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sábado, dezembro 10, 2011

E a EDP vai para...

Países solventes interessaram-se pela EDP

Desastre anunciado: a barragem da foz do rio Tua (antevisão da EDP).
1 - a parede com 100 metros de altura que Francisco José Viegas quer mandar pintar (de verde, supõe-se!); 2 - o edifício que o Mexia quer transformar numa obra de arquitectura irresistível, com o traço já encomendado a Souto Moura; 3 - a linha ferroviária, por sinal uma "obra de arte", que o empreendimento irá destruir.
Hoje era o dia limite para serem entregues as propostas à privatização dos últimos 24,35% do capital da eléctrica que ainda está nas mãos do Estados. Foram entregues na Parpública propostas de quatro empresas estrangeiras: a alemã E.On, a chinesa Three Gorges e as brasileiras Eletrobras e Cemig. In Jornal de Negócios, 9-12-2011.

O interesse pela eléctrica portuguesa é seguramente grande e poderá superar três grandes escolhos que afectarão o futuro imediato desta empresa:
  1. a sua enorme dívida: mais de 16 mil milhões de euros;
  2. os privilégios, cada vez mais contestados, de que a EDP goza em Portugal pelo seu estatuto de quase monopólio e empresa rendeira que mensalmente expropria, através dos preços exagerados que cobra e dos chamados Custos de Interesse Económico Geral (CIEG), recursos económicos desproporcionados ao potencial produtivo do país;
  3. o Plano Nacional de Barragens, através do qual a EDP avançou para a construção de duas barragens inúteis, salvo para incrementar artificialmente o valor potencial dos seus activos: barragens do Baixo Sabor e do Tua.
A ameaça da UNESCO, conhecida esta semana, de retirar a classificação de Património Mundial ao Alto Douro, previsível e há muito anunciada como provável por quem, com razoabilidade e abundante argumentação técnica, vem criticando o embuste do Plano Nacional de Barragens (PNBEPH), caiu como uma pedra no toutiço do actual governo. A reacção patética do secretário de estado da cultura ao aviso, ainda informal, da UNESCO, serviu a todos para melhor reconhecer as limitações óbvias deste governante. Tal como os demais transmontanos ilustres —Durão Barroso, Sócrates e Passos Coelho— que têm sido chamados a decidir sobre estas desfigurações inúteis da paisagem duriense, também Francisco José Viegas, natural do Pocinho, localidade a escassa distância do novo Museu do Côa (que recebeu neste seu primeiro ano de funcionamento mais de 50 mil visitantes), vem primando por um completo despudor e falta de senso na defesa destes verdadeiros atentados de cimento.

Parece que Manuel Maria Carrilho, anterior ministro da cultura e comissário português na UNESCO, teria avisado o governo Sócrates sobre o conflito óbvio entre as barragens previstas para o Alto Douro e a classificação da UNESCO. E parece que a correspondente em Lisboa da UNESCO não fez ou fez mal o seu trabalho em matéria de tamanha importância e melindre, ocultando informação à sede da organização para quem trabalha.

Em suma, ou teremos a barragem do Tua um dia concluída, e perderemos a classificação patrimonial do Douro conferida pela UNESCO há uma década —agora que o turismo induzido pelas Low Cost cresce exponencialmente da Ribeira do Porto até ao Museu do Côa. Ou então, as barragens do Baixo Sabor e do Tua serão interrompidas, e o Plano Nacional de Barragens de Elevado Potencial Hidroeléctrico suspenso, em nome de um valor económico bem maior: o inestimável potencial vinícola, turístico e cultural da bacia do rio Douro.

Em nome da inadiável redução do sobre endividamento da EDP, que já não poderá contar garantidamente com as prometidas rendas do insolvente Estado português, mas também em nome de soluções técnicas de mitigação das quebras de produção dos geradores eólicos, que podem passar perfeitamente por aumentos de potência em barragens existentes (Barragem da Bemposta, etc.), parar as barragens poderá afinal revelar-se como um mal menor que serve aos ecologistas, ao governo e ao futuro imediato da EDP. Só as construtoras sairão a perder neste volte-face. Mas já não ganharam de mais? Não estragaram já o suficiente a paisagem que é de todos? Não foram já suficientemente responsáveis pela bancarrota do país? E quem disse que não poderão ser parcialmente compensadas com alguma obra na China, Brasil ou Alemanha? Tudo se negoceia quando há juízo!

Sobre quem será o país a tomar conta de 25% da EDP, sabe-se que:
  1. O Brasil não quer a China a entrar no Brasil através da EDP, e quer, por seu lado, entrar na península ibérica e na Europa através da EDP;
  2. Os Estados Unidos não querem a China a entrar no seu sector energético através da EDP, e já fizeram saber isso mesmo às autoridades portuguesas;
  3. A Alemanha não quer a China a entrar no sector energético europeu através da EDP, no preciso momento em que a crise das dívidas soberanas e empresariais vai obrigar a múltiplos movimentos de concentração económico-financeira na Europa;
  4. A China, portanto, para entrar, terá que colocar muita massa em cima da mesa e oferecer extras irresistíveis.
O Brasil abre um mercado de futuro à EDP. Mas, por outro lado, a Alemanha reforçará o potencial científico e tecnológico da companhia, e ainda todo o vasto mercado europeu, mais os mercados de exportação que a Alemanha alcança e que são imensos. Por mim, a opção é clara e chama-se Alemanha!

Seja como for esta privatização vai ser um excelente barómetro da inteligência estratégica e negocial deste governo. Estamos todos em pulgas para saber!



NOTA
Sobre o assassínio progressivo do Douro, vale a pena ler este artigo do engenheiro Francisco Gouveia.
“A região do Douro, que já era emblemática muito antes de ser considerada Património Mundial, pois foi a primeira região demarcada vinhateira do mundo, foi recentemente galardoada com o tal título da UNESCO que a consagrou definitivamente perante o mundo. Todos lucramos com isso, especialmente a região, que passou a ter publicidade gratuita, que passou a ser falada em todos os sítios onde se aconselhavam paisagens, que passou a andar em todos os roteiros da net, que começou a ser apetecida por turistas que a desconheciam.

O turismo no Douro deve a este facto o seu crescimento. E a mais nenhum. Tudo o que se fez depois, foi um enorme zero, dinheiro mal gasto por quem percebia pouco do assunto e tirou um curso acelerado nos corredores dos partidos. Foi o DOURO PATRIMÓNIO MUNDIAL, que arrastou para cá a curiosidade dos estrangeiros. Mas como tudo o que é belo e grandioso, é cobiçado.

E logo as empresas que necessitam deste tipo de relevo e hidrografia, para instalarem as suas centrais de produção, começaram a olhar o Douro com os olhos do Tio Patinhas. E não tinham dúvidas de que era neste Douro, nesta região, que tinham as condições naturais de excelência, que não encontravam em mais nenhuma parte do território.

Foi assim que o Plano Nacional de Barragens Com Elevado Potencial estipulou para o Douro a maior fatia e, consequentemente, a sua maior destruição. A Bacia Hidrográfica do Douro, para que se saiba, já possuía mais de 50 barragens antes deste Plano! Sendo que muitas são de terra e de enrocamento. As de gravidade (aquelas que habitualmente designamos como sendo de betão) são as maiores.

Mas não só. Este Plano Nacional de Barragens, prevê a devastação do Tâmega com inúmeras barragens, algumas dentro de um circulo de 10 Km, bem como a do Baixo Sabor (em construção) e polémica barragem do Tua, esta última que será, talvez, a razão próxima para a perde do título que o Douro ostenta de património mundial.

A barragem do Tua, para além de ser um monstro de betão à saída do Tua com vistas para o Douro, e a que nem a arte do arquitecto Souto Moura (inexplicável, ou explicavelmente envolvido neste processo) conseguirá amenizar, será também o caixão onde repousará parte de uma região de beleza sublime. Ainda por cima, com uma Barragem que será a desgraça das nossas Finanças Públicas, pois o que o Governo anterior contratualizou com a EDP e a IBERDROLA (relativamente às barragens do Tua e Sabor), equivale ao pagamento a estas empresas, de uma quantia que é três vezes superior ao nosso défice, pelo prazo de 70 anos!!!!!!!!!!

E o que é mais grave, é que estas barragens apenas vão contribuir com 0,5% da energia que consumimos!!!!!!!!!!”
“Que estranha forma de vida”, Francisco Gouveia.
Artigo integral em Notícias do Douro.




ÚLTIMA HORA!

11-12-2011 22:06
Negócios online (com base em notícia divulgada pelo Der Spiegel): “O governo PSD/CDS reduziu recentemente a quatro os candidatos à compra da referida quota, dando também preferência aos alemães.”
Comentário: Se o Der Spiegel acertar, então é porque o governo português terá feito a melhor escolha. A entrada da E.ON aos comandos da EDP é a que melhor servirá os interesses do país. À China, Portugal deverá reservar uma penetração consolidada em Sines e em geral no negócio marítimo e portuário, pois será aqui que ambos os países poderão obter vantagens mútuas mais produtivas — OAM.