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domingo, março 01, 2009

Congresso PS

O apagão

Parece ter sido um portátil Magalhães o causador do apagão que ontem por volta das 23 horas deixou os congressistas do PS às escuras, sem poderem votar as suas queridas "moções sectoriais". Com o congresso irremediavelmente suspenso (tal foi o curto-circuito!), os sonolentos congressistas não tiveram outra alternativa que não fosse regressar às pensões para um sono reparador.

Findou pois em alegoria a maior farsa demo-partidária que o Partido Socialista alguma vez conheceu. Ou melhor, termina hoje — certamente com muito foguetório, efeitos especiais e boa parte dos fregueses regressando atónitos aos seus lugarejos desertificados.

O Partido Socialista tem oficialmente 73 104 militantes (o Benfica tem mais de 170 mil sócios e consegue sentar 65 mil pessoas no seu estádio). Como se a comparação entre as duas agremiações associativas não fosse já de si deprimente para o partido político que nos governa, acresce que apenas 34,7% dos inscritos no PS (25 393) votou a eleição do líder — ou seja, um estádio de futebol a menos de meio gás! Por fim, José Sócrates foi reeleito como um qualquer líder partidário de Cuba, Venezuela, Coreia do Norte, ou Angola, i.e., com 96,43% dos votos expressos! Mais estalinista é difícil.

Foi divertido observar os semblantes aflitos e em bicos de pé de Ana Gomes e de uma tal jovem-velha Jamila qualquer coisa, reiterando que se sentem úteis no parlamento europeu. Mas fizeram alguma coisa, além de petiscar Moules à l'escargot (i.e. mexilhões com molho à caracol) acompanhados de Alsace Pinot Blanc - Klevner? Podemos verificar nalgum blogue os seus contributos para o progresso da União? Espero bem que o neo-liberal estalinista Vital Moreira não as inclua na sua lista de elegíveis e se rodeie de gentinha da sua estrita confiança. Assim, poderemos pedir mais tarde ao eminente constitucionalista e consultor de leis (que até Maio de 1990 propagava o estalinismo suave do PCP e abominava a Europa) resultados; e por outro, veremos crescer o número de notáveis descontentes do PS, absolutamente imprescindíveis para empurrar o pachorrento Manuel Alegre a dizer e fazer qualquer coisa, para lá de amuar, pescar e escrever poemas. A pátria exige a este poeta que retribua em espécie parte da boa vida que a democracia lhe proporciona. Não é uma opção, é uma obrigação política!

Mas reparem bem na turma que tomou conta do PS e respectivos links... (sempre ajudará a perceber o mistério da nova unanimidade cor-de-rosa):
  • Vitalino Canas: exerceu cargos políticos em Macau; Fundação Stanley Ho; Fundação Oriente; deputado e provedor de empresas de contrato de trabalho temporário, etc...
  • António Vitorino: ex-UEDS, exerceu cargo político em Macau; ex-ministro e ex-comissário europeu; Presidente da Assembleia Geral da Brisa; opinocrata de serviço.
  • Jorge Coelho: ex-UDP; exerceu cargos políticos em Macau; ex-ministro e ex-secretário-geral do PS; actual CEO da Mota-Engil.
  • Carlos Santos Ferreira: "passou pelo Aeroporto de Macau"; foi vice-presidente da Estoril Sol (império Stanley Ho); ex-presidente da CGD; actual presidente do BCP.
  • Armando Vara: ex-governante; ex-director da CGD; indigitado novo presidente do BCP-Angola.
  • Manuel Frasquilho: actual presidente da APL; ex-presidente de: Metropolitano de Lisboa, REFER, CP, Instituto Emissor de Macau, Soponata, CTT, ...
  • Francisco Murteira Nabo: exerceu cargos políticos em Macau; ex-ministro, ex-presidente da GALP e da PT; vogal do Banco Espírito Santo; vogal da Fundação Oriente, etc.
  • Joaquim Pina Moura: militante do PCP até 1990; ex-ministro das finanças; actual presidente da Iberdrola-Portugal.
  • Mário Lino: militante do PCP até 1991; ministro do actual governo PS.
  • José Magalhães: militante do PCP até 1990; Secretário de Estado Adjunto e da Administração Interna.
  • Vital Moreira: militante do PCP até 1990; futuro chefe do grupo PS no Parlamento Europeu.
Ou são ex-comunistas ou estiveram juntos em Macau!

A maioria destes nós da rede que actualmente comanda o PS tem origem em partidos situados à sua esquerda — os estalinistas UDP e PCP; ou ainda os socialistas de esquerda oriundos das desaparecidas Fraternidade Operária e UEDS. Olhando em retrospectiva, apercebo-me que tanto António Guterres, como José Sócrates, são personagens secundárias e puramente instrumentais dessa espécie de shadow politicians que cá, como em muitos outros países, foram ocupando as carcaças vazias dos partidos tradicionais, sem o ónus de terem que criar aparelhos partidários, nem marcas novas para a prossecução dos respectivos projectos de poder.

O que une esta direcção sombra do PS é o seu pragmatismo de estilo chinês: "Um país, dois sistemas" — o que no nosso caso quer dizer, capitalismo neoliberal a todo gás, mas em traje de passeio Armani e com uma retórica socialista negligé, pós-moderna, piedosa aqui e acolá, mas sem nunca deixar de denunciar o atraso provocado ao país pelas burocracias do Estado. No fundo, são uma variante da Margaret Thatcher, com o ar beato de Tony Blair, e o maquiavelismo de Putin. Vale tudo, menos tirar olhos!

Acontece, porém, que estes gajos apanharam a boleia do neoliberalismo tarde demais! E agora, quando lhes daria muito jeito entoarem de novo a Internacional, todos sabemos as solas que gastam e o mal que fizeram. É por isso que a Manuel Alegre, e agora também a João Cravinho, não resta outra saída que não seja esperar pela derrota do PS nos actos eleitorais deste ano, conspirando até lá e sem rodeios para expurgar este partido dos oportunistas inteligentes que o sequestraram na sequência do apodrecimento do soarismo. Entretanto, vamos todos votar no Bloco (1)!


Post scriptum — Gostaria de acrescentar uma observação sobre a influência tremenda da tríade de Macau na situação política portuguesa.

Por um lado, o modo como se apoderou e vem instrumentalizando o Partido Socialista, conduziu à crise irreversível, não apenas do PS e do PSD, mas de todo o sistema partidário português. Ou seja, o nosso xadrez político-partidário já não sobreviverá à crise que o atravessa sem uma profunda reestruturação, da qual resultarão inevitavelmente novas formações partidárias e metamorfoses dramáticas nas existentes.

Por outro lado, a tríade de Macau está à beira de não precisar mais das actuais ligações orgânicas ao sistema partidário, bastando-lhe manter e expandir uma rede de influência amigável sobre o Estado e a Democracia. De facto, o próprio Bloco Central morreu de velho e não passa já de um obstáculo.

Por fim, e esta é a dura realidade, apesar dos estragos internos causados na sua luta pelo poder económico-financeiro, a tríade de Macau gizou e tem seguramente a melhor geo-estratégia para o país. Não esperava chegar a esta conclusão, mas cheguei.

Findo o afluxo maciço de recursos financeiros comunitários, pouco se poderá esperar da União em termos económico-financeiros, a não ser, obviamente, o conforto propiciado pelo Euro e pela existência de um mercado único de grandes dimensões. A actual crise sistémica do Capitalismo colocou a Europa perante novos e velhos dilemas, de que Portugal poderá sair prejudicado. Basta reparar na forma expedita como o Bando dos Seis (Alemanha, França, Reino Unido, Itália, Espanha e Holanda) se substituiu à União Europeia para deliberar sobre o magno tema do proteccionismo e a postura que pretende assumir na próxima e decisiva cimeira do G20. Perante isto, a triangulação que Portugal tem vindo pacientemente a construir com o Brasil, Angola, China, Venezuela e Rússia, é talvez o único desenho que permitirá manter a nossa independência efectiva no quadro de extrema instabilidade que se aproxima, suscitando até um interesse renovado da América por Lisboa — já para não falar de Madrid e Londres. É por isto tudo que considero que José Sócrates deixou de ser um veículo e começou a ser um empecilho para todos. Está assim hora de resolver as trapalhadas correntes, desanuviando os negócios e a democracia: temos que relançar o país formulando um grande desígnio de esperança. Pessoa falou de um Quinto Império. Se esse for o Império do Diálogo, creio que Portugal se encontra na melhor posição para disputá-lo — 600 anos depois de Ceuta (1415-2015). Small is beautiful!


NOTAS
  1. A quem fizer comichão votar no Bloco, que não vote, que vote em branco, ou que vote no PSD (pensando mais em Paulo Rangel do que na pobre Manuela Ferreira Leite). O essencial é libertar o país da corja de hienas que se apoderou do PS e do aparelho de Estado!

OAM 544 01-03-2009 17:00 (última actualização: 23:04)

segunda-feira, dezembro 22, 2008

Portugal 65

Por um Partido Socialista Renovado

A blogosfera é o lugar certo e transparente das novas maçonarias!

Num rápido inquérito feito pelo António Maria, das 20 pessoas que responderam até agora ao mesmo, 65% votariam num novo partido, 20% não, 10% talvez, e 5% revelaram não saber se sim ou não votariam num novo partido. Esta rápida consulta vale o que vale, mas não deixa de ser estranho que as empresas de sondagens não tenham, que eu saiba, até agora, realizado qualquer sondagem específica destinada a apurar se há ou não lugar estatístico para um ou mais novos partidos.

Começa a ser uma evidência para a grande maioria dos portugueses que o actual sistema partidário, tal como está, não serve, foi corrompido até às entranhas e ameaça, pela sua própria inércia oportunista, desestabilizar gravemente o actual regime republicano. Todos sabemos que nada mudará pela mão das clientelas que configuram o actual sistema democrático se não lhe dermos um empurrão. E se nada mudar, na gravíssima crise económico-social que se aproxima a passos largos —Portugal, a Grécia e a Irlanda são os mais prováveis candidatos a seguir a Islândia no caminho da bancarrota—, estaremos em breve numa situação semelhante à que levou, nos idos anos 20 do século passado, ao aparecimento de imparáveis correntes nacionalistas autoritárias e ao triunfo do Salazarismo.

O pântano das dívidas especulativas e fraudulentas onde chafurdam bancos e entidades financeiras, como o BCP, o BPP, o BPN e até a Caixa Geral de Depósitos (1), entre outros, sugando para o nada das burlas piramidais, e para o buraco negro dos ditos mercados de derivados, milhares de milhões de euros da poupança nacional, levando na enxurrada fortunas pessoais, pensões, reformas e a disponibilidade de crédito à actividade económica, somado ao imparável endividamento do Estado português —mais de 200% do PIB!—, conduzirá inevitavelmente o país a uma convulsão política e social sem precedentes, se nada se fizer nos próximos três ou quatro meses.

Bastará um incidente com a população de Mirandela (2), por causa da linha férrea, ou da barragem assassina que os imbecis da EDP querem construir no Tua —apenas para engordar a coluna dos activos da empresa—, ou um pronunciamento militar mais forte, ou um bloqueio consistente de tesouraria que leve a atrasos repetidos nos pagamentos de vencimentos, pensões ou subsídios a funcionário públicos, para que o fogo se acenda e alastre pela pradaria democrática que a nomenclatura partidária do pós-25 de Abril malbaratou em trinta anos de incompetência, corrupção crescente e, finalmente, arrogância novo-riquista.

Até recentemente pensei que haveria uma hipótese em duas de o sistema partidário se auto-regenerar. Hoje, estou plenamente convencido que sem rupturas fraccionárias nos principais partidos parlamentares, sobretudo nos do arco da governação, o regime cairá a pique e abrirá as portas a formas radicais de populismo — de direita, e de esquerda. O modo como a FENPROF comunista, e o PCP, cavalgaram o descontentamento justificável dos professores, mais o que posso antever do comportamento previsível dos maoístas do Bloco de Esquerda, ou do recente triunfo da tropa populista do PPD, simbolizada pela candidatura do pirata Santana Lopes ao governo da capital, são exemplos suficientemente preocupantes do que aí vem se, entretanto, não formos capazes de ampliar e refundar o actual espectro partidário.

A ilusão de que isto pode resolver-se a golpes de blogosfera não passa disso mesmo: de uma ilusão! A blogosfera tem vindo a desempenhar um protagonismo crescente, e muito positivo, no enriquecimento da nossa democracia, mas não poderá em caso algum substituir-se às estruturas e instâncias do poder. Ora, sem que estas mudem, ou sejam alimentadas por ideias e comportamentos renovados, o país não terá solução.

O que sim a blogosfera pode e porventura deve realizar é provocar e ajudar a crescer rapidamente um novo partido simultaneamente idealista, inteligente e pragmático. Um partido que saiba socorrer-se da blogosfera e das redes sociais em geral, de forma criativa e eficaz, em prol de uma correcção urgente das nossas instituições democráticas. A blogosfera é o lugar certo e transparente das novas maçonarias! Os rituais agora televisionados das velhas e ridículas lojas maçónicas oitocentistas (caricaturas risíveis dos templos cristãos) são bem o retrato de algo que teve o seu papel histórico, mas que hoje não passa de um teatro espartilhado entre cadáveres adiados e aventais exóticos.

Têm procurado fazer chantagem emocional com Manuel Alegre a propósito dos custos simbólicos da sua previsível separação do PS. O argumento é frouxo, nas medida em que não se trata de preparar um abandono pessoal, mas sim de arrancar as partes sãs da árvore apodrecida (enquanto é tempo), para logo plantar de novo raízes, troncos, ramos e rebentos, em terra fértil, com boa exposição aos ares da democracia que respira fora do nada socialista salivado pela tríade de Macau, e abundante rega da cidadania expectante que exige alternativas de voto!

O ano de 2009 vai ser pior, muito pior, do que este que agora finda. Depois da hecatombe provocada pelo Subprime, outra, já anunciada, virá, desta vez provocada pelas bolhas imobiliárias alimentadas pelos chamados ARM loans e Alt-A Mortgages. Os gráficos desta bolha são ainda mais assustadores do que os gráficos do Subprime. Se a Banca Portuguesa, ao contrário do que mentiram reiteradamente Primeiro Ministro, Ministro das Finanças e Governador do Banco de Portugal, ficou no estado de pré-coma em que está, depois do Subprime, podemos antever sem grande margem de erro os impactos que o rebentamento da segunda grande bolha imobiliária global terá na nossa frágil e super-endividada economia.

Temos que nos preparar para o pior. E para isso, teremos que correr com actual corja que nos governa. Como não quero entregar o meu país aos espanhóis, nem aos angolanos, nem aos chineses, nem deixá-lo afogar-se pura e simplesmente no lodo da corrupção dominante, atraindo por este caminho as varejeiras do autoritarismo ditatorial, não vejo como fazê-lo sem defender uma reestruturação radical do espectro partidário que temos, e nomeadamente a formação de um novo partido socialista. Um Partido Socialista Renovado!


Post scriptum: as declarações de Pedro Silva Pereira —ministro da presidência e alter ego de José Sócrates — à SIC-N (22-12-2008), sobre o lugar de Manuel Alegre no Partido Socialista, são um sintomático sinal do que aí vem. Se alguém tinha dúvidas sobre o que esperar de quem cruamente coloniza o PS, as dúvidas esclareceram-se. Há três eleições antes das presidenciais, e até lá o caso Alegre ficará em banho-Maria. José Sócrates pressupõe assim que Manuel Alegre não fará nada até às próximas eleições europeias, autárquicas e legislativas. Terá havido um acordo neste sentido? Ou trata-se simplesmente da fanfarronice de uma clique desnorteada?
Alegre, na minha opinião, só tem um caminho e nenhum tempo a perder: afrontar sem medo a tríade de piratas que actualmente usa o PS para proveito próprio e para proveito de quem lhe assegura o futuro fora dos corredores do poder. Se por causa do questionamento directo de quem fez do Partido Socialista uma Chaimite neoliberal, houver uma cisão, paciência. É a vida! Todos beneficiaremos.

NOTAS
  1. Está por esclarecer o papel dúbio e porventura ilegítimo desempenhado pela CGD no affair BCP. Leiam-se, a propósito, estes extractos da pertinente entrevista de Fernando Ulrich (BPI) ao Público.

    Fernando Ulrich avisa que pode não haver financiamento para todas as grandes obras públicas
    22.12.2008 - 21h53 (Público)
    Por Cristina Ferreira

    Cristina Ferreira (Público) — O presidente do BPI, Fernando Ulrich, diz que nem todos os projectos anunciados pelo governo são financiáveis e que os bancos mais facilmente preferem escusar-se a financiar alguns dessas grandes obras, do que prejudicar as PME.

    Fernando Ulrich (Presidente do BPI) — O Primeiro-Ministro, José Sócrates, e o Ministro das Finanças, Teixeira dos Santos, têm razão quando acusam os bancos de não estarem a conceder crédito às empresas e ameaçam retirar o aval do Estado [de 20 mil milhões de euros] que lhes permite ir levantar fundos nos mercados internacionais?

    Neste momento o único banco a que pode tirar a garantia é à CGD, que foi o único que a utilizou. É uma questão interna entre o Governo e o seu banco.
    ...

    CF (P) —As reacções de José Sócrates e de Teixeira dos Santos podem ser explicadas pela necessidade de desviar as atenções da decisão de “salvar” o Banco Privado Português (BPP)?

    FU (BPI) — Não. Daquilo que sei o BPP não está a ser ajudado pelo Governo. Esse é um equívoco que grassa por aí pois, porventura, o Governo e o BdP não terão explicado bem o que fizeram. Porque não está a ser dada nenhuma ajuda ao BPP e na minha opinião não está excluído que desta intervenção que está a ser feita não venha a resultar a liquidação do banco.

    CF (P) Sexta-feira, no final da assembleia-geral do BPP, João Rendeiro, o ex-CEO e fundador, declarou que o banco era viável.

    FU (BPI) — Essa é a opinião dele, terá de a demonstrar. O que digo, daquilo que tenho lido e daquilo que conheço, é que não está excluído que o BPP tenha que ser liquidado e não está excluído que o BPP tenha capitais próprios negativos. Todos os comentários que têm estado a ser feitos sobre a intervenção no BPP e todas as críticas à actuação do Governo partem de uma premissa que não é verdadeira é que não há ajuda nenhuma ao banco.
    ...

    “O grande desafio do Governo é financiar o défice da BTC, um dos maiores do mundo”

    CF (P) O Governo também já acusou os bancos de usarem o dinheiro levantado com base na garantia do Estado para resolverem problemas internos. Quer comentar?

    FU (BPI) — Essa afirmação é muito infeliz. E até me custa comentá-la porque até agora, e tirando o BPP que usa uma garantia diferente, ao abrigo da garantia de 20 mil milhões só houve um banco que a utilizou e foi a CGD, que é pública. Essa afirmação nem tem correspondência à realidade actual. Mas o ponto que é importante sublinhar é que Portugal tem um défice da Balança de Transacções Correntes (BTC) muito significativo e esse défice nas nossas trocas com exterior, compramos muito mais ao exterior em bens e serviços do que vendemos, é que tem que ser financiado. E além disso ainda temos dívida que quer os bancos, quer a República Portuguesa contraíram no passado e essa dívida também tem que ser refinanciada todos os anos. E é bom que as pessoas tenham consciência que Portugal é um dos países com um dos maiores défices da BTC do mundo. Quer em percentagem do PIB, quer em valor absoluto, é uma realidade que poucos conhecem. O país com maior défice da BTC é os EUA, o segundo é a Espanha. E Portugal está nos 10 primeiros. E o desafio é este, pois financiar este défice vai ser muito mais difícil do que foi até aqui. E pode até não ser possível.

    CF (P) E se não for possível?

    FU (BPI) — Terá consequências negativas quer nos programas de investimento que queremos fazer em Portugal, quer no nível de vida dos portugueses. A questão central que todos, quer os líderes políticos, quer os empresários, quer os bancários, temos que ter consciência é que é disto que se trata: a necessidade de financiar um dos défices da BTC maiores do mundo e de refinanciar a divida que emitimos no passado. Em condições do boom financeiro dos últimos dez anos isto era facílimo, em condições de uma crise de crédito, como esta, é muito complicado. Devemo-nos concentrar nestes problemas que são muito sérios. Procuremos as soluções e depois não podemos vacilar quando estamos a executar as medidas que adoptamos. Só para lhe dar um indicador para ter consciência. Nas obrigações emitidas no mercado internacional pela República Portuguesa, que é o melhor rating que existe, para se financiar antes de começar a crise financeira, há cerca de um ano, Portugal tinha que pagar 0,2 por cento a mais do que pagava a Alemanha. Neste momento as obrigações a 10 anos emitidas pela República Portuguesa já pagam mais um por cento do que a divida alemã. Este é um sinal claríssimo do como o mercado está a fazer a selecção dos vários países. Na Grécia a situação ainda é pior pois paga mais de dois por cento a mais do que a Alemanha, quando há um ano pagava mais 0,3 por cento, enquanto a Espanha paga quase tanto como Portugal, e a Itália e a Irlanda, que há um ano pagavam o mesmo que Portugal, agora até pagam mais. Os problemas dos países do sul da Europa, Portugal, Espanha, Itália e Grécia, e agora mais a Irlanda, são muito sérios, pois todos têm em comum défices enormes. O mercado está a penalizá-los no sentido de que está a exigir um preço cada vez maior para os continuar a financiar. É um problema que está muito para além do problema dos bancos.


    “Alguns dos grandes projectos não são financiáveis”

    CF (P) — Concorda com o ex-ministro das Finanças de José Sócrates Campos e Cunha que diz que os grandes projectos do Governo vão absorver os recursos dos bancos que deveriam servir para financiar as PME e o resto da economia?

    FU (BPI) — Percebo que numa situação de crise e de recessão económica os governos queiram estimular a economia e o investimento. Mas esta atitude voluntarista pode não ser suficiente, pois alguns destes grandes projectos podem não ser financiáveis. Ninguém pode garantir que vai haver financiamento, nem mesmo o Tesouro português o pode garantir, por isso admito que alguns dos grandes projectos venham a ter que ser repensados.

    CF (P) — Está a pensar nalgum?

    FU (BPI) — Não. Estou apenas a dizer que poderá não ser possível executar todos, pois poderá não haver resposta dos mercados financeiros para financiar todos as obras que foram anunciadas. As PME são um segmento a que os bancos atribuem grande prioridade comercial. São clientes interessantes para os bancos, mesmo do ponto de vista da racionalidade económica e da própria lógica do nosso negócio. A questão colocada pelo professor Campos e Cunha tem sentido, do ponto vista económico, mas penso que os bancos não irão por aí.

    CF (P) — Os bancos estão ou não a dar crédito à economia?

    FU (BPI) — Os bancos mais facilmente preferem escusar-se a financiar alguns dos projectos, do que prejudicar as PME. Alguns dos projectos, uma vez acabado não tem mais negócio para os bancos. Repare que as PME estão cá sempre, são permanentes, tem negócio recorrente, temos o negócio do dono da PME, dos empregados. É uma actividade muito importante para os bancos.
    ...

    “CGD não pode ser o saco azul do partido que está no Governo”


    CF (P) — Como é que vê o facto de a CGD ter realizado em menos de um ano três aumentos de capital directos e um indirecto, no valor de dois mil milhões de euros, sem que o Governo tenha justificado a decisão, apenas dizendo que é para repor os rácios?

    FU (BPI) — Tenho dito, por diversas vezes, que a relação da CGD com o seu accionista deve ser um exemplo de rigor e de transparência e não tem sido. Não se percebe que a CGD no espaço de um ano faça três aumentos de capital e uma operação de venda de activo que equivale, do ponto de vista económico, a um aumento de capital. A CGD não pode ser o saco azul do partido que está no Governo ou não pode deixar que se fique com essa ideia. A CGD serve para financiar a economia? Ou é para cobrir os prejuízos que tem no financiamento de acções cujo sentido não se entende? Ou é para cobrir prejuízos de posições accionistas em empresas de sentido duvidoso? Para que as dúvidas não assolem permanentemente os contribuintes, deveria haver uma estrutura de controlo da CGD, ou no quadro do Parlamento, como agora está na moda, ou por via de uma comissão superior. A par de muita coisa bem feita, a CGD tem um conjunto de operações de que se desconhece qual o interesse público que visam satisfazer.

    Entrevista na íntegra

  2. Referendo sobre Linha do Tua vai a votos

    22-12-2008 (JN) — O referendo local sobre a manutenção ou encerramento da Linha do Tua vai a votos na Assembleia Municipal de Mirandela. No entanto, será o Tribunal Constitucional, em última instância, quem decide se o processo pode avançar.


OAM 500 22-12-2008 12:54 (última actualização: 13-12-2008, 17:21)