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quarta-feira, agosto 09, 2017

O Grande Eunuco Chinês


Zheng He (1371–1433 or 1435)

Um caso de simetria histórica


Pequim está a financiar o que falta para terminar a ligação ferroviária entre o porto de Nacala, em Moçambique, com os portos de Lobito e Luanda. Sabem o que é isto? É uma perna da Nova Rota da Seda!

Por sua vez, em Portugal, avançam decididamente pelos setores energético, portuário, bancário e, quando os deixarem, ferroviário, sem deixar descalça uma das suas grandes perdições: o jogo!

Reparem nos setores onde já detêm posições fortes ou mesmo dominantes: Sines, EDP, REN, Fidelidade, Luz Saúde, BCP, e em breve a cidade de Setúbal—o porto e a própria cidade. Quanto a Tróia é uma questão de tempo e preço...

Os portugueses conquistaram Ceuta em 1415, e daí percorreram toda a costa africana por mar. Chegaram depois, sempre por mar, e numa das direções possíveis, à Malásia, à Índia, à China, ao Japão, e ainda à Austrália... E noutra, pelo Atlântico norte, à Gronelândia, pelo Atlântico sul, ao Brasil. Este grande ciclo finou-se em 2015.

Por sua vez, em 2015 os chineses iniciaram um caminho inverso (1). Abriu-se então uma nova era...

Só temos agora que aprender a navegar nos mares da nova globalização.

Os chineses são, afinal, velhos conhecidos.

Até eu nasci em Macau!

NOTAS

  1. Repare-se na simetria geográfica entre dois grandes 'generais': o português Henrique (1394-1460), e o chinês, eunuco e muçulmano, Zheng He (1371–1433 or 1435). Há quem diga que Zheng He teria chegado a Portugal, antes dos portugueses chegarem à China, não fora o medo dos mongóis ter levado um mandarim de Pequim ter odenado ao general Zheng He que destruísse a armada chinesa para reforçar a Muralha Chinesa.

sábado, fevereiro 14, 2015

China quer os lombinhos do BES

Bank of China (ao centro). Hong-Kong.

Portugal, 1415—China, 2015 (600 anos depois...), ou a profecia de Xangai


Bank of China, "wholly state-owned", quer o lombo sem gorduras do exBES, o chamado 'banco bom', deixando obviamente milhares de antigos clientes com as poupanças a arder.

Bank of China é um dos interessados no Novo Banco
Dinheiro Vivo 14/02/2015 | 00:00
Está desvendado mais um nome entre os interessados no Novo Banco. O Bank of China está na corrida à instituição liderada por Eduardo Stock da Cunha, segundo apurou o Dinheiro Vivo. O banco chinês manifestou o seu interesse junto do assessor financeiro escolhido pelo Banco de Portugal que está a assessorar a venda - BNP Paribas - e já terá sido, inclusivamente, uma das entidades que foi validada. Ou seja, que cumpre os critérios exigidos pelo Banco de Portugal para aceder à informação financeira.

Não deixa de ser uma ironia, ou melhor uma farsa, que um país em bancarrota, como Portugal, dirigido por um governo dito neoliberal, esteja a despachar as suas principais empresas estratégicas, outrora públicas e hoje privadas, bancos incluídos, para o setor empresarial público da comunista República Popular da China. Os gregos, ao menos, usam a imaginação!

A estratégia chinesa é bem-vinda, sobretudo para o novo desenho das interdependências lusitanas, mas sob condição de os indígenas ignaros que nos governam saberem o que andam a fazer. Não sabem.

Neste ponto convém sublinhar que dos aldrabões do PSD e CDS, ao indigente cor-de-rosa que governa os Açores, o que transparece é tão só o afã de venda ao desbarato dos dedos da República Portuguesa. Os anéis, como sabemos hoje melhor do que ontem, marcharam com a descolonização maltrapilha e o tumulto pré-revolucionário que se seguiu à queda do Salazarismo.

Dizem os imbecis de Belém e de São Bento que Portugal cumpre com as suas obrigações perante os credores. Vê-se!!!

Zheng He (1371-1433)—almirante muçulmano, eunuco, chinês, considerado hoje o Grande Navegador da China

Um chinês de Xangai predisse uma vez que em 2015 o Império do Meio seria o banco do mundo. Curiosamente, seiscentos anos depois da conquista de Ceuta, que marca o início da grande diáspora marítima europeia e a primeira experiência de Globalização. A profecia de Xangai está a ponto de cumprir-se, embora, na minha modesta opinião, uma vez cumprida, terá vida curta. Antes de 2030 o mundo voltará a dividir-se ao meio: o hemisfério oriental, para uns, o hemisfério ocidental, para outros.

Esta fatalidade dever-se-à a duas ocorrências, uma imprevista, e outra inevitável.

A causa imprevista do fracasso futuro do projeto imperial chinês chama-se Pico do Petróleo, cujas implicações são muito complexas, mas que podem resumir-se a dois constrangimentos fulcrais: a chegada de um período longo (60 a 120 anos) de crescimento zero (entre 0 e 1%), e uma prolongada crise financeira, social, cultural e militar com origem na extrema dificuldade de diminuir os elevadíssimos níveis de endividamento e de exposição a derivados financeiros especulativos por parte da maioria dos principais países do planeta.

A causa inevitável, por sua vez, é o crescimento do consumo interno na China e a melhoria das condições de vida dos seus habitantes, a qual exercerá uma pressão enorme sobre os recursos disponíveis locais e do planeta, e uma pressão explosiva sobre a inflação interna enquanto o país não regredir para ritmos de crescimento substancialmente inferiores aos atuais, que, apesar de tudo, já começaram a diminuir.

Repetir a receita do Japão (yen carry-trade), que os próprios Estados Unidos têm vindo a copiar, afigura-se materialmente impossível apesar da guerra cambial e de juros em curso desde o colapso do Lehman Brothers. Haverá, pois, um momento em que os problemas internos da China serão mais importantes do que o sonho imperial. Quando tal acontecer, e esse dia está mais próximo do que parece, a China lembrar-se-à do imperador que ordenou a Zheng He a destruição da sua famosa e poderosa armada.

Que deve fazer Portugal?

Os dirigentes chineses afirmaram que a sua relação com Portugal, mas também com a Alemanha, o Reino Unido, a Grécia, Moçambique e Angola, Brasil, Argentina, etc., é de natureza estratégica. Ou seja, que visa o longo prazo e os interesses comuns. Acredito que sim. E Portugal deve cuidar com zelo desta relação estratégica. Mas não enfraquecendo a tal ponto as suas defesas naturais que se transforme numa mera província chinesa na Europa.


NOTAS
  1. Bank of China
    “In 1994, the Bank was transformed into a wholly state-owned commercial bank. In August 2004, Bank of China Limited was incorporated. The Bank was listed on the Hong Kong Stock Exchange and Shanghai Stock Exchange in June and July 2006 respectively, becoming the first Chinese commercial bank to launch an A-Share and H-Share initial public offering and achieve a dual listing in both markets. In 2013, Bank of China was enrolled again as a Global Systemically Important Bank, becoming the sole financial institution from emerging economies to be enrolled for three consecutive years.”

sábado, junho 14, 2014

A moeda e os impérios

Origem: DoubleLine

O tempo histórico tem um passo mais largo que o tempo da nossa ansiedade


O gráfico que acompanha este artigo elucida bem como os impérios nascem, impõem a sua moeda, e depois morrem.

É o caso agora dos EUA, cuja moeda de reserva acaba de perder a hegemonia e está obrigada a partilhar tal estatuto com o euro e com o renminbi, depois de os especuladores ingleses e americanos terem perdido a guerra inglória que lançaram contra a moeda única europeia.

Mas tal como o gráfico também mostra, os impérios morrem devagar. Por exempo, Portugal só 600 anos depois (1415-2015) de ter sido um império, dono de uma moeda de reserva mundial ao longo de oitenta anos, se viu envolvido em sucessivos episódios de insolvência. Só em 1999 Portugal arriou a sua bandeira em Macau e deixou de ter moeda própria — a favor do euro. E, com sorte, só em 2015 iniciaremos um novo período histórico, ainda pleno de incógnitas.

Devemos, pois, olhar para o declínio dos Estados Unidos com prudência, tendo sempre em conta que os aliados estratégicos são em larga medida determinados pela geografia, e não pela ideologia.

O Atlântico volta a ser o centro estratégico do planeta, por motivos que explicaremos noutro texto, mas que no essencial se prende com a impossibilidade objetiva de a Ásia se aproximar tanto da Euroamérica, quanto a Euroamérica se tem aproximdado ultimamente da Ásia. A paragem do movimento tectónico em curso vai ocorrer ao longo da próxima década (2020-2030), e a linha da redistribuição global da riqueza material, tecnológica e cultural vai acabar por manter uma grande assimetria entre o Ocidente e o Oriente, e entre o Norte e o Sul. Não há, pura e simplesmente, energia barata para que seja doutro modo.




How Much Longer Will the Dollar Remain the Reserve Currency of the World?
By Cullen Roche, June 11th, 2014. Pragmatic Capitalism.

...will the USA lose its reserve currency status at some point?  Yes.  In fact, it’s already starting to lose its reserve status to Europe and China.  Will it be the end of the world and will it cause everyone to suddenly ditch the dollar?  Probably not.  It just means the USA will produce a lower proportion of global output and therefore, as a matter of accounting, the rest of the world will hold a lower percentage of US dollar denominated financial assets as a percentage of global output.  It’s not the end of the world.  It’s just a sign that market shares change and when you’re #1, well, there’s only one direction to go.

Segundo Paul Kennedy escreve em The Rise an Fall of the Great Powers, a China, se não tivesse destruído a sua grande Armada, para acudir à pressão que os Mongóis exerciam a norte do seu território, talvez tivesse chegado à Europa por via marítima. O contemporâneo, embora mais velho, do Infante Dom Henrique (1394 - 1460), que na China poderia ter promovido um movimento simétrico ao dos Descobrimentos Portugueses, era um general eunuco, de origem muçulmana, chamado Zheng He (1371 - 1433). Este personagem assume hoje na China um protagonismo mítico só comparável ao do famoso filho da princesa inglesa Filipa de Lencastre e de D. João I, que foram reis de Portugal. Mas na História, ao contrário do que se diz, as repetições são raras. E o sonho que a China hoje alimenta de abrir-se ao mundo e devir um império moderno e mundial, como Portugal, Castela, a Holanda, França, Inglaterra e o Estados Unidos foram, pode estar irremediavelmente comprometido por uma realidade chamada pico do petróleo, e pela consequente implosão do período de crescimento inflacionista extraordinariamente rápido e intenso que uma parte do mundo conheceu nos últimos duzentos anos.

Portugal verá porventura aumentar o seu território por efeito da extensão da sua Plataforma Continental (Facebook). Mas será por aqui e pelo papel que soubermos jogar na União Europeia que o novo ciclo começará, depois do arriar definitivo da bandeira colonial? Ou teremos que descer previamente ao inferno de nós mesmos, para podermos renascer genuinamente em uma nova era?


segunda-feira, setembro 10, 2012

Nação rica, nação pobre

Suposto Navio do Tesouro de Zheng He (1371-1433) ao lado da caravela que levou Vasco da Gama à Índia (1497)

“Nations fail economically because of extractive institutions. These institutions keep poor countries poor and prevent them from embarking on a path to economic growth” — Acemogu, Robinson.

Sessenta e quatro anos antes de Vasco da Gama ter chegado à Índia, o almirante chinês Zheng He terá realizado a última de sete viagens pelos mares da China e pelo Índico, deslocando uma numerosa armada composta por cerca de duzentos e cinquenta barcos, alguns dos quais, os chamados "Navios do Tesouro" (Bǎo Chuán), teriam nove mastros e a dimensão mítica de um campo de futebol.

Zheng He Fez sete viagens, entre 1405 e 1433, por ordem do imperador, mas depois da que decorreu entre 1430 e 1433, as mesmas foram suspensas e a armada foi sendo paulatinamente desmantelada.

Nestas viagens os chineses chegaram a Malaca, Calecute, Lasa, Áden e Mogadishu, entre outros lugares e portos. Há relatos imprecisos e hoje mitificados que afirmam ter Zheng He chegado ao Cabo das Tormentas (posteriormente baptizado Cabo da Boa Esperança), insinuando que, a ter sido assim, os chineses poderiam ter antecipado em setenta anos a descoberta da América realizada por Colombo em 1492. 

A verdade é que enquanto a progressão dos portugueses, de Ceuta, em 1415, até à Índia, em 1497, ao Brasil, em 1500, a Malaca, em 1511, a Ternate, em 1512, ao sul da China, em 1513, às costas da Austrália em 1521, à Nova Guiné, em 1526, e à ilha Tenegashima, no Japão, em 1543, foi documentada e testemunhada em cartas de navegação, livros de bordo, colocação de padrões e construção de fortalezas e portos de abrigo, e por inúmeros acordos e tratados com os povos visitados, a história marítima do Infante Dom Henrique chinês, Zheng He, é um mito nascido já neste século, vinte e nove anos depois da morte de Mao Zedong, e 600 anos depois da primeira das sete viagens de Zhen He. Ao contrário do nacionalismo que marcou a era comunista de Mao e quase toda a história da China, o novo herói, a quem as novas autoridades chinesas atribuem uma importância simbólica crescente, representa a ambição cosmopolita da nova potência emergente. 

Ao contrário da tese de Paul Kennedy em The Rise and Fall of the Great Powers: Economic Change and Military Conflict From 1500 to 2000, e do que escreve na edição desta semana do Expresso/Economia, Luís Mah e Enrique Martinez Galán —"Internacionalização não deve negar leis da física"—, os autores de Why Nations Fail — The Origins Of Power, Prosperity, And Poverty, Daron Acemoglu e James A. Robinson, não acreditam que a China pudesse ter descoberto a América, e têm uma opinião menos entusiasta sobre a sustentabilidade do novo milagre chinês. Para estes economistas, a China, enquanto assentar em formas de propriedade e de economia, e em instituições políticas, a que chamam extrativas, será incapaz de transformar o rápido crescimento das últimas duas décadas num processo sustentado e duradouro de desenvolvimento económico, político e cultural. 

Sem acesso à propriedade privada, sem garantias legais e constitucionais claramente negociadas e formalizadas, sem instituições económicas inclusivas, e verificando-se, pelo contrário, a predominância de monopólios e de posições de domínio dependentes da arbitrariedade das oligarquias e poderes instalados, a China, tal como a Rússia e boa parte dos países africanos, parte dos asiáticos e sul americanos, ou do Médio Oriente, não poderão competir a prazo com as democracias desenvolvidas do Ocidente.

A teoria de Why Nations Fail revela algumas fragilidades, como, por exemplo, a de não explicar o que leva algumas sociedades inclusivas a, por vezes, verem degradar os seus equilíbrios dinâmicos, regressando aos patamares improdutivos tipicamente impostos e reproduzidos pelas instituições extrativas

Mas não é por falta da resposta a esta questão que o livro deixa de ser, como é, uma estimulante reflexão histórica e conceptual sobre, por um lado, as origens da riqueza partilhada, competitiva e sustentável, e por outro, sobre os estigmas que continuam a tolher a maioria das nações — incapazes de sair da pobreza, do desenvolvimento desigual, da injustiça social, da opressão e da corrupção.

Porque é que a Península da Coreia, a mesma nação e a mesma gente, que uma guerra brutal, entre 1950 e 1953, dividiu ao meio, são hoje dois países tão diferentes — uma ditadura extrema e economicamente miserável, a norte, e uma potência industrial inclusiva, desenvolvida e com evidentes graus de liberdade, a sul? Ou, como foi possível ao Botswana tornar-se numa pérola de liberdade e desenvolvimento sustentável num continente onde o pós-colonialismo deu em geral lugar a réplicas de desigualdade e prepotência por vezes ainda mais trágicas que os antigos regimes coloniais? Porque é que, pergunto eu enfim, Portugal, apesar dos enormes recursos de que dispõe, e das riquezas sem fim que devorou ao longo dos séculos, não foi capaz de se transformar num pequeno país decente e economicamente sustentável? Que nos falta que não falta à Dinamarca, à Suécia, à Suíça, à Áustria, à Holanda, ao Luxemburgo, ou à República de São Marino?

Depois de ler o livro de Daron Acemoglu e James A. Robinson, ficamos a saber muito claramente porquê!

sábado, dezembro 24, 2011

Um bom ano novo... chinês!

Aos meus pacientes e tolerantes leitores,

perdido neste país bipolar, quase no fundo de uma depressão histórica, de que somos todos responsáveis, uns mais do que outros (claro!), crítico por natureza, sem por isso deixar de ser um optimista avisado, agora na companhia mais próxima dos donos da terra que me viu nascer, Macau, desejo a todos os meus pacientes e tolerantes leitores, como nunca, dentes cerrados para o Ano Novo que aí vem, e uma consoada alegre junto de quem mais amam.

Um Feliz Natal e Um Grande 2012!