso não se iniciar no Verão de 2009, provando que há alternativa ao "cada um por si", o actual sistema internacional não sobreviverá a este Verão.
Se alguns dos estados do G20 pensam que é melhor manter os privilégios do "status quo" pelo tempo que for possível, deverão meditar no facto que, se hoje ainda podem influenciar significativamente a futura forma deste novo sistema financeiro mundial, uma vez iniciada a fase de desarticulação geo-política global perderão qualquer hipótese de o fazer.

2. Implementar os esquemas de controlo bancário o mais depressa possível!

A segunda recomendação foi já mencionada frequentemente nos debates preliminares da vossa próxima cimeira. Deve pois ser fácil de adoptar. Trata-se de criar, antes do fim deste ano, um esquema de controlo bancário à escala global, eliminando todos os "buracos negros" do sistema. Várias opções foram já sugeridas pelos vossos especialistas. Decidam-se já: nacionalizando as instituições financeiras tão prontamente quanto necessário! É a única maneira de prevenir um novo episódio de endividamento em larga escala por parte dessas instituições (o tipo de situação que contribuiu significativamente para a presente crise), e de mostrar à comunidade mundial credibilidade para lidar com banqueiros.

3. Levar o FMI a avaliar os sistemas financeiros dos Estados Unidos, Reino Unido e Suíça!

A terceira recomendação relaciona-se com um assunto político sensível, que não deve ser ignorado. É essencial que, até Julho de 2009, o FMI apresenta ao G20 uma avaliação independente dos três sistemas financeiros no coração da actual crise financeira: o estado-unidense, o britânico e o suíço. Nenhuma recomendação sustentável poderá ser implementada eficazmente enquanto não se souber claramente o dano causado pela crise no interior deste três pilares do sistema financeiro mundial. Não é altura de ser amável com os países situados no centro do presente caos financeiro.

Escrevam uma declaração simples e breve!

Por último, por favor, permitam-nos lembrar-lhes que a vossa tarefa é restaurar a confiança no seio de 6 mil milhões de pessoas e a milhões de organizações públicas e privadas. Assim sendo, não se esqueçam de redigir um comunicado curto — não mais de duas páginas, apresentando um máximo de três ou quatro ideias que os não especialistas possam ler e perceber. Se assim não for, ninguém vos lerá fora do círculo estreito dos especialistas, e por conseguinte sereis incapazes de recuperar a confiança geral do público, pelo que a crise se agravará.

Se esta carta aberta vos ajudar a sentir que a história julgará o êxito ou fracasso desta Cimeira, então, não terá sido escrita em vão. Segundo o LEAP/E2020, os vossos cidadãos não esperarão mais do que um ano para vos julgar. Desta vez, pelo menos, não podereis dizer que ninguém vos avisou!

Franck Biancheri
Director de estudos do LEAP/E2020
Presidente do Newropean

Tradução: OAM

Outras versões:

OAM 561 25-03-2009 16:25