quinta-feira, março 28, 2013

Sócrates, o regresso

Marilyn Monroe © Sam Shaw (1957)—Sam Shaw Archives

Há pessoas assim. Quando entram numa sala, as atenções voltam-se para elas, gostemos ou não.

Esta frase de José Miguel Júdice num debate SIC sobre a entrevista dada por José Sócrates à RTP1, comparando Sócrates a Marilyn, foi um momento inspirado e certeiro sobre a já inegável viragem na pasmaceira mediática que tem vindo a decorar o inferno sem esperança para onde o governo de coligação tem vindo a conduzir o país — outra metáfora, desta vez dantesca, apropriadamente evocada esta noite pelo homem que mais paixões e ódios tem suscitado em Portugal nos últimos anos.

O antigo primeiro-ministro reconheceu, pela primeira vez, um erro de fundo nas suas decisões enquanto liderou o PS e foi chefe de governo: ter formado um governo minoritário depois de ter perdido a maioria absoluta em 2009. Este reconhecimento é porventura a afirmação mais importante proferida ao longo da entrevista.

O resto foi, no essencial, a prova viva de que o homem está mais fino que um alho, e que vai condicionar o debate político português no decurso do pouco tempo que restará ao governo. A pancada no inútil de Belém foi de uma contundência épica. Olhou para o governo como uma turma de cavadores suicidas. Passou o esperado atestado de nulidade ao zero à esquerda que herdou o PS, e que de esta noite em diante vai deixar de dormir.

Sibilino, José Sócrates anunciou à sua próxima vítima, neste caso, Marcelo Rebelo de Sousa, um putativo candidato presidencial que há mais de uma década se cobra e bem para manter a sua agenda de intriga partidária no ar, que os seus comentários na televisão pública serão pro bono. Delicioso!

Têm alguma dúvida sobre o 'comentador' que vou passar a ouvir ao Domingo? Eu, e o país inteiro?


ÚLTIMA HORA

Afinal, e ao contrário do que disse hoje (28 mar) uma criatura parlamentar do PSD, e ao contrário do manifesto de estupidez incorrigível pronunciado por Francisco Assis, o Pinóquio, pelo menos ontem, não mentiu. No máximo, usou critérios discutíveis na contabilização das despesas e encargos das PPP rodoviárias.

Sobre estas PPP é preciso ter em conta que não sabemos, nem podemos saber hoje, isto é, no momento em que Passos Coelho revela a maior das subserviências face ao Bloco Central das Rendas (nomeadamente via Sérgio Monteiro) o que teria feito Sócrates se o governo não tivesse caído, se a Troika não tivesse desembarcado em Lisboa, e se uma solução mais parecida com a espanhola tivesse sido negociada. Poderia, por exemplo, ter obrigado os rendeiros do BES, da Mota-Engil e do grupo Mello a reduzir os lucros leoninos previstos nos contratos, e forçar sem cerimónias uma renegociação severa da distribuição dos riscos do negócio. Já todos percebemos que o Passos de Coelho não tem adrenalina, nem coragem, para tal!

As paixões e ódios fulanizados são maus conselheiros em tempo de naufrágio.

E no caso vertente, o facto político relevante é este: Pinóquio deixou de poder ser usado como o bode expiatório da tragédia em curso. Fez asneiras? Basta ler este blogue! Já em maio de 2005 aqui se avisava, analisando o impacto do pico petrolífero na economia mundial e as próprias estimativas então anunciadas por Medina Carreira, que Portugal caminharia inexoravelmente para o colapso financeiro e a falência, em menos de uma década, se não mudasse de vida em matéria energética, de despesa pública e de dimensão do aparelho de estado.
“Factos e números ditos por Sócrates são verdadeiros ou falsos?”
Negócios online, 28 Março 2013, 01:05 por Helena Garrido | Marlene Carriço | Maria João Babo | Isabel Aveiro | Miguel Prado | Catarina Almeida Pereira |  Manuel Esteves |  Nuno Aguiar |  

Entrevista de José Sócrates à RTP foi vista por mais de 1,6 milhões de espectadores
Jornal i com Agência Lusa, publicado em 28 Mar 2013 - 10:46.

“Sócrates - O retorno da mentira como estratégia política”. Por Pedro Cosme Vieira (in Económico-Financeiro, 28mar2013.)

“A lata”. Por Manuel Maria Carrilho (in Diário de Notícias, 28mar2013.)

“A nova conspiração socratina”, Do Portugal Profundo, 29mar2013.


Última atualização: 03 abr 2013, 12:21 WET

4 comentários:

Anónimo disse...

A filosofia socretina está aí para comer a cabeça a muita gente com o alto patrocínio da maçonaria e do BES porque quem sabe sabe...

Agora é só ligar as pilhas Duracel ao jorge coelho e os tambores de guerra irão rufar.

As vaselinas em Portugal só deveriam ser vendidas na cor rosa.

joshua disse...

Este post desilude-me. Considero-o absolutamente superficial.

Francisco Almeida disse...

Eu também estou desiludido com este post. Depois de muito esforço a combater a máquina de propaganda por detrás do Sócrates, agora até O António Maria decidiu, a custo da sua própria coerência, participar na farsa?

O que era propaganda então, também o é agora! Não comecem a relativizar os factos para criar um messias de ocasião...

Não consigo apagar da minha memória o controlo sobre a comunicação social (ainda hoje disputado entre o PS e o PSD, com óbvia vantagem do PS), as patranhas e todas as políticas populistas.

Estou muito, mas mesmo muito, desiludido.

António Maria disse...

Limitei-me, como sempre, a tentar ler criticamente a situação. Não sou eu que quero um Messias, é o povo que, um dia destes, se continuamos a espatifar o que resta do crédito democrático, exigirá o tal Messias :(

D. Carlos I era um líder fraco, e António Granjo, quem era? A história só não se repete, se algo de fundamental mudar nas instituições do poder. E por enquanto...

Do ponto de vista de um 'blogger' como O António Maria, "o regresso de Sócrates" parece e é o assunto do dia. Quer gostemos, quer não.

A independência dos pontos de vista aqui expressos é e será, como sempre, total.

Aguardemos, pois, as cenas dos próximos capítulos!