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sexta-feira, dezembro 31, 2010

Com estes economistas...

Milhões, bilhões, milhares de milhões e biliões
A propósito dos "biliões" de Daniel Bessa



A dívida externa portuguesa supera os 200% do PIB! E não os 100% que não sei quantos economistas vêm lançando para o ar mediático nas últimas semanas, depois de terem tolerado durante anos a conversa fiada dos 3% em volta do défice orçamental, como se este fosse o maior problema estrutural do país. Não é! — in O garrote da dívida externa portuguesa, O António Maria (19-11-2008).

Uma das possíveis causas da nossa desgraça económica deriva do simples mas inacreditável facto de a esmagadora maioria dos economistas portugueses não perceberem patavina de energia, agricultura, pescas, pecuária, transportes, e mal saberem o que é uma empresa, quanto mais pagar salários da sua imaginação e suor! Outro aspecto igualmente grave da sua cada vez mais evidente ignorância, é a falta de conhecimento histórico analítico das crises cíclicas do Capitalismo (ao que parece História, Cultura e Arte são disciplinas que nunca viram ao longo das suas burocráticas vidas). Mas pior ainda: sofrem, quase todos, de uma escandalosa iliteracia terminológica! Dois exemplos:
  1. Apesar de aqui termos chamado a atenção para a dimensão real e gravidade da dívida externa portuguesa em 4 de Novembro de 2008 (A cenoura e o pau do Bloco Central), 19 de Novembro de 2008 (O garrote da dívida externa portuguesa), e no dia 10 de Dezembro do mesmo ano (Economistas lentos), chamando a atenção para a falácia da chamada "dívida externa líquida", só agora, no suplemento de economia do Expresso de ontem, o reputado economista Daniel Bessa reconhece que, afinal, o que importa reter é mesmo a dimensão colossal da nossa dívida externa bruta — a qual, segundo números do Banco de Portugal que consultou recentemente, e que se referem a 30 de Setembro último, apontam para qualquer coisa como 294% do PIB. Quando chamei a atenção para esta catástrofe iminente, em 19 de Novembro de 2008, a percentagem era de 200% — ou seja, em apenas dois anos (entre Junho de 2008 e Setembro de 2010) a dívida externa portuguesa passou de 200 para 294% do PIB. A isto chama-se crescimento exponencial. Sabem o que é? Ora vejam o vídeo que incluí acima, do excelente crash course de Chris Martenson.
  2. Como se esta manifestação de iliteracia económica não fosse já de si inadmissível, acresce a confusão que Daniel Bessa e uma parte substancial de economistas, comentadores económicos, ministros e jornalistas, continuam a fazer entre milhares de milhões, bilhões e biliões!

    Na coluna citada do Expresso desta semana Daniel Bessa confunde sistematicamente milhares de milhões de euros com biliões de euros. A confusão é grave. Pois um bilião de euros são um milhão de milhões de euros, i.e. 10E12€, ou 10^12€, ou 1 000 000 000 000€, quer dizer, mil milhões + novecentos mil milhões de euros! Já agora aproveito para recomendar um pequeno artigo sobre esta confusão, publicado recentemente pelo Jornal de Negócios.

    Colocando os números no sítio certo, é então assim:
    1. devemos ao exterior 505 mil milhões de euros (294% do PIB), entre dívidas comerciais, empréstimos contraídos no estrangeiro e investimento estrangeiro realizado no nosso país (por exemplo, espanhol e alemão), que espera naturalmente retorno e ganho;
    2. o estrangeiro, por sua vez, deve-nos, entre dívida comercial, empréstimos contraídos em Portugal e investimento português no estrangeiro (por exemplo na falida Irlanda), 325 mil milhões de euros;
    3. a posição líquida da dívida externa portuguesa é assim de 180 mil milhões de euros, ou seja, 105% do PIB (na realidade, se contarmos com as dívidas do sector empresarial do Estado, empresas regionais e municipais, e um longo etc., será bem maior!)
Este exemplo de dupla iliteracia, de que padece também Luís Campos e Cunha, que se passou recentemente com armas e bagagens do rosa socratinta para a laranjada cavaquista, não pode deixar de preocupar seriamente o vulgar cidadão, como eu, que tende a pensar apenas na corrupção como causa de todos os nossos males, esquecendo que, afinal, a ignorância oceânica dos nossos economistas pode ser uma causa bem maior do próximo grande colapso da Lusitânia.