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terça-feira, julho 14, 2015

Não é só a Grécia

A gangrena das dívidas públicas é fatal

A nossa principal prioridade é proteger a propriedade privada de milhões de portugueses. Protegê-la dos bancos, da voragem fiscal e dos credores do cancro estatal e das suas intermináveis metástases


Grécia, Portugal, Europa, Estados Unidos, China, em suma, o mundo caminha rapidamente para uma enorme instabilidade. O pico demográfico e a inversão da pirâmide etária, o fim da progressão da taxa de crescimento mundial, o endividamento público global, que cresce a 9,3% ao ano desde 2007, o apetite pelo risco (especulativo) por parte dos investidores institucionais e particulares, depenados pela destruição das taxas de juro e pela repressão fiscal, não poderão deixar de provocar (até 2030?) uma radical desestruturação das sociedades humanas desenvolvidas. Extrema direita, extrema esquerda, nacionalistas radicais e populistas multiplicam as suas hostes de demagogia e terror potencial... Ponham as barbas de molho!

Today’s Dark Lords of Finance
Alexander Friedman. Project  Syndicate, JUL 14, 2015

LONDON – In his Pulitzer-Prize-winning book, Lords of Finance, the economist Liaquat Ahamad tells the story of how four central bankers, driven by staunch adherence to the gold standard, “broke the world” and triggered the Great Depression. Today’s central bankers largely share a new conventional wisdom – about the benefits of loose monetary policy. Are monetary policymakers poised to break the world again?

segunda-feira, julho 06, 2015

Esperança à esquerda?

"O BE passou por um processo de renovação geracional que era necessário e durou algum tempo."
Miguel Manso/Público

Mariana Mortágua: a minha personalidade do ano de 2015


Um lapsus linguae revelador da honestidade intelectual latente de Mariana Mortágua: “Não há uma política de direitos sociais sem condições económicas.”

“Se há um pânico nos mercados Portugal não tem como se defender”
Paulo Pena, 06/07/2015 - 07:56 Público

Esta é uma excelente entrevista, esteja-se ou não de acordo com as ideias expostas. Eu, no essencial, não estou, embora reconheça legitimidade a muitas das suas sagazes observações sobre as incongruências e a criminalidade organizada do capitalismo decadente que domina o planeta. Este é provavelmente o único discurso coerente do que resta, e é muito pouco, da esquerda histórica. Não seria mau para Portugal que esta economista-política fizesse o seu caminho, começando, desde já, por ascender à direção do Bloco. O PS morreu, e um vazio na esquerda do arco-íris político (o PCP não conta para efeitos práticos) seria trágico para a democracia portuguesa...

Seja como for, esta entrevista merece resposta à altura dos argumentos que apresenta.

quinta-feira, junho 25, 2015

Revolução sem condutor?

Salazar, colocado no poder pelos militares de um país na bancarrota

Do diagnóstico da crise ao futuro vai ainda uma grande incerteza


Acabei de ler este mês dois livros que recomendo vivamente: Pensar o que lá vem—Para acabar com o Portugal pasmado, de Manuel Maria Carrilho, e Carta a um Bom Português—Manual para Fazer a Revolução de Cidadania que Falta para Resgatar o País, do corajoso e ativo jornalista, José Gomes Ferreira.

O primeiro é uma reflexão rara no panorama português da Filosofia Política, e deveria ser lido por todos aqueles que têm votado no Partido Socialista e no resto dos derivados adulterados do marxismo que ainda subsistem no país e no parlamento. Trata-se de uma viagem autocrítica, em sentido lato, ao fim do conforto das boas ideias. É certo que Manuel Maria Carrilho não se coloca nunca fora da órbita do Partido Socialista, que defende como uma identidade para lá das más conjunturas e dos desastrosos protagonistas. O PS é ainda, para o antigo ministro da cultura de António Guterres, a bóia de salvação num naufrágio que nunca mais acaba. À direita do PS, Carrilho apenas vislumbra a fuga em frente da burguesia financeira mundial, que vê como protagonista de primeira linha do individualismo comportamental e do neoliberalismo económico, e cujo enriquecimento pornográfico só poderá promover maiores desgraças no futuro. À esquerda do PS, não descortina mais do que uma mole de arteriosclerose ideológica, oportunismo sindical e aventureirismo hedonista no que resta da extrema-esquerda. A total e irremediável incapacidade da esquerda à esquerda do PS de voar eleitoralmente aconselha, na visão pragmática deste filósofo, promover o aggiornamento do PS, em vez da sua destruição na fogueira do populismo iconoclasta. Não acompanho este desejo reformista orgânico, mas percebo e respeito as suas motivações e ainda quem o acompanha no desiderato: Henrique Neto, Ventura Leite, Armando Ramalho, etc.

O segundo livro, que parece pertencer a uma trilogia iniciada com O Meu Programa de Governo, não é nem populista, nem neoliberal. Pertence, isso sim, a uma nova categoria de observação e posicionamento perante um regime basicamente rentista, devorista, neocorporativo, clientelar e rotativista, podre de oportunismo e corrupção, e que cavou a sua própria e irremediável sepultura. José Gomes Ferreira não conhece, ou melhor, não sente nem vibra com os velhos paradigmas morais da esquerda, e o que desta conhece são sobretudo mentiras, oportunismos e hipocrisia de circunstância. Ao mesmo tempo viu como o capitalismo indígena, historicamente frágil, prisioneiro de banqueiros, de rendeiros e de bandos de piratas socialistas (PS), sociais democratas (PSD) e populistas (CDS-PP), se transformou numa jangada a caminho do naufrágio, onde o salve-se quem puder acabaria por levar o país à falência e à perda de soberania financeira, económica e institucional. O que José Gomes Ferreira tem feito é identificar objetivamente, sem preconceitos, nem medos, os pontos de rotura do regime. Mas não só! Também exige uma mudança profunda no regime democrático, para o que reclama, como muitos de nós, uma nova Constituição, sem fantasias nem cintos de castidade hipócritas, aceitando ainda como boa a nossa integração na União Europeia, apesar das inúmeras e graves vicissitudes por que tem passado. No fim do livro ficamos a saber o que pretende quando convida o Bom Português a fazer uma revolução. José Gomes Ferreira quer uma nova Constituição e a Democracia de Qualidade reclamada, nomeadamente, por Henrique Gomes, Henrique Neto, Luís Campos e Cunha, ou Mira Amaral. Mas não diz como lá chegar, ou por outra, recomenda manifestações do bom povo português à porta da Casa da Democracia (a Assembleia da República), um comportamento individual consequente no dia a dia, e diz ainda que “temos de aproveitar a revolução electrónica para a pôr ao serviço da nossa Revolução de Cidadania.” Mas falta claramente um condutor, ou um navegador, para esta revolução. Quer dizer, falta uma síntese operacional estratégica dos pontos fundamentais a mudar, e meios para lá chegarmos. Falta, creio, uma ideia de plataforma abrangente, pós-partidária —no sentido de uma democracia sem hegemonia partidária—, capaz de congregar a maioria do país num processo credível de transformação.

Mais do que uma democracia de qualidade, precisamos de uma democracia qualitativa, isto é, de uma democracia não apenas decente, mas que seja também um edifício ideológico e cultural novo. Onde, por exemplo, a felicidade, o amor, ou a qualidade da água, do ar e os equilíbrios ecológicos sejam mais importantes do que o sucesso, o PIB, a produtividade, ou do que a taxa de crescimento. A realidade do planeta está a deteriorar-se rapidamente. Os humanos, ou se adaptam, ou extinguir-se-ão mais cedo do que o esperado, a par de muitas outras espécies em extinção.

Seja como for, os dados estão lançados. Basta compilar o muito que se tem escrito sobre a crise do nosso regime e sobre a crise mundial, e ainda a sobre a necessidade imperiosa de mudarmos de vida, para ficarmos com um diagnóstico suficientemente fundamentado, a partir do qual poderemos então modelar da melhor maneira a inadiável metamorfose do país.

segunda-feira, março 02, 2015

Colapso do sistema e experimentalismo radical

Ordem de confisco do ouro nos Estados Unidos, 1933

A Esquerda ou se radicaliza ou morre com o sistema que ajudou a criar


Não é a ideologia que está a entalar a social-democracia, porque esta sempre a soube moldar às suas necessidades de poder. É a realidade.

Foi a realidade que empurrou o neoliberalismo e o neoconservadorismo para o mais ilusório e radical keynesianismo de que há memória. Daí estarem os governos ocidentais —democratas, republicanos, social-democratas, liberais, conservadores, etc.— a transformar os seus países em atoleiros de autoritarismo político e capitalismo de estado, não conseguindo nem assim e apesar de todo o ilusionimso financeiro promovido pelos bancos centrais, travar a implosão quer dos estados sociais europeus do pós-guerra, quer das sociedades de consumo inauguradas com o baby boom americano. Daí, portanto, a impossibilidade de distinguir o senhor António Costa, do senhor Pedro Passos Coelho, ou Paulo Portas. Votar em qualquer destas criatuas, e nos partidos de que são líderes, é uma pura perda de tempo.

A economia dos Estados Unidos não cresce o suficiente para escapar à estagnação e à deflação, e volta a resvalar rapidamente para um novo colapso financeiro—sob a pressão da sua dívida astronómica e das bolhas com que têm tentado, uma vez mais, esconder o grande risco que correm. O rebentamento de qualquer das bolhas críticas atuais —subprime estudantil, subprime automóvel, ou Wall Street— poderá acontecer em breve, e terá consequências planetárias imediatas.

Neste contexto institucional bloqueado, em que as esquerdas tradicionais, que vão da social-democracia até aos partidos que, como o PCP e o Bloco, formam parte ativa da máquina do endividamento sistémico, e declaradamente pertencem a uma nomenclatura política e burocrática cada vez mais contestada, que margem de sedução sobra à esquerda? A estas esquerdas?

Eu diria que só mesmo experimentando soluções desesperadas —como aquelas que o Syriza e o Podemos têm protagonizado— estariam em condições de renovar os laços perdidos com as suas bases sociais e culturais de apoio. Mas, como temos visto, é bem mais provável assistirmos ao colapso paulatino destes cadáveres esquisitos do marxismo, e ao aparecimento de novos movimentos radicais ecléticos, do que a metamorfoses no interior de agrupamentos minados até à medula pela esclerose intelectual, compromissos espúrios e histórias inconfessáveis.

À direita, o desejo de experimentalismo também cresce, obviamente. E onde as novas esquerdas radicais-ecléticas e radicais não avançarem, será uma nova direita radical-eclética a fazê.lo, como temos visto em França


EXCURSO

O artigo do José Manuel Fernandes —Os problemas de Costa não estão nos seus primeiros 100 dias. Estão nos próximos 200— faz um bom diagnóstico da espuma em que o curtido Costa flutua e onde irá necessariamente afogar-se. Não é o antigo ministro de Sócrates que declara que temos que nos habituar às enxurradas?


Bill Gross: "Central Banks Have Gone Too Far In Their Misguided Efforts To Support Economic Growth"
Zero Hedge. Submitted by Tyler Durden on 03/02/2015 08:21 -0500


Em síntese o que diz este artigo:
  1. que há uma guerra cambial, envolvendo as princiais moedas do planeta: dólar, iéne, euro e yuan;
  2. que os mesmos países envolvidos na guerra cambial também praticam agressivamente a desvalorização competitiva das suas moedas;
  3. que a rentabilidade negativa (negative yiels) dos títulos e obrigações soberanas —2 biliões de dólares, só nos EUA— ameaçam a poupança e o investimnto financeiro;
  4. que a destruição das taxas de juro mata os modelos de negócio financeiro e é crítica para o funcionamento das economias modernas. Os fundos de pensões e as seguradoras são as principais vítimas desta forma duvidosa de prolongar a vida de estados obesos e burocracias parasitárias;
  5. que juros a taxas zero/negativas estimulam a poupança, retraem o consumo, e prejudicam qualquer crescimento significativo das economias;
  6. que os bancos centrais continuam a ir longe demais nos seus esforços mal orientados de reanimar as economias.


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segunda-feira, setembro 29, 2014

Nova crise global pode estar iminente



Se pensam que vai ser fácil deitar a mão aos 25mM€ do próximo QREN pensem duas vezes!


Há uma evidente conspiração em curso para despedir António José Seguro do PS e Pedro Passos Coelho do PSD. O primeiro caíu ontem. Quanto a PPC vamos ver se resiste à ofensiva combinada dos bonzos do PS e do PSD, protagonizada mediaticamente por Marcelo Rebelo de Sousa, Marques Mendes, Pacheco Pereira, Manuela Ferreira Leite, Morais Sarmento, Ângelo Correia, Mário Soares, José Sócrates, António Vitorino, Augusto Santos Silva, etc. O objetivo desta corja é só um: fazer regressar o Bloco Central da Corrupção e os principais cleptocratas e rendeiros do país (ex-Grupo BES, Grupo Mello, Mota-Engil, EDP, etc.) ao controlo pleno do regime. A desculpa piedosa será certamente religiosa, e deve chamar-se qualquer coisa como 'defender a todo o custo os centros de chulice indígena', perdão, queria escrever, 'centros de decisão nacionais'. Acontece, porém, que o tempo deixou de ser favorável a esta gente. E assim sendo conviria que os democratas deste país acordassem e se dispusessem a despachar a mencionada corja para o caixote do lixo da história.

Que tenciona fazer o sargento-ajudante Costa?

Vai renunciar à dívida do país? Não vai cumprir as recomendações que a Troika certamente dará ao governo dentro de dias? Vai mandar à fava o BCE quando forem realizados e conhecidos os próximos testes de esforço à banca portuguesa? Vai aumentar os salários? Vai investir — onde? Vai continuar o esforço de desendividamento público e privado — como? Vai sair da NATO e aliar-se ao Bloco de Esquerda? E se não, vai enviar tropas portuguesas para o Iraque e a Síria? Que pensa das manobras de desestabilização mundial em curso por parte dos Estados Unidos, Inglaterra, Israel e Arábia Saudita, contra a Rússia, contra a China e contra milhares de milhões de muçulmanos? Alinha, ou não?

Sabemos que o grande objetivo da corja rendeira e devorista é a caça ao último pacote de ajuda comunitária, no montante de 25mM€, para ser aplicado no período de 2014-2020. Que vai fazer António Costa, se porventura ganhar as próximas eleições, a este respeito? Quais são as suas prioridades, para além de favorecer quem o apoiou? Finanças públicas? Segurança Social? Saúde? Educação? Energia? Transportes —quais? Reforma do estado — como e por onde?

Uma coisa vai ser certamente difícil conseguir. Chama-se crescimento. E sem crescimento, ou com crescimento negativo, lá irá por água abaixo o bluff Costa.

IMF warns on rising debt levels
By Chris Giles and Robin Harding in Washington
FT. April 9, 2014 1:42 pm

Rising levels of debt prompted by five years of ultra-low interest rates could exacerbate the dangers of bringing monetary policy back to normal, the International Monetary Fund warned on Wednesday.

New Global Crisis Imminent Due To “Poisonous Combination Of Record Debt And Slowing Growth", CEPR Report Warns
Zero Hedge. Submitted by Tyler Durden on 09/29/2014 07:52 -0400

The world has not yet begun to deleverage its crisis-linked borrowing. Global debt-to-GDP is breaking new highs in ways that hinder recovery in mature economies and threaten new crisis in emerging nations – especially China. The latest Geneva Report on the World Economy argues that the policy path to less volatile debt dynamics is a narrow one, and it is already clear that developed economies must expect prolonged low growth or another crisis along the way.

[...]

It warns of a “poisonous combination of high and rising global debt and slowing nominal GDP [gross domestic product], driven by both slowing real growth and falling inflation”.

[...]

The total burden of world debt, private and public, has risen from 160 per cent of national income in 2001 to almost 200 per cent after the crisis struck in 2009 and 215 per cent in 2013.

“Contrary to widely held beliefs, the world has not yet begun to delever and the global debt to GDP ratio is still growing, breaking new highs,” the report said.

terça-feira, setembro 23, 2014

Comunismo liberal ou outra coisa diferente?

Jean-Baptiste André Godin, "Familistère" (1848-1888)

Depois da grande crise do capitalismo global, que utopia?


EU Commission drags its feet on food waste
EurActiv. Published: 18/09/2014 - 17:29 | Updated: 22/09/2014 - 16:31

High-level decision makers at the European Commission are blocking its very own action plan to address food waste and to promote a sustainable food policy for Europe. Saying sorry will surely not be enough, writes MEP Bart Staes.

...

When it comes to food waste, there are many ethical, environmental and social arguments, but also economic reasons to counter this. Firstly, a more sustainable use of resources and energy means gains for every modern company and society at large. The EC estimates itself that every euro spent on fighting food waste, will prevent 250 kilo of food being wasted, with a value of €500.  That is what we call a good return on investment.  On top of this municipalities can save €9 (less waste to be treated) and indirectly we save €50 euro on environmental costs related to climate change.  As the food sector is one of the major contributors to greenhouse gas (GHG) emissions, it is crucial that the Commission has a clear strategy on sustainable food production and consumption in order to mitigate climate change. With recent reports citing that carbon dioxide in the atmosphere have grown at its fastest rate in three decades, it is clear that we must act now.

One of the nitty gritty details of the structural changes of the Commission, is that "food waste" was taken away from DG Environment and given to DG Sanco. This is no coincidence. It is clearly a political decision by the ones being busy with restructuring under the leadership of Catherine Day. The reason for this is that Mrs. Day and Barroso's cabinet – aka the neo- liberal orthodox church – did not like that Potočnik was in their eyes way too ambitious in proposing a very pragmatic and holistic approach to address the fundamental problems linked to Europe's food production and consumption.

Imaginem que havia um cabaz alimentar por pessoa a custo zero, como o ar que ainda respiramos sem pagar.  

Este cabaz calcularia através de sensores, códigos de barra e do peso, as proteínas, vitaminas e outros elementos essencias à vida. Este cabaz essencial seria, por outro lado, uma conta eletrónica unipessoal, disponível em qualquer dispositivo eletrónico de uso universal (cartão eletrónico, smarphone, etc.) Qualquer outro consumo de alimentos e bebidas que excedesse o teto quantitativo/qualitativo (e monetário) mensal previsto e conhecido de todos, seria pago com base nas leis convencionais do mercado (oferta/procura). 

Esta mesma lógica poderia ser aplicada ao consumo de água canalizada, energia elétrica, mobilidade e telecomunicações. Poderia haver ainda um regime de habitação de baixo custo seguindo princípios similares, guiado por critérios de superfície habitável per capita, qualidade dos materiais de construção e localização, pegada ecológica, etc. 

Por fim, cada cidadão teria direito a uma mesada para pequenos gastos. 

A educação e a saúde-medicina poderiam custar uma fração do que hoje custam a partir do momento que fossem parcialmente desmaterializadas e orientadas de acordo com as necessidades dos usuários, em vez de serem orientadas de acordo com os interesses dos mercados, das burocracias e das corporações profissionais. Tudo isto somado representaria uma fração adequada do rendimento per capita de cada país, redistribuída justamente através dos impostos e de um estado eficiente e leve, i.e., mais barato do que o atual, que é insuportavelmente caro e confiscatório.

Todo este setor social da economia seria financiado por uma economia comercial competitiva, cientificamente fundamentada e altamente tecnológica, assente sobretudo numa nuvem planetária de conhecimento intensivo e dinâmico, na automação, na robotização, na desmaterialização dos processos e serviços, em agentes computacionais inteligentes evolutivos, e numa espécie de rizoma social, forte e coeso no centro, capilar, diversificado e mutante nas suas infindáveis extremidades.

Num mundo assim, haveria estímulo à criatividade e à competição?

Sim, haveria compensações para o mérito, da mesma forma que existem nos dias de hoje. 

Há muito mais gente que gosta de ver televisão, do que gente que seja capaz, queira fazer, faça e goste de fazer televisão. Idem para o futebol, para as ciências, para as artes, etc.

Nada nos garante, entretanto, que saibamos fazer a transição de uma sociedade alienada pelo trabalho forçado e pela concentração pornográfica da riqueza e do poder, para uma sociedade mais livre, onde em vez de trabalhos forçados possamos desenvolver atividades voluntárias, vocacionais e sobretudo livres, por mais empenho, dedicação e esforço que estas exijam. As compensações extraordinárias para estes esforços voluntários de uma parte minoritária das populações seriam naturalmente reguladas pela necessidade, procura e disponibilidade relativas desses bens extraordinários. Ninguém seria obrigado a pagar a minha falta de voz musical, ou escrita literária medíocre, através de subsídios culturais burocráticos. Mas as grandes vozes líricas, ou de Jazz, tal como o mais recôndito génio da vanguarda artística por vir, esperado apenas por alguns, seriam recompensados diretamente pelo público que os quer ver, ouvir, ler e conhecer. Haveria criação, crítica da criação e do gosto, aplauso ou assobio, em suma uma comunidade responsável por uma espécie de luxo, ou consumo discricionário, em última instância precindível enquanto necessidade coletivamente assumida, mas com pleno direito a uma vida livre e partilhada, nomeadamente, entre minorias culturais.

Talvez tenhamos um dia que caminhar nesta direção. Se assim for, o grau de destruição dos velhos hábitos de criação e partilha de valor, e de trabalho, produção e consumo, é ainda insuficiente.

Talvez seja o momento de reler e conhecer as utopias de Charles Fourier, Robert Owen e Jean-Baptiste André Godin depois de ver e ouvir a palestra de Charles Hall sobre a grande transformação em curso na principal fonte energética do nosso paradigma de civilização e cultura. Este é certamente um acontecimento cuja importância está a anos-luz das legítimas irritações de cada um em volta dos medíocres e corruptos governantes que temos. 

Charles A. S. Hall, o criador do conceito EROI (Energy Return On Investment), demonstrou de uma forma simples que os elevados patamares de produção de riqueza e consumo atingidos pela humanidade ao longo do século 20 se ficaram a dever à disponibilidade de uma fonte de energia poderosa, abundante e barata: o petróleo — além da referência citada, ver o vídeo abaixo e ler também a entrevista dada ao Scientific American). 

Para termos uma ideia do poder do petróleo, imaginemos o que é empurrar o nosso automóvel, cujo depósito deixámos estupidamente chegar ao fim, durante ns 500 metros, até avistarmos a próxima estação de serviço, a cerca de 1Km do avistamento (que sorte!) Dois quilómetros depois, com um garrafão de 5 litros cheio de gasolina, passamos o precioso líquido para o depósito do carro. Se tivermos um Fiat 500 dos novos, aqueles miraculoso 5 litros de gasolina poderão transportar-nos —quer dizer, mover um peso superior a mil quilos— durante 100 Km! Que outro líquido transportável num garrafão de água vazio, pode conseguir algo sequer aproximado desta proeza?

O maior problema com os econometristas que temos é que nunca pensaram como seria a economia se, de repente, os carros começassem a ficar nas estradas. E a maioria de nós também não.




Para aqueles que temem o comunismo, porque o confundem com as ditaduras estalinista e maoista, estabelecidas precisamente para aproveitarem os impulsos poderosos do carvão industrial e do petróleo, sem os quais nunca teriam saído das tiranias agrárias em que viviam, talvez fosse útil começarem a pensar de novo no ideal comunista como uma economia democrática e descentralizada capaz de lidar com o decrescimento, com o desemprego estrutural (2) e com a ameaça de desorganização social, de uma maneira racional e humana, e em alternativa ao fascismo fiscal que poderá lançar o mundo numa espiral de empobrecimento geral, destruição acelerada das classes médias, desigualdades crescentes, opressão e brutalidade policial-militar sem precedentes.

O socialismo utópico merece nesta época, pelo menos, uma revisitação atenta.

NOTAS
  1. Slavoj Žižek. The Liberal Communists of Porto Davos." In These Times. Vol. 30, No. 4, p. 41-43,pril 2006. (English). The European Graduate School

    In the last decade, Davos and Porto Alegre have emerged as the twin cities of globalization. In Davos, the exclusive Swiss ski resort, the global elite of managers, statesmen and media personalities meets under heavy police protection, trying to convince us (and themselves) that globalization is its own best remedy. In the sub-tropical, Brazilian city of Porto Alegre, the counter-elite of the anti-globalization movement convenes, trying to convince us (and themselves) that capitalist globalization is not our fate, that, as their official slogan has it, “another world is possible.” Lately, however, the Porto Alegre reunions seem to have lost their impetus. Where did the bright stars of Porto Alegre go?

    Some of them, at least, moved to Davos itself! That is to say, more and more, the predominant tone of the Davos meetings comes from the group of entrepreneurs who French journalist Olivier Malnuit ironically refers to as “liberal communists” (that is “liberal” in the pro-market, European sense) who no longer accept the opposition between “Davos” (global capitalism) and “Porto Alegre” (the new social movements’ alternative to global capitalism). They claim that we can have the global capitalist cake (thrive as profitable entrepreneurs) and eat it too (endorse the anti-capitalist causes of social responsibility, ecological concerns, etc.). No need for Porto Alegre, they say, since Davos itself can become Porto Davos. +
  2. THE FUTURE OF EMPLOYMENT: HOW SUSCEPTIBLE ARE JOBS TO COMPUTERISATION?
    Carl Benedikt Frey and Michael A. Osborne
    September 17, 2013.

    Abstract

    We examine how susceptible jobs are to computerisation. To assess this, we begin by implementing a novel methodology to estimate the probability of computerisation for 702 detailed occupations, using a Gaussian process classifier. Based on these estimates, we examine expected impacts of future computerisation on US labour market outcomes, with the primary objective of analysing the number of jobs at risk and the relationship between an occupation’s probability of computerisation, wages and educational attainment. According to our estimates, about 47 percent of total US employment is at risk. We further provide evidence that wages and educational attainment exhibit a strong negative relationship with an occupation’s probability of computerisation. +
Atualização: 23/9/2014, 12:27

domingo, junho 29, 2014

O monstro

O Leviatã de Hobbes ao virar da esquina desta crise?

Do monstro da dívida ao monstro Estado


O Leviatã de Hobbes é a imposição do estado totalitário a uma sociedade dividida e incapaz de autogovernar-se democraticamente. O famoso monstro da dívida de que falava Cavaco Silva quando os primeiros sinais de um processo de endividamento incontrolado foram conhecidos, poderá estar já em plena metamorfose kafkiana. Desta mudança de estado poderá resultar uma nova burocracia totalitária, ainda que disfarçada e protegida pela separação entre o mundo real —cada vez mais pobre e estagnado— e o mundo da nova cultura virtual em rápida ascensão —onde a ilusão de democracia, de riqueza e de satisfação será atingida a várias dimensões, com forte predominância dos estímulos visuais, sinestésicos e fantasmáticos.

Sob o pretexto de atacar os ricos e os banqueiros, certamente responsáveis por uma parte do desastre em curso, os governos e os seus bancos centrais, burocracias e forças pretorianas estão obviamente tentados, se não já totalmente comprometidos, com uma estratégia de diversão em massa cujo objetivo é a imposição de uma espécie de capitalismo de estado à escala global, totalitário, e em última análise destinado a controlar a transição das sociedades de crescimento inflacionista acelerado para um novo tipo de sociedades de crescimento moderado (2-3%), ou semi-estagnadas e pautadas por um crescimento material escasso e lento —entre 0,1 e 0,2% (D H Fischer (1996), Thomas Piketty (2014)—, acompanhadas eventualmente por uma espécie de realidade aumentada capaz de gerar novos géneros de satisfação individual e coletiva, globais e instantâneas. Bem vindos, finalmente, ao Admirável Mundo Novo!

Não será, pois, por acaso, que as lutas intestinas no seio dos partidos —de que a tentativa de remoção estalinista da atual direção do PS desencadeada por Mário Soares e pelas suas tropas de avental é um vergonhoso exemplo— tenderão a vir ao de cima nos tempos mais próximos, assim como a emergência de movimentos populistas anti-partidários. Todos pretendem, no fundo, o mesmo: cavalgar o longo período de empobrecimento e desigualdade que se aproxima.

Marinho e Pinto "O dinheiro que dão aos eurodeputados é chocante"

Marinho e Pinto, em conversa com o jornal i, denunciou o dinheiro que é dado aos eurodeputados, no Parlamento Europeu, chegando mesmo a afirmar que se vive uma situação "aberrante", pois está a gastar-se o dinheiro dos contribuintes.

O atual cabeça-de-lista do Partido da Terra (MPT) revela que é demasiado dinheiro e para “os deputados oriundos de países como o meu, onde parte do povo pede esmolas e pessoas não saem porque não têm onde trabalhar, chegar e ver as disponibilidades financeiras... há qualquer coisa de errado”, denuncia.

Por Notícias Ao Minuto | 08:32 - 28 de Junho de 2014
European deputies award themselves a generous Christmas bonus
By Stefan Steinberg
20 December 2010

European parliamentary deputies awarded themselves a handsome Christmas bonus earlier this month. Members of the European parliament (MEPs) voted in favour of a 2 percent pay rise backdated to the middle of last year. In addition MEPS also agreed a 2.3 percent increase in their allowances. This means that all of the 736 deputies in the European parliament will receive a New Year’s lump-sum gift of over £5,400 [US$8,378] in addition to their regular salaries and expenses.

The increase in pay and allowances raises the net personal income of each deputy in 2011 to more than £170,000. This total combines an annual salary for MEPs of £80,829, plus the sum of £90,876 in “daily subsistence” and “general expenditure” expenses. It means the daily allowance for MEPs will go up from €297 to €304. MEPS are not required to provide any receipts or proof of expenditure for their allowances. MEPs can of course earn far more than £170,000 and are entitled to draw additional wages from other sources of work such as consultancy, legal services, etc.

Published by the International Committee of the Fourth International (ICFI). World Socialist Web Site.

A regra: "38.5% of a European Court judge's salary" deu nisto: os deputados europeus ganham mais de 7300 euros x 14 meses = 103,580 euros/ano. Fora as ajudas de custo, que superam os 113 mil euros/ano. Fora a segunda pensão de reforma que muitos deputados auferem, a cargo de um fundo de pensões próprio, mas cujo financiamento recai em 2/3 sobre os cidadãos europeus. Fora a proteção fiscal inadmissível de que beneficiam relativamente aos demais cidadãos europeus que pagam impostos. Fora as mordomias, invisíveis na folha de pagamentos, mas quem têm impacto evidente no orçamento familiar. Fora a corrupção!

A realidade destas cifras não é demagogia, nem populismo. É simplesmente a prova de que as burocracias são uma espécie de cancro social que cresce sem controlo. A riqueza produzida já não chega para tanto Pão de Ló, nem em Portugal, nem na Europa, nem em nenhuma outra parte do planeta. A oferta agregada mundial já não consegue satisfazer a procura agregada mundial. Daí a inflação dos preços da energia e dos bens alimentares. Daí o endividamento público e privado crescente e catastrófico. Só a dívida total dos Estados Unidos é praticamente a mesma do PIB líquido mundial. Se isto não bastasse para nos tirar o sono, pense-se no que poderá advir do mercado financeiro especulativo, quando é sabido que o valor nocional dos contratos de derivados OTC equivale a quase 10x o PIB mundial.

Notional amounts increased substantially in the first half of 2013, up from $633 trillion at end-2012. The increase was driven in part by a further shift towards clearing through central counterparties (CCPs). When contracts are cleared through CCPs, notional amounts reported for the BIS's surveys increase because one contract becomes two.

OTC derivatives statistics as at end-June 2013
BIS,  November 2013

A austeridade e o austericídio tornaram-se porventura inevitáveis, pois na realidade são o resultado de as elites mundiais (financeiras, industriais, intelectuais e partidárias) terem enfiado a cabeça na areia durante as últimas três décadas, enquanto os rendeiros, piratas e devoristas de todo o mundo se dedicaram e continuam a dedicar a sacar o máximo que conseguiram e conseguem de um pote cada vez menos generoso para a generalidade dos cidadãos. O business as usual prossegue, não só entre os especuladores do costume, mas também, de forma cada vez menos aceitável por parte dos eleitorados, entre as burocracias sindicais e estados maiores partidários tradicionais. Admiram-se depois que o populismo cresça na Europa, e por esse mundo fora. Estas aristocracias e nomenclaturas nepotistas não percebem, porque não querem perceber, que o seu futuro está tão ameaçado como o daqueles milhões que, desde 2006-2008, começaram a ser literalmente expropriados dos seus haveres, das suas poupanças e do seu futuro.

Mas acabarão por perceber. É só uma questão de tempo...

Civil Unrest Is Rising Everywhere: "This Won't End Pretty"

The Guardian reported that some 50,000 people marched in London to protest against austerity. They cried: “Who is really responsible for the mess this country is in? Is it the Polish fruit pickers or the Nigerian nurses? Or is it the bankers who plunged it into economic disaster – or the tax avoiders? It is selective anger.”

The exploitation by the bankers has been really a disaster. They have been their own worst enemy and in the end, they have become the symbol that inspires class warfare if not revolution. They are not the representatives of those who produce jobs. They are merely those who wanted to trade with other people’s money for free. When they win, it is their’s, but any losses are passed to the taxpayers. Bankers should be bankers – not hedge fund managers who keep 100% of the profits using other people’s savings.

Martin Armstrong Warns Civil Unrest Is Rising Everywhere: "This Won't End Pretty". Submitted by Tyler Durden on 06/28/2014 14:40 -0400. ZeroHedge

sexta-feira, junho 20, 2014

BES ao fundo! E agora?



O colapso do BES pode arrastar o regime para uma crise sem precedentes


Salgado faz visita relâmpago a Luanda para pedir ajuda — Jornal i, 21/6/2014
CMVM suspende acções do BES e ES Financial — Público, 20/6/2014
De Dono Disto Tudo a banqueiro reformado  — Público, 20/6/2014
O fim de uma era. O banqueiro do regime sai do BES sem glória — Jornal i, 20/6/2014

A pergunta óbvia é esta: e depois, como será? Por exemplo, quando soubermos até onde vão as metástases do cancro financeiro que nos levou ao desastre, que restará do sistema partidário, do CDS ao PCP, passando pelo Bloco Central da Corrupção?

Como viverá a partidocracia instalada e o que sucederá ao despesismo público quando ficar claro para todos que sem sistema bancário indígena o regime sofrerá inevitavelmente uma mudança genética?

Não é por acaso que o polvo do Bloco Central anda num autêntico frenesim disparando em todas as direções. Não é por acaso que as brigadas do reumático do PS e do PSD (com os sargentos-ajudantes e as cadetes de ocasião) tentam desesperadamente recapturar os aparelhos partidários hoje habitados por uma geração mais jovem (na casa dos 40 anos) que naturalmente procura salvar-se e salvar o país da enxurrada de despesismo, leviandade cultural e corrupção que nos conduziu a uma dolorosa e prolongada insolvência.

Recomendação única a Pedro Passos Coelho e António José Seguro: aguentem-se e ponham os velhos na ordem!

ÚLTIMA HORA

Grupo Espírito Santo tem de pagar 900 milhões à PT até AgostoJornal i, 27 Jun 2014 - 05:00

O investimento da PT foi realizado em duas sociedades do seu maior accionista (o GES) que têm problemas financeiros. A ESI está em situação de falência técnica (com capitais negativos) e tem um endividamento que supera os 7 mil milhões de euros. Segundo declarações de Machado Cruz, antigo contabilista da sociedade, ao semanário "Expresso", a contabilidade da ESI é falsificada desde 2008. Uma auditoria do Banco de Portugal detectou igualmente que faltavam 1,3 mil milhões de euros em dívidas nas contas da sociedade com sede no Luxemburgo. A Rio Forte, por seu lado, está sob enorme stresse financeiro, possuindo igualmente uma dívida elevada que obriga a um esforço de refinanciamento significativo.

Moody’s pondera descer rating do BES — Público, 26-06-2014

Espírito Santo Financial Group perde mais de metade do valor desde o início do ano  — Jornal de Negócios, 26 Junho 2014, 18:28
BES desvaloriza mais de mil milhões de euros em poucos dias — Jornal i, 26 Jun 2014 - 05:00
Salgado e Ricciardi extremam braço-de-ferro — Jornal de Negócios, 26 Junho 2014, 00:01
BPI: Possível corte da Moody’s pode ter impactos negativos nos custos de financiamento do BES — Jornal de Negócios, 26 Junho 2014, 09:33 por Carla Pedro


Mota Pinto no topo do BES, depois de Frasquilho, quadro superior do BES e deputado do PSD, ter sido colocado à frente da AICEP (Expresso, 4-4-2014), instituição que concentra boa parte do manejo da massa do QREN 2014-2020. O polvo BES tem muitas patas!

Mota Pinto: dos serviços secretos para chairman do BES
Notícias ao Minuto, 22-6-2014

Paulo Mota Pinto, atual presidente do conselho que fiscaliza os serviços secretos em Portugal, poderá vir a ser o próximo chairman (presidente do Conselho de Administração) do Banco Espírito Santo, avança o Diário de Notícias.

Atualização: 27-06-2014, 14:15 WET

terça-feira, junho 10, 2014

Risco americano supera risco europeu



Atacaram-nos pelos flancos, quase destruiram a Grécia, Espanha e Portugal, mas o tiro saiu-lhes pela culatra!


O risco de crédito nos EUA é maior do que o risco europeu pela primeira vez desde... 2010.

Percebe-se, pois, porque motivo Passos Coelho não tem nada que se demitir, Tozé deve barrar sem tibieza os golpistas a mando de Mário Soares, sargento Costa e companhia, e porque Cavaco tem deixado correr o marfim apelando sempre a um entendimento entre Seguro e Passos..

O Bloco Central da Corrupção (BCC) está apavorado pois já percebeu que a nova geração partidária que tomou conta do PSD e do PS só se fosse doida é que abandonaria as posições naturalmente conquistadas. Mas, por outro lado, se o BCC não tenta um golpe de estado contra tudo e contra todos, lançando mão do ainda que têm à mão, o destino que lhes resta é mesmo a reforma compulsiva.

A Europa é o centro do mundo, e o resto é conversa fiada. Por isso o dinheiro aflui, por isso os bancos estrangeiros em breve trocarão Nova Iorque por Frankfurt e Pequim. Por sua vez, em matéria militar a América já provou que é um império em declínio. A resistência passiva do resto do mundo chega para derrotar os seus falcões desmiolados e paranoicos.
US Riskier Than Europe For First Time Since 2010; BofA Admits 'Good News Is Bad News'
Submitted by Tyler Durden on 06/10/2014 14:47 -0400 - ZeroHedge

For the first time since early 2010, the risk of European investment grade credit is lower than that of the US. As BofA notes, recall that the European sovereign crisis escalated in the first part of 2010, as Greece had to be bailed out for the first time, and concerns spread to other countries in the periphery. However, that European spreads have now recovered - after trading at times more than 60bps weaker than US spreads - reflects more on differential technicals (flows) than fundamentals (reality). Credit spreads are currently driven mainly by technicals; this is not to say that technicals in the US credit market are not strong – they are – only that European technicals are stronger.

Furthermore, with now completely divergent central banks, BofAML believes that European technicals are going to remain stronger for longer. As they conclude, "relatively stronger US fundamentals lead to relatively weaker technicals," - or put another way "good news is bad news" for US credit markets...


Christine Lagarde pondera mudar a sede do FMI para Pequim!

A coisa é fácil de imaginar se atendermos ao Evereste de papel higiénico verde acumulado na China ao longo da última década. Resta apenas uma dúvida: poderá o FMI estar sediado numa ditadura? Se atendermos, por outro lado, aos milhares de mortos que a América tem deixado pelos teatros de guerra que tem fomentado por este mundo fora, e ainda ao estado policial que está a transformar o sonho americano num pesadelo, então talvez haja espaço para uma certa tolerância face ao PCC.

Beijing-Based IMF? Lagarde Ponders China Gaining on U.S. Economy
By Sandrine Rastello Jun 6, 2014 8:25 PM GMT+0100 - Bloomberg

The International Monetary Fund’s headquarters may one day shift to Beijing from Washington, aligning with China’s growing influence in the world economy, the fund’s managing director said.

sábado, junho 07, 2014

A caminho do colapso: 2030




O pico do petróleo convencional ocorreu em 2005


Entre 1998 e 2005 o investimento realizado de 1,5 biliões de dólares permitiu incrementar a produção de petróleo convencional em 8,6 mihões de barris/dia. Já entre 2005 e 2013, apesar do investimento na exploração e produção deste mesmo segmento de petróleo e gás convencionais ter subido para 3,5 biliões de dólares (equivalente ao PIB da Alemanha), a produção caiu 1 milhão de barris/dia.

Esta é a prova cabal de que o chamado Pico do Petróleo, previsto em 1956 por M. King Hubbert, foi mesmo atingido, ainda que com uma década de atraso relativamente aos seus cálculos (PDF).

E agora?

A resposta a esta situação tem seguido algumas estratégias complementares, orientadas sempre para o aumento da produção de energia:
  1. energia nuclear
  2. energias fósseis não convencionais: areias betuminosas e outros petróleos pesados e extra-pesados, petróleo encapsulado a grandes profundidades submarinas, liquefação do carvão, etc.
  3. bio-combustíveis a partir de sementes e plantas, resíduos orgânicos, etc.
  4. reforço da capacidade das centrais hidroelétricas
  5. energia eólica
  6. energia solar
  7. eficiência energética
A verdade, porém, é que estas estratégias revelaram-se incapazes de suprir minimamente as gigantescas necessidades energéticas —sobretudo em combustíveis líquidos— potenciadas exponencialmente desde que a civilização capitalista industrial começou a usar intensivamente o carvão (antracite e hulha) —desde o século 19 até hoje— e mais tarde acrescentou ao mix energético o uso de uma fonte de energia ainda mais poderosa, versátil e revolucionária: o petróleo/ gás natural.

O pico petrolífero foi atingido em 2005, ou seja, acabou nesse ano, à escala global, o petróleo barato. Em março de 2006, depois de uma viagem a Paris, onde conheci e assisti ao nascimento do GEAB, um boletim mensal de prospetiva idealizado pelo já desaparecido Franck Biancheri, escrevi neste mesmo blogue o seguinte:
Os investigadores e analistas do LEAP/E2020 identificaram 7 crises convergentes que as decisões da última semana de Março de 2006 catalizarão e transformarão numa crise geral, afectando todo o planeta nos campos político, económico e financeiro, bem como, muito provavelmente, no campo militar:

1. Crise de confiança no dólar
2. Crise dos desiquilíbrios orçamentais norte-americanos
3. Crise petrolífera
4. Crise da liderança norte-americana
5. Crise do mundo Árabe-Muçulmano
6. Crise de governabilidade mundial
7. Crise de governabilidade europeia

O António Maria, 2/3/2006 - "2006 crise mundial 1"  

Desde então que não nos cansámos de chamar a atenção de quem nos lê para as consequências catastróficas potenciais do encarecimento irreversível e escassez a prazo dos motores energéticos das sucessivas revoluções industriais e tecnológicas iniciadas com a máquina a vapor, o comboio, a eletricidade, o saneamento básico e a distribuição doméstica canalizada de água, gás e eletricidade.

É impressionante verificar a rapidez com que o Pico do Petróleo desencadeou sucessivas crises financeiras e económicas em todo o planeta. O investimento global na produção de energia é cada vez maior, e por conseguinte o custo da energia e o respetivo preço não param de aumentar.

Acima dos 100-120 dólares o barril, o efeito recessivo desta carestia energética é automático. As bolhas especulativas e o sobre endividamento dos governos, das empresas e das famílias são algumas das consequências previstas cuja confirmação se tornou dramática a partir do colapso do Lehman Brothers, em 2008.

Nós vamos ter que discutir publicamente aquela que é a mãe de todas as crises.

Quanto mais tempo perdermos nos jogos políticos e partidários tradicionais pior será para todos, porque mais tempo precioso perderemos na percepção, reconhecimento e estudo focado da situação energética nacional, europeia e mundial, e na definição de um caminho de adaptação à inevitável metamorfose energética, económica e social que se aproxima do mundo a grande velocidade.

Nós estamos, de facto, no meio dum turbilhão, do qual só sairemos se começarmos imediatamente a discutir o essencial e pusermos de lado o acessório.

Curiosamente, os partidos políticos, que poderiam ter um papel crucial nesta fase crítica do fim de um modelo de crescimento e de civilização, e na inevitável transição para algo ainda desconhecido, meteram as cabeças na areia.

Até quando?


REFERÊNCIA
Peak Oil Revisite...
by Brian Davey, Jun 03, 2014 - Feasta


“In a lecture to the Columbia University Center on Global Energy Policy in February of 2014 Steven Kopits, who is the Managing Director of the consultancy, Douglas Westwood explains how conventional “legacy” oil production peaked in 2005 and has not increased since. All the increase in oil production since that date has been from unconventional sources like the Alberta Tar sands, from shale oil or natural gas liquids that are a by-product of shale gas production. This is despite a massive increase in investment by the oil industry that has not yielded any increase in ‘conventional oil’ production but has merely served to slow what would otherwise have been a faster decline.

More specifically the total spend on upstream oil and gas exploration and production from 2005 to 2013 was $4 trillion. Of that $3.5 trillion was spent on the ‘legacy’ oil and gas system. This is a sum of money equal to the GDP of Germany. Despite all that investment in conventional oil production it fell by 1 million barrels a day. By way of comparison investment of $1.5 trillion between 1998 and 2005 yielded an increase in oil production of 8.6 million barrels a day.

Further to this, unfortunately for the oil industry, it has not been possible for oil prices to rise high enough to cover the increasing capital expenditure and operating costs. This is because high oil prices lead to recessionary conditions and slow or no growth in the economy. Because prices are not rising fast enough, and costs are increasing, the costs of the independent oil majors are rising at 2 to 3% a year more than their revenues. Overall profitability is falling and some oil majors have had to borrow and sell assets to pay dividends. The next stage in this crisis has then been that investment projects are being cancelled – which suggests that oil production will soon begin to fall more rapidly.”

[...]

“According to Kopits the vast majority of the publically quoted oil majors require oil prices of over $100 a barrel to achieve positive cash flow and nearly a half need more than $120 a barrel. But it is these oil prices that drags down the economies of the OECD economies.”

[...]

“Over the last few years central banks have had a policy of quantitative easing to try to keep interest rates low – the economy cannot pay high energy prices AND high interest rates so, in effect, the policy has been to try to bring down interest rates as low as possible to counter the stagnation. However, this has not really created production growth – it has instead created a succession of asset price bubbles. The underlying trend continues to be one of stagnation, decline and crisis.”

sábado, maio 17, 2014

Todos prometem crescimento!

Os stocks acumulam-se...

Todos prometem o que não existe. E há idiotas que acreditam e votam nas promessas — são os eleitores...


A promesa de crescimento é uma ladainha populista que só convence os idiotas e os que vivem aninhados no orçamento de estado. E Você, que não é idiota, acredita que vem aí crescimento, só porque o governo promete que agora sim, ou porque o pascácio do PS diz que com ele é que vai ser?

Então repare bem (clique nos gráficos para ampliar)

As vendas a retalho da Caterpillar mostram o fim do boom Keynesiano

Milhões de carros por vender em todo o mundo...
O Baltic Dry Index, que mede a procura de navios e carga marítima, o gráfico do colapso nas vendas da Caterpillar, líder mundial de máquinas usadas na contrução civil, as acumulações clandestinas de carros por vender que acabam na sucata (Unsold Cars), ou a queda imaprável do crédito privado na Europa, são indicadores da natureza sistémica da crise, cujo fim pressupõe outros paradigmas de desenvolvimento humano — precisamente aquilo de que as democracias populistas fogem, como o Diabo foge da cruz.

Tudo o que vimos até agora foi um maremoto de liquidez virtual deslocando-se dos bancos centrais para os bancos e governos, perpetuando o mito de que são ambos demasiado grandes para falir. À economia não chega, nem pode chegar, um cêntimo que seja!

Outro dado indesmentível da impossibilidade de crescimento económico nas atuais circunstâncias vem do setor financeiro, onde, não só é patente e escandalosa a indigência da banca portuguesa (BES, BANIF, BCP, ex-BPN, etc.), como é assustadora a exposição catastrófica do Deustche Bank (8º maior banco do mundo) ao buraco negro dos derivados financeiros.

Exposição do DB aos derivados financeiros especulativos

Deutsche Bank Scrambles To Raise Capital: Will Sell €8 Billion In Stock At Up To 30% Discount
Tyler Durden on 05/18/2014 11:46 -0400. Zero Hedge.

This is a chart we have been presenting since last year, updated periodically, showing just how vast Deutsche Bank's potential undercapitalization is/would be if, as in the case of Lehman, for some reason gross exposure suddenly became net, and there was counterparty failure. It is also the reason why we predicted as recently as last month when Deutsche announced it would issue another €1.5 billion in Tier 1 capital, that the German megabank's capital raising is far from over.

Sure enough, just out from Bloomberg:

    Deutsche Bank preparing a capital increase, aims to raise EU8 billion through new shares by end of June, Handelsblatt says, citing unidentified people in the finance industry.
    Deutsche Bank likely to get new single investor
    Negotiations ongoing, haven’t been made final
    Deutsche Bank declined to comment: Handelsblatt

Who will buy the shares?

Atualizado: 18/05/2014 19:06 WET

segunda-feira, maio 12, 2014

Crescimento? Onde?

Dois gráficos ilustrativos do não crescimento


Europa: desde 2007 que deixou de haver financiamento à economia

Japão: maior dívida soberana do planeta soma-se a contas externas negativas.

Crescimento zero não é problema.

O problema é que a economia e a segurança social dos países estão a ser engolidos pelo buraco negro da especulação financeira (derivados financeiros OTC) gerado pela carestia inevitável do petróleo e dos recursos naturais em geral, pela imparável intensidade energética e financeira da produção tecnológica, e pelo subsequente endividamento incontrolado dos governos, bancos, empresas e famílias em todo o mundo.

Solução?

Só consigo imaginar, infelizmente, a continuação do colapso em curso à escala global :(

sexta-feira, março 28, 2014

A grande sangria

Até South Park dedicou um episódio ao jubileu da dívida

Não pagamos?


A reestruturação das dívidas está em curso, ainda que na forma criminosa de uma expropriação fiscal sem precedentes das classes médias, a favor das burocracias instaladas e dos especuladores financeiros. Resta saber se a sangria vai ser ainda mais sangrenta e se atingirá, por fim, os banqueiros, credores e especuladores, como ocorrerá se houver um Jubileu Urbi et Orbi das dívidas públicas e privadas indexadas às rendas e aos empréstimos leoninos e especulativos.

François Morin (1), ex-membro do conselho geral do Banco de França é mais um defensor de um Jubileu das dívidas soberanas à escala global. A anulação das dívidas soberanas poderia começar, como alguns propõem, pela anulação pura e simples dos contratos (não ‘performativos’) de derivados OTC que incidam na especulação sobre taxas de juro, câmbios de moedas e dívidas soberanas.

É possível que os bancos centrais enveredem por esta via no dia em que perceberem que as dívidas soberanas são impagáveis e que a sua própria existência de banqueiros e especuladores desmandados será inexoravelmente ameaçada pelas multidões em fúria se, entretanto, os governos nada fizerem para atalhar a tragédia em curso.

É possível. Mas nada disto arruma a casa insustentável da economia/demografia mundial, no quadro da exaustão irreversível da energia, água, terra arável e matérias primas baratas.

A procura agregada global entrou em conflito irreversível com a oferta agregada global por volta de 1973. A 'revolução de preços' entre 1896-1914 e 1970-1974, referida por David H. Fischer em The Great Wave (1996), terminou. Desde 1970 que os salários reais não têm parado de descer nos Estados Unidos. Caminhamos, pois, para um modelo de crescimento moderado (entre 0 e 2%), que pressupõe uma destruição prévia do trabalho não produtivo remunerado, e uma destruição, portanto, do emprego e do consumo numa escala nunca vista.

Resta, porém, responder a esta pergunta: quantos milhões de vítimas esta mudança de paradigma custará à Humanidade. É bem possível que ocorram suicídios em massa nas sociedades urbanas onde o narcisismo alastrou como uma mancha social de inadaptabilidade às dificuldades que já chegaram e continuarão a agravar-se nas próximas décadas. É bem possível que proliferem guerras internacionais, guerras civis e revoluções.

Alguém quer discutir estes problemas sérios, em vez de continuar entretido no mercado da propaganda e dos jogos palacianos da indigência, da corrupção e do poder?




La grande saignée

À plusieurs reprises entre le XIVe et le XIXe siècle, les rois de France n’ont pas hésité à employer la méthode forte pour soulager l’État de ses dettes : l’incarcération ou la mise à mort pure et simple de ses créanciers. De telles mesures étaient appelées des ­« saignées ».

Selon François Morin, il faudrait retenir ces leçons du passé pour avoir une chance de surmonter le désastre financier à venir. Que se passera-t-il lorsque la bulle obligataire mondiale éclatera ? On peut craindre, entre mille maux, des explosions sociales massives et un délitement instantané des tissus économiques. Ni l’inflation ni la croissance ne réduiront l’endettement mondial. L’effacement de la dette publique ne manquera pas, alors, d’advenir, soit comme une retombée de cette formidable secousse financière, soit comme le résultat d’un nouveau système de financement de l’économie ­mondiale.

Notre seule planche de salut est de mettre en place ce nouveau système dès maintenant : il faut saigner la ­finance avant qu’elle ne nous saigne !

Professeur émérite de sciences économiques à l’Université de Toulouse, François Morin a été membre du conseil général de la Banque de France et du Conseil d’analyse économique. Il a notamment publié Le nouveau mur de l’argent. Essai sur la finance globalisée (Seuil, 2006), Autopsie d’une crise annoncée (Le Pérégrinateur, 2010), Un monde sans Wall Street (Seuil, 2011).

Lux Éditeur

NOTAS
  1. François Morin tem um texto seu “Finança global, Europa e cenários para a saída da crise”— publicado em Perspetivas para uma Outra Zona Euro, coletânea organizada por de Margarida Antunes, Júlio Mota, Vários, Luís Lopes, editada pela Coimbra Editora (ISBN: 9789723222173).

sexta-feira, fevereiro 21, 2014

Metamorfose dolorosa


O problema já não é de 'esquerda', nem de 'direita'


Os gráficos não são muito diferentes nos EUA e na Europa.

O crescimento pseudo-keynesiano conduziu, a partir de meados da década de 1970, as duas zonas mais ricas do planeta à desindustrialização, à destruição da poupança, à criação de empregos virtuais e/ou improdutivos, e ao sobre endividamento.

As principais bolhas, imobiliária; automóvel; do acesso gratuito ou quase gratuito ao ensino público, à saúde e outros bens sociais, como os prolongados subsídios de desemprego, ou as pensões e as reformas sem capitalização suficiente; da expansão das burocracias, nomeadamente públicas; e da especulação financeira, servida por uma monumental inflação monetária, com criação de dinheiro a partir do nada, estão a rebentar uma a uma, deixando estes centros económicos e as periferias de que se alimentaram até agora em estado de choque.

O problema criado não tem sequer uma origem ideológica.

Liberais e sociais-democratas jogaram ambos a mesma carta da expansão monetária, do crédito barato e do crescimento da dívida privada e pública. As democracias populistas, com os seus grupos de pressão bem organizados e representados, não deixaram outra saída. Teria sido necessária muita imaginação para escrever o necessário texto de um novo contrato social à luz da globalização objetiva e à luz da chamada 'tragédia dos comuns' que resulta da escassez dos principais recursos energéticos e naturais que alimentaram a civilização industrial da abundância.

A procura agregada mundial, quer por efeito do crescimento demográfico, quer por efeito de uma redistribuição mais ampla e menos injusta das infraestruturas e dos bens de consumo entre países desenvolvidos e países sub ou menos desenvolvidos, já não pode ser satisfeita pela oferta agregada mundial. Se aumenta a pressão da procura sobre a oferta, os preços inevitavelmente sobem, a menos que haja almofadas financeiras a mascarar a realidade (endividamento). Porém, se os preços sobem —e quando os níveis de endividamento privado e público se tornam insustentáveis, os preços sobem mesmo—, os países entram imediatamente em processos de recessão. Em sentido amplo estamos, pois, num processo irreversível de empobrecimento que é e será inevitavelmente desigual e potencialmente explosivo.

Como temos visto desde os saques de Londres e da Primavera Árabe, às tragédias de África, da Líbia, no Egito, na Síria, na Tailândia, na Venezuela ou na Ucrânia, a revolução está na rua. Falta-lhe, porém, um manifesto ideológico internacional convincente. E a pergunta a fazer é esta: porque não aparece esse manifesto?

Porque é que a revolta que alastra pelo mundo não tem ideologia, nem rumo, nem redenção possível? A minha resposta é esta: porque a metamorfose social necessária vai custar ainda muito sangue, suor e lágrimas, e provavelmente implicará a destruição/implosão dos edifícios financeiros, burocráticos e constitucionais que nos habituámos a considerar indiscutíveis e eternos.

segunda-feira, fevereiro 17, 2014

Foreigners Bought Half Of All London Homes Selling For Over £1 Million | Zero Hedge

A UE e o euro são as únicas vias de futuro à disposição dos europeus


Está em curso uma deslocação extraordinária de riqueza das periferias, parte delas em decomposição, para a Europa. O ritmo deste aluvião só poderá acelerar nos próximos anos. Prevejo que a decomposição das periferias chegue aos Estados Unidos antes de 2020, e que portanto o afluxo de liquidez à zona euro venha a adquirir então proporções gigantescas.

Temos pois que preparar as nossas economias para acomodar tamanho tsunami. Setores a privilegiar:
  1. defesa desburocratizada, descentralizada e eficiente do bem comum;
  2. garantir a segurança, a solidariedade e a paz social na Europa;
  3. reforçar as liberdades democráticas e o sistema de justiça europeu;
  4. instaurar rapidamente a união bancária e defender intransigentemente o euro como moeda de reserva mundial;
  5. modernizar radicalmente as infraestruturas de transportes;
  6. promover a eficiência e inovação energéticas na Europa, a par do desenvolvimento de uma política de paz no acesso às fontes primárias de energia fóssil;
  7. defesa da água, da terra e da qualidade ambiental como bens estratégicos inalienáveis de primeira importância
  8. alívio fiscal e recuperação dos danos causados às classes médias durante a grande crise sistémica do Capitalismo iniciada em 2007-2008. 
PS: a libra, tal como ocorreu ao franco suíço, será em breve indexada ao euro ;)
Foreigners Bought Half Of All London Homes Selling For Over £1 Million | Zero Hedge

Actually, according to the first detailed estimate of international
purchase activity in London by Knight Frank, the percentage of all
central London homes that sold for more than 1 million pounds to
foreigners in the 12 months through June 2013, was 49% to be exact. And
as we showed yesterday when we put China's loan creation in the context of US and Japanese QE, keeping in mind the use of proceeds of
all this newly created inside money has to ultimately go somewhere -
that somewhere in this case being London and other global luxury real
estate, said percentage is only going to get higher. Especially when one
adds Russian, the middle east and other various regions whose oligarchs
are desperate to park their money in "safe" havens.

Ainda sobre este mesmo tema
Com que rapidez a sorte dos mercados emergentes mudou. Até há bem pouco tempo, eram tidas como a salvação da economia mundial - os motores dinâmicos de crescimento que iriam dar conta do recado à medida que as economias dos Estados Unidos e da Europa se engasgavam. Os economistas da Citigroup, McKinsey, PricewaterhouseCoopers e de outras empresas previam uma era de crescimento ampla e sustentada, da Ásia até à África.

Mas agora, a depressão dos mercados emergentes está de volta. A grande derrota que as moedas destes países sofreram quando a Reserva Federal dos EUA começou a apertar a política monetária é apenas o começo; para onde quer que olhemos, ao que parece, há problemas profundos.

in Dani Rodrik, Morte por causas financeiras, Público, 16-02-2014.

O magnetismo do euro sobre os países petrolíferos e emergentes deve-se também a algo que poderá em breve reforçar ainda mais os investimentos estrangeiros na Europa. Refiro-me concretamente ao fim da progressão rápida do crescimento nos países emergentes.

in O António Maria, Seguramente um zero à esquerda (24-01-2014).

Última atualização: 17 fev 2014, 16:17 WET

sábado, fevereiro 01, 2014

Is your money safe at the bank? An economist says 'no' and withdraws his | PBS

Quem disse que a confiança regressou? Muito provavelmente assistiremos em breve ao colapso de vários bancos. Para já, os altos executivos vão-se suicidando, o que é um barómetro claro da situação.

Os bancos centrais, americano, europeu e chinês, entre outros, já concluíram que será muito arriscado prolongar a criação de dinheiro virtual para continuar a manter estados e burocracias despesistas, proteger bancos na insolvência, e estimular especuladores sem emenda.

Não só a dívida global continua a crescer, como aumentam dramaticamente as diferenças entre os estupidamente ricos e os escandalosamente pobres.

Por fim, as economias definham e o exército do desemprego aumenta paulatinamente, depois de ter subido em flecha...
Last week I had over $1,000,000 in a checking account at Bank of America. Next week, I will have $10,000.
Is your money safe at the bank? An economist says 'no' and withdraws his | Making Sen$e | PBS NewsHour | PBS

quinta-feira, janeiro 30, 2014

Marek Dabrowski says that the global economy's glory days are in the past. - Project Syndicate

Marek Dabrowski says that the global economy's glory days are in the past. - Project Syndicate
WARSAW – The global economy’s glory days are surely over. Yet policymakers continue to focus on short-term demand management in the hope of resurrecting the heady growth rates enjoyed before the 2008-09 financial crisis. This is a mistake. When one analyzes the neo-classical growth factors – labor, capital, and total factor productivity – it is doubtful whether stimulating demand can be sustainable over the longer term, or even serve as an effective short-term policy.

Menos atenção à propaganda e mais pensamento estratégico, p.f.
WARSAW
– The global economy’s glory days are surely over. Yet policymakers
continue to focus on short-term demand management in the hope of
resurrecting the heady growth rates enjoyed before the 2008-09 financial
crisis. This is a mistake. When one analyzes the neo-classical growth
factors – labor, capital, and total factor productivity – it is doubtful
whether stimulating demand can be sustainable over the longer term, or
even serve as an effective short-term policy.
Read more at http://www.project-syndicate.org/commentary/marek-dabrowski-says-that-the-global-economy-s-glory-days-are-in-the-past#Ub3Uc2TDLGGdJVBI.99
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– The global economy’s glory days are surely over. Yet policymakers
continue to focus on short-term demand management in the hope of
resurrecting the heady growth rates enjoyed before the 2008-09 financial
crisis. This is a mistake. When one analyzes the neo-classical growth
factors – labor, capital, and total factor productivity – it is doubtful
whether stimulating demand can be sustainable over the longer term, or
even serve as an effective short-term policy.
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– The global economy’s glory days are surely over. Yet policymakers
continue to focus on short-term demand management in the hope of
resurrecting the heady growth rates enjoyed before the 2008-09 financial
crisis. This is a mistake. When one analyzes the neo-classical growth
factors – labor, capital, and total factor productivity – it is doubtful
whether stimulating demand can be sustainable over the longer term, or
even serve as an effective short-term policy.
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– The global economy’s glory days are surely over. Yet policymakers
continue to focus on short-term demand management in the hope of
resurrecting the heady growth rates enjoyed before the 2008-09 financial
crisis. This is a mistake. When one analyzes the neo-classical growth
factors – labor, capital, and total factor productivity – it is doubtful
whether stimulating demand can be sustainable over the longer term, or
even serve as an effective short-term policy.
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terça-feira, dezembro 24, 2013

Boa Nova, Má Nova



Empires decline – revisited from Pedro Miguel Cruz on Vimeo.
Ampliar a janela para melhor apreciar.


2013 está no fim, mas a nossa desgraça não

Portugal is broke, unemployed, Spain’s Mini Me.

"Would you keep your money in Luxembourg, Portugal, Spain, Italy, or Greece? I didn’t think so. Dmitry Medvedev caught many people’s sentiments with the cryptic but unambiguous suggestion that you should “Get all money out of western banks now!”

2013 Year in Review: Austerity is not a policy. David B. Collum // Zero Hedge.

Deixar de trabalhar aos 55 anos e querer viver até aos 90 anos é uma utopia. Castigar socialmente a procriação é uma forma de suicídio coletivo. Qualquer miúda que tenha completado o ensino básico percebe isto.

O Japão enveredou por este caminho. Tentou mitigar o desastre demográfico anunciado substituindo o trabalho por autómatos e robôs. Desprezou a juventude, transformando a parte mais apta em escravos da tecnologia e da produtividade, e a maioria em consumidores compulsivos e deprimidos. O resultado foi a maior dívida pública do planeta e uma dívida externa que disparou a partir do momento que o valor do dólar começou o seu lento eclipse e as principais economias mundiais (Estados Unidos e Europa) entraram no jogo da destruição das taxas de juro. Até com a China a desvalorização competitiva da moeda japonesa perdeu a sua magia assim que Pequim percebeu o mecanismo do yen carry-trade. Em suma, nenhum artifício financeiro, por mais sofisticado que seja, pode esconder eternamente limitações estruturais na economia quando estas se instalam, seja no domínio da energia (peak oil), das alterações climáticas, ou da explosão demográfica que conduz a um desequilíbrio entre a procura agregada mundial (que ainda não deixou de crescer) e a oferta agregada mundial (que atingiu ou está muito perto de atingir limites inultrapassáveis).

1415-2015.

Acresce a tudo isto uma redistribuição geográfica da produção e do consumo para fora dos impérios onde esteve concentrada nos últimos seiscentos anos: Europa e Estados Unidos-Canadá. Esta mudança de padrão geográfico na distribuição da riqueza, maioritariamente a favor da região Ásia-Pacífico, onde há mais gente do que no resto do planeta, terá (está a ter) como consequência inexorável, numa primeira fase, o empobrecimento das populações da América do Norte e da Europa, a degradação dos respetivos sistemas de proteção social, e uma crise económica e demográfica sem precedentes. O eixo deste colapso passa pela extinção de grande parte do setor de serviços.

Os camponeses emigraram para as cidades, nos séculos 19 e 20, para alimentar de trabalho a indústria e depois os serviços. Hoje são centenas de milhões de seres humanos sem um palmo de terra a que se agarrarem, frequentemente endividados, e para quem o desemprego só não significará miséria imediata enquanto os estados tiverem eles próprios poupança suficiente para acudir à desgraça crescente. Na realidade, já deixaram de ter tal poupança. Por isso começaram a tomar de assalto os contribuintes indefesos e a negar os contratos sociais. Até já nos serviços financeiros mais sofisticados, onde predominou até há um ou dois anos o conforto e as remunerações altas, a ordem é para reduzir os custos com pessoal e evitar gastos que não sejam plenamente justificados. A avaliação de desempenho e a auto-avaliação são constantes, assim como a rotação dos recursos humanos, por mais experientes e bem preparados que sejam.

É este o palco da crise das dívidas pessoais, empresariais e soberanas.

A crise sistémica em curso desde 2006-2008, que só terá fim quando todo o sistema monetário colapsar, dando lugar a uma nova ordem monetária mundial, depois de uma violentíssima transferência das poupanças e bens materiais das classes médias para as elites financeiras, a par da destruição de boa parte da riqueza virtual acumulada pelos especuladores, é sobretudo fruto de um excesso de dinheiro criado a partir do nada com a finalidade de manter vivo por mais algum tempo o crescimento fictício de sociedades que praticamente deixaram de produzir e apenas consomem. Nem produzem, nem se reproduzem. Vivem apenas na ansiedade do consumo e do envelhecimento, cada vez mais aflitas e desorientadas, agarradas aos telemóveis, como se fossem amuletos.

Jesus expulsando os banqueiros judeus do templo.

O fascismo fiscal e o assalto puro e simples à riqueza dos povos, perpetrado pelas elites governamentais e partidárias corrompidas a mando das elites financeiras, está em marcha, é o corolário da crise sistémica escancarada, e passa nomeadamente por:

  • fechar a torneira dos empréstimos (impedindo assim que a diarreia monetária canalizada para os bancos gere inflação)
  • colocar a salvo as elites financeiras
  • resgatar os bancos, numa primeira fase, com dinheiro público
  • resgatar os bancos, numa segunda fase, assaltando descaradamente os depósitos dos clientes
  • resgatar os bancos, controlando os movimentos de capitais (aconteceu em Chipre, e o JP Morgan já começou a fazê-lo...)
  • resgatar os bancos atolados em dívida soberana, classificada como lixo, através de dinheiro público resultante da aplicação de taxas sobre depósitos bancários em toda a zona euro (para começar, 10%, propõe o FMI)
  • resgatar os bancos, numa terceira fase, deixando subir as taxas de juro e a inflação
  • diminuir a despesa pública, nacionalizando as pensões privadas
  • diminuir a despesa pública, convertendo as pensões em dívida pública
  • diminuir a despesa pública, acabando com a indexação das pensões à inflação
  • trocar os direitos económicos e as poupanças da maioria por bens tangíveis (energia, água, terra agrícola e florestal, propriedade imobiliária e metais preciosos/ jóias) através de execuções fiscais e judiciais de todo o tipo, a favor das elites.

O grande drama desta crise é que a mesma não é portuguesa, nem europeia, nem americana, mas sim, verdadeiramente, uma crise malthusiana global, ou de fim de uma longa era de crescimento, acelerada pela transferência da riqueza real produzida do Ocidente para o Oriente. Depois de tudo o que li nestes últimos dez anos, a última coisa que um povo habituado ao medievalismo, ao cesarismo (como me escrevia um amigo há dias) e a partir quando não pode mais, será capaz de fazer é uma revolução capitalista burguesa indígena, ou uma revolução cultural burguesa indígena. Vivemos dos ecos destas duas revoluções, que sempre vimos como estrangeirismos.

Seremos arrastados na onda seja ela qual for, e se for como a que apanhou os pescadores afoitos de robalos na Costa da Caparica, pior para todos nós :(

Não há alternativa a uma quebra consistente da oferta agregada global com a consequente destruição da procura, com tudo o que isto implica: desemprego, implosão financeira, falência e colapso dos regimes, quebra abrupta da demografia, conflitos sociais e guerras de grandes proporções. O travão do Quantitativa Easing (diarreia financeira) nos Estados Unidos (Tapering) poderá ser o princípio do default do último império da Era Moderna e Contemporânea (1415-2015) e, se assim for, a destruição da dívida americana induzida pela própria destruição do dólar (por exemplo, desvalorizando abruptamente, ou dando mesmo passo a um novo dólar...) será uma maremoto de proporções inimagináveis que chegará às praias lusitanas e europeias num instante.

Se houver muita confusão na Europa, se a Alemanha e o euro tremerem mesmo, mais de um golpe de estado ocorrerão na Europa, desde logo em Espanha e... em Portugal.

Os partidos políticos portugueses, na sua confrangedora ignorância intelectual, mediocridade cultural, irresponsabilidade política e egoísmo corporativo atroz, não serão os principais causadores da tragédia que se aproxima, mas serão duramente responsabilizados por tudo o que já deveriam ter feito, por tudo que têm que fazer e continuam a não fazer, em suma, por tudo o que não fizerem para defender Portugal, como estado, como nação e como povo, das consequências mais trágicas de uma metamorfose inexorável.

Formular votos de um Bom Natal com este desastre à porta prova que não perdemos o sentido de humor e que nos resta algum amor para dar.

Oxalá estivera completamente equivocado nas palavras que escrevi!

O bacalhau demolha no frigorífico. Amanha de manhã vou comprar uma pescada, couves e pão fresco. Depois de um passeio pela praia, passarei umas horas a ler. Alguns telefonemas depois, quando forem dez da noite, a consoada será servida com pompa e circunstância. O resto da história já conhecem.

Um Bom Natal, meus queridos leitores!

Última atualização: 24/12/2013 11:40 WET