segunda-feira, junho 13, 2011

O amigo americano

600 mil milhões de dólares voaram, nos últimos sete meses, da Reserva Federal americana para 20 instituições estrangeiras. Entre os beneficiados estão seis bancos europeus: BNP Paribas, Barclays*, Credit Suisse, Deutsche Bank*, HSBC*, UBS. Bern Bernanke tem as orelhas a arder!

Bern Bernanke, presidente da Reserva Federal americana
O mínimo que se pode dizer é que o caos financeiro está instalado! Ou seja, o que parecia ser uma guerra da moeda americana contra o euro, pode afinal ser algo muito maior e potencialmente devastador: a elite financeira ocidental, com uma perna em cada margem do Atlântico, procura controlar os danos da especulação desenfreada que criou e alimentou a partir de meados da década de 1980 com a invenção e disseminação de produtos financeiros fraudulentos, no capítulo dos chamados derivados financeiros OTC (over-the-counter). Depara-se, por outro lado, com o colapso imparável da ainda principal moeda de reserva mundial —o dólar americano—, e com a necessidade de improvisar um Plano B (nem que seja o euro!) para o caso de a sentença da ONU se concretizar:

The value of the dollar has dropped to the lowest level in history vis-à-vis other major currencies. Further rising external indebtedness of the United States following a renewed widening of the twin deficits will keep downward pressure on the dollar, and the risk of a hard landing of the world’s main reserve currency will remain high.

[...]

The risk of exchange-rate instability and a hard landing of the dollar could be reduced by having a global payments and reserve system which is less dependent on one single national currency. One way in which the system could naturally evolve would be by becoming a fully multi-currency reserve system. The present system has already more than one reserve currency, but the other currencies remain a secondary feature in a system where most reserve assets by far are held in dollars and where most of the world’s trade and financial transactions are affected in the major reserve currency. The advantage of a multireserve currency arrangement is that it would provide countries with the benefit of diversifying their foreign-exchange reserve assets — in “World Economic Situation and Prospects 2010” (PDF).

As operações de empréstimos de emergência de curto prazo (discount window) lançadas pela Reserva Federal em 2008-2009, e mais recentemente, beneficiaram surpreendentemente várias e importantes instituições estrangeiras com sucursais na América. O documento da Reserva Federal recentemente desclassificado, Discount Window FOIA, é muito elucidativo da escala gigantesca do colapso financeiro da moeda americana.

Exclusive: The Fed's $600 Billion Stealth Bailout Of Foreign Banks Continues At The Expense Of The Domestic Economy, Or Explaining Where All The QE2 Money Went

In summary, instead of doing everything in its power to stimulate reserve, and thus cash, accumulation at domestic (US) banks which would in turn encourage lending to US borrowers, the Fed has been conducting yet another stealthy foreign bank rescue operation, which rerouted $600 billion in capital from potential borrowers to insolvent foreign financial institutions in the past 7 months. QE2 was nothing more (or less) than another European bank rescue operation!

...

In fact, the $600 billion in cash that was repatriated to Europe will mean that European banks likely are fully covered to face the capitalization shortfall that will occur once Portugal, Ireland, Greece, Spain and possibly Italy are forced to face the inevitable Event of Default that will see their bonds marked down anywhere between 20% and 60%. Of course, this will also expose the ECB as an insolvent central bank, but that largely explains why Germany has been so willing to allow Mario Draghi to take the helm at an institution that will soon be left insolvent, and also explains the recent shocking animosity between Angela Merkel and Jean Claude Trichet: the German are preparing for the end of the ECB, and thanks to Ben Bernanke they are certainly capitalized well enough to handle the end of Europe's lender of first and last resort — in Tyler Durden on 06/12/2011, Zero Hedge.

A exposição temerária do sistema financeiro europeu às tropelias de Wall Street foi e é enorme, pelo que não será uma surpresa assim tão grande constatar que parte do guichet dos aflitos tivesse também servido os bancos europeus, japoneses e canadianos com assento nas praças americanas, e que parte do dinheiro virtual da Reserva Federal tivesse voado a velocidade electrónica, de Nova Iorque para Bruxelas, Paris, Londres ou Zurique. Mais intrigante, ou talvez não, é que a liquidez fictícia da Reserva Federal continue a voar para todo o lado, estando já em preparação um novo programa de Quantitative Easing — o QE3.

Para a Grécia, Portugal, Espanha, Itália, Bélgica, Irlanda, estas podem ser, no entanto, más notícias, na medida em que a oligarquia financeira europeia pode estar a preparar-se para um movimento de concentração industrial e financeira sem precedentes, precisamente através da famosa reestruturação das dívidas soberanas — que, entre nós, as ortodoxias decadentes da esquerda estalinista e trotskista vêm reclamando alegremente. Louçã pode estar a ponto de ver realizado o sonho de derrotar Ricardo Salgado. Não deixa de ser irónica esta vitória de Pirro.

A doença da moeda americana parece ser fatal. Como em todas as doenças terminais nunca podemos prever com exactidão o dia e hora do falecimento da criatura atormentada pela morte que se aproxima. Mas que o destino do moribundo dólar parece estar traçado, parece. Aos mais curiosos recomendo esta exposição de hora e meia sobre a doença genética da nota verde.


Economic Federalism - Dr. Edwin Vieira. Ph.D, J.D. from StandUpForLiberty on Vimeo.

(*) — Estes são os bancos que vão gerir a emissão de obrigações do Fundo Europeu de Estabilização Financeira (FEEF), no valor de 5mM€, destinadas a angariar fundos de apoio ao resgate da dívida soberana portuguesa (Jornal de Negócios).

domingo, junho 12, 2011

Euro contra-ataca?

Presidente do Eurogrupo aponta baterias às dívidas americana e japonesa. Não percebe, diz, porque está o epicentro da crise na Eurolândia. Vamos ter um Verão quente!



Juncker: Greece Needs 'Soft' Debt Restructuring

BERLIN—Highly indebted Greece needs a “soft, voluntary restructuring” of its debt, said Jean-Claude Juncker, the head of the group of countries using the euro as a common currency, in a radio interview Saturday.

(...) “The debt level of the USA is disastrous,” Mr. Juncker said. “The real problem is that no one can explain well why the euro zone is in the epicenter of a global financial challenge at a moment, at which the fundamental indicators of the euro zone are substantially better than those of the U.S. or Japanese economy.” -- Wall Street Journal.

Tendo presente os números do FMI referentes a 2010, percebe-se melhor a declaração de Jean-Claude Juncker:

Dívida Pública em % do PIB (Wikipedia):
  • Japão: 225,8
  • Grécia: 130,2
  • Itália: 118,4
  • Bélgica: 100,2
  • Irlanda: 93,6
  • EUA: 92,7
  • Reino Unido: 76,7
  • França: 84,2
  • Portugal: 83,1*
  • Alemanha: 74,3
Dívida Externa em % do PIB (Wikipedia):
  • Irlanda: 1224
  • Reino Unido: 398
  • Portugal: 201 
  • Grécia 165
  • Eurozona: 120
  • EUA: 97
  • Mundo: 95
  • União Europeia: 83
  • Japão: 51
Balança de Transacções correntes, posição relativa (Wikipedia)
  • China: 1º (+)
  • Japão: 2º (+)
  • Alemanha: 3º (+)
  • Noruega: 5º (+)
  • União Europeia: 14º (+)
  • Irlanda: 167º (-)
  • Grécia: 180º (-)
  • Portugal: 181º (-)
  • Reino Unido: 186º (-)
  • França: 188º (-)
  • Itália: 189º (-)
  • Espanha: 190º (-)
  • EUA: 191º (-)

Ou seja: da guerra em curso ente o dólar e o euro apenas pode resultar um desastre maior. O modelo económico tem que mudar. E com ele o modelo financeiro especulativo dominante.

PS: a reestruturação da dívida grega vai ter consequências imediatas no BCP, o banco português mais exposto à dívida soberana daquele país. Sem capacidade para reforçar os capitais próprios, terá em breve que recorrer ao fundo de resgate de 16mM€ previsto no Plano da Troika. Esperam-se tempos difíceis neste banco.

(*) Estes números foram recentemente revistos em alta, depois de Bruxelas incluir no perímetro orçamental as dívidas que andavam escondidas nas empresas públicas e em entidades privadas de capitais 100% públicos! Segundo o Expresso: “Bruxelas estima que a dívida pública portuguesa aumente de 93 por cento do PIB em 2010 para 101,7 em 2011 e 107,4 em 2012.”

sexta-feira, junho 10, 2011

Bitcoin

Uma moeda finita, puramente computacional, para derrotar o buraco negro da ladroagem mundial?

E se os money changers fossem derrotados por um banqueiro anarquista anónimo e sem dono?

Em plena erupção da crise financeira e económica mundial, desencadeada pelo colapso dos chamados empréstimos Subprime, a percepção de que o sistema bancário na era da globalização electrónica se transformara numa Dona Branca planetária, levou um misterioso hacker japonês, Satoshi Nakamoto, a criar, entre 2007 e 2010, o modelo daquela que promete ser a futura moeda global: descentralizada, democrática, sem dono, e à prova de inflação. Esta moeda, que já circula na tecnosfera, chama-se Bitcoin. Baseada na partilha ponto-a-ponto de ficheiros entre computadores (P2P), é um meio de pagamento digital-electrónico, cujo valor é extraído através da resolução de problemas matemáticos de complexidade crescente, encriptado através de algoritmos muito sofisticados e resistentes, finito (para evitar a inflação monetária) e que promete resistir aos money changers pós-modernos, responsáveis pela gestação criminosa de um risco de incumprimento financeiro global equivalente a 10x o PIB mundial, ou seja, 600 milhões de milhões de US dólares (“Semiannual OTC derivatives statistics at end-December 2010”—Bank of International Settlements).

The Currency That's Up 200,000%
Bitcoins are the top-performing money in the world -- but what are they?
Smart Money, Wall Street Journal

The best performing currency of the past year isn't Brazil's real, up 15% versus the U.S. dollar, or Australia's dollar, up 27%. It's the Bitcoin. A year ago one was worth half a penny. Thursday morning it hit $10.50. That's a gain of more than 200,000%.

What's a Bitcoin? It's a peer-to-peer system of electronic money that allows payments to be sent directly between two parties without the need for a financial institution. It's related to Bit Torrent, a system for sharing large files like movies, but in this case the "movie" is a file with the currency's entire transaction history. And because users themselves all share that history, "it's more secure than even bank transactions," says Donald Norman, a spokesman for the Bitcoin Consultancy, which is seeking to gain wider acceptance for the currency.


The Bitcoin Triples Again
Smart Money, Wall Street Journal

The world's fastest-gaining currency has tripled in price again. Last week, SmartMoney.com reported that the Bitcoin had exploded from an exchange rate near zero to more than $10 in about a year, making it one of the top-returning assets of any kind. On Wednesday the currency topped $30.

If returns like those seem otherworldly, perhaps its because Bitcoin is a world unto itself. To recap, it's is a purely online currency with no intrinsic value; its worth is based solely on the willingness of holders and merchants to accept it in trade. In that respect, it's not so different from fiat currencies like the dollar or Euro, but whereas governments back such money, Bitcoins lack central control.

Bitcoin tem a sua origem cultural na vasta comunidade de hackers e de defensores de uma espécie de anarquia electrónica responsável, comunitária e anti-capitalista. A genealogia deste movimento cultural com impacto crescente na actual civilização tecnológica (paradoxalmente ameaçada pelo consumo e destruição especulativa dos seus limitados recursos energéticos, naturais e sociais objectivamente disponíveis) é bem conhecida de muitos de nós. Basta citar alguns do seus mais notórios acrónimos:

Linux
Open Source/ Software Livre
Creative Commons
Wikipedia
Wikileaks
Anonymous
Humblebundle
Bitcoin
BitTorrent
The Pirate Bay

Os recentes êxitos instantâneos do Facebook, Twitter, Groupon, LinkedIn e Mac iCloud são versões comerciais híbridas da ideologia tecno-comunitária do Software Livre e da Partilha Gratuita de Ficheiros. Esta ideologia, de que o Bitcoin promete ser o grande protagonista monetário, desafia as noções convencionais de propriedade intelectual aprisionadas por uma agressiva e imperial indústria dedicada à comercialização de direitos de autor e de patentes.

À medida que as dificuldades criadas pelos money masters reduzem as soluções racionais e socialmente disponíveis para a actual crise de endividamento, arriscando destruir a economia mundial (por exemplo, através de uma guerra tecnológica sem precedentes), os indivíduos, as empresas e os governos acabarão por escolher a melhor forma de se protegerem dos processos de implosão e rapina em curso e que não parecem ter fim (sobretudo por causa da dimensão do buraco negro dos derivados financeiros OTC.)

É neste contexto que a Bitcoin aparece como uma ideia brilhante, ainda que na sua infância, capaz de desafiar o poder aparentemente ilimitado dos senhores de um dinheiro que deixou de ser metálico em 1971, e que tem vindo a ser multiplicado electronicamente —numa base puramente declarativa, ou contabilística— sem qualquer base sólida de valor. As bolhas especulativas que nascem e rebentam de forma cada vez mais destrutiva são a marca distintiva desta espoliação em massa das populações e dos países. A partir do momento em que a moeda de reserva mundial, o dólar americano, em nome de uma inflação monetária que não mais acabaria, rejeitou qualquer regra de paridade relativamente ao ouro, as populações e as economias subordinadas à hegemonia imperial desta moeda flutuante foram sendo sucessivamente despojadas das suas poupanças, dos seus empregos, das suas autonomias e, no limite, do direito à existência. Há, no entanto, uma rebelião em marcha — confusa, caótica, mas que a crescente república electrónica global vem apetrechando com escudos e ferramentas de perturbação cada vez mais sofisticados e eficazes.

Há quem diga que Dominique Strauss-Khan foi vítima de uma conspiração dos serviços secretos americanos, em resultado de o ex-director do FMI ter confirmado o que há muito se suspeitava: as reservas de ouro americanas evaporaram-se de For Knox! E o ouro português, ainda lá está? Se o Parlamento Europeu aprovar a proposta da sua Comissão de Economia e Assuntos Monetários, ECON, sobre o uso das reservas de ouro dos países comunitários no pagamento de dívidas de Estado, saberemos finalmente até que ponto a moeda americana não passa hoje de um perigoso fantasma.


What is bitcoin?


Online Cash Bitcoin Could Challenge Governments, Banks

Late last year, after WikiLeaks began releasing its trove of State Department cables, many individuals sought to show solidarity with the group by making a donation. They found, however, that many payment processors would not remit money to WikiLeaks, some say as a result of U.S. government pressure. PayPal even froze the group's account so it couldn't access funds already collected.

“Hey, Visa, Mastercard, Paypal: It's MY money,” media critic Jeff Jarvis tweeted at the time. “How DARE you tell me where I can and can't spend it?” — TIME.

Bitcoin, the new digital currency explained


Crypto Currency
Andy Greenberg, 04.20.11, 06:00 PM EDT
Forbes Magazine dated May 09, 2011

Want to buy socks or psilocybin without being traced? Bitcoins are for you.

The Internet has left plenty of dead and maimed paper-based institutions in its wake. If Gavin Andresen and his underground cadre of cypherpunks have their way, another archaic slice of pulped tree may be next: the dollar.

Bitcoin is a grassroots nonprofit project that seeks to fashion a new currency out of little more than cryptography, networking and open-source software, and Andresen is the closest thing the project has to a director. Bitcoin is not, he explains, just a new way to digitally spend dollars, pounds and yen. That's been tried before. Remember Beenz and Flooz?

ÚLTIMA ACTUALIZAÇÃO: 10-06-2011 23:33

quinta-feira, junho 09, 2011

PS: o sucessor nomeado

Assis atropela Costa por ordem de Santos

Francisco Assis, o tribuno. Foto: ©LUSA

«Os meus camaradas do PS são os primeiros a compreender que honrar a confiança que em mim depositam os lisboetas, cumprir o compromisso que assumi com a cidade que me elegeu e exercer com total paixão as funções públicas que me estão confiadas é não só meu dever como o melhor contributo que posso dar para credibilizar a política e prestigiar o PS» — António Costa (08-06-2011 00:47)

Il consigliere Almeida Santos foi ao Conselho Nacional do PS explicar a António Costa que afinal não podia suceder a Sócrates, e mais: teria que apoiar o Assis!

Pior ainda: António Costa tinha anunciado que iria dar uma conferência de imprensa, logo depois do conselho nacional do partido rosa que teria lugar no Largo do Rato, para anunciar a sua posição sobre a corrida ao cargo de sucessor de José Sócrates. A imprensa ficou à coca, imaginando o que toda a gente imaginou: que o homem iria candidatar-se, prometendo obviamente dar continuidade responsável e idónea ao trabalho do demissionário secretário-geral do PS.

Subitamente, porém, entrando pelo horário nobre das televisões dentro, il consigliere veio dizer-nos, sem cerimónias, que António Costa seria certamente o melhor sucessor de Sócrates, mas que, infelizmente, não poderia acumular tal cargo com o de presidente da câmara de Lisboa. E uma vez que Costa não iria certamente abandonar o cargo camarário, a sua candidatura a secretário-geral do PS ficava, pois, sem efeito.

Ou seja, o futuro secretário-geral do PS pode e acumulará tal cargo com o de primeiro ministro, quando e se vier a ganhar umas próximas eleições legislativas, mas não pode acumular com o cargo de edil da capital. É inacreditável, se não fosse, pura e simplesmente, mais uma demonstração da natureza perigosa de quem, sem a menor vergonha, capturou um partido político de alto a baixo!

A anunciada conferência de António Costa, prevista para as 22:30 de 7 de Junho, acabaria por ter lugar já na madrugada do dia seguinte, para se resumir a uma breve e decepcionante declaração de desistência.

Podemos imaginar os gritos e as lágrimas de crocodilos que correram durante o conselho presidido pelo consigliere Santos!

Desenhou-se e fez-se pois aprovar o plano da tríade que continua a controlar o PS, por forma a colocar no poleiro um sósia barbudo de Sócrates —o amarantino renegado e de nome enganador, Francisco Assis, trepadeira falante disposta a tudo dizer e o seu contrário para agarrar o teleponto dos insaciáveis donos do PS.

Razão teve Manuel Maria Carrilho ao dizer, na passada terça-feira, na TVI, que Assis é um seguidor acrítico de Sócrates, que a seu tempo (digo eu) pescou Assis e o promoveu para o dia de hoje.

Entretanto, lendo as entrelinhas dos jornalistas-pedreiros do Correio da Manhã, ficamos a saber que a manobra do consigliere foi, de facto, mais elaborada e subtil do que inicialmente pensei.

Almeida Santos tenciona afinal retirar-se do cargo que ocupa há séculos —o de presidente do partido— entregando-o (adivinhem?) a António Costa! Ou seja: se Assis ganhar, continua tudo nas mãos da tríade de Macau (Jorge Coelho, António Vitorino, Vitalino Canas, Alberto Costa, Maria de Belém Roseira, Carlos Santos Ferreira, Francisco Murteira Nabo, Manuel Frasquilho); mas se Assis perder para Seguro, pelo menos o cargo decisivo de presidente do partido fica em mãos, como se constatou, bem domesticadas!

O objectivo, porém, é mesmo derrotar António José Seguro, apostando em tudo o que houver para apostar. Até numa candidatura feminista improvisada, como aquela que Maria de Belém Roseira e Ana Gomes parecem estar prestes a protagonizar. Só falta mesmo a Edite Estrela para termos as três desgraças cor-de-rosa na posição de acólitas eleitorais do candidato da tríade. É difícil imaginar uma democracia europeia mais miserável!

A Depressão Demográfica Portuguesa

Com metade da população actual, e mais de metade dela acima dos 65 anos, quem pagará as dívidas e o Estado Social?

Sem olhar para a demografia e para a energia não é possível decidir bem.

Em 2085 teremos a população actual da Catalunha (simular previsões nesta página da ONU) — ou até menos de metade da população actual!

Quem pagará então as facturas lançadas na primeira década do século 21 por uma classe política corrupta e estúpida até à medula?

O declínio demográfico e a inflação decorrente do Pico do Petróleo têm vindo a erguer rapidamente o verdadeiro muro intransponível da nossa decadência e da impossibilidade de pagar as dívidas contraídas pela partidocracia que deixámos crescer como um cancro imparável. Se não pararmos as PPPs rodoviárias e hospitalares, e o ilusório Plano Nacional de Barragens, imediatamente, a saída da zona euro será inevitável, assim como a perspectiva de nos tornarmos uma colónia a ferro e fogo dos nossos credores.

O alerta surgiu, há alguns anos, da Comissão Episcopal da Mobilidade Humana (e dele demos aqui conta então), desmentindo as estatísticas distraídas do político INE. Há décadas que o nosso instituto estatístico e o governo medem mal a realidade, e se esquecem de contar a emigração para a União Europeia (como se esta fosse já uma realidade política consolidada), daqui resultando a pouca fiabilidade dos seus números sobre a população portuguesa realmente residente e activa, e o escândalo da sistémica abstenção eleitoral. Os cadernos estão cheios de zombies, mas também, e principalmente, de emigrantes que o INE e os sucessivos governos não conseguem ver nem contar.
Ontem o INE admitiu pela primeira vez que o nosso saldo migratório foi negativo em 2010, ou seja, saíram mais portugueses do que as entradas de imigrantes no nosso país. Mais concretamente, o INE estimou que saíram cerca de 23,7 mil portugueses em 2010, o que contribuiu para que a nossa população diminuísse em cerca de 700 pessoas no último ano. Continuo a afirmar que os números de saídas de portugueses estimados pelo INE estão manifestamente errados, assim como iremos ver dentro de pouco, quando os dados do Censos 2011 forem publicados. Nessa altura, penso que iremos verificar que a população do país terá entre 200 mil e 300 mil pessoas a menos do que os 10,6 milhões estimados pelo INE. Como chego a este número? Subtraindo as minhas estimativas da emigração com os números de entradas de imigrantes. 
Álvaro Santos Pereira, Desmitos.

terça-feira, junho 07, 2011

Não pagamos?

Estamos no meio duma guerra financeira!
Precisamos de um sistema de forças, de definir correctamente os objectivos, de liderança, de estratégia e de aliados.

Manif. Grécia, 11 de maio, 2011

Como sair da armadilha do endividamento especulativo e da economia virtual para onde fomos arrastados ao longo das últimas duas décadas? Como impor aos credores, sobretudo aos que especularam e especulam com os mercados da dívida, uma repartição equitativa dos prejuízos?

“A UE substituiu os Estados nacionais pela planificação dos banqueiros e, por essa via, a política democrática foi substituída pela oligarquia financeira.” — inWill Greece Let EU Central Bankers Destroy Democracy? A World at Financial War” (6 de Junho de 2011), por Michael Hudson.

De leitura obrigatória, este artigo de Michael Hudson permite-nos uma reflexão mais equilibrada (ainda que deixando de fora as causa estruturais da presente crise financeira ocidental) sobre os desafios dramáticos que temos pela frente: onde estaremos depois de gastar os 78mM€ obtidos pela Troika nos mercados a que já não conseguimos aceder salvo pagando juros suicidas? O dinheiro que vai chegando, com exigências crescentes, serve para pagar facturas atrasadas aos principais credores (Espanha, Alemanha, França e Reino Unido), mas também muitas facturas recentes, provavelmente indevidas, por resultarem do ataque desencadeado pela especulação financeira contra as dívidas soberanas da periferia europeia.

Qual será o preço final do dinheiro fresco que chega, para logo sair em direcção aos credores? Pode ou não acontecer que, depois de os investidores e especuladores recuperaram o seu dinheiro, mais os juros agiotas que conseguiram impor com o auxílio do pelotão de sabotadores das agências de notação, ameaçando expropriar literalmente os nossos melhores activos, a Troika acabe por confessar que o país é insolvente e que por esta razão deverá sair do euro, ou submeter-se a uma governação directa do exterior?

Temos que discutir estas dramáticas perguntas, sem cair na tentação do pensamento linear e completamente inútil dos partidos que, apesar de pagos pelos contribuintes, se recusam a negociar com o inimigo. Na Grécia, actualmente governada por socialistas à beira de serem acusados de traição, é a direita que tem vindo a colocar as questões patrióticas que naturalmente se impõem.

Há uma guerra financeira em curso, como estou farto de sublinhar. Temos que identificar claramente o que está em causa, os teatros de operações, os adversários e os objectivos. E depois, como é óbvio, teremos que defender a integridade do nosso território, como parte indispensável do próprio processo de integração europeia. A União Europeia não pode ser trocada, sob a ameaça terrorista dos mercados especulativos, por uma espécie de feudalismo financeiro e tecnológico, como bem refere Michael Hudson. Regras, coerência e supervisão europeias, sim. Nem sequer contesto, antes pelo contrário, um governo europeu com poderes acrescidos sobre os vários estados-membros da União. Mas não podemos confundir esta trajectória em direcção a uma futura, efectiva e eficiente soberania europeia, com a submissão dos burocratas europeus ao poder cego do dinheiro. Se os dirigentes europeus pensam que podem vender a União a retalho, ou pior ainda, destruí-la em nome de um qualquer imperialismo franco-alemão de trazer por casa, preparem-se para um novo pesadelo! Sem racionalidade económica assente numa visão estratégica efectivamente europeia e solidária, a Europa caminhará inexoravelmente para uma nova guerra civil. É isso que querem os especuladores e os burocratas de Bruxelas, Paris e Frankfurt?

A condição necessária para que arranque o novo pacote “reformado” de empréstimos é que a Grécia entre numa guerra de classes aumentando os seus impostos e rebaixando os gastos sociais – incluindo as pensões do setor privado – e liquide e ponha em leilão terrenos públicos, enclaves turísticos, ilhas, portos, água e sistemas de esgoto. Isto aumentará o custo de vida e o custo de fazer negócios, atingindo a já limitada competitividade das exportações do país.

[...] E no que diz respeito às próprias classes ricas gregas, o pacote de empréstimos da União Europeia conseguiria manter o país na eurozona o tempo suficiente para que retirassem o seu dinheiro do país, antes de chegar o momento em que a Grécia seja forçada a abandonar o euro, regressando a um dracma rapidamente desvalorizado. Enquanto não chegar o momento deste regresso a uma moeda própria em queda, a Grécia terá que seguir a política báltica e irlandesa de “desvalorização interna”, isto é: de deflação salarial e corte de gastos públicos – exceto para pagar o setor financeiro – a fim de diminuir o emprego e, assim, os níveis salariais.

O que realmente se desvaloriza nos programas de austeridade ou de desvalorização monetária é o preço do trabalho. Ou seja, o principal custo interno, já que há um preço mundial comum para combustíveis e minerais, bens de consumo, alimentos e até crédito. Se os salários não puderem ser reduzidos pela via da desvalorização interna (com um desemprego que, começando pelo setor público, induza quedas salariais), a desvalorização da moeda acabará por fazer o trabalho que resta até o fim.

É assim que a guerra dos países credores contra os países devedores na Europa se torna uma guerra de classes. Mas para se impor tamanha reforma neoliberal, é preciso que a pressão externa passe ao lado dos parlamentos nacionais democraticamente eleitos. Pois não é de se esperar que os eleitores de todos os países se mostrem tão passivos como os da Letónia e da Irlanda quando se age manifestamente contra os seus interesses.

[...] As finanças são uma forma de guerra. Como na conquista militar, o seu objetivo é garantir o controle do território e das infraestruturas públicas, e impor tributos. Isso envolve ditar leis aos seus súditos e concretizar a planificação social e económica de forma centralizada. Isto é o que se está fazendo agora com meios financeiros, sem o custo, para o agressor, de ter que colocar um exército no campo de batalha. Mas as economias sob ataque podem terminar tão profundamente devastadas pelos rigores financeiros quanto seriam por investidas militares, provocando a contração demográfica, o encurtamento da esperança média de vida, emigração e fuga de capitais.

in “Golpe de estado financeiro ameaça democracia europeia”, Carta Maior.

segunda-feira, junho 06, 2011

Reservas de ouro ameaçadas

União Europeia abre portas ao assalto às reservas de ouro!



Elisa Ferreira (PS) e Nuno Melo (CDS), membros efectivos da comissão do Parlamento Europeu ECON (Economic and Monetary Affairs), votaram no passado dia 24 de Maio um relatório, aprovado por unanimidade, a favor do uso das reservas de ouro dos países europeus como colateral do endividamento soberano. Este relatório será levado ao Parlamento Europeu no próximo dia 30 de Junho para discussão e aprovação.

Apesar da opacidade do sítio do Parlamento Europeu nesta matéria, a verdade é que a informação chegou ao World Gold Council, e está a ser objecto de comentários muito ácidos por parte de alguma imprensa económica especialmente atenta e independente. Por aqui, o António Maria gostaria de conhecer o que têm a dizer os deputados portugueses citados e que aparentemente terão votado este “compromisso”.

Perguntamos também ao Governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, o que pensa sobre a possível alienação do ouro português, acumulado em boa medida por Salazar, na fogueira imparável dos Derivados Financeiros — um buraco negro, entre 10 a 12x o PIB mundial, que ameaça estagnar o planeta num inferno de deflação e inflação sucessivas ao longo desta década.

The Economic and Monetary Affairs Committee of the European Parliament has approved gold to be used as collateral confirming its status as a high-quality liquid asset

Yesterday’s unanimous agreement by the European Parliament’s Committee on Economic and Monetary Affairs (ECON) to allow central counterparties to accept gold as collateral, under the European Market Infrastructure Regulation (EMIR), is further recognition of gold’s growing relevance as a high quality liquid asset. This vote reinforces market demand for a greater choice of assets that can be used as collateral to meet margin liabilities. World Gold Council, 25.05.2011 (PDF).

The European Gold Confiscation Scheme Unfolds: European Parliament Approves Use Of Gold As Collateral

Wonder why Europe is pressing so hard for Greece (and soon the other PIIGS) to collateralize its pre-petition loans on a Debtor in Possession basis? Here is your answer: "Yesterday’s unanimous agreement by the European Parliament’s Committee on Economic and Monetary Affairs (ECON) to allow central counterparties to accept gold as collateral, under the European Market Infrastructure Regulation (EMIR), is further recognition of gold’s growing relevance as a high quality liquid asset. This vote reinforces market demand for a greater choice of assets that can be used as collateral to meet margin liabilities." Luckily for Greece, it has 111.5 tons of gold in storage (somewhere at the New York Fed most likely). Looking down the road, Portugal has 382.5 tons, Spain 281.6, and Italy leads the pack with 2,451.8 tons. Zero Hedge.

Aparentemente confidencial:

Compromise on Article 43
Collateral requirements


1.           A CCP [Central Counterparty Clearing House] shall accept highly liquid collateral, such as cash, gold, government and high quality corporate bonds, with minimal credit and market risk to cover its initial and ongoing exposure to its clearing members. For non-financial counterparties, CCPs may accept bank guarantees taking into account such guarantees in exposure to a bank that is a clearing member. It shall apply adequate haircuts to asset values that reflect the potential for their value to decline over the interval between their last revaluation and the time by which they can reasonably be assumed to be liquidated. It shall take into account the liquidity risk following the default of a market participant and the concentration risk on certain assets that may result in establishing the acceptable collateral and the relevant haircuts. These minimum standards shall be calibrated in accordance with the risk level and shall be regularly revised to reflect market conditions and in particular in response to emergency situations where it is concluded that doing so will mitigate systemic risk. [GREENs]. (AM 111 - Langen, AM 850 - Luvigsson, AM 851 - Swinburne, AM 852 - Balz, AM 853 - Schmidt).

2.           A CCP may accept, where appropriate and sufficiently prudent the underlying of the derivative contract or the financial instrument that originate the CCP exposure as collateral to cover its margin requirements.

3.           In order to ensure consistent harmonisation of this Article, ESMA, in consultation with ESRB and EBA, shall develop draft regulatory technical standards specifying the type of collateral that can be considered highly liquid and the haircuts referred to in paragraph 1. ESMA, in consultation with the ESCB and EBA, shall submit drafts on those regulatory technical standards to the Commission by 30 June 2012. (AM 860 - Langen).

              Power is delegated to the Commission to adopt the regulatory technical standards referred to in the first subparagraph in accordance with Articles 10 to 14 of Regulation …/… [ESMA Regulation]. (AM 861 - Langen)

domingo, junho 05, 2011

A queda de um boneco

Ex-voto "socialista" não chegou a ter a sua estátua. Acaba de ser derrubado pelo sufrágio popular!

O pesadelo de uma democracia venezuelana não se concretizou.
Fotomontagem: We Have Kaos In The Garden

Dados da sondagem à boca das urnas chegados via SMS, às 18:03, e às 18:05, do interior profundo do PS:
  • PSD: 38,3 (34,9 a 41,7)
  • PS: 28,8 (25,4 a 32,2)
  • CDS: 14,6 (11,2 a 18,0)
  • CDU: 7,6 (4,2 a 11,0)
  • BE: 4,7 (2,6 a 9,4)
  • OBN: 4,7 (1,3 a 8,1)
Como era previsível, o povo e sobretudo as classes médias urbanas fartaram-se. O PSD, a menos que chegue mesmo à maioria absoluta, vai precisar do CDS para formar imediatamente um governo maioritário. Mas irá certamente reservar para si espaço de manobra para negociar um apoio parlamentar estável do PS, em 2012. Ou seja, se a coligação PSD-CDS quebrar, o PS estará pronto para o substituir. Vamos pois prever o seguinte:
  • Até ao fim deste ano: governo PSD-CDS e apoio incondicional do PS ao Memorando da Troika
  • Até ao fim do primeiro semestre de 2012: alargamento da base de apoio parlamentar ao PS, com a necessária clemência em matéria de saneamento do aparelho de estado socialista (quer dizer, em vez de uma razia completa, serão negociadas algumas posições e protecções institucionais actualmente nas mãos do PS)
  • Para salvar o PS há que afastar Sócrates quanto antes. Se não se demitir hoje, será vítima de uma conspiração interna (seguramente em marcha desde o congresso coreano de Sócrates). Francisco Assis continuará como tribuno parlamentar e chefe de bancada, António José Seguro está na calha para substituir Sócrates. Manuel Maria Carrilho poderá ser a ultima ratio socialista, se os jovens turcos falharem...
  • Possível cisão no Bloco
  • Jovens turcos do PCP iniciam profunda regeneração do partido comunista
Uma coisa ficou definitivamente clara nestas eleições: os partidos que rejeitam a possibilidade de ascender pela via democrática ao poder deixam de ter lugar no imaginário popular. A recusa das direcções do PCP e do Bloco de se reunirem com a Troika foi um verdadeiro harakiri para ambas os alienados dirigentes estalinistas, maoistas e trotskistas que ainda restam da ilusão de Abril.

5 junho 2011 19:10

O assassínio de Júlio César — para salvar a República
 Todas as sondagens coincidem numa derrota histórica do PS. Em nenhuma sondagens oficial à boca da urna, o PS chega aos 30%. Apenas a sondagem interna do PS avançou um limite superior acima dos 30%: 32,2%. Sócrates terá que anunciar hoje mesmo a sua próxima demissão de secretário-geral do PS. Se o não fizer, terá que ser empurrado.

5 junho 2011 20:16

José Sócrates Pinto de Sousa regressa à condição de militante de base do PS. O consigliere A.S. já o anunciara.

5 junho 2011 21:22

Resultados finais (falta apurar resultados dos círculos da Europa e resto do mundo)

PSD: 38,63 (105 deputados + 3 ou 4/ Europa e resto do mundo)
PS: 28,05 (73 deputados +0 ou 1)
CDS: 11,74 (24 deputados)
CDU: 7,94 (16 deputados)
BE: 5,19 (8 deputados)
Abstenção: 41,1

6 junho 2011 2:21

Comentário final desta noite eleitoral:
  1. O PSD teve, de facto, uma ampla maioria. Tem mais votos do que a Esquerda toda unida. Ou seja, a Esquerda só poderá bater o PSD com os votos do CDS.
  2. A capacidade negocial de Paulo Portas é, por conseguinte, muito menor do que o líder populista ambicionava. Vai ter mesmo que engolir o número de ministros que Passos Coelho lhe oferecer, sem piar muito, sob pena de desdizer tudo o que disse na campanha, sobre a forma pragmática, profissional e elevada de o CDS fazer política nesta hora excepcional.
  3. O PSD precisará do PS para rever a Constituição, e esta vai ter que ser revista. Ou seja, adivinha-se um novo Bloco Central em 2012, o qual começou a ser preparado esta noite, com a demissão de José Sócrates, abrindo caminho, tudo leva a crer, a António José Seguro — sobre quem tenho as maiores dúvidas. Será, provavelmente, um líder transitório, até às próximas eleições autárquicas; depois, logo se verá.
  4. O PCP recuperou basicamente os seus bastiões de sempre —Setúbal, Évora e Beja—, segurou os eleitores urbanos e suburbanos de Lisboa e Porto, e atraiu novas franjas descontentes, nomeadamente entre a população estudantil (Braga). Se não desenhar novas estratégias, mais pragmáticas, dando lugar aos jovens, o PCP ver-se-à entalado em breve entre movimentos de massas que não será capaz, nem de controlar, nem de aproveitar democraticamente, e o enfraquecimento sindical que decorrerá de uma maior flexibilidade das leis laborais, das restrições previsíveis ao exercício do direito à greve, em linha com a legislação mais comum no resto da Europa, e da fragmentação de algumas grandes empresas públicas, onde ainda encontra boa parte do seu poder de fogo reivindicativo.
  5. O Bloco, por sua vez, vai a caminho da extinção, vislumbrando-se o seu regresso à condição de seita marxista serôdia. Os seus fundadores —Louçã (ex-PSR), Fazenda (ex-UDP), Portas (ex-PCP) e Fernando Rosas (ex-PCP e ex-MRPP) — não têm emenda e sofrem, como boa parte dos da sua geração, da síndrome da cadeira. Acham-se imprescindíveis, portadores de uma missão histórica, e jamais darão lugar à renovação.
  6. Finalmente, a abstenção: mesmo descontando os mortos e os muitos milhares de novos emigrantes que não votaram, é demasiado elevada. Com a degradação da situação social que aí vem, os cerca de 40% de abstencionistas líquidos representam um preocupante potencial de apoio a inesperados fenómenos populistas. Quanto maior for o irrealismo do PCP e do Bloco, maior será a probabilidade da polarização de parte desta abstenção por variantes híbridas de demagogia.
 6 junho 2011 4:05

sexta-feira, junho 03, 2011

The Day After

Sócrates propõe aumento do Rendimento Mínimo Garantido

Um mentiroso sem emenda
Como já aqui vimos, uma das principais consequências da prolongada crise nacional relaciona-se com o extraordinário retorno em força da emigração portuguesa. E se ainda podíamos ter algumas dúvidas se esta vaga emigratória era realmente signficativa ou não, essas mesmas dúvidas começam a dissipar-se com os resultados preliminares do Censo da População, que mostram que as previsões do INE da população nacional poderão estar sobre-avaliadas entre 200 mil e 300 mil portugueses(as). Veremos se estas previsões se mantêm quando os dados definitivos estiverem disponíveis. — Álvaro Santos Pereira in Desmitos.

Se formos empurrados para uma quarentena fora do euro, curiosamente, as centenas de milhar de portugueses forçados a emigrar nos últimos dez anos serão justamente compensados por tal decisão, vendo aumentar instantaneamente o poder de investimento, crescimento e influência no país que os expulsou. Ora aqui está uma maneira de ver a saída de Portugal do euro, ainda que temporária, de uma forma positiva. Claro está que, à excepção das empresas exportadoras e da agricultura, que também beneficiarão, e muito, com esta expulsão do paraíso, o resto da economia, da burocracia, e as pessoas em geral verão as suas dívidas (a pagar em euros) disparar de um dia para o outro, sofrendo, se este colapso se der, uma catastrófica e instantânea perda do seu poder de compra. Este cenário é realmente aflitivo, mas não é totalmente inverosímil.

José Sócrates, tal como a Esquerda degenerada que simboliza —e que vai, de facto, do PS ao MRPP, passando obviamente pelo PCP e pelo saco de gatos bloquista—  defende um país que viva e consuma como se fosse rico e produtivo, mas que trabalhe e produza como qualquer país pobre e subdesenvolvido. A magia desta contradição insanável foi possível até 2010 graças ao afluxo das patacas europeias, à nossa entrada no euro e ao chamado deficit spending (ou seja, crescimento virtual através do endividamento). Acontece, porém, que um país não pode viver simultaneamente com uma moeda forte e uma economia fraca. Insistir nesta incongruência leva inexoravelmente ao sobre endividamento, e deu no nosso caso o resultado que se conhece: a Bancarrota de 2011. Só um primeiro-ministro alucinado pela sua própria ilusão narcisista poderia negar, com a lata que José Sócrates demonstrou, a tragédia anunciada a tempo e horas por dezenas de observadores independentes.

Ou muito me engano, ou 2011 marcará o início do declínio de uma certa Esquerda portuguesa, herdeira decadente de uma mitologia que apenas serviu, desde Marx, ainda que sob uma retórica populista permanente, o grande jogo do Capitalismo. A subida dos salários industriais e urbanos permitiram, numa primeira fase, esvaziar os campos e transformar paulatinamente a agricultura numa agro-indústria de base financeira intrinsecamente especulativa, colonizando depois, sucessivamente, os territórios do saber e as liberdades individuais na grande cidade. A alienação do trabalho, nomeadamente em nome da produtividade e do consumo foi, na realidade, um meticuloso processo de expropriação da autonomia laboral dos indivíduos, das suas artes, e das suas capacidades de agregação e protecção social solidária. Porém, este processo de desestruturação humana tinha e tem um limite, aliás bem identificado por Karl Marx: a lei da queda tendencial da taxa de lucro que conduz às guerras, ao colonialismo exacerbado, ao imperialismo e, por fim, ao colapso. Ora bem, o momento da decadência prevista acaba de chegar ao Ocidente.

O proletariado desapareceu, e em seu lugar ficaram telefonistas, professores, alunos, burocratas, elites palacianas e públicos culturais entregues à metafísica dos direitos adquiridos, do bem-estar e do consumo conspícuo. Enquanto a gordura colonial acumulada durou, os sindicatos e as Esquerdas foram mantendo posições. Vendidos os anéis coleccionados ao longo de séculos de exploração intensiva dos mundos que o Ocidente foi paulatinamente dominando desde o fim da Idade Média, um novo e tremendo desafio se levanta no horizonte: de que modo a nova divisão internacional do trabalho afectará a Europa, os Estados Unidos e o Canadá?

Como iremos empobrecer? De forma grácil e sustentável, redefinindo culturalmente a noção de felicidade e de bem-estar? Ou de forma convulsa e caótica? Conseguiremos livrar-nos das decadentes instâncias de poder que hoje atrofiam a nossa capacidade de reacção aos desafios? Conseguiremos despedir simultaneamente a libertinagem financeira, os cartéis e os sindicatos, em nome de uma nova instanciação do poder e de uma nova criatividade social ajustadas aos novos equilíbrios estratégicos globais que o mundo pós-colonial começa finalmente a desenhar e a impor aos antigos senhores do mundo?

Sem reconhecermos as origens e implicações profundas do capitalismo colonial que se desfaz diante de todos nós, seremos incapazes de compreender os comportamentos partidários que hoje marcam a decadência política do Ocidente, desde as fugas em frente dos piratas financeiros, à hipocrisia e populismo inacreditáveis dos herdeiros caricatos dos velhos partidos sociais-democratas e comunistas que, no seu tempo, pelo uso intensivo da teoria da luta de classes, desempenharam a importante função de válvula de segurança das sucessivas transições do capitalismo ao longo da revolução industrial e tecnológica possibilitada pelo novo paradigma energético decorrente da exploração intensiva do carvão mineral, do petróleo e do gás natural.

Portugal foi à bancarrota este ano, por causas que remetem para o fim do nosso próprio regime colonial, para o colapso das dívidas soberanas do Ocidente, mas também para a irresponsabilidade e corrupção das nossas elites económico-financeiras, profissionais e político-partidárias. José Sócrates é apenas a criatura desgraçada a quem foi dado o papel de protagonizar o epílogo desta farsa. Podemos ser tentados a sentar este boneco no banco dos réus, transformando-o no bode expiatório de uma catarse colectiva. Pão e circo? Recomendo uma saída mais produtiva: desviar as perguntas que todos lhe queremos fazer, para os próximos actores da cena política; e para nós próprios.

quarta-feira, junho 01, 2011

A miopia dos economistas

A avaliação leviana do declínio inexorável do petróleo barato é a principal causa dos erros grosseiros de governação portuguesa desde 1996



Para lá dos maniqueísmos de ocasião, convém ter presente que o colapso das economias ocidentais assenta em três factores corrosivos de ordem estrutural que, se nada for feito, conduzirão as economias afluentes de hoje, mais rapidamente do que previram M. King Hubbert (1956) e Donella Meadows (1972), ou mais recentemente, C. J. Campbell (1997), à rampa descendente da curva de Hubbert — a saber:

  • PRIMEIRO FACTOR: declínio inexorável da principal fonte energética das últimas revoluções industriais, da urbanização em massa e do bem-estar social, i.e. o petróleo (+ gás natural); 
  • SEGUNDO FACTOR: envelhecimento populacional e subsequente declínio demográfico das sociedades alimentadas a petróleo; 
  • TERCEIRO FACTOR: desaparecimento do trabalho, causado por duas consequências inevitáveis das economias liberais: tropismo dos centros produtivos em função do custo do trabalho humano e da proximidade das matérias primas; e substituição progressiva do trabalho humano, incluindo o altamente especializado, por máquinas cada vez mais inteligentes.

Vale a pena ler o último artigo de investigação de Rui Rodrigues (Público) sobre os impactos tremendos que a cegueira dos estrategas pode provocar numa economia, no caso a nossa.
Previsões sobre petróleo levaram a política de transportes errada

Nas próximas eleições, os partidos deveriam discutir e debater seriamente as 120 Parcerias Público Privadas num valor superior a 60 mil milhões de Euros, em que 41% deste valor será destinado à construção de novas auto-estradas e vias rápidas.

Neste artigo vamos recordar as conclusões de um documento governamental, publicado em Março de 1996, cujo título era “Energia 1995-2015. Estratégia para o Sector Energético” da Secretaria de Estado da Energia do Ministério da Indústria e assinado pelo então Secretário de Estado Luís Filipe Pereira. Este estudo pretendia, como se pode ler na página inicial, “apontar os grandes objectivos estratégicos, as políticas fundamentais e as medidas a desenvolver no período considerado”. No final da página V da Síntese é dito: “relativamente aos preços do petróleo, há razões plausíveis para admitir uma certa estabilização dos preços do petróleo no curto prazo e o seu aumento moderado num horizonte mais longínquo”. O que veio a verificar-se foi que, em 1995, o preço do crude era de 17 dólares. No ano de 1998 baixou para os 12 dólares e as previsões, no documento governamental publicado em 1996, eram, para o ano 2000, 23 dólares e de 2005 até 2015 o preço ficaria estabilizado nos 28 dólares!

O buraco de 20 mil milhões de euros das PPPs rodoviárias teve origem (descontando a pirataria) numa hipótese energética completamente irrealista: em 1996, o governo português estabeleceu um cenário de desenvolvimento baseado numa estimativa do preço do petróleo, entre 2005 e 2015, de 23 dólares o barril (PDF). O preço do petróleo bruto à hora que escrevo este texto oscila entre os 100,28USD (WTI) e os 114,61USD (Brent). O resultado é simples: com o actual preço do gasóleo, mais os 8 cêntimos/Km impostos pelas portagens das famosas autoestradas “Sem Custos para o Utilizador” (SCUT), a mobilidade automóvel custa 400% mais nos dias de hoje do que há 10 anos atrás, sem que os salários (salvo o dos administradores do regime) tenham subido ao mesmo ritmo — obviamente!

Em geral, os nossos políticos e burocratas, incluindo a maioria dos deputados e governantes, são uma espécie de novos-ricos para quem andar de comboio, metro ou eléctrico, é um desprestígio. Só os carros de alta cilindrada e o avião lhes dão aquele status que os faz sentir bem. Parece pueril, mas é o principal factor psicológico e cultural que concorre para a irresponsabilidade energética do nosso país.

A ideologia do automóvel e do avião esteve, por outro lado, intimamente associada às pressões dos fabricantes de automóveis e aviões, e às empresas de engenharia e betão armado, dentro e fora de portas. Só o colapso da bolha do endividamento, disfarçada durante duas décadas pelo biombo dos bancos de investimento e as falsas estatísticas, veio desnudar toda a irracionalidade que hoje aperta, como um garrote, a nossa economia, o sistema financeiro de uma ponta à outra, e a sustentabilidade do estado social.

A Mota-Engil e a Brisa, entre outras empresas, parecem ter acordado para o fim de ciclo do betão, e voltam-se finalmente para outras áreas: a ferrovia e os portos. Menos mal! Têm, no entanto, que compreender uma coisa simples: Portugal, para se ligar a Espanha e ao resto da Europa, terá que estabelecer rapidamente três corredores ferroviários —para transporte rápido de pessoas e mercadorias— em bitola europeia (UIC):
  1. Pinhal Novo-Poceirão-Caia; 
  2. Aveiro-Salamanca
  3. Porto-Vigo
Outro sector estratégico da mobilidade a médio e longo prazo abrange os transportes colectivos urbanos, suburbanos e interurbanos, sobre carris, para pessoas e mercadorias, igualmente em bitola europeia. O automóvel eléctrico é uma miragem, e a população portuguesa está a envelhecer rapidamente!

POST SCRIPTUM — O artigo de Rui Rodrigues acima citado deu origem a um debate vivo na Net. Reproduzo, pelo interesse objectivo que tem, a mais recente resposta do autor às críticas que lhe foram dirigidas.

A referência ao documento governamental, publicado em Março de 1996, cujo título era “Energia 1995-2015. Estratégia para o Sector Energético” teve como objectivo chamar a atenção [de] Portugal [para a necessidade de] mudar de política de transportes e [de] investir numa nova rede ferroviária de bitola europeia mista para mercadorias e passageiros, [para deste modo] resolver o grave problema de interoperabilidade ferroviária que o País apresenta.

Limitei-me a apresentar os factos, e pelos dados apresentados temos a certeza absoluta que o preço do Petróleo vai continuar a subir de preço. Mais uma razão para alterar a actual política de transportes e deixar de continuar a gastar dezenas de milhares de milhões de euros em novas auto-estradas.

Temos assistido frequentemente aos comentários de muitos economistas que são contra o troço Poceirão-Caia mas quase nada dizem sobre as novas auto-estradas, muito mais caras, e construídas em regiões onde nem sequer existe tráfego que as justifique. Ninguém consegue entender esta atitude, ainda por cima, quando invocam que o nosso País não tem dinheiro para investir numa nova rede ferroviária. As novas auto-estradas representam 41% dos 60 mil milhões de euros das 120 PPP.

As pessoas que são contra a nova rede ferroviária mista UIC (bitola europeia) nem sequer apresentam alternativas para reduzir os custos de transporte dos contentores de e para a UE. Chamo a atenção para o facto de 50% das nossas exportações serem efectuadas por camião TIR.
Lembro que, quando a Opel de Azambuja anunciou a sua saída de Portugal, para Saragoça, onde tinham outra fábrica, o Presidente da Opel afirmou que a saída daquela empresa tinha, como principal fundamento, os custos de logística. A empresa transferiu-se para Saragoça, onde paga salários duas vezes superiores aos de Azambuja.

A Opel de Azambuja representava, por ano, 0,6% do PIB.

A Auto-Europa também se queixa dos elevados custos de logística devidos ao transporte que tem que ser efectuado em camiões TIR desde a Alemanha até Portugal.

Portugal é um País periférico e para ter acesso aos maiores centros de consumo da Europa, a menores custos, terá que construir uma nova rede ferroviária com 3 linhas, 2 transversais e uma Norte-Sul:

Aveiro-Salamanca, que ligará os portos da Região Norte e o Porto à UE.

Pinhal-Novo-Badajoz, que ligará os portos de Setúbal e Sines e a Região de Lisboa à UE

Vigo-Porto-Lisboa-Sines-Algarve-Huelva, que permitirá conectar todos os nossos portos e principais plataformas logísticas e a nossa fachada Atlântica à rede UIC europeia.

Esta rede vai ter que ser construída de forma faseada, começando pelas vias internacionais que nos ligam à UE.

Vai ser necessário construir uma nova linha Lisboa-Porto, porque é fisicamente impossível mudar a bitola na Linha do Norte, onde circulam centenas de comboios por dia.

Esta nova rede ferroviária vai ser cara? É claro que vai, mas muito pior seria se nada fosse feito. Nesse caso, a nossa economia ficaria menos competitiva e os nossos portos iriam atrofiar. A Espanha seria a grande beneficiada porque iria ganhar receitas de logística à nossa custa.

Cumprimentos Rui Rodrigues 

ÚLTIMA ACTUALIZAÇÂO: 03.06.2011 10:20

terça-feira, maio 31, 2011

A morte de Pinóquio

Quer ganhe, quer perca, José Sócrates tem o destino marcado: a expulsão do paraíso que julgava eterno...



O PSD volta a alargar a sua vantagem para o PS. Na oitava sondagem da Intercampus para o PÚBLICO e a TVI, os sociais-democratas somam agora 37,0% da preferência dos votos, contra 32,3% dos socialistas. O CDS sobe, a CDU mantém e o BE cai. Público (30-01-2011).
Neste momento tudo leva a crer que o PS perderá as eleições do próximo domingo. Os portugueses já não suportam mais a criatura. Eu, por exemplo, mudo imediatamente de canal sempre que o nariz espetado e descarado deste Pinóquio me assalta a casa por um dos canais do MEO. Sei que vai mentir com o descaramento típico de todo o vigarista que se preze, e assim sendo, mudo de programa, ou desligo a televisão. Prefiro manter-me a par dos seus compulsivos delírios de propaganda e manobras de intoxicação mediática, recorrendo aos canais da Net. É menos intrusivo.

As opções de José Sócrates no dia 6 de Junho são apenas estas:
  • no caso improvável de o PS ganhar as eleições, José Sócrates não terá parceiro com quem governar e será por isso forçado a ceder o lugar a alguém que possa e saiba fazer a ponte entre o PS e o PSD. Hoje uma voz amiga soprou-me que estaria tudo preparado para que o socialista ex-fundador da JSD, e actual presidente do Tribunal de Contas, Guilherme d'Oliveira Martins (1), assumisse a espinhosa missão de formar um governo de maioria PS-PSD-CDS, caso o improvável cenário de uma derrota de Passos Coelho viesse a ocorrer;
  • no caso de o PSD ganhar as eleições, formando maioria absoluta com o CDS, ou mesmo precisando do PS para consagrar a estabilidade parlamentar necessária para aplicar rapidamente as medidas mais dolorosas e reformadoras do Memorando de Entendimento, a sorte de José Sócrates é a mesma: despedimento com justíssima causa! A sentença foi aliás decretada pelo consigliere Almeida Santos (primeiro está a família!)

Uma votação mais expressiva no PCP e no Bloco, que deverá, apesar das sondagens, ocorrer, tornaria as coisas ainda mais críticas para o ainda primeiro ministro que conduziu o pais à bancarrota. Se ao menos os ortodoxos do PCP e do BE percebessem quantos milhares de votos perderam pelo simples facto de terem rejeitado quaisquer conversações com a dita Troika, talvez fizessem ainda um esforço nos dias que restam da campanha para evitarem mais verborreia populista, e proporem uma ou duas ideias claras ao país. Louçã está neste momento a perder votos para o PCP, para o PS, para o PSD, para o CDS, para o Partido da Terra, e até para o partido vegetariano!

O PS precisa de uma boa derrota para acordar do estado de hipnose a que foi sujeito pela tríade de Macau e pelo ilusionista José Sócrates Pinto de Sousa. Sem um abalo até às raízes não será provável a clarificação urgente de que necessita para sobreviver ao longo da pesada década que temos pela frente.

A Esquerda está perdida no novelo do seu próprio oportunismo irresponsável. Mas só o PS tem condições de iniciar um processo de aggiornamento socialista capaz de contagiar o PCP e sobretudo o BE, ansiosos ambos por verem superados os atavismos marxistas, estalinistas e trotsquistas que os têm condenado à insignificância partidária e à incapacidade de assumirem o pragmatismo que as gerações mais jovens naturalmente reclamam.

A situação é complexa. Mas há algo cada vez mais evidente: um voto no PS é provavelmente o único voto inútil destas eleições.


NOTAS
  1. Os episódios em volta dos relatórios sobre as PPP rodoviárias podem ter algo que ver com isto. O actual presidente do T.C. aparece, em aparente sintonia com Cavaco, como protector de Sócrates, retendo o relatório que "arrasa" a gestão que a tríade de Macau fez do dossier das PPP rodoviárias do continente (um encargo escandaloso de 20 mil milhões de euros!) Por outro lado, hoje, 30 de Maio, o mesmo Guilherme d'Oliveira Martins deixou publicar, a menos de cinco dias das eleições, um relatório sobre as PPP de Alberto João Jardim na Madeira, onde o governo autónomo é severamente criticado. Link1. Link2. Link3. Link4.

segunda-feira, maio 30, 2011

BCP? What else!

As acções do BCP estão quase ao preço das cápsulas: 0,457€. George...?



Será que a Caixa vai continuar a dar uma ajudinha? Com os senhores da tríade de Bruxelas, Frankfurt e Nova Iorque aqui tão perto, será difícil :(

domingo, maio 29, 2011

Travem os agiotas!

Em vez de juros usurários, porque não exigir à tríade uma taxa média de 0,01%?


Fed Gave Banks Crisis Gains on Secretive Loans Low as 0.01%Bloomberg, 26.05.2011.

May 26 (Bloomberg) -- Credit Suisse Group AG, Goldman Sachs Group Inc. and Royal Bank of Scotland Group Plc each borrowed at least $30 billion in 2008 from a Federal Reserve emergency lending program whose details weren’t revealed to shareholders, members of Congress or the public.

(...) New York-based Goldman Sachs’s borrowing peaked at about $30 billion, the records show, as did the program’s loans to RBS, based in Edinburgh. Deutsche Bank AG, Barclays Plc and UBS AG each borrowed at least $15 billion, according to the graphs, which reflect deals made by 12 of the 20 eligible banks during the last four months of 2008.

(...) Other banks listed in the Fed charts borrowed less than their peers. New York-based Morgan Stanley and Paris-based BNP Paribas, France’s biggest bank by assets, took no more than about $10 billion. Citigroup Inc., JPMorgan Chase & Co. and Merrill Lynch & Co., which is now part of Bank of America Corp., borrowed less than $5 billion each — Bloomberg, 26.05.2011.

O cálculo do resgate da dívida soberana portuguesa está de momento avaliada em 78mM€. As organizações que integram a tríade do resgate —Mecanismo Europeu de Estabilização Financeira (MEEF), Fundo Europeu de Estabilização Financeira (FEEF) e Fundo Monetário Internacional (FMI)—, pretendem cobrar juros por esta operação na ordem dos 5,9%! São juros agiotas, mas inferiores aos mais de 10% para onde actualmente caminham as operações de colocação comercial da dívida soberana portuguesa.

Enquanto esteve aberto o guichet do BCE, através do qual os bancos comerciais pediam dinheiro emprestado à taxa de 1%, dando como colateral títulos de dívida soberana com rendimentos garantidos acima dos 4% (hoje estes rendimentos já andam muito próximos dos 10%), foi o fartar vilanagem que o mitómano Sócrates saudou alegremente como prova da sua eficácia na condução de Portugal à bancarrota.

Quando qualquer coisa cresce a 7% ao ano, significa que duplica numa década. Quando cresce a 10%, significa que duplica em apenas sete anos!

Foi conhecendo esta lei matemática, e depois de constatar que o negócio das dívidas soberanas se tinha transformado em mais uma perigosa bolha especulativa, que o BCE decidiu fechar a sua peculiar portinhola de Quantitative Easing. O ataque especulativo à moeda única europeia, por via do ataque às dívidas soberanas dos PIGS, tornara-se uma ameaça real à própria integridade do euro. Bruxelas, Berlim e Paris não tiveram outra saída que não fosse enveredar por programas de resgate dos países membros aflitos, criando estratégias de endividamento em cascata capazes de travar a espiral de pilhagem especulativa em curso.

Assim, a União Europeia passa a financiar-se junto dos mercados a juros aceitáveis, e depois empresta aos PIGS a juros inaceitáveis e sob condições draconianas. Eu até estou de acordo com todas as condições draconianas da última versão do Memorando de Entendimento da Troika (pois são essenciais à reforma da nossa degenerada democracia), mas não estou de acordo, nem com os prazos, nem com o preço do dinheiro emprestado e a emprestar. O FMI, e sobretudo os FEEF e MEEF, estão a comportar-se como agiotas, e pior do que isso, poderão afogar-se na sua própria ganância. Se os juros e os empréstimos forem impagáveis, a cobrança dos ganhos poderá revelar-se impossível, forçando os credores a aceitar um perdão parcial da dívida (o já célebre hair cut) — ou seja, a sua renegociação.

Durante a crise que levou ao colapso do Lehman Brothers, em 2008, a Reserva Federal (FED), o grande cartel bancário que nos EUA equivale aos bancos centrais de outros países, emprestou secretamente mais de 80 mil milhões de dólares a um grupo de bancos americanos e europeus, a prazos de 28 dias, cobrando juros de 0,01%, com o pretexto de evitar uma corrida aos bancos. Mais tarde, Henry Paulson, Ben Bernanke e Timothy Geithner, convenceram o Senado a realizar uma punção fiscal sem precedentes, de 700 mil milhões de dólares, para resgatar a banca de potenciais faltas de liquidez, cobrando-lhes juros de favor cada vez mais próximos do zero. Esta política de empréstimos sem juros, reservada apenas aos bancos (ZIRP), começou no Japão, mas tem feito o seu caminho. No entanto, o contraste com os juros cobrados às empresas, aos cidadãos, e agora, aos governos, é de tal modo escandaloso, que não poderá deixar de causar conflitos sociais e políticos num futuro bem próximo.

Os mais de 42 milhões de americanos que recorrem hoje às senhas alimentares (food stamps) querem saber as razões desta discriminação, e querem deixar de alimentar um sistema financeiro tão evidentemente injusto e corrupto. Os europeus, à medida que as senhas de alimentação forem entrando na sua rotina, para complementar as suas degradadas pensões de reforma, o custo crescente do seus serviços públicos de saúde e o desemprego sistémico, cada vez menos subsidiado, também!


POST SCRIPTUM (30.05.2011 9:11)

O trauma da reestruturação entrou definitivamente na ordem do dia das dívidas soberanas europeias, a começar pela Grécia, seguindo-se-lhe depois, inevitavelmente, Portugal, Irlanda, Espanha, Itália, etc.

Hipóteses em cima da mesa:
  1. estender os prazos de pagamentos;
  2. diminuir as taxas de juro abusivas;
  3. aparar a dívida (hair cut), i.e. deixar os credores (mas sobretudo os especuladores) com uma parte dos lucros esperados no tinteiro;
  4. não pagar de todo e mandar o euro às urtigas (uma hipótese radical que, na realidade, significa transformar um pesadelo de 10-20 anos, num definhamento até ao fim deste século, no mínimo!)
 Mas pode haver um passe mágico, ou seja, uma quinta hipótese que contorne estas soluções demasiado espinhosas: fazer um acerto de contas prévio entre os países que são simultaneamente devedores e credores. Esta é, pelo menos, a proposta criativa de dois professores associados da Europe Business School: Anthony J. Evans (Economics) e Terence Tse (Finance).
The idea

The idea is very simple - if Portugal owes Ireland €0.34bn of short term debt, and Ireland owes Portugal €0.17bn, we can write off Ireland's obligations and leave Portugal with a reduced debt of €0.17bn.

If you are both a debtor and a creditor you do not need money to settle claims. Rather than require additional funds to deal with choking debt, why not write it off?
The diagrams above show the before and after situation, based on analysis done by students. The simulation itself took place on May 17th 2011 and involved three separate trading rounds — inThe great EU debt write off”.

Parece um jogo vídeo. Mas não estamos todos, de facto, imersos numa economia virtual?

sábado, maio 28, 2011

Um presidente de sal

A dimensão do próximo governo será um indicador fundamental das intenções de Passos Coelho. Cavaco não existe!

Cavaco Silva continua a projectar uma sombra ambígua sobre o país
Passos admite ter que negociar dimensão do Governo
Se tiver maioria absoluta mantém os 10 ministros e insiste que será "eficaz". Se não a tiver, Passos admite "ter que negociar" a dimensão de um executivo. Portas quer 12 — Expresso.

Desde quando é que uma estátua de sal pode imiscuir-se no formato do próximo governo de Portugal? A rainha de Boliqueime fala quando devia estar calada, e não diz nada quando devia falar. Não temos presidente, temos um traste presidencial, aliás com um orçamento muito exagerado para os tempos de austeridade que aí vêm. Primeira medida do próximo governo: diminuir o peso e o custo do governo, do parlamento e... da presidência da república!

Sócrates foi logo atrás das hienas presidenciais, seguido de Portas. Todos acham, em coro, que Passos Coelho é imaturo por exigir um governo mais leve, mais eficiente e menos caro. O silêncio do PCP e do Bloco são a este propósito sintomáticos dos males de que padecem — no fundo, vivem acomodados nos respectivos nichos partidários e parlamentares, comendo lentilhas e debitando orações que já ninguém escuta.

Mas há factos que arrumam qualquer polémica num ápice. Aqui vai:
Ora digam-me lá se a estátua Cavaco Silva, o mentiroso compulsivo Sócrates e o Paulinho das feiras não perderam uma boa oportunidade para estarem calados.


ÚLTIMA HORA (28.05.2011 20:50)

Cavaco desmente crítica a Governo com 10 ministrosTVi24 (28.05.2011 19:41). Ora bem! Ainda bem!! Está na altura de Cavaco Silva por alguma ordem no seu falanstério.

ÚLTIMA ACTUALIZAÇÃO: 30.05.2011 10:11

Debitocracia

Devemos exigir uma auditoria popular à nossa dívida externa

Para além de ser imperioso, nas eleições de 5 de Junho, correr com Sócrates e a tríade que tomou de assalto o PS, o governo e o país, também deveremos exigir do próximo governo, parlamento e presidência da república, uma auditoria imediata à nossa dívida externa, com todas as consequências que daí possam advir — por exemplo, a eventual acusação e julgamento dos piratas que levaram Portugal à bancarrota, ou mesmo, a imposição de uma renegociação euro-a-euro da própria dívida, separando o trigo do joio. Se forem detectadas dívidas odiosas, deveremos estar preparados para as repudiar.

O nosso caso será certamente diverso do da Argentina, Equador, ou Grécia. Mas será assim tão diferente? Ora vejam este excepcional documentário sobre o caso, muito mal explicado, da crise soberana da Grécia.


Debtocracy International Version por BitsnBytes

OUTRO VÍDEO — mostrando um ponto de vista bem diferente, no que respeita à natureza do Capitalismo, a recém difundida (23.05.2011) produção da HBO: To Big to Fail, defende que a salvação dos bancos (cujos pormenores até agora clandestinos, uma decisão do tribunal supremo dos EUA obrigou o FED a revelar recentemente), ou melhor, o mais recente e extraordinário processo de concentração ainda curso foi a única forma de evitar um colapso financeiro mundial de proporções nunca vistas, e uma corrida aos bancos que teria provavelmente destruído a moeda americana em poucas semanas. Esperemos pela chegada deste documentário, com o toque de Midas da HBO, chegue em breve a Portugal.



ÚLTIMA ACTUALIZAÇÃO: 29.05.2011 16:57

sexta-feira, maio 27, 2011

Ao virar da esquina

O pacifismo da Geração à Rasca e do Movimento 15M pode mudar num ápice para algo mais criativo e revolucionário!



O mundo ocidental está cada vez mais endividado. Na realidade tem uma dupla dívida: aquela que contraiu consigo mesmo, nos últimos quarenta anos, substituindo progressivamente o trabalho criativo e a produção dos bens essenciais pelo consumo conspícuo, pelo hedonismo pueril, pelo egoísmo atroz, pelo esvaziamento da sensibilidade, e por uma crescente tendência para o suicídio demográfico; e aquela enorme dívida, de mais de dez gerações de europeus, ao resto do mundo, que colonizaram, parcialmente destruíram e de onde hoje os últimos herdeiros (nós!) começam, finalmente, a ouvir a voz, o clamor e a resposta. Não é só Portugal que está enredado no buraco da sua inconsciência colectiva, mas também a Espanha, a Grécia, a Itália, a Bélgica, o Reino Unido, os Estados Unidos e o Canadá, e em breve a França e a Alemanha. Pois nem a China, nem a China e todas as ditaduras do petróleo juntas poderão, mesmo que quisessem, por precisarem muito, salvar-nos do buraco infinito da nossa dívida entranhada e acumulada ao longo dos últimos seiscentos anos. Vamos empobrecer. Vamos sofrer. Mas saberemos aceitar com dignidade este destino inexorável?

Quem está no poder na Europa perde as eleições, independentemente do quadrante partidário. Foi assim na Grécia, na Irlanda, em Espanha, na Alemanha, e será assim em Portugal no próximo dia 5. O populismo rotativista, interesseiro, sem ideologia, demagogo, mediático, domina a Europa há pelo menos duas décadas. Resta saber se vai continuar a ser assim, tão pacífico e envernizado, quando cresce por todo o continente o número daqueles que não suportam mais os resultados desta hipocrisia aparentemente eterna e desta mentira diária. Um novo populismo, inorgânico, por enquanto sem líder, já despontou no horizonte do desespero colectivo.

As manifestações instantâneas que responderam ao apelo lançado pela Geração à Rasca, os acampamentos urbanos que como um enxame frenético responderam, também através das redes sociais, ao apelo do Movimento 15M, são a face pacífica de uma rejeição monumental dos actuais regimes democráticos, ou, para ser mais preciso, das suas práticas desastrosas e contaminadas por uma verdadeira pandemia de incompetência e corrupção. Passado o ciclo eleitoral, que terminará em 2013, ou mesmo em 2012, na Alemanha, veremos onde irá parar na Europa o pacifismo e a indecisão destes fluxos de inquietação e agitação sociais — pós-democráticas, se os tomarmos na perspectiva dos formatos institucionais da política; pós-contemporâneos, se os analisarmos numa perspectiva cultural mais ampla.

Há um ponto de ruptura que podemos antever com alguma precisão no pacifismo algo patético dos acampamentos de jovens e desempregados que crescem na Ibéria. Esse ponto verificar-se-à na intersecção entre um limiar de desemprego estrutural na ordem dos 15-25%, a estagnação económica, a inevitável e objectiva desvalorização fiscal, e o colapso dos sistemas de segurança social na sequência da praticamente inevitável reestruturação das dívidas soberanas actualmente alinhadas por essa Europa fora. Sem casa, as pessoas vão para a rua. Sem pão, nem leite, as pessoas revoltam-se. A violência anda por aí, contida, segregada no espaço concentracionário das subclasses sem identidade nem horizonte. Mas se a revolta colectiva explodir num voo orientado de vontades, então a violência desesperada dos egos ofendidos e humilhados dessa multitude crescentemente avisada terá encontrado um caminho de libertação psicológica e sobretudo cultural. O que será, ninguém sabe. Mas que será algo, será. Todos começámos já a pressenti-lo.

“subcomandante insurgente Marcos”, do Ejército Zapatista de Liberación Nacional
Esta manhã, quando percorria a avenida Jorge V a caminho da praia, indagava: de onde raio vieram estes novos enxames sociais carregados de energia, para já contida? Serão um mero reflexo educado do grande levantamento cultural que varre a margem sul do Mediterrâneo? E se assim for, tendo em conta o envelhecimento da Europa, conseguirão estes enxames forçar efectivamente alterações profundas nas execráveis partidocracias que temos? Que futuro se pode esperar? Que futuro podemos desejar?

Lembrei-me então do Exército Zapatista de Libertação Nacional, um movimento extraordinário de autodefesa dos índios mexicanos de Chiapas, que em 2005 decidiu renunciar à luta armada, mas que se tornou conhecido mundialmente pelos seus famosos acampamentos, nomeadamente electrónicos, e pelo seu lendário “subcomandante insurgente Marcos” — um filósofo, um esteta e um guerrilheiro que, à falta de melhor, chamaria pós-dadaísta. As semelhanças iniciáticas, sobretudo do M15M, com o mundo onírico-revolucionário dos novos Zapatistas, parecem-me óbvias.

As soluções eleitorais que teremos ou não teremos pela frente serão, não tenhamos ilusões, estádios de uma grande crise em desenvolvimento. A violência privada dos adolescentes do asfalto, e o pacifismo patético da Geração à Rasca são, também, momentos efémeros de um processo cultural que em breve sofrerá alterações bruscas, imprevisíveis e radicais. Uma recomendação aos inquietos: leiam e ouçam a prosódia humanista do “subcomandante insurgente Marcos”. É preciso reinventar e treinar uma nova narrativa sobre a metamorfose.


ÚLTIMA HORA: Barcelona: 120 feridos após confrontos entre “indignados” e polícia na Praça Catalunha. Público, 27-05-2011 15:45 



Comentário: as polícias europeias têm que aprender rapidamente novas tácticas de confronto urbano com manifestantes desarmados. O que este vídeo mostra é uma triste sobrevivência de comportamentos policiais próprios de ditaduras imbecis. O gozo sádico das bastonadas policiais tem que ser substituído por regras de contacto físico próprias de democracias adultas.

ÚLTIMA ACTUALIZAÇÃO: 27.05.2011 20:05