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domingo, janeiro 27, 2019

Um novo Tratado de Tordesilhas, ou?

Federica Mogherini, chefe diplomática da União Europeia

Maduro terá que abandonar o poder em breve


A Rússia não tem força para transformar a Venezuela numa espécie de Ucrânia. E a China também não tem interesse em precipitar os acontecimentos nesta direção. O resultado de mais um braço de ferro entre o despotismo asiático e as democracias ocidentais só pode ser um: salvar ambas as faces, do Ocidente e do Oriente, levando o senhor Maduro a passar umas férias nas Caraíbas.

O modo como a crise na Venezuela evoluir (Guterres tem que abrir os olhos!) depois do reconhecimento de Juan Guaido pela maioria dos estados americanos (12 contra 3) e pela União Europeia, deixará ver de forma bem nítida a fratura em curso na famosa globalização. O recuo dos Estados Unidos e dos seus aliados na Síria depois de uma clara vitória da Rússia e do Irão da guerra civil que destruiu boa parte daquele país, será, por assim dizer, compensado com o despedimento de Maduro e a subsequente pressão contra a excessiva presença económica, militar e diplomática da Rússia e da China naquelas paragens. As negociações, que já estarão a decorrer, suponho, sobre a revisão drástica da permeabilidade do continente americano à influência chinesa, russa e indiana, ditarão a duração e os contornos mais ou menos violentos da guerra entre Maduro e Guaido.

O equilíbrio MAD nunca esteve na realidade em causa, mesmo durante a implosão da URSS. O que sim tem estado a mudar é a posição geográfica do centro de gravidade da prosperidade mundial. No século 15, por volta de 1430, a China fechar-se-ia paulatinamente ao mundo, assustada com o eterno perigo do Norte, ou por outro motivo ainda por esclarecer. O seu hoje incensado Almirante Zheng He (1371—1433 ou 1435), depois de sete viagens memoráveis (1403, 1407, 1409, 1413, 1416, 1421, 1429) pelos mares da China, Oceano Índico, até à costa ocidental de África, que poderiam ter aberto o caminho marítimo da China até à Europa, não chegou a conhecer o Infante Dom Henrique (1394—1460), vinte e três anos mais novo, o qual, em 1415, daria início a um ciclo de expedições marítimas que acabariam por nos levar à China, em 1513-1517, e ao Japão, em 1543.

Seiscentos anos depois, a China quer refazer a Rota da Seda, por mar e terra, cruzando toda a Eurásia, mas também os mares da China, o Oceano Índico, África e o Atlântico. A sua ambição é, pois, incomensurável com as pretensões algo tacanhas do que resta do império dos czares russos. Num certo sentido, podemos dizer que Putin é, de momento, o braço armado da China nesta sua acelerada fase expansionista, mas que a imensa terra russa é também uma espécie de espaço vital futuro da China.

Daqui a dificuldade de saber onde estão os meridianos do futuro Tratado de Tordesilhas que irá regular uma nova divisão ao meio do planeta humano. Há que procurá-los, pois a alternativa a uma divisão pacífica das influências pode ser mesmo a extinção da humanidade.

Existe uma teoria diferente sobre a carnificina venezuelana (1), a qual interpreta o 'golpe' contra Nicolás Maduro como uma placagem ao acesso oriental (sobretudo da China) ao petróleo venezuelano. De um ponto de vista geoestratégico, esta interpretação decorre de uma visão que, no essencial, diz isto: os impérios marítimos e coloniais que dominaram o mundo nos últimos seiscentos anos irão ceder ao poder da grande massa continental e humana que é a Eurásia. O objetivo tático para apressar esta mudança tectónica passa, segundo os teóricos desta visão, por separar a Europa ocidental da América, forçando-a a ser apenas a península ocidental cooperante de uma Eurásia centrada nos seus grandes poderes estratégicos: Alemanha, Rússia, Irão, Índia, e China.

Vale a pena, para uma melhor compreensão deste ponto de vista, ler dois artigos recentes (de que incluímos dois extratos) escritos por Pepe Escobar e por Federico Pieraccini.

“The supreme nightmare for the U.S. is in fact a truly Eurasian Beijing-Berlin- Moscow partnership.” 
“The Belt and Road Initiative (BRI) has not even begun; according to the official Beijing timetable, we’re still in the planning phase. Implementation starts next year. The horizon is 2039.” 
[...] 
“The New Silk Roads were launched by Xi Jinping five years ago, in Astana (the Silk Road Economic Belt) and Jakarta (the Maritime Silk Road). It took Washington almost half a decade to come up with a response. And that amounts to an avalanche of sanctions and tariffs. Not good enough. 
Russia for its part was forced to publicly announce a show of mesmerizing weaponry to dissuade the proverbial War Party adventurers probably for good – while heralding Moscow’s role as co-driver of a brand new game. 
Were the European peninsula of Asia to fully integrate before mid-century – via high-speed rail, fiber optics, pipelines – into the heart of massive, sprawling Eurasia, it’s game over. No wonder Exceptionalistan elites are starting to get the feeling of a silk rope drawn ever so softly, squeezing their gentle throats.” 
— in Pepe Escobar, “Back in the (Great) Game: The Revenge of Eurasian Land Powers”, Consortium News, August 2018.



“Even if the US dollar were to remain central for several years, the process of de-dollarization is irreversible.  
Right now Iran plays a vital role in how countries like India, Russia, and China are able to respond asymmetrically to the US. Russia uses military power in Syria, China seeks economic integration in the Silk Road 2.0, and India bypasses the dollar by selling oil in exchange for goods or other currency.  
India, China, and Russia use the Middle East as a stepping stone to advance energy, economic and military integration, pushing out the plans of the neocons in the region, thereby indirectly sending a signal to Israel and Saudi Arabia. On the other hand, conflicts in Syria, Iraq and Afghanistan are occasions for peacemaking, advancing the integration of dozens of countries by incorporating them into a major project that includes Eurasia, the Middle East and North Africa instead of the US and her proxy states.  
Soon there will be a breaking point, not so much militarily (as the nuclear MAD doctrine is still valid) but rather economically. Of course, the spark will come from changing the denomination in which oil is sold, namely the US dollar. This process will still take time, but it is an indispensable condition for Iran becoming a regional hegemon. China is increasingly clashing with Washington; Russia is increasingly influential in OPEC; and India may finally decide to embrace the Eurasian revolution by forming an impenetrable strategic square against Washington, which will shift the balance of global power to the East after more than 500 years of domination by the West.”
—in “Russia, China, India, and Iran: The Magic Quadrant That is Changing the World”
by Federico Pieraccini @ Strategic Culture Foundation, 25.01.2019


Post scriptum

Acabo de ler a comunicação de Georges Soros ao Forum de Davos deste ano. Pela sua clareza relativamente à China, recomendo a sua leitura e deixo aqui um extrato elucidativo.

Remarks delivered at the World Economic Forum 
Davos, Switzerland, January 24, 2019 
“China is not the only authoritarian regime in the world but it is the wealthiest, strongest and technologically most advance. This makes Xi Jinping the most dangerous opponent of open societies. That’s why it’s so important to distinguish Xi Jinping’s policies from the aspirations of the Chinese people. The social credit system, if it became operational, would give Xi total control over the people. Since Xi is the most dangerous enemy of the open society, we must pin our hopes on the Chinese people, and especially on the business community and a political elite willing to uphold the Confucian tradition.” 
—in Georges Soros
NOTAS



  1. Este relatório anual do Observatorio Venezolano de Violencia dá bem a dimensão da crise política, social e humanitária desencadeada pela ditadura de Nicolás Maduro.

Atualizado em 28/1/2018, 13:05 WET

quinta-feira, fevereiro 05, 2015

Grexit? (3)

Topol M ICBM — uma arma nuclear infernal

BCE—0, Grécia—1 


“About 700 units of military equipment, including launchers are deployed in the positioning areas in the Tver, Ivanovo, Kirov, Irkutsk regions, as well as in Altai Territory and the Mari El republic.” 
TASS

Ontem o BCE tentou humilhar a Grécia. Hoje a Rússia forçou o BCE a adiantar 60 mil milhões de euros aos gregos, e de caminho colocou armas nucleares em regime de prontidão em vários pontos do seu território. O casal Merkel-Hollande sai amanhã disparado em direção a Moscovo!

Mais do que uma simples expulsão da Grécia da Eurolândia, o que está em causa é muito maior e muito mais perigoso: trata-se de saber como irá decorrer o braço de ferro entre Moscovo e Washington em volta da magna questão dos corredores do gás natural em direção à Europa.

É hoje evidente que os americanos pretendem isolar a Rússia para tolher a China. E uma das formas de o fazer é atacar as exportações de petróleo e gás natural. Primeiro prepararam um Inferno na Ucrânia, e outro na Síria. Objetivo: cortar ao meio os gasodutos que ligam a Rússia à Europa através do território ucraniano; e depois apoiar o Qatar, a Arába Saudita e Israel a lançarem novos gasodutos em direção à Europa, dificultando ao mesmo tempo a construção do pretendido gasoduto entre a Rússia e a Grécia, com passagem única pela Turquia.

Este garrote, se funcionasse até ao fim, acabaria com Putin e lançaria a Rússia numa nova bancarrota e na agitação social. É este o objetivo da diplomacia levada a cabo pelos emissários de Obama na Arábia Saudita e na Ucrânia—com o apoio óbvio de Israel, que lançou uma ofensiva militar terrorista contra a Palestina. É percebendo esta manobra que se entenderá o aparecimento e ação psicológica global do famoso Estado Islâmico, uma criação, tal como a Al Qaida, dos serviços secretos militares norte-americanos (com a ajuda mais do que provável dos ingleses e dos israelitas).

É possível que Obama tenha um rebuçado para Putin: se deixares cair Bashar al-Assad, essencial à construção dos gasodutos Árabe e Islâmico, deixaremos a Ucrânia em paz e ao teu cuidado.

É neste teatro bélico potencial, a que os dirigentes eurolandeses assistem com ar bovino, que os ortodoxos gregos e os ortodoxos russos se encontram neste momento.

Vladimir Putin, que ameaçou já fechar o fornecimento de gás natural à Europa através da Ucrânia, oferece, porém, uma alternativa: um gasoduto através da Turquia com entrada na União Europeia pela Grécia. Mas se for assim, como poderá a Alemanha deixar cair os ortodoxos gregos?

A Turquia não se oporá, obviamente, à proposta russa.


FILME DO DIA

Rússia avisa EUA que fornecer armas à Ucrânia causará “dano colossal” às relações
Jornal de Notícias
“Nos nossos contactos com representantes da administração norte-americana sempre sublinhámos que as informações sobre a intenção de Washington de entregar a Kiev armas modernas letais nos causam grande preocupação”, disse o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros russo, Alexander Lukashevich.

Merkel, Hollande, Putin to discuss end to Ukraine’s civil war at Moscow talks
RT. Edited time: February 05, 2015 16:26

The French president and the German chancellor are set to visit Moscow on Friday after a trip to Kiev, in order to find a peaceful solution to the escalating violence in Ukraine, the Kremlin has confirmed.

“I can confirm that indeed tomorrow [Friday] Putin, Merkel and Hollande will have talks. The leaders of the three states will discuss what specifically the countries can do to contribute to speedy end of the civil war in the southeast of Ukraine, which has escalated in recent days and resulted in many casualties,” Russian presidential spokesman Dmitry Peskov said.

Putin Invites Tsipras To Visit Russia
Zero Hedge. Submitted by Tyler Durden on 02/05/2015 10:45 -0500

While Greek finance minister Yanis Varoufakis’ comments that “we will never ask for financial assistance in Moscow,” which notably does not deny acceptance of aid if offered, and Greek Minister of Energy Panagiotis Lafazanis adding that Athens opposes the embargo imposed on Moscow, “we have no disagreement with Russia and the Russian people,” it is perhaps not surprising that, as Vedemosti reports, Russian President Vladimir Putin spoke by phone with the new Prime Minister of Greece Alexis Tsipras, congratulated him on taking office, and invited him to Russia.

[ANA]

The situation in Ukraine and other international issues, among them, “the South Stream and Turkish Stream pipeline projects, dominated a telephone call between Russian President Vladimir Putin and Greek Prime Minister Alexis Tsipras earlier on Thursday, the Kremlin announced.

Putin invited Tsipras to visit Moscow on May 9 when celebrations will take place, commemorating the peoples’ victory over fascism. On his part, the Greek prime minister underlined the importance he attributes to the fight against Nazism, expressing his intention to accept the invitation.

The Russian leader’s top foreign policy adviser Yuri Ushakov said that Putin congratulated Tsipras on his victory in last month’s general elections and on the assumption of his duties as the new prime minister of Greece.

The discussion was very warm and constructive, he said, noting that President Putin invited Tsipras to Russia. He also said that the will for a more active development of bilateral relations was reaffirmed.

The Russian ministers of foreign affairs and defence have already invited their Greek counterparts to visit Moscow.

Tsipras talks to Putin while US urges Greece to cooperate with its partners, IMF
ekathimerini, Thursday February 5, 2015 (14:55)

The United States has urged Greece to work closely with its European partners and the International Monetary Fund, a senior American official said late on Wednesday.

“We do believe that in the case of Greece it is very important for the Greek government to work cooperatively with its European colleagues, as well as with the IMF. And we have advised it to do so, and we are hopeful that these conversations are now moving to a place with some cooperation and mutual understanding.” noted the official during a conference call regarding US Vice President Joe Biden’s visit to Belgium and Germany which begins on Thursday.

The comments followed President Obama’s recent remarks with regard to austerity in Greece, in which he argued that countries could not go on being “squeezed.”

Russia Deploys Nuclear ICBM Launchers On Combat Patrol
Submitted by Tyler Durden on 02/05/2015 12:56 -0500

Perhaps it is a coincidence that a day before John Kerry’s arrival in Kiev (a visit which “coincided” with a 35% devaluation of the local currency) where among other things the US statesman discussed the possibility of official (as opposed to unofficial) deliveries of US “lethal support” to the civil war torn and now hyperinflation country, that Russia decided to put its nuclear ICBMs on combat patrol missions in various Russian regions. Specifically, according to Tass, “About 700 units of military equipment, including launchers are deployed in the positioning areas in the Tver, Ivanovo, Kirov, Irkutsk regions, as well as in Altai Territory and the Mari El republic.”

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quarta-feira, fevereiro 04, 2015

Guerra e Gás (IV)

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A corrida dos gasodutos—afinal o petróleo desce por causa do gás!


As guerras, as sanções, as tensões, as degolações espetaculares, em suma, o Inferno que temos visto no Médio Oriente desde as guerras no Afeganistão e no Iraque marcam o início do grande conflito estratégico do século 21: a luta pelo gás natural.

Estão em causa os acessos e o fornecimento de gás natural à Europa, mas também à China, à Índia e ao Paquistão. As maiores reservas encontram-se na Rússia, Irão, Qatar, Turquemenistão, EUA, Arábia Saudita, Iraque, Venezuela, Nigéria, Argélia, em suma, nos sítios do costume.

Neste momento a Rússia compete com os projetados gasodutos Árabe e Islâmico na primazia do fornecimento à Europa — pretendendo chegar à Europa através da Turquia e da Grécia. A guerra de secessão em curso na Ucrânia é imprevisível e poderá acabar na redução drástica da passagem de gás russo por aquele país.

Por outro lado, parece que a Arábia Saudita resolveu dar uma ajudinha à estratégia de Obama e dos caniches europeus, promovendo os interesses estratégicos do Qatar/Irão, mas também de Israel do Egito e os seus próprios na corrida dos gasodutos. O jogo é perigoso, pois Putin pode recordar aos alemães o que lhes sucedeu em Estalinegrado quando intentaram conquistar a Rússia.

Saudi Oil Is Seen as Lever to Pry Russian Support From Syria’s Assad
By MARK MAZZETTI, ERIC SCHMITT and DAVID D. KIRKPATRICKFEB. The New York Times, 3, 2015

WASHINGTON — Saudi Arabia has been trying to pressure President Vladimir V. Putin of Russia to abandon his support for President Bashar al-Assad of Syria, using its dominance of the global oil markets at a time when the Russian government is reeling from the effects of plummeting oil prices.

Saudi Arabia and Russia have had numerous discussions over the past several months that have yet to produce a significant breakthrough, according to American and Saudi officials. It is unclear how explicitly Saudi officials have linked oil to the issue of Syria during the talks, but Saudi officials say — and they have told the United States — that they think they have some leverage over Mr. Putin because of their ability to reduce the supply of oil and possibly drive up prices.

“If oil can serve to bring peace in Syria, I don’t see how Saudi Arabia would back away from trying to reach a deal,” a Saudi diplomat said. An array of diplomatic, intelligence and political officials from the United States and the Middle East spoke on the condition of anonymity to adhere to protocols of diplomacy.

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Sobre este mesmo tema n'O António Maria

terça-feira, fevereiro 03, 2015

Guerra e Gás (3)


É o gás estúpida!


Tsipras says Greece and Cyprus could be ‘EU bridge to Russia’
EurActiv, 3/2/2015

“Greece and Cyprus can become a bridge of peace and cooperation between the EU and Russia,” said Tsipras, as quoted by the Greek daily Ekathimerini.

Tsipras however denied seeking financial aid from Moscow. “We are in substantial negotiations with our partners in Europe and those we have borrowed from. We have obligations towards them,” he said in response to a journalist’s question. “Right now, there are no other thoughts on the table,” he added.

On Friday, Moscow suggested it would consider offering financial aid to Greece, a few days after Athens had voiced reservations over EU sanctions on Russia.

O inferno da Ucrânia —resultado do acosso americano apoiado pelos caniches europeus— terá como provável epílogo o fecho dos gasodutos que ligam a Rússia à UE através da Ucrânia.

Alternativas: os gasodutos do Sul:
  1. Azerbaijão (Cáspio)+Irão+Rússia-Turquia-Grécia-Albânia-norte da Europa
  2. Irão-Qatar-Iraque-Síria-Líbano-Grécia-norte da Europa (Israel também está nesta disputa...)
A Grécia está a jogar uma cartada que representa a possibilidade de ser a principal porta de entrada de dois gasodutos estratégicos para a Alemanha e os demais países europeus que, sem gás natural, morrerão de frio no inverno.

O jogo de cintura do senhor Alexis Tsipras é, pois, mais sério do que parece, e a conversa sobre quem paga as dívidas não passa de uma guerra vicariante (a proxy war of the many around), para entreter os mérdia.

Mas não se esqueçam, senhor Tsipras, e senhor Varoufakis, de contratar o Paulo Macedo para por a vossa casa em ordem!

NOTA AOS INVESTIDORES: altura para investir no país de Sócrates. Do verdadeiro Sócrates, claro!

Sobre este mesmo tema n'O António Maria

segunda-feira, março 04, 2013

E depois do petróleo?

A era pós-industrial está a transformar-se num pesadelo

1415-2015: uma era que chega ao fim

Começa a ser tempo de sabermos a verdade. Apesar do declínio demográfico português, a população mundial vai continuar a crescer até 2050, dos atuais sete mil milhões de almas, para mais de nove mil milhões, ou seja, somaremos à população que hoje somos, até 2050, o equivalente à população mundial de 1927.

Sabe-se que não é possível aumentar significativamente a produção de petróleo (1), gás natural e carvão, e que a simples manutenção dos atuais níveis de produção está a revelar-se cada vez mais difícil e dispendiosa, por efeito da degradação rápida do chamado EROEI (Energy Return On Energy Investment). Os países exportadores exportam cada vez menos, também porque consomem mais, e os países importadores têm cada menos meios financeiros para importar o petróleo, gás natural e carvão de que necessitam para manter as suas economias a funcionar. As balanças comerciais dos importadores de combustíveis fósseis têm vindo a deteriorar-se e o seu endividamento é cada vez mais dramático.

A tendência para o endividamento é geral

Vamos, pois, ter que alimentar, vestir, abrigar, transportar e prestar serviços de educação, saúde e assistência social, entre outros, a mais cerca de sessenta milhões de pessoas por ano até 2050. Será o mesmo que vermos nascer anualmente uma nova Itália, mas sem mais território, nem mais recursos energéticos, minerais e alimentares suficientes para suportar qualquer incremento real do chamado produto interno bruto das economias.

A energia fóssil que permitiu transformar radicalmente a civilização nos últimos duzentos anos —carvão, petróleo e gás natural— entrou num patamar de estagnação relativa, e deverá começar  a declinar depois de 2015, acelerando dramaticamente o movimento de queda lá para 2030-2040 (2).

Mesmo sem aumentarmos o consumo destas fontes de energia —o que significará inexoravelmente uma qualquer forma de racionamento energético, dado o crescimento demográfico em curso— todos os estudos sérios apontam para o colapso destes motores da civilização moderna e contemporânea até ao fim deste século.

E o entanto os efeitos desta escassez anteciparam-se às previsões dessa ciência oculta a que chamam economia! O endividamento disfarçado das nações acumulou desequilíbrios que acabariam por atirar o mundo inteiro para um gravíssimo problema financeiro, económico, social e político desde 2008. A maioria das economias nacionais e regionais já está ou caminha para espirais recessivas de que dificilmente sairá, salvo por breves períodos de alívio. O tempo dos estímulos puramente financeiros, assentes no consumo, na criação fictícia de massa monetária e na especulação, ou seja, no endividamento público e privado dos povos, terminou. Já nem a China se livra dos efeitos desta mistificação económica.


A China não pode crescer sem ameaçar as reservas mundiais de carvão e petróleo, e vive, como se vê neste gráfico, imersa em bolhas keynesianas típicas

Estamos, como se pode imaginar, metidos num imenso sarilho. Em breve perceberemos que o discurso do crescimento morreu, que o empobrecimento veio para ficar, que o risco de implosão social é muito sério, que o colapso das classes médias está em marcha, que o sistemas financeiro global está preso por fios cada vez mais frágeis, que o perigo de um fascismo fiscal espreita as democracias, que estas, por sua vez, estão estruturalmente ameaçadas, e que, em suma, ou descobrimos uma maneira ordenada de fechar esta era de desperdício e insustentabilidade, ou a transição civilizacional mergulhará povos, nações, países, regiões inteiras numa espiral de caos e destruição violentos.

Até ao aparecimento da máquina a vapor o desenvolvimento económico, social e cultural dos povos mais avançados do planeta fez-se à custa da tração animal e da escravatura (foram essas as suas energias motrizes!) As taxas anuais de crescimento andaram então sempre entre 0% e 1%, sucedendo-se, todavia, eras inflacionistas sempre que a procura agregada de produtos crescia mais depressa do que a oferta [D. H. Fischer]. Só depois da introdução em massa dos combustíveis fósseis no desenvolvimento da economia e da tecnologia é que o crescimento mundial chegaria à média dos 3% (com picos geográficos, sempre temporários, na ordem dos dois dígitos). No estado a que chegámos, se o crescimento mundial conseguir um patamar dinâmico na ordem dos 1% até ao fim deste século já seria extraordinário.

Para alcançar tão ambiciosa meta —a alternativa a isto chama-se estagflação— teremos ainda que descobrir um caminho credível e exequível para as chamadas sociedades de transição. E temos que colaborar todos —à escala planetária—numa melhor repartição e uso dos recursos disponíveis, em vez de nos envolvermos numa guerra sem fim pelo último atum, pelo último barril de petróleo, pelo último ribeiro de água fresca, pela última nesga de ar puro. O desafio é ciclópico, mas é também uma gigantesca oportunidade para a imaginação e criatividade da raça humana.

Precisamos de nos preparar para uma verdadeira metamorfose cultural, deixando para trás as dicotomias felizes da ideologia moderna. Em 1983 lancei, com um grupo de artistas, entre os quais, pintores, arquitetos, músicos, encenadores e desenhadores moda, um grande evento cultural a que demos o título DEPOIS DO MODERNISMO. Foi há trinta anos, mas não andámos longe da realidade!

NOTAS
  1. Experimentem escrever na janela dum buscador (Google, DuckDuckGo, etc.) assaltos+bombas+gasolina. Numa pesquisa agora mesmo feita no Google obtive 374 mil resultados!
    Esta é a dimensão mais evidente de uma realidade chamada Pico do Petróleo. Perguntem às cartomantes da economia o que é isto. Tenho a certeza que meterão os pés pelas mãos.
    Sem petróleo, ou com este a preço de ouro, a civilização moderna colapsa — pura e simplesmente! Acima dos 100 dólares o barril, durante 6 meses ou mais, a economia mundial entra em recessão. Acima dos 140 dólares —preço de ouro— a economia mundial colapsa, pura e simplesmente, como ocorreu entre agosto e setembro de 2008.
    Reparem no gráfico do preço do Brent desde 2002
    .
  2. Para os mais interessados neste tema vale mesmo a pena assistir em diferido ao seminário promovido em Estocolmo, em novembro de 2012, sobre os dados mais recentes relativos ao pico do petróleo e suas consequências no preço dos combustíveis, a par dos impactos inflacionistas no resto da economia, por efeito do chamado Energy Return On Energy Investment (EROEI).
Peak Oil Postponed? – Seminar at the think tank Global Challenge in Stockholm Sweden (7 nov 2012)

 
Professor Kjell Aleklett speaks of the Peak Oil phenomenon at a seminar arranged by think tank Global Challenge in Stockholm. Eva Alfredsson opens the "Peak Oil Postponed?" seminar.


Peak Oil Postponed? — Professor Charles A. S. Hall speaks of his concept "Energy Return on Investment" (EROI) at a seminar arranged by think tank Global Challenge in Stockholm.


Biophysical Economics - Professor Charles A.S. Hall



Discussion on Peak Oil with Professors Kjell Aleklett and Charles A. S. Hall moderated by Anders Wijkman.



ÚLTIMA HORA

China ultrapassa EUA e torna-se no maior importador de petróleo do mundo

Os EUA lideravam o “ranking” dos países importadores de petróleo desde 1970. Em Dezembro de 2012, as importações líquidas de crude caíram para os 5,98 milhões de barris por dia, igualando valores de 1992. No mesmo mês, as importações líquidas chinesas cresceram para os 6,12 milhões de barris por dia, segundo a alfândega do país — in Jornal de Negócios, 04 março 2013; 14:47.

Esta notícia é importante.

Por um lado, porque as duas maiores economias do mundo só poderão sobreviver como tais se importarem mais de 12 milhões de barris de petróleo por dia (a produção mundial total de petróleo convencional não supera os 80 milhões bpd), e por outro, porque os dois maiores exportadores de crude do planeta, Arábia Saudita e Rússia, vendem pouco mais de 15 milhões bpd e tenderão a exportar menos a cada ano que passa...

Irão, Emiratos Árabes Unidos, Nigéria e Kuwait exportam, cada um, pouco mais de 2Mbpd, e cada um dos restantes exportadores tem menos de 2Mbpd para vender.

Segundo estatísticas da BP, em 2005 exportaram-se 47,9Mbpd, mas em 2010 este número tinha baixado para 43,8Mbpd.

A terceira guerra mundial vai, pois, ter a mesma espoleta das anteriores —o petróleo— a menos que os países da Lusofonia consigam propor e fazer vingar uma espécie de Novo Tratado de Tordesilhas sobre a repartição ponderada dos recursos vitais da atual civilização industrial e tecnológica, entre o Ocidente e o Oriente.

Vejam o meu mapa sobre este assunto (é essencial ir aos zooms....)

Os números que se seguem sobre as importações portuguesas de petróleo são meramente indicativos, pois a informação indígena a este respeito (como noutros temas cruciais) é tudo menos clara e fiável...

Barris por dia

2001: 357 300
2003: 106 300
2005: 390 300
2008: 323 000
2009: 294 600
2010: 277 400 (ou 224,5)
2011: 205 400 (ou 207,5)

Grosso modo podemos dizer que não passamos sem importar à volta de 260 mil barris de petróleo por dia, ou seja, uns 95 milhões de barris/ano.

Aos preços de hoje isto significa que a nossa fatura petrolífera é de 8 mil milhões de euros/ano!

Uma metodologia para trabalharmos na transição da economia portuguesa para a era pós-industrial e pós-petrolífera seria começar por cortar as importações de petróleo em 2% ao ano (taxa de exaustão do crude disponível no planeta) de aqui em diante! Em 2013, menos 160 milhões de euros de importações, etc...

Com esta equação na cabeça é possível caminharmos solidariamente para uma sociedade de transição. Doutra forma será o caos político permanente e um desastre económico e social com data marcada :(

MAIS DADOS PARA PENSAR, E SOBRETUDO AGIR!

A subida do preço do petróleo desde 1998 (ver este gráfico interativo) para cá implicou a maior transferência de sempre de riqueza da Europa para os países produtores de petróleo (António Costa e Silva/Partex).

Assim sendo, perante a recessão imparável, se há setor obrigado a fazer uma travagem às quatros rodas, é o dos transportes, começando desde logo pelo transporte aéreo, seguido pelo rodoviário.

A União Europeia é hoje o segundo maior consumidor e o segundo maior importador de petróleo do planeta. No entanto, o consumo e as importações têm vindo a decair desde 2008. Pelo contrário, os países exportadores têm vindo a consumir mais e portanto a exportar menos. Se querem perceber a principal casa da recessão europeia e americana, aqui vai: menos consumo de energia oriunda do petróleo!

Veja-se (neste gráfico) o que vai acontecer em breve ao transporte aéreo, e porque ninguém quis comprar a TAP :(

Repare-se ainda (nesta listagem) como o consumo de petróleo perdeu elasticidade e a sua mais equilibrada distribuição regional prejudicou claramente os consumos de crude nos EUA e ainda mais na União Europeia...


Última atualização: 8 mar 2013, 14:07 WET

quarta-feira, outubro 07, 2009

Ouro 2

Era uma vez o dólar...

The demise of the dollar

In a graphic illustration of the new world order, Arab states have launched secret moves with China, Russia and France to stop using the US currency for oil trading

By Robert Fisk
Tuesday, 6 October 2009 (The Independent)

In the most profound financial change in recent Middle East history, Gulf Arabs are planning – along with China, Russia, Japan and France – to end dollar dealings for oil, moving instead to a basket of currencies including the Japanese yen and Chinese yuan, the euro, gold and a new, unified currency planned for nations in the Gulf Co-operation Council, including Saudi Arabia, Abu Dhabi, Kuwait and Qatar.

Secret meetings have already been held by finance ministers and central bank governors in Russia, China, Japan and Brazil to work on the scheme, which will mean that oil will no longer be priced in dollars.

The plans, confirmed to The Independent by both Gulf Arab and Chinese banking sources in Hong Kong, may help to explain the sudden rise in gold prices, but it also augurs an extraordinary transition from dollar markets within nine years.

O Iraque foi invadido duas vezes depois de Saddam Hussein ter balbuciado a sua intenção de substituir o depauperado dólar americano por outra moeda qualquer nas transacções petrolíferas. A campanha contra o Irão tem a mesma origem, i.e. no facto de o Irão ter decidido vender petróleo a troco de euros e ienes (Global Research). Só que aqui a coisa tem-se tornado cada vez mais difícil para as intenções agressivas dos EUA, pois precisamente a China, o Japão e a Índia, já para não mencionar a França, Itália, Holanda, Grécia, Espanha e África do Sul, principais clientes do Irão (Iran Energy Data), não estão nada interessados em repetir na terra dos persas os desastres em curso no Iraque e no Afeganistão.

Daí que, ao que parece secretamente, alguns países importantes e/ou emergentes começaram a conspirar sobre uma maneira de acabar simpaticamente com a hegemonia da moeda americana nas trocas internacionais. Este abcesso criado em 1971, quando Richard Nixon rasgou abruptamente os acordos de Bretton Woods, que vinculavam as moedas de todo o mundo à moeda americana, mas na condição de esta ter uma paridade fixa com o ouro (1 onça de ouro fino valia então 35USD, hoje vale mais de 1000USD!), acabaria por rebentar por efeito das prolongadas e sucessivas crises financeiras e de endividamento do Japão (1990-2010?) e Estados Unidos (2001-2020?)

Ao contrário do que a propaganda político-financeira tem querido fazer crer, a crise de endividamento encadeado dos EUA, da Europa e do Japão não terminará tão cedo. Pelo contrário, poderá agravar-se de um momento para o outro, e de forma rápida e exponencial!

Os factores puramente financeiros que continuam a pesar sobre a actual crise são essencialmente quatro:
  1. a desvalorização constante da moeda americana,
  2. o endividamento profundo das economias mais desenvolvidas e a sua entrega irresponsável ao mundo onírico e puramente artificial do crédito barato e ilimitado,
  3. o insondável buraco negro dos produtos derivados,
  4. a falta de uma nova bolha especulativa credível, pois a das energias renováveis começou a esvaziar, e a do hipermercado dos futuros créditos de carbono poderá nem sequer levantar voo.
Nada, neste lado do problema pode sarar-se espontânea e rapidamente — como se vê. Quanto mais se endividam as economias maior será o peso das dívidas, do serviço das dívidas, e mais escasso e caro será o dinheiro no futuro. Se a resposta dos caloteiros for imprimir mais papel-moeda, ou digitar cifras num contador electrónico sem fim, as suas moedas desvalorizarão inexoravelmente (veja-se o que tem sucedido ao dólar americano e à libra inglesa.)

Por sua vez, os principais factores económicos que permanecem na origem profunda da crise, que não tem solução à vista, são os seguintes:
  1. a migração das indústrias para Oriente em busca de trabalho árduo e barato, com direitos sociais escassos e sem constrangimentos de segurança nem ambientais relevantes;
  2. a extinção e desmaterialização progressivas do trabalho, por efeito da incorporação crescente de novas tecnologias, nomeadamente electrónicas e de automação, com a consequente expansão do desemprego permanente e da falta de emprego;
  3. a substituição da lógica de acumulação/poupança por uma lógica de especulação/consumo, a qual só pode subsistir se assentar em formas de domínio imperial e/ou colonial (que tanto os EUA, como a Europa, deixaram de poder assegurar);
  4. o envelhecimento populacional, associado ao colapso anunciado dos sistemas de segurança social;
  5. a crise energética, para o que tardou, porventura irremediavelmente, a investigação e desenvolvimento atempados de novos paradigmas e/ou soluções de transição;
  6. a exaustão dos principais recursos em que assentou o desenvolvimento humano nos últimos 200 anos: água, carvão, petróleo, gás natural, terra arável, fauna, flora e biodiversidade;
  7. alterações climáticas provocadas por uma lógica de crescimento insustentável, cujos contornos foram precisamente detalhados em 1972 num célebre à época, mas rapidamente esquecido relatório do Clube de Roma, intitulado The Limits to Growth.
Finalmente, há uma conjuntura política internacional explosiva pairando em surdina sobre a Humanidade. A batalha mundial pelos recursos financeiros (i.e. fiduciários), energéticos, económicos e naturais já começou, ainda que sob a forma, aliás, clássica, dos conflitos periféricos e/ou vicariantes. Sabemos já que qualquer manobra militar, ou mesmo diplomática, corre o risco de fazer disparar os preços do petróleo, do gás natural e do ouro, a que se seguirão depois as subidas dos recursos alimentares. As perspectivas são muito preocupantes. Só não vê quem não quer.

As pessoas e os países devem pois preparar-se para o pior, e não adormecer nas cantigas de embalar dos especuladores de toda a espécie que inundam os canais de comunicação de massas. Antes de investir pense muito bem no que vai fazer. Persistir na lógica consumista e/ou especuladora do endividamento fácil, berrando por taxas de juros negativas, como fazem os populistas de todos os quadrantes, é pior do que dar um tiro na cabeça. Porque é convocar a tortura e a morte lenta da nossa civilização e da nossa cultura.

As fronteiras estarão de volta mais cedo do que agora conseguimos imaginar. Preparemos pois esse dia, e até lá, apliquemos parte das nossas poupanças nalgum ouro fino e em quintas e quintinhas com água potável e terra fértil.


OAM 634 07-10-2009 01:12

segunda-feira, agosto 11, 2008

Eurásia adiada

O fim do Tratado de Lisboa e a resposta russa; preâmbulo da campanha americana no Irão

Os alanos constituíam um povo bárbaro (isto é, não falavam latim), com origem no nordeste do Cáucaso, entre o rio Don e o Mar Cáspio, que realizou uma transmigração em direcção ao ocidente nos séculos IV e V.

Em 360, os hunos destruíram o seu império, obrigando muitos a atravessar a Europa até à Península Ibérica (em 409). Nesta migração, acabaram por se juntar aos suevos e aos vândalos que ocuparam simultaneamente com estes a Hispânia.

Os alanos que permaneceram a nordeste do Cáucaso passaram a designar-se por Tártaros. Aqueles que se estabeleceram na península Ibérica fundaram um reino na Lusitânia, sediado em Pax Julia, a actual cidade de Beja, em Portugal... -- in Wikipédia.

Os ossetas são um grupo étnico iraniano, natural da Ossétia, região do Cáucaso. Os ossetas estão localizados, em sua maior parte, na Ossétia do Norte, situada na Rússia, e na Ossétia do Sul, que apesar de ter declarado sua independência permanece reconhecida internacionalmente como parte da Geórgia. Falam o osseto, um idioma indo-europeu da família iraniana.

... Os ossetas descendem dos alanos, uma tribo sármata. Tornaram-se cristãos durante o início da Idade Média, por influência dos georgianos e dos bizantinos. No século VIII um reino alano já consolidado, chamado nas fontes contemporâneas de Alânia, surgiu no norte das montanhas do Cáucaso, na região das atuais Circássia e Ossétia do Norte. Em seu apogeu, a Alânia foi uma potência regional, com uma forte presença militar, e uma vasta riqueza obtida com a Rota da Seda.

Forçados de sua terra natal, ao sul do rio Don, durante a conquista mongol, cruzaram as montanhas rumo ao território do outro lado das cordilheiras do Cáucaso, onde formaram três entidades territoriais distintas (reunidas no que hoje é designada por Ossétia do Sul) -- in Wikipédia.

Ossétia do Sul, localização (mapa 1); Ossétia do Sul (mapa 2); Ossétia do Sul, áreas controladas pelo estado da Geórgia (mapa 3); rota das migrações do Alanos e Vândalos nos séculos IV e V (mapa 4); grupos etno-linguísticos na região do Cáucaso (mapa 5).

Dividir para reinar (divide ut regnes ou divide et impera) tem sido o lema comum a muitos estados e impérios, sobretudo quando não conseguem seduzir as nações e povos dominados para uma efectiva comunhão patriótica de objectivos. A imprensa ocidental mais submissa aos canais de propaganda anglo-americana tem vindo a sugerir que a resposta russa à invasão militar da Ossétia do Sul, pelas tropas da Geórgia, é uma grave violação de soberania (Carld Bildt, ministro dos negócios estrangeiros sueco), ou uma reacção desproporcionada (George W. Bush) e a prova de que a Rússia quer recuperar a sua dimensão imperial. Nada mais falso! O que eu vejo, isso sim, é a frenética actividade dos Estados Unidos, com o apoio discreto de uma Europa sumamente hipócrita, tentando provocar divisões territoriais em toda a parte do planeta. Do Afeganistão ao Iraque, da Palestina ao Irão, da Bolívia à China, e agora no Cáucaso. Em todos os casos afloram duas questões primordiais: a disputa pelos principais recursos energéticos do planeta (petróleo, gás natural) e o enorme esforço de manutenção da actual, embora ameaçada, supremacia americana.

Não estranharia nada que a provocação georgiana tivesse sido preparada pelos serviços secretos norte-americanos, fazendo parte, tal como a desestabilização do Tibete, dos Jogos Olímpicos de Pequim, e da província chinesa de Xinjiang por separatistas muçulmanos (1), da agenda preparatória dum ataque, porventura nuclear, ao Irão. O lóbi sionista americano tem realizado uma pressão enorme para fazer aprovar no Congresso a Resolução 362 (2), destinada a impor unilateralmente sanções draconianas ao Irão, as quais poderão conduzir ao bloqueio económico e naval do estreito de Ormuz.

Não estou por conseguinte certo das análises optimistas (3) que se limitam a ver na tragédia da Ossétia mais uma derrota da família Bush. Na realidade, depois de reunir uma série de pontas soltas, isto parece-em ser mais um episódio, porventura decisivo, da guerra em preparação contra o Irão, que por sua vez será uma guerra contra a Rússia, um aviso à China e um grande retrocesso para o sonho europeu. O facto de a França estar neste preciso momento à frente da União Europeia inspira-me aliás os maiores receios. Não devemos esperar nada de bom, nem do garnisé de Paris, nem do dandy que pomposamente dirige os assuntos externos da França e, por mais alguns meses, da Europa!

O Tratado de Lisboa, que permitiria a criação dum directório europeu franco-alemão, falhou. Falhou, por um lado, porque a aliança anglo-americana sabotou uma vez mais a tentativa de delimitação de um centro de gravidade europeu. E falhou, por outro lado, porque a Europa no seu conjunto foi incapaz de cooperar de forma séria com a Rússia pós-soviética, tendo revelado uma total submissão à estratégia aventureira do nosso amigo americano.

Berlim procurou alargar rapidamente o território da União Europeia e sobretudo o território da moeda única. Mas Bruxelas permitiu aos Estados Unidos vender a ideia peregrina de que a NATO, uma aliança militar criada para o Atlântico Norte, deveria alastrar até aos antigos países da órbita soviética (Bulgária, República Checa, Estónia, Hungria, Islândia, Letónia, Lituânia, Polónia, Roménia, Eslováquia, Eslovénia,) até à Turquia e mesmo até ao Cazaquistão! Ou seja, em vez de se ter estabelecido uma zona desmilitarizada entre a Rússia e a Europa ocidental, que pudesse servir de mediador para uma progressiva integração euro-asiática, fazendo desta imensa zona geográfica uma formidável força de cooperação e pacificação mundiais, os oportunistas da Europa abriram as pernas aos aventureiros americanos, escangalhando de novo a paz europeia!

O acosso permanente da Sérvia e a independência fabricada do Cosovo (entregue a um bando de chulos, traficantes de droga e ladrões descarados), bem como a instalação de uma das maiores bases militares americanas na Macedónia, e ainda a tentativa provocatória de instalar radares e mísseis na República Checa e na Polónia, tiveram finalmente uma resposta à altura por parte da Rússia. Tendo seguramente o apoio da China, com quem assinou em 21 de Julho passado o tratado que finalmente regulariza a delimitação da fronteira de 4300 Km entre os dois países (4), sanando por fim o diferendo existente há quarenta anos em torno das ilhas Heixiazi e Yinlong, situadas na confluência dos rios Ussuri e Amur, no Nordeste da China, a Rússia decidiu finalmente responder ao cerco que a NATO, ou melhor, os Estados Unidos com o apoio dissimulado da União Europeia, vêm montando junto das fronteiras russas. Berlim, Londres e Paris foram avisados sobre a possibilidade de ficarem sem gás de um dia para o outro. Entretanto, em plena cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos de Pequim, a Rússia resolve colocar os Estados Unidos em sentido, explicando-lhes que não irão tolerar o controlo do Mar Cáspio por uma manada de cowboys. Apesar de o oleoduto da BP que transporta petróleo do Mar Cáspio para o Mediterrâneo, de onde segue para a Europa e para os Estados Unidos, ter sido sabotado dias antes pelos separatistas curdos do PKK, a verdade é que a Rússia, que quer a BP fora do Cáspio quanto antes (aha!), está a tomar posições tácticas decisivas para a eventualidade de um ataque surpresa de Israel ou dos Estados Unidos ao Irão.

Os países detentores das principais reservas estratégicas mundiais de petróleo e gás natural (recursos energéticos insubstituíveis nos próximos 15 a 20 anos) -- Arábia Saudita, Rússia, Cazaquistão, Irão, Venezuela, Bolívia, Nigéria, Angola, Brasil, etc. -- têm vindo a nacionalizar paulatinamente os seus haveres estratégicos. Os países produtores de alimentos, como a Índia e o Brasil, mostraram que não hesitarão em suspender as exportações de arroz e soja, se tal for necessário, perante uma escalada de preços dos bens alimentares. Por outro lado, os E.U.A. e a Europa, que têm vindo a perder competitividade económica face à China e à Índia, não só estão mergulhados numa profundíssima crise financeira, como caminham a passos largos para recessões duras e prolongadas. A fragilidade energética dos Estados Unidos e da União Europeia é muito crítica e vai piorar nos próximos anos, não se vislumbrando no horizonte qualquer visão política séria do problema. A actual queda do preço do petróleo deriva em grande medida da destruição da procura americana e europeia. Mas isto apenas empobrece e desarma a Europa! A China e a Rússia agradecem!!

Nesta história da Ossétia estou completamente ao lado dos ossetas do Sul, porque são povo, nação e estado há muito mais tempo do que todos as democracias europeias. Ainda nós, portugueses, estávamos a sete séculos de sermos quem somos, e já os antepassados deste singular povo caucasiano deixavam a sua semente genética e civilizacional no Alentejo. Formulo assim votos de sucesso a João Soares para que honre a razão e a história no papel de mediador que foi chamado a desempenhar nesta hora difícil para a Ossétia e para a Europa.



NOTAS
  1. According to Stratfor, a US based think tank on intelligence issues, the Turkestan Islamic Party (TIP) which claimed responsibility for the pre-Olympic terror attacks belongs to the broader East Turkestan Islamic Movement (ETIM), based in the Xinjiang-Uygur autonomous region.

    The ETIM is known to be covertly supported by Pakistan Inter Services Intelligence (ISI), acting in close coordination with the CIA. -- in PsyOp: Is Washington Intent on Sabotaging the Beijing Olympics? - Pre-Olympics PsyOp creates Atmosphere of Fear and Insecurity, by Michel Chossudovsky.
  2. ... (the Congress) demands that the President initiate an international effort to immediately and dramatically increase the economic, political, and diplomatic pressure on Iran to verifiably suspend its nuclear enrichment activities by, inter alia, prohibiting the export to Iran of all refined petroleum products; imposing stringent inspection requirements on all persons, vehicles, ships, planes, trains, and cargo entering or departing Iran; and prohibiting the international movement of all Iranian officials not involved in negotiating the suspension of Iran's nuclear program; (.) -- in H. CON. RES. 362 - Expressing the sense of Congress regarding the threat posed to international peace, stability in the Middle East, and the vital national security interests of the United States by Iran's pursuit of nuclear weapons and regional hegemony, and for other purposes.
  3. After the catastrophic invasions and occupations of Iraq and Afghanistan, the neocons have just lost a third war, in Georgia. -- The warmongers have lost yet another war, by Jerome a Paris, Sun Aug 10, 2008 at 05:04:06 AM PDT.

    # First, let's be clear: there are two reasons only we care about Georgia: the oil pipelines that go through its territory, and the opportunity it provides to run aggressive policies towards Russia.

    # Second, let's also be very explicit: this conflict is not unexpected: it is a direct consequence of our policies, in particular with respect to Kosovo (and to all those that will claim that "no one could have predicted" this, let me point out to this comment, or this earlier one, or this article). I would even go so far as to say that it was egged on by some in Washington: the neocons.

    # Third, our claims to have the moral high ground are totally ridiculous and need to be fought, hard. This is not about democracy vs dictature, brave freedom lovers vs evil oppressors, but a nasty brawl by power-hungry figures on both sides, with large slices of corruption. The fact that this is turned into a cold-war-like conflict between good and evil is a domestic political play by some in Washington to reinforce their power and push certain policies that have little to do with Russia or Georgia. That needs to be understood.

    The reason the current conflict is not about the oil is because, now that the pipeline is built, that game is, in effect, over. Now, the only thing that could stop the flow of oil is, other than localised attacks (like the one conducted by the Kurds, something that has long been expected, and which was mitigated by building the pipeline on a route that avoids kurdish territory) would be for Russia to actually invade all of Georgia and physically take control of the pipeline, ie an outright act of war not just against Georgia, but also against the US.

    The reason for that is that, as part of the process to put in place the pipeline, Georgia invited the US military to set up a base on its territory, near the route of the pipeline. Thus, any attack on the pipeline by Russia would become an attack on the USA. -- Georgia: oil, neocons, cold war and our credibility, by Jerome a Paris.
  4. Russia, China End Decades-Long Border Dispute, in World Politics Review.

OAM 413 11-08-2008 15:11

quarta-feira, julho 09, 2008

Crise Iraniana 4

Mini nuke
Os EUA querem experimentar as suas mini-bombas nucleares no Irão!

Jogos de Guerra no Golfo Pérsico
Sionistas e Cowboys querem III Guerra Mundial

1:54 | Quinta-feira, 10 de Jul de 2008
Irão realiza novo lançamento de mísseis no Golfo Pérsico
Durante os exercícios, as forças armadas lançaram o torpedo Hoot, uma arma extremamente rápida com capacidade para atingir submarinos inimigos. -- Expresso.
L'Iran "mettra le feu" à Tel Aviv et à la flotte US en cas d'attaque
NOUVELOBS.COM | 08.07.2008 | 10:54

"Le régime sioniste fait actuellement pression sur les dirigeants de la Maison Blanche pour préparer une attaque contre l'Iran", déclare le représentant du guide suprême Ali Khamenei, "s'ils commettent une telle stupidité, la première réponse de l'Iran sera de mettre le feu à Tel Aviv".

... Armée parallèle

Crées au lendemain de la victoire de la révolution de 1979, les Gardiens de la révolution islamique sont une armée parallèle avec ses propres forces terrestres, navales et aériennes.
Armée idéologique du régime, ils disposent de nombreuses missiles, notamment les Shahab-3 capables d'atteindre le territoire israélien et les bases militaires américaines dans la région.
Samedi, le chef des Gardiens, le général Mohammad Ali Jafari, a menacé "les ennemis" de "frappes fatales" dans le Golfe.

Il a ajouté qu'en cas d'attaque contre l'Iran, "les tactiques (...) de guerre éclair des bateaux des Gardiens ne laisseront aucune chance de s'enfuir aux ennemis".

Téhéran pourrait fermer le détroit stratégique d'Ormuz, par où transite environ 40% du pétrole mondial, si les intérêts de l'Iran étaient en jeu, avait également averti samedi le chef d'état-major de l'armée iranienne. LINK

A verdade é que os Estados Unidos e o Reino Corrupto de Sua Majestade Britânica estão falidos, outra vez! Daí que lhes convenha muito estourar com a União Europeia (ver comportamentos da Irlanda, da República Checa, da Polónia e da França capturada) e provocar uma III Guerra Mundial, usando o Sionismo e Israel como espoletas dum ataque ao Irão.

Israel nunca foi um fim em si, mas um instrumento. Continua a sê-lo, apesar da ilusão de muitos judeus justos e razoáveis.

A contra-informação dirá que o Irão apenas quer petróleo mais caro. Mas não se iludam! O verdadeiro objectivo de Londres (que continua a mandar em Nova Iorque) é re-assegurar o controlo das reservas petrolíferas mundiais, operando, como sempre fez, uma partilha escandalosamente desigual dos recursos. Só que agora, recuperar uma tal supremacia energética, no momento em que o petróleo do Mar Norte está cada vez mais aguado, e está iminente a explosão do casino mundial de derivados --uns inimagináveis 675 BILIÕES DE US DÓLARES ($675 000 000 000 000), ou seja, o PIB do planeta multiplicado por dez! (1)-- parece uma missão desesperadamente impossível. A menos que, juram os falcões e os idiotas de serviço (entre os quais algumas plumas na nossa subserviente praça jornalística), se arranje um bom pretexto para invadir o Irão, desencadeando um Guerra Mundial Preventiva!!

Iranian missile test fire

Passo 1 da estratégia provocatória: levar os corruptos governos do Ocidente e a sua massa de eleitores mediaticamente hipnotizados a acreditar que o Irão não só não deve defender-se contra uma agressão em fase adiantada de preparação, como, qual novo Iraque, é uma ameaça nuclear à democracia e à civilização! Como escreve Elaine Meinel Supkis, é obrigação estrita dos dirigentes iranianos preparar o país para a iminência de um ataque israelita-americano contra a sua soberania, que a realizar-se será, como foi no Iraque e é na Palestina, uma carnificina contra a população civil daquele país. O verdadeiro terrorismo que hoje existe no mundo, não vem do Islão, mas do terrorismo de Estado praticado impunemente pelas grandes potências, com os Estados Unidos à cabeça!

Iranian missile range

Passo 2 da estratégia provocatória: desestabilizar a União Europeia, por forma a impedir consensos contra o ataque há muito decidido contra o Irão, desestabilizando ao mesmo tempo toda a região, por forma a criar pretextos para alastrar imediatamente o conflito à Síria, ao Líbano e ao próprio Paquistão. Para isso, tal como fez no Afeganistão, na Colômbia, na Nicarágua, na Venezuela, ou mais recentemente na Bolívia, a CIA e as Operações Especiais do Pentágono estão particularmente activas na criação de movimentos de oposição terrorista a Teerão, como acaba de ser revelado pelas declarações recentes de um general paquistanês.
'US backs Jundullah to destabilize Iran'
Press TV. Wed, 09 Jul 2008 03:42:04

Pakistan's former Army Chief, Retired General Mirza Aslam Baig, says the US is supporting the outlawed Jundullah group to destabilize Iran.

He said that the US is providing training facilities to Jundullah fighters--located in eastern areas of Iran--to create unrest in the area and affect the cordial ties between Iran and its neighbor Pakistan.

Baig added that Iran and Pakistan are under the siege of western conspiracies.

The intelligence agencies of the coalitional forces are very active in Afghanistan and work against the interests of Iran, Pakistan, China and Russia in the region, he said as quoted by Pakistan Daily newspaper.

The former Pakistani official hailed Islamabad's decision to hand over the captured Jundullah members to Iran, saying those working against the interests of Iran and Pakistan should be dealt with iron fist.

Jundullah is a terrorist group, headed by Abdolmalek Rigi, which operates in Iran's Sistan-Baluchistan and Pakistan's Baluchistan.

Last month Pakistan handed over Abdolhamid Rigi, brother of Abdolmalek, to Iran.

MGH/PA -- PressTV



NOTAS
  1. Sobre este ponto, recebi um comentário vindo do Brasil, de um blogue "económico" que recomendo vivamente, chamado Rumores da Crise. Aqui fica um extracto de um belo artigo dedicado ao casino dos "derivados" (ou "derivativos"):
    ... O ataque neoliberal ao trabalho improdutivo, segundo a lógica do capital, não foi suficiente para reverter a queda da rentabilidade na economia real que tem como fundamento a crise do valor, situação que se agravava com a revolução da informática. Não só a expansão do trabalho improdutivo necessário ao desenvolvimento do capital punha em xeque a acumulação, mas as novas formas de produção e gestão, movidas pela concorrência global, que incorporam tecnologia e ciência, aumentam vertiginosamente o capital fixo e a produtividade, expulsando homens de antigos empregos. É a crise do trabalho agravando a crise do valor.

    As exportações de capitais dos países desenvolvidos para países em desenvolvimento como a China, Índia e outros, em busca de uma maior rentabilidade, aumentaram a disponibilidade de mercadorias no mundo que precisam de um mercado para se realizarem. É quando o crédito se expande de forma jamais vista e o pagamento dos produtos adquiridos no mercado é transferido para um trabalho futuro que nunca acontecerá, pois a tendência do capitalismo é racionalizar e dispensar trabalho de forma crescente. Aí está a base das bolhas, que injetam dinheiro fictício no mercado e na produção (fictício por ser vazio de substância, não representar valor, trabalho abstrato), e aprisiona a economia real aos seus movimentos já que esta não consegue por ‘meios normais’, ‘valorizar o valor’(Marx). -- 16.08.2007, Procura-se uma Nova Bolha, por Rall in Rumores da Crise.

OAM 389 08-07-2008, 23:09 (última actualização: 13-07-2008 00:15)

quinta-feira, dezembro 06, 2007

Crise Iraniana 3

President George W. Bush during a press conference at the White House
G.W. Bush anuncia que Irão não tem em curso nenhum programa nuclear militar.
Mandel Nagan/Agence France-Presse--Getty Images.

Dois Vietnames e meio

An Assessment Jars a Foreign Policy Debate About Iran
By STEVEN LEE MYERS
Published: December 4, 2007

"WASHINGTON, Dec. 3 -- Rarely, if ever, has a single intelligence report so completely, so suddenly, and so surprisingly altered a foreign policy debate here.

"An administration that had cited Iran's pursuit of nuclear weapons as the rationale for an aggressive foreign policy -- as an attempt to head off World War III, as President Bush himself put it only weeks ago -- now has in its hands a classified document that undercuts much of the foundation for that approach.

"The impact of the National Intelligence Estimate's conclusion -- that Iran had halted a military program in 2003, though it continues to enrich uranium, ostensibly for peaceful uses -- will be felt in endless ways at home and abroad.

... "There are still hawks in the administration, Vice President Dick Cheney chief among them, who view Iran with deep suspicion. But for now at least, the main argument for a military conflict with Iran -- widely rumored and feared, judging by antiwar protesters that often greet Mr. Bush during his travels -- is off the table for the foreseeable future." -- The New York Times.

Ao contrário do que se fartaram de escrever as araras que comentam as grandes questões internacionais, o Irão não está a desenvolver nenhum programa militar nuclear, pelo menos desde 2003. Reconheceram-no agora os serviços secretos que trabalham para G. W. Bush, mais de um mês depois de tal conclusão ter sido sublinhada por Mohamed ElBaradei, o Director-Geral da Agência Internacional de Energia Atómica.

O jogo do gato e do rato em que o cowboy do Texas caíu que nem um patinho, serviu às mil maravilhas a China, a Rússia, a Venezuela, os Emiratos Árabes, a Arábia Saudita e o próprio Irão. O petróleo disparou para além do que é devido ao Pico Petrolífero; a Rússia investiu no reforço do seu potencial militar (nuclear estratégico e convencional); a Arábia Saudita comprou dezenas de caças de última geração ao Sr. Blair (com luvas pelo meio e nada de investigações detalhadas sobre o assunto); o Iraque sabotou com sucesso a legislação que Bush queria fazer passar no parlamento do país ocupado, desenhada com o fito de hipotecar boa parte do petróleo iraquiano à sua própria família e amigos; a China acaba de emergir como actor estratégico de primeiro plano na diplomacia mundial; em suma, os Estados Unidos estão na mais completa falência, estourando mais de 50% das suas receitas fiscais numa cruzada para a qual já não têm, nem tomates, nem combustível. A Europa andou, como sempre, a pavonear a sua indigência estratégica. Quando é que o Solana se reforma?

E agora, em que ficamos? A China proibiu por duas vezes navios de guerra norte-americanos de visitarem os seus portos, ao mesmo tempo que aparece como pacificadora das grandes tensões diplomáticas mundiais (Coreia do Norte, Irão, ...). A Rússia voltou a patrulhar em força o Atlântico e o Mediterrâneo, tendo programado grandes exercícios aero-navais para o início de 2008. China e Japão acertam estratégias financeiras globais no que respeita ao lucrativo negócio do chamado carry trade. A Europa está borrada de medo com o que possa acontecer nos próximos dois anos em consequência do tsunami financeiro em curso.

Os Estados Unidos, único país que atacou (por duas vezes) um país com bombas atómicas, continua a investir milhares de milhões de dólares na sofisticação do seu arsenal nuclear, provocando assim a actual intensificação da corrida aos armamentos em todo o mundo, seja no sector das armas convencionais, das armas proibidas (nucleares, química e biológica), ou ainda do explosivo sector da guerra electrónica. Pela natureza do seu actual modelo económico especulativo e consumista, assente na expansão infinita de uma dívida que depois exporta para o resto do planeta, assim como pela ilusão imperial em que ainda vive, esta gigantesca e rica democracia tem vindo a transformar-se no mais perigoso perturbador da paz mundial. É um tigre ferido, e como tal muito perigoso. Precisa de ajuda e teremos que ajudá-la. Os tempos difíceis que aí vêm convidam, como nunca, à humildade, à inteligência e à cooperação.


OAM 290 06-12-2007, 01:54