quinta-feira, maio 25, 2006

OURO 1

1 Dolar
A moeda americana perdeu até 10 Ago 2006 36% do seu valor face ao Euro

Aceleração de uma crise sistémica global


O Laboratório europeu de Antecipação Política — Europa 2020, a que estão associados os investigadores Franck Biancheri, Régis Jamin, Ricardo Migueis e Thierry Warin, entre outros, chegou ao conhecimento de muitos de nós após ter antecipado a 15 de Fevereiro de 2006 a crise económica e política global em que estamos a entrar. Com regularidade mensal, este boletim coloca à disposição dos seus assinantes informação profissional especializada sobre as tendências evolutivas estruturais da cena europeia e internacional. O facto de podermos contar com uma versão portuguesa dos boletins deste think tank a partir da edição do passado mês de Março, merece uma chamada de atenção especial. Transcrevo um resumo do comunicado público que entretanto me chegou à caixa de correio electrónico.

Entrada na fase 2 da crise sistémica Global, a fase de aceleração: sete consequências concretas para os actores e decisores económicos e políticos
O LEAP/E2020 anunciou, em 15 de Fevereiro de 2006, o despoletar de uma crise sistémica global para o fim do mês de Março seguinte. Hoje, a meio de Maio de 2006, o LEAP/2020 pode anunciar que esta fase inicial da crise sistémica global está quase terminada e que, a partir do início de Junho de 2006, a crise vai entrar na sua fase de aceleração. Antes de detalhar as suas principais características, o LEAP/2020 julga no entanto útil explicitar o modo de desenvolvimento de uma tal crise sistémica.
Uma crise sistémica global desenvolve-se segundo um processo complexo de que podemos destacar quatro fases que se podem interpenetrar:
— uma primeira fase, dita de «despoletamento», que subitamente vê convergirem e entrarem em interacção toda uma série de factores, até agora desligados, a qual é essencialmente perceptível pelos observadores atentos e pelos actores principais.
— uma segunda fase, dita de «aceleração», que se caracteriza por uma brutal tomada de consciência por parte da grande maioria dos actores e observadores de que a crise se instalou em definitivo, na medida em que rapidamente começa a afectar um número cada vez maior de componentes do sistema.
— uma terceira fase, dita de «impacto», que é constituída pela transformação radical do próprio sistema em si (implosão e/ou explosão) sob o efeito de factores acumulados, e que afecta simultaneamente a sua integridade.
— e por fim, uma quarta fase, dita de «decantação» que vê surgirem as características do novo sistema saído da crise.

No caso da actual crise sistémica global, o LEAP/2020 considera a partir de agora que a fase inicial, de despoletamento, está a terminar e que ao longo de Junho de 2006, o mundo vai entrar na fase de aceleração da crise.
Assim, em menos de três meses, todo um conjunto de «certezas» sobre o futuro foram postas em causa (dominação «inelutável» do Dólar, «retorno» ao petróleo barato, solução pacífica do conflito Irão/Usa, durabilidade da «bolha imobiliária» americana, «domínio» dos Estados Unidos sobre os outros actores mundiais chave que são a China e a Rússia, ...) e um grande número de indicadores apontam a partir de agora para direcções convergentes de desequilíbrio do sistema actual (subida vertiginosa do preço do ouro e dos metais preciosos, aumento das pressões inflacionistas, novo aumento das taxas de juro, aproximação do Euro aos 1,30 US$, transformação em Euros de um crescente montante de reservas de bancos centrais, subida das moedas asiáticas, crises bolsistas e monetárias em muitas regiões do mundo, multiplicação, desde há cerca de um mês, de artigos na grande imprensa mundial e nacional mencionando os termos «krach, crise, colapso, risco de conflito, ...»).

Esta fase de despoletamento desempenha de facto, de acordo com a equipe do LEAP/2020, o papel de período de «aprendizagem» para os actores do sistema. Alguns anteciparam correctamente as evoluções e apostaram na ruptura com as tendências que supostamente dominavam o sistema. E se, há apenas algumas semanas, pareciam marginais e inconscientes aos olhos da maioria dos actores, a partir de agora aparecem como aqueles que souberam «ganhar» enquanto que a maioria começa a constatar que «perdeu» ao seguir as tendências «normais» do sistema. Esta «aprendizagem» tem consequências cumulativas e reforça consideravelmente de seguida, e muito rapidamente, as tendências de ruptura em curso. É este fenómeno, nomeadamente, que induz a passagem da fase de despoletamento à de aceleração da crise. Por outro lado, reforça igualmente as convicções dos actores estratégicos que se envolveram em lógicas de ruptura (ou que anteciparam as rupturas) com o sistema instalado; o que enfraquece de forma duradoura as capacidades de regulação do sistema, uma vez que ele faz de ora avante face a uma crise de confiança em vias de generalização. Ora, no sistema global herdado do pós Segunda Guerra Mundial e transformado pelo fim da Cortina de Ferro, tanto no domínio financeiro, como económico, monetário ou estratégico, o essencial repousa na confiança acordada entre todos num actor central (os Estados Unidos) e nos vários componentes da sua força. A passagem da fase 1 à fase 2 marca o colapso desta confiança nos vários domínios.

O LEAP/2020 considera portanto que é no decurso do mês de Junho de 2006 que estas perdas sectoriais de confiança, em vias de generalização em cada sector, deverão convergir para produzirem a aceleração do processo de crise. Esta aceleração que deverá estender-se por um período de 3 a 6 meses, terá, nomeadamente, sete consequências concretas essenciais:

O colapso acelerado do dólar
Uma crise sócio política interna nos EUA
Um conflito militar Irão/EUA/Israel
Um aumento da inflação mundial
A ruptura do processo de globalização comercial e económica
A emergência acelerada de novos «blocos» regionais/continentais
Um reequilíbrio do valor relativo dos activos mundiais.

A passagem à fase 3 (dita de «impacto») do processo de crise sistémica global dar-se-á quando pelo menos quatro dos factores precipitados forem reconhecidos. Paralelamente, no decurso desta fase de aceleração, será já possível discernir certas tendências que moldarão o futuro sistema global, e portanto, começar a adoptar as decisões e as políticas que preparam o futuro da pós-crise.

Estas são as várias análises que o LEAP/2020 desenvolve na edição nº5 do seu GlobalEurope Anticipation Bulletin.



REFERÊNCIAS

O imperialismo made in USA, na realidade um imperialismo bicéfalo (como bem demonstrou William Engdahl em ‘A Century of Wars’) assentou num conjunto articulado de supremacias praticamente imbatível: a supremacia científica, a supremacia tecnológica, a supremacia logística, a supremacia estritamente económica (produtiva, comercial e gestionária), a supremacia militar e a... dolarização dos mercados. Se virmos bem, o que a queda do muro de Berlim e o fim da bipolarização mundial permitiram foi entender de forma clara esta simples realidade. A chamada divisão internacional do trabalho impôs uma desigualdade inaudita no planeta. Mas foi precisamente essa desigualdade que armadilhou a própria sobranceria distraída do Ocidente. Os capitais voaram para as grandes reservas de trabalho barato, onde inesperadamente as taxas de crescimento e a rentabilidade dos investimentos dispararam para níveis incomparáveis com os magros crescimentos das nações desenvolvidas, onde o paradigma do consumo substituira dramaticamente o paradigma da poupança. Os Estados Unidos, emissores da moeda padrão mundial, decidiram imprimir papel dinheiro com uma correspondência cada vez mais fictícia com a sua própria riqueza, financiando desta forma fraudulenta o cada vez menos convincente ‘sonho americano’. Algum dia a bolha teria que estourar... Ao contrário dos velhos tempos do síndroma anti-comunista, agora não há argumentos convincentes para continuar a sobre-exploração da Ásia, da América latina e do Médio Oriente usando ou ameaçando usar a mão pesada da supremaica militar. A guerra anti-terrorista tem-se vindo a revelar como uma cada vez mais frágil cortina de fumo destinada a prosseguir práticas civilizacionais inaceitáveis, à luz da lei internacional e da cultura. As crises iraniana, afegã e libanesa vieram mostrar até que ponto a supremacia do grande jogo anglo-saxónico anda pelas ruas da amargura. China e Rússia não tolerarão, ou farão pagar muito caro, uma aventura militar contra o Irão. Mas se, pela estupidez de Bush, de Blair e de Israel, o dito império ainda não tiver chegado ao fim, pior para todos nós!

— Sobre este tema vale a pena ler alguns textos particularmente oportunos (actualizado em 14 Ago 2006):

The Currrent Risks of a 1987-Style Finantial Meltdown: The Scary Similarities between 2006 and 1987
by Nouriel Roubin (Aug 12, 2006)


Today you have trade protectionism and asset protectionism; hedgy and trigger-happy investors and rising geopolitical risks; the risk of a disorderly fall in the US dollar; a slush of financial derivatives that are a black box that no one truly understands (the operational risk in credit derivatives is only the tip of much larger systemic risk iceberg in these instruments, as the pricing of these instruments has not been tested in a real cycle of increasing corporate bankruptcies); increasing VARs and growing levels of leverage; frothy markets where years of too easy money have created bubbles galore — the latest in housing — that are ready to burst; a bubble of thousands of new hedge funds with inexperienced managers that have no supervision or regulation of their activities; risk management techniques in financial institutions that miserably fail to truly stress test for fat tail events; hedging strategies that — like in 1987 — can hedge nothing once everyone is rushing to the doors and dumping assets at the same time; and a housing markets whose rout may trigger systemic effects through the mortgage backed securities market and the non-transparent hedging activities of the GSEs.

This is a toxic and combustive mix of volatile elements that can lead to a financial explosion and meltdown. And it may take any small match to trigger it: a trade war scare mongering, scorning the foreigners that finance you with restrictions to inward FDI, talking down the dollar to bully China and the US trade partners, a flip-flopping monetary policy, a further spike in oil prices, an event of terrorism or a wider Mid East conflict, a housing market rout rattling the MBS market, the collapse of a large and systemically- relevant hedge fund or of another highly-leveraged financial institution, a Chapter 11 event for a major US corporation such as Ford or GM leading to systemic effects in the credit derivatives market. There is indeed an embarrassment of riches in terms of factors that can trigger a financial meltdown. A single factor among those discussed above may be enough to trigger it; and the risk that a variety of such factors may simultaneously emerge is increasing.

So, to paraphrase Bette Davis in "All About Eve": Fasten your seat belts; it's gonna be a bumpy ride ahead for financial markets and the global economy?

(...)

Of course, some will point out to some of the "truly" better news of the last few days (ISM report, consumer confidence, construction spending, etc.) But when you scratch the surface of those "bullish" reports, the details are not as good as their headlines (as I will discuss in a future blog)....So I stick with my bearish call for a sharp US slowdown in H2 2006 and a recession by Q1 of 2007 and to my view that the Fed will not be able to prevent such slowdown even if it were to pause and then ease. I am willing to listen to contrary arguments and to read some better "news" than those above if anyone is able to provide some.

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US Dollar - Killing me softly
by Chad Geraigiri (August 10, 2006)


With he US's current deficit at 7% of gross domestic product, foreign banks are looking to diversify more aggressively into Euros and Gold. This move away from the US Dollar is a serious risk of a sell-off.
Italy's central bank has started diversifying into the British Pound (currently trading at almost 2 to 1 against the US Dollar) by investing 25% of its foreign currency reserves into the sterling, dumping billions in US Treasury bonds. Its US Dollar holdings went from 84% to 63%, a sure sign that it is losing faith in the economic stability of the US dollar. This move was in anticipation of a dollar slide due to an interest rate cycle peak and the US's national debt approaching $8.45 trillion.
This move will surely encourage other European nations to follow suit. Sweden announced in April that it had cut its dollar holdings from 37% to 20%. The United Arab Emirates and Qatar have both hinted at their intentions to diversify into Euros and Gold. Switzerland switched 10% of its reserves to pounds in 2004. Russia cut its US dollar holdings from 66% to 40%. China has a made a statement that it would diversify away from dollars into Gold and possibly Euros.
Japan and China are the two largest holders of US Treasuries and could face a serious crisis if they were to diversify away from the dollar too fast. As the saying goes "If you owe the bank $100,000 the bank owns you. If you owe the bank $100 Million you own the bank" and that's what will keep the dollar from crashing but not from a steady decline.
Considering the current economic imbalances in the U.S., the dollar cannot remain the currency of choice. Let's examine the following chart of the U.S. dollar vs the Euro: the US Dollar went from a high of 134.5 down to 84.95 as of today's close, a drop of more than 36%.

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Shanghai grouping moves centre stage
by Philippa Fogarty BBC News (June 14, 2006)


Leaders from Russia, China and Central Asian states meet in Shanghai on Thursday for what will be the most high profile meeting to date of the Shanghai Cooperation Organisation.
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The Incredible Shrinking US
by Helena Cobban (June 9, 2006)


The U.S. invasion of Iraq was not, on the face of it, an overtly "colonial" venture. But it has had many of the attributes of colonialism, including two key ones: The U.S. administration in Iraq sought to remake the governance of Iraq according to its own plans, and to subordinate Iraq's economy to the desires of U.S.-based corporations. And when Washington encountered Iraqi resistance to these moves, it resorted to many of the same tactics of counterinsurgency used by colonial powers throughout history: divide and rule, mass incarcerations, intrusive policies of population control, torture and abuse.
I believe that the domestic and global factors now pushing Washington toward undertaking a complete (or near-complete) retreat from Iraq are now so powerful that this retreat will take place before the end of the Bush presidency. But the U.S. will not merely be retreating to the position it occupied on March 18, 2003; the shrinkage of U.S. power around the globe will be much broader than that. There is one very simple reason for this: The U.S. will need the cooperation of other powers if the pullout from Iraq is to be orderly. But why should Russia, China or other world powers give Washington this cooperation if they had any fear that Washington would then just redirect its hegemonistic impulses elsewhere -- perhaps toward them? So as the major powers help Washington to extricate itself from Iraq, they will almost certainly require a price to be paid. It may well be demanded in two currencies: some form of stronger guarantee that Washington will not again undertake any recklessly "preventive" war like the highly destabilizing and destructive military action it launched in 2003; and some seriously stronger role for the non-U.S. powers in the always globally sensitive Israeli-Arab negotiations.

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Fiat and Credit - The Coming Financial Holocaust
by Clive Maund (June 01, 2006)


It should now be apparent to all readers of these pages that we are in the midst of the largest FIAT money experiment ever witnessed by an entire order of magnitude, and the first FIAT money exercise to be put to the test on a truly global scale. Hitherto, the political, economic and technological environment was not conducive to enabling such an incredible scheme to be successfully put into effect. To enable this required the presence of one hyper-economic power that also controlled a global currency and the velocity of capital movements made possible through modern communications technology. Another critical factor essential to enabling FIAT to be expanded without control was the destruction of the gold standard on which the value of all issued paper money was formerly based, and the strict financial discipline this exerted throughout the global financial system. It was, therefore, vital to the promulgators of FIAT that gold was no longer seen as a monetary instrument by the general public or, indeed, governments. The reader may be wondering why elected democracies would wish to support this vast and virtually uncontrolled expansion of paper and digital money, and the attendant explosion in inflation and associated wealth destruction of saver's funds, and for what purpose this is all intended. The reasons, as this article proposes, are as awesome as the scheme itself.
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World Markets About To Crash Together
by Christopher Laird, Finantial Sense University (May 31, 2006)


Look at your stock portfolio right now. Imagine how you would feel if it dropped 50%.
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Why the Global Financial System is About to Collapse
by John Law (May 29, 2006)


The global financial system is about to collapse because the US dollar is about to collapse.
The US dollar is about to collapse because of a simple economic fact that no one has the power to change or conceal.
The fact is that the spontaneous remonetization of the precious metals is a Nash equilibrium.
What this means in English is that an ideal financial strategy for everyone on Earth is to buy as much gold and silver as they can, as soon as possible.
To oversimplify wildly, the reason to buy gold and silver is just that everyone else should buy gold and silver, too. There are two reasons to do it as soon as possible.
One is that anyone with an investment account can move money into gold and silver with a few mouse clicks. They trade on the US markets as the stock symbols GLD and SLV.
Two is that once this information becomes widely understood, US and probably global financial markets will be closed.
There is no way to know when this will happen. It could be tomorrow. It could be a year from now. It could be longer. Since the only way this kind of a financial panic meme can spread is through the Internet, history tells us nothing.
And the good news is that if governments manage the situation well, it does not have to be a global economic and political disaster. Quite the opposite, in fact.
Remonetization of precious metals is the next step in the slow, difficult reconstruction of the peaceful and prosperous liberal world that World War I destroyed. The lights are not going out. They are coming back on. The return to classical liberalism, which some call globalization, has barely started. It has already rescued hundreds of millions of people in liberalizing countries like China and India from lives of poverty and depression. Its only opposite is nationalism, which is a recipe for war and misery. It is not perfect, but nothing is, and it must continue.
These are obviously provocative assertions. I explain them below. My hope is that you will evaluate them by thinking for yourself, rather than trusting me or any other authority.

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Gold or Dross? Political Derivatives in Campaign 2000
by Reginald H. Howe (Aug 1, 2000)


(....) From leaving the gold standard in 1933 to today, excessive economic nationalism has characterized American conduct in international monetary affairs. But all tyrannies end, and the tyranny of the dollar will be no exception. Developing nations will not forever accept being milked of wealth and economic opportunity by dollar imperialism.
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Gold Derivative Banking Crisis
by Bill Murphy (May 1, 2000)


(...) Extensive research has led the Gold Anti-Trust Action Committee (GATA) to the conclusion that the gold market is being recklessly manipulated and now poses a serious risk to the international financial system.
*Annual gold demand, currently at record levels, exceeds mine and scrap gold supply by more than 1,500 tonnes. In the Washington Agreement of Sept. 26, 1999, 15 European central banks announced that they were capping their lending of gold and would limit their official sales of gold to 400 tonnes per year for the next five years. Some major gold producers have reduced their forward sales, and speculators have reduced their borrowed gold selling. Commodity prices and wages are rising. Yet the price of gold has declined steadily. With demand so much greater than supply, the price of gold should be rising sharply.
* According to the Office of the Controller of the Currency, the notional value of the off-balance- sheet gold derivatives on the books of U.S commercial banks exceeds $87 billion, which is greater than total U.S. official gold reserves of approximately 8,140 metric tonnes.
* Gold derivatives surged from $63.4 billion in the third quarter of 1999 to $87.6 billion in the fourth quarter, after the Washington Agreement was announced. The notional amount of off-balance-sheet gold derivative contracts on the books of Morgan Guaranty Trust Co. went from $18.36 billion to $38.1 billion in the last six months of 1999.
* Veneroso Associates estimates that the private and official-sector gold loans stood at 9,000 to 10,000 tonnes at the end of 1999. Most of these loans represent gold that has been sold in the form of jewelry and cannot be retrieved. Mine supply of gold for all of 1999, according to trade sources, was only 2,579 tonnes. Thus the gold loans are far too big too be repaid back in a short time. The swift $84 rise in the gold price following the Washington Agreement caused a panic among bullion bankers. But that was only a warning of what is to come.
* Federal Reserve Chairman Alan Greenspan and Treasury Secretary Lawrence Summers, responding to GATA's inquiries through members of Congress, have denied any direct involvement in the gold market by the Fed and the Treasury Department. But they have declined to address whether the Exchange Stabilization Fund, which is under the control of the treasury secretary, is being used to manipulate the price of gold.
* Several prominent New York bullion banks, particularly Goldman Sachs, from which the immediate past treasury secretary, Robert Rubin, came to the Treasury Department, have moved to suppress the price of gold every time it has rallied over the last year.
* The Gold Anti-Trust Action Committee believes that U.S. government officials and these bullion banks have induced other governments to add gold supply to the physical market in recent years to suppress the price. Britain's National Accounting Office is now investigating the Bank of England's decision to sell off more than half its gold. Contrary to proper accounting practice, reductions in gold in the earmarked accounts of foreign governments at the New York Federal Reserve Bank are being listed by the Commerce Department as the export of non-monetary gold. These "exports" from the Fed occur upon rallies in the gold price.
*Why would anyone want to suppress the price of gold?
1) Suppressing the price of gold has made it a cheap source of capital for New York bullion banks, which borrow it for as little as 1 percent of its value per year. Gold is borrowed from central banks and sold, and the proceeds are invested in the financial markets in securities that have much greater rates of return. As long as the price of gold remains low, this "gold carry trade" is a financial bonanza to a privileged few at the expense of the many, including the gold-producing countries, most of which are poor. If the price of gold was allowed to rise, the effective interest rate on gold loans would become prohibitive.
2) Suppressing the price of gold gives a false impression of the U.S. dollar's strength as an international reserve asset and a false reading of inflation in the United States.
*Too much gold is being consumed at too cheap a price. Massive amounts of derivatives are being used to suppress the gold price. If this situation is not corrected soon, there will be a gold derivative credit and default crisis of epic proportions that will threaten the solvency of the largest international banks and the world standing of the dollar.
The Gold Anti-Trust Action Committee requests that a full and complete investigation be launched into this matter as soon as possible. The longer the gold price is artificially held down, the bigger the eventual banking crisis.

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OAM #123 25 MAI 2006

quarta-feira, maio 24, 2006

Carrilho 2

Bárbara Guimarães em seus verdes anos.
Payola: pela boca morre o peixe 

“Such as it is, the press has become the greatest power within the Western World, more powerful than the legislature, the executive and judiciary. One would like to ask: by whom has it been elected, and to whom is it responsible?”

Em Portugal os portugueses têm vindo a descobrir nos últimos tempos que a sua democracia, ainda jovem de 30 anos, saída de uma ditadura provinciana e paternalista, está a ser pasto devorável de uma corrupção endémica que penetra aparentemente todos os poros da sociedade. Nada escapa: há corrupção nas polícias, no futebol, entre os políticos, ao mais alto nível da nata empresarial, nas repartições de finanças, nos hospitais, e, pasme-se, nos meios de comunicação social. Sim, também os jornais e televisões, alimentados com estagiários à borla e custos mínimos em geral, retroalimentados em cadeia por agências noticiosas e de comunicação sem escrúpulos, surgem agora cavalgados pela fúria ética de um político caído em desgraça, depois de a sorte lhe ter um dia soprado inesperadamente de feição. O político, do Partido Socialista, chama-se Manuel Maria Carrilho e a sua queda decorre de duas causas e dois momentos crucais.

As causas da queda: Manuel Maria Carrilho, candidato favorito a umas eleições autárquicas em Lisboa, perde-as contra um lugar-tenente apagado do principal partido da oposição (o PSD). O agente principal deste resultado foi a incapacidade de o candidato convencer o seu eleitorado potencial, deixando que o número dois do ex-Presidente da Câmara de Lisboa e ex-Primeiro Ministro, Pedro Santana Lopes (homem tão mediático quanto volúvel, vaidoso e incapaz, cujo governo fora poucos meses antes demitido pelo Presidente da República), lhe levasse a palma.

Os momentos cruciais: o político, que um casamento controverso e mediático com uma conhecida e muito sexy estrela de televisão (Bárbara Guimarães), elevara inevitavelmente a uma instância de estrelato bicéfalo, aprova a inclusão da referida estrela de televisão, e do filho que a união entretanto gerara, num vídeo da sua campanha eleitoral. O bébé e a mãe, num diálogo digno do kitsch mais patético de uma qualquer telenovela sul-americana, balbuciam loas ao papá e putativo futuro presidente da edilidade lisboeta. A sorte do candidato-filósofo (não esqueçamos que repetidamente se apresentou sob este manto de integridade) ficaria traçada a partir deste incidente. O estratego da campanha, um brasileiro chamado Edson Athaíde, foi mais ou menos despedido, deixando os comandos da agit-prop nas mãos dum aguerrido assessor de imprensa. As sondagens, até aí favoráveis ao candidato do PS, iniciam uma tendência de queda. As presenças de Bárbara Guimarães em sucessivas acções de campanha não fazem mais do que piorar a situação, ao contrário do que Carrilho e o seu incompetente staff calcularam. O nervosismo espicaça Carrilho. Mal aconselhado, resolve enfrentar na televisão o seu principal adversário com uma agressividade desnecessária e inconsequente. À medida que o debate decisivo decorria só me apeteceu telefonar-lhe para dizer: despede o idiota que te aconselha! Ninguém por aí leu o Robert Axelrod? Ninguém daí conhece nada da pacata sensibilidade lusitana?! Em suma, como se pior fosse impossível, o pior aconteceu. Já depois do debate, quando os candidatos se deveriam despedir um do outro, Manuel Maria Carrilho resolve não cumprimentar o adversário. Não sabia que estava a ser registado? Ninguém acreditou e ninguem acredita em hipótese tão inverosímil. As eleições foram assim e naquele momento ganhas por Carmona Rodrigues.

Uns meses depois, o inconformado Carrilho resolve publicar um livro, responsabilizando em grande medida os média pela sua derrota. Afirma mesmo que houve um conluio entre uma agência de comunicação e interesses imobiliários para provocarem a sua derrota eleitoral. Ainda não li o livro nem sei se vou lê-lo. Mas os principais argumentos têm sido repetidos à saciedade e resumem-se nisto: os órgãos de informação manipulam a informação; incensam e depois massacram os pobres habitantes do limbo mediático; servem directamente interesses económicos e políticos inconfessáveis; não são escrutinados; dependem cada vez mais de umas instâncias mercenárias chamadas agências de comunicação, em suma, ele foi vítima, não da sua própria incompetência político-partidária e eleitoral, mas de uma conspiração mediática patrocinada pelos construtores civis. Não é verdade!

Tudo ou quase tudo o que Carrilho diz sobre a demissão e mesmo a corrupção jornalística actual é provavelmente verdade. Basta ver como os telejornais e os jornais de papel têm vindo a tratar a burla nuclear do Sr. Patrick Monteiro de Barros! Os média tradicionais, sobretudo em Portugal, não passam de pescadinhas de rabo na boca, sem qualquer profundidade jornalística, sem qualquer diversidade informativa, sem uma réstea de integridade ética, totalmente subservientes da publicidade e da imbecilidade consumista, entregues à mais confrangedora endogamia, plagiaristas sem vergonha, em suma, verdadeiros infocaptos. Estou de acordo, e basta ler o que Paul Graham escreveu sobre os submarinos mediáticos, ou a definição que a Wikipedia dá de Payola (se queres informação, paga-a...), para concordarmos com o desgraçado filósofo. Na guerra contra os mass media corruptos estarei ao seu lado sem reservas. Mas que a culpa da sua derrota autárquica é coisa do seu mau feitio e dos péssimos assessores que o rodeiam, disso não tenho também qualquer dúvida. As minhas suspeitas sobre tudo isto foram levantadas neste mesmo blogue e infelizmente confirmaram-se.

OAM #122 23 MAI 2006

sábado, maio 06, 2006

Guerras Nucleares 1

DU victim

Urânio empobrecido, bombas sujas, mísseis sujos, balas sujas

uma sentença de morte aqui e no estrangeiro — Leuren Moret

Os militares não passam de animais estúpidos e aparvalhados para serem usados como peões na política externa” — Henry Kissinger, citado em “Kiss the Boys Goodbye: How the United States Betrayed Its Own POW's in Vietnam”

A Guerra do Vietnam (iniciada por Lyndon Johnson sob o pretexto de um ataque vietnamita a dois navios de guerra estado-unidenses que nunca ocorreu — NT) foi uma guerra química pelo controlo do petróleo (e gás natural existentes ao largo da longa costa daquele país — NT) a qual contaminou por muito tempo grandes regiões e países a jusante do rio Mekong com o Agente Laranja. Do ponto de vista ambiental foi a mais devastadora guerra da história. Depois desta guerra (que perderam, iniciando-se então, segundo alguns observadores, o longo declínio desta potência imperial — NT) os EUA dirigiram desde 1991 quatro guerras nucleares, utilizando armamento com urânio empobrecido (depleted uranium, DU), o qual, tal como o Agente Laranja, é abrangido pela definição de Armas de Destruição Maciça adoptada pelo governo americano. Vastas regiões no Médio Oriente e na Ásia Central foram contaminadas permanentemente com radiações provocadas pelos impactos dos projécteis artilhados com pontas de urânio empobrecido.

Terry Jemison, do Department of Veterans Affairs, relatou à American Free Press que, desde 1991, se registaram 518.739 casos de incapacidade médica entre os veteranos da primeira guerra do Golfo, apesar de no mesmo período de 14 anos apenas haver registo oficial de 7.035 feridos.

A American Free Press revelou que oito dos vinte militares de uma unidade que participou na ofensiva americana de 2003 contra o Iraque desenvolveram patologias várias num período de apenas 16 meses.

Uma vez que estes soldados estiveram expostos apenas a vacinas e ao urânio empobrecido, estes factos constituem uma forte evidência, para investigadores e cientistas a trabalhar nesta questão, de que o DU é a causa definitiva da Síndroma da Guerra do Golfo. Não consta que as vacinas causem cancro. Um dos primeiros investigadores que publicou trabalhos sobre a Síndroma da Guerra do Golfo, o Dr. Andras Korényi-Both, que em 1991 também serviu no Iraque, tem a mesma opinião que Barbara Goodno, do Deployment Health Support Directorate do Departamento de Defesa: desta vez os soldados não foram expostos a produtos químicos, pesticidas, bioagentes ou outras causas suspeitas de confundir a questão.

Esta nova e poderosa evidência está a encher de buracos o encobrimento perpetrado pelo Pentágono e por três administrações presidenciais desde 1991, i.e. quando o urânio empobrecido (DU) foi utilizado pela primeira vez nos campos de batalha. Os efeitos a longo prazo revelaram que o DU é uma sentença de morte e um material asqueroso.

Cientistas que estudaram os efeitos biológicos do urânio na década de 60 relataram que ele atinge o DNA. Marion Fulk, um físico-químico nuclear aposentado do Livermore Nuclear Weapons Lab e anteriormente envolvido no Manhattan Project, interpreta os novos e rápidos tumores nos soldados da guerra de 2003 como ‘espectaculares... e uma matéria de preocupação’.

Esta evidência mostra que dos três efeitos que o DU tem sobre os sistemas biológicos — radiológico, químico e particulate — o efeito particulate das nano-partículas é o mais importante logo a seguir à exposição e atinge o Código Mestre no DNA. Isto é uma má notícia, mas explica porque é que o urânio empobrecido (DU) provoca uma miríade de doenças difíceis de definir.

Em palavras simples, o DU ‘apodrece o corpo’. Ao perguntarem-lhe se a sua principal finalidade é destruir coisas e matar pessoas, Fulk foi mais preciso: “Eu diria que isto é a arma perfeita para assassinar montes de pessoas”.

É de esperar que soldados que desde 2003 desenvolveram tumores tão rapidamente possam desenvolver cancros múltiplos com causas independentes. Este fenómeno tem sido relatado por médicos em hospitais que trataram civis a seguir aos bombardeamentos da NATO com urânio empobrecido (DU) na Jugoslávia, em 1998-1999, e da invasão americana do Iraque em 1991, quando o DU foi utilizado pela primeira vez. Peritos médicos relatam que este fenómeno das patologias múltiplas com causas não relacionadas tem sido ignorado até agora e é um novo síndroma associado à exposição interna ao urânio empobrecido (DU).

Apenas 467 americanos foram feridos durante as três semanas da Guerra do Golfo Pérsico em 1990-1991. Mas dos 580.400 soldados que serviram na primeira Guerra do Golfo, 11.000 estão mortos, e em 2000 havia 325.000 com incapacidade médica permanente. Este número espantoso de veteranos incapacitados significa que uma década depois 56 por cento daqueles soldados têm agora problemas médicos.

O número de veteranos incapacitados relatado até 2000 tem estado a aumentar ao ritmo de 43.000 por ano. Brad Flohr, do Department of Veterans Affairs, acredita que há mesmo mais veteranos incapacitados agora do que após a Segunda Guerra Mundial.

CONTAMINARAM AS ESPOSAS

Gulf War SyndromeNão só os soldados foram expostos ao urânio empobrecido (DU), nos campos de batalha e fora deles, como o trouxeram para casa. O DU no sémen dos soldados contaminou internamente as suas esposas, parceiras e namoradas. Tragicamente, algumas mulheres nos seus 20 e 30 anos, que foram parceiras sexuais de soldados expostos, desenvolveram endometriose e foram forçadas a sofrer histerectomias devido a problemas de saúde.

Num conjunto de 251 soldados de um grupo de estudo no Mississipi que haviam tido bebés normais antes da Guerra do Golfo, 67 por cento dos bebés do pós-guerra nasceram com defeitos severos. Vieram à luz sem pernas, braços, órgãos ou olhos ou manifestaram patologias do sistema imunitário e sanguíneo. Agora, em algumas famílias de veteranos, os únicos membros normais ou saudáveis são as crianças nascidas antes da guerra.

O Department of Veterans Affairs declarou que não mantem registos de nascimentos defeituosos verificados em famílias de veteranos. Como fizeram eles para esconder isto?

Antes que um novo sistema de armas possa ser usado, ele deve ser plenamente testado. O plano para armas de urânio empobrecido é um documento do Projecto Manhattan de 1943, entretanto desclassificado.

O antigo presidente da Universidade de Harvard e físico James B. Conant, que desenvolveu o gás venenoso na I Guerra Mundial, foi integrado no Manhattan Project pelo pai do candidato presidencial John Kerry. O pai de Kerry trabalhou nas altas instâncias do Projecto Manhattan e era agente da CIA.

Conant era presidente do S-1 Poison Gas Committee, que recomendou o desenvolvimento de armas de gás venenoso a partir do lixo radioactivo produzido pelo projecto da bomba atómica da II Guerra Mundial. Nessa época, já se sabia que os materiais radioactivos dispersos por bombas a partir do ar, de veículos terrestres, ou nos campos de batalha produziam um pó radioactivo muito fino que penetrava todos os vestuários de protecção, quaisquer máscaras ou filtros de gases e a pele. Ao contaminar os pulmões e o sangue, esse pó poderia muito rapidamente matar ou provocar doenças.

Eles também recomendaram o DU como um contaminante permanente de terrenos, o qual poderia ser utilizado para destruir populações através da contaminação de abastecimentos e terras agrícolas com pó radioactivo.

O primeiro sistema de armas DU foi desenvolvido para a U.S. Navy em 1968, tendo posteriormente sido oferecidas a Israel, que as utilizou em 1973 sob a supervisão americana na guerra do Yom Kippur contra os árabes.

O sistema de armas Phalanx, utilizando DU, foi testado no USS Bigelow, saído dos Estaleiros Navais Hunters Point, em 1977, e mais tarde vendidas pelos EUA a 29 países.

Relatórios de investigação militar resumem pormenores dos testes de DU entre 1974 e 1999 em zonas de ensaios militares, em campos de tiro e bombardeamento e em laboratórios civis sob contrato. Hoje há 42 estados contaminados com urânio empobrecido (DU) proveniente da sua fabricação, teste e instalação.

Mulheres que vivem nas proximidades destas instalações têm relatado aumentos de endometriose, nascimentos defeituosos de bebés, leucemia em crianças, cancros e outras doenças em adultos. Milhares de toneladas de armas DU testadas durante décadas pela U.S. Navy em quatro campos de tiro e bombardeamento nas imediações de Fallon, Nevada, causaram sem dúvida o crescimento mais rápido do agregado da leucemia nos EUA ao longo da última década. Os militares negam que o urânio empobrecido (DU) seja a causa.

A comunidade médica tem estado a encobrir — nomeadamente os seus efeitos, junto da população americana — o que sabe da radiação de baixo nível oriunda dos testes nucleares atmosféricos e das centrais nucleares. Um médico da Califórnia do Norte informou ter sido treinado pelo Pentágono, juntamente com outros médicos, meses antes da guerra de 2003 começar, para circunscrever o diagnóstico e tratamento de soldados regressados da guerra apenas a problemas mentais.

Profissionais médicos em hospitais e instalações que tratam soldados evacuados foram ameaçados com multas de US$10.000 se conversassem com os soldados acerca dos seus problemas médicos. E também foram ameaçados com prisão.

Os repórteres tem sido impedidos de aceder aos mais de 14.000 soldados evacuados desde 2003 por razões médicas, em voos nocturnos a partir da Alemanha (em aviões C 150), para o Walter Reed Hospital, perto de Washington, D.C.

O dr. Robert Gould, antigo presidente da filial da Bay Area do Physicians for Social Responsability (PSR), contactou três médicos em Fevereiro de 2004, depois de eu ter sido convidada a falar sobre o urânio empobrecido (DU). A dra. Katharine Thomasson, presidente da filial de Oregon do PSR, informou-me que o dr. Gould a tinha contactado e tentou convencê-la a cancelar o convite que me fizera para falar sobre o DU na Portland State University em 12 de Abril. Embora me fosse permitido fazer uma apresentação, a dra. Thomasson informou-me que eu poderia falar apenas sobre o DU no Oregon “e nada do ultramar... nada de política”.

Vários meses depois o dr. Gould também contactou e desencorajou o dr. Ross Wilcox de Toronto, Canadá, de convidar-me a falar no Physicians for Global Survival (PGS), o equivalente canadiano do PSR. Como isto não funcionou, ele contactou o dr. Allan Connoly, o presidente canadiano do PGS, que conseguiu cancelar o meu convite e quase teve êxito em impedir o dr. Wilcox, um membro do PGS, de mostrar fotos e apresentar pormenores sobre os cancros e o sofrimento de civis decorrente da exposição ao DU enviados por médicos do sul do Iraque.

A dra. Janette Sherman, associada há muitos anos ao PSR, informou que acabara por deixar a instituição depois de um almoço com uma nova administradora executiva do PSR. Depois da nova funcionária ter sondado a dra. Sherman durante todo o almoço sobre as suas posições sobre questões chave, acabou por informá-la que o seu último emprego fora na CIA.

Como foi possível esconder a verdade sobre o urânio empobrecido (DU) dos militares que serviram em sucessivas guerras DU? Antes da sua morte trágica, o senador Paul Wellstone informou Joyce Riley, R.N., B.S.N., director-executivo da American Gulf War Veterans Association, que 95 por cento dos veteranos da Guerra do Golfo haviam sido reciclados para fora da instituição militar por volta de 1995. Todos aqueles que continuaram ao serviço foram isolados uns dos outros, impedindo-se assim a passagem de informação crítica às novas tropas. A ‘guerra seguinte do DU’ já foi planeada, e aqueles que a planeiam ‘não querem ver desmancha-prazeres na festa’.

OS EUA TÊM UM SEGREDO SUJO

Um novo livro de Michael Collins Piper que acaba de ser publicado pela American Free Press, — The High Priests of War: The Secret History of How America's Neo-Conservative Trotskyites Came to Power and Orchestrated the War Against Iraq as the First Step in Their Drive for Global Empire —, pormenoriza os planos iniciais de Henry Kissinger e dos neo-cons para uma guerra contra o mundo árabe no fim da década de 60 e princípios da de 70. Há uma coincidência entre os planos de produção do urânio empobrecido (DU) e a crise petrolífera no Médio Oriente que tanto preocupou o presidente Nixon, mas não só. Os britânicos há décadas que conspiram e planeiam o controle do petróleo do Iraque, tendo sido os primeiros a desencadear um ataque com gás venenoso contra os curdos no Sul do Curdistão (Norte do Iraque), em 1919.

O livro fornece pormenores sobre a criação dos neo-cons pelo seu ‘padrinho’ e admirador de Trotsky, Irving Kristol, que propugnou por uma ‘guerra contra o terrorismo’ muito antes do 11S e durante anos foi generosamente financiado pela CIA. O seu filho, William Kristol, é hoje um dos homens mais influentes dos Estados Unidos.

Ambos são relações públicas da rede neoconservadora do lobby israelita, com fortes ligações a Rupert Murdoch. Kissinger também tem ligações a esta rede, bem como o Carlyle Group, o qual tem vindo a facilitar estas guerras omnicidas desde que o anterior presidente Bush tomou posse.

Quando perguntei ao capitão John McCarthy, Boina Verde das Operações Especiais no Vietnam, quem poderia ter concebido estes planos omnicidas para utilizar o DU com o propósito de destruir o código genético e o futuro genético de vastas populações de árabes e muçulmanos no Médio Oriente e na Ásia Central — por coincidência as áreas onde estão localizadas a maior parte das reservas de petróleo do mundo — ele respondeu: “Isto tem todas as impressões digitais de Henry Kissinger”.

The Great GameNo livro de Zbignew Brzezinski, “The Grand Chessboard: American Primacy and Its Geostrategic Imperatives”, o mapa do tabuleiro de xadrez euro-asiático inclui quatro regiões estratégicas para a política externa americana. A região ‘Sul’ corresponde precisamente às regiões agora contaminadas permanentemente com a radiação das bombas, mísseis e balas americanas fabricadas com milhares de toneladas de urânio empobrecido (DU).

Um professor japonês, o dr. K. Yagasaki, calculou que 800 toneladas de DU contem uma atomicidade equivalente a 83.000 bombas de Nagasaki. Os EUA utilizaram mais DU desde 1991 do que a atomicidade equivalente a 400.000 bombas de Nagasaki. Quatro guerras nucleares na verdade, e 10 vezes a quantidade de radiação libertada na atmosfera a partir dos testes atmosféricos!

Não é de admirar que os nossos soldados, as suas famílias e o povo do Médio Oriente, da Jugoslávia e da Ásia Central estejam doentes. Mas, como disse Henry Kissiger após o Vietnam, quando os nossos soldados voltaram para casa com doenças do Agente Laranja, “Os militares não passam de animais estúpidos e aparvalhados para serem usados como peões na política externa”.

Infelizmente, um número cada vez maior destes soldados são homens e mulheres de pele castanha. E infelizmente também, o pó radioactivo do urânio empobrecido (DU) será transportado pelo mundo fora e depositado nos nossos ambientes, tal como a ‘poluição’ (‘smog’) da Guerra do Golfo de 1991 se foi depositar na América do Sul, nos Himalaias e no Hawai.

Em Junho de 2003 a Organização Mundial de Saúde anunciou num comunicado de imprensa que as taxas globais de cancro aumentarão 50 por cento em 2020. O que mais saberão eles que não estão a contar-nos? Sei que o urânio empobrecido é uma sentença de morte... para todos nós. Morreremos todos de forma silenciosa.



Fontes usadas neste artigo que os leitores são encorajados a consultar:

American Free Press, two articles on depleted uranium (DU), by Christopher Bollyn.
Part I: Depleted Uranium Released During Canadian Plane Crash ;
Part II: Cancer Epidemic Caused by U.S. WMD: MD Says Depleted Uranium Definitively Linked.

World Affairs Journal. Depleted Uranium: The Trojan Horse of Nuclear War, by Leuren Moret
Coastal Post Online. Marin Depleted Uranium Resolution Heats Up — GI's Will Come Home To A Slow Death, by Carol Sterrit

World Depleted Uranium Weapons Conference, Hamburg, Germany, October 16-19, 2003

International Criminal Tribunal for Afghanistan. Written opinion of Judge Niloufer Baghwat

Discounted Casualties: The Human Cost of Nuclear War, by Akira Tashiro, foreword by Leuren Moret

Leuren Moret é uma geocientista que tem trabalhado em todo o mundo sobre temas de radiação, educando cidadãos, os média, membros de parlamentos e do Congresso e outros responsáveis. Em 1991 ela fez uma denúncia no Livermore Nuclear Weapons Lab depois de verificar uma grande fraude científica no Yucca Mountain Project. Ela é comissária ambiental da cidade de Berkeley. Email de Leuren Moret

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© Copyright belongs to the author, 2004. For fair use only/ pour usage équitable seulement.

Versão original
Outros textos de Leuren Moret:
Urânio empobrecido contamina a Europa
Urânio empobrecido, arma de extermínio da humanidade
Carta ao Presidente Hugo Chavez

© LIFE, Gulf War Syndrome. Photo by Derek Hudson LINK

OAM #121 06 MAI 2006

quarta-feira, maio 03, 2006

Petroleo 3

Evo Morales

Estado de emergência energética

Producing regions tend to peak and then decline when they have used about 50% of their total recoverable conventional oil reserves (Qt). Kenneth Deffeyes, using a method called Hubbert Linearization (HL), estimated that the world crossed the 50% of (conventional crude + condensate) Qt mark in December, 2005. According to the EIA, December 2005 was the all time record high for world crude + condensate production. The latest data, for January, 2006, show a decline of about 500,000 bpd — Jeffrey J. Brown in Energy Bulletin, 20 Apr 2006LINK

A crise iraniana e as posições da China e da Rússia sobre a mesma (nada de sanções!), o alarme franco-alemão (quer dizer, Europeu) face à imprevisibilidade de Teerão, a libertação das reservas estratégicas estado-unidenses por parte de George W. Bush, o pandemónio que vai na Nigéria e no Chade, o Tratado comercial assinado no dia 22 de Abril último entre a Bolívia, Cuba e Venezuela (demarcando-se do GATT, patrocinado em 1994 pelos EUA, Canadá e México), a eminência do surgimento de um mercado oficial de Petro-Euros sediado em Teerão, e agora o anúncio da nacionalização das reservas petrolíferas e de gás natural da Bolívia pela voz do presidente democraticamente eleito Evo Morales, tudo isto, e o mais que ainda veremos neste vertiginoso mês de Maio, promete-nos um Verão tórrido, com o dólar a cair a pique, o petróleo e o gás natural a subir sem parar (talvez mesmo até aos US$105 antes de chegarmos ao Outono, segundo a Goldman Sachs), e uma crise militar global, para cujo deflagrar basta puxar uma das muitas espoletas disponíveis: Teerão, La Paz-Caracas, Abuja, N'Djamena e Cartum, entre outras. Apesar do esforço de contenção verbal, é cada vez mais indisfarçável o nervosismo mundial e o gigantesco braço de ferro em curso pelos recursos energéticos indispensáveis ao crescimento das principais economias do planeta: petróleo, gás natural, carvão e... urânio.
Como refere Kenneth Deffeyes, o pico mundial da produção petrolífera foi atingido, muito provavelmente, em Dezembro de 2005. Coincidindo com a subida sustentada do preço do barril de petróleo, que ontem (02 maio 2006) atingiu um novo máximo de US$74,97, as importações de petróleo por parte dos EUA descresceram 15% desde o dia 10 de Fevereiro passado (i.e. cerca de 2 milhões de barris/dia), ou 8% (i.e. 1 Mbpd) se contarmos a partir de 24 do mesmo mês. No correspondente período de 2005 a queda nas importações líquidas de petróleo foi de 2%. O recurso às reservas estratégicas decorre pois da impossibilidade de aumentar as importações de um bem activamente disputado por todos... (1)
Perante esta crise tendencialmente catastrófica, apenas resta aos Estados inteligentes e corajosos fazer uma coisa: declarar o estado de emergência energética! Desta declaração deverão sair medidas tão radicais como o aumento considerável dos impostos sobre combustíveis; um programa radical de eficiência energética tendo como meta diminuir no prazo de 1-2 anos 20% dos custos com energia derivada do petróleo e do gás natural; desenhar um programa inteiramente novo de transporte de pessoas e de mercadorias; rever os programas de construção de novas refinarias; abandonar todos os devaneios sobre novos aeroportos internacionais; rever criteriosamente os programas ferroviários de alta velocidade e... reabrir seriamente o dossiê nuclear? (2).
Menos do que isto será deixarmos os países resvalarem para o abismo de uma grande estagnação económica, grande instabilidade social e perigosas derivas securitárias. Recomendo vivamente ao meu país (Portugal) que crie um Conselho Nacional da Energia, independente dos jogos políticos de conjuntura, com a capacidade científica e política de analisar e fazer recomendações técnicas de curto e médio prazo, sobre o período de longa emergência energética em que visivelmente acabámos de entrar à escala global. E antes mesmo de este Conselho ver a luz do dia, as cidades podem e devem fazer uma travagem energética imediata, tal como o estão fazendo 227 cidades estado-unidenses, apesar de Bush não ter ratificado até agora o Protocolo de Quioto. (3)



1 — “Sadad al-Husseini, recently retired as head of exploration and production at Aramco, the Saudi national oil company, notes that new oil output coming on-line had to be sufficient to cover both annual growth in world demand of at least 2 million barrels a day and the annual decline in production from existing fields of over 4 million barrels a day. ‘That's like a whole new Saudi Arabia every couple of years,’ Husseini said. ‘It's not sustainable.’ (...)
While some CEOs sound very bullish about the growth of future production, their actions suggest a less confident outlook. One bit of evidence of this is the decision by leading oil companies to invest heavily in buying up their own stocks. ExxonMobil, for example, with the largest quarterly profit of any company on record—$8.4 billion in the last quarter of 2004—invested nearly $10 billion in buying back its own stock. ChevronTexaco used $2.5 billion of its profits to buy back stock. With little new oil to be discovered and world oil demand growing fast, companies appear to be realizing that their reserves will become even more valuable in the future. (...)
The influence on oil production in the years immediately ahead that is most difficult to measure is the emergence of what I call a ‘depletion psychology.’ Once oil companies or oil-exporting countries realize that output is about to peak, they will begin to think seriously about how to stretch out their remaining reserves. As it becomes clear that even a moderate cut in production may double world oil prices, the long-term value of their oil will become much clearer.
” — Lester R. Brown, in THE COMING DECLINE OF OIL. VOLTAR
2 — Recebi a propósito deste dossiê um mail muito oportuno, onde o Comissário Europeu da Energia, Andris Pielbags, escreve o seguinte alerta: “Since the 1970's, improved energy efficiency has contributed more to our energy balance than any other single energy source except oil. More than coal, more than gas, and more than nuclear energy or renewables. These ‘negawatts’ have been every bit as valuable in economic terms as the ‘produced watts’ of energy they replaced. With today's energy prices a negawatt of energy savings costs about half of what it costs to produce the same amount of energy. The cheapest, most competitive, cleanest and most secure form of energy for the European Union thus remains saved energy.
[actualização: 30 Maio 2006] Vale ainda a pena ler a entrevista de Aníbal Fernandes ao JN de 25 de Maio sobre o ‘embuste’ nuclear proposto por Patrick Monteiro de Barros (ver PDF, 592KB) VOLTAR
3 — “Reconhecendo que o aquecimento global pode estar a aproximar-se rapidamente do ponto de não retorno e que o mundo não pode esperar pelo governo dos Estados Unidos, centenas de presidentes de câmara de cidades estado-unidenses apelaram ao corte nas emissões de gases com efeito de estufa. Ao assinarem o U.S. Mayors Climate Protection Agreement, estes presidentes de câmara — representando cerca de 44 milhões de americanos — comprometeram-se com as suas cidades a atingir ou ultrapassar o objectivo de redução das emissões previsto no Protocolo de Quioto, apesar da recusa do governo federal de ratificar o tratado. — Janet Larsen, in Earth Policy Institute (03 maio 2006)”. Um exemplo para as restantes cidades do mundo, mesmo aquelas que pertencem a países que assinaram o protocolo... LINK TOPO

Actualização [06 Ago 2006]: Explosive Oil Consumption Growth in the Top Oil Exporting States by Randy Kirk

OAM #120 03 MAI 2006

quarta-feira, abril 26, 2006

Crise Iraniana 2

Topol M e silo nuclear

A globalização do terror termo-nuclear


O que acontecerá se os Estados Unidos atacarem o Irão sob o pretexto de que este país tenciona fabricar armas de destruição maciça (WMD)? A hipótese não está completamente fora de agenda, a julgar pelo nervosismo exibido por algumas alas do Pentágono e da CIA. A desacreditada América de hoje, que já nem sequer cumpre as regras da OMC, por si criada (1), com uma dívida imparável e abraços com uma insustentável crise de imigração(2), é comandada por um fundamentalista evangélico(3) em volta do qual fervilha uma turma de neo-Clausewitzianos (Donald Rumsfeld, Paul Wolfowitz, Dick Cheney), cujo pragmatismo sibilino defende a urgência de atacar o regime iraniano, repetindo descaradamente a fábula do lobo e do cordeiro que usaram contra o Iraque. O seu objectivo é levar a cabo mais uma campanha do grande desenho estratégico que assegurará a supremacia norte-americana durante o século 21. O verdadeiro inimigo, a quinze anos de distância, chama-se, na realidade, República Popular da China(4), e o caso que contra ela terá que ser pacientemente montado, exige uma série de mediações e escaramuças intermédias: Afeganistão, Iraque, Irão, Síria... O facto de nenhum destes estados ter ou ter tido armas de destruição maciça, ao contrário de Israel (que tem umas 200 ogivas nucleares e recusa qualquer inspecção da ONU!), do Paquistão, da India, da URSS, da China, do Reino Unido, da França, e da Coreia do Norte, mostra até que ponto os Estados Unidos se colocaram numa posição patética. Talvez por isso se agarram à famosa guerra contra o terrorismo, na qual eu próprio cheguei a crer, mas que os factos têm vindo a demonstrar ser sobretudo um elemento da própria guerra assimétrica activamente promovida pela Administração Bush, sob a pressão teórica dos ultra-liberais aninhados na Casa Branca (e agora também no Banco Mundial) e do think tank de estratégia militar da RAND Corporation. Bin Laden e o “muito procurado” Al Zarkawi, foram criações da CIA e talvez continuem a servir a grande estratégia estado-unidense(5). Bush diz que está em guerra com o “Eixo do Mal”. A desculpa tem pelo menos servido para colocar a sua acção à margem do direito internacional e das leis do seu próprio país. Aplicar a lógica da carnificina em vez de ouvir a comunidade internacional, conduz a coisas tão feias como a mentira, a instrumentalização da CNN e de outros grandes meios de comunicação, a provocação, a sabotagem, a tortura, o assassinato selectivo, a destruição militar das economias e a eleição das populações civis como alvos privilegiados de uma acção bélica sistemática, promovida por militares, serviços secretos e mercenários, num teatro global de guerra informal. Os executantes destes actos não se livrarão mais cedo ou mais tarde (quando tudo se souber...) de ser chamados a tribunal(6). Aos seus mandantes esperam inevitavelmente tempos difíceis. Não é por acaso que algumas elites note-americanas começam a falar de “impeachment” relativamente ao seu presidente, e que altas patentes militares ameaçam um pronunciamento contra o actual curso das acontecimentos. É tempo de pôr as barbas de molho...

Os povos (e as elites) do Médio Oriente, mas também da Rússia, da China, de Cuba, Venezuela, México, Argentina, Chile e Brasil, já para não falar da Europa, estão fartos de aturar o Império. Não vejo como poderão os falcões americanos remediar este imparável fenómeno de rejeição cultural sem provocar uma reacção em cadeia de que o seu país seria, porventura, a primeira vítima. É evidente que o Irão quer transformar-se numa potência nuclear sub-regional, e que esta vontade atenta contra a hegemonia política que americanos e ingleses pretendem continuar a manter em volta do estratégico estado de Israel (congeminado pelos Senhores Lloyd George, Arthur James Balfour e Lord Rothschild na longínqua City londrina de 1917). A questão é o petróleo, estúpido! Mas não só... A inexorável deslocação do centro de gravidade do poder mundial do Ocidente para o Oriente... e a função crucial que a Europa tenderá a desempenhar nesta translação, pode muito bem ser a verdadeira presa em vista pelo actual esforço provocatório da Casa Branca. É por isto que a América de Bush se parece cada vez mais com um estado desesperado, vendo inimigos e eixos do mal por toda a parte. Há muito que os EUA conspiram contra a União Europeia e o Euro. Tentaram destruir a Rússia, até que Putin pôs cobro ao desmando (mostrando aos novos oligarcas russos quem manda no país, enxotando o Banco Mundial e a NATO da zona petrolífera do Mar Cáspio, estabelecendo provocadoras pontes energéticas com a China e o Irão, anunciando ao mundo que os novos mísseis de longo alcance Topol-M são capazes de furar as defesas americanas e... vendendo ao Irão, não apenas tecnologia nuclear, mas sobretudo um moderno e eficiente sistema de defesa aérea anti-mísseis.) Washington ainda não descobriu como sabotar o oleoduto que a Venezuela pretende lançar até Buenos Aires, passando por Brazília, mas tudo fará para o conseguir. Demasiados inimigos, e demasiados fantasmas, mesmo para uma super-potência!
A verdade é que a América está semi-falida, tem boa parte da sua capacidade produtiva avançada deslocalizada (sobretudo na Ásia) e conta com um povo muito pouco motivado para dar a sua vida por um punhado de ladrões e mentirosos. Para além de todas as consequências económicas trágicas que uma intervenção militar causaria aos próprios Estados Unidos, o provável insucesso militar da mesma aceleraria o efeito que o velho Kissinger teme do actual desafio iraniano. Disse ele que se nada se fizer, outros seguirão o exemplo do Irão no que respeita à proliferação nuclear. Presume-se que esses países possam ser o Brasil, a Argentina, a Venezuela, a Nigéria, a África do Sul, a Espanha, a Itália, e a Alemanha... Mas se houver intervenção, como escreveu lucidamente Immanuel Wallerstein(7), a corrida nuclear será ainda mais acelerada (e sincronizada). Pois todos perceberão então que essa seria a única forma de deter, de uma vez por todas, os efeitos cada vez mais perigosos da decadência estado-unidense. Além do mais, na perspectiva quase inevitável de a humanidade se render ao nuclear(8) para fins energéticos, não se vislumbra como alguma potência, por mais poderosa e messiânica que seja, poderá impedir a globalização dos equilíbrios de poder através do terror termo-nuclear.




1 — “US hit by EU over anti-dumping EU trade commissioner Peter Mandelson. Fines will continue as long as the US fails to meet WTO rules US imports have been hit with a further $9.1m (£4.9m; 7.2m euros) in tariffs from the European Union for breaking World Trade Organisation rules.” (BBC, 01/05/2006) [Voltar]
2 — “Hundreds of thousands of immigrants in the United States have joined a day of nationwide action to protest against proposed immigration reform.” (BBC, 01/05/2006) [Voltar]
3 — “They think that President Bush has a "messianic" complex. As we know, people with messianic complexes are dangerous, especially if they have their finger on nuclear weapons and control the strongest military machine in the world.” — Immanuel WALLERSTEIN, “Attack on Iran: Can They Be Serious?”, Commentary No. 183, April 15, 2006 [Voltar]
4 — “In terms of long-wave timing, the new upturn in U.S. military spending since 2001 is worrisome, as it could signal the starting gun for a new long-term upswing of rising military spending, an upswing that could even culminate in another ruinous great-power war in the coming decades.” — Joshua S. GOLDSTEIN, The Predictive Power of Long Wave Theory, 1989-2004 [Voltar]
5 — O melhor mesmo é duvidar metodicamente dos principais média estado-unidenses (TIME, Newsweek, CNN, Fox News), tomando em conta que numa guerra assimétrica como a que decorre entre os EUA e o “Eixo do Mal”, as tácticas de demonização fazem parte das chamadas “Media Operations” e “Pshycological Operations” (PSYOP) de qualquer planeamento bélico. Vale a pena a este propósito ler o que Michel Chossudovsky tem a dizer sobre isto. Who is behind “Al Qaeda in Iraq”? Pentagon acknowledges fabricating a "Zarqawi Legend" by Michel Chossudovsky, April 18, 2006 [Voltar]
6 — “Although not reported in the mainstream American press, a recent Tokyo tribunal, guided by the principles of International Criminal Law and International Humanitarian Law, found President George W. Bush guilty of war crimes. On March 14, 2004, Nao Shimoyachi, reported in The Japan Times that President Bush was found guilty ‘for attacking civilians with indiscriminate weapons and other arms’, and the ‘tribunal also issued recommendations for banning Depleted Uranium shells and other weapons that indiscriminately harm people.’ Although this was a ‘Citizen's Court’ having no legal authority, the participants were sincere in their determination that international laws have been violated and a war crimes conviction is warranted.” — Doug Westerman, “Depleted Uranium — Far Worse Than 9/11. Depleted Uranium Dust — Public Health Disaster For The People Of Iraq and Afghanistan”, in Global Research.ca
Ainda sobre o potencial de destruição maciça e prolongada do urânio empobrecido convem ler o testemunho de Ramsey Clark, antigo Procurador Geral dos EUA: “Depleted-uranium weapons are an unacceptable threat to life, a violation of international law and an assault on human dignity. To safeguard the future of humanity, we call for an unconditional international ban forbidding research, manufacture, testing, transportation, possession and use of DU for military purposes. In addition, we call for the immediate isolation and containment of all DU weapons and waste, the reclassification of DU as a radioactive and hazardous substance, the cleanup of existing DU-contaminated areas, comprehensive efforts to prevent human exposure and medical care for those who have been exposed.” — Depleted Uranium. Education Project
O que é o urânio empobrecido? “Depleted uranium is a waste obtained from producing fuel for nuclear reactors and atomic bombs. The material used in civil and nuclear military industry is uranium U-235, the isotope which can be fissioned. Since this isotope is found in very low proportions in nature, the uranium ore has to be enriched, i.e., its proportion of the U-235 isotope has to be industrially increased. This process produces a large amount of radioactive depleted uranium waste, thus named because it is mainly formed by the other non-fissionable uranium isotope, U-238 and a minimum proportion of U-235.
American military industry has been using depleted uranium to coat conventional weaponry (artillery, tanks and aircraft) since 1977, to protect its own tanks, as a counterweight in aircraft and Tomahawk missiles and as a component for navigation instruments. This is due to depleted uranium having characteristics making it highly attractive for military technology: firstly, it is extremely dense and heavy (1 cm3 weighs almost 19 grammes), such that projectiles with a depleted uranium head can penetrate the armoured steel of military vehicles and buildings; secondly, it is a spontaneous pyrophoric material, i.e., it inflames when reaching its target generating such heat that it explodes.
After more than 50 years producing atomic weapons and nuclear energy, the USA has 500,000 tonnes of depleted uranium stored, according to official data. Depleted uranium is radioactive also and has an average lifetime of 4.5 thousand million years. This is why such waste has to be stored safely for an indefinite period of time, an extremely costly procedure. In order to save money and empty their tanks, the Department of Defence and Energy assigns depleted uranium free of charge to national and foreign armament companies. Apart from the USA, countries like the United Kingdom, France, Canada, Russia, Greece, Turkey, Israel, the Gulf monarchies, Taiwan, South Korea, Pakistan or Japan purchase or manufacture weapons withdepleted uranium.
When a projectile hits a target, 70% of its depleted uranium burns and oxidizes, bursting into highly toxic, radioactive micro particles. Being so tiny, these particles can be ingested or inhaled after being deposited on the ground or carried kilometres away by the wind, the food chain or water. A 1995 technical report issued by the American Army indicates that "if depleted uranium enters the body, it has the potentiality of causing serious medical consequences. The associated risk is both chemical and radiological". Deposited in the lungs or kidneys, uranium 238 and products from its decay (thorium 234, protactinium and other uranium isotopes) give off alpha and beta radiations which cause cell death and genetic mutations causing cancer in exposed individuals and genetic abnormalities in their descendents over the years. In its 110,000 air raids against Iraq, the US A-10 Warthog aircraft launched 940,000 depleted uranium projectiles, and in the land offensive, its M60, M1 and M1A1 tanks fired a further 4,000 larger caliber also uranium projectiles.
It is estimated that there are 300 tonnes of radioactive waste in the area which might have already affected 250,000 Iraqis. After the Gulf War, Iraqi and international epidemiological investigations have enabled the environmental pollution due to using this kind of weapon to be associated with the appearance of new, very difficult to diagnose diseases (serious immunodeficiencies, for instance) and the spectacular increase in congenital malformations and cancer, both in the Iraqi population and amongst several thousands of American and British veterans and in their children, a clinical condition known as Gulf War Syndrome. Similar symptoms to those of the Gulf War have been described amongst a thousand children residing in areas of the former Yugoslavia (Bosnia) where American aviation also used depleted uranium bombs in 1996, the same as in the NATO intervention against the Yugoslavia in 1999.
” — LINK [Voltar]
7 — “First of all, why should we consider it to be a catastrophe if tomorrow Iran has nuclear weapons? (...) Why would not the balance of terror operate equally well in the Middle East?” — Immanuel WALLERSTEIN, “Iran and the Bomb”, Commentary No. 179, Feb. 15, 2006 [Voltar]
8 — Segundo dados de 2004, existem 441 centrais nucleares activas em todo o mundo (104 das quais nos EUA) e 49 em construção ou encomendadas. Destas últimas, apenas 1 no Irão. As principais reservas de urânio com custos de obtenção abaixo dos US$130/Quilo, encontram-se nos seguintes países: Kazaquistão, Austrália, África do Sul, EUA, Canadá, Brasil, Namíbia, Federação Russa, Uzebequistão e Ucrânia. Fonte: Sítio Web do Ministério da Ciência e Tecnologia/ Indústrias Nucleares do Brasil. [Voltar]

OAM #119 26 ABR 2006 [actualizado em 01 MAI 2006]

segunda-feira, abril 17, 2006

Crise Iraniana 1

Dois hemisférios e uma interface energética

Em 1905, o Governo de Sua Majestade, através dos serviços do notório ‘ás dos espiões’, Sidney Reilly, assegurou direitos exclusivos extraordinariamente significativos sobre o que então se acreditava ser uma vasta e inexplorada zona petrolífera do Médio Oriente. Assim, no princípio daquele ano, os serviços secretos Ingleses enviaram Reilly (nascido em Odessa, Rússia, sob o nome de Sigmund Georgjevich Rosenblum) com a missão de sacar os direitos de exploração dos recursos minerais da Pérsia a um excêntrico geólogo amador e engenheiro Australiano chamado William Knox d'Arcy ” — in A Century of War, de William Engdahl.

Estimado Lorde Rothschild,
Tenho o prazer de lhe comunicar, em nome do Governo de Sua Majestade, a seguinte declaração de simpatia pelas aspirações Judaico Sionistas, a qual foi submetida ao Gabinete e aprovada:
‘Sua Majestade vê com agrado o estabelecimento na Palestina de um lar nacional para o povo Judeu, e dedicará os seus melhores esforços à consecução deste projecto, ficando claramente entendido que nada será feito que possa prejudicar os direitos civis e religiosos de comunidades não-Judias existentes na Palestina, ou os direitos e estatuto político usufruidos por Judeus em qualquer outro país.’ Ficar-lhe-ia agradecido se levasse esta declaração ao conhecimento da Federação Sionista. Com os melhores cumprimentos, Arthur James Balfour (Londres, 2 de Novembro de 1917).

Na mais importante e bela reserva natural Portuguesa existe uma águia solitária. É uma fêmea com vinte anos e perdeu o seu companheiro há algum tempo. Cada Primavera, porém, cumprindo um dever genético que a transcende, faz os seus magestáticos voos nupciais e prepara o ninho para a prole que há-de vir. Ela não sabe, mas é a última águia real da Serra do Gerês. Quando um dia desaparecer, desaparecerá com ela muito mais do que uma águia. Tal como a civilização Maia, ou a população da Ilha da Páscoa, ou tantos outros casos documentados de civilizações e comunidades extintas, houve um desequilíbrio grave na paisagem magnífica de que as águias reais do Gerês faziam parte e ajudaram a construir. A pouco e pouco, a falta de alimentos (nomeadamente coelhos bravos, por efeito da pneumonia viral hemorrágica e outras doenças), o abandono das práticas agro-pecuárias tradicionais, a perseguição humana, a electrocução nos cabos de alta tensão, as estradas, as barragens, os parques eólicos, a extracção de inertes, a produção florestal, a instalação de regadios, a invasão alegre dos todo-o-terreno, o turismo... conduziram em poucas décadas ao declínio demográfico irreversível de uma espécie rara residente num dos poucos e ameaçados santuários ecológicos de Portugal. Aquela última águia real, mostrada recentemente num documentário televisivo da SIC, fez-me meditar sobre os limites do crescimento, e em especial, sobre os limites do crescimento da mais predadora das espécies existente à face da Terra, o Homem.

Ao contrário do que escrevera um antigo secretário de estado da energia Português (1), o conhecido relatório de Donella Meadows, Jorgen Randers e Dennis Meadows, encomendado pelo Clube de Roma e financiado pela Fundação Volkswagen, Limits to Growth (datado de 1972 e de que não conheço nenhuma tradução Portuguesa), nunca foi tão dramaticamente actual como hoje. A trinta e quatro anos de distância, e na linha de um outro relatório igualmente fundamental, embora desconhecido da maioria de nós (refiro-me ao estudo de M. King Hubbert, Nuclear Energy and The Fossil Fuels (2.6 Mb), apresentado em Março de 1956 ao American Petroleum Institute), Limites ao Crescimento (e a sequela Beyond Limits, dos mesmos autores) revelam o modo e o quanto fomos caminhando ao longo do século 20 para um beco sem saída aparente. Com alguma probabilidade, este beco poderá mesmo levar-nos, se não a um processo de extinção, certamente a uma redução catastrófica da actual população mundial. O ex-governante Português deveria ler atentamente estes dois estudos, e corrigir rapidamente o seu optimismo leviano.

Enquanto procurava perceber porque teria o Presidente Francês ameaçado o Irão com a possibilidade de um primeiro ataque nuclear se Ahmanidjad persistir na sua arruaça atómica, tropecei em dois textos especialmente oportunos e actuais. Um deles, mais jornalístico, foi escrito por Jared Diammond para o The New York Times, em 1 de Janeiro de 2005, e chama-se The Ends of the World as We Know Them. O outro, mais antigo e fundamental, foi escrito em 1968 por Garrett Hardin, sob o título The Tragedy of the Commons.
Nos quatro textos que acabo de referir abordam-se os efeitos objectivos e dramáticos das dinâmicas de crescimento exponencial. Citarei neste artigo apenas os últimos dois, porque tive já a oportunidade de me referir em blogues anteriores à importância dos trabalhos de Donella Meadows/Jorgen Randers/Dennis Meadows e de M. King Hubbert.
Assim, e no caso de Jared Diamond, gostaria de vos trazer o sintomático aviso com que começa a sua crónica para o The New York Times:
“Neste ano que agora começa, com os Estados Unidos aparentemente no cume do seu poderio e no começo de um novo mandato presidencial, os Americanos estão cada vez mais preocupados e divididos sobre o caminho a seguir. Até quando poderá a América prosseguir a sua ascensão? Onde estaremos daqui a dez anos, ou mesmo no ano que vem?” (...) “A História ensina-nos que quando as sociedades poderosas colapsam, tendem a fazê-lo rápida e inesperadamente.”

O problema da liberdade associada ao bem comum (quer dizer, à propriedade colectiva, aos baldios, ao domínio público) abordado no polémico ensaio do professor de biologia da Universidade da Califórnia, merece ser recordado no preciso momento em que pretendemos perceber como pode o comportamento de Ahmadinejad ameaçar tão fortemente a economia, a estabilidade política e a segurança mundiais. Tem o temerário líder iraniano a liberdade de ameaçar o status quo energético gerado pelas ‘democracias’ ocidentais ao longo dos séculos 19 e 20 (mesmo invocando os danos que estas produziram)? Estarão estas últimas (quando o entendimento do problema se tornar claro para a generalidade das suas comunidades) dispostas a sacrificar a sua sobrevivência económica, e sobretudo cultural, aos direitos de um conjunto de países que, por junto, não representam mais de 2% da população mundial? O facto de Garrett Hardin analisar o problema do crescimento populacional como um desses problemas que não têm solução técnica à vista... pode muito bem ser a metáfora que nos faltava para entender a complexidade deste momento político angustiante. O grau de generalidade da sua hipótese teórica não poderia ser mais oportuno ao verificarmos como as nossas deficiências analíticas parecem tornar-se óbvias face aos dilemas da confrontação em curso.
“A classe dos ‘problemas sem solução técnica’ tem membros. A minha tese diz que ‘o problema populacional’, tal como é convencionalmente concebido, é um membro dessa classe. O modo como ele tem sido visto merece um comentário. É justo dizer que a maioria das pessoas que se afligem com o problema populacional procuram encontrar uma maneira de fugir aos demónios da sobrepopulação sem abandonar nenhum dos privilégios de que gozam. Pensam que explorar os mares como se fossem quintas, ou desenvolver novas variedades de trigo resolverá os problemas — tecnicamente. Eu procuro mostrar que a solução que procuram não pode ser encontrada. O problema populacional não pode ser resolvido tecnicamente, tal como não podemos vencer um jogo do galo.”

Porque é que a França ameaçou atacar o Irão, enquanto o escol político-militar estado-unidense parece um pára-brisas atingido por um pedaço de brita?
Há que distinguir nesta pergunta duas situações distintas: uma, é a fragilidade actual dos Estados Unidos da América perante a eventualidade da abertura de uma nova frente de guerra, que não pode descartar abertamente, para a qual dispõe de suficiente capacidade de projecção tecnológica, mas não de suficientes meios humanos disponíveis para uma acção prolongada e sangrenta no teatro de operações anunciado. Por outro lado, os Estados Unidos estão a ficar sem petróleo próprio, dependendo cada vez mais de fontes de abastecimento situadas em regiões crescentemente hostis ao seu império. Embora a lista dos seus principais fornecedores de petróleo — Canadá, México, Arábia Saudita, Venezuela, Nigéria e Iraque — não inclua o Irão, a verdade é que as suas recentes manifestações de proteccionismo anti-árabe (caso DPWorld), a criminalização dos imigrantes ilegais, sobretudo mexicanos (que provocou um dos mais massivos e provavelmente duradouros protestos cívicos desde a guerra do Vietnam), o modo desajeitado como vem provocando a Venezuela de Chavez, o atoleiro do Iraque, a sua incontrolável dívida externa e a provável tentativa de monetarização da mesma ($8.421,992.180.187,49 em 17 abr 2006), a recente perda do controlo das reservas energéticas do Mar Cáspio, e o facto de as suas próprias reservas petrolíferas estarem no fim (mais 8 anos de vida se se mantiver o nível de produção actual: 7,6 milhões de barris por dia), têm vindo a reduzir o espaço de manobra global desta super potência militar e tecnológica. Um ataque ao Irão provocaria, muito provavelmente, o caos, como opina um dos mais emblemáticos conservadores estado-unidenses, Patrick Buchanan:
O que é que faria o Irão? Poderia enviar Guardas Revolucionários para o interior do Iraque para tornar aquele país bem pior do que está para os 135 mil soldados norte-americanos. Incitar o Hezbollah a lançar morteiros contra Israel para ampliar a frente de batalha. Atacar os aliados da América no Golfo. Encorajar os Shiitas do Iraque e da Arábia Saudita a atacar os Americanos. Minar o Estreito de Ormuz. Activar as células Islâmicas adormecidas, trazendo o terror ao nosso país. Numa palavra, um ataque norte-americano ao Irão poderia levar a guerra a toda a região e interromper o envio dos 15 milhões de barris de petróleo/dia que nos chegam do Golfo, o que conduziria a economia mundial a uma paragem cardíaca instantânea.” — Is war with Iran inevitable? — por Patrick J. Buchanan. Abril 11, 2006

A outra questão, diz respeito à França, à Alemanha (que alinhou imediatamente com a declaração de Chirac) e em geral a toda a Europa dos 25. Neste caso, o principal problema reside igualmente na situação energética deste outro gigante económico e populacional. A União Europeia precisa diariamente de 15 milhões de barris de petróleo para manter o seu actual estilo de vida. Todavia, apenas produz (via Noruega e Reino Unido) 3,4 milhões de barris diários. Isto é, precisa de importar quase 12 milhões de barris/dia. Grande parte destas importações, ao contrário do que sucede com as importações petrolíferas dos EUA, tem origem precisamente no Golfo Pérsico (45%) e na Rússia (25%). Ocorre ainda que a Rússia de Putin, depois de ter sabido contrariar e finalmente anular o envolvimento do Mar Cáspio por parte dos EUA, estabeleceu acordos estratégicos de grande importância com a China e com... o Irão, sendo assim cada vez mais nebulosas as suas intenções estratégicas relativamente à União Europeia (o tal sonho que ia do Atlântico até aos Urais). É neste contexto que Paris antecipou uma jogada realmente arriscada. Se a França atacar o Irão com mísseis nucleares (esclarecendo que o objectivo da Europa é apenas o de impedir uma corrida nuclear no Médio Oriente), e Israel levar a cabo uma série de operações de assassinato selectivo dirigidas ao coração do actual poder iraniano, que faria a Rússia? Se a situação continuar a deteriorar-se naquela zona vital para a sobrevivência económica de 4/5 da humanidade, a decisão da França (que é na realidade, e neste caso, porta-voz da decisão implícita de todo o hemisfério ocidental) pode vir a revelar-se como a única saída violenta capaz de limitar os estragos e sobretudo de impedir uma reacção nuclear em cadeia (como seria o caso, se a iniciativa pertencesse aos Estados Unidos, ao Reino Unido ou a Israel).

O consumo mundial de energia depende em 86% das reservas fósseis conhecidas.
A produção de electricidade depende em 64% desses mesmos recursos.
A era petrolífera, por sua vez, dificilmente sobreviverá ao ano 2030, ou segundo os mais optimistas, ao ano 2050.
Neste quadro de referência, a lista dos maiores consumidores mundiais de petróleo, (dados de 2003),

  • EUA (20,3 M bpd)
  • União Europeia a 25 (14,59 M bpd)
  • China (6,4 M bpd)
  • Japão (5,6 M bpd)
  • Rússia (2,8 M bpd)
  • India (2,3 M bpd)
  • Mexico (1,7 M bpd)
  • Brasil (1,6 M bpd)
  • Indonesia (1,08 M bpd)
  • Paquistão (365 m bpd)

corresponde à maioria esmagadora da população mundial. Assim sendo, estes países acabarão sempre por exercer o peso das suas decisões sobre a distribuição dos recursos disponíveis. É no âmbito das suas alianças que a tensão em torno da repartição do petróleo remanescente se delineará nas próximas semanas, nos próximos meses e nos próximos anos.
As maiores reservas estratégicas de petróleo conhecidas não se encontram nestes países (à excepção da Rússia e do México). Encontram-se, na realidade, em países e regiões geralmente pouco povoados (neste caso, à excepção da Rússia, México e Nigéria). São estas as principais reservas de petróleo conhecidas em 2005 (em mil milhões de barris):
  • Arabia Saudita = 262,7
  • Canada (inclui areias betuminosas) = 178,9
  • Irão = 133,3
  • Iraque = 112,5
  • Emiratos Árabes Unidos = 97,8
  • Kwait = 96,5
  • Venezuela = 77,2
  • Rússia = 69
  • Líbia = 39
  • México = 33,3
  • Nigeria = 36
  • Casaquistão = 26
  • Angola = 25

Assim sendo, seria totalmente suicida a ideia de deixar evoluir estes países para o estatuto de potências militares sofisticadas. Seria menos perigoso e mais barato negociar um novo Tratado de Tordesilhas entre os grandes aglomerados populacionais e as grandes economias do planeta, que fosse ao mesmo tempo capaz de regular os seus interesses e equilíbrios, mantendo no seu devido lugar boa parte dos produtores líquidos de petróeo e gás natural. De um lado, o Ocidente, ficaria a União Europeia (de Istambul a Lisboa), a metade ocidental de África, o Atlântico e as Américas. Do outro, o Oriente, ficariam a Rússia, a China, a India, a Indonésia, a Austrália, a metade oriental de África e o Japão. As principais interfaces petrolíferas (e de gás natural) ficariam fora desta divisão, mas obrigadas a servir o bem comum! Talvez assim fosse possível ultrapassar o actual jogo do galo, que como sabemos todos, do ponto de vista da guerra, e da tecnologia, não tem solução.
A presente crise de recursos (pois é fundamentalmente disso que se trata) talvez possa ter uma resolução não catastrófica. Pelo menos, deveríamos procurá-la com toda a nossa imaginação. Ganharíamos, se tivéssemos êxito nesta desesperada tentativa de negociação a quente, algum tempo para enfrentar a questão, bem mais radical, da nossa sobrevivência como espécie. De contrário, e bem mais cedo do que seria verosímil crer, estaremos na situação da última águia real que sobrevoa (sem saber o que a espera) a bela serra do Gerês.



Notas
1. Nuno Ribeiro da Silva, “Petróleo A 70 dólares ou mais?”, in DN,5 Set., 2005.

Post Script [18 abr 2006] — Em vez da guerra, sempre possível ao virar da esquina, sempre terrível (autêntica pornografia negra!), sempre desejada por alguns dos mais insuspeitos amantes da beleza e respectivas artes, seria bem mais inteligente optar por uma nova e urgente agenda de cooperação global. Pois a agenda energética que actualmente ameaça lançar o mundo numa recessão económica de proporções dantescas tem um horizonte histórico muito curto (e sobretudo nenhum ciclo expansivo que lhe suceda). Que sentido faz lançar a humanidade numa carnificina planetária por causa de algo que não tem solução, o fim anunciado das energias carbónicas baratas e a ameaça climática global? Não deveríamos, pelo contrário, começar a desenhar planos de contingência bem mais radicais? Por exemplo, para fazer uma revolução social contra o crescimento? À contínua obsessão dos corruptos e bimbas do poder com a liberdade de enriquecer às custas da pobreza crescente das maiorias, à sonolência demonstrada pelos autoproclamados ‘especialistas em energia’ que enchem os écrãs de ilusões, oponho uma recomendação, que me chegou de um amigo: leiam o último livro de James Lovelock, The Revenge of Gaia. Deixo-vos com esta esta aterradora passagem:
Os centros climáticos de todo o mundo, que são o equivalente dos laboratórios de anatomia patológica dos hospitais, enviaram um relatório sobre o estado físico da Terra. Os especialistas climáticos consideram-na gravemente enferma, à beira de entrar num estado de morbidez febril que poderá durar cem mil anos. Tenho que vos dizer, como membros da família terrestre e uma parte íntima dela, que todos vós e em especial a civilização enfrentam um grave perigo.


OAM #118 16 ABR 2006