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sábado, junho 10, 2017

Um país de pides sem cura

Está na hora de preparar uma varridela profunda neste regime


O espírito inquisitorial aqui denunciado por José Gomes Ferreira é o mesmo que transforma de um dia para o outro pides em democratas, e vice-versa. A corja palaciana não mudou mesmo nada.

A mercearia orçamental da Geringonça apenas alterou o sinal da austeridade, não a sua natureza e intensidade. Porque o essencial é isto: Portugal continua acossado pelos abutres do capitalismo liberal (Goldman Sachs, Santander, etc.) e comunista (Três Gargantas de Pequim, etc.) global. Tem felizmente sido salvo do pior pelo BCE e por Bruxelas, que têm levado o país ao colo desde que Sócrates e a sua pandilha o trocaram por contas milionárias em paraísos fiscais.

Mal a economia arrebitou um poucochinho, fruto sobretudo do ciclo económico e da conjuntura internacional (nomeadamente a transferência massiva do turismo europeu em direção à Península Ibérica), ou ainda da esperteza fiscal de quem vendeu os Vistos Gold a Paulo Portas, logo as corporações sindicais e os rendeiros do costume começaram a protestar, a ameaçar, e a tentar, uma vez mais, paralizar o país.

O próximo Coelho que vier, depois do pragmático Costa, trará também consigo o fim deste regime partidário corrupto e estúpido até á quinta casa.

José Gomes Ferreira é um jornalista sério como poucos. É, aliás, mais do que um jornalista!


José Gomes Ferreira

Esta semana fui submetido a mais um desses autos-de-fé.

Ousei perguntar ao Primeiro-Ministro porque é que ele está a fazer uma determinada política e anda a dizer aos portugueses que está a fazer o contrário.

Ousei dizer a António Costa que os (bons!) resultados da sua governação de um ano e meio confirmaram duas coisas:

-Que o défice só se consegue reduzir com austeridade;

-Que a austeridade (nas contas do Estado) não é incompatível com o crescimento económico, pelo contrário, potencia-o.

Para fundamentar a minha interpretação, defini austeridade como a atitude ou propensão do agente económico, indivíduo, família, empresa, Estado, para gastar menos do que recebe e poupar uma parte para os tempos difíceis. Aplicada ao Estado, a política de austeridade traduz-se no corte de despesas e no aumento de receitas de forma a conseguir um saldo positivo e começar a pagar dívidas aos credores.

Ora esta política está a ser praticada em Portugal desde 2010, com os famosos PEC de José Sócrates e com todas as medidas que se seguiram incluindo as de Passos Coelho e as de António Costa, que não removeu a maior parte dos pacotes de austeridade dos seus antecessores.

Para a Nova Inquisição, eu cometi um crime: mostrei em grafismo, durante uma entrevista em direto com António Costa, que se mantêm em vigor os seguintes conjuntos de medidas de austeridade:

-Um aumento do IVA de 21 para 23 por cento em janeiro de 2011 (decidido em outubro de 2010), um imposto regressivo que abrange rico e pobre de igual forma e penaliza a atividade económica em geral;

-Um aumento do IRS para a generalidade dos portugueses em janeiro de 2013 (decidido em outubro de 2012 por Vitor Gaspar), através da redução dos escalões do IRS e do aumento das respetivas taxas;

-Um conjunto de cortes na despesa corrente do Estado (desde 2010), com a intensificação das cativações e do corte do investimento público em 2016;

-Um aumento de impostos como o ISP, IA, IMI e Imposto do Selo, destinado a substituir a reversão dos cortes de salários na função pública, pensões e subsídios, bem como a progressiva eliminação da sobretaxa de IRS.

Em consequência, ousei perguntar porque é que o primeiro-ministro anunciava uma política de fim da austeridade e fazia a contrária.

— in SIC Notícias, 09.06.2017

sábado, março 11, 2017

“A Esquerda lava mais branco”—um aviso ao Presidente



Do populismo vermelho a um novo episódio de asfixia democrática

“A Esquerda lava mais branco” — Luis Mira Amaral.
José Gomes Ferreira é um dos mais respeitáveis e independentes jornalistas económicos portugueses (também porque tem opiniões próprias, claro!) Perante a tenaz que anda por aí a tentar estrangular a liberdade de opinião e publicitação de ideias, e que agora virou agulhas contra o jornalista da SIC (mas que começou a agir no dia seguinte ao da constituição da Geringonça, sobretudo através da mão invisível de António Costa), afirmo bem alto a minha solidariedade com o José Gomes Ferreira, e também afirmo que não tenho qualquer medo dos piratas medíocres, corruptos e culturalmente indigentes que arruinaram o país. O tempo da clarificação aproxima-se rapidamente, e por isso anda tanta gente tão nervosa.

A censura da opinião livre é uma pulsão estrutural das esquerdas leninistas—trotsquistas, estalinistas, ou maoistas. Assumem-na como uma consequência da sua crítica ao que chamam humanismo e liberdade burgueses.

Estes herdeiros da degenerescência do marxismo promovida por Lenine e Trotsky, no fundo, continuam coerentes com o que sempre defenderam e continuam a defender: a ditadura em nome do proletariado, em nome do povo, ou em nome do que, eufemisticamente, Francisco Louçã agora chama decência..

No contexto de uma democracia burguesa como a que temos, esta pulsão transforma-se, para melhor esconder as suas intenções, num polvo que atua silenciosamente sempre que pode e lhe dão espaço—com a colaboração dos submissos de sempre.

O que se está a passar neste momento em matéria de tentativa estúpida de transformação dos chamados órgãos comunicação social—virtualmente falidos, como sabemos— em órgãos de manipulação social, deve preocupar qualquer democrata que saiba que não existe democracia sem liberdades burguesas.

Marcelo Rebelo de Sousa tem, pois, poucas semanas ou meses para acordar do seu devaneio peripatético e narcisista. Se tal não ocorrer e continuar a representar o papel de meio César do cesarismo bicéfalo que paira por cima da Geringonça, ver-se-à mais cedo do que imaginava a contas com o povo que o elegeu.

Eu votei em Marcelo, mas começo a inquietar-me com a sua sobre-exposição mediática. Seria bom que lesse algo sobre a diferença entre a entropia na físisa e entropia na informação.

A repetição e a simetria na física dão origem à ordem, ou seja, a uma forma de neguentropia, mas na informação, a repetição e a simetria provocam o esvair progressivo da eficácia das mensagens, ou seja, entropia. Recomendo-lhe, pois, que substitua as selfies perenes do Instagram, pelo Snapchat!

quinta-feira, junho 25, 2015

Revolução sem condutor?

Salazar, colocado no poder pelos militares de um país na bancarrota

Do diagnóstico da crise ao futuro vai ainda uma grande incerteza


Acabei de ler este mês dois livros que recomendo vivamente: Pensar o que lá vem—Para acabar com o Portugal pasmado, de Manuel Maria Carrilho, e Carta a um Bom Português—Manual para Fazer a Revolução de Cidadania que Falta para Resgatar o País, do corajoso e ativo jornalista, José Gomes Ferreira.

O primeiro é uma reflexão rara no panorama português da Filosofia Política, e deveria ser lido por todos aqueles que têm votado no Partido Socialista e no resto dos derivados adulterados do marxismo que ainda subsistem no país e no parlamento. Trata-se de uma viagem autocrítica, em sentido lato, ao fim do conforto das boas ideias. É certo que Manuel Maria Carrilho não se coloca nunca fora da órbita do Partido Socialista, que defende como uma identidade para lá das más conjunturas e dos desastrosos protagonistas. O PS é ainda, para o antigo ministro da cultura de António Guterres, a bóia de salvação num naufrágio que nunca mais acaba. À direita do PS, Carrilho apenas vislumbra a fuga em frente da burguesia financeira mundial, que vê como protagonista de primeira linha do individualismo comportamental e do neoliberalismo económico, e cujo enriquecimento pornográfico só poderá promover maiores desgraças no futuro. À esquerda do PS, não descortina mais do que uma mole de arteriosclerose ideológica, oportunismo sindical e aventureirismo hedonista no que resta da extrema-esquerda. A total e irremediável incapacidade da esquerda à esquerda do PS de voar eleitoralmente aconselha, na visão pragmática deste filósofo, promover o aggiornamento do PS, em vez da sua destruição na fogueira do populismo iconoclasta. Não acompanho este desejo reformista orgânico, mas percebo e respeito as suas motivações e ainda quem o acompanha no desiderato: Henrique Neto, Ventura Leite, Armando Ramalho, etc.

O segundo livro, que parece pertencer a uma trilogia iniciada com O Meu Programa de Governo, não é nem populista, nem neoliberal. Pertence, isso sim, a uma nova categoria de observação e posicionamento perante um regime basicamente rentista, devorista, neocorporativo, clientelar e rotativista, podre de oportunismo e corrupção, e que cavou a sua própria e irremediável sepultura. José Gomes Ferreira não conhece, ou melhor, não sente nem vibra com os velhos paradigmas morais da esquerda, e o que desta conhece são sobretudo mentiras, oportunismos e hipocrisia de circunstância. Ao mesmo tempo viu como o capitalismo indígena, historicamente frágil, prisioneiro de banqueiros, de rendeiros e de bandos de piratas socialistas (PS), sociais democratas (PSD) e populistas (CDS-PP), se transformou numa jangada a caminho do naufrágio, onde o salve-se quem puder acabaria por levar o país à falência e à perda de soberania financeira, económica e institucional. O que José Gomes Ferreira tem feito é identificar objetivamente, sem preconceitos, nem medos, os pontos de rotura do regime. Mas não só! Também exige uma mudança profunda no regime democrático, para o que reclama, como muitos de nós, uma nova Constituição, sem fantasias nem cintos de castidade hipócritas, aceitando ainda como boa a nossa integração na União Europeia, apesar das inúmeras e graves vicissitudes por que tem passado. No fim do livro ficamos a saber o que pretende quando convida o Bom Português a fazer uma revolução. José Gomes Ferreira quer uma nova Constituição e a Democracia de Qualidade reclamada, nomeadamente, por Henrique Gomes, Henrique Neto, Luís Campos e Cunha, ou Mira Amaral. Mas não diz como lá chegar, ou por outra, recomenda manifestações do bom povo português à porta da Casa da Democracia (a Assembleia da República), um comportamento individual consequente no dia a dia, e diz ainda que “temos de aproveitar a revolução electrónica para a pôr ao serviço da nossa Revolução de Cidadania.” Mas falta claramente um condutor, ou um navegador, para esta revolução. Quer dizer, falta uma síntese operacional estratégica dos pontos fundamentais a mudar, e meios para lá chegarmos. Falta, creio, uma ideia de plataforma abrangente, pós-partidária —no sentido de uma democracia sem hegemonia partidária—, capaz de congregar a maioria do país num processo credível de transformação.

Mais do que uma democracia de qualidade, precisamos de uma democracia qualitativa, isto é, de uma democracia não apenas decente, mas que seja também um edifício ideológico e cultural novo. Onde, por exemplo, a felicidade, o amor, ou a qualidade da água, do ar e os equilíbrios ecológicos sejam mais importantes do que o sucesso, o PIB, a produtividade, ou do que a taxa de crescimento. A realidade do planeta está a deteriorar-se rapidamente. Os humanos, ou se adaptam, ou extinguir-se-ão mais cedo do que o esperado, a par de muitas outras espécies em extinção.

Seja como for, os dados estão lançados. Basta compilar o muito que se tem escrito sobre a crise do nosso regime e sobre a crise mundial, e ainda a sobre a necessidade imperiosa de mudarmos de vida, para ficarmos com um diagnóstico suficientemente fundamentado, a partir do qual poderemos então modelar da melhor maneira a inadiável metamorfose do país.