sexta-feira, agosto 20, 2004

Slow Food

Cultura e património gastronómicos: quem os defende?

rabanadas e formigos
Rabanadas e Formigos à moda de Cinfães do Douro.

OAM
#37
20 Agosto 2004

O movimento Slow Food começou em 1986, em Cuneo, na região do Piemonte (Itália). Chegou a estar na moda durante a década de 90, mas em Portugal mal aflorou.
Os seus pressupostos continuam vivos e talvez valha a pena aplicá-los, com imaginação e alguma disciplina, ao relançamento de um Slow Food Portugal, ou algo semelhante.

Recuerdo


Em 1979 participei num evento artístico em Malpartida de Cáceres, chamado SACOM II, sob a batuta de Wolf Vostell. Um dos momentos desse festival de inspiração neo-Dada chamou-se “Comidas Olvidadas”. Provaram-se petiscos variados e raros (como umas inesquecíveis alheiras de caça e umas morcelas de arroz, preparadas pela já desaparecida Túlia Saldanha).

Este interesse pelas tradições e diversidade gastronómicas é muito antigo. Gostaria de recordar, a este propósito, a importância que tiveram, e porventura ainda têm, entre nós, as Associações de Jantaristas, as Penhas Gastronómicas e os Festivais e Semanas Gastronómicas. Estas práticas, porém, correm o risco de desaparecer sob a pressão das batatas fritas e dos ‘hamburgers’ congelados. A dinâmica perversa dos patrocínios comerciais e do lucro rápido, por outro lado, há muito que ameaçam a integridade das feiras e semanas gastronómicas.

A protecção das tradições e da diversidade dos alimentos, das bebidas e dos pratos regionais Portugueses implica uma tomada de consciência urgente. Só depois, poderemos agir e organizar uma estratégia de salvaguarda destes valores patrimoniais em vias de extinção.

Ameaças

Não são apenas as espécies animais e vegetais que desaparecem a uma velocidade assustadora. A monotonia ruidosa dos McDonald's, dos Kentucky Fried Chiken, das Pizza Hut, das Coca Cola, e quejandos, simbolizam um outro tipo de empobrecimento a que devemos fazer frente: o da extinção da diversidade gastronómica, o do atrofiamento e desaparecimento das comidas tradicionais, o do fim da cultura gastronómica como forma de convivência e hedonismo salutar.

Os processos judiciais e acções de ‘tactical media’ que, à semelhança dos levados a cabo contra as grandes empresas tabaqueiras, começaram agora contra os fabricantes de ‘fast-food’, trazem-nos a esperança de ver o tema da diversidade alimentar na agenda cultural do século 21.

A propaganda negativa contra a falta de cuidado, ou de escrúpulos, dos monopólios da alimentação e das bebidas, está aliás a dar excelentes resultados com o polémico filme de Morgan Spurlock — Super Size Me — sobre os perigos do consumo excessivo de hamburgers (artigo do Guardian).

Antecipando este despertar da consciência alimentar e gastronómica, surgiu em Itália um movimento cujo poder de sedução cultural parece imparável: Slow Food.

Movimento Slow Food: excertos (trad. livre) do sítio Web.

Slow Food, fundada em 1986, é uma organização internacional cujo fim é livrar os prazeres da mesa da homogenização da comida e da vida apressadas. Através de múltiplas iniciativas, este movimento internacional promove a cultura gastronómica, desenvolve a educação do paladar, conserva a biodiversidade agrícola e protege os pratos tradicionais em vias de extinção.

Conta actualmente com 80,000 associados em mais de 100 países.

Patrocinada pelo movimento Slow Food e pela Região da Toscânia, foi entretanto criada a Slow Food Foundation for Biodiversity, dedicada especialmente a apoiar projectos em todo o mundo, com particular incidência nos países menos desenvolvidos, onde a saga da homogeneização industrial, tecnológica e consumista pende como uma ameaça igualmente fatal.

75% da diversidade alimentar Europeia desapareceu desde 1900.

93% da diversidade alimentar Americana desapareceu no mesmo período.

30,000 variedades de vegetais extinguiram-se ao longo do século passado, e mais uma desaparece em cada seis horas que passam.

[fim do texto]

terça-feira, agosto 03, 2004

Democracia Digital

A solução é simples, Dr. João Soares: proponha ao PS uma votação electrónica


15 mnOAM
#36
2 Agosto 2004

A extraordinária afirmação de João Soares sobre os salteadores do voto perdido que espreitam a próxima eleição do Secretário-Geral do PS (ver cacha ao fundo deste txt) merece, mais do que uma sonora gargalhada, alguma ponderação. De facto, não foi assim há tanto tempo que ouvimos falar da limpeza dos cadernos eleitorais do Partido Socialista. Podemos, por outro lado, imaginar a dificuldade de garantir uma total transparência eleitoral, se entretanto não houver uma definição e uma publicitação claras das novas regras do jogo. Se, como parece ter afirmado Sérgio Sousa Pinto, João Soares não tem gente suficiente para acompanhar as centenas de mesas de voto previstas, a coisa começa a ficar mesmo feia (para ele claro!)

Para este pequeno grande problema creio, porém, haver remédio seguro. Seja porque faltam militantes nas mesas eleitorais previstas, seja porque faltam mesas de voto e sedes partidárias (não sendo nada conveniente improvisar soluções mais ou menos clandestinas para este género de acto democático), seja, em suma, porque existem militantes irremediavelmente longe de qualquer mesa eleitoral, a solução mais segura e transparente para resolver este problema técnico (sejamos benevolentes...) reside na montagem dum sistema electrónico de votação. Podemos mesmo ir mais longe nesta ideia, propondo que tal sistema se alargue ao campo do debate político, nomeadamente através do lançamento dum Wikiki geral sobre o processo eleitoral e um Blog por cada um dos candidatos. Manuel Alegre, apesar do comentário rasteiro proferido no Domingo pelo tira-nódoas da actual maioria (o Professor Marcelo), adiantou-se na modernização das suas ferramentas de comunicação, lançando a tempo e horas o seu Blog.

Um tal sistema terá todavia que dar as garantias que a actual pseudo-sondagem enxertada na página de João Soares não garante. Podendo qualquer um de nós responder repetidamente (ainda que de 12 em 12 horas!) a esta sondagem, tamanha azelhice técnica permite uma óbvia manipulação de resultados. Quando participei no dito joguinho, os números foram os seguintes: 40.48% para Manuel Alegre, 17.86% para João Soares e 41.67% para José Sócrates. Somando as duas primeiras parcelas teríamos obviamente o fim das aspirações de José Sócrates. Temos que ser mais sérios, não acha Dr. João Soares?

Eu creio que Manuel Alegre, tal como Sousa Franco, nos surpreendeu e gerou uma imediata empatia, junto do eleitorado de esquerda, mas também junto daquele outro eleitorado a que gosto de chamar inteligente. Não há apenas uma Direita dos interesses. Há também, como todos sabemos, uma Esquerda dos interesses, tão ávida quanto a primeira na partilha dos bolos orçamentais, e tão ou mais irresponsável que a exangue burguesia portuguesa no abandono sistemático de uma ideia de vida e de futuro. Estamos todos demasiado desconfiados dos políticos. Não lhes damos, de facto, nenhum crédito. Aturamo-los, procurando apenas errar o menos possível nas escolhas, cada vez mais medíocres, que nos saiem na lotaria. Talvez por isso, uma personalidade como Manuel Alegre tenha surgido diante de nós como uma alternativa, no que poderíamos chamar o campo da dignidade e do compromisso desinteressado com a causa pública. Vamos ver se será capaz de levar a esperança a bom termo.

Para dizer a verdade, de momento, o meu coração inclina-se para Alegre, mas a minha cabeça, para Sócrates. Tudo vai depender do mês de Setembro. Assistimos a uma metamorfose do nosso sistema partidário. Mas assistimos também a uma reforma positiva nas dinâmicas organizacionais dos próprios partidos. O passo seguinte será o de incorporar a grande massa dos simpatizantes, consistentes ou ocasionais, na lógica formativa das maiorias que democraticamente se sucedem no interior das próprias formações partidárias. -- AC-P

Transparência.

A eleição do Secretário Geral do PS pode, e deve, ser um processo profundamente "revolucionário" em Portugal. E pedagógico também. Pela primeira vez um líder partidário será escolhido em sufrágio directo. Voto livre e directo de todos os militantes do PS. Uma mulher ou um homem um voto. Importa pois garantir transparência, limpidez e cumprimento das regras legais de voto e escrutineo. Só assim teremos verdade e democracia. São cada vez mais precisas na nossa, tão desacreditada, vida politica. Este é um objectivo por que me baterei com todas as minhas forças. Até para evitar a previsão que o S.S. Pinto me fez aqui há pouco mais de um mês:"tu vais ser roubado". [8/2/2004]

in site de João Soares

segunda-feira, julho 26, 2004

Socrates 2

José Sócrates lidera sondagens. A dois anos do poder.


José SócratesO-A-M
#35
26 Julho 2004

O Professor Marcelo pareceu-me murcho e inquieto no show de ontem, depois do empate do Benfica contra o Real Madrid. Mostrou-se incomodado pela unanimidade das críticas dirigidas pela generalidade dos opinadores políticos do País ao desastrado Santana Lopes. Até o Alberto João zurziu forte e feio no Paulinho, como se este não fosse um Ministro da República! Em suma, que poderá o Professor Marcelo fazer por "Santanás" (a expressão começou a correr numa reedição paródica da Nau Catrineta) perante tamanho estado de desgraça? Pouco. Mas lá foi adiantando que ninguém, nem sequer a Oposição responsável (quer dizer o PS), deveria desejar a infelicidade ao actual Governo, pois se tal viesse a suceder, as vítimas seríamos todos nós. Queria ele dizer na sua que o próprio José Sócrates, actual candidato favorito à liderança do Partido Socialista, perderia com uma interrupção abrupta do Santanismo. Sócrates, nas palavras do Professor Marcelo, precisa de tempo para definir as suas próprias ideias, as quais, pelos vistos e por enquanto (o Professor leu atentamente a entrevista dada por Sócrates ao Expresso) não existem.

Lá me dei ao trabalho de ler a Única, para conferir a opinião do Professor Marcelo com a realidade...

De facto, Sócrates não apresenta nenhum programa de Governo durante a entrevista conduzida por Cristina Figueiredo e Vítor Rainho. Mas poderia?! Olhem só para algumas (a maioria) das perguntas:

"Que recorda da infância?"; "Até quando viveu na Covilhã?"; "Como foi parar a Engenharia?"; "Quando se começou a interessar por política?"; "Qual era a sua visão do mundo aos 16 anos? Viajava?"; "A sua vida é só política? É assim tão desinteressante? Em jovem teve carro?"; "Nunca teve desilusões amorosas?"; "Até essa altura nunca foi confrontado com a morte de alguém próximo?"; "Há quem diga que aceita mal as críticas"; "Como foi parar à JSD?"; "Mas foi para a JSD por ser betinho ?"; "É um carreirista?"; "Imagina-se a fazer outra coisa sem ser política?"; "Voltou a conduzir?"; "Não admite que se urbanizou?"; "Há pessoas que o acusam de só ter imagem"; "Uma pessoa pode ser excelente político, mas se tiver uma péssima imagem não vai longe"; "Compra a sua roupa?"; "Gasta dinheiro em produtos para a pele?"; "Como se começa a interessar pelas questões do Ambiente?"; "Ainda se recorda do seu primeiro discurso? Estava muito nervoso?"; "Também fica nervoso quando tem de entrar em directo na televisão?"; "O que distingue, hoje o PS do PSD?"; "Qual é a sua posição sobre a liberalização das drogas?"; "Nunca fumou um charro na juventude?"; "Acha que os políticos ganham mal?"; "Diz que ficou marcado pelo divórcio dos seus pais. É divorciado. Acha que os seus filhos também sofreram?"; "No dia do seu casamento, chegou à portagem da auto-estrada e não tinha dinheiro nos bolsos..."; "Defende a adopção de crianças por casais homossexuais?"; "Se tudo correr como o previsto vamos ter dois candidatos a primeiro-ministro em 2006 que são divorciados'"; "Já alguma vez se olhou ao espelho e reconheceu nos seus olhos 'aquele brilhosinho' que dizia ver em Guterres e que, na sua opinião, distingue os grandes políticos?"; "Sabe cozinhar?"; "Vai à missa?"; "E ao futebol?"; "Lê banda desenhada?"; "Beleza, para si, é fundamental?"

As respostas, para serem lidas obviamente entre um banho de praia e umas boas fatias de melão, não poderiam, nem deveriam, esclarecer o Professor Marcelo sobre as suas angustiantes dúvidas quanto ao programa do futuro governo socialista. Até porque o mesmo, a confirmar-se, vem longe. Muito antes disso, o jovem líder tem que conquistar o coração e a cabeça do Partido Socialista. Tem que fazer germinar, no espaço e no tempo, as suas ideias gerais e convicções profundas, tendo em conta os horizontes concretos deste País (que não são nada risonhos). Não pode, do pé p'rá mão, andar por aí a esclarecer tudo e todos sobre o que vai fazer, como se todos nós já tivéssemos adquirido a ideia de que o actual Governo não existe. O Santanismo existe e a sua procissão ainda vai no adro. Vamos pois dar tempo ao tempo, para que, se possível antes das próximas eleições legislativas (mas depois da derrota esclarecedora da actual coligação — não legitimada pelo voto popular — nas próximas eleições autárquicas), o PPD/PSD exiba as suas dilacerantes mal-formações genéticas, o PP radicalize a sua acção catalizadora sobre a atarantada corte de Santana Lopes, e o Partido Socialista, por sua vez, consiga renovar-se enquanto partido político, na forma de uma organização partidária polarizada entre duas tendências politicamente claras: a social-democrata e a socialista. Estamos a assistir ao início de uma metamorfose dolorosa das duas principais forças partidárias portuguesas. Estou convicto de que a mesma, se correr bem, trará benefícios ao nosso sistema político. Mas para chegarmos a essa fase, vamos ter todos que dar uma ajudinha. Diabolizar Santana Lopes de aqui em diante não será a melhor estratégia. Talvez fosse isso que o Professor quis dizer ontem à noite. Faltaram-lhe tão só as palavras certas. -- AC-P

quinta-feira, julho 22, 2004

Socrates 1

Manuel Alegre protagoniza fim do soarismo. Partido Socialista clarifica tendências: social-democratas e socialistas.


O-A-M
#34
22 Julho 2004

Toque de finados no soarismo: depois de Manuel Alegre, grande poeta e símbolo fortíssimo da identidade PS, ter aceite protagonizar a tendência socialista que se oporá ao social-democrata José Sócrates no próximo congresso do Partido Socialista, João Soares passará irremediavelmente à história como ex-putativo herdeiro da dinastia soarista. A ideia de um Partido Socialista encavalitado entre a Social-Democracia e o Socialismo, sob a batuta de um líder bonapartista, chegou ao fim. Mais uma consequência imprevista da decisão presidencial sobre a actual crise política. De facto, como escrevi antes de Sampaio se decidir pela nomeação de Santana Lopes para o cargo de Primeiro-Ministro do recém empossado Governo, a metamorfose à vista do PSD (na direcção de um partido de Direita populista, liberal, católico e totalmente enfeudado aos interesses do que resta da exangue burguesia nacional) terá um efeito dominó sobre todo o espectro partidário.

Não sabemos o que nos reserva o futuro imediato destes ajustamentos tectónicos na estrutura partidária do País. No PS, parece todavia evidente que a sua inadiável clarificação interna, no sentido de uma divisão de forças entre as tendências social-democrata e socialista, fechará de vez o grande ciclo soarista que presidiu (às claras ou na sombra) aos destinos deste vector essencial do regime democrático português. Se nos próximos dois anos Santana Lopes fizer tantos disparates quantos são esperados (pela Oposição e por Paulo Portas), e por conseguinte se puder prever com alguma razoabilidade a vitória da Esquerda nas próximas Legislativas, seria bom para todos que fosse José Sócrates, e não Manuel Alegre, a vencê-las.

Dito isto, parece-me igualmente crucial, para o novo ciclo que hoje começa na vida do Partido Socialista, que a tendência liderada por Manuel Alegre e protagonizada, entre outros, por Maria de Belém Roseira, João Cravinho, Augusto Santos Silva e Jorge Lacão, andasse rapidamente na invenção de um discurso socialista inovador, capaz de forçar os social-democratas do PS a exercitarem um pragamatismo político à altura dos frágeis equilíbrios e carências da sociedade portuguesa. Para isso servem os poetas!
-- AC-P

quarta-feira, julho 21, 2004

Santana Lopes 2

O Governo da Gentinha


patriotica!O-A-M
#33
21 Julho 2004

Não sou eu que o digo. É o Marcelo Rebelo de Sousa, o Pacheco Pereira, e os que ainda irão berrar contra a transformação de Portugal e o seu Governo numa telenovela das nove, com réplicas intermináveis em formato Big Brother e à maneira latino-americana: muitas missas, muitas lágrimas, muita brilhantina, muitos beiços de silicona e muitas maminhas a rebentar de devoção. O PSD vai desaparecer, para ver nascer a variante alfacinha e demagoga do PPD de Sá Carneiro. O CDS vai desaparecer, para dar lugar ao Paulo Portas (também conhecido por Partido Popular na confraria europeia), mas agora na forma castigadora de vórtice galopante da nova Direita Portuguesa (o Jardim que se prepare para o chicote do Mar!). Se querem conselhos, aqui vão:

— jovens turcos do PP, ingressem rapidamente no PPD!
— jovens turcos do PSD, façam agulha para o PS, quanto antes!
— jovens turcos do PS, metam-se no Bloco, e depressa!
— jovens turcos do PCP, metam o indecoroso Carvalhas na rua (a desculpa pode ser uma bem democrática e necessária limitação de mandatos...)
— jovens turcos do Bloco, convençam lá o Louçã a reformar o Trotskysmo.
— jovens turcos em geral: inventem novos partidos!

As restantes siglas são irrelevantes para a metamorfose em curso.

Aos artistas um desafio: esta choldra merece uma BD! -- AC-P

terça-feira, julho 13, 2004

Santana Lopes 1

Do Povo, pelo Povo, para o Povo.


MenemO-A-M
#32
13 Julho 2004

Não resisto a citar o mais conhecido discurso de Abraham Lincoln, 16º Presidente dos Estados Unidos, proferido em 19 de Novembro de 1863, dois anos antes do seu assassinato, e do fim da Guerra Civil que protagonizou e venceu em nome da união norte-americana e do fim da escravatura.

The Gettysburg Address, by Abraham Lincoln.
Four score and seven years ago our fathers brought forth upon this continent, a new nation, conceived in Liberty, and dedicated to the proposition that all men are created equal.
Now we are engaged in a great civil war, testing whether that nation, or any nation so conceived and so dedicated, can long endure. We are met on a great battlefield of that war. We are met to dedicate a portion of it, as the final resting place of those who here gave their lives that that nation might live. It is altogether fitting and proper that we should do this.
But, in a larger sense, we can not dedicate, -- we can not consecrate, -- we can not hallow -- this ground. The brave men, living and dead, who struggled here, have consecrated it, far above our poor power to add or detract.
The world will little note, nor long remember what we say here, but it can never forget what they did here. It is for us the living, rather, to be dedicated here to the unfinished work which they who fought here have thus far so nobly carried on. It is rather for us to be here dedicated to the great task remaining before us, -- that from these honored dead we take increased devotion to that cause for which they here gave the last full measure of devotion; -- that we here highly resolve that these dead shall not have died in vain; -- that the nation shall, under God, have a new birth of freedom; -- and that government of the people, by the people, for the people, shall not perish from the earth.
— in Wikipedia


A comparação é naturalmente lisongeira para Pedro Santana Lopes. Na verdade, os ecos da sua figura hipocondríaca, recordam-nos muito mais depressa um morph patético ente Menem e Berlusconi, do que a austeridade exemplar de Lincoln. Mas ainda assim não convem minimizar o poder do mediatismo demagógico encarnado por esta aparição no cerne da actual crise política. A crise está para durar, tanto na economia como nos modelos institucionais do Estado e da Praxis política em geral. Os senhores Santana Lopes e Paulo Portas têm, pois, uma rica vindima à sua frente. Resta saber como e quando irá acabar. Para melhor prever e compreender as suas tácticas e comportamentos, o melhor será começarmos todos por estudar a história do populismo. Recomendo vivamente, a este propósito, a leitura da entrada Populism da Wikipedia.

Não tenhamos dúvidas sobre a natureza intrinsecamente demagógica do futuro Primeiro-Ministro de Portugal. Os sintomas estão aí: ainda antes de formar Governo, multiplicou-se em entrevistas "exclusivas" aos canais de televisão (com a excepção punitiva da TVI) sobre a futura descentralização do Governo (Economia para o Porto, Turismo para Faro e Agricultura para Santarém...). Depois, antes mesmo de convidar os seus futuros ministros, anunciou um aumento da Função Pública, e anunciou ainda que não dormiria enquanto houvesse um desempregado no nosso País! A procissão vai no adro, e já se vê que o homenzinho não precisa de Governo para nada. Ele é o Governo, e os Ministros serão tão só uma decorativa turma de eunucos ao serviço de sua Senhoria. Os que aceitarem convite, sabem ao que vão. Depois, não se queixem!

Seis meses disto chegarão provavelmente para o Senhor Presidente da República tocar a rebate e convocar finalmente eleições antecipadas. O PS que se apresse, com ou sem Vitorino. -- AC-P

IMG: Carlos Saùl Menem, Presidente da Argentina entre 1989 e 1999. Foto: Scanpix/AFP

domingo, julho 11, 2004

Jorge Sampaio 3

O Presidente fez o que Durão anunciara e todos previam: chamou o PSD a formar Governo.


Santana_JanosO-A-M
#31
10 Julho 2004

Não foi grande proeza prever o desenlace da actual crise política. Havia seguramente a possibilidade de Jorge Sampaio surpreender tudo e todos, convocando eleições antecipadas, como muitos legitimamente lhe pediram. Tal abriria, porém, um precedente muito desestabilizador para o futuro do actual regime político. Se assim tivesse ocorrido, nunca mais um Primeiro-Ministro poderia abandonar funções sem que tal deixasse de implicar novo ciclo eleitoral. No caso vertente, tal opção teria ainda muitos outros inconvenientes — como aliás assinalei no primeiro blog que escrevi sobre este tema.

A continuação de Ferro Rodrigues à frente do PS até às próximas eleições, fossem estas antecipadas ou não, seria um desastre monumental. Como já escrevi por mais de uma vez, eu, como muitos outros portugueses (e eleitores do PS), temos sérias dúvidas sobre a lisura moral do agora demitido Secretário-Geral do Partido Socialista. Havendo, como há, uma tendência no eleitorado para votar numa alternativa de Governo à actual maioria de Direita, seria imperdoável deixar apodrecer a actual crise interna do PS, em vez de lancetá-la com a necessária dose de coragem. Espera-se, como corolário da decisão de Ferro Rodrigues, que a canalha de Matosinhos seja definitivamente irradiada da área do Poder. Nenhum sinistro cálculo eleitoral pode alguma vez desculpar as circunstâncias que antecederam a aflição e morte, em plena campanha eleitoral, de António Sousa Franco.

O Presidente da República prometeu controlar a formação do novo Governo, impedindo que a dupla Santana-Portas desfigure a natureza da coligação e as reformas institucionais prometidas por Durão Barroso. Consegui-lo-à? É essa a sua missão? Parece-me que não. Que podemos pois esperar desta invocada espada de Dâmocles sobre as cabeças de Santana e Portas? Desde logo, uma enorme tensão na vida partidária — entre os partidos, mas sobretudo no interior dos partidos: no PS, no PSD e no PCP. Depois, o comportamento incerto e errático de Pedro Santana Lopes nas suas novas funções. A retoma económica não produzirá efeitos antes de 2005, mas será em seu nome que os ajustamentos da política anterior se farão. As medidas demagógicas que aí vem, se forem, como é esperável, no sentido de aliviar alguns dos constrangimentos impostos pelo Governo de Durão Barroso e Ferreira Leite, deixarão todavia Presidente e Oposição sem grandes argumentos para esgrimir. Quem se oporá a um aumento na Função Pública, ou a uma redução do IRS, ou do IVA? O cenário da fidelidade ao chamado Programa eleitoral do PSD parece assim pouco credível como referência efectiva da acção presidencial.

Embora o futuro seja imprevisível, continuo a pensar que assistiremos a uma bipolarização crescente da vida política Portuguesa, a qual poderá muito bem traduzir-se numa clarificação sociológica definitiva dos dois principais partidos portugueses (PS e PSD) e no consequente fim do que Remo Guidieri chama o "extremo-centrismo" do arco partidário do Poder. O PS poderá afirmar-se como um partido Social-Democrata genuíno, e o partido que resultar da fusão entre o PSD e o PP poderá emergir como a representante programática e civilizada da Direita Portuguesa.

Nada disto me impediu de clamar contra o modo de transmissão do poder entre Durão Barroso e Santana Lopes. Do ponto de vista formal, havia toda a legitimidade para convocar eleições. Outra coisa, bem diferente, é que convenha mais ao País a solução por fim adoptada por Jorge Sampaio. Para futuro, talvez fosse bom adoptar o costume de incluir um vice-Primeiro Ministro em cada Governo, ao qual incumbiria tacitamente a função de substituir o Primeiro Ministro em caso deste abandonar as suas funções ou de ficar temporária ou permanentemente impedido de as cumprir. -- AC-P