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domingo, agosto 26, 2012

Bloco de Taifas

Catarina Martins por Nelson Garrido, in Público (07-05-2012)

Roma e Pavia não se fizeram num dia, mas conseguirá o Bloco de Esquerda deixar de ser uma frente de tontos (perdão, "de massas"), da UDP e do PSR?

Ninguém pode esperar que a UDP se demita do núcleo dirigente mais importante do Bloco de Esquerda. Qualquer solução de liderança que garanta a matriz deste projecto terá de englobar no centro pessoas afectas à UDP. Essa é a nossa responsabilidade — Joana Mortágua, UDP, Encerramento da VII Conferência, 07-Jun-2012.

Foi porventura Miguel Portas quem preparou, a tempo e horas, a metamorfose do Bloco de Esquerda, pedindo, na sequência do desaire eleitoral das últimas Legislativas, que os velhos dirigentes dessem lugar aos mais novos. 

Na realidade, o que o Miguel propôs ao "povo do Bloco" (designação ridícula e pouco inspirada do álgido Louçã), foi algo bem mais estratégico, e que agora, depois da iniciativa do ainda grande Coordenador do Bloco, estará criticamente à prova: libertar o Bloco das suas sombras marxistas-leninistas. Será ou não o Bloco de Esquerda, pós-Louçã e pós-Fazenda, capaz de libertar-se da ortodoxia que criou esta frente partidária como uma clássica marioneta eleitoral de quem pensa ainda ter consigo as chaves da revolução socialista?

Ao contrário de Louçã e de Fazenda, o Miguel não era um partido dentro de um "bloco", mas um dissidente entre dissidentes do cadáver hirto que ainda é o estalinista PCP. Como deputado europeu aprendeu rapidamente a ver o mundo da política e do poder com outros olhos. Percebeu então que, ou o Bloco de Esquerda caminhava rapidamente para uma força política com peso eleitoral específico, e para isso teria que abandonar o cadavérico lastro esquizofrénico do modelo autoritário de Estado e de Praxis a que Lenine chamou centralismo democrático, mas que nunca passou da imagem vermelha no espelho do absolutismo czarista, ou estaria condenado a breve trecho à nulidade eleitoral, histórica, política e cultural.

Conheci Miguel Portas, e conheci melhor, muito melhor mesmo, Francisco Louçã. Como ex-trotskysta que sou, dos idos anos 70 do século passado, sempre olhei para os sociais-democratas do PS como um rebanho de Mário Soares, para os "comunistas" do PCP como um  remake impossível de José Estaline, mas acima de tudo, sempre tive as maiores desconfianças de toda a genética maoísta. Ou seja, o senhor Fazenda da UDP sempre me foi indiferente e me pareceu ser um grande pedregulho destinado a entorpecer qualquer viabilidade mais do que conjuntural à nuvem de esperança que rodeou o nascimento do Bloco de Esquerda. Como se pode comprovar pelas palavras ditas por Joana Mortágua em junho passado, o Bloco é um filho da UDP e assim deverá continuar!

O apoio dado por Louçã e Pureza a João Semedo e a Catarina Martins na corrida à substituição da esgotada liderança histórica do Bloco é uma solução de compromisso, podre e que ruirá sob o impacto das próximas eleições autárquicas, se não antes.  Por sua vez, o bloqueio imposto pela UDP à hipótese de Ana Drago suceder a Luís Fazenda na chefia do grupo parlamentar do Bloco é a prova provada de que esta força eleitoral está condenada a regressar às catacumbas do maoísmo e do trotsquismo se, entretanto, ninguém ousar o óbvio: convocar o eleitorado do Bloco a pronunciar-se livremente e por voto secreto sobre o seu futuro e sobre quem prefere ver a liderar o partido depois de Francisco Louçã.

O processo seria simples e expedito: os futuros eleitores da próxima mesa eleitoral do Bloco teriam que declarar sob palavra de honra que eram eleitores do Bloco, que acreditavam neste partido e que desejavam que o mesmo se transformasse num grande protagonista político, cívico e cultural da vida portuguesa, em disputa leal e livre com os demais partidos que aceitam as regras básicas da democracia.

Os diversos candidatos deveriam apresentar-se, pois, não perante um colégio eleitoral manipulado (como os que existiam no tempo de Salazar e Caetano), mas diante de todos os militantes, simpatizantes e eleitores do Bloco de Esquerda, defendendo as suas ideias e pedindo o apoio eleitoral necessário à eleição.

Só assim o Bloco poderá transformar-se rapidamente num aliado natural do PS com capacidade de empurrar este volúvel e corrompido partido para a margem esquerda do espectro eleitoral. Só assim, também, o PP de Portas definirá melhor a sua posição face ao PSD, formando com este partido, de uma vez por todas, um bloco eleitoral estável, em vez de continuar a piscar o olho à "esquerda" e à "direita", como uma puta vulgar.

Eu se fosse a Joana Amaral Dias juntava-me à Ana Drago e punha-me ao caminho, sem pestanejar, falando abertamente com o eleitorado do Bloco. A UDP e o PSR já não existem!

quinta-feira, janeiro 24, 2008

Bloco de Esquerda

Joana Amaral Dias
Joana Amaral Dias discursa em comemoração do 25 de Abril (2006).

Uma linda menina na política!

Pedro Ferraz da Costa delicia-se a divergir de Joana Amaral Dias.

"As of early 2007, it is estimated that as much as US$1 trillion may be staked on the yen carry trade. Since the late-1980's, the Bank of Japan has set Japanese interest rates at extremely low levels making it profitable to borrow Japanese yen to fund activities in other currencies. Many of these activities included things like subprime lending in the USA, but also include funding of emerging markets, especially BRIC nations and resource rich nations." -- in "Carry (investment)", Wikipedia.

Quando ontem ouvi o maoista da UDP e deputado Bloquista, Luís Fazenda, criticar Jean-Claude Trichet, Presidente do Banco Central Europeu, por manter as taxas de juro, em vez de as baixar, como fizeram George W. Bush e os gurus da Reserva Federal, fiquei siderado. Então o Bloco de Esquerda quer inundar a Europa com mais notas de Monopólio e de crédito, aumentar a inflação e, em última análise, forçar a economia europeia a colocar-se ainda mais ao colo dos Países Árabes do Golfo e da... China?! Ou achará o Bloco de Esquerda que as dívidas não são para pagar? Ou achará o Bloco de Esquerda que a Europa também deve, como parecem querer os americanos, copiar o carry trade japonês?

A taxa de desconto oficial do Banco Central Japonês é de 0,10% desde Setembro de 2001! O Federal Open Market Committee dos EUA, ao baixar no dia 22, em 75 pontos-base, a sua taxa de juro de referência, colocou o preço do dólar nos 3,50%. Trichet reafirmou no dia seguinte que a taxa de referência do BCE se manteria nos 4,0%. Mas atenção: os bancos japoneses só emprestam dinheiro barato aos importadores de Toyotas e aos grandes especuladores! Ou seja, quando se regozijam com a recente baixa das taxas de juro americanas, estão apenas a dizer ao mercado que vão poder retomar o ciclo das suas exportações para a maior economia do mundo (que assim se endividará ainda mais!) É também isso que os europeus, no fundo, querem: poder aumentar as suas exportações, insensíveis ao buraco negro da dívida americana.

Os especuladores e os banqueiros falidos querem obviamente mais IOU (I Owe You), e obtiveram-no dos helicópteros de liquidez do BCE, ao mesmo tempo que aguardam ansiosamente os raids de SWF (Sovereign Wealth Funds) lançados pela China e pelos países Árabes sobre as áridas paragens financeiras dos Estados Unidos e da Europa. Só que, apesar deste gigantesca operação de salvamento dos mercados especulativos (com dinheiros públicos!), a crise sistémica está aí e promete fazer mais vítimas. Ontem o terceiro maior banco francês (a Société General) exibiu um buraco negro nas suas contas que dava para construir o Novo Aeroporto de Alcochete; hoje, o BPI, cuja viabilidade parece cada vez mais difícil imaginar fora de um take over por parte da Caixa catalã, ou dos endinheirados angolanos, mostra como a telenovela BCP-BPI está longe do fim!

Resumindo, o dilema é este: se se mantem ou sobe mais as actuais taxas de juros, o crescimento económico europeu tenderá para os 2% ou menos, e não para os almejados 3%, dando lugar à falência de mais algumas centenas de empresas e a dezenas de milhar de novos desempregados, ao mesmo temo que se estimula a valorização do Euro, afectando por aí a competitividade das exportações. Mas se, por outro lado, se baixam as taxas de juro, fomenta-se o endividamento geral da economia (empresas, administrações públicas e famílias), aumentando simultaneamente a inflação, que tornará as exportações ainda menos competitivas. Perante estes dois males, a resposta tem que ser forçosamente a da contenção das despesas, começando por racionalizar a produção, reduzir os desperdícios e aumentar a poupança. Vociferar a favor da irresponsabilidade monetária, quando o próprio Coordenador do Bloco, Francisco Louçã, descobriu finalmente que há uma crise económico-financeira gravíssima no Ocidente, é obra! Joana Amaral Dias parece ter percebido a delicadeza da situação no Frente-a-Frente que hoje manteve com Pedro Ferraz da Costa, antigo presidente da Confederação da Indústria Portuguesa.

Nervosa que nem uma gazela, mas com um domínio crescente das matérias, esta linda política portuguesa parece querer libertar-se das litanias confusas e contraditórias do partido que ainda segue. Notei esta subtileza intelectual no modo como procurou hoje discutir a argumentação do seu quase paternal adversário em volta de temas como o da imigração e do tsunami financeiro em curso. Foi uma pequena delícia para mentes perversas como a minha!

Vou acompanhar mais de perto os seus passos.

OAM 310 24-01-2008, 22:13 (actualização: 12:16)