quarta-feira, abril 11, 2007

Contra a guerra!



















Irão: a ameaça de uma guerra nuclear

General Leonid Ivashov

A análise da situação actual do conflito com o Irão mostra que o mundo enfrenta a possibilidade uma nova guerra...

Os Estados Unidos (EUA) e os seus aliados iniciaram a preparação psicológica da opinião pública mundial para a possibilidade de virem a usar armas nucleares tácticas para resolver o 'problema iraniano'. A máquina de propaganda americana está a operar no sentido de criar a impressão de que o uso 'cirúrgico' da arma nuclear com consequências limitadas é possível. No entanto, sabe-se que não é assim desde os ataques nucleares de 1945 contra Hiroshima e Nagasaki.

Depois do primeiro ataque, será totalmente impossível evitar o uso de todos os meios de destruição maciça disponíveis. Perante o extermínio das nações, as partes em conflito recorrerão a todos os meios à disposição sem qualquer limite. É por esta razão que, não só os arsenais nucleares dos vários países, incluindo aqueles cujo estatuto nuclear não é reconhecido oficialmente, entrarão em jogo. Não há nenhuma dúvida de que o emprego dos agentes da guerra química e biológica (e em geral, qualquer substância venenosa), que possam ser produzidos com um mínimo de recursos industriais e económicos, serão utilizados.

Neste momento, podemos assegurar que a paz e a humanidade estão em grande perigo.

Atente-se no aspecto técnico-militar da situação. Na prática, o objectivo operacional declarado pelos EUA - destruir 1500 alvos no território iraniano - não pode ser conseguido pelas forças já reunidas para cumprir esta missão. Este objectivo apenas poderá ser conseguido se forem utilizadas munições nucleares tácticas.

O exame do aspecto político-militar da situação revela factos ainda mais significativos. O plano de ataque ao Irão não inclui uma ofensiva militar terrestre. Ataques selectivos a instalações industriais podem causar danos severos ao potencial económico e defensivo do Irão. O número de vítimas será seguramente elevado, mas não catastrófico de um ponto de vista militar. Mas por outro lado, é impossível ganhar o controlo do território de um país do tamanho do Irão sem uma operação terrestre. Esta planeada ofensiva provocará uma consolidação de forças adversas não apenas no Irão, mas também noutros países muçulmanos e entre os muçulmanos por esse mundo fora. O apoio ao país vítima da agressão americano-israelita não parará de aumentar. Seguramente que Washington está ciente de que o resultado não reforçará, antes enfraquecerá a posição dos EU no mundo. Temos pois que olhar para os objectivos do ataque dos EU ao Irão a uma outra luz. A ofensiva nuclear americana visa, na realidade, o uso da chantagem nuclear na política global como meio de alterar fundamentalmente a actual ordem mundial.

São conhecidas outras provas da radicalização dos objectivos pretendidos pelos EUA e seus aliados. As fugas de informação produzidas em 2007, que expuseram os planos israelitas de utilizar três mísseis nucleares contra o Irão, foram muito perigosas para um país situado numa região hostil, mas ainda assim, seguramente deliberadas. Significaram que a decisão sobre a natureza das acções israelitas estava tomada, e que restaria apenas sensibilizar a opinião pública para o efeito.

O pretexto para uma operação contra o Irão não parece sério. Tanto do ponto de vista técnico e político, não há qualquer possibilidade de este país desenvolver armas nucleares nos tempos mais próximos.

Devemos recordar que as alegações de existência de armas de destruição maciça no Iraque foram usadas pelo Estados Unidos para desencadear uma guerra contra este país. Como consequência, o Iraque foi devastado e a contagem das mortes civis atingiu a casa das centenas de milhar, sem que nenhuma evidência da declarada causa do ataque fosse até hoje encontrada.

A questão realmente importante não é se o Irão pode ou não desenvolver armas nucleares. O único objectivo da acumulação limitada de armas nucleares sem o suporte de várias outras forças complementares de apoio é a contenção. A ameaça de retaliação na mesma moeda pode travar o agressor. Quanto à possibilidade de atacar outros países e ganhar uma guerra nuclear no caso de um conflito com uma coligação de grandes potências, exigiria um potencial que o Irão nunca teve nem irá ter num futuro previsível. As alegações de que o Irão se pode tornar num agressor nuclear são absurdas. Qualquer pessoa com um mínimo de informação teórica sobre temas militares entende esta evidência.

Então qual é a verdadeira razão pela qual os EUA estão a preparar este conflito militar?

As acções com consequências globais destinam-se a lidar com problemas globais. Neste caso, o problema não é sequer secreto - trata-se da possibilidade de um 'crash' do sistema financeiro mundial baseado no dólar. Actualmente a quantidade de moeda americana em circulação no planeta é dez vezes superior à totalidade dos activos dos EUA. Tudo o que existe nos Estados Unidos - indústria, edifícios, alta-tecnologia, etc. - foi hipotecado mais de dez vezes por todo o mundo. Uma dívida com tais proporções jamais poderá ser paga. Pode apenas ser aliviada.

Os montantes de dólares em contas individuais, organizações, e reservas monetárias nacionais são uma realidade virtual. Tais registos não têm contrapartidas em produtos, valores ou qualquer coisa realmente existente.

Anular esta colossal dívida ao resto do mundo transformaria a maioria da sua população em depositantes enganados. Seria o fim do solidamente estabelecido sistema fiduciário. O significado dos acontecimentos que se aproximam é verdadeiramente épico. E é por isso que o agressor ignora as consequências catastróficas da sua ofensiva. Os falidos 'bancos globais' precisam de um evento de 'força maior' de proporções globais para se safarem da situação em que se encontram.

A solução já se encontra nos planos. Os Estados Unidos não têm nada para oferecer ao mundo que possa salvar o declínio da sua moeda, excepto as operações militares como as que desencadeou na Jugoslávia, Afeganistão, e Iraque. Mas mesmo estes conflitos locais apenas têm efeitos de curto prazo. Algo muito maior é necessário, e a necessidade é urgente. O momento aproxima-se à medida que a crise financeira leva o mundo a perceber que a totalidade dos activos americanos, a totalidade do seu potencial industrial, tecnológico, etc., já não pertencem de pleno direito ao país. Tais activos terão pois que ser confiscados para compensar as vítimas, e os direitos de propriedade de tudo o que foi comprado com dólares por esse mundo fora - e subtraído à riqueza de várias nações - terão que ser revistos.

O que é que poderá desencadear a 'força maior' à escala requerida? Tudo parece indicar que Israel será sacrificado. O seu envolvimento numa guerra com o Irão - em especial uma guerra nuclear - está talhada para desencadear uma catástrofe global. As constituições dos estados de Israel e do Irão são baseadas nas religiões oficiais de cada um dos países. Um conflito militar entre Israel e o Irão evoluirá imediatamente para uma guerra religiosa, entre o Judaísmo e o Islão. Devido à presença de numerosas comunidades judaicas e islâmicas nos países desenvolvidos, haverá um banho de sangue global inevitável. As forças vivas da maioria dos países do mundo acabariam por entrar em conflito, praticamente sem permitir espaços de neutralidade. A julgar pelo crescimento das aquisições em massa de residências por cidadãos israelitas, especialmente na Rússia e na Ucrânia, muitas pessoas têm já uma ideia do que o futuro lhes reserva. No entanto, é difícil imaginar um paraíso sossegado onde alguém possa esconder-se da destruição que aí vem. Previsões da distribuição territorial dos combates, quantidades e eficiência dos armamentos envolvidos, natureza profunda das raízes do conflito e a severidade da componente religiosa, tudo junto conduzirá sem dúvida alguma a um embate em todos os aspectos muito mais aterrador do que a Segunda Guerra Mundial.

Para já, as reacções dos principais actores mundiais ao desenvolvimento da situação não deixa margem para grandes optimismos. As resoluções inconsequentes sobre o Irão, as tentativas de apaziguar o agressor que deixou de esconder as suas intenções fazem lembrar o Pacto de Munique nas vésperas da Segunda Guerra Mundial. O intenso vai-e-vem diplomático focalizado em todo o género de problemas excepto o principal de todos eles acima discutido é também um indicador do problema. É aliás uma prática comum nas vésperas de uma guerra, quando se procuram alianças com países terceiros ou assegurar a sua neutralidade. Tais políticas procuram evitar ou amenizar os primeiros ataques, que seriam os mais inesperados e devastadores.

É possível parar o banho de sangue?

O único argumento eficiente que poderá parar o agressor é a ameaça do seu isolamento global por instigar uma guerra nuclear. A implementação do cenário acima descrito pode tornar-se inviável na ausência completa de aliados à causa EUA-Israel, combinada com protestos vigorosos em vários países. Por isso, nos dias que correm, o distanciamento definitivo e sem compromissos de dirigentes nacionais, governos, políticos, figuras públicas, dirigentes religiosos, cientistas, e artistas em relação à preparada agressão nuclear seria um incalculável serviço à humanidade.

A actividade pública coordenada tem que ser organizada com a diligência adequada às condições próprias de um tempo de guerra. As forças de agressão já foram reunidas e concentradas nas posições de partida em estado de prontidão total para o combate. As forças militares americanas não fazem segredo de que tudo pode ocorrer dentro de algumas semanas ou dias. Há indicações indirectas de que os Estados Unidos lançarão um ataque nuclear contra o Irão este mês. Depois da primeira explosão, a humanidade encontrar-se-à num mundo inteiramente novo, num mundo absolutamente humano. As hipóteses de evitar que tal aconteça devem ser exploradas completamente.

O General Leonid Ivashov é o vice-presidente da Academia de assuntos geopolíticos. Foi chefe do departamento de assuntos Gerais no ministério da Defesa da União Soviética, secretário do Conselho de ministros de defesa da Comunidade de estados independentes (CIS), chefe do departamento de cooperação Militar do Ministro de defesa e Junta de chefes-de-estado dos exércitos Russos. O General Ivashof é colaborador frequente do Global Research.

Global Research, Abril 19, 2007
Strategic Culture Foundation - 2007-03-30
Título original: "Iran: The Threat of a Nuclear War", in Global Research.

Nota de publicação: não concordando necessariamente com todos os argumentos expendidos neste artigo, considero-o de leitura obrigatória nos tempos sombrios que correm. Por isso o traduzi nesta madrugada de Quarta-Feira. -- OAM

Post scriptum: a percepção dos perigos que espreitam neste momento a nossa tranquilidade e a paz no mundo, com especial incidência no Médio Oriente e Europa, tornam ainda mais aguda a crise de liderança e de govero que atingiu a actual maioria socialista (uma vez mais, na sequência de um escândalo com origem aparente na esfera privada dos fautores da mesma.) Portugal precisa de uma liderança democraticamente legitimada e indiscutível no que se refere à qualidade de carácter do seu principal responsável: o primeiro ministro. A maioria qualificada existe --é o Partido Socialista--, mas é imprescindível e urgente substituir o actual primeiro ministro. Não creio que haja falta de personalidades à altura no PS, e até no interior do actual governo. O que não podemos arriscar é termos à frente do país uma personalidade que o paralizou durante 3 semanas por causa das suas obscuras e reiteradamente mal descritas habilitações académicas. Que credibilidade terão a partir de agora as suas declarações? Se amanhã os Estados Unidos atacarem o Irão, que confiança poderemos ter nas decisões de uma personalidade cuja imagem de isenção e honestidade foi tão seriamente abalada? Que se passará então, inevitavelmente, no plano das relações entre o governo e a presidência da república?

Primeiro ministro de Portugal, José Sócrates, em nome da máxima e absolutamente necessária estabilidade institucional do seu país, demita-se! -- OAM

OAM #190 11 ABR 07

terça-feira, abril 10, 2007

Socrates 11

Socrates
O acto de contricção?

A espada de Dâmocles que Mariano Gago colocou sobre a cabeça da Universidade Independente (UnI) pode ter, pelo menos, uma ou duas de três interpretações. A primeira, é que os 10 dias dados à UnI decorrem apenas do dever legal de esperar pelo contraditório e pela defesa dos acusados, neste caso os donos (quem são?) da fábrica de canudos que dá pelo nome citado. A segunda, é que, falando o PM esta Quarta-Feira sobre o seu caso invididual, incluindo necessariamente a sua relação com a UnI, haveria toda a conveniência em não ouvir comentários desagradáveis provenientes da gentinha da UnI. De preferência, espera-se que os dez dias que a UnI tem para se defender seja um completo black-out em matéria de comentários oriundos da instituição que, segundo todas as evidências parecem apontar, terá colaborado com o político José Sócrates (não esqueçamos que era, à época dos factos,
Secretário de Estado Adjunto do Ministro do Ambiente do XIII Governo Constitucional) na produção de um processo de equivalências académicas de duvidosa legalidade, desleixo processual e completa opacidade formal. Por fim, a terceira hipótese, que se prende à segunda numa óbvia relação instrumental, é a de que o que mais convém a José Sócrates será mesmo a extinção da UnI, pois foi ela que emitiu o duvidoso diploma de licenciatura do actual primeiro ministro, e por conseguinte, no caso de haver lugar a inquéritos mais profundos, ou mesmo processo judicial, na ausência da entidade, entretanto extinta, dificilmente se poderá resolver o caso no plano jurídico. Em tal circunstância teremos, então sim, uma "não notícia", por falta de comparência do réu principal, entretanto extinto!

Neste último caso, as intenções do primeiro ministro não são mesmo as melhores. E a verificar-se tal hipótese, aliás verosímil, dado o voluntarismo aéreo de José Sócrates, estaremos perante um cenário desastroso para a credibilidade interna e externa do país. Se assim for, Cavaco Silva terá mesmo que puxar os freios à situação.

Noutra hipótese, que uma parte significativa dos portugueses deseja (segundo os sinais que me têm chegado), José Sócrates faria mesmo um corajoso acto de "mea culpa" sobre o assunto, arrumando-o de vez, ao mesmo tempo que relançaria a sua ameaçada governança em bases de maior transparência, diálogo, ponderação, reconhecimento do valor crescente da sociedade civil atenta
(que vota convictamente, mas não é partidária, nem parva), e a mesma coragem na contenção de alguns lóbis particularmente nocivos ao futuro imediato do país. Esta hipótese requer, porém, uma enorme perícia dialéctica e sobretudo a capacidade de transmitir um sinal sincero de arrependimento e de compreensão das preocupações legítimas dos portugueses.

Eu diria que a argumentação do acto de contricção deveria assentar em três linhas básicas de justificação e assunção de responsabilidades:

1 - Reconhecimento de que não cuidou como devia os procedimentos inerentes à conclusão do seu curso universitário, não por subestimar cada passo da formação que elegeu, mas porque a sua atenção estava, de facto, concentrada no estudo da realidade do seu país, enquanto militante socialista e membro activo do governo de António Guterres, descurando por isso esses outros estudos a que estava igualmente obrigado, dada a sua decisão de terminar a formação académica por si escolhida, e entretanto interrompida pela sua intensa vida política;

2 - Reconhecimento de que deveria ter dado maior e merecida atenção ao processo de equivalências solicitado à Universidade Independente, então uma instituição universitária recém constituída, em que confiou, sem cuidar, como devia, até por causa da sua posição institucional, nos pormenores do plano curricular que então lhe fora proposto. Ignora até ao momento se houve ou não alguma irregularidade de fundo e de facto no referido processo. Mas se houve, no que não pretendeu ter qualquer influência, então que o processo seja revisto conforme à lei, e anulado se for caso disso.

3 - O seu compromisso maior, neste momento, é com o país, na qualidade de primeiro ministro e com o programa que propôs aos portugueses. Se errou no seu percurso académico, voltará, sem amargura, ao ponto de partida, para então recuperar o tempo que convictamente preferiu dedicar à nobre actividade da política e a Portugal. Cumprida a sua transitória passagem pelo poder, regressará então, com a tranquilidade e o entusiasmo de sempre, à conclusão de uma formação universitária, que para si sempre desejou e espera que muitos outros compatriotas seus
, sobretudo os jovens, queiram igualmente abraçar.

Claro está que a extinção da UnI, nesta segunda hipótese de saída para a crise de credibilidade do sistema em que estamos, daria igualmente imenso geito. No fundo, face ao estado calamitoso em que se encontra a dita universidade (um verdadeiro caso de polícia), acaba por ser um pequeno preço a pagar pela dignidade institucional do país.

Mas atenção: um acto de contricção, assim feito, em público, terá pesadas consequências no futuro do actual governo. Sócrates, prometendo, no fundo, renascer das suas próprias cinzas, pela generosidade do povo que governa, terá mesmo que emendar a governação e remodelar drasticamente o seu governo. Os sacrifícios têm que ser, verdadeiramente, para todos, distribuídos de uma forma ponderada e em nome de uma efectiva e transparente racionalidade governativa. Só assim poderá esperar governar até ao fim da legislatura. E talvez mais...

Sócrates,
Lembra-te do nome que levas!

OAM #189 09 ABR 07

Última hora!

Biografia oficial do Parlamento
Curriculum de Sócrates já incluía licenciatura em Engenharia
antes do curso na Independente

10.04.2007 - 09h20 PUBLICO.PT. As biografias oficiais da Assembleia da República de 1993 já apresentavam José Sócrates como licenciado em Engenharia Civil, três anos antes de o actual primeiro-ministro ter concluído a sua licenciatura na Universidade Independente, avança hoje o Rádio Clube Português.

Nos registos do Parlamento sobre o então deputado socialista eleito por Castelo Branco surgia uma licenciatura em Engenharia Civil, apesar de o actual primeiro-ministro já ter afirmado que apenas terminou a licenciatura em 1996, o que coincidiu com o exercício de funções de secretário de Estado adjunto do Ministério do Ambiente.

Nesse ano de 1993, o registo académico de José Sócrates incluía apenas um bacharelato em Engenharia pelo Instituto Superior de Engenharia Civil de Coimbra, que foi concluído no fim da década de 1970.

Desde então, José Sócrates frequentou o Instituto Superior de Engenharia de Lisboa e a Universidade Independente, tendo obtido aí o diploma em Setembro de 1996.
Um outro dado revelado pela investigação do RCP aponta para que um ano antes da conclusão da licenciatura, em Outubro de 1995, o então secretário de Estado adjunto do Ministério do Ambiente assumiu o título de Engenheiro no decreto de nomeação para o Governo de António Guterres publicado em Diário da República.
Comentário: eu bem tentei dar o benefício da dúvida... mas vejo que foi em vão. Os dados estão definitivamente lançados, e não resta a José Sócrates outra saída que não a demissão do cargo que ocupa. Faça-o quanto antes, hoje ainda se possível. Para não piorar a situação e deixar o país prosseguir em frente e nomeadamente assumir a Presidência do Conselho da União Europeia no próximo dia 1 Julho. Alguém do PS tem que avançar, pois não nos podemos dar ao luxo de novas eleições! -- OAM

quinta-feira, abril 05, 2007

Socrates 10

Jose SocratesEm 1996 não houve nenhuma licenciatura de engenharia Civil na UnI

Outro PM, por favor...

A história das pseudo habilitações académicas do actual primeiro ministro portugués (PM) anda na blogosfera desde 2005. Tinha sido o momento ideal para José Sócrates resolver o problema, esclarecendo o país e pedindo desculpas por alguma coisinha feita com menos lisura. Preferiu meter a cabeça na areia e confiar nos seus assessores de imprensa (e de manipulação mediática.) O tempo foi passando até que, depois da sujeira da OPA à Portugal Telecom e em plena batalha campal em volta do embuste da Ota, o assunto saltou para os média convencionais, no âmbito do escândalo que entretanto rebentou na Universidade Independente (verdadeira forja de canudos académicos sem qualquer credibilidade). Primeiro, o Público, depois, o Expresso, e finalmente as televisões, começaram a escarafunchar o tema, não sem o auxílio precioso da blogosfera, com particular destaque para Do Portugal Profundo. Que fez o primeiro ministro? Nada. Ou melhor, tentou, através dos seus assessores, dos cães de fila ministeriais (com particular relevo para Augusto Santos Silva) e dele próprio, matar a "não-notícia" no berço. Furibundaram, ameaçaram e sobretudo contradisseram-se ao longo de duas semanas, em que o principal interessado, José Sócrates, nada disse ao país, balbuciando apenas ontem, acabrunhado, a promessa de um esclarecimento para breve.

Como escrevi a 14 de Março, neste mesmo blog, as habilitações académicas de um primeiro ministro, desde que saiba ler, escrever e contar, não têm importância nenhuma, apesar de todos querermos, claro está, melhorar os níveis de literacia e em geral as qualificações académicas e profissionais da generalidade dos portugueses, e por maioria de razão, dos nossos dirigentes políticos. Se para outro fim não servir o triste episódio das qualificações formais de José Sócrates, que ao menos sirva para os partidos políticos chegarem a um consenso parlamentar sobre as formas de tratamento na Administração Pública. Tal como se acaba de proibir o consumo de tabaco nos locais públicos, também os tratamentos por Doutor, Arquitecto, Engenheiro, Major, Comendador, etc., deverão ser removidos da esfera pública, à excepção dos casos em que tais tratamentos ocorrerem entre pares, no quadro efectivo de uma relação profissional. Em democracia, cada um tem nome próprio e é Senhor ou Senhora da sua liberdade e dignidade cidadãs. Não precisa de exibir penduricalhos académicos ou profissionais fora dos contextos restritos em que tal se justifica. Muito menos deve fazê-lo em nome, ainda que subrepticiamente, de hierarquias económicas ou de poder. Já lá vai o tempo dos pergaminhos, em que o burguês ascendente comprava títulos nobiliárquicos. "Foge cão, que te querem fazer barão! Para onde, Senhor, se me querem fazer conde?!" Recordo-me, como se fosse hoje, desta frase repetida pela minha avó paterna, uma mulher culta, uma memorável cozinheira e possivelmente a pessoa mais mordaz que conheci.

Voltando ao drama de Sócrates, quanto mais tempo passa, pior. Os personagens sinistros começaram a aparecer. Quem é esse tal António Morais? Deu quatro cadeiras ao finalista José Sócrates? Mas como, se tem vindo a ser corrido de todas as faculdades por onde passa, por manifesto e sistemático absentismo? Mas como, se as ditas disciplinas não constam do CV de 43 páginas deste ex-director do Gabinete de Estudos e Planeamento de Instalações (GEPI) do Ministério da Administração Interna e ex- presidente do Instituto de Gestão Financeira e Patrimonial da Justiça (por nomeação de José Sócrates e Alberto Costa)? Quem é este factotum e que papel desempenha na engrenagem que começamos a descortinar? Enquanto director da GEPI, encomendeu 20 estudos e projectos à empresa Lisparra, de que é sócio-gerente! Qual foi o montante pago pelo Estado e para que foi exactamente? Todos gostaríamos de saber.

Se os tempos fossem outros, seria fácil controlar os estragos causados pelo ridiculum vitae do actual primeiro ministro. Bastaria suspender os jornais imprevidentes, retirar as licenças de emissão às rádios e televisões que publicassem informações e/ou opiniões sobre o caso, e prender os principais bloguistas do país. Felizmente vivemos numa democracia, apesar das calinadas nervosas do Sr. Augusto Santos Silva, do chumbo da comissão parlamentar de acompanhamento do novo aeroporto de Lisboa (NAL) e do projecto de concentração unipessoal de poderes policiais e judiciais apadrinhado pelo actual primeiro ministro. E porque vivemos em democracia iremos mesmo saber se José Sócrates mentiu ou não mentiu sobre as suas habilitações académicas, e se mentiu, se falsificou, ajudou a falsificar, solicitou ou permitiu a falsificação de documentos para dar consistência a essa mentira. Nenhuma ameaça às liberdades constitucionais demoverá o povo português, e os eleitores socialistas, de apurar a verdade e pedir, se for caso disso, que os responsáveis assumam as respectivas responsabilidades.

Posso estar redondamente enganado, mas a intuição diz-me que este primeiro ministro, ou se demite rapidamente, ou terá que ser demitido pelo presidente da república, em nome da lei e da decência do regime.

OAM #188 05 ABR 07


Última hora

Diploma exibido na RTP-N confirma "licenciatura" ao Domingo!
07-04-2007. "Acabo de ver na RTP-N imagem do certificado de licenciatura de Sócrates. Do documento consta que a data da conclusão da licenciatura foi 08-09-1996, um Domingo.
A data da conclusão da licenciatura é a da realização do último (e bem sucedido) exame do curso. Portanto, Sócrates realizou um (ou mais!) exames ao Domingo, dia em que a Universidade tinha de estar fechada, tendo então obtido o grau de Licenciado.
Ao contrário do que se tentou fazer passar na servil comunicação social (com a excepção das peças de Ricardo Felner) 8 de Setembro (Domingo) é mesmo a data conclusão do curso. Não (ou não apenas) da passagem do documento." -- Irnério

Esta notícia foi objecto dum saboroso comentário Do Portugal Profundo, entitulado Rasganço Domingueiro, no qual se lembra a importância do dia da formatura para qualquer estudante universiário e das antigas praxes radicais que envolviam essas datas memoráveis. É evidente que o exame final nunca poderá ter ocorrido nesse fatal Domingo, a 8 de Setembro de 1996. Como é igualmente inverosímil que o putativo licenciado se não tivesse dado conta do erro administrativo e não tivesse reclamado a sua correcção. -- OAM

UnIgate:
um canudo fraudulento?
06-04-2007. Uma consulta retroactiva à Way Back Machine (um arquivo -infalsificável- da Internet, sediado no Presidio de San Franciso, CA, EUA), proporcionado por um comentário de hoje a um "post" Do Portugal Profundo, prova que o programa do curso de Engenharia Civil da Universidade Independente (UnI) foi sendo construído paulatinamente ao longo dos seus primeiros cinco anos de existência, i.e. entre os anos lectivos de 1993/94 até 1997/98. Ou seja, no ano lectivo 1995/96 (ano em que o actual primeiro ministro diz ter concluído a sua licenciatura) não havia sequer um programa de curso para o 5º e último ano da mesma! Além do mais, este primeiro curso da Engenharia Civil da UnI, aprovado oficialmente em Abril de 1995, só deveria ter iniciado, segundo as regras normais, no ano lectivo de 1996/97, o que significaria, se a normalidade se tivesse verificado, que os primeiros licenciados não poderiam ter saído daquela universidade antes do ano 2000! O facto de haver licenciados no curso em causa, em 1998, pela dita universidade, significa tão só que o mesmo começou, de facto, no ano lectivo de 1993/94, i.e. antes da sua homologação ministerial! Finalmente, para haver transferências de alunos de outros estabelecimentos de ensino para UnI com vista à conclusão do famigerado curso de Engenharia Civil, seria no mínimo necessário que a UnI tivesse já um plano curricular definido para o último ano do mesmo, coisa que manifestamente não sucedia em 1997, ano em que o sitio web da UnI publicou tudo o que tinha relativamente a este curso em matéria de plano de estudos. Daqui se conclui que resta apenas uma alternativa para explicar o diploma de José Sócrates: a sua emissão ter tido carácter meramente administrativo (o que é manifestamente ilegal.)

É pena que alguns órgãos de comunicação social continuem a ir comer à mão do dono (de parte substancial da publicidade, e de informação privilegiada) prestando um péssimo serviço à democracia. -- OAM

Na pista de Armando Vara/CGD
06-04-2007 21:19 SIC :: Reitor da UnI trabalhou na CGD
Banco esclarece que se tratou de um período de formação profissional

A Caixa Geral de Depósitos (CGD) esclareceu, esta sexta-feira, que o reitor da Universidade Independente (UnI), Jorge Roberto, esteve provisoriamente na direcção de comunicação tutelada por Armando Vara. A instituição adianta que isso só aconteceu durante alguns meses, num período de formação de pessoal.

A CGD esclarece que Armando Vara e o actual reitor não se conhecem. O banco diz ainda que oficialmente não foi informado de que Jorge Roberto tinha aceite o cargo de reitor da UnI e que nunca foi pedida autorização para tal.

Entretanto, Jorge Roberto, o reitor, está de férias, mas segunda-feira vai ser chamado à direcção de recursos humanos da CGD, para prestar todas as explicações.

Jorge Roberto teve nos últimos sete anos autorização do banco para leccionar na Universidade Independente.

O reitor e a CGD

O facto é que o novo reitor da UNI omitiu no curriculum enviado à imprensa ter trabalhado na CGD sob a tutela do socialista Armando Vara, sendo que este é também licenciado pela Independente.

Foi uma das primeiras medidas de Teixeira do Santos assim que entrou para o Governo. Na altura, no Verão de 2005, a promoção de Armando Vara para a administração da CGD causou polémica entre a oposição.

Sabe-se agora que Jorge Roberto trabalha há 25 anos na maior instituição financeira nacional. E, que passou alguns meses pela direcção de comunicação do banco que está sob a tutela de Armando Vara, socialista e amigo próximo de Sócrates.

Só que no curriculum de Jorge Roberto enviado à imprensa esse facto foi omitido. A assessora do próprio reitor confirmou à SIC essa informação mas explica que os tais 25 anos de trabalho no banco ficaram de lado porque se tratava de um curriculum que se referia apenas à actividade académica do reitor.

No curriculum do reitor não foi, no entanto, esquecida a prática de yoga e de horticultura.

Convém não esquecer, neste caso, que Armando Vara, administrador do banco [em cuja direcção de comunicação] trabalhou o reitor Jorge Roberto, fez o curso de Relações Internacionais na UnI e que acabou esse mesmo curso dias antes de ser nomeado para a CGD.

Recorde-se também que foi na Independente que Sócrates, amigo de Armando Vara, diz ter feito a licenciatura em Engenharia Civil.

No meio de tudo isto, o semanário Expresso escreve que o edifício da UnI é arrendado a uma empresa participada pela CGD e que as rendas estão por pagar há quase dois anos.

Devido a este incumprimento – e, ao que a SIC apurou, o banco fez accionar em Março a garantia bancária.

O semanário escreve ainda que segundo quatro colegas de turma, José Sócrates não ia às aulas e que só era visto nos exames das quatro cadeiras finais da licenciatura, todos eles realizados pelo mesmo professor: António José Morais que chegou a trabalhar no governo com o amigo de Sócrates, Armando Vara.

Da entrevista a António Caldeira, Do Portugal Profundo, in Correio da Manhã
06-04-2007. Foi devido a um comentário que me foi deixado na caixa do meu blogue Do Portugal Profundo e que expunha dúvidas sobre o curriculum académico de José Sócrates, com remissão para o blogue Porta-Bandeira. À medida que ia investigando e juntando factos e documentação, aumentavam as perplexidades. Por se tratar de matéria muito sensível, decidi publicar apenas em 22-2-2005 (dois dias depois das eleições legislativas, ainda que a investigação estivesse completa na semana anterior). Trata-se de uma investigação lícita e legítima relativamente a factos que têm natureza pública, como é o caso dos cursos, equivalências e títulos académicos e profissionais do primeiro-ministro de Portugal, sobre os quais não pode subsistir qualquer dúvida.

Em 2005, Sócrates tinha-se licenciado em 1981 (segundo o DN)
Um osso duro de roer
Filipe Santos Costa
DN 23-01-2005.

Quando voltou à Covilhã, em 1981, Sócrates já tinha complementado o bacharelato com a licenciatura, em Lisboa. Entrou para os quadros da câmara municipal e filiou-se na Juventude Socialista e no PS pela mão do amigo Jorge Patrão.
(...)
Apesar do esforço de organização e método, Sócrates evitou passos em falso, como o negócio em que entrou com o amigo Vara numa empresa de distribuição de combustíveis. Em 1990 os dois deputados do PS tornaram-se sócios da Sovenco - Sociedade de Venda de Combustíveis, com outros três parceiros, um dos quais, anos depois, havia de dar pano para mangas nos jornais Virgílio de Sousa, condenado a prisão por um processo de corrupção no centro de exames de condução de Tábua. A aventura empresarial de Sócrates foi curta (menos de um ano) e literalmente para esquecer: no ano passado, quando a revista Focus desenterrou esse episódio, o socialista jurou que estava a ouvir falar dessa empresa "pela primeira vez". Só após algum esforço de memória se lembrou que tinha sido sócio.
Comentário: como se pode ler nesta biografia jornalística, publicada pelo DN em 2005, José Sócrates obteve a sua licenciatura em 1981! Palavras para quê? É um artista português...

Esta data é nomeadamente referida na biografia do PM publicada na Net pelo Answers.com

Aeroportos 20


Europa e Espanha, a prioridade ferroviária


Com as limitações que num futuro muito próximo recairão sobre o transporte aéreo de passageiros na Europa, por efeito do preço do combustível (40% dos custos operacionais, com tendência para aumentar...) e das penalizações de preço e limitações de sobrevoo de territórios por causa dos novos e apertados controlos das emissões de gases com efeito de estufa, quer a Comissão Europeia, quer o governo espanhol, já decidiram reorientar drasticamente as suas prioridades no que se refere ao transporte público, dando total prioridade à ferrovia e nomeadamente a uma vasta rede europeia de Alta Velocidade e Velocidade Elevada. O teste de ontem do novo TGV, atingindo a melhor marca mundial de velocidade em transporte sobre carris (574 Km/h!), não é se não um claro indicador disto mesmo.

Num estudo promovido pelo Ministério do Fomento espanhol sobre os efeitos da entrada em operação do AVE Málaga-Madrid (em 2007) constatou-se, muito sintomaticamente, que este simples facto, por si só, irá retardar a saturação do aeroporto de Málaga em quase 9 anos, prejudicando de forma especial as ligações aéreas Málaga-Madrid e Málaga-Barcelona.

No caso português, assim que o Transiberiano chegue a Lisboa e o Alfa Pendular possa andar à velocidade para que foi feito, as ligações mais prejudicadas serão, obviamente, Lisboa-Madrid (resto de Espanha) e Lisboa-Porto.

A Alta Velocidade ferroviária entre Lisboa e Madrid (o AVE chega a Badajoz em 2010) e o aumento de velocidade de circulação do Alfa Pendular (ligando Porto a Lisboa em 02:30) poderá atrasar a tão badalada, mas nunca demonstrada saturação da Portela, em mais de 10 anos! Até lá (ou melhor, se muito antes disso), se não deslocarem as Low Cost para o Montijo, a TAP resvalará sem apelo nem agravo para a falência. Duvido aliás que, neste momento, haja ainda quem esteja interessado na sua anunciada (mas de que não se tem falado ultimamente) privatização. Se a TAP for obrigada, por este sombrio governo, a engolir a Portugália e os seus prejuízos, afundar-se-à ainda mais depressa.

Alguém terá que agir rapidamente para evitar o desastre. Já vimos como o actual governo de zombies em que se transformou o gabinete chefiado por José Sócrates está demasiado enredado na teia de mentiras, dívidas e meias-verdades que criou à sua volta sem que a esmagadora maioria dos seus eleitores (entre os quais me encontro) disso suspeitasse. Venha de lá outro primeiro ministro!

OAM #187 04 ABR 07

segunda-feira, abril 02, 2007

Socrates 9

E agora?

José Sócrates continua em silêncio perante as interrogações cada vez mais pesadas sobre as suas habilitações académicas efectivas. Nada diz e manda dizer dizer coisas pouco claras sobre o assunto, insinuando que tudo não passará de uma cabala para prejudicar a sua governação. No entanto, as dúvidas, que ganharam uma dimensão mediática imparável desde a sua aparição no Público de 22 de Março último, têm vindo a ser tratadas na blogosfera portuguesa, de forma explícita e metódica, desde 22 de Fevereiro de 2005, nomeadamente no blog Do Portugal Profundo. Como previa num comentário anterior, o silêncio ensurdecedor do primeiro ministro não sossegou ninguém, e o resto da comunicação social começou a interessar-se pelo tema, chegando aos diários e semanários de referência, como o Público e o Expresso, e às televisões públicas e privadas. Não vejo como se possa secar o assunto, aqui chegados, sem o seu cabal esclarecimento.

Marcelo Rebelo de Sousa, a uma pergunta ingénua de Maria Flôr Pedroso, sobre as pós-graduações de José Sócrates, deu este Domingo uma resposta sibilina, mas que transporta no gume da sua lógica, uma perspectiva muito preocupante para o visado, para o Partido Socialista e para as instituições democráticas em geral. Disse ele: sem licenciatura não pode haver pós-graduação! Por agora, o que está em causa é a licenciatura. E que dificuldades pode haver no fornecimento das provas documentais de uma licenciatura? Aparentemente nenhumas, desde que as mesmas existam e sejam válidas. Quer dizer, com ou sem crise aguda na Univeridade Independente, José Sócrates deveria ter previsivelmente o canudo do seu curso universitário em casa. E não o tendo, deveria ao menos poder citar entidades empregadoras por onde passou e que lhe terão solicitado prova das suas habilitações académicas. O que não é verosímil é que a apresentação de uma qualquer prova documental das suas habilitações académicas esteja prisioneira do estado actual da Universidade Independente. Parece aliás pouco provável, a qualquer pessoa, que uma tal instituição, pela sua natureza, obrigações estatutárias e regime de funcionamento, possa alguma vez ter deitado fora documentação essencial sobre os seus alunos, e ainda mais sobre um aluno que era à época membro do Secretariado Nacional do Partido Socialista e Secretário de Estado-adjunto do Ministro do Ambiente. Assim sendo, das duas uma, ou a Un. Independente mandou para "o maneta" a documentação, com mais de cinco anos de existência, de todos os seus estudantes, como afirmou o seu ex-director, Luis Arouca, ao Público...
"As fichas de cada aluno já ninguém sabe delas. Nos primeiros anos, a nota final é acompanhada com fundamento, depois é deitada fora» sobre o registo do pagamento de propinas, a resposta foi semelhante. «Ao fim de cinco anos, vai tudo para o maneta."
E neste caso haveria seguramente centenas de ex-alunos licenciados em muito maus lençois. Ou então foi José Sócrates que teve um azar dos Távoras! Seja como for, uma coisa é certa: sem uma explicação pessoal do primeiro ministro, dado na primeira pessoa, este caso ameaça, como escrevi anteriormente, a própria sobrevivência do dirigente PS aos comandos do actual governo. Como a presidência portuguesa do Conselho da União Europeia começa em Julho que vem, resta muito pouco tempo para evitar um enorme embaraço nacional perante os nossos parceiros comunitários.

OAM #186 02 ABR 07

sábado, março 31, 2007

Sócrates 8

Anjo caído

Universidade Independente: Diploma final de curso de Sócrates assinado
num domingo (1) - Expresso

Lisboa, 31 Mar (Lusa) - O primeiro-ministro José Sócrates completou a sua licenciatura em Engenharia Civil na Universidade Independente (UnI) num domingo de Setembro de 1996, dia em que foi assinado o diploma de final de curso, noticia hoje o semanário Expresso.

Na manchete da edição de sábado, o semanário cita "documentos sobre o processo do aluno José Sócrates Carvalho Pinto de Sousa", que concluiu em 1996 na UnI a sua licenciatura, iniciada anos antes no Instituto Politécnico de Coimbra.

Na Independente, Sócrates realizou cinco cadeiras: Análise de Estruturas; Betão Armado e Pré-Esforçado; Estruturas Especiais; Projecto e Dissertação, leccionadas por António José Morais, e Inglês Técnico, dada pelo ex-reitor da universidade, Luiz Arouca.

Em declarações ao Expresso, António José Morais afirmou que o facto de o diploma ter sido assinado a um domingo "não é estranho", alegando que "nas universidades privadas, muitas vezes trabalha-se ao domingo".

O professor António José Morais confirma ter dado quatro das cinco cadeiras ao primeiro-ministro, mas Luiz Arouca afirmou ao Expresso nunca ter dado qualquer aula nem feito qualquer avaliação a Sócrates.

Também Frederico Oliveira Pinto, que, segundo o Expresso, diz ter sido o primeiro presidente do conselho científico da UnI e, na altura, professor de todas as cadeiras de Cálculo das licenciaturas de Engenharia, afirmou ao semanário nunca ter visto José Sócrates naquela instituição, "a não ser muitos anos mais tarde, durante uma oração de sapiência, em que estava na assistência".

No entanto, Carlos Gomes Pereira e Alberto Santos garantiram ao jornal ter sido colegas de curso de Sócrates em 1996, assegurando que tiveram aulas e fizeram exames com o actual primeiro-ministro.

Segundo o Expresso, José Sócrates, o seu gabinete e o ministério do Ensino Superior escusaram-se a comentar a notícia. -- ER/JH. Lusa/fim
1 -- O diploma não foi assinado num Domingo, mas sim no dia 14 de Setembro de 1996, um Sábado. A data da declarada licenciatura é que foi um Domingo (8 de Setembro de 1996)! Curiosamente, esta notícia do Expresso surge alguns dias depois de um comentário publicado no blog Do Portugal Profundo sobre o mesmo assunto:

Mais uma curiosidade para termos em conta
.
27.03.07 - 2:48 am. Segundo o PÚBLICO, o certificado de habilitações de José Sócrates certifica que o actual Primeiro-Ministro concluiu a licenciatura no dia 08 (oito) de Setembro de 1996. O certificado tem data de 14 de Setembro.
Como se sabe, a data de conclusão de uma licenciatura é a da conclusão da última disciplina dessa licenciatura, portanto, data coincidente com um dia de exame (no qual o examinado, obviamente, foi aprovado)
Ora, estranhamente, o dia 8 de Setembro foi Domingo - veja-se.
Já não bastava ao pobre portuense registado em Alijó conciliar as ciclópicas tarefas da governação com o estudo profundo (e com elevadas classificações!) da Engenharia Civil, como, ainda por cima, até exames realizava no dia em que até Nosso Senhor descansou.
Por aqui se vê também o muito que trabalhava o pessoal da Independente, mantendo a actividade em dia de descanso obrigatório - esperemos que com a devida retribuição por horas extraordinárias.
Já agora, proponho que se investigue se o nosso esforçado governante teve outras actividades nesse dia, nomeadamente do foro governativo ou partidário, para melhor ainda podermos compreender os sacrifícios a que sempre se prestou. -- Irnério, Do Portugal Profundo.
Como já escrevi, o primeiro ministro deixou de ter alternativa à necessidade de se explicar sobre esta dúvida que assalta os portugueses. Foram ou não prestadas informações incorrectas sobre o seu curriculum académico? Se não o fizer rapidamente, estará a consentir o natural alastramento de dúvidas e especulações sobre as suas habilitações literárias, e mais grave, sobre se faltou ou não à verdade nas informações que prestou ao país sobre este assunto, nomeadamente através dos canais institucionais onde tais dados são facultados publicamente. É certo que a coisa começou por ser uma especulação bloguista, mas o caso mudou de figura quando as perguntas começaram a ser formuladas com pés e cabeça, nomeadamente por blogs como Do Portugal Profundo, e saltaram depois para os OCS e para a esfera partidária (por iniciativa do PSD.) Por outro lado, o descalabro e posterior anúncio de encerramento da Un. Independente torna a situação pouco menos do que explosiva. O ministro da ciência e do ensino superior deve explicações ao país, nomeadamente no que diz respeito à célebre documentação que na dita Un. Independente, ao fim de cinco anos, costumava ir "para o maneta". Em suma, a menos que José Sócrates tome a iniciativa de esclarecer cabalmente os portugueses sobre as dúvidas que se avolumam, a situação irá apodrecer... até à inevitável decisão presidencial.

OAM #185 31 MAR 07

sexta-feira, março 30, 2007

Petroleo 5

Pico petrolífero

Governo americano reconhece finalmente a existência de um sério problema.

29-03-2007 01:41. O GAO, United States Government Accountability Office, acaba de publicar um relatório explosivo sobre a situação petrolífera mundial, dando finalmente ouvidos ao eminente e já desaparecido geólogo norte-americano M. King Hubbert (que não só previu, em 1956, o pico petrolífero dos EUA, ocorrido em 1973, como apontou a fatalidade de se verificar um pico à escala global antes do final do século 21). Para muitos estudiosos, o pico mundial da produção petrolífera ocorreu este ano, mas só se tornará evidente em 2008.

O certo é que, depois do quase silenciado Hirsh Report (2005), igualmente encomendado pelo governo de Bush, acaba de ser publicado e difundido pela agência Associated Press, o relatório CRUDE OIL - Uncertainty about Future Oil Supply Makes It Important to Develop a Strategy for Addressing a Peak and Decline in Oil Production, elaborado pelo referido GAO. Temos finalmente reconhecido pelo governo da maior potência mundial o mais sério e imediato problema geo-estratégico do século 21, a par das alterações climáticas provocadas pelas emissões de gases com efeito de estufa. Por ambos os motivos, paradoxa e assustadoramente, acabámos de entrar num novo tic-tac militar e nuclear de larga escala.

Escusado será dizer que os grandes exercícios militares que acabam de terminar na zona do Golfo Pérsico, a prisão dos militares britânicos em águas territoriais iranianas, mais os exercícios de tele-guerra via satélite em preparação na Grande Barreira de Coral australiana (1), fazem seguramente parte da resposta Bush a dar a este desafio. É que, no melhor dos cenários, em 2015, apenas 4% do dispêndio energético dos EUA provirá de energias alternativas ao petróleo. E por outro lado, com as reservas exploráveis europeias, mexicanas e venezuelanas em confirmado declínio, 60% das melhores reservas mundiais situam-se no Médio Oriente, na Rússia e em algumas zonas de África...

O GAO afirma que, "dados estes desafios, um pico eminente e uma queda pronunciada na produção petrolífera poderiam ter consequências severas, incluindo uma recessão mundial. Se o pico chegar mais tarde, todavia, estas tecnologias terão um maior potencial de mitigar as consequências."

"Embora as consequências de um pico petrolífero fossem sentidas à escala global, os Estados Unidos, como o maior consumidor de petróleo e uma das nações mais pesadamente dependentes dele no sector dos transportes, pode vir a estar numa situação particularmente vulnerável"

"Por conseguinte, para melhor preparar os Estados Unidos para o pico e declínio da produção petrolífera, recomendamos que o Secretário de Estado da Energia tome a liderança, em coordenação com outras relevantes agências federais, no estabelecimento de uma estratégia para o pico petrolífero. Essa estratégia deverá incluir esforços para reduzir a incerteza sobre a previsão do pico da produção petrolífera e facultar aconselhamento atempado ao Congresso sobre as medidas apropriadas em termos de custo-eficiência para mitigar as consequências do pico petrolífero." (ver documento integral, PDF)

Ainda faltarão mais argumentos para levar o governo português a perceber que a construção de um novo aeroporto, na Ota ou noutra parte qualquer (em vez da adaptação dos existentes) não faz qualquer sentido nas actuais circunstâncias? Eu sei que o ignorante que dirige o Ministério das Obras Públicas é um comissário político. Mas a menos que o governo português esteja prisioneiro de alguma chantagem desconhecida, creio que deve ter a sensatez e a coragem de abandonar um projecto manifestamente sem futuro num mundo à beira do colapso energético e climático (2).




1 - Operation Talisman Sabre 2007
In June this year, 26,000 US and Australian troops will take part in bombarding the ancient fragile landscape of Australia. They will storm the Great Barrier Reef, gun down "terrorists" and fire laser-guided missiles at some of the most pristine wilderness on earth. Stealth, B-1 and B-52 bombers (the latter alone each carry 30 tonnes of bombs) will finish the job, along with a naval onslaught. Underwater depth charges will explode where endangered species of turtle breed. Nuclear submarines will discharge their high-level sonar, which destroy the hearing of seals and other marine mammals.

Run via satellite from Australia and Hawaii, Operation Talisman Sabre 2007 is warfare by remote control, designed for "pre-emptive" attacks on other countries. Australians know little about this. The Australian parliament has not debated it; the media is not interested. The result of a secret treaty signed by John Howard's government with the Bush administration in 2004, it includes the establishment of a vast, new military base in Western Australia, which will bring the total of known US bases around the world to 738. No matter the setback in Iraq, the US military empire and its ambitions are growing.

Australia is important because of a remarkable degree of servility that Howard has taken beyond even that of Tony Blair. Once described in the Sydney Bulletin as Bush's "deputy sheriff", Howard did not demur when Bush, on hearing this, promoted him to "sheriff for south-east Asia". With Washington's approval, he has sent Australian troops and federal police to intervene in the Pacific island nations; in 2006, he effected "regime change" in East Timor, whose prime minister, Mari Alkatiri, had the nerve to demand a proper share of his country's oil and gas resources. Indonesia's repression in West Papua, where American mining interests are described as "a great prize", is endorsed by Howard. (...) -- in AUSTRALIA: THE 51st STATE By John Pilger.

2 - Novo livro sobre as consequências do pico petrolífero (BBC/Green Room).
"It is becoming increasingly clear that global oil production will soon go into terminal decline, with potentially devastating economic consequences."

"(...) I calculate that to substitute the fuel lost through a post-peak oil production annual decline of 3% would mean planting about 200,000 sq km - equivalent to the land area of Cuba, Sri Lanka and Papua New Guinea - every year.

Alternatively, if we decided to run Britain's road transport system, say, on cleanly produced hydrogen - electrolysing water using non-CO2-emitting forms of generation - our options would be:

* 67 Sizewell B nuclear power stations
* a solar array covering every inch of Norfolk and Derbyshire combined
* or a wind farm bigger than the entire southwest region of England.

-- The Last Oil Shock: A Survival Guide to the Imminent Extinction of Petroleum Man is published by John Murray


OAM #184 30 MAR 07

quinta-feira, março 29, 2007

Portugal-2


Saudosismos

Afinal os portugueses sempre foram os primeiros europeus a chegar à Austrália!

SYDNEY (Reuters) -- Uma carta marítima do século XVI guardada numa biblioteca de Los Angeles prova que os navegadores portugueses, e não os ingleses ou holandeses, foram os primeiros europeus a descobrir a Austrália e a desenhar as suas costas, revela um novo livro que descreve a descoberta secreta da Austrália.

O livro, "Beyond Capricorn," diz que o mapa, que assinala com detalhe vários pontos geográficos ao longo da costa leste da Austrália, prova que o navegante português Cristóvão de Mendonça, partindo de Malaca, dirigiu uma frota de quatro navios até à Botany Bay em 1522 -- um século antes de os holandeses lá terem chegado e quase 250 anos antes do capitão britânico James Cook ter avistado aquela costa.

O autor australiano Peter Trickett afirmou ainda que quando ampliou o pequeno mapa pôde reconhecer todos os promontórios e baías de Botany Bay, Sydney -- no sítio onde Cook
reclamou aquele sub-continente para a coroa britânica, em 1770.

"Era tão preciso que pude desenhar por cima as actuais pistas do aeroporto de Sydney, escalando-as para o seu sítio exacto sem qualquer problema.", disse Trickett à Reuters na Quarta feira, dia 21. -- Michael Perry, Reuters, 21-03-2007; 6:26 AM (Versão original integral)

A Austrália, Terra de Java, era, ao que parece, um segredo de Estado, que o Estado Português escondeu durante tanto tempo que se esqueceu dele! Finalmente, 250 anos depois, os ingleses chegaram à mesma baía de Sydney, desenhada pelos cartógrafos portugueses, declarando o novo mundo terras de sua Magestade Britânica. Até hoje!

Estive esta tarde a rever o filme Costa do Castelo (1943), de Arthur Duarte, e enchi-me de optimismo! Saudosismo lamecha? É bem possível. Força Portugueses! Há mais continentes por descobrir..., por exemplo, o de um país sustentável.

OAM #183 29 MAR 07

quarta-feira, março 28, 2007

Portugal


Porquê Salazar?


Apenas consegui ver uma meia hora da sessão final do concurso televisivo que abalou a classe política portuguesa. Pareceu-me desde o início uma iniciativa desmiolada, levada a cabo por uma gaja desprezível, dirigida a um público de indígenas de meia idade e de idade avançada, ignorante até dizer chega, e sobretudo inconsequente.
Num país analfabeto e empobrecido, corroído simultaneamente pela perda de um vasto território colonial, pela corrupção galopante que se apoderou das suas elites e agências de intermediação, e pelo declínio da sua própria autonomia nacional e visão estratégica, que outra coisa seria de esperar que não uma expressiva votação simbólica contra a actual democracia plutocrática e nepotista, e contra os irresponsáveis que exercem alegremente o poder? Uns parecem porcos em fase de engorda apressada. Outros, ratos abandonando um navio à beira do naufrágio. Olham para nós e dizem: sou corrupto e depois?! Olham para nós e dizem: minto e depois?! Olham para nós e dizem: se não tens amigos, arranja-os!!
O desemprego, a pobreza envergonhada e explícita, o analfabetismo funcional, a incultura e a emigração regressaram em força, mas o regime prefere falar de grandes obras sanguessugas e de optimismos cabotinos. Os partidos não se distinguem entre si pelas suas diferentes estratégias (que não têm), mas pela verborreia ininteligível de circunstância. Admiram-se agora, escandalizam-se, porque 50 mil espectadores(1) mandaram Mário Soares e Afonso Henriques às urtigas. Admiram-se porque os finalistas foram, afinal, dois homens(2) recentes conhecidos pela autoridade com que desenharam e deram a conhecer as suas ideias e pensaram no país. Eram ambos autoritários? Pois eram. E agora? Agora Cavaco e tintas Robbialac! Vai ser uma tragédia? Talvez não...



Notas
1 - As sondagens trabalham com universos bem mais pequenos, embora construídos de acordo com estratégias estatísticas comprovadas. Seja como for, dada a importância da televisão na formação da opinião moral de curto prazo, menosprezar os resultados do concurso sobre o "melhor português" seria um erro. O Pedro Magalhães escreveu, como sempre, coisas interessantes sobre o fenómeno.
2 - Dada a natureza passiva de boa parte dos espectadores televisivos, seria de esperar que o imbecil concurso se transformasse numa pesquisa colectiva do macho alfa. Ora assim sendo, teria que recair num personagem recente (ainda com feromonas no ar) e claramente afirmativo e claramente vencedor no território que pisou. Salazar e Cunhal correspondem perfeitamente ao perfil. No entanto, se os localizadores do programa holandês da Endemol tivessem alguns neurónios próprios a funcionar teriam feito tudo para incluir duas ou três mulheres com verdadeiro potencial no naipe de eleição. E de entre estas, para poderem confrontar (no feminino) os citados machos alfa, teriam que ter escolhido, forçosamente, a Inês de Castro, a Rainha Santa Isabel e Nossa Senhora de Fátima! Teria sido muito mais divertido e equilibrado.


OAM #182 28 MAR 07

segunda-feira, março 26, 2007

Aeroportos 19

Gato Fedorento arrasa Ota




Os Gatos acabam de prestar um verdadeiro serviço público ao país: mostrar com a inteligência assassina do humor, ao que pode levar a teimosia leviana de um político que faz cada vez mais lembrar aquele sapo metido numa pirex ao lume. A água foi aquecendo lentamente... até que o sapo ficou cozido!

OAM #181 26 MAR 07

sábado, março 24, 2007

Petroleo 4

Um argumento mais contra os devaneios aeroportuários lusitanos




Matt Simmons (Simmons & Company) afirmou à CNBC, após o fecho de mais uma sessão de Wall Steet, que o pico da produção petrolífera será atingido este ano, mas que só nos daremos conta disto, muito provavelmente, em 2008. (07-03-2007)

Isto quer dizer que, se nenhum fenómeno fizer disparar os actuais preços do crude para os 80 dólares o barril ainda este ano --crise pós-eleitoral na Nigéria, insurreição iraquiana, descontrolo da crise iraniana (que hoje mesmo esteve a ponto de suceder!), desastres climáticos, ou uma queda abrupta do dólar (em declínio imparável há vários meses)-- já nada poderá impedir o encarecimento acelerado dos produtos petrolíferos nos anos que se aproximam. Em cinco anos, o petróleo poderá chegar aos 300 dólares o barril. Hoje está a 62 USD/b, muito longe, portanto, dos 12 a 25 dólares que serviram de referência para a maioria dos pseudo-estudos sobre o NAL (Novo Aeroporto de Lisboa).

Desta realidade decorrem algumas conclusões importantes:

-- só resistirão as companhias aéreas que forem capazes de reduzir drasticamente os seus custos operacionais, através da substituição das actuais frotas ruidosas e ineficientes em termos energéticos, do aumento radical da produtividade, do uso de instalações aeroportuárias baratas e da subcontratação de tudo o que estiver fora do coração do negócio (transportar passageiros pelo ar e oferecer-lhes uma rede barata, confortável e criativa de soluções de viagem);

-- mesmo assim, nada garante que uma recessão mundial provocada pela subida em flecha dos preços dos combustíveis não venha a induzir um arrefecimento acentuado no eufórico fenómeno das Low Cost (que entretanto tenderão a alargar a sua área de negócios para os transportes ferroviário, marítimo e fluvial);

-- a decisão estratégica europeia (e espanhola) de intensificar a construção de uma densa rede ferroviária em bitola europeia de Alta Velocidade e de Velocidade Elevada irá concorrer directamente com o transporte aéreo nas distâncias até 900 Km;

-- sendo obviamente uma quimera pensar que Portugal possa ser uma porta de entrada aérea na Europa, resta-lhe tão só participar da forma mais inteligente que souber nas redes de transporte aéreo e ferroviário actualmente em rápida constituição na Europa: companhias de Baixo Custo (Low Cost) e redes de Alta Velocidade e Velocidade Elevada. E aqui, a prioridade deve ir claramente para a ferrovia e não para o transporte aéreo, pois sendo impossível integrarmo-nos nas novas redes ferroviárias sem vultuosos investimentos estratégicos, o mesmo não sucede com o transporte aéreo, para o que bastará saber recuperar rapidamente e com custos mínimos os aeroportos que temos, em função das solicitações das novas companhias, secundarizando liminarmente os problemas derivados da decadência inevitável das companhias de bandeira;

-- destas novas evidências decorre que não há nenhuma pressa técnica, logística ou económica de fundo que leve a pensar ser necessário construir um novo grande aeroporto na região de Lisboa, bastando, para já, modernizar a Portela e reforçá-la com o apoio de mais dois aeroportos: Montijo (para as Low Cost) e Tires ou Sintra (para os "Corporate Jets");

-- no que se refere à ferrovia, a solução também é simples: ligar imediatamente Lisboa a Madrid via Alta Velocidade, terminar a adaptação da Linha do Norte ao Alfa Pendular e definir um plano ferroviário de emergência destinado a traçar uma rede mínima de linhas em bitola europeia capaz de agilizar a mobilidade de pessoas e mercadorias entre Portugal e o resto da Europa;

-- entretanto, sem preconceitos, mas com as maiores cautelas, devemos lançar a discussão sobre a alternativa nuclear pacífica ao declínio da economia do petróleo.

Tudo o resto, sobretudo a patética teimosia do actual governo no dossiê da Ota, tem que ser devidamente minimizado.

Conselho gratuito a José Sócrates: faça um "reset" no dossiê do NAL (Novo Aeroporto de Lisboa) antes de começar a presidência portuguesa da UE, dê um prazo curto para re-análise independente do problema, convoque uma conferência europeia sobre energia e mobilidade na Europa, apoie-se nos argumentos da Oposição e tome por fim um decisão lúcida no ano novo de 2008. Já sabe o que penso: prioridade à ferrovia e custos mínimos na adaptação das nossas infra-estruturas aeronáuticas.

22-03-2007. Evidence is mounting that oil prices will soon climb to new, perhaps unaffordable for many, highs. Some think "soon" is three, four, or five years away. Others think "soon" may be as close as three, four, five, or six months. It is this latter scenario in which oil and gasoline prices reach new highs before the year is out that we look at today. -- Tom Whipple, Falls Church news-Press



OAM #180 23 MAR 07

sábado, março 17, 2007

Governo PS 2

Manuel Pinho, de Portugal, e Manuel, the spanish waiter, de Faulty Towers
Manuel Pinho, de Portugal, e Manuel, the spanish waiter, de Faulty Towers

All Manuels!

Allgarve Low Cost Weekend: come and enjoy our unforgetable minister of economy for only €100


O Governo português vai investir, só este ano, nove milhões de euros na promoção e realização de eventos no Algarve. E, para vender melhor a região, o Governo aprova e paga uma mudança do nome do Algarve, de português para "um género" de inglês: Allgarve!

Em primeiro lugar, constata-se que abriu antecipadamente a temporada de caça ao voto.
Em segundo, que para distrair a atenção pública dos sérios problemas do país, que o actual governo está longe de começar a resolver, nada melhor do que o grande "stand-up comediant" do governo Sócrates, Sua Excelência o Imberbe Ministro da Economia, Manuel Pinho!

Para este Manuel, tal como para o extraordinário personagem de Faulty Towers, o mundo que pisa está escrito num idioma que não entende, e por isso faz invariavelmente as maiores confusões na sua cabeça e pronuncia frases cómicas, pela sua óbvia falta de oportunidade e sentido de estado, de cidadania ou da mais simples prudência cultural.

Em Portugal, diz aos desempregados que os seus salários subiram demasiado e que as empresas de calçado e vestuário vão naturalmente para a China e para o Paquistão.
Na China, diz aos empresários chineses que venham para Portugal porque aqui ainda há salários baixos e um proletariado simpático e dócil.
No Algarve, explica aos indígenas que all é uma palavra inglesa que quer dizer tudo ou todo, e que portanto, Allgarve quer dizer... Todo-o-Algarve!
Ao perguntarem-lhe porque motivo se muda o nome de uma região portuguesa para um nome género inglês (de Algarve para Allgarve), o Manuel afirma candidamente: é que, como sabem, os turistas que vêm para o Algarve são sobretudo estrangeiros.

Onde está o Basil do governo Sócrates, para dar uma palmada na nuca deste peripatético?

OAM #179 17 MAR 07

quarta-feira, março 14, 2007

Socrates 7

Jose Socrates na capa do semanario Sol
A biografia de José Sócrates montada pelo Sol apresenta todos os contornos de uma
cortina de fumo e revela o estado andrajoso da imprensa portuguesa actual.

As misteriosas Fábricas de Canudos

Há alguns anos atrás a estatal Tabaqueira foi privatizada e adquirida pela Philip Morris. Uma das primeiras decisões da nova administração foi emitir uma ordem de serviço proibindo o tratamento por Dr., Eng. Arq., etc., dos licenciados assalariados da nova empresa. Uma boa decisão que, se já adoptada entre nós, evitaria muitas das cenas tristes a que frequentemente assistimos na pastelarias, nas empresas, nas repartições públicas e na cada vez mais insuportável televisão. O Senhor Durão Barroso é o actual presidente da Comissão Europeia. O Senhor Dr. Durão Barroso não existe, a não ser no aparvalhado sítio lusitano.

Na realidade, nos países anglo-saxónicos, doutores são tradicionalmente os médicos e também se admite tal tratamento quando dirigido aos licenciados nalgum curso universitário depois de cumprido um doutoramento, sobretudo entre pares. Já nos países latinos, mais atrasados na chegada à moralidade laica da ética capitalista, do que os povos protagonistas das cisões protestantes e puritanas, as habilitações académicas tenderam quase sempre (não é o caso da Espanha, por exemplo) a ser consideradas como um sucedâneo dos títulos da antiga nobreza. No século XIX, os endinheirados compravam títulos nobiliárquicos, tal como mais tarde, no queiroziano século XX português (e italiano, por exemplo) se cobiçaram, forjaram e compraram (com cunhas e com dinheiro) os novos prefixos da pequena burguesia ascendente e da crescente massa de funcionários públicos que foram acudindo às necessidades crescentes de um Estado cada vez mais complexo e oneroso. Ao licenciado queiroziano (o célebre Conde de Abranhos) sucederam os doutores, arquitectos e engenheiros de hoje. Estes prefixos, sem os quais muitos dos nossos conterrâneos se sentem nus, não passam, afinal, de penduricalhos ridículos, espécie de nódoa indelével da nossa alarve ignorância, arreigado conservadorismo e teimosa hipocrisia. Em vez de senhores da sua própria liberdade, os doutores da mula russa preferem exibir a pluma do seu pequeno privilégio pós-rural e, se possível, ascender ao conforto de uma carreira no funcionarismo público. Tal pluma serve, entre outros fins, para sonhar com conselhos de administração de empresas públicas, ou com a pequena carreira política.... Mas aqui a porca, por vezes, torce o rabo!

O escândalo que envolve a Universidade Independente, onde, está dito, José Sócrates obteve uma licenciatura, prende-se com suspeitas sobre a prática de actos ilícitos como sejam o branqueamento de capitais, o tráfico de diamantes (de sangue?), a falsificação de documentos e a forja de canudos universitários. As três primeiras suspeitas fizeram os cabeçalhos dos OCS lusitanos durante algum tempo (ver por ex.: notícia na TVI). A suspeita de irregularidades na atribuição de títulos académicos tem vindo a ser abordada sobretudo nalguns blogues portugueses (ver nomeadamente Do Portugal Profundo).

John Major não completou sequer o ensino secundário. No entanto, tal não o impediu de seguir uma promissora carreira bancária e de se tornar primeiro ministro do Reino Unido. Nada na legislação portuguesa obriga o presidente da república, ou qualquer membro de um governo a possuir uma licenciatura académica. Basta, creio eu, que saiba ler, escrever e contar. E assim deve ser. Ou melhor, deveria obrigar a que, já agora, tivesse alguma experiência de vida e de administração.

As suspeitas que têm vindo a ser levantadas relativamente ao CV do primeiro ministro José Sócrates não incidem pois, pois não poderiam incidir, na questão dos atributos académicos do político, mas na legítima curiosidade de saber se o atributo que ostenta é apropriado ou inapropriado. Se é apropriado, não deve ser confusamente descrito nas biografias oficiais e jornalísticas do protagonista, lançando razoáveis dúvidas entre os mais obsessivos. Se não é apropriado, então a coisa é grave, pois somos levados a perguntar: é ou não verdadeira a biografia oficial do primeiro ministro, distribuida pelo governo, no que se refere ao grau académico de José Sócrates? É ou não correcta a atribuição académica de José Sócrates inscrita na entrada (protegida) da Wikipedia ? Se não é, estamos perante um lapso ou diante de uma mentira?

Antes de escrever este postal, depois de receber insistentes mensagens na minha caixa de correio, pensei que o assunto é demasiado melindroso para ser levianamente abordado. Estive por isso em silêncio durante meses. Mas depois cheguei a esta conclusão: se de facto houver alguma dúvida nesta matéria, alguma incorrecção que não seja prontamente esclarecida pelo próprio José Sócrates, a dúvida vai começar a inchar como uma bolha imparável, até que rebentará. Por outro lado, se forem realmente falsas as atribuições da sua carreira académica, o mais certo é que alguém se aproveite subrepticiamente do facto, fazendo chantagem. Ora isto é o pior que nos poderia acontecer como país civilizado!

Que sucederia se os portugueses viessem a saber (por um diário madrileno) que a biografia académica do primeiro ministro é falsa? Depende de como a coisa fosse deslindada e explicada. O Bill Clinton pediu desculpa por andar a fazer coisas inapropriadas com uma jovem colaboradora e safou-se. No caso de José Sócrates, a ser verdade que houve falsificação das habilitações académicas, não sei se o país seria capaz de perdoar o homem. Só mesmo uma confissão pública sincera e bem feita poderia impedir a sua previsível demissão do cargo.

Entretanto, pode ser que tudo isto passe, mas seria mau que passasse sem esclarecimento. Pois ficaria para sempre a dúvida sobre a independência de acção do principal governante do país.

OAM #178 14 MAR 07

Actualizações:

PSD pede "cabal esclarecimento" sobre licenciatura de Sócrates
22.03.2007 - 17h03 PÚBLICO

O PSD pediu hoje na, Assembleia da República, o "cabal esclarecimento" sobre a investigação, "legítima e baseada em factos", avançada pelo PÚBLICO sobre as falhas no processo de licenciatura do primeiro-ministro, José Sócrates.

Em declarações aos jornalistas, o deputado Pedro Duarte classificou ainda como "inaceitável" a nota do gabinete do primeiro-ministro que acompanha a investigação.

Na nota, Sócrates considera "lamentável que se utilize a situação actual da Universidade Independente para se atingirem os seus antigos alunos" e "lastimável que o jornal PÚBLICO se disponha a dar expressão e publicidade a este tipo de insinuações".

Porém, o deputado adiantou que o PSD vai "serenamente aguardar" pelo "esclarecimento devido".

"Não queremos acreditar que o gabinete do primeiro-ministro não vá emendar a mão", afirmou Pedro Duarte.

Os restantes partidos recusaram fazer quaisquer comentários.

Segundo a investigação do PÚBLICO, o dossier relativo à licenciatura de José Sócrates na Universidade Independente tem várias falhas. Há alguns documentos por assinar, ou sem data, timbre ou carimbo, tal como há elementos contraditórios, nomeadamente os relativos às notas atribuídas a José Sócrates. (fim de citação)

Comentário: o caso chegou, como previa e é bom que tenha acontecido, aos OCS tradicionais. Entretanto, o sítio oficial do governo Sócrates apressou-se a emendar os atributos académicos do primeiro ministro, deixando de lhe chamar "Engenheiro" para atribuir-lhe, agora, uma "licenciatura em engenharia civil", que tendo sido putativamente conferida pela Universidade Independente (sim, essa!) não o autoriza o dito licenciado a dizer-se e dizer aos outros que é engenheiro, pois a respectiva Ordem não confere automaticamente carteira profissional e licença de actividade ao que quer que saia da tal Universidade Independente. O caso, aprofundado pelo Público, na sequência das investigações, nomeadamente Do Portugal Profundo, vem confirmar haver fortes suspeitas de que o actual primeiro ministro mentiu sobre o seu CV universitário. Se for verdade, não sei como poderá continuar no cargo. -- OAM #178 23 MAR 2007

sábado, março 03, 2007

Paulo Portas

Paulo Portas

Fora do armário?


Paulo Portas, líder dum insignificante partido de direita português, decidiu que era chegada a hora de copiar o novo conservadorismo inglês, tal como há pouco mais de uma década António Guterres decidira substituir a lógica maçónica (e muito "cota") do socialismo português pelo espírito New Labor de Tony Blair e da sua musa inspiradora, o sociólogo inglês Anthony Giddens. O momento é oportuno. Por um lado, a segunda metade da governação de José Sócrates vai revelar com dramatismo crescente as fissuras criadas no actual edifício social pelas correcções sistémicas ditadas pela necessidade absoluta de estancar a hemorragia económica do Estado. Por outro, o partido que terá forçosamente que colonizar, para atingir tão ambicioso projecto, o chamado Partido Social Democrata, vem sendo dirigido por um anão político e navega ao sabor da mais desorientada deriva da sua história, sem protagonista à vista, capaz de superar a orfandade pós-cavaquista. Ora um tal protagonista é absolutamente necessário à sua sobrevivência no preciso momento (e o momento será de 10 anos) em que a tal aura perdida, Aníbal Cavaco Silva, é Presidente da República. A menos que Durão Barroso decida acorrer a tal emergência, o que tem fortes probabilidades de acontecer, Paulo Portas terá de facto um extenso campo de oportunidades pela frente. Pelo sim, pelo não, o actual deputado do Partido Popular, decidu jogar aquela que será certamente a sua maior e porventura derradeira cartada política. O actual líder do PP, Ribeiro e Castro, é uma nódoa de insuportável oportunismo e um verdadeiro imbecil de direita. Resta agora saber até onde estará Paulo Portas disposto a ir no revisionismo do seu próprio e indisfarçável direitismo.

Os resultados do referendo ao aborto marcaram uma viragem sociológica e cultural decisiva em Portugal. Pela primeira vez, a reaccionaríssima hierarquia católica portuguesa e a direita sociológica mais bronca do país foram acantonadas para o lugar de onde não deverão voltar a sair tão cedo: o lugar das convicções religiosas privadas, que é de cada um, e por isso mesmo, não deve permitir as instrumentalizações de poder, sobretudo por parte de quem tutelou de modo tão cruel a nossa secular incultura e a nossa não menos secular hipocrisia colectiva.

Paulo Portas não é burro, e percebeu a mensagem. O tempo para um discurso de direita renovado chegou. E ele quer vertê-lo numa nova carta programática, adaptada e sobretudo adaptável aos novos tempos, se não em nome do seu imediato acesso ao lugar da alternância democrática, pelo menos, em nome de um acto de originalidade e de coragem que o colocará bem melhor do que agora está na galeria histórica dos formadores da democracia lentamente saída do fim do Salazarismo. O país continua cheio de tiques de autoritarismo, compadrio, corrupção endémica, proteccionismos corporativos, irresponsabilidade, provincianismo e obscuridade. Tudo isto pode constar de uma nova agenda reformista de direita, ou melhor dito, neo-conservadora. No que se refere ao modelo económico, o tempo de um novo proteccionismo (complexo, flexível e de geometria variável) vai chegar, nomeadamente pela mão da exangue economia estado-unidense, às agendas políticas das esquerdas e das direitas. Energia, água, segurança alimentar, infra-estruturas portuárias e aeroportuárias, protecção ambiental e redes de conhecimento vão ser as novas prioridades da política, onde o ultra-liberalismo e a hiper-concentração capitalista sofrerão brevemente muitos e sérios reveses. Para quê esperar pelos factos, em vez de nos anteciparmos, ainda que seja, para já, na reformulação do discurso programático?

A vantagem de Paulo Portas sobre Sócrates é que este anda demasiado absorvido pela difícil governação (e não se vê quem no Partido Socialista ande activamente preocupado com a ideologia). A vantagem sobre o PSD decorre da óbvia menoridade intelectual do seu actual líder e da escumalha que o rodeia, nomeadamente nas câmaras municipais de Lisboa e do Porto. Curiosamente, o antigo director do saudoso Independente poderá até surpreender os preguiçosos à esquerda do PS: o PCP (que continua a ser uma gerontocracia maniqueísta) e o Bloco de Esquerda, cada vez mais um saco de gatos sem réstea de imaginação política.

Mas estará Paulo Portas disposto a fazer um acto de contricção relativamente aos atavismos ideológicos promovidos pelo alarve bispo de Leiria? Jura que não enviará mais fragatas de guerra contra raparigas irreverentes, artistas, que promovem o direito ao aborto responsável? Estará disposto a votar a favor do casamento entre homossexuais e a aceitar a homossexualidade publicamente, como deveria? E no plano da grande estratégia, seria capaz de discutir publicamente, sem complexos, a necessidade de pôr fim à nossa subalternidade canina face ao amigo americano, em nome de uma independência de juízos mais afirmativa, e em nome de uma vocação moderadora mais explícita e irrenunciável? Estará disposto a falar menos em terrorismo e mais em direito internacional, em justiça distributiva global e na paz?

Se Paulo Portas for capaz de iniciar uma renovação efectiva do modelo de discussão política actualmente em curso, renunciando simultaneamente à judicialização e à dramatização televisiva do debate público, então estará a caminhar numa direcção favorável simultaneamente aos interesses de um futuro partido conservador arejado e inteligente, mas também do segundo mandato de José Sócrates, para tristeza de José Manuel Durão Barroso.
Escrevi neste mesmo blog que Santana Lopes e Paulo Portas tenderiam para a formação de um novo partido de direita com vocação governativa. A primeira tentativa falhou, por culpa do boémio do PSD. Desta vez, fica claro que é Portas que terá que conduzir o processo do princípio ao fim. O tempo dirá se tive razão ou não.

Portugal está muito perto do grau zero da política. Acossado por uma patente inviablidade estratégica fora do colo europeu, este pequeno país pós-colonial, ou sai do seu ancestral estado de estupidez filosófica e hipocrisia moral, ou caminhará irremediavelmente para a insolvência económica, o banditismo e a submissão plena à lógica de balcanização que de um momento para o outro poderá regressar à península ibérica e ao resto da Europa. A nova guerra fria em curso e o regresso do espectro de uma guerra nuclear no território euroasiático tem vindo a desafiar a consistência estratégica da União Europeia. As provocações e os preliminares da nova confrontação global começaram na sequência da queda do Muro de Berlim e da implosão da União Soviética. Não houve uma voz europeia que impedisse o regresso da Jugoslávia à balcanização; não houve acerto europeu em nenhuma das duas guerras desencadeadas pelos Estados Unidos contra o Iraque; a Europa na NATO pós-atlântica não passa de uma sonâmbula; não se sabe o que andam alguns dos seus estados-membros a defender no Afeganistão; teme-se pela sua posição no caso de a dupla Bush-Cheney decidir desencadear um ataque nuclear contra o Irão, nomeadamente através do cliente sionista. Como se tudo isto fosse pouca coisa, a par do recomeço não-declarado da corrida armamentista nuclear, começa a ganhar terreno a opinião de que só a energia nuclear poderá fazer frente à escassez energética derivada do rápido esgotamento das energias fósseis que alimentaram o crescimento mundial e o modelo de civilização técnica em que vivemos há cerca de duzentos anos: o carvão, o petróleo e o gás natural.

Estará Paulo Portas disposto a encetar verdadeiramente uma renovação estratégica da agenda política portuguesa, deixando de lado o que é secundário e atendo-se ao essencial? Por exemplo, uma agenda estratégica para Portugal capaz de nos preparar para a crise energética, para a deterioração ambiental, e para uma reformulação radicalmente criativa do nosso modelo de vida e de felicidade? Uma grande crise, e é disso que se trata, é também uma grande oportunidade. Se ele souber aproveitá-la, naturalmente à sua maneira (que não é obviamente a minha), todos ganharemos. Do cretinismo galopante, nada se aproveita.

OAM #177 03 MAR 07

quinta-feira, março 01, 2007

A guerra por vir

Treino anti epidemias virais na Bielo-Russia
Treino anti epidemias virais na Bielo-Russia

Contagem decrescente?

Previsões pessimistas realizadas por vários observadores independentes, normalmente expressando-se através de canais online (os média comerciais chegam cada vez mais tarde...), têm vindo a chamar a atenção do mundo para a extrema perigosidade do actual declínio da hegemonia anglo-saxónica. Tal supremacia custou à humanidade duas guerras mundiais atrozes, os dois primeiros bombardeamentos nucleares da história, uma guerra fria interminável (pois parece que continua...) e dezenas de "conflitos regionais" sangrentos e derrubes de regimes políticos instituídos, ao longo de todo o século 20. A profunda crise da economia estado-unidense, associada ao seu imparável belicismo (1), por um lado, e a emergência de uma Eurásia territorialmente extensíssima, multitudinária, repleta de fontes energéticas essenciais e em rápido crescimento económico, por outro, configuram uma situação potencialmente explosiva. Até agora, vimos ingleses e norte-americanos (acolitados por uma Europa sem rei nem roque) tentando aplicar as receitas da dissimulação, mentira, guerra e pilhagem que tantas vantagens trouxeram à Europa e aos Estados Unidos durante todo o século 20. Entretanto, algo começou a dar para o torto...

A guerra contra Iraque, assente numa mentira rasteira (que todos engolimos com indisfarçável desconforto), é um atoleiro horrível. O Afeganistão continua tão perigoso como antes (Dick Cheeney, que ontem escapou por pouco a uma execução às mãos de um homem-bomba da Al Qaeda, em plenas instalações militares "aliadas" - a Base Aérea de Bagram - sabe-o melhor que ninguém). O Dólar não pára de deslizar, havendo quem diga que valerá apenas meio euro no fim deste ano! O fim do boom imobiliário nos EU e uma simples frase do ex-governador da Reserva Federal americana - Alan Greenspan - sobre a possibilidade de a maior economia do planeta entrar em recessão no fim de 2007, provocou um ataque cardíaco nos mercados bolsistas de todo o mundo, agudizado pela queda de 9% na bolsa de Xangai. A obsessão militarista de Bush-Cheney parece, porém, não ter limites. Ou será que tem?

A superioridade militar norte-americana é esmagadora. Com a ajuda da NATO (uma sobrevivência descaracterizada e perversa do velho tratado atlantista anti-soviético), os EUA prosseguem uma perigosa estratégia de cerco das principais reservas petrolíferas e de gás natural situadas no Médio Oriente, nas antigas repúblicas soviéticas e na Rússia. O objectivo táctico é garantir o acesso às preciosas fontes energéticas da região. O objectivo estratégico é mais amplo ainda: impedir a emergência da Eurásia como o império que se segue. Para atingir este objectivo, Bush e Cheney crêem que é preciso impedir a formação de um eixo entre Moscovo e Pequim, transformando o Iraque e o Irão num inferno e as suas reservas energéticas em coutada privada. A simples hipótese de um ataque nuclear de precisão e limitado ao Irão dá uma arrepiante dimensão dos actuais perigos. A guerra nuclear e o aquecimento global parecem ter acertado os cronómetros da extinção da humanidade actual!

É neste cenário de guerra que teremos que saber interpretar a oratória de Putin, ou o modo expedito e silencioso como a China calou a Coreia do Norte. O que está neste momento em jogo é demasiado importante para se deixar perturbar por jogos de guerra subsidiários. Todos queremos saber quem está em condições de ir a jogo nesta roleta russa. Tenho para mim que a desproporção de território e de populações não é nada favorável ao Ocidente. E que seria muito bom para todos que as mentes sãs deste lado do problema conseguissem agir em tempo útil, de modo a evitar a catástrofe certa que ocorrerá se as mentes doentes que alimentam a alcolémia do Sr Bush tiverem êxito nos seus sinistros cálculos e desenhos de poder.



Notas

1. (16/02/07) "As anticipated last January in GEAB N°11, the « fog of statistics » is now clearing and US economic trends appears clearly (retail sales at a standstill in January 2007, record high trade deficit in 2006, downward revision of US growth for 2006, Fed's confirmation of economic slowdown, serial defaults among mortgage lending organisations, continued collapse of US housing market,...). Therefore, according to LEAP/E2020, and contingent on the specific evolution of each component of the US economy, the month of April will account for the inflexion point of the impact phase of the global systemic crisis, that is to say the moment when all negative consequences of the crisis pile up exponentially. More precisely, April will be the time when negative trends will converge, transforming many « sectorial crises » into a generalised crisis, a « very great depression », involving all economic, financial, commercial and political players.

In April 2007, nine practical consequences of the unfolding crisis will converge:

1. Acceleration of the pace and size of bankruptcies among US financial organisations: from one per week today to one per day in April
2. Spectacular rise of US home foreclosures: 5 million Americans out on the street
3. Accelerating collapse of housing prices in the US: - 25%
4. Entry into recession of the US economy in April 2007
5. Precipitous rate cut by the US Federal Reserve
6. Growing importance of China-USA trade conflicts
7. China's shift out of US dollars / Yen carry trade reversal
8. Sudden drop of US dollar value against Euro, Yuan and Yen
9. Tumble of Sterling Pound"

in Global Europe Antecipation Bulletin.
Global systemic crisis - April 2007: Inflexion point of the phase of impact / US economy enters recession


Algumas leituras oportunas:

"The former Soviet Union disintegrated after attacking Afghanistan. It created a train of events that eventually led to the birth of Al Qaeda. We will wait and see what the United States attack on Iraq means for the future of the United States. In the meanwhile, it has created 50 new terrorist organisations."

(...) Approximately 400 millions died in the wars of the last two millennia. About 100 million of them died in the last century alone. If a major war takes place in this century, and if it escalates to such an extent that some of the players use nuclear weapons, we can foresee at least 4 or 5 times these deaths sometime in the next few decades. A world moving towards a war is also bound to neglect poverty, health, climate change and other priorities of human development. Such policy neglect will result in the death of at least 500 million children in the next 50 years at the current rate. Thus, we face the prospect of about a billion people being killed for no fault of their own if our leaders do not make conflict prevention and poverty alleviation their top priorities – in particular conflict prevention involving the big powers. -- Sundeep Waslekar. "Preventing Global Conflicts". February 27, 2007

(...) we are already deep in a New Cold War, which literally threatens the future of life on this planet. The debacle in Iraq, or the prospect of a US tactical nuclear pre-emptive strike against Iran are ghastly enough. In comparison to what is at play in the US global military build up against its most formidable remaining global rival, Russia, they loom relatively small. The US military policies since the end of the Soviet Union and emergence of the Republic of Russia in 1991 are in need of close examination in this context. Only then do Putin’s frank remarks on February 10 at the Munich Conference on Security make sense.

(...) A new Armageddon is in the making. The unilateral military agenda of Washington has predictably provoked a major effort by Russia to defend herself. The prospects of a global nuclear conflagration, by miscalculation, increase by the day. At what point might an American President, God forbid, decide to order a pre-emptive full-scale nuclear attack on Russia to prevent Russia from rebuilding a state of mutual deterrence?

The new Armageddon is not exactly the Armageddon which George Bush's Christian fanatics pray for as they dream of their Rapture. It is an Armageddon in which Russia and the United States would irradiate the planet and, perhaps, end human civilization in the process." -- F William Engdahl -- "Putin and the Geopolitics of the New Cold War: Or what happens when Cowboys don`t shoot straight like they used to ..." . February 18, 2007

"Can anyone stop them? Possibly. There is the now widespread and quite vocal resistance within the armed forces. For the first time in my lifetime, I have seen speculation in the press about a military coup. I doubt it would occur, but the very speculation shows how extensive are the misgivings."
-- Immanuel Wallerstein - "Bush's Healong Rush Into Iran" . February 15, 2007

"O Pentágono já redigiu planos para ataques patrocinados pelos EUA ao Irão e à Síria. Apesar da dissimulação pública da diplomacia dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha, tal como na Invasão do Iraque, o Irão e a Síria sentem outra guerra anglo-americana no horizonte. Ambos os países têm estado a fortalecer as suas defesas para a eventualidade da guerra com a aliança anglo-americana." -- Mahdi Darius Nazemroaya - "Marcha para a guerra: Concentração naval no Golfo Pérsico e no Mediterrâneo Oriental" . Outubro 1, 2006



OAM #176 28 FEV 07