E se o PSD não conseguir a maioria absoluta?
Daniel Bessa faz hoje um tardio mas nem por isso menos louvável acto de contrição sobre o silêncio cúmplice que a esmagadora maioria dos economistas portugueses manteve, entre 2006 e 2008, sobre o estado das nossas finanças públicas e o nosso endividamento externo. Apesar dos sinais de que uma grave crise de insolvência se aproximava das costas lusitanas, boa parte dos economistas e dos jornalistas limitou-se a comentar a propaganda governamental de José Sócrates como se fosse factual, dedicando páginas e páginas de análise paliativa aos cada vez mais martelados e ilegíveis relatórios oficiais. Era tão simples saber o que se passava!
Economistas avisados, como Daniel Bessa, ou Eduardo Catroga, Miguel Cadilhe, Luís Campos e Cunha, Cavaco Silva, e um longo etc., sabiam há muito, ou deveriam saber, que Portugal caminhava a passos largos para a falência, e que não é por termos um primeiro ministro mitómano, manipulador, propagandista e casmurro, nem por causa das pressões e conveniências das nomenclaturas económico-financeira e político-partidária que nos conduziram até aqui, que esconder a verdade ajudaria a resolver fosse o que fosse. A maioria dos economistas portugueses assobiou para o ar quando Medina Carreia e Manuela Ferreira Leite chamaram a atenção do país para o muro onde iríamos todos bater. Batemos. E agora?
Vamos por partes:
- Aníbal Cavaco Silva está tudo menos parado. Quem o critica por este lado, ou é tonto, ou teme o futuro. O reeleito presidente da república despediu José Sócrates de forma quase brutal, usando para este fim o próprio discurso de posse (de facto, o primeiro acto do presidencialismo sui generis que aí vem). O pobre diabo cor-de-rosa só teve tempo de inventar um incidente manhoso para tentar sair de palco, protegendo (é a única tarefa que de momento o aflige) a sua retirada e a retirada do exército de piratas e indigentes intelectuais que com ele levaram alegremente Portugal à bancarrota;
- O Partido Socialista corre o risco de uma cisão, ou de um definhamento prolongado, se demorar demasiado tempo a substituir o seu já inútil líder; deveria fazê-lo quanto antes, e não esperar pela crise de formação do próximo governo de base laranja;
- Passos de Coelho tem todas as condições para ganhar as próximas eleições, com maioria absoluta, desde que ignore os galináceos que começaram já a esvoaçar em volta da expectativa de um regresso em força do PSD ao poder;
- Ao contrário do que todos os analistas e alguns políticos de pequena dimensão opinaram, o volte-face na avaliação dos professores foi um golpe de mestre na campanha eleitoral violenta que o governo-partido-cacique ainda em funções se preparava para colocar na rua. Passos de Coelho mostrou, com esta simples e surpreendente iniciativa parlamentar, que estará disposto a deixar um corredor de oportunidade política e margem de manobra institucional aos partidos à esquerda do PS, entalando assim o PS;
- Em vez do comportamento Caniche que Sócrates vem exibindo, entre abraços e beijinhos à ama Merkel, Passos de Coelho, que também conhece as fragilidades do gigante alemão, explicou a esta física, considerada a mulher mais poderosa do planeta, que vai ter que lidar em breve com um novo primeiro ministro português, por sinal tão transmontano quanto o actual presidente da Comissão Europeia, e para quem, naturalmente, a dívida portuguesa é para pagar, mas sem assassinar os velhos do seu país, nem asfixiar o tecido económico que paga impostos reais (os impostos pagos pelos funcionários públicos, pelos políticos e pelos boys&girls do sistema são, na realidade, um mero desconto na dívida).
Escrevi neste blogue, há já muitos meses, que num país tão à rasca quanto Portugal, o IVA terá que subir até aos 25%, embora exceptuando alguns produtos essenciais (que não o golfe do BES na Comporta!) Atacar o consumo é o menor dos males numa economia que não pode sugar, mais do que Sócrates já sugou, os rendimentos do trabalho e os rendimentos dos profissionais liberais, e das nano, micro, pequenas e médias empresas. O que Bruxelas e Frankfurt querem ouvir é se há ou não redução da despesa pública, efectiva e em tempo útil, não como tal objectivo será alcançado. O PS, em nome da sua predadora base partidária, e da sua íntima e corrupta relação com uma nomenclatura económico-financeira imprestável e agarrada, como verdadeira carraça, às tetas do orçamento de estado, preferiu atacar o bem-estar de milhões de portugueses; o PSD não tem outra alternativa, se não fazer diferente — sob pena de colapsar ao fim de seis meses de governo.
Mas a pergunta do momento é esta: e se o PSD não consegue a maioria absoluta?
Estou convencido de que conseguirá, na medida em que uma parte significativa do eleitorado "socialista", perante a reeleição norte-coreana de José Sócrates para o cargo de cacique-mor do PS, tenderá a votar na mudança, e esta, a vir, só poderá vir do único facto novo das próximas eleições: a estreia de Pedro Passos Coelho. Falo por mim, que nunca votei à direita: se o mitómano vendedor de cobertores de Vilar de Maçada permanecer aos comandos do PS, votarei, naturalmente, embora pela primeira vez, no PSD, isto é, em Passos Coelho. A democracia deixou de ser dos partidos, e será cada vez menos dos partidos. O voto tem vindo a transformar-se num acto democrático instrumental destinado a premiar e sancionar os nossos representantes políticos — aqueles que os nossos impostos pagam para defender o interesse do país e o equilíbrio e justiça sociais. E assim deverá ser. A religião partidária acabou!
Mas repito: e se o PSD apenas conseguir uma maioria relativa? Como fará o próximo governo?
Se tal vier a ocorrer, é porque a campanha eleitoral do PS foi suficientemente populista e mentirosa para ter convencido uma apreciável fatia do eleitorado. E neste caso, teremos um grande impasse institucional. Das duas uma, ou o PSD+CDS fazem maioria, e neste caso teremos uma nova AD. Ou nem sequer fazem, e neste caso restará uma única hipótese de coligação governamental: PSD+PS+CDS, já que uma coligação PSD+PS, isto é a reedição do Bloco Central, com Passos Coelho no cargo de primeiro ministro, seria um absurdo inaceitável por parte de José Sócrates.
Como uma coligação PS+PCP+BE, ou mesmo um novo governo PS apoiado num compromisso de esquerda com o PCP e o Bloco, não ocorrerá antes de Cristo descer à Terra, as alternativas governativas pós-eleitorais, em caso de o PSD não conseguir uma maioria absoluta, só ou acompanhado do CDS, são escassas. E então, das duas uma: ou o PSD e o PS aceitam uma coligação com o CDS, apoiando Paulo Portas para o cargo de primeiro ministro, ou então teremos um governo de salvação nacional de iniciativa presidencial, apoiado pelos mesmos três partidos.
Se o mitómano casmurro que ainda nos desgoverna insistir numa vitória de Pirro, ameaçando destruir o PS e o país, então aconselho vivamente os meus concidadãos a votarem na nova carta do baralho democrático português: Pedro Passos Coelho. Escrevi o que acabo de escrever? Parece que sim!
Dado o estado actual do país e a minha compreensão limitada do problema, a minha intenção é não votar em qualquer partido com assento parlamentar!
ResponderEliminarConcordo inteiramente.... Uma análise óptima....
ResponderEliminarÉ importantissimo que se consiga um governo de maioria absoluto seja em coligação ou não. Outra solução não serve e os partidos não a querem.
Eu voto no CDS, o PSD ainda me assusta.
ResponderEliminarPassos Coelho negociou a sua vitória no PSD nos bastidores das concelhias, sabe-se lá com que promessas, não acredito que seja completamente isento a influências de grupos de boys sedentos de poder.
A única figura no PSD que parece estar acima desses lobbies por mérito próprio é Rui Rio.
No entanto considero fundamental para o país uma purga, defendo á que este novo governo seja bem policiado para impedir a repetição desta triste história que foi a governação PS.
A renovação dentro do PS vai demorar algum tempo, mas acredito que também venha a acontecer, a alternativa é a implosão do PS.