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terça-feira, abril 02, 2019

Atrair milionários ou vender a independência a patacos?

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Irá a Espanha ficar com 100% das barragens portuguesas?

“O regulador espanhol que supervisiona a energia e outros setores quer fazer passar uma proposta que vai impor metas às energéticas através de rácios, limitando desta forma a remuneração a entregar aos investidores e o nível de dívida destas empresas.”
Negócios, 5/2/2019

“A energética vai reforçar o investimento em renováveis e redes nos países onde está presente, e Portugal não será exceção. Quanto à compra de novos ativos, como as barragens da EDP, garante que “considera sempre todas as opções”.”
Jornal de Negócios, 1/4/2019

A dívida da EDP é gigantesca (como há muito vimos alertando): mais de 16 mil milhões de euros! Daí a alienação de ativos. Só que entregar a concessão das barragens da EDP a Espanha é uma daquelas linhas vermelhas que só políticos e governos traidores atravessam, sem cuidar das consequências. Se o governo português não bloquear esta pretensão dos senhores Mexia e Manso, 100% das principais barragens portuguesas estarão nas mãos dos espanhóis (Iberdrola). Onde é que as nossas corrompidas elites têm a cabeça? Nos bolsos, suponho!


Centrais hidroelétricas portuguesas em operação: 73

EDP: 63 centrais hidroelétricas; 35 parques eólicos

Iberdrola: 0 centrais hidroelétricas; complexo hidroelétrico do Alto Tâmega (3 barragens em construção: 2023); 3 parques eólicos.


Atualizado: 2/4/2019, 17:01 WET

quinta-feira, janeiro 31, 2019

A caixa negra de um resgate

Caixa Geral de Depósitos (CGD) (3779646223)

Propaganda não é prosperidade, nem paga dívidas


Resgate a Portugal foi o terceiro maior de sempre na história do FMI 
O Jornal Económico. Mariana Bandeira, 03 Janeiro 2019, 14:09 
O resgate financeiro do Fundo Monetário Internacional (FMI) a Portugal foi o terceiro maior da história da instituição liderada por Christine Lagarde. O ranking das maiores injeções de capital do fundo é encabeçado pela Argentina e pela Grécia.

A venda de ouro português foi uma prática sistemática desde o fim da ditadura. Foi, aliás, esta venda que financiou, em primeiro lugar, os novos direitos sociais do Portugal democrático.

Tal delapidação só parou em 2010, quando o Banco Central Europeu proibiu o governo português de mexer nas 382,5 toneladas que ainda restam das 801,5 toneladas existentes em 1974 (Wikipédia).

Estas reservas são, pois, uma espécie de colateral dos 51,7 mil milhões de euros emprestados pelo BCE e pela UE, para evitar a bancarrota do país cor-de-rosa que temos.

Continuamos, ao fim de três anos de propaganda governamental e partidária responsável por uma divisão social e cultural crescente entre os portugueses, no top dos devedores mundiais:
  • quase 250 mil milhões de euros de dívida pública bruta (a líquida andará pelos 225 mM€) 
  • mais de 700 mil milhões de euros de dívida total. 
Existem mais ou menos dez milhões de contas bancárias em Portugal. Mas total do dinheiro depositado nos bancos não vai além dos 140 mil milhões de euros, ou seja, pouco mais de metade da dívida do Estado e das suas sinecuras.

Por outro lado, menos de 200 mil portugueses têm depósitos superiores a 100 mil euros.

É por estas e por outras que a recente decisão, do PS, PCP e Bloco, de forçar os bancos a comunicar ao fisco as contas com mais de 50 mil euros, se parece com a preparação para uma nova crise financeira indígena. Quando? Quando batermos outra vez à porta do FMI e do BCE, porventura na iminência de uma nova bancarrota nacional. O governo pretende, pois, saber em que bancos e contas estarão os montantes de depósitos e obrigações potencialmente sujeitos a perdas por efeito de um bail-in (resgate interno) em caso de nova crise bancária acompanhada de falência de bancos. A preocupação anunciada com fugas ao fisco não passa de uma cortina de fumo.

A crescente agitação sindical é um sinal claro de que a reversão da austeridade não aconteceu, e que o governo, aflito, se prepara para novas emergências. E você, já se preparou?

O grande buraco da Caixa tem uma cor dominante: a cor da rosa. Parece assim evidente que Geringonça rosa-e-vermelha tudo fará para esterilizar o novo inquérito e os possíveis processos judiciais que entretanto surjam à superficie. Basta investigar Joe Berardo e o que levou Elisa Ferreira (e Francisco Louçã...) para o Banco de Portugal, para que mais este esclarecedor artigo de Helena Garrido abra uma nova e mais negra Caixa de Pandora.
Se os deputados quiserem, haverá culpados na CGD 
Helena Garrido. Observador, 31/1/2019, 7:44 

Com a informação disponível neste momento já é possível concluir que o período que gerou mais perdas para a CGD foi o que vai de 2005 a 2007, quando Carlos Santos Ferreira era presidente do banco e Armando Vara e Francisco Bandeira faziam parte da sua equipa. No relatório e contas de 2016 conclui-se que 39,5% das perdas apuradas nesse ano (imparidades) vieram de financiamentos concedidos entre 2005 e 2007. 
É nesse período que se inicia o processo da Artlant com a espanhola La Seda; é nesses anos que se financia Vale do Lobo; é nesses anos que se concedem empréstimos que envolvem indirectamente a CGD na guerra pelo controlo do BCP e é nesse tempo que se dá crédito para controlar a Cimpor. Quando Carlos Santos Ferreira passa para o BCP, a administração seguinte da CGD, liderada por Fernando Faria de Oliveira e que vai até 2010, gera igualmente perdas significativas (23,6% dos 5,6 mil milhões de euros de perdas apuradas em 2016), mas já estamos perante erros por omissão, por não decidir acabar com alguns projectos.
Joana Amaral Dias: “A Caixa é um poço sem fundo” 
Jornal i, 01/02/2019 12:09 
Injetámos mais ou menos 20 mil milhões de euros na banca nos últimos dez anos; destes, seis mil milhões de euros foram para a Caixa. Recordo que, em 2012, a Caixa não fez parte do escrutínio da troika e logo nesse ano foram injetados pelo governo de Pedro Passos Coelho 1,5 mil milhões de euros sem qualquer auditoria. Agora não há imparidades no banco? Vão justificar esses 6 mil milhões como? E esta auditoria da EY é de 2000 a 2015 porque é óbvio que antes de 2000 exatamente a mesma promiscuidade se passou na Caixa Geral de Depósitos, não há dúvidas. Teve momentos melhores, teve momentos piores, talvez este momento tenha sido pior, sobretudo depois de 2005, mas isso não foi um vírus ou um bug do milénio. A Caixa sempre foi este poço sem fundo, serviu como braço forte do poder político para basicamente comprar aliados, para arquitetar uma perigosa rede clientelar que contribui para que Portugal seja campeão da corrupção.

Atualizado em 02/02/2019, 16:08 WET

quarta-feira, novembro 15, 2017

Fim da austeridade? LOL


Depois do verão de São Martinho vem o inverno.

Negócios jng@negocios.pt15 de novembro de 2017 às 11:18 
Mário Nogueira, secretário-geral da Fenprof, contabilizou na ordem dos 90% a adesão dos professores à greve desta quarta-feira, 15 de Novembro, convocada para exigir que as carreiras dos docentes sejam descongeladas e para que todo o tempo de serviço seja contabilizado para efeitos de progressão de carreira.

O fim da austeridade chama-se AUSTERIDADE DAS ESQUERDAS, por mais que os sindicatos finjam desconhecer a realidade. Disse isto mesmo na RTP (Política Sueca) desde que a Geringonça tomou o poder. Claro que há neste caso um sério problema sobre a qualidade do nosso estado de direito democrático!

Não se iludam com o dinheiro fácil!

Negócios, Nuno Carregueiro nc@negocios.pt15 de novembro de 2017 às 10:34 
Portugal voltou a emitir dívida de curto prazo com taxas negativas, que foram ainda mais baixas do que no último duplo leilão realizado a 20 de Setembro, numa operação onde angariou 1.500 milhões de euros, que corresponde ao limite máximo do montante indicativo.
Os bilhetes do Tesouro com maturidade em 18 de Maio de 2018 (seis meses) foram colocados com uma taxa média de -0,4%,o que compara com os 0,363% da última emissão. Já os bilhetes do Tesouro (BT) com maturidade em 16 de Novembro de 2018 (12 meses) foram emitidos com uma taxa de -0,349%, o que compara com os -0,345% da emissão de Setembro.

É por isto que os sindicatos andam tão agitados. São insaciáveis! O problema é que, com desconto, ou com juros (e estes vêm aí!), há que pagar a dívida pública. Esta é tão grande que daria para encomendar mais de 1600 Airbus!!!

segunda-feira, maio 08, 2017

Dívida, uma Supernova?

Fotografia: Axel Morin. Detroit.

Os que ganham muito são cada vez menos, e os que ganham pouco (cada vez menos) são cada vez mais. 


É este o verdadeiro paradoxo que o otimismo alucinado de alguns não alcança, ou alcança, mas ignora, preferindo as loas populistas a que os economistas desonestos conferem legitimidade académica.

E é também por isto que o declínio da era petrolífera deixou de se traduzir na subida dos preços do barril de crude, mas antes na deflação dos mesmos, arrastando países como a Venezuela, Angola, Moçambique, Nigéria, e o Médio Oriente em geral, para o colapso das respetivas sociedades.

Neste momento o status quo e o business as usual são meras aparências de estabilidade e progresso.

Na realidade, assistimos a divisões económicas, sociais e culturais profundas nas sociedades, que os movimentos populistas e o fundamentalismo religioso induzido refletem.

Estamos no fim de um ciclo de prosperidade mundial com mais de 100 anos, proporcionado pelo uso intensivo de energia abundante e barata, e por aquilo a que poderíamos chamar inflação criativa.

Esta grande revolução nos preços decorreu sensivelmente entre 1897 (D. H. Fischer) e o momento em que o decréscimo persistente da produtividade mundial, da inflação e do rendimento/consumo per capita anunciou o seu fim, dando lugar a medidas contra-cíclicas desesperadas, como a globalização e a desregulamentação laboral, comercial e financeira, o otimismo tecnológico, o endividamento público e políticas monetárias expansionistas, e ainda a grande especulação capitalista, entre 1983 e 2007, estimulada pela negociação eletrónica de títulos e outras operações financeiras (HFT), e pelos produtos financeiros complexos: Credit Debt Obligations (CDO), Credit Default Swaps (CDS), Asset Backed Secutioes (ABS), Over-the-counter Derivatives (OTC), etc.

O dilema atual é este: o petróleo é demasiado barato para quem o produz, e demasiado caro para quem o consome. Por outro lado, segundo defende Gail Tverberg, o endividamento, a eficiência e a complexidade como resposta à mudança de paradigma energético e ao fim de um ciclo económico de longa duração não impedem a chegada de uma nova era, que será necessariamente distinta da que agora declina rapidamente.

Vale a pena ler a este propósito o que Gail Tverberg apresentou recentemente em Bruxelas, num workshop promovido pela Comissão Europeia: “Elephants in the Room Regarding Energy and the Economy.”

Trata-se de uma súmula de recentes trabalhos seus, nomeadamene sobre a natureza dissipativa das estruturas económicas, e sobre o aviso paradoxal do fim da era petrolífera, ou seja, a queda dos preços do petróleo, provocada pelaa queda da procura agregada mundial de crude, pela queda dos rendimentos do trabalho, pela erosão imparável dos dividendos empresariais (nomeadamente nos produtos energéticos), pela divisão social que se agrava na maioria das sociedades desenvolvidas e ricas, ou ainda pelas crises políticas insanáveis que vão destruindo paulatinamente os estados e as instituições democráticas.

Eu recomedaria a leitura destas reflexões a Emmanuel Macron, mas também ao otimista cada vez mais irritante, Marcelo Rebelo de Sousa.




Most people assume that oil prices, and for that matter other energy prices, will rise as we reach limits. This isn’t really the way the system works; oil prices can be expected to fall too low, as we reach limits. Thus, we should not be surprised if the OPEC/Russia agreement to limit oil extraction falls apart, and oil prices fall further. This is the way the “end” is reached, not through high prices.



Many people think that the increasing use of tools can save us, because of the possibility of increased productivity.

mas...

Using more tools leads to the need for an increasing amount of debt.




—in “Why We Should Be Concerned About Low Oil Prices”
Posted on May 5, 2017 by Gail Tverberg @ Our Finite World

sábado, maio 14, 2016

O fator subjetivo da revolução

Virar a esquerda contra a direita não resolve o problema


O triângulo dos recursos tem um limite físico e comercial

O chamado fator subjetivo da transformação do capitalismo já não se chama proletariado, como ocorreu quando Karl Marx identificou este motor social na segunda metade do século 19. (1848-1867). A crise do capitalismo atual é sistémica e objetiva, e por isso não depende de modo relevante de um qualquer ator social privilegiado. Na realidade, a transição sistémica de que necessitamos só poderá ocorrer com sucesso se houver uma cooperação exigente entre, de um lado, os trabalhadores não especializados e, do outro, os negócios, os governos e os trabalhadores/criadores especializados.

Assim sendo, quer os tradicionais partidos da esquerda operária, quer os derivados tardios da retórica leninista e suas variantes (estalinista, trotskista e maoista) fazem hoje pouco sentido. O eco deste mundo há muito desaparecido mas que continuamos a escutar não passa de uma máscara atrás da qual se aninham burocratas e intelectuais ociosos e oportunistas.

A transformação que o capitalismo está neste preciso momento a sofrer é estrutural e deriva sobretudo da sua globalização num contexto de esgotamento do paradigma energético fundacional: energia fóssil abundante, facilmente transportável e barata + tecnologia. A tecnologia continua a expandir-se rapidamente, mas a energia barata acabou. Apenas porque o endividamento global se transformou numa bolha especulativa foi até agora possível esconder o problema real que temos diante de todos nós.

Estamos metidos num grande sarilho do qual talvez seja possível sair, mas não agravando a bolha do endividamento público e privado que asfixia o crescimento, nomeadamente através da destruição do poder de compra dos trabalhadores não especializados, e da destruição financeira em curso.


Because the oil problem is one of diminishing returns, adding debt becomes less and less profitable over time. There is a potential for a sharp decrease in debt from a combination of defaults and planned debt reductions, leading to very much lower oil prices, and severe problems for oil producers. Financial institutions tend to be badly affected as well. If a person looks at only past history, the situation looks secure, but it really is not.
Substitutes aren’t really helpful; they tend to be high-priced and dependent on the use of fossil fuels, including oil. They cannot possibly operate on their own. They add to the “oversupply at high prices” problem, but don’t really fix the need for low-priced supply. 
[...] 
We are reaching a head-on collision between (1) the rising cost of energy production and (2) the falling ability of non-elite workers to pay for this high-priced energy. 
[...] 
As I have previously mentioned, most researchers begin with the view that soon there will be a problem with energy scarcity. The real issue that tends to bring the system down is related, but it is fairly different. It is the fact that as we use energy, the system necessarily generates entropy. This entropy takes the form of rising debt and increased pollution. It is these entropy-related issues, rather than a shortage of energy products per se, that tends to bring the system down.  
in “The real oil limits story; what other researchers missed”
Our Finite World. Posted on May 12, 2016 by Gail Tverberg


quinta-feira, setembro 10, 2015

Peak Debt: o pior ainda está por vir!

Mário Soares em quinta visita a José Sócrates. Correio da Manhã

Quem vai pagar e como 10 mil milhões de euros/ano, nos próximos quatro anos? É esta a fatura do serviço da dívida e das PPP que Sócrates nos deixou.


Não liguem às sereias populistas do regime. Preparem-se!

Ou seja, as empresas produtivas e as famílias deixaram de poder endividar-se, nem que seja a taxas negativas, dado o passivo acumulado ao longo das duas últimas décadas.

Portanto, a destruição das taxas de juro e a guerra cambial apenas servem para continuar a inchar a bolha das dívidas públicas e a especulação financeira (1) alimentada pela expansão da massa monetária, ou seja, pela transformação do dinheiro que não existe em fichas de casino.

O mais lamentável de tudo, em Portugal, é que são sobretudo o PS e o resto da esquerda que, de uma maneira ou doutra, têm praticado, defendido e continuam a defender esta corrida de lémures para o precipício.

Bastou ouvir ontem, uma vez mais, o realejo de António Costa, para percebermos que só tem uma ideia na sua disléxica caixa de neurónios: pedir mais liquidez virtual emprestada ao BCE e aos mercados da especulação financeira, para assim continuar a alimentar os rendeiros, os devoristas e a casta burocrática de que a nomenclatura partidária do arco parlamentar é a expressão mais irresponsável e potencialmente criminosa.

Nós podemos corrigir esta desastrosa deriva, desincentivando o consumo não produtivo, diminuindo drasticamente a dimensão e custo do estado (tudo o que não é estritamente necessário, deve fechar portas), desfazendo todos os negócios leoninos entre os rendeiros do regime e o estado, e ainda, promovendo (sem captura oportunista dos processos) o fortalecimento de todos os mecanismo de solidariedade e organização social na base da pirâmide social. (2)

Last but not least, devemos colocar as nossas vozes e forças ao lado de quem denuncia e combate a especulação financeira desenfreada que nos trouxe até aqui. Segundo a ONU, entre cem a cento e cinquenta milhões de pessoas foram atiradas para a pobreza em consequência do maremoto financeiro. Destas, dez a quinze milhões terão morrido de fome, ou de ansiedade extrema, muita da qual conduzindo ao suicídio.


NOTAS
  1. David Stockman Sums It All Up In 3 Minutes

    Stockman unleashes truthiness hell on Bloomberg TV: “Federal Reserve [actions] will have disastrous long-term consequences... when you deny price-discovery in the market for so long, it is a massive subsidy to speculation... In an era of peak debt, the only thing zero interest rates achieve is create an enormous incentive for Wall Street to gamble more and more recklessly...”

    Zero Hedge, Submitted by Tyler Durden on 09/09/2015 19:00 -0400
  2. Resposta a uma pergunta no Facebook

    Pergunta: “Pode especificar melhor isto: “desincentivando o consumo não produtivo” e isto: “tudo o que não é estritamente necessário”, para que não existam dúvidas e ainda comecem a queimar bibliotecas...”

    Resposta: Incentivar o consumo de telemóveis e automóveis é errado, sobretudo num país com a pior 'intensidade energética' (i.e. custo de energia por unidade de PIB) da Europa; continuar a obrigar os alunos do primário e do secundário a pagar anualmente milhões de euros em manuais escolares, ou manter a frota automóvel (camuflada) do estado, são três dos muitos exemplos do que está ainda por cortar e corrigir na despesa inútil, pública e privada, e que será cortado e corrigido, quer queiram os políticos e a nomenclatura burocrática, quer não.

Atualizado em 10 set 2015, 16:53

sábado, agosto 29, 2015

Quem subsidia o crescimento?


Gas Stealers Beware 1974
David Falconer/National Archives, Records of the Environmental Protection Agency.
Wikipedia

Depois do pico do petróleo barato, o pico da dívida e a fossa da taxa de juros


1970: pico do petróleo nos EUA (aumento exponencial das importações).
1971, 15 de agosto: Nixon decreta o fim da convertibilidade do dólar (1 onça de ouro = 35 USD).
1973, março
: abandono da convenção de Bretton Woods.
1973, outubro: embargo petrolífero decretado pela OPEP.
1974: início do crescimento pela via do consumo, do endividamento, e da criação de moeda virtual.
1988: Basel I (por cada 100USD de depósitos/ empréstimos, os bancos passam a ter em reservas obrigatórias, não 20, mas apenas 8 dólares).
1990: Japão inicia primeira experiência, pós-keynesiana, de monetização especulativa do endividamento público e privado, através da criação monetária virtual, com desvalorizações cambiais agressivas e sucessivas, e destruição paulatina das remuneração do dinheiro (taxas de juro a caminho de -0).
2004: Basel II elimina as exigência de reservas, transferindo a avaliação objetiva da solvência dos bancos para um regime inverificável de avaliação qualitativa, através das famosas agências de notação financeira (rating agencies).
2008: Copiando a receita japonesa da década de 1990, a China começa a expandir a sua base monetária de forma especulativa, através de empréstimos sem retorno a uma economia assente na exportação e atingida pelo colapso do Lehman Brothers .
2009: Reserva Federal (Fed) e Banco de Inglaterra (BoE) começam a imprimir dinheiro virtual. Os Estados Unidos imprimiram 4 biliões de USD, entre 2009 e 2012, à razão de 1 bilião de dólares por ano ($1.000.000.000.000), ou seja, 80 mil milhões por mês.
2015: BCE anuncia a compra de ABS (Asset Back Securities) até ao montante de 60 mil milhões de euros/mês, até, pelo menos, setembro de 2016. Segundo Paul Mason (Postcapitalism, a guide to our future) a expansão da massa monetária virtual, desde 2008, andará pelos 12 biliões de dólares, ou seja, 1/3 do PIB mundial.


Aqui vão alguns gráficos para ajudar alguns dos nossos jornalistas económicos a papaguearem menos a voz do dono, a escreverem menos disparates, e a pensarem com os seus próprios neurónios.

Lição número 1:

—a algazarra entre os partidos da corda, sobre a dívida portuguesa e o défice, não diz respeito às suas diferenças de linguagem e demagogia, mas ao simples facto de a economia ser há muito uma realidade global. Ou seja, a diferença entre votar no PS, ou no PSD, é apenas a diferença entre votar em mais despesa, apesar do descalabro em curso (PS), ou continuar com as barbas de molho até que a tempestade amaine (PSD). 

No entanto, se soubermos combater a cleptocracia indígena (nomeadamente os DDT do Bloco Central da Corrupção), seremos também capazes de preparar o país para se defender, com algumas garantias reforçadas, do dilúvio da dívida onde corremos sérios riscos de nos afogarmos todos. A sorte de José Sócrates e da família Espírito Santo mostra que o perigo chega mesmo a todos!

Os Estados Unidos-Canadá, o Japão e a Europa, a que se juntaram a Austrália, no início da década de 1980, e a China no início da década de 1990 (1), deixaram de poder crescer à custa do resto do planeta, entre outras razões porque os chamados segundo e terceiro mundos acordaram e ganharam garras suficientes para exigirem a sua parte do bolo da distribuição do PIB mundial.

É por causa desta equilibração dos pesos da distribuição da riqueza global, que as bolhas especulativas se formaram tão rapidamente (décadas de 1980, 1990, 2000, 2010, 2020...), o endividamento global disparou (300% do PIB mundial em 2014), e esrtamos todos neste momento a caminho de um buraco negro. Ninguém sabe o que iremos lá encontrar!

Nestas situações históricas, os países mais antigos devem fazer o que os velhos recomendam: cuidados e caldos de galinha.

Os dois gráficos que se seguem são claros sobre a dimensão do monstro que fomos capazes de parir.

That 70s show – episode 4
by Eugen von Böhm-Bawerkon August 28, 2015
4

Source: History of the United States from Colonial times to 1970, Bureau of Economic Analysis, Bawerk.net

...why did debt levels rise so dramatically after the final central bank restraint was removed? It is essentially due to the massive subsidy central bankers provided. If you tax a thing you get less of it (think all the tax on labour) but if you subsidise it you will get more of it. As time went by, debt obviously grew ever larger and eventually large enough to become an integral part of the business cycle. In other words, central banks could not stop the subsidy for fear of creating, well, a 2008 financial meltdown.

So every time spending growth came to a halt, the central banks would step in and lower rates and consequently also debt servicing cost. With more money in consumers’ pockets spending could resume.

As debt continued to grow, debt servicing cost obviously rose along with it, and the high in interest rates could never reach its previous peak before a new slump in spending occurred. In addition, the central banks always had to lower rates to a lower level than in the preceding cycle to reinvigorate spending.

When debt funded spending could not be stimulated even at zero rates the necessary deleveraging started with devastating consequences for global finance, trade and output.

Source: Federal Reserve, Bundesbank, European Central Bank, Bank of England, Bank of Japan, International Monetary Fund, Bawerk.net

NOTAS
  1. A Grande Miragem da China. A China esteve de pernas cortadas no que se refere ao seu crescimento e desenvolvimento enquanto não pôde dispor de petróleo barato. Até 1960, quando finalmente começou a produzir petróleo, a partir das grandes reservas de Daqing, descobertas em 1959, tudo mudou. Pequim deixou de depender de Moscovo e do Ocidente para se abastecer do precioso ouro negro. Foi a descoberta das grandes reservas de petróleo na bacia de Songhua Jiang-Liao —cujo pico de exploração foi, no entanto, atingido em 2014— que viria a pulverizar o comunismo chinês, inventado por Mao Zedong, e tão do agrado de alguns intelectuais sado-masoquistas da Europa. Foi a junção económica entre as reservas próprias de petróleo e as suas formidáveis reservas de mão de obra barata e submissa que levou a China até aos píncaros de 2007. No entanto, a conjunção entre o colapso da procura agregada mundial, pondo fim ao boom das exportações Made in China, a par do fim do petróleo barato chinês, fazendo da China hoje o maior importador de petróleo do planeta, podem transformar 2015 no ano da Grande Miragem da China. Talvez alguns chineses já se tenham apercebido disto mesmo, e por isso começam a voar como as andorinhas em direção ao Ocidente, nomeadamente para Portugal.

domingo, maio 31, 2015

Tragédia grega em números

A grande pergunta é esta: em caso de Grexit quem paga? 


A rol do serviço da dívida em 2015, começando pelo mês de junho, é assustador. Mas depois, até 2057, mais assustador é!


Dívida grega: pagamentos devidos em 2015
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Dívida grega: pagamentos devidos em 2057
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terça-feira, maio 12, 2015

EUA: 22 estados falidos


Estados americanos com défices fiscais perigosos e ameaças pendentes de suspensão de pagamentos

Os PIIGS não passam de uma manobra de distração


Portugal, tal como os outros países visados pelo odioso acrónimo, chegaram à pré-bancarrota em grande medida por causa da fantasia de um crescimento virtual assente em dívidas públicas, empresariais e familiares exponenciais, políticas públicas neoneoneokeynesianas, e consumo conspícuo. Mas as grandes bolhas estão noutros lugares: Japão, Estados Unidos, Inglaterra. Não se vêm com a mesma acuidade porque os respetivos governos e bancos centrais mentem permanentemente sobre o que se passa. Olhando, porém, para a pobreza e instabilidade social crescentes nesses país compreendemos perfeitamente que o buraco negro criado —nomeadamente o Grande Buraco Negro dos Derivados Especulativos (OTC Derivatives)— poderá, a qualquer momento, empurrar o planeta para um colapso financeiro e económico bem pior do que o de 2008.

Quase metade dos estados dos EUA está oficialmente falida. E no entanto as agências de notação de crédito mantêm o país em AA+ (excellent) !!!

Via AP/ Zero Hedge:

An Associated Press analysis of statehouse finances around the country shows that at least 22 states project shortfalls for the coming fiscal year. The deficits recall recession-era anxiety about plunging tax revenue and deep cuts to education, social services and other government-funded programs.

The sheer number of states facing budget gaps prompted Standard & Poor’s Ratings Service to call the trend a sort of “early warning.”

“After all, if a state is grappling with a budget deficit now, with the economic expansion approaching its sixth anniversary, what will be its condition when the next slowdown strikes?” credit analyst Gabriel Petek wrote in a recent report.


[...]

The forces at work today are somewhat different than when the recession took hold in 2008. In some states, revenue growth has been stagnant, missing projections and making it difficult to keep pace with expanding populations and rising costs for health care and education. Other states have been hurt by a steep decline in oil prices or seen their efforts to promote growth through tax cuts fail to work as anticipated...

A majority of states have failed to climb back to their pre-recession status, in terms of tax revenue, financial reserves and employment rates, said Barb Rosewicz, who tracks the fiscal health of states for The Pew Charitable Trusts.

Alabama, for example, faces a $290 million shortfall after a voter-approved bailout expires at the end of the current fiscal year. If nothing is done, the courts will not have the staff to send jury notices, monitor juvenile delinquents, process protection orders and collect and distribute child support payments, he said.

“This is an insane proposition,” Hobson said. “The public would suffer.”

Nationally, total tax revenue coming to the states has been rising, but the pace has been slow as employment continues to lag pre-recession levels in more than half the states, according to the Pew Charitable Trusts. Pew also found that 30 states are collecting less revenue than at their peak.

The Census Bureau recently reported that total state government tax collections in fiscal year 2014, which in most states ended last June, increased 2.2 percent over the previous fiscal year. That represented the fourth consecutive overall increase, but 17 states reported declines in tax revenue from the previous fiscal year, according to the report. Alaska saw the biggest drop, of $1.7 billion.

In Illinois, lawmakers are trying to figure out how to close a $6 billion projected shortfall for the next fiscal year, due largely to the expiration of a temporary tax increase [and] in Kansas, the Republican governor and GOP-dominated Legislature now confront budget deficits after aggressive tax cutting that prompted them to reduce school funding this spring.


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quarta-feira, abril 22, 2015

Albuquerque, Casalinho, Mortágua

Cristina Casalinho

Mandem os homens de férias!


IGCP avança com troca de dívida
Negócios, 22 Abril 2015, 12:16 por André Tanque Jesus 
A Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública (IGCP) vai realizar uma troca de dívida já na próxima quinta-feira, 23 de Abril. Com a operação em causa, o instituto liderado por Cristina Casalinho pretende comprar obrigações do Tesouro perto da maturidade, emitindo, em troca, títulos com maior maturidade.

“O IGCP vai realizar no próximo dia 23 de Abril, pelas 10h00 horas, uma oferta de troca”, anunciou em comunicado o instituto responsável pela dívida nacional. Em causa, explica, estão as linhas de OT com maturidade em Outubro de 2017 e Junho de 2018. Actualmente, estas têm ainda, respectivamente, 11,25 mil milhões e 10,85 mil milhões de euros em títulos disponíveis.
Se deixarmos o país ao cuidado destas três mulheres — Maria Luís Albuquerque, Cristina Casalinho e Mariana Mortágua — e mandarmos de férias para a Síria um boa centena de bodes velhos, incompetentes e corruptos, Portugal renasce. Ai renasce, renasce!

A grande proposta dos ratos do PS é esta:
  • mais consumo, 
  • ou seja, mais importações, 
  • ou seja, mais défice, 
  • ou seja, mais dívida, 
  • e, originalidade do frente-populista António Costa: assalto às heranças! 

Esta corja adora ficar com o que não é deles, nem lhes custou a ganhar, poupar e investir.

Os ratos do PS prometem, assim, rebentar com os frágeis sinais de recuperação económica e de reforma institucional conseguidas com um sofrimento atroz.

Entregar de novo o poder a esta malta seria um ato de suicídio.

Há povos que se suicidam. Basta olhar para o Médio Oriente. Mas será isso que queremos? Acredito que não.

Ouvi parte do debate parlamentar de hoje, só para escutar duas mulheres: a Maria Luís Albuquerque, ministra das finanças, tão calma quanto capaz de um ataque felino ao menor deslize do adversário, e Mariana Mortágua, uma menina brilhante, de quem muito esperamos. Pertencer ao Bloco é um pecado de juventude que só lhe fica bem.


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segunda-feira, fevereiro 23, 2015

TAP boa e TAP má

TAP—aviões parados durante uma greve (2014)

 

TAP perde dinheiro com ‘fuel hedging’


Quem vai suportar as apostas erradas da TAP no hedging do combustível?
“Actualmente, a sobretaxa de combustível cobrada pela TAP custa 43 euros nas viagens de médio curso e 165 euros no longo curso.” — Público, 20/02/2015 - 08:53.
Novas quebras de competitividade com as Low Cost?
Mais 150 milhões a esconder debaixo do tapete da dívida pública?
Não somos a Grécia, dizem.
Não parece!

A TAP, cujo CEO foi contratado há mais de uma década para privatizar a companhia continua a filosofar um esperanto cada vez menos compreensível, enquanto as araras parlamentares palram do que não sabem, defendendo sempre as conveniências eleitorais do momento.

E o momento recomenda-lhes despachar, uma vez mais, a batata quente da privatização da TAP para o próximo governo. A fatura do adiamento subirá pois mais uns milhares de milhões de euros, a endossar ao contribuinte, invariavelmente entretido com os magnos assuntos do Futebol.

Não conheço o novo Caderno de Encargos da privatização, mas presumo que foi desenhado para fazer borregar o leilão.

Só há uma hipótese de a TAP permanecer uma empresa pública: separar a TAP má da TAP boa.

Para tal bastaria criar uma nova empresa, com um nome ligeiramente diferente (PA—Portugal Airlines, por exemplo), onde o estado asseguraria a maioria do capital e gestão totalmente independente, dispersando em bolsa 49% da propriedade da empresa, enquanto os ativos tóxicos e a dívidas da TAP má seriam negociadas, renegociadas, renunciadas, recicladas, incineradas, em suma, desfeitas ao longo de uma ou duas décadas. 

Se os chineses o fazem, por exemplo na Three Gorges, porque não podemos nós fazê-lo? A Europa não deixa? Mas a Europa somos nós!
“In Sept 2002, CTG, as the initiator, established its sub company, China Yangtze Power Co., Ltd. (CYPC), which was assigned to manages the two hydropower plants CTG has, i.e., Gezhouba and Three Gorges hydropower plants. It began to be listed in Shanghai Stock Exchange (SSE) as Yangtze Power Stock A on 18 Nov 2003.” — Three Gorges Corporation.


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segunda-feira, fevereiro 16, 2015

Yanis Varoufakis, a esperança do momento

Gustave Moreau. Europa e o touro (c. 1869).

A Grécia é o centro da Europa!


Vivemos tempos simultaneamente épicos e medonhos. Há uma crise mundial, e certamente europeia, das dívidas—das dívidas soberanas, mas também das dívidas empresariais e familiares.

Estamos todos endividados até aos cabelos, mesmo quando não pecebemos que uma parte deste endividamento é invisível, e não parece, assim, ser coisa que nos diga respeito.

O grande buraco da dívida não seria um grande problema se as perspetivas de crescimento mundial, no modelo que conhecemos de há uns 200 ans para cá —muita energia e barata—, continuassem a ser expectáveis. Mas o problema é que o futuro reserva-nos uma era de menos energia, e de energia mais cara. Ora é este cenário —até hoje rejeitado pelos cegos da macro-economia— que tudo muda e exige uma nova abordagem dos problemas.

A crise grega, que tomou uma nova e radical direção depois da chegada do Syriza ao poder, veio confrontar a Europa inteira com as suas responsabilidades. O problema não é da Grécia, nem de Espanha, ou de Portugal, mas de todo o continente, mais precisamente, é um problema global, cuja negação apenas tornará os desenlaces locais, regionais e globais, muito mais ameaçadores e potencialmente catastróficos.

Nada melhor para começarmos a mudar a nossa percepção dos problemas de fundo, do que esta viragem radical na crise grega. E nada melhor do que ir escutando e lendo o que Yanis Varoufakis pensa sobre o seu país e sobre a Europa.

Yanis Varoufakis: No Time for Games in Europe
THE NEW YORK TIMES

By YANIS VAROUFAKISFEB. 16, 2015

ATHENS — I am writing this piece on the margins of a crucial negotiation with my country’s creditors — a negotiation the result of which may mark a generation, and even prove a turning point for Europe’s unfolding experiment with monetary union.

Game theorists analyze negotiations as if they were split-a-pie games involving selfish players. Because I spent many years during my previous life as an academic researching game theory, some commentators rushed to presume that as Greece’s new finance minister I was busily devising bluffs, stratagems and outside options, struggling to improve upon a weak hand.

Nothing could be further from the truth.

[...]

As finance minister of a small, fiscally stressed nation lacking its own central bank and seen by many of our partners as a problem debtor, I am convinced that we have one option only: to shun any temptation to treat this pivotal moment as an experiment in strategizing and, instead, to present honestly the facts concerning Greece’s social economy, table our proposals for regrowing Greece, explain why these are in Europe’s interest, and reveal the red lines beyond which logic and duty prevent us from going.

[...]

One may think that this retreat from game theory is motivated by some radical-left agenda. Not so. The major influence here is Immanuel Kant, the German philosopher who taught us that the rational and the free escape the empire of expediency by doing what is right.

Os limites do otimismo

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Não haverá milagre na Grécia, mas destruir as classes médias não é solução


O notável artigo de Michael Pettis, que abordámos em post anterior, dedicado ao pensamento efeverscente e maniqueísta sobre as responsabilidades pelas crises grega, cipriota, portuguesa, espanhola, italiana, e em geral da maioria dos países europeus, demonstrando que o capitalismo global é um sistema de vasos comunicantes onde as crises financeiras tendem a assumir natureza sistémica, exigindo, por esta razão, remédios permanentemente concertados, precisa talvez de uma contextualização económica mais ampla.

Recomendo, por isso, a leitura de um outro artigo recente, não menos notável, de Gail Tverberg, analista de risco, editora do extinto e célebre The Oil Drum, e autora do blogue Our Finite World.

Gail Tverberg considera, como eu e um número crescente de observadores, que nos aproximamos ou estamos já no quadro energético previsto por M. King Hubbert [1956, “Nuclear Energy and the Fossil Fuels”—pdf], conhecido como Pico do Petróleo. Este quadro casa, aliás, com um outro mais recente, traçado em 1972 pela equipa do relatório The Limits to Growth, que analisa os limites do paradigma de crescimento em que ainda vivemos, do qual temos que sair, mas ninguém sabe como.

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Os quadros estatísitcos têm vindo a confluir na perceção de que estamos no fim de uma longa era de prosperidade e crescimento explosivo, único na história humana, cujos motores principais foram o carvão mineral, o petróleo e o gás natural, a par de descobertas e invenções tão extraordinárias quando a eletricidade, a energia nuclear, a higiene e o saneamento básico, ou as vacinas e os antibióticos.

Sem energia abundante e barata o paradigma civilizacional em que nascemos e nos habituámos a perceber como natural há três coisas que desaparecerão depois de sucessivas e dolorosas crises:
  • taxas de crescimento demográfico e económico acima dos 2%
  • crescimento baseado na utilização de capital intensivo e em endividamento
  • boa parte da atividade discricionária não produtiva, nomeadamente o consumo conspícuo de massas.

Esta versão inesperada de The Tragedy of the Commons [Garrett Hardin, 1968] parece já estar, de facto, em cena num qualquer smartphone, ou televisão perto de si. O aparente triunfo argumentativo de Yanis Varoufakis face à inércia burocrática de Bruxelas e Berlim, e face ao defensismo atávico do BCE e do sistema financeiro em geral, espelha bem que o problema que temos entre mãos é um daqueles problemas a que Hardin chamou “a no technical solution problem”.

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Recomendando desde já a leitura integral do artigo em três partes de Gail Tverberg reproduzi a modo de convite alguns extratos e alguns gráficos esclarecedores. Quem quer que seja que pretenda chegar ao poder, nomeadamente para mtigar a contínua má direção que temos seguido, deverá, antes de mais, ler atentamente os três artigos aqui citados—o de Gail Tverberg, o de Michael Pettis, e o célebre artigo de Garrett Hardin, publicado pela Science em 1968.

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A new theory of energy and the economy, Part 1
Generating economic growth
By Gail Tverberg
Posted on January 21, 2015

[...]

What if oil prices are artificially low, on a temporary basis? The catch is that not all costs of oil producing companies can be paid at such low prices. Perhaps the cost of operating oil fields still in existence will be fine, and the day-to-day expenses of extracting Middle Eastern oil can be covered. The parts of the chain that get squeezed first seem to be least essential on a day to day basis–taxes to governments, funds for new exploration, funds for debt repayments, and funds for dividends to policyholders.

Unfortunately, we cannot run the oil business on such a partial system. Businesses need to cover both their direct and indirect costs. Low oil prices create a system ready to crash, as oil production drops and the ability to leverage human labor with cheaper sources of energy decreases. Raising oil prices back to the full required level is likely to be a problem in the future, because oil companies require debt to finance new oil production. (This new production is required to offset declines in existing fields.) With low oil prices–or even with highly variable oil prices–the amount that can be borrowed drops and interest costs rise. This combination makes new investment impossible.

If the rising cost of energy products, due to diminishing returns, tends to eliminate economic growth, how do we work around the problem? In order to produce economic growth, it is necessary to produce goods in such a way that goods become cheaper and cheaper over time, relative to wages. Clearly this has not been happening recently.

The temptation businesses face in trying to produce this effect is to eliminate workers completely–just automate the process. This doesn’t work, because it is workers who need to be able to buy the products. Governments need to become huge, to manage transfer payments to all of the unemployed workers. And who will pay all of these taxes?

The popular answer to our diminishing returns problem is more efficiency, but efficiency rarely adds more than 1% to 2% to economic growth. We have been working hard on efficiency in recent years, but overall economic growth results have not been very good in the US, Europe, and Japan.

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A new theory of energy and the economy, Part 2
Charts showing the long-term GDP-energy tie
By Gail Tverberg
Posted on February 5, 2015

The high oil prices–around $100 per barrel–continued until United States QE was tapered down and stopped in 2014. About the same time, China made changes that made debt more difficult to obtain. Both of these factors, as well as the long-term adverse impact of $100 per barrel oil prices on the economy, brought oil price down to its current level, which is around $50 per barrel (Figure 10). The $50 per barrel price is still very high relative to the cost of oil when our infrastructure was built, but low relative to the current cost of oil production.

[...]

Where Does the World Economy Go From Here?

In Part 1, I described the world’s economy as one that is based on energy. The design of the system is such that the economy can only grow; shrinkage tends to cause collapse. If my view of the situation is correct, then we need an ever-rising amount of  inexpensive energy to keep the system going. We have gone from trying to grow the world economy on oil, to trying to grow the world economy on coal. Both of these approaches have “hit walls”. There are other low-income countries that might increase industrial production, such as in Africa, but they are lacking coal or other cheap fuels to fuel their production.

Now we have practically nowhere to go. Natural gas cannot be scaled up quickly enough, or to large enough quantities. If such a large scale up were done, natural gas would be expensive as well. Part of the high cost is the cost of the change-over in infrastructure, including huge amounts of new natural gas pipeline and new natural gas powered vehicles.

New renewables, such as wind and solar photovoltaic panels, aren’t solutions either. They tend to be high cost when indirect costs, such as the cost of long distance transmission and the cost of mitigating intermittency, are considered. It is hard to create large enough quantities of new renewables: China has been rapidly adding wind capacity, but the impact of these additions can barely can be seen at the top of Figure 14. Without supporting systems, such as roads and electricity transmission lines (which depend on oil), we cannot operate the electric systems that these devices are part of for the long term, either.

We truly live in interesting times.

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A new theory of energy and the economy, Part 3
The Problem of Debt as We Reach Oil Limits
By Gail Tverberg
Posted on February 11, 2015

Many readers have asked me to explain debt. They also wonder, “Why can’t we just cancel debt and start over?” if we are reaching oil limits, and these limits threaten to destabilize the system. To answer these questions, I need to talk about the subject of promises in general, not just what we would call debt.

In some sense, debt and other promises are what hold together our networked economy. Debt and other promises allow division of labor, because each person can “pay” the others in the group for their labor with a promise of some sort, rather than with an immediate payment in goods. The existence of debt allows us to have many convenient forms of payment, such as dollar bills, credit cards, and checks. Indirectly, the many convenient forms of payment allow trade and even international trade.

Each debt, and in fact each promise of any sort, involves two parties. From the point of view of one party, the commitment is to pay a certain amount (or certain amount plus interest). From the point of view of the other party, it is a future benefit–an amount available in a bank account, or a paycheck, or a commitment from a government to pay unemployment benefits. The two parties are in a sense bound together by these commitments, in a way similar to the way atoms are bound together into molecules. We can’t get rid of debt without getting rid of the benefits that debt provides–something that is a huge problem.

There has been much written about past debt bubbles and collapses. The situation we are facing today is different. In the past, the world economy was growing, even if a particular area was reaching limits, such as too much population relative to agricultural land. Even if a local area collapsed, the rest of the world could go on without them. Now, the world economy is much more networked, so a collapse in one area affects other areas as well. There is much more danger of a widespread collapse.

Our economy is built on economic growth. If the amount of goods and services produced each year starts falling, then we have a huge problem. Repaying loans becomes much more difficult.

In fact, in an economic contraction, promises that aren’t debt, such as promises to pay pensions and medical costs of the elderly as part of our taxes, become harder to pay as well. The amount we have left over for discretionary expenditures becomes much less. These pressures tend to push an economy further toward contraction, and make new promises even harder to repay.

[...]

Governments of “advanced” countries now have debt levels that are high by historical standards. If there is another major financial crisis, the plan seems to be to use Cyprus-like bail-ins of banks, instead of bailing out banks using government debt. In a bail-in, bank deposits are exchanged for equity in the failing bank. For example, in Cyprus, 37.5% of deposits in excess of 100,000 euros were converted to Class A shares in the bank.

[...)

The economy, as it exists today, has been made possible by countries working together. With sanctions against Iran and Russia, we are already moving away from this situation. Low oil prices are now putting the economies of oil exporters at risk. As countries try different approaches on interest rates, this adds yet another force, pulling economies apart.

[...]

Conclusion

If the current economic system crashes and it becomes necessary to create a new one, the new system will have to deal with having an ever-smaller amount of goods and services available for a fairly long transition time. This is one chart I have shown in the past of how the growth in energy products, and thus growth in goods and services, might look.

Because of this, the new system will have to be very different from the current one. Most promises will need to be of short duration.  Transfers among people living in a particular area might still be facilitated by a financial system, but it would be hard to have long-term or long-distance contracts. As a result, the new economy will likely need to be much simpler than our current economy. It is doubtful it could include fossil fuels.

Many people ask why we can’t just cancel all debt, and start over again. To do so would probably mean canceling all bank accounts as well. Most of our current jobs would probably disappear. We would probably be without grid electricity and without oil for cars. It would be very difficult to start over from such a situation. We would truly have to start over from scratch.

I have not talked about a distinction between “borrowed funds” and “accumulated equity”. Such a distinction is important in terms of the rate of return investors expect, but it is not as important in a crash situation. Similarly, the difference between stocks, bonds, pension plans, and insurance contracts becomes less important as well. If there are real problems, anything that is not physical ends up in the general category of “paper wealth”.

We cannot count on paper wealth (or for that matter, any wealth) for the long term. Each year, the amount of goods and services the economy can produce is limited by how the economy is performing, given limits we are reaching. If the quantity of these goods and services starts falling rapidly, governments may fail in addition to our problems with debts defaulting. Those holding paper wealth can’t count on getting very much. Workers producing whatever goods and services are actually being produced will likely need to be paid first.

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sábado, fevereiro 07, 2015

Novos portos para quem?

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Basta reparar neste gráfico...


Talvez seja altura de deixar de considerar como hipótese realista a construção de novos portos, seja no Barreiro, ou na Trafaria.

Discutir hipoteticamente a coisa não faz mal a ninguém, até faz bem. Mas permitir que as elucubrações sejam colocadas no mercado eleitoral do próximo outono, como se fosse um saco de cenouras para catar votos, é que já não me parece idóneo. Sobretudo porque a manobra apenas serve para disfarçar a maior calinada deste governo: ter deitado ao lixo, ou melhor, ter entregue a Espanha e à França, mais de mil milhões de euros, oriundos de Bruxelas e do BEI, que estavam disponíveis para construir a ligação ferroviária de bitola europeia entre o Pinhal Novo-Poceirão e o Caia, que ligaria duas cidades-região com quase dez milhões de pessoas e uma boa parte do PIB da Península Ibéria: Lisboa e Madrid.

Ao contrário do que diz António Costa, não há nenhum ambiente favorável ao crescimento nos próximos quatros anos, e portanto a sua magia eleitoral em volta do que descreve como 'investimentos estruturantes' não passa de uma mal disfarçada tentativa de vender banha da cobra com o selo de um partido que, além de ser o principal responsável partidário pela ruína do país, ainda não deixou de ser um antro de corrupção e um enorme deserto de ideias.

O que teremos pela frente, o que o próximo governo terá que enfrentar, é a continuação, mais radical se possível, do desendividamento do país. Se no resto do planeta é este o principal problema, como poderia ser de outra forma neste cantinho de apagada e vil tristeza infestado de piratas e maus atores de telenovela?

O gráfico acima republicado, conhecido por Baltic Dry Index (BDI), com uma notação minha sobre as causas da anomalia de crescimento na procura do transporte marítimo das principais matérias da economia mundial, verificada entre 2001 e 2009, diz tudo o que é preciso saber sobre as perspetivas económicas dos próximos anos.

O colapso recente dos preços do petróleo vierem reforçar a força já de si eloquente do BDI.

A economia dos países mais ricos começou a abrandar no início deste século enquanto se assistia ao crescimento muito rápido dos chamados países emergentes, nomeadamente os BRICS. Contudo, depois de 2010-2011, o efeito nas novas economias começou a abrandar,  pois também elas estavam atoladas em dívidas.

O problema explosivo que o mundo tem entre mãos é o problema da Grécia, mas elevado a  uma potência muito elevada, difícil de precisar para além desta ideia: o valor nocional dos contratos especulativos (OTC) de derivados financeiros é, segundo o BIS, da ordem dos 691 biliões de USD, ou seja, quase nove vezes e meia o PIB mundial (72,6 a 75,5 biliões de dólares). Se apenas 10% destes contratos se perderem na bancarrota global, estaremos a falar de um buraco negro na economia e nas finanças da ordem dos $69 biliões.

Por outro lado, a dívida pública grega, na ordem dos 421 mil milhões de USD, não passa de uma pequena parte da dívida mundial: cerca de 200 biliões de dólares!

A dívida mundial calculada no estudo da McKinsey ($199E12), dividida pela população do planeta, corresponde a qualquer coisa como $27.260 por pessoa, para um PIB/capita de aproximadamente $10.178. Só para pagar a dívida mundial são necessários os rendimentos inteiros de mais de dois anos e sete meses. E aproximadamente um ano mais para ensopar 10% do buraco negro dos derivados OTC. Saber quem deve o quê e a quem é, em suma, o pomo da discórdia, a que poderíamos chamar SINDROMA GREGO!
The world economy is still built on debt
Bloomberg. By Simon Kennedy
12:01 AM WET, February 5, 2015

That's the warning today from McKinsey & Co.'s research division which estimates that since 2007, the IOUs of governments, companies, households and financial firms in 47 countries has grown by $57 trillion to $199 trillion, a rise equivalent to 17 percentage points of gross domestic product. 

É por tudo isto que devemos desconfiar das soluções milagrosa, porque, pura e simplesmente, não existem.

Atualização: 7/2/2015 18:30 WET

segunda-feira, janeiro 05, 2015

Vem aí uma guerra civil?

Rafael Bordalo Pinheiro. O António Maria, 29JUN1882


Anónimo:

Pelas respostas que Sócrates deu à TVI fica demonstrado que ele conhece bem o processo e os fortes indícios de que é acusado.

Aliás, já se sabia que o processo de Sócrates tem 800 páginas e quase 1 ano de escutas telefónicas.

O QUE DIZ A LEI

Em Portugal nenhuma pessoa pode ser presa preventivamente sem que o respectivo advogado tenha acesso, previamente, ao seu processo. E foi isso que precisamente aconteceu!

PRÓXIMA ESTRATÉGIA DE SÓCRATES E SEUS AMIGOS

No início, Sócrates e seus amigos montaram uma campanha para fazer crer ao povinho que a sua prisão é uma injustiça e uma ficção.

A próxima campanha vai passar por aniquilar as escutas telefónicas. O que exige bons advogados. Foi assim que a Felgueiras se safou.

Nos Estados Unidos as escutas telefónicas são sempre válidas como meio de prova. Em Portugal, os bons advogados safam os ricos e poderosos porque conseguem anular as escutas telefónicas.

EMIGRANTES, ATENÇÃO AO VOSSO DINHEIRO!

O regime está em risco de se desfazer e é óbvio que se os piratas que arruinaram o país levarem a sua por diante, resgatando Sócrates e as tríades que o pariram da punição que merecem, então a possibilidade de cairmos numa guerra civil é real.

Como noutras eras houve, também daqui a um, dois ou três anos, se a Justiça for humilhada como propõe Mário Soares, e se o psicopata de Évora sair triunfalmente da jaula mediática que entretanto montou, haverá sempre alguns euros, yuans e dólares para amarrar e queimar umas centenas ou mesmo alguns milhares de portugueses indigentes com os respetivos cachecois partidários.

De uma coisa os credores estão certos: há que pagar as dívidas. Se estas enriqueceram a nomenclatura e arruinaram um país chamado Portugal, o problema é sobretudo dos devedores.


A indigente e decadente nomenclatura partidária, tal como a corte de Luis XVI, apenas vê o seu transversal umbigo, que vai da extrema-esquerda à direita (a extrema-direita ainda dorme). O demo-populismo é a sua verborreia, o povo partidário e os dependentes do estado são a sua única clientela, o parlamento é o seu pardieiro preferido, onde abundam perdizes, pombos torquazes, cagarras e alguns porcos a cair de gordos, em suma, a captura fiscal de quem produz é o modo como se guindaram à casta dos 1% e destruiram o país por mais de meio século.

A partidocracia que reduziu a democracia aos escombros da miséria material e moral que tolhe o país a cada hora que passa, acha que tudo se resolve com umas asas de raia na Travessa, e uns charutos pelo meio. Quando acordar deste sonho doce, porém, já só verá o mundo como uma imagem turva e fugaz rodeada de um definitivo silêncio.

domingo, julho 27, 2014

TAP ou o BES?



Avião que caiu no Mali no dia 24 de julho pertencia à Swiftair, companhia de charters com quem a TAP contratou um avião similar entre 3 e 22 de julho. 

 

A TAP anda a fretar aviões a companhias de vão de escada sem as auditar. O avião que anda a fazer voos para Fortaleza é uma aeronave ucraniana!

 

Um dilema dos diabos: ou deixam cair o BES, ou os passageiros da TAP continuarão a ver os aviões levantar voo sem eles, e um dia destes acabarão mesmo por ficar sem voo, nem reembolso do dinheiro pago pelos bilhetes!


Maria Luís Albuquerque e Passos Coelho têm um dilema nas mãos: ou deixam cair a TAP, ou deixam cair o BES. António José Seguro já deu a entender a sua posição: a TAP não é para privatizar, pelo menos por este governo, ou seja, que caia o BES!

A insolvente TAP tem uma dívida colossal ao insolvente BES, que se não for paga, a par de outras dívidas, poderá acabar de vez com o mais simbólico e pirata banco do regime.

O BES está na unidade de cuidados intensivos do senhor Bento, entre outros motivos, pela ganância e incompetência do senhor Salgado. Esta criatura voraz habituou-se a viver como um lorde inglês, cobrando rendas garantidas aos indígenas através de um regime político essencialmente corporativo, partidocrata e corrupto. Acontece que o país faliu sucessivamente, primeiro nas empresas públicas que a corja partidocrata e os sindicatos esconderam do perímetro orçamental, depois através de um imparável endividamento direto junto das instituições financeiras e fundos de investimento nacionais e internacionais, até, por fim, colapsar e cair nas garras dos credores. À medida que as rendas desciam, que o investimento público especulativo se esfumava, que o governo pedia mais dinheiro, que as empresas e os particulares viam o acesso ao crédito interrompido e deixavam de honrar os seus compromissos, os bancos, nomeadamente o Banif, o BCP, o BPN, o BPP, a Caixa e o BES iniciaram uma queda vertiginosa em direção à insolvência. A Caixa, apesar de todas as asneiras, abusos de confiança e crimes cometidos, tem-se safado pois ainda conta com o chapéu de chuva governamental a protegê-lo, mas todos os outros, foi o que se viu e está a ver.

A corrida pelos grandes projetos, como as barragens encomendadas pelo crápula Sócrates ao cabotino Mexia, ou como o NAL da Ota, que depois migrou para Alcochete, e que implicaria a venda dos terrenos do Aeroporto da Portela ao senhor Ho, a compra de terrenos, primeiro na Ota, depois em Rio Frio, Canha e Alcochete (1), e a construção de uma terceira travessia do Tejo, a tristemente famosa TTT Chelas-Barreiro entusiasticamente apoiada pelo moço de fretes António Costa, foi uma verdadeira fuga em frente do regime e da sua corja de rendeiros e devoristas. Criam que quanto maior fosse o próximo projecto (o adiantado Mateus até inventou uma cidade aeroportuária na Margem Sul) mais margem haveria para pagar o serviço crescente das dívidas pública e privada e argumentos para angariar novos créditos. Contaram para esta corrida de lémures, com o apoio dos grandes especuladores do planeta, desde logo, com as víboras da Goldman Sachs, de onde provem o fedelho Moedas que, imagine-se, nesta fase crítica do processo, queren elevar à categoria de próximo ministro das finanças!

Está fora de causa o recurso ao dinheiro do BCE e do FMI para salvar a cratera bancária em que a pirâmide de Ponzi conhecida por BES se transformou. Passos Coelho limitou-se a transmitir o recado óbvio em tempo oportuno. Resta saber porque carga d'água a Goldman Sachs desatou a comprar ações do BES (2,27% do capital) no dia 15 de julho deste ano, e porque, coincidentemente, colocaram o fedelho Moedas na rampa de lançamento para as Finanças?

Quem vai afinal refinanciar o BES e pagar as dívidas, certamente depois de o próprio BES cobrar algumas delas, pesadas, nomeadamente à TAP, ou seja, ao governo de Portugal, ou seja, a todos nós? Se a TAP não paga o que nos deve, nós fechamos... dirá Vitor Bento amanhã, ou depois, ao PM.

Se não houver refinanciamento, nem quem empreste dinheiro ao BES a tempo de lidar com as suas responsabilidades financeiras e legais, quem garantirá a credibilidade financeira da insolvente TAP uma vez desligada do seu banco de sempre, o BES? O Estado não pode. A Parpública é o escândalo que se segue. Logo, quem?

Se o o BES executar as dívidas da TAP, a TAP abre falência e pede proteção contra os credores. Mas a TAP é, como se sabe, uma empresa pública, logo, será o Estado a ter que se chegar à frente—capiche?

Ou seja, num segundo cenário deste dilema poderemos assistir ao fecho da TAP, por exemplo, numa Sexta Feira do próximo mês de setembro, assumindo o Estado parte ou a totalidade desconhecida das perdas, mas que andará sempre acima dos 2,5-3 mil milhões de euros. Poderemos assistir à paragem de todas as aeronaves durante o fim-de-semana. Poderemos assistir pelos telejornais a uma privatização relâmpago da TAP, com a venda da companhia livre de dívidas e pelo preço dos slots que detém, mais o valor dos seus pilotos e pessoal de manutenção, e mais ainda pelo preço de desconto das suas aeronaves, aliás todas ou quase em todas em regime de leasing. Nesta hipotética privatização consumada em meia dúzia de dias, o nunca investigado centro de custos e obscura empresa de manutenção da TAP sediada no Brasil (ex VEM) permaneceria no perímetro da Parpública até melhor oportunidade.

A TAP 2.0, nascida desta privatização relàmpago, regressa às operações na Segunda Feira pós-falència e venda já com novo dono, uma empresa que, presumo, estará neste preciso momento a ser cozinhada (2).

Entretanto, Cavaco Silva e Pedro Passos Coelho voaram para Timor, não por causa da CPLP, mas para pedir socorro financeiro ao Xanana e ao crápula da Guiné Equatorial. Foram os dois, porque nenhum confia no outro, claro!

Em post anterior chamámos a atenção para a rápida deterioração da imagem da TAP e para os perigos que a fragilidade financeira extrema da companhia pode trazer às expetativas e à segurança dos passageiros. Os cancelamentos de voos e incidentes, porém, continuam...


TAP - multiplicam-se os incidentes e a preocupação com a segurança
A TAP é uma das vítimas propiciatórias do Bloco Central da Corrupção, da indigência e corrupção partidárias e parlamentares do regime, e dos banksters deste país, a começar, claro, pela Dona Brana Espírito Santo.

Enquanto o senhor Salgado exigia ao Álvaro um aeroporto em Alcochete para aviões intercontinentais Airbus A380, enquanto a TAP encomendava 12 aviões Airbus A350-900, e alguns adiantados mentais exigiam uma cidade aeroportuária para os aviões Low Cost na Margem Sul —ao mesmo tempo que boicotavam por todos os meios, incluindo o uso e abuso da voz 'soprada' do senhor Miguel de Sousa Tavares, o plano ferroviário de ligação da Península Ibérica ao resto da Europa—, as Low Cost iam tomando paulatinamente conta do mercado do transporte aéreo em Portugal e no resto da Europa, fazendo do turismo, em plena crise aguda da dívida soberana, a principal indústria exportadora indígena. A própria Lufthansa decidiu recentemente apostar nos serviços aéreos Low Cost, não apenas nos voos europeus e de médio curso em geral, como nos próprios voos intercontinentais e de longo curso em geral.

Em Portugal, sob a batuta dos condottieri Monteiros, todas as decisões foram não só erradas, como potencialmente criminosas. Basta compilar o registo desde 2007 dos incidentes e cancelamentos inexplicados de voos ocorridos com aeronaves da ou ao serviço da TAP, para percebermos a gravidade do que tem vindo a acontecer:

20) TAP cancela voo Maputo-Lisboa por "questões técnicas"
Económico, 25/7/2014

19) Passageiros de voo da TAP cancelado queixam-se de falta de assistência
Lusa e PÚBLICO, 22/06/2014 - 07:52

18) Avião da Portugália voa com "problemas técnicos". Aeronave do grupo TAP partiu da cidade do Porto com destino a Milão, mas regressou ao aeroporto passada uma hora.
Correio da Manhã, 14-07-2014

17) "Explosão" em reator de avião da TAP danifica viaturas
Lusa | 14:21 Sábado, 12 de Julho de 2014
Atualização (14-7-2014, 20:39)
A aeronave acidentada, segundo comunicou a companhia, é um Airbus A330-200 (CS-TOO ‘Fernão de Magalhães’) adquirida à Airbus em 2008.
16) Avaria de avião da TAP impede passageiros de ver jogo de Portugal
TVI24, 17-06-2014

15) Avião da TAP retido ontem no aeroporto de Belém do Pará, Brasil
SIC, 09-06-2014

14) TAP afasta risco de penhora do seu avião no Brasil
Negócios, 24 Abril 2014, 16:28

13) O voo da TAP que fazia domingo a ligação Lisboa-Recife aterrissou no início da tarde de segunda-feira (10) no aeroporto dos Guararapes, na capital pernambucana.
Portugal Digital, 10-03-2014 15:45

12) Passageiro de avião da TAP retido em Milão reclama tempo de espera e falta de alternativas
SIC, 23:36 26-12-2013

11) Passageiros retidos em Zurique regressaram a Lisboa
DN, 25-12-2013

10) Avião da TAP retido em Moscovo há mais de 24 horas
SIC, 25-05-2013

09) 103 passageiros da TAP retidos em S. Tomé devem regressar a Lisboa no sábado
Lusa, 27-12-2013

08) Avião da TAP retido em Caracas faz desesperar 250 passageiros
JN 28-06-2012

07) Avaria no trem de aterragem obrigou avião da TAP a regressar a Lisboa
JN, 03-10-2011

06) Brasil: Avião da TAP aterra de emergência com avaria
Expresso/Lusa | 02-04-2011

05) Avião da TAP continua retido em Maputo
Lusa, 01-09-2010

04) Avião da TAP retido em Joanesburgo devido a avaria
TSF, 06-05-2010

03) Passageiros retidos em Roma devido a avaria em avião da TAP
Diário Digital, 08-02-2010

02) Avião da TAP retido em Kinshasa e piloto preso
DN, 01-10-2008

01) Aviação: Avião da TAP retido em Lisboa por avaria partiu 20 horas depois do previsto para a Venezuela
Expresso, 22-09-2007

O ANTÓNIO MARIA ERROU

Ao contrário do que chegámos a publicar, e hoje (29/07/2014 19:10) corrigimos, o avião que se despenhou no Malí nunca esteve ao serviço da TAP. Esteve, sim, um outro avião do mesmo fabricante e modelo, fretado à mesma empresa de charters espanhola, a Swiftair, e que, entretanto, deixou de operar ao serviço da TAP no dia 22 de julho de 2014.

Para conferir estes dados, pesquisados depois do aviso recebido em oportuno comentário dum leitor, consultar os seguintes links:
  • Avião que operou para a TAP e continua em operação: McDonnell Douglas, MD-83, EC-KCX | ao serviço da TAP entre 2014/07/03 09:10 - 2014/07/22 20:03 (libhomeradar)
  • Avião acidentado: McDonnell Douglas MD-83, EC-LTV ---- Crashed 24. Jul 2014 enroute OUA-ALG operating flight AH5017 with 116 people on board including 6 crew members. Contact was lost about 50 minutes into the flight, the aircraft crashed about 100km southwest of Gao, Mali (Planespotters)

NOTAS
  1. Teria a prenda do misterioso José Guilherme servido para compensar compras de terrenos do felizmente abortado NAL da Ota em Alcochete?
  2. Pais do Amaral confirma estar na corrida para a privatização da TAP
    26 Julho 2014, 21:18 por Lusa/ Jornal de Negócios

    Em entrevista ao Dinheiro Vivo, divulgada este sábado, 26 de Julho, o presidente do conselho de administração da Media Capital, que detém a TVI e dono da Leya, adiantou que em parceria com o norte-americano Frank Lorenzo, antigo accionista da Continental Airlines, está na corrida à privatização da TAP e que está em condições para lançar uma oferta sobre a totalidade da transportadora aérea.

    [...]

    Miguel Pais do Amaral adiantou que o consórcio é financeiro e a JP Morgan Nova Iorque é o "adviser" da operação e admitiu trabalhar com o BPI.

    "Estamos interessados em apresentar uma proposta e em comprar 100% da TAP", afirmou o empresário, que acredita que existem condições para a privatização acontecer ainda durante esta legislatura.
     
Atualizado: 30/7/2014 12:22