domingo, julho 30, 2006

Israel-Libano 2

Lebanon destruction

Líbano: a oportunidade europeia


Much of the United States policy in the Middle East and Central Asia is guided by acquiring strategic depths before Russia, China and Iran acquire strength. Iran wants to build nuclear weapons before the US and Russia are able to dominate the region. China is quietly making inroads in much of Asia and Africa before the US firmly establishes its global dominance. It's not just the United States that is following a doctrine of pre-emption. China and Iran are playing the same game. Can some calculations go wrong when investors are most confident of global economic growth and political stability as they were in the years leading to the First World War?” In Strategic Foresight Group; The Big Questions of Our Time, Part 8: Ferguson's Fears


O território da Palestina, também conhecido ao longo da história como Filastïn ou Falastïn (da desaparecida etnia Filistina), ou ainda como Eretz Israel (Terra de Israel), foi secretamente negociado em 1916 como um Condomínio Aliado decorrente dos arranjos geo-estratégicos posteriores à Primeira Guerra Mundial (1914-1918). Em 1917, Lorde Balfour enviou a célebre carta a Lorde Rothschild (líder da Comunidade Judia Inglesa e membro influente da Federação Sionista), na qual declarava a intenção da Inglaterra apoiar o desejo sionista de estabelecer uma pátria Judia (‘national home’) na Palestina. Em 1920 o Supremo Comando Aliado (Reino Unido, EUA, França, Itália e Japão) conferiu ao Reino Unido um mandato sobre toda a Palestina, embora sem definir os limites deste terriório. O Reino Unido, confrontado com a pressão da sua opinião pública (farta de pagar os elevados encargos do mandato), a desconfiança dos seus próprios aliados, que temiam pelas ambições coloniais inglesas na zona, o coro de protestos internacionais pela obstrução levantada pelos britânicos à deslocação dos refugiados judeus da Segunda Guerra Mundial para os territórios da Palestina, e o desgaste e humilhação impostos às suas tropas pelas acções terroristas dos grupos sionistas armados Irgun e Lehi, acabaria por anunciar o seu desejo de terminar o mandato na Palestina. Em 29 de Novembro de 1947 a Assembleia Geral das Nações Unidas aprova a resolução 181, com base na qual o território da Palestina é dividido em dois estados (israelita e árabe), mantendo-se a zona de Jerusalém (incluindo a cidade de Belém) sob administração das Nações Unidas. Os sionistas agarram obviamente a oportunidade, enquanto os países árabes rejeitam o inacreditável mapa traçado em Nova Iorque (basta olhar para o que sucedeu entretanto a este mapa para perceber quais os desígnios últimos de Israel). O novo Estado de Israel é proclamado a 14 de Maio de 1948, um dia antes de o Reino Unidos terminar o seu mandato na Palestina. A guerra israelo-árabe seguir-se-ia de imediato, continuando até aos dias de hoje, sem solução à vista. Israel foi alargando agressivamente as suas fronteiras, tendo obviamente como objectivo estratégico expandir a jurisdição do Estado de Israel a todo o (difuso...) território da Palestina, incluindo as cidades santas de Jerusalém e Belém. É por isto mesmo, que o Hamas, o Hezbollah, a Síria e o Irão não vêem outra solução para zona que não passe pelo fim de um Estado artificial, só possível graças ao grande jogo das principais potências militares do Ocidente: a França, o Reino Unido e os Estados Unidos. O prémio deste grande jogo de estratégia é, para além de todas as outras considerações imagináveis (passagem do Suez, direitos humanos, democracia) a imensa riqueza petrolífera de toda a região do Médio Oriente, a qual se estende pela Arábia Saudita e Emiratos Árabes, Irão, Iraque, Afeganistão e zona do Mar Cáspio. Todo o século 20 esteve dominado pelo controlo desta matéria prima e fonte energética de primeira grandeza.

mapa


A agenda de Israel é clara: destruir a possibilidade de existência de um Estado Palestino e expandir o seu território por forma a ocupar não apenas todo o mapa da Palestina desenhado pela ONU, mas também, logo que houver oportunidade, estender o seu Lebensraum à Jordânia.
Perante estes desígnios, a agenda dos árabes da Palestina não pode deixar de contemplar a destruição do Estado de Israel como uma opção racional.
Este cenário de irredutibilidade recíproca é muito perigoso para o futuro da humanidade. Na realidade, a situação actual é muito diferente daquela que existia nos finais do século 19, no primeiro quartel do século 20, e mesmo durante todo o período compreendido entre a derrota nazi e a queda do muro de Berlim.

Por um lado, o fim da União Soviética lançou o Capitalismo na sua derradeira fase expansiva (globalização), libertando a lógica do valor usurário dos constrangimentos estratégicos e políticos que os estados nacionais lhe impuseram ao longo dos tempos. Por outro, deixou os Estados Unidos numa posição estratégica cada vez mais insustentável à escala planetária, na medida em que o fim da bipolarização Democracia vs Totalitarismo abriu uma verdadeira caixa de Pandora no tabuleiro planetário dos jogos de estratégia. De repente, dezenas de países do Terceiro Mundo começaram a sair das suas prisões de sub-desenvolvimento, caminhando para incrementos nos respectivos PIB muitíssimo superiores aos dos países do 1º Mundo (estamos a falar de taxas de 9, 13, 21 e 26 por cento, por comparação com as variações de 0,1 a 3,5 por cento dos chamados países desenvolvidos!) Finalmente, tudo isto ocorre à medida que a principal fonte energética do milagre económico do século 20 entra na sua fase declinante. As grandes reservas petrolíferas mundiais têm vindo a aproximar-se do topo da sua capacidade produtiva desde 1970! O peak of oil production que atingiu as reservas dos EUA, desencadeando a primeira grande crise petrolífera, em 1973, foi um aviso a que muitos não deram a importância devida. O problema agora é que o pico da produção mundial foi atingido no ano 2000!

Se tivermos presente, por exemplo, que em 2020 a produção petrolífera mundial andará pelos níveis da produção de 1980, que o petróleo barato acabou para sempre (sendo muito improvável que volte a descer abaixo dos 70 dólares...), e que, ao mesmo tempo, teremos que colocar nesta equação o crescimento da população mundial e os crescimentos económicos acelerados de países como a China e a India, mas também os dos 84 países que actualmente vêm os seus PIB crescerem a mais de 5% ao ano (ver CIA-The World Fact Book), poderemos facilmente perceber o nervosismo estratégico que percorre os centros de decisão da maioria dos países do planeta. O controlo das reservas mundiais de petróleo, gás natural, ouro, cobre, urânio, etc., já para não falar das florestas, solos agrícolas disponíveis, bancos de pesca e reservas de água potável, deixou de ser apenas um problema de acesso e gestão das garantias do crescimento (ou pelo menos de manutenção de um determinado status quo económico e cultural), mas também, e muito mais dramaticamente, um problema de sobrevivência dos próprios países. Se para crescermos, fizemos o que fizemos ao longo do século 20, imagine-se o que os países não poderão fazer para assegurar a sua própria sobrevivência.
Uma das soluções seria parar abruptamente, mas de forma assimétrica, o crescimento mundial! Quantos países poderão estar agora mesmo a pensar numa solução deste tipo? Eu diria que são muitos: o sr. Bush (e os chamados endtimers, que pelos vistos abundam na Casa Branca), o sr. Putin, o sr. Blair, o sr. Chirac, o sr. Hu Jintao, o sr. Ahmadinejade, o sr. Mujaraf e o sr. Ehud Olmert, entre outros possuidores de armamento nuclear e bioquímico de ponta.

É neste contexto que a guerra desencadeada por Israel contra o Líbano tem que ser estudada. Os EUA e o Reino Unido já demonstraram à saciedade a sua incapacidade para avaliar e gerir o presente curso da História. Multiplicaram estupidamente os teatros de operações anti-islâmicos, sem conseguirem ganhar nenhuma das guerras em que se meteram. Decepcionaram os seus aliados ocidentais. Afastaram da sua óbitra de simpatia a esmagadora maioria dos países do mundo. À medida que o caudal de erros estratégicos e tácticos aumenta, cresce, em resposta, a solidariedade muçulmana mundial, e mais países de outras órbitras estratégicas se aproximam do influente Crescente Islâmico. Quer dizer, para quem gostar de falar no choque de civilizações, é bom perceber que o poder de atracção do Islão tem vindo a aumentar rapidamente, ao passo que o bloco Cristão parece incapaz de demarcar-se do vanguardismo terrorista de Israel, deixando que o seu modo de estar no mundo e os seus objectivos estratégicos pareçam igualmente irreconciliáveis com a nova importância do Islão. Ora isto pode ser um erro trágico para a Europa!

Qana. Carolyn Cole / LAT
Qana: mulher e criança mortas por mísseis israelitas. 30 Jul 2006


A invasão da Faixa de Gaza, e depois do Líbano, sob pretextos absolutamente ridículos (o rapto do soldado israelita pelo Hamas sucedeu-se ao rapto de um civil palestiniano pelas tropas israelitas; e a acção do Hezbollah deu-se em território libanês ocupado por Israel) obedece a um plano de guerra preemptiva já conhecido e bem teorizado pelos think tanks que servem a perigosa administração Bush. Não sabemos, e só a história o dirá mais tarde, se foram os israelitas que adivinharam a vontade do Pentágono, ou se foi mesmo Condolezza Rice que instigou o plano de acção israelita. O resultado está, porém, à vista de todos: uma guerra ilegal, desproporcionada e terrorista, dirigida contra um Estado soberano, com o objectivo claro de desestabilizar toda a região do Médio Oriente, forçando a própria Europa a cair naquela que poderá ser uma das mais bem preparadas ciladas de sempre dos serviços secretos israelitas e norte-americanos. É bom que a Europa dos 25 se reuna, sim senhor. Mas atenção aos resultados da cimeira! A Europa não deverá aceitar, em caso algum, envolver-se em forças de interposição no Sul do Líbano, e muito menos aceitar como termo negocial a derrota do Hezbollah. O que a Europa deverá fazer é exigir o fim da agressão israelita e o regresso de Israel às fronteiras fixadas pela resolução 181 da ONU, em 1948, permitindo deste modo a efectiva criação de dois estados na Palestina: o Estado de Israel e o Estado da Palestina. Jerusalém, neste contexto, deveria transformar-se numa cidade-Estado independente, à semelhança de outros pequenos estados existentes no planeta. Aqui a Europa poderia comprometer a sua vontade e a sua honra, suportando inclusivamente parte dos importantes custos que uma tal decisão acarretaria. A missão da Europa, neste delicado caso, não será nunca a de fazer o trabalho sujo dos EUA e do seu sobrinho inglês. Mas antes a de garantir uma solução equilibrada na região, afirmando-se ao mesmo tempo como um vizinho cooperante do mundo árabe e muçulmano.

LINK 1 — Una historia de dos guerras, Loretta Napoleon, El País, 27 Jul 2006
LINK 2 — A história de Qana repete-se...
LINK 3 — Qana The Village of the Israeli Massacre
LINK 4 — Israel-Lebanon conflict - Wikipedia
LINK 5 — End-Timers & Neo-Cons; The End of Conservatives, Paul Craig Roberts, ZNet, 19 Jan 2005.

OAM #130 30 JUL 2006

quarta-feira, julho 19, 2006

Israel-Libano 1

Aeroporto de Beirute sob fogo israelita

Estado e Terrorismo


[21 Jul 2006] “Would you not agree that Muslim clerics in the Middle East (Sunnis and Shi`ites alike) expressed more outrage over Danish cartoons than over the destruction of Lebanon?” — As'ad AbuKhalil in The Angry Arab News Service

[25 Jul 2006] “[A] soldier is abducted from the army of a state that frequently abducts civilians from their homes and locks them up for years with or without a trial—but only we're allowed to do that. And only we're allowed to bomb civilian population centers . . . The concept that we have totally forgotten is proportionality. While we're in no hurry to get to the negotiating table, we're eager to get to the battlefield and the killing without delay.” — in Operation Peace for IDF, by Gideon Levy, HAARETZ.com


Apesar da antiguidade milenar do povo judeu, o moderno Estado de Israel é uma estranha novidade histórica. Na verdade, pode dizer-se que foi um invento recente da Federação Sionista, estrategicamente estimulada pelos súbditos bem avisados de sua magestade britânica (que não queriam judeus russos em Londres, mas queriam assegurar o controlo de uma zona rica em petróleo), com um primeiro grande impulso em 1917 e outro decisivo em 1948. A sua proto-história tem por conseguinte menos de um século, e a sua história uns escassos 54 anos de vida agitada e violenta. Percebe-se, pois, o remoque do senhor de Teerão quando diz aos ingleses e americanos, principais responsáveis do problema chamado Israel, que o resolvam.

Israel mostrou-se uma realidade difícil de digerir desde o primeiro minuto que pôs o pé nas areias áridas e pouco produtivas da Palestina. Os árabes começaram por lhe fazer a guerra assim que o novo Estado foi declarado. Diga-se, em abono da verdade, que Israel não contou nem com o apoio norte-americano, nem com os ingleses (que apoiaram tacitamente a frente árabe) para ganhar esta primeira guerra. As que se lhe sucederam, que também ganhou, fortalecendo sucessivamente a sua capacidade militar ofensiva e defensiva, foram contando progressivamente com o apoio cada vez mais explícito e prático do lobby judeu estado-unidense. Hoje é uma respeitável potência nuclear (com mais de 200 ogivas prontas a disparar!) O resultado destas vitórias foi, porém, um calvário para os povos árabes da Palestina. Divididos, desapoiados e humilhados, acabariam por enveredar pelas acções terroristas como principal táctica de oposição bélica ao novo país legalmente constituído. Israel decidiu responder com a táctica "olho por olho, dente por dente"... até que, mais recentemente, resolveu considerar que um judeu vale mais do que um árabe... e que dois soldados israelitas valem dez ministros do Hamas, a invasão e destruição de um país estrangeiro, centenas de vítimas civis e o terror de milhões de pessoas!

Israel deixou arrogantemente de respeitar a ONU, tal como o fazem todas as grandes potências quando lhes convém. Humilha sistematicamente as populações árabes da Palestina e os seus desgraçados e corruptos dirigentes. Invade os territórios e Estados vizinhos como se fossem casa sua. Por fim, perante a ameaça iraniana (estabelecer uma paridade nuclear naquela zona geo-estratégica), decidiu que chegara a hora de esclarecer militarmente um abcesso que ameaça, supostamente, a sua sobrevivência. A verdade é que a supremacia militar convencional, termo-nuclear, biológica e química de Israel e do seu principal patrocinador (os EUA) conduziu à expoliação e humilhação permanentes dos povos da Palestina, Irão e Iraque, não só ao longo de todo o século 20, mas sobretudo agora, quando a luta pelo controlo do petróleo e gás natural ameaça lançar o planeta numa tragédia inimaginável.

Esta é a primeira grande guerra entre judeus e muçulmanos no século 21. Devemos contudo olhar para ela como um episódio sangrento da guerra sem quartel que aí vem.

Não sabemos ainda se foram os Estados Unidos que envolveram Israel numa manobra de provocação contra o Irão. Se foi Israel quem programou subtilmente o envolvimento dos Estados Unidos numa confrontação próxima com o Irão. Ou se foi este último, como afirma o actual governo israelita, que preparou toda esta diversão e carnificina, com o objectivo de prosseguir a sua equiparação nuclear ao Estado de Israel, promovendo pelo caminho um afastamento mais decidido da China e da Rússia, dos Estados Unidos e da Europa.

Uma coisa é certa: a escassez anunciada do petróleo comandará os jogos de guerra mais próximos, tendo por teatro de operações privilegiado toda a zona compreendia entre o Irão, o Mar Cáspio e o Golfo Pérsico. Uma zona irresistível para os grandes especuladores, aventureiros, traficantes e assassinos.




Actualizações
[25 Ago 2006] Amnistia Internacional acusa Israel de cometer crimes de guerra e de terrorismo de Estado. In BBC online e Global Research.
[25 Jul 2006] É agora evidente para todos, depois das recentes declarações de Shimon Peres sobre o aniquilamento da Palestina (‘ou eles ou nós!’), da destruição sistemática das principais infra-estruturas do Líbano, dos bombardeamentos sucessivos contra alvos civis e do assassínio premeditado de quatro observadores das Nações Unidas (da China, Áustria, Canadá e Finlândia) estacionados no Sul do Líbano, que Israel se tornou, de facto, num Estado fora-da-lei. A situação é muitíssimo perigosa! A reacção da China perante a provocação assassina de Israel e dos Estados Unidos (que financia, arma e apoia descaradamente a fúria desesperada do estado Sionista) pode muito bem acelerar toda a actual conjuntura de pré-guerra global para o seu desencadear a curto prazo. Será que é mesmo isto que os Estados Unidos querem: antecipar uma guerra global, antes de a China poder chegar à paridade económica com a militarizada mas falida potência yankee? Vale a pena ler, entre outras referências, a entrevista a Noam Chomsky por Amy Goodman & Juan Gonzalez, no Democracy Now, bem como o artigo de Ken Silverstein no Harper's Magazine, We Fight Why? Israel's raid on common sense.

LINK 1 — A III GUERRA MUNDIAL JÁ COMEÇOU? — [13 Jul 2006] “Did World War III start yesterday morning? The great thing about predicting human events is that you are so often wrong. In this case, nothing would make me happier than to be in error. But, G-d help us all, I think the odds aren't that bad that I' m right. It is possible that yesterday morning, we started World War III.” In Sharon Astyk, Casaubon's Book.

LINK 2 — “The bombings of Lebanon are part of a carefully planned military agenda. They are not spontaneous acts of reprisal by Israel. They are acts of provocation.” In Global Research, Israeli Bombings could lead to Escalation of Middle East War, by Michel Chossudovsky.

LINK 3 — “Much of the United States policy in the Middle East and Central Asia is guided by acquiring strategic depths before Russia, China and Iran acquire strength. Iran wants to build nuclear weapons before the US and Russia are able to dominate the region. China is quietly making inroads in much of Asia and Africa before the US firmly establishes its global dominance. It's not just the United States that is following a doctrine of pre-emption. China and Iran are playing the same game. Can some calculations go wrong when investors are most confident of global economic growth and political stability as they were in the years leading to the First World War?” In Strategic Foresight Group; The Big Questions of Our Time, Part 8: Ferguson's Fears

LINK 4 — “NOAM CHOMSKY: Well, of course, I have no inside information, other than what's available to you and listeners. What's happening in Gaza, to start with that -- well, basically the current stage of what's going on -- there's a lot more -- begins with the Hamas election, back the end of January. Israel and the United States at once announced that they were going to punish the people of Palestine for voting the wrong way in a free election. And the punishment has been severe.

At the same time, it's partly in Gaza, and sort of hidden in a way, but even more extreme in the West Bank, where Olmert announced his annexation program, what's euphemistically called ‘convergence’ and described here often as a ‘withdrawal,’ but in fact it's a formalization of the program of annexing the valuable lands, most of the resources, including water, of the West Bank and cantonizing the rest and imprisoning it, since he also announced that Israel would take over the Jordan Valley. Well, that proceeds without extreme violence or nothing much said about it.

Gaza, itself, the latest phase, began on June 24. It was when Israel abducted two Gaza civilians, a doctor and his brother. We don't know their names. You don't know the names of victims. They were taken to Israel, presumably, and nobody knows their fate. The next day, something happened, which we do know about, a lot. Militants in Gaza, probably Islamic Jihad, abducted an Israeli soldier across the border. That's Corporal Gilad Shalit. And that's well known; first abduction is not. Then followed the escalation of Israeli attacks on Gaza, which I don't have to repeat. It's reported on adequately.
” In Noam Chomsky Website [U.S.- Backed Israeli Policies Pursuing ‘End of Palestine’; Noam Chomsky interviewed by Amy Goodman & Juan Gonzalez, in Democracy Now, July 14, 2006]

LINK 5 — “We can never allow an (alien) nation to live in the land (of Israel) as he will always make a claim to the land. The concept of transfer is the only future for the State of Israel. Transfer provides the solution for survival.” In Israel's Demographic and Security Challenge, Is Transfer the Only Rational Answer? By Bernard J. Shapiro

LINK 6 — “All of those people — millions in Ecuador, billions around the planet — are potential terrorists. Not because they believe in communism or anarchism or are intrisincally evil, but simply because they are desperate. Looking at this dam [Pastaza River, Ecuador], I wondered — as I have so often in so many places around the world — when these people would take action, like the Americans against England in the 1770s or Latin Americans against Spain in the early 1800s.” In John Perkins, ‘Confessions of an Economic Hit Man’

LINK 7 — “The wargame started with a crisis involving Iran which quickly escalated when the Tehran regime attacked shipping in the Persian Gulf; this in turn provoked a massive US naval response. As this conflict was developing, China attacked Taiwan, leading the US to split its forces in order to be able to respond to this additional challenge”. In Paul Rogers, The United States vs China: the war for oil, Open Democracy, 15 Jun 2006.

LINK 8 — “Is there a relationship between the bombing of Lebanon and the inauguration of the World's largest strategic pipeline, which will channel more than a million barrels of oil a day to Western markets?
Virtually unnoticed, the inauguration of the Ceyhan-Tblisi-Baku (BTC) oil pipeline, which links the Caspian sea to the Eastern Mediterranean, took place on the 13th of July, at the very outset of the Israeli sponsored bombings of Lebanon.
” In Michel Chossudovsky, The War on Lebanon and the Battle for Oil, Global Research, 26 Jul 2006.

LINK 9 — “The failure of the Rome summit on 26 July 2006 and the unwillingness of the United States to press for anything more than a minor pause in Israel's air offensive after the Qana tragedy on 30 July has not stilled the view in many western circles that the George W Bush administration will soon ensure a ceasefire in the Lebanon war. This ignores a key fact: Washington sees the war as a central part of the evolving global war on terror, with Israel as an absolutely vital part of that wider conflict.” In Paul Rogers, Lebanon: war takes root — The combination of United States global strategy, Israeli determination and Hizbollah resilience mean only one thing: a long war., Open Democracy, 03 Ago 2006.

Imagem: AP

Comentários não publicados: não darei seguimento a comentários acompanhados de links associados à guerra psicológica que acompanha a actual invasão do Líbano pelas tropas de Israel. Temos que impedir os falcões humanos de voar, mas sem cair na tentação de usar a pornografia do horror como arma de arremesso. AC-P

APELO DA AMNISTIA INTERNACIONAL

OAM #129 19 JUL 2006

segunda-feira, julho 10, 2006

Pamplona

Catia Coias - Pamplona

Largada Humana


Recebi uma nota da minha amiga e artista Cátia Coias sobre uma corrida de nus humanos contra a célebre largada de touros de Pamplona, que todos os anos leva milhares de turistas sedentos de uma prova de adrenalina proporcionada pela proximidade dos míticos animais —os touros— à capital Navarra. Há sempre feridos graves nesta loucura, que também se pratica em Portugal, nomeadamente na região do Ribatejo (Montijo, Alcochete, etc.), embora com menos profissionalismo comercial. A Espanha há muito que vende bem os seus produtos taurinos. Confesso que nunca me entusiasmaram, nem lá nem cá, sobretudo quando a faena é de morte!
Não vou entrar na antropologia dos sacrifícios e desafios ancestrais de que as touradas são ainda uma sobrevivência. Basta-me a certeza de serem provas de primitivismo cultural, ainda que bem menos malignas do que o desporto da guerra real com que continuamos a conviver macabramente. Provocar sem necessidade os touros, animais nobres e respeitáveis, não já em nome de um ritual atávico genuíno, mas para proveito puro das indústrias turísticas de Verão e gáudio de populações urbanas desejosas de novidade, parece-me prova evidente de falta de imaginação. Não se poderia re-desenhar o ritual agora degenerado de maneira a obter um sucedâneo interessante, criativo, e onde sobretudo o desporto radical não implicasse uma violência gratuita sobre o belo touro? O Mariscal seria capaz de ter uma boa ideia!

A Corrida dos Nus ou Largada Humana, que começou como uma reacção cultural adversa aos hábitos tauromáquicos dos espanhóis, parece coisa de somenos, quase oportunista, que não teria nenhuma possibilidade de existir se as largadas originais não fossem um facto. No entanto, já vamos na quarta edição desta contraposição cultural festiva, inteligente e erótica, ao pseudo ritual pamplonês. Com o tempo — quem sabe — esta largada humana poderá mesmo vir a ocupar a cabeça do cartaz turístico de Pamplona. Não se esqueçam que ninguém apostaria, há dois ou três anos atrás, que os nossos ambiciosos irmãos ibéricos iriam deixar de fumar. E deixaram!

Ao contrário das imbecis fotografias de manadas de indígenas em pelota promovidas pelo puritano norte-americano Spencer Tunick, estas largadas humanas revelam uma frescura antropológica bem mais estimulante. O seu intrínseco erotismo é inteligente, alternativo e propositivo. Há nesta manifestação de criatividade partilhada uma espécie de actualização muito oportuna das fantasias solares célticas e das provocações dionisíacas mediterrânicas. Havendo imaginação, haverá esperança :-)


Fotografia de Cátia Coias: "Largada Humana", Pamplona, 2006.

OAM #128 10 JUL 2006

sábado, junho 17, 2006

General Motors 1

GM Opel

Trocar a Opel por turbinas eólicas?


As acções da General Motors e da sua subsidiária financeira GMAC - General Motors Acceptance Corporation, têm vindo a cair aos trambolhões desde 2004. Hoje fazem parte daquele lixo financeiro a que os americanos de Wall Street chamam ‘junk bonds’. Assim sendo, só muito dificilmente o histórico fabricante de automóveis poderá sobreviver sem a sua subsidiária financeira, de onde obteve grande amparo económico, sobretudo durante a década dourada da especulação imobiliária. Como a GMAC atravessa momentos de extrema dificuldade, devido nomeadamente ao abrandamento e previsível fim da bolha especulativa do sector imobiliário, bem como à subida consistente das taxas de juro nos EUA e na Europa, o binómio não parece nada prometedor! Como escreve Gail MarksJarvis no Chicago Tribune de 24 de Março 2006, “Actualmente, as obrigações (da GMAC) com vencimento em 2014 estão a ser vendidas or 89 cêntimos de dólares. Numa situação típica de declaração de falência, os detentores de títulos receberão à volta de 40 cêntimos de dólar.

O fecho iminente da fábrica da Opel na vila portuguesa da Azambuja e a sua anunciada transferência para a cidade espanhola da Saragoza, apesar dos incentivos governamentais (43 milhões de euros para se instalar em Portugal, além de benefícios fiscais e apoio à formação que ultrapassaram os 80 milhões de euros), traduz, da parte da GM, uma necessidade urgente e inadiável de reportar às autoridades financeiras e agências de rating estado-unidenses e internacionais cortes significativos nas suas responsabilidades com o capital humano (salários, férias, seguros, segurança social e pensões de reforma). Tal como está a situação no grupo General Motors, talvez não adiante. Mas uma coisa é certa: com ou sem a falência anunciada deste gigante do século 20 (ainda haverá muita engenharia financeira pela frente..), dezenas de unidades fabris e milhares de trabalhadores em todo o mundo irão ser atingidos pela dramática crise da GM. A fábrica da Opel na Azambuja tem os dias contados.

Que fazer?

Este artigo ocorreu-me quando lia o célebre livro de Lester Brown, Plan B, cuja versão portuguesa será apresentada no próximo mês de Outubro em Trancoso, durante a realização do Tribunal Europeu do Ambiente, sob os auspícios da respectiva Câmara Municipal e da Fundação Arte Ciência e Tecnologia - Observatório. A passagem do livro que aguçou a minha curiosidade foi esta:

Segundo consultor de energia Harry Braun, uma vez que as turbinas eólicas são semelhantes aos automóveis, na medida em que cada unidade dispõe de um gerador eléctrico, de uma caixa de velocidades, de um sistema de controlo electrónico e de um travão, será possível produzi-las em série numa cadeia de montagem. (...) O baixo custo associado à produção em massa poderia baixar o custo da electricidade gerada pelo vento para valores abaixo dos 2 cêntimos de dólar por Kw/h ” — Lester R. Brown, Plano B 2.0


Se a Opel sair da Azambuja antes do prazo celebrado em contrato com o Governo português, a GM deverá cumprir as cláusulas penalizadoras previstas, e no mínimo devolver a parte correspondente dos benefícios fiscais e de apoio à formação profissional recebidos. Com o patrocínio do Governo de José Sócrates, seria então possível a formação de um novo consórcio com o objectivo de retomar o complexo da Opel para outro fim. Não seria difícil obter um bom preço pelas instalações (e mesmo algumas máquinas), sobretudo se a perspectiva da falência mundial da General Motors se vier a confirmar ao longo de 2007. Talvez agora, quem sabe, Patrick Monteiro de Barros pudesse finalmente servir o seu país, desenhando um ambicioso projecto industrial associado à produção em série de turbinas eólicas de alto rendimento! Haveria certamente empresas interessadas no consórcio (EDP, SHELL, General Electric, Siemens Windpower, Vestas Wind Systems, ABB, etc.) Em vez de um cluster automóvel antiquado, teríamos um cluster revolucionário, associado a uma indústria no seu início, com um largo futuro pela frente, capaz de reformar radicalmente toda a zona industrial da Margem Sul. O Grande Estuário, uma tempestade mental que eu e outros sonhadores vimos alimentando desde 2005, prevê que a grande metamorfose de Portugal, na sua adaptação ao século 21, passa por aumentar radicalmente as competências das autarquias municipais (e dos governos regionais) e por criar uma grande região macropolitana — Lisboa e Vale do Tejo, estendendo o centro da cidade para a margem Sul do Tejo e criando uma grande capital europeia nas duas margens do rio... —, com a missão histórica de se tornar uma das primeiras grandes regiões de desenvolvimento pós-carbónico do mundo. Mais ambicioso ainda: deveríamos candidadar Lisboa aos Jogos Olímpicos de 2020, fazendo confluir nessa grande realização o novo ciclo de desenvolvimento do país. Uma das estratégias fundamentais para a Margem Sul passa, precisamente, por requalificar o seu caótico e mal tratado tecido urbano e arquitectónico, e por redireccionar a sua vocação industrial para a economia da sustentabilidade, das energias renováveis e do conhecimento!

Um exemplo... a Dinamarca.

A Dinamarca (sem a Gronelândia) tem menos de metade da superfície de Portugal, tem sensivelmente metade da nossa população, tem um PIB ligeiramente inferior ao de Portugal — $187.721.000.000 USD contra $203.947.000.000 USD —, mas detem um PIB per capita que é quase o dobro do português: $34.600 contra $19.300 (a Europa a 25 detem um PIB/capita de $28.100). Pois bem, este pequeno e rico país europeu é actualmente o maior produtor mundial de turbinas eólicas! Detêm 40% do mercado mundial e emprega, só na Dinamarca, 20 mil pessoas neste sector. O cluster de Investigação e Desenvolvimento (I&D) associado a esta notável performance tem já 25 anos de rodagem e conta, no sector envolvente à produção de turbinas eólicas, com mais de 150 investigadores dedicados às áreas da meteorologia, fadiga de materiais, aerodinâmica e dinâmica estrutural, interacção de grelhas, etc. Em 2002, para dar impulso, estratégia e sustentação a este objectivo, foi criado o Consórcio Dinamarquês para a Energia Eólica, que conta aliás com um notável sítio na web.

Mais de 100 mil dinamaqueses investiram nesta nova economia, que é bem mais do que uma simples indústria, e muito mais do que uma agência de importação de materiais e know how subsidiário. Há 5500 turbinas instaladas, que geram 3.100 MW de energia eléctrica. 75% destas turbinas são propriedade privada. Em 1983 a Dimarca não produzia nenhuma energia eólica. Em 2004, 20% da sua energia eléctrica tinha origem no vento, contra uma média europeia de apenas 2,4% (em Portugal, no mesmo ano: 1,8%; e em 2005: 3,6%). Para o ano de 2008 a Dinamarca prevê que 25% da sua energia eléctrica terá origem eólica, subindo para 35% em 2015.

Nos últimos 25 anos o custo de produção da energia eólica caíu 80%. O bonito da coisa é que continuará a decrescer nas próximas décadas. Associada ao desenvolvimento desta tecnologia virá uma aceleração sem precedentes da tecnologia de acumulação energética em baterias de hidrogéneo. O vento, como o Sol, as ondas do mar e os vulcões que fervilham nos Açores não se esgotam como se estão a esgotar o carvão, o petróleo e o gás natural. Não produzem gases que agravem o efeito de estufa e as doenças respiratórias. Não causam, ou não deverão causar, guerras, pois, ao contrário do petróleo e do gás natural, existem por toda a parte. E além do mais, Portugal é um país especialmente favorecido por todas estas novas fontes energéticas. Falta-nos apenas a ambição... e uma reciclagem urgente da nossa classe política.



Deal for GMAC stake doesn't protect bonds
by Gail MarksJarvis, in Chicago Tribune, March 24, 2006

GMAC is not struggling financially like GM. But GM, which lost $10.6 billion last year and is trying to restructure, owns GMAC, so their financial futures are intertwined.

Bankruptcy experts say that as long as GMAC remains with GM, the lending business can be held responsible for GM's financial obligations, such as pension liabilities. So both have junk bond ratings. GM's rating is worse than GMAC's.

Analysts have speculated that if a majority interest in GMAC is sold, it might be able to avoid GM's problems if the automaker ends up filing for Chapter 11 bankruptcy. But analysts have grown concerned as General Motors continues to seek a partner.

Moody's analyst Mark Wasden said he is no longer confident that a highly rated entity like a large bank will buy the controlling stake of GMAC. And if that doesn't happen, GMAC's credit rating will likely stay below junk status.

Wasden said he is concerned about the lack of progress in concluding the sale as well as by GM's deteriorating condition.

"With the passage of time, the transaction has become more complicated than anticipated," he said.

This week, Moody's announced that it was placing GMAC on "watch" for a downgrade.

If the GMAC deal doesn't happen, he said, the bonds investors now have could sink to a lower level of junk, likely eroding their holdings.


LINK




COMENTÁRIO

Muito bom o teu artigo sobre a GM e o aproveitamento das linhas de montagem das fábricas de automóveis que fiquem paradas. O caráter positivo do artigo, apontando uma alternativa clara de estratégia de desenvolvimento para Portugal, com exemplos concretos, é particularmente feliz, na linha, aliás, do livro do Lester Brown. Pena que, entre tantos países citados no Plan B 2.0, a propósito das práticas e apostas sustentáveis na área dos recursos energéticos, nem uma só vez apareça o nosso. Um pinzinho, uma bandeirinha pequena que fosse a assinalar alguma iniciativa que servisse como sinal de que estamos vivos para além do futebol, despertos para a nossa própria riqueza em vento e mar (pelo menos) - como isso me faria orgulhoso!

Este é um "cluster" que abre muitas e boas perspectivas, em termos da discução de estratégias e políticas públicas que atirem o nosso desenvolvimento para a vanguarda da nova economia sustentável que irá surgir inevitavelmente dos escombros do fim que parece ser já o anunciar desta nova e provavelmente derradeira crise do petróleo.

Entretanto, não esquecer que em Portugal parece estar em desenvolvimento o primeiro projecto de exploração comercial de energia das ondas em todo o mundo. O potencial desta energia renovável parece ser tão grande ou maior que o da energia eólica - façamos pois figas para que o projecto em curso seja o início de algo importante nesta área também, não só com a instalação do Pelamis, como com a produção comercial futura no nosso país destas engenhosas boias aquáticas gigantes que mais parecem uma sequência de três salsichas metálicas flutuantes interligadas e que aproveitam a energia das ondas do mar para produzir energia eléctrica.

Querem algo mais fácil? Parques eólicos com torres aerogeradoras de última geração produzindo o equivalente de energia à produção de um poço de petróleo e parques de energia das ondas ao longo da nossa costa - será que não há por aí um Escolari qualquer com poder suficiente para mobilizar a massa cinzenta dormente desta malta da política e dos nossos queridos empresários para este novo e verdadeiramente emplogante campeonato? Aliem-se aos dinamarqueses, aos ingleses - façam qualquer coisa, caramba! Os golos estão aí, como não estavam há muito, para serem marcados! Que comece o campeonato! É gooooolo de Portugal!!!!!

Emanuel Cerveira Pinto
18 JUN 2006

COMENTÁRIO
Dos 192 países registados, Portugal encontrava-se em 2005 na posição 39 no que se refere ao seu Produto Interno Bruto per capita por Paridade do Poder de Compra (PPC). No entanto, no que se refere à sua performance futebolística, encontra-se (para já...) na posição 16... Ora bem, aqui está um desígnio nacional que todos os portugueses entenderiam: colocar o nosso PIB/capita (PPC) na mesma posição do futebol, i.e., subir no prazo de uma década, 23 lugares na escala mundial do rendimento médio individual.
Embora tenha piorado no seu protagonismo futebolístico, a Dinamarca, no que ao PIB/capita (PPC) se refere, estava em 2005 na oitava posição do ranking planetário. O futebol e os países não se medem aos palmos!

Antonio Cerveira Pinto
18 JUN 2006



OAM #127 17 JUN 2006

quinta-feira, junho 15, 2006

Ellipse Foundation

João Rendeiro: fundo de investimento ou colecção?

“Até agora e até abrirmos o Art Center, apesar de a Colecção Ellipse já estar disponível no site da Fundação há muito tempo, não houve nenhum comentador que se tivesse dado ao cuidado de clicar na internet e ver a importância da Colecção”. — João Rendeiro (Ellipse Foundation/ Contemporary Art Collection)

Li a entrevista dada por João Rendeiro a Sandra Vieira Jürgens sobre aquilo que parece ter sido o óbvio fracasso do fundo de investimento em ‘arte contemporânea’ lançado sob os auspícios do Banco Privado Português e com o entusiasmo do seu presidente, João Rendeiro, e dos seus dois consultores especializados, Alexandre Melo e Pedro Lapa.

Pedro Lapa, por acaso, já era director do Museu do Chiado, quando a iniciativa de João Rendeiro teve lugar (em 2002), tendo ao mesmo tempo seleccionado para ambos os teatros de operações — o Museu do Chiado e o então fundo de investimento do Banco Privado (agora rebaptizado Fundação Ellipse, com sede em Amesterdão) — os seguintes artistas: Gillian Wearing, James Coleman, Jimmie Durham, João Onofre, Rosângela Rennó, William Kentridge. Donde que a sua tentativa de desvalorizar um óbvio caso de conflito de interesses e de abuso dos mecanismos de legitimação inerentes à actividade museológica desinteressada do Estado, não colhe. Quando falo desta situação a amigos estrangeiros olham-me com grande incredulidade como se estivesse a falar de um caso na Nigéria, no Chade ou na República Centro Africana.

As explicações dadas agora pelo financeiro parecem confusas. Afinal de que trata a sua colecção?

De um fundo de investimento privado com garantias dadas pelo seu banco, cujo fim último é especular com a compra e venda de obras de arte?

De uma colecção privada do Sr. João Rendeiro, do Banco Privado e de mais alguns amigos seus, que não aspira a outro fim que o deleite estético e a benemérita intenção de prestar um serviço à comunidade?

Ou de uma Fundação? E se for este o caso, com que fins? Apenas coleccionar? Ou também especular com investimentos em arte? O recente caso Afinsa pesa seguramente sobre este confuso projecto, inicialmente vendido em Portugal, em Espanha e no Brasil, como aposta certa para chegar a rentabilidades da ordem dos 12,4% ao ano, e agora reduzido a tímido sonho cultural.

Recomendo, pois, a leitura da entrevista dada pelo banqueiro a Sandra Vieira Jürgens no sítio da ARTECAPITAL, e depois, a comparação do respectivo conteúdo com duas outras leituras:

— a de uma notícia do sítio brasileiro ISTO É DINHEIRO, de 17/03/2004 sobre as intenções do Presidente do Banco Privado Português numa sua visita a São Paulo, de que cito esta passagem esclarecedora:
“O produto financeiro anunciado é semelhante a um fundo de investimento internacional. Os investidores serão cotistas da empresa Elipse Foundation. A entidade ficará responsável pela organização e promoção da nova coleção. A aplicação mínima é de US$ 300 mil. Será preciso ainda esquecer do dinheiro durante um período que pode variar entre sete e nove anos. ‘No longo prazo, os ganhos são atraentes’, diz Rendeiro. Entre 1986 e 2002, o Contemporary Art, índice do mercado internacional de arte contemporânea, rendeu, em média, 12,4% ao ano.

A Elipse Foundation terá um patrimônio total de US$ 25 milhões para garimpar obras com potencial de valorização pelo mundo afora. A meta posterior é vender a coleção para um museu. Não se assuste com o fantasma da falta de clientes que ronda esse mercado — o Banco Privado Português garante a compra das peças. Mas não assegura, contudo, o preço. Como em qualquer aplicação financeira, portanto, existe risco. O investimento tem o aval do próprio banqueiro, um bem-sucedido colecionador de arte. Para atrair a confiança dos clientes, Rendeiro promete: aplicará US$ 2,5 milhões do próprio bolso.”

— e a de uma outra notícia publicada pelo Portal da Bolsa de 26/03/2004:

“João Rendeiro revelou ainda que a Ellipse Foundation, uma fundação criada pelo BPP para investir em arte, já terminou a sua colocação de capital, junto de 40 investidores portugueses, espanhóis e brasileiros. O investimento total de 20 milhões de euros irá ser colocado ao longo de 4 anos.”

Sabemos agora que ‘a lógica inicial está ultrapassada’. E que ‘A fundação não reuniu, como se propôs, 40 investidores portugueses, espanhóis e brasileiros. Nem exige já a participação mínima de 250 mil euros’, como se pode ler na notícia dada pelo Diário de Notícias online de 22/05/2006.

O banqueiro queixa-se de que ninguém viu o sítio onde publicita a novel colecção, e que os jornalistas se perdem em assuntos de menor importância. Pois fique o banqueiro sabendo que me dei ao trabalho de visitar o dito sítio. Não me admira, depois de passar os olhos pelas aquisições, que os investidores não tenham chegado aos quarenta ambicionados, e que boa parte dos que entraram tenham entretanto saído. A colecção é, de facto, irrelevante e desactualizada, não obedecendo a nenhuma estratégia inteligente, nem no plano financeiro, nem no plano da avaliação crítica. Tratando-se de uma aposta na chamada ‘arte contemporânea’, i.e. num período pretérito e bem delimitado da arte do século 20, denota óbvia falta de recursos para se abalançar em objectivo tão ambicioso. Será que ninguém explicou ao banqueiro quanto custam hoje obras significativas de autores vivos como Gehrard Richter, Cy Twombly, Andrew Wieth, Charles Ray, Brice Marden, Jeff Koons, Sigmar Polke, Elsworth Kelly, Robert Rauschenberg, Damien Hirst, Jasper Johns, David Hockney, Agnes Martin, Bruce Nauman, Robert Ryman, Georg Baselitz, Frank Stella, Andreas Gursky, Jannis Kounellis, Julian Schnabel, Christopher Wool, Nan Goldin, David Salle, Mathew Barney, Thomas Ruff, Ross Bleckner, Vanessa Beecroft, Malcom Morley, Sol LeWitt ou Mariko Mori? Estou apenas a citar alguns dos 200 autores ‘contemporâneos’ com maiores volumes de negócios e com os quais, por sinal, se poderia de facto fazer um excelente investimento em ‘arte contemporânea’...

Se, ao invés, a intenção fora a de investir em futuros, i.e. se a estratégia adquirida pelo banqueiro pretendia antecipar os novos valores da arte do século 21, então o erro foi ainda mais desastroso. Não há na lista de autores/obras disponíveis no sítio da Ellipse Foundation, um único autor representativo da centena e meia de artistas pós-contemporâneos que agora mesmo poderia ditar para este postal electrónico. A arte do século 21 é antes de mais uma arte post-contemporânea. O seu processo generativo fundador começou no início da década de 90 do século passado e deve a sua originalidade a um processo de ruptura multi-dimensional com as práticas teoricamente esgotadas e corrompidas da ‘arte contemporânea’. Trata-se de uma arte nascida de linguagens inteiramente novas, essencialmente cognitivas antes de se tornarem intuitivas, expressivas e performativas. Para um pequeno coleccionador, como parece ser o caso de João Rendeiro, olhar para o complex media em que se move a arte mais sintomática do início deste século ainda poderá ajudar a salvar o seu mal encaminhado empreendimento.

Para provar que passei os olhos pela mal-formada colecção Ellipse, deixo à apreciação do leitor uma lista com todos os autores representados na dita colecção. Os números entre parêntesis curvos correspondem ao número de obras por autor. Os números entre parêntesis rectos, correspondem à minha avaliação pessoal das obras adquiridas numa escala de 1 a 10...

Aballí, Ignasi (6) [1]
Ackermann, Franz (1) [1]
Ahtila, Eija-Liisa (1) [5]
Arrechea, Alexandre (1) [3]
Atay, Fikret (1) [7]
Baldessari, John (1) [5]
Balka , Miroslaw (1) [5]
Balkenhol, Stephan (1) [5]
Barney, Matthew (1) [5]
Becher, Bernd and Hilla (1) [7]
Bickerton, Ashley (2) [6]
Bradley, Slater (3) [6]
Breuning, Olaf (15) [6]
Cabrita Reis, Pedro (2) [1]
Coleman, James (1) [7]
Cragg, Tony (1) [6]
Croft, José Pedro (1) [2]
Da Cunha, Alexandre (2) [3]
Dijkstra, Rineke (7) [2]
Dittborn, Eugenio (2) [4]
Dunham, Carroll (1) [5]
Durham, Jimmie (7) [7]
Einarsson, Gardar Eide (3) [4]
Eliasson, Olafur (2) [4]
Fulton, Hamish (1) [6]
Gober, Robert (2) [7]
Gonzales-Torres, Felix (1) [5]
Gordon, Douglas (1) [6]
Graham, Dan (4) [7]
Graham, Rodney (1) [6]
Hammons, David (1) [5]
Hatoum, Mona (1) [2]
Havekost, Eberhard (1) [1]
Herrera, Arturo (2) [1]
Hirschhorn, Thomas (2) [3]
Höfer, Candida (3) [4]
Huyghe, Pierre (2) [5]
Iglesias, Cristina (2) [3]
Michael Elmgreen & Ingar Dragset (2) [2]
Islam, Runa (1) [4]
Jamie, Cameron (3) [3]
Jankowski, Christian (1) [5]
Julien, Isaac (1) [5]
Kabacov, Ilya & Emilia [6]
Kelley, Mike (1) [6]
Kentridge, William (3) [6]
Klauke, Jurgen (1) [4]
Kuitca, Guillermo (1) [3]
Lawler, Louise (4) [5]
Lockhart, Sharon (1) [4]
Lucas, Sarah (1) [3]
Marepe (2) [1]
McBride, Rita (2) [1]
McCollum, Allan (1) [4]
McDermott & McGough (1) [1]
McQueen, Steve (1) [2]
Meireles, Cildo (1) [3]
Mir, Alexandra (4) [1]
Moffatt, Tracey (1) [?]
MP & MP Rosado (4) [1]
Neshat, Shirin (1) [3]
Neto, Ernesto (1) [3]
Neuenschwander & Guimarães, Rivane & Cao (1) [?]
Onofre, João (1) [2]
Opie, Catherine (3) [?]
Orozco, Gabriel (2) [5]
Ortega, Dámian (1) [1]
Oursler, Tony (1) [6]
Pardo, Jorge (2) [1]
Pettibon, Raymond (18) [5]
Pfeiffer, Paul (1) [2]
Pierson, Jack (2) [1]
Prince, Richard (4) [5]
Puch, Gonzalo (2] [1]
Rennó, Rosângela (4) [1]
Rosefeldt, Julien (2) [2]
Rosenblum, Adi + Muntean, Markus (3) [2]
Sachs, Tom (1) [1]
Sala, Anri (1) [1]
Sarmento, Julião (1) [1]
Scheibitz, Thomas (1) [1]
Schorr, Collier (4) [5]
Schütte, Thomas (2) [5]
Sekula, Allan (2) [4]
Shearer, Steven (2) [1]
Sherman, Cindy (6) [7]
Simmons, Laurie (3) [3]
Simpson, Lorna (2) [3]
Slominski, Andreas (1) [1]
Solakov, Nedko (1) [1]
Starkey, Hannah (1) [1]
Struth, Thomas (1) [3]
Tillmans, Wolfgang (1) [1]
Tiravanija, Rirkrit (1) [1]
Trockel, Rosemarie (1) [?]
Uslé, Juan (1) [1]
Vale, João Pedro (1) [1]
Varejão, Adriana (1) [4]
Walker, Kara (1) [4]
Wall, Jeff (1) [5]
Wearing, Gillian (4) [6]
Weiner, Lawrence (3) [3]
Fischli & Weiss (2) [3]
Williams, Sue (3) [5]
Wilson, Robert (1) [5]

in Sítio da Ellipse Foundation


OAM #126 14 JUN 2006

sexta-feira, junho 09, 2006

Nuclear 1

O Mapa nuclear do séc. 21

Nuclear Reactor vessel Fifteen years ago I thought solar power was impractical because I thought nuclear power was the answer. But I spent some time on an advisory committee on waste disposal to the Atomic Energy Commission. After that, I began to be very, very skeptical because of the hazards. That's when I began to study solar power. I'm convinced we have the technology to handle it right now. We could make the transition in a matter of decades if we begin now.” — M. King Hubbert (1974)

A energia nuclear não é renovável, nem substitui o potencial energético e tecnológico dos hidrocarbonetos. Mas teremos alternativa? As reservas de urânio conhecidas, no máximo uns 4 milhões e 500 mil toneladas, das quais se extraem por agora cerca de 35 mil ton./ano, para um consumo anual médio de 65 mil toneladas (o diferencial provem da recuperação do vasto arsenal atómico da ex-URSS e do enriquecimento de escórias por aproveitar) duraria 69 anos (2075) se o actual número de reactores (441) e o respectivo consumo se mantivessem inalteráveis. No entanto, em Dezembro de 2004 o American Nuclear Society registava mais 49 reactores em construção ou encomendados. E por outro lado, países como a China (11 reactores), a India (22 reactores) e a Rússia (38 reactores) estão muito longe de atingir os patamares nucleares dos Estados Unidos (104 reactores) e da Europa a 25 (166 reactores). As contas são simples: quando a China, a India e a Rússia se aproximarem dos patamares nucleares norte-americano e europeu, sobretudo depois de os preços do petróleo e do gás natural ultrapassarem certos limiares, o actual número de reactores nucleares poderá facilmente chegar aos 650. Estaremos então no ano 2020... O consumo de urânio poderá andar pelas 97.500 ton./ano. A esperança de vida das centrais de fissão nuclear projectar-se-à então para o ano 2057, e não para o ano 2075, como sucederia se os actuais consumos de urânio não sofressem qualquer incremento! Valerá a pena? Será inevitável? Chegará a fusão nuclear entretanto?

Depois de terminado o ciclo da fissão nuclear, basicamente destinado à produção de electricidade, as gerações futuras ficarão com um lixo muito perigoso para administrar, cuja diluição natural custará biliões de Euros, durante muitíssimos anos, já que a escória nuclear pode levar até 500 anos a “dissolver-se” na Natureza. Por outro lado, a curto e médio prazo, nenhuma das conhecidas alternativas ao petróleo, ao gás natural e ao carvão (hidroeléctricas, paineis solares, eólicas, bio-massa, bio-diesel, hidrogéneo, ondas e termo-despolimerização), são capazes de gerar os montantes de energia eléctrica necessários para evitar um duradouro apagão à escala planetária! Os conflitos bélicos em curso e futuros andam há muito e continuarão a andar todos em volta destes problemas. Onde está o resto do petróleo?! Onde está o urânio?! Onde estão as terras capazes de processar a alimentação necessária a um planeta a caminho dos 9 mil milhões de almas?! Estas são as grandes perguntas do século, cujas respostas parecem continuar mais na ponta dos “cutters”... e dos mísseis nucleares, do que no bom senso. Já ouviram falar de Negawatts?

Actualização: 16-08-2007


Citação: On The Nature Of Growth. M. King Hubbert 1974. PDF (500 Kb)
Imagem: esquema de um reactor nuclear de água pressurizada - PWR.
MAPAS — para obter 2 mapas actualizados da localização das centrais nucleares por esse mundo fora, basta encomendá-los ao American Nuclear Society.
Reactores nucleares: excelente artigo no Wikipedia.
Um artigo publicado no FEASTA - Foundation for the Economics of Sustainability, que desmistifica a ideia de que o nuclear é uma energia limpa. In WHY NUCLEAR POWER CANNOT BE A MAJOR ENERGY SOURCE by David Fleming, April 2006

OAM #125 08 JUN 2006

terça-feira, junho 06, 2006

Futuro 21

7 New Denmarks, Hydrogen Society, partial view

Depois de O Grande Estuário:
Too Perfect Seven New Denmarks


A representação da Dinamarca à próxima Bienal de Veneza de Arquitectura é um projecto chamado Too Perfect Seven New Denmarks, encarregado pelo Danish Architecture Centre e comissariado e desenhado (em colaboração com PLOT) por Bruce Mau, um dos mais notórios designers gráficos da actualidade. O projecto é obviamente o resultado de uma cooperação intensa entre vários gabinetes de arquitectura dinamarqueses e consegue, através de uma excelente estratégia criativa, de informação e representação informacional, projectar uma imagem optimista e criativa de um país europeu aparentemente pequeno, mas cheio de ambição.
O projecto resume-se basicamente a 7 perguntas provocatórias:

  1. What if Denmark was the port to the New Europe? (E se a Dinamarca fosse o porto da Nova Europa?)

  2. What if Denmark had an energy bill of zero? (E se a Dinamarca tivesse uma factura energética igual a zero?)

  3. What if Denmark farmed pharmaceuticals? (E se a Dinamarca cultivasse remédios?)

  4. What if Denmark was the world's housing factory? (E se a Dinamarca fosse a grande fábrica mundial da habitação?)

  5. What if Denmark made parenting effortless? (E se a Dinamarca transformasse o cuidado dos filhos numa tarefa fácil)

  6. What if Denmark doubled its coastline? (E se a Dinamarca duplicasse a sua linha de costa?)

  7. What if Greenland was Africa's water fountain? (E se a Dinamarca fosse a fonte aquática da África?)


O ponto de partida deste exercício de imaginação e de cidadania pró-activa é o próprio panorama dramático que temos diante de nós, em todo o planeta: fim dos combustíveis fósseis baratos, aquecimento global, degelo dos glaciares, erosão e exaustão dos solos agrícolas, falta de água, etc. Perante este panorama preocupante, das duas uma: ou não lhe prestamos atenção e nos auto-condenamos à extinção; ou, pelo contrário, reagimos, e as estratégias de minimização e de eventual ultrapassagem das dificuldades extremas que temos pela frente serão tantas quantas a nossa imaginação e inteligência colectivas conseguirem produzir. Outro ponto de partida interessante desta proposta especulativa, fortemente apoiada por instituições culturais e empresas privadas, é o da necessidade de enfrentar a perda de competitividade europeia face à emergência da nova Eurásia, cujo crescimento económico e regime de exploração do trabalho (segundo os tão propalados modelos liberais do Capitalismo) são e serão imbatíveis no decorrer das próximas décadas. A ideia básica é a seguinte: porquê procurar competir num terreno completamente desvantajoso, se pudermos mudar o paradigma do desenvolvimento?
Ora é precisamente esta mudança de paradigma que, de uma forma ou de outra, acaba por vertebrar boa parte das soluções propostas por Too Perfect Seven New Denmarks.

Transformar a Dinamarca no maior porto europeu do Báltico, quando se sabe que o transporte marítimo (ao contrário do transporte aéreo ou terrestre) vai ser decisivo ao longo de todo o século 21, pois é o único que está virtualmente preparado para receber sistemas de propulsão nuclear, é obviamente uma ideia interessante, tanto mais que o estudo se propõe desta forma libertar um espaço urbano precioso para novos estilos de vida.

Já a ideia de substituir todas as fontes de energia fóssil por hidrogénio pode ser mais discutível. Mas ainda assim, o princípio de pensamento usado é mais do que defensável: cada país terá que inventariar rapidamente quais são as suas escapatórias — primeiro face à subida vertiginosa dos preços do petróleo e do gás natural (que os países ricos e produtores poderão pagar, mas os pobres e sem reservas de hidrocarbonetos, não); depois, face à necessidade inevitável de os substituir por outras fontes energéticas e por outras matérias primas e sistemas de reciclagem.

Libertar os terrenos agrícolas saturados de adubos e pesticidas, a favor de uma paisagem que recupere a biodiversidade e a beleza ambiental e favor de uma nova espécie de agricultura — a farmacocultura — ganhando neste capítulo vantagens competitivas sobre uma Eurásia demasiado ocupada com a produção quantitativa de baixo custo — é seguramente uma boa opção, sabendo-se como se sabe do enorme potencial científico da farmacologia europeia.

Uma grande fracção dos combustíveis gastos nos transportes terrestres destina-se à fileira da construção civil: camiões com andaimes, areia, brita, cimento, pedra, tijolo, ferro, armações, coberturas, pavimentos, isolantes, tintas, material eléctrico, equipamentos telefónicos, telemáticos e de segurança, electrodomésticos, etc..., circulam e saturam as auto-estradas e as estradas da Europa e do mundo. A energia gasta na produção destes camiões, na construção e manutenção das vias terrestres, na alimentação dos veículos, na manipulação de todos estes materiais avulsos, faz da construção civil a mais artesanal e atrasada indústria do século 21. E além disso, faz dela uma actividade económica cada menos competitiva e insustentável do ponto de vista financeiro. O crash imobiliário actualmente em gestação, e que provavelmente irá estourar ao longo de 2007, lançará este sector numa dramática encruzilhada de paradigmas. Pois bem, Bruce Mau e os arquitectos que com ele trabalharam propõem a recuperação do espírito da Bauhaus como melhor estratégia para resolver o grande problema que aí vem. Trata-se, no fundo, de renovar o programa da concepçãp/produção da unidade habitacional à luz dos princípios inovadores de Walter Gropius: a casa como máquina de habitação pode ser produzida de forma concentrada, modular e em série! Desta vez, porém, haverá que aplicar as melhores tecnologias e o melhor pensamento computacional para conseguir gerar um novo conceito de habitáculo modelar, sustentável, complexo, variável, orgânico, leve, acoplável, inteligente... e sensível. Que a Dinamarca possa ser a primeira grande fábrica do novo falanstério do século 21, eis um desafio entusiasta em que não me importaria nada de participar.

A população europeia tem vindo a decrescer, em grande medida porque o sistema capitalista tornou a vida familiar e reprodutiva num inferno. Que podemos fazer? Pois fazer deste problema a ocasião para o desenvolvimento de uma estratégia de económica de diferenciação e especialização cognitiva, científica e tecnológica, onde, uma vez mais, a Eurásia não poderá susbtituir-se a esta nova simbiose entre economia e cidadania.

Duplicar a linha de costa, seguindo a teoria dos fractais, sabendo que com tal mega-projecto se libertam espaços inesperados para o novo hedonismo, sustentável, do século 21, é um achado ditirâmbico de génio!

Como genial é a ideia de aproveitar as quantidades inimagináveis de água doce que começaram a desprender-se da Gronelândia (por efeito do aquecimento global) para acudir às zonas áridas do planeta (em especial a África) onde morrem por anos milhões de pessoas, ora por falta do precioso líquido, ora em consequência das doenças causadas pela contaminação do mesmo, ora em resultado das guerras, chachinas e genocídios provocados pelas disputas territoriais em volta dos escasos recursos hídricos disponíveis.

A Dinamarca é um pequeno grande país europeu. Deu ao mundo grandes desenhadores de utopias. Too Perfect Seven New Denmarks é o exemplo perfeito de que poderemos voltar a contar com eles. O facto de em Portugal termos lançado, em 1 de Maio de 2005, um projecto em muitos aspectos semelhante — O Grande Estuário — mostra tão sómente que os tempos da utopia regressaram. No princípio do século 20, chamou-se Construtivismo. Eu agora, a esta nova utopia, chamo Reconstrutivismo!


Too Perfect Seven New Denmarks
What if Denmark was the port to the New Europe? Superharbour proposes to
consolidate all industrial harbour activity into one Baltic gate in order to liberate
the harbor cities for new forms of urban life.
What if Denmark had an energy bill of zero? HySociety proposes a design plan to
reduce Denmark's consumption of fossil fuels to zero, by feeding waste energy back
into the consumption loop.
What if Denmark farmed pharmaceuticals? Pharmland proposes that Denmark transform
its farmland into pharmaceutical production sites, creating a much higher yield per
hectare and liberating much of the country's landscape.
What if Denmark was the world's housing factory? House Express argues that most
manufacturing industries have evolved from craftsmanship to mass production. But not
the construction industry. This project shows how that evolution could create housing
for the global market.
What if Denmark made parenting effortless? Child Inc. argues that, as with many
industrialized societies, Danish society is turning into a childless one. This project
proposes solutions to a series of lifestyle conflicts, solutions which will radically
transform the notion of caring for children.
What if Denmark doubled its coastline? Endless Coastline is a tool kit that
structures tourism and prevents it from destroying the authenticity of a place, in
part by increasing Denmark's most sought-after feature: its coastline.
What if Greenland was Africa's water fountain? New Greenland argues that lack of
water is one of the world's most pressing dilemmas. Greenland, a semi-autonomous
region of Denmark, has the natural resources to relieve a major part of the world's
water stress.
To launch its utopias into the world and test their pragmatism, this open letter
is formulated as an exhibition of propositions addressed to the people who hold the
purse strings and have the power to make each pragmatic utopia come true. Should
Denmark take the shape of the future ? or should the future take the shape of Denmark?
Sincerely,
Bruce Mau Design
and the Too Perfect Project Team



OAM #124 06 JUN 2006

quinta-feira, maio 25, 2006

OURO 1

1 Dolar
A moeda americana perdeu até 10 Ago 2006 36% do seu valor face ao Euro

Aceleração de uma crise sistémica global


O Laboratório europeu de Antecipação Política — Europa 2020, a que estão associados os investigadores Franck Biancheri, Régis Jamin, Ricardo Migueis e Thierry Warin, entre outros, chegou ao conhecimento de muitos de nós após ter antecipado a 15 de Fevereiro de 2006 a crise económica e política global em que estamos a entrar. Com regularidade mensal, este boletim coloca à disposição dos seus assinantes informação profissional especializada sobre as tendências evolutivas estruturais da cena europeia e internacional. O facto de podermos contar com uma versão portuguesa dos boletins deste think tank a partir da edição do passado mês de Março, merece uma chamada de atenção especial. Transcrevo um resumo do comunicado público que entretanto me chegou à caixa de correio electrónico.

Entrada na fase 2 da crise sistémica Global, a fase de aceleração: sete consequências concretas para os actores e decisores económicos e políticos
O LEAP/E2020 anunciou, em 15 de Fevereiro de 2006, o despoletar de uma crise sistémica global para o fim do mês de Março seguinte. Hoje, a meio de Maio de 2006, o LEAP/2020 pode anunciar que esta fase inicial da crise sistémica global está quase terminada e que, a partir do início de Junho de 2006, a crise vai entrar na sua fase de aceleração. Antes de detalhar as suas principais características, o LEAP/2020 julga no entanto útil explicitar o modo de desenvolvimento de uma tal crise sistémica.
Uma crise sistémica global desenvolve-se segundo um processo complexo de que podemos destacar quatro fases que se podem interpenetrar:
— uma primeira fase, dita de «despoletamento», que subitamente vê convergirem e entrarem em interacção toda uma série de factores, até agora desligados, a qual é essencialmente perceptível pelos observadores atentos e pelos actores principais.
— uma segunda fase, dita de «aceleração», que se caracteriza por uma brutal tomada de consciência por parte da grande maioria dos actores e observadores de que a crise se instalou em definitivo, na medida em que rapidamente começa a afectar um número cada vez maior de componentes do sistema.
— uma terceira fase, dita de «impacto», que é constituída pela transformação radical do próprio sistema em si (implosão e/ou explosão) sob o efeito de factores acumulados, e que afecta simultaneamente a sua integridade.
— e por fim, uma quarta fase, dita de «decantação» que vê surgirem as características do novo sistema saído da crise.

No caso da actual crise sistémica global, o LEAP/2020 considera a partir de agora que a fase inicial, de despoletamento, está a terminar e que ao longo de Junho de 2006, o mundo vai entrar na fase de aceleração da crise.
Assim, em menos de três meses, todo um conjunto de «certezas» sobre o futuro foram postas em causa (dominação «inelutável» do Dólar, «retorno» ao petróleo barato, solução pacífica do conflito Irão/Usa, durabilidade da «bolha imobiliária» americana, «domínio» dos Estados Unidos sobre os outros actores mundiais chave que são a China e a Rússia, ...) e um grande número de indicadores apontam a partir de agora para direcções convergentes de desequilíbrio do sistema actual (subida vertiginosa do preço do ouro e dos metais preciosos, aumento das pressões inflacionistas, novo aumento das taxas de juro, aproximação do Euro aos 1,30 US$, transformação em Euros de um crescente montante de reservas de bancos centrais, subida das moedas asiáticas, crises bolsistas e monetárias em muitas regiões do mundo, multiplicação, desde há cerca de um mês, de artigos na grande imprensa mundial e nacional mencionando os termos «krach, crise, colapso, risco de conflito, ...»).

Esta fase de despoletamento desempenha de facto, de acordo com a equipe do LEAP/2020, o papel de período de «aprendizagem» para os actores do sistema. Alguns anteciparam correctamente as evoluções e apostaram na ruptura com as tendências que supostamente dominavam o sistema. E se, há apenas algumas semanas, pareciam marginais e inconscientes aos olhos da maioria dos actores, a partir de agora aparecem como aqueles que souberam «ganhar» enquanto que a maioria começa a constatar que «perdeu» ao seguir as tendências «normais» do sistema. Esta «aprendizagem» tem consequências cumulativas e reforça consideravelmente de seguida, e muito rapidamente, as tendências de ruptura em curso. É este fenómeno, nomeadamente, que induz a passagem da fase de despoletamento à de aceleração da crise. Por outro lado, reforça igualmente as convicções dos actores estratégicos que se envolveram em lógicas de ruptura (ou que anteciparam as rupturas) com o sistema instalado; o que enfraquece de forma duradoura as capacidades de regulação do sistema, uma vez que ele faz de ora avante face a uma crise de confiança em vias de generalização. Ora, no sistema global herdado do pós Segunda Guerra Mundial e transformado pelo fim da Cortina de Ferro, tanto no domínio financeiro, como económico, monetário ou estratégico, o essencial repousa na confiança acordada entre todos num actor central (os Estados Unidos) e nos vários componentes da sua força. A passagem da fase 1 à fase 2 marca o colapso desta confiança nos vários domínios.

O LEAP/2020 considera portanto que é no decurso do mês de Junho de 2006 que estas perdas sectoriais de confiança, em vias de generalização em cada sector, deverão convergir para produzirem a aceleração do processo de crise. Esta aceleração que deverá estender-se por um período de 3 a 6 meses, terá, nomeadamente, sete consequências concretas essenciais:

O colapso acelerado do dólar
Uma crise sócio política interna nos EUA
Um conflito militar Irão/EUA/Israel
Um aumento da inflação mundial
A ruptura do processo de globalização comercial e económica
A emergência acelerada de novos «blocos» regionais/continentais
Um reequilíbrio do valor relativo dos activos mundiais.

A passagem à fase 3 (dita de «impacto») do processo de crise sistémica global dar-se-á quando pelo menos quatro dos factores precipitados forem reconhecidos. Paralelamente, no decurso desta fase de aceleração, será já possível discernir certas tendências que moldarão o futuro sistema global, e portanto, começar a adoptar as decisões e as políticas que preparam o futuro da pós-crise.

Estas são as várias análises que o LEAP/2020 desenvolve na edição nº5 do seu GlobalEurope Anticipation Bulletin.



REFERÊNCIAS

O imperialismo made in USA, na realidade um imperialismo bicéfalo (como bem demonstrou William Engdahl em ‘A Century of Wars’) assentou num conjunto articulado de supremacias praticamente imbatível: a supremacia científica, a supremacia tecnológica, a supremacia logística, a supremacia estritamente económica (produtiva, comercial e gestionária), a supremacia militar e a... dolarização dos mercados. Se virmos bem, o que a queda do muro de Berlim e o fim da bipolarização mundial permitiram foi entender de forma clara esta simples realidade. A chamada divisão internacional do trabalho impôs uma desigualdade inaudita no planeta. Mas foi precisamente essa desigualdade que armadilhou a própria sobranceria distraída do Ocidente. Os capitais voaram para as grandes reservas de trabalho barato, onde inesperadamente as taxas de crescimento e a rentabilidade dos investimentos dispararam para níveis incomparáveis com os magros crescimentos das nações desenvolvidas, onde o paradigma do consumo substituira dramaticamente o paradigma da poupança. Os Estados Unidos, emissores da moeda padrão mundial, decidiram imprimir papel dinheiro com uma correspondência cada vez mais fictícia com a sua própria riqueza, financiando desta forma fraudulenta o cada vez menos convincente ‘sonho americano’. Algum dia a bolha teria que estourar... Ao contrário dos velhos tempos do síndroma anti-comunista, agora não há argumentos convincentes para continuar a sobre-exploração da Ásia, da América latina e do Médio Oriente usando ou ameaçando usar a mão pesada da supremaica militar. A guerra anti-terrorista tem-se vindo a revelar como uma cada vez mais frágil cortina de fumo destinada a prosseguir práticas civilizacionais inaceitáveis, à luz da lei internacional e da cultura. As crises iraniana, afegã e libanesa vieram mostrar até que ponto a supremacia do grande jogo anglo-saxónico anda pelas ruas da amargura. China e Rússia não tolerarão, ou farão pagar muito caro, uma aventura militar contra o Irão. Mas se, pela estupidez de Bush, de Blair e de Israel, o dito império ainda não tiver chegado ao fim, pior para todos nós!

— Sobre este tema vale a pena ler alguns textos particularmente oportunos (actualizado em 14 Ago 2006):

The Currrent Risks of a 1987-Style Finantial Meltdown: The Scary Similarities between 2006 and 1987
by Nouriel Roubin (Aug 12, 2006)


Today you have trade protectionism and asset protectionism; hedgy and trigger-happy investors and rising geopolitical risks; the risk of a disorderly fall in the US dollar; a slush of financial derivatives that are a black box that no one truly understands (the operational risk in credit derivatives is only the tip of much larger systemic risk iceberg in these instruments, as the pricing of these instruments has not been tested in a real cycle of increasing corporate bankruptcies); increasing VARs and growing levels of leverage; frothy markets where years of too easy money have created bubbles galore — the latest in housing — that are ready to burst; a bubble of thousands of new hedge funds with inexperienced managers that have no supervision or regulation of their activities; risk management techniques in financial institutions that miserably fail to truly stress test for fat tail events; hedging strategies that — like in 1987 — can hedge nothing once everyone is rushing to the doors and dumping assets at the same time; and a housing markets whose rout may trigger systemic effects through the mortgage backed securities market and the non-transparent hedging activities of the GSEs.

This is a toxic and combustive mix of volatile elements that can lead to a financial explosion and meltdown. And it may take any small match to trigger it: a trade war scare mongering, scorning the foreigners that finance you with restrictions to inward FDI, talking down the dollar to bully China and the US trade partners, a flip-flopping monetary policy, a further spike in oil prices, an event of terrorism or a wider Mid East conflict, a housing market rout rattling the MBS market, the collapse of a large and systemically- relevant hedge fund or of another highly-leveraged financial institution, a Chapter 11 event for a major US corporation such as Ford or GM leading to systemic effects in the credit derivatives market. There is indeed an embarrassment of riches in terms of factors that can trigger a financial meltdown. A single factor among those discussed above may be enough to trigger it; and the risk that a variety of such factors may simultaneously emerge is increasing.

So, to paraphrase Bette Davis in "All About Eve": Fasten your seat belts; it's gonna be a bumpy ride ahead for financial markets and the global economy?

(...)

Of course, some will point out to some of the "truly" better news of the last few days (ISM report, consumer confidence, construction spending, etc.) But when you scratch the surface of those "bullish" reports, the details are not as good as their headlines (as I will discuss in a future blog)....So I stick with my bearish call for a sharp US slowdown in H2 2006 and a recession by Q1 of 2007 and to my view that the Fed will not be able to prevent such slowdown even if it were to pause and then ease. I am willing to listen to contrary arguments and to read some better "news" than those above if anyone is able to provide some.

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US Dollar - Killing me softly
by Chad Geraigiri (August 10, 2006)


With he US's current deficit at 7% of gross domestic product, foreign banks are looking to diversify more aggressively into Euros and Gold. This move away from the US Dollar is a serious risk of a sell-off.
Italy's central bank has started diversifying into the British Pound (currently trading at almost 2 to 1 against the US Dollar) by investing 25% of its foreign currency reserves into the sterling, dumping billions in US Treasury bonds. Its US Dollar holdings went from 84% to 63%, a sure sign that it is losing faith in the economic stability of the US dollar. This move was in anticipation of a dollar slide due to an interest rate cycle peak and the US's national debt approaching $8.45 trillion.
This move will surely encourage other European nations to follow suit. Sweden announced in April that it had cut its dollar holdings from 37% to 20%. The United Arab Emirates and Qatar have both hinted at their intentions to diversify into Euros and Gold. Switzerland switched 10% of its reserves to pounds in 2004. Russia cut its US dollar holdings from 66% to 40%. China has a made a statement that it would diversify away from dollars into Gold and possibly Euros.
Japan and China are the two largest holders of US Treasuries and could face a serious crisis if they were to diversify away from the dollar too fast. As the saying goes "If you owe the bank $100,000 the bank owns you. If you owe the bank $100 Million you own the bank" and that's what will keep the dollar from crashing but not from a steady decline.
Considering the current economic imbalances in the U.S., the dollar cannot remain the currency of choice. Let's examine the following chart of the U.S. dollar vs the Euro: the US Dollar went from a high of 134.5 down to 84.95 as of today's close, a drop of more than 36%.

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Shanghai grouping moves centre stage
by Philippa Fogarty BBC News (June 14, 2006)


Leaders from Russia, China and Central Asian states meet in Shanghai on Thursday for what will be the most high profile meeting to date of the Shanghai Cooperation Organisation.
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The Incredible Shrinking US
by Helena Cobban (June 9, 2006)


The U.S. invasion of Iraq was not, on the face of it, an overtly "colonial" venture. But it has had many of the attributes of colonialism, including two key ones: The U.S. administration in Iraq sought to remake the governance of Iraq according to its own plans, and to subordinate Iraq's economy to the desires of U.S.-based corporations. And when Washington encountered Iraqi resistance to these moves, it resorted to many of the same tactics of counterinsurgency used by colonial powers throughout history: divide and rule, mass incarcerations, intrusive policies of population control, torture and abuse.
I believe that the domestic and global factors now pushing Washington toward undertaking a complete (or near-complete) retreat from Iraq are now so powerful that this retreat will take place before the end of the Bush presidency. But the U.S. will not merely be retreating to the position it occupied on March 18, 2003; the shrinkage of U.S. power around the globe will be much broader than that. There is one very simple reason for this: The U.S. will need the cooperation of other powers if the pullout from Iraq is to be orderly. But why should Russia, China or other world powers give Washington this cooperation if they had any fear that Washington would then just redirect its hegemonistic impulses elsewhere -- perhaps toward them? So as the major powers help Washington to extricate itself from Iraq, they will almost certainly require a price to be paid. It may well be demanded in two currencies: some form of stronger guarantee that Washington will not again undertake any recklessly "preventive" war like the highly destabilizing and destructive military action it launched in 2003; and some seriously stronger role for the non-U.S. powers in the always globally sensitive Israeli-Arab negotiations.

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Fiat and Credit - The Coming Financial Holocaust
by Clive Maund (June 01, 2006)


It should now be apparent to all readers of these pages that we are in the midst of the largest FIAT money experiment ever witnessed by an entire order of magnitude, and the first FIAT money exercise to be put to the test on a truly global scale. Hitherto, the political, economic and technological environment was not conducive to enabling such an incredible scheme to be successfully put into effect. To enable this required the presence of one hyper-economic power that also controlled a global currency and the velocity of capital movements made possible through modern communications technology. Another critical factor essential to enabling FIAT to be expanded without control was the destruction of the gold standard on which the value of all issued paper money was formerly based, and the strict financial discipline this exerted throughout the global financial system. It was, therefore, vital to the promulgators of FIAT that gold was no longer seen as a monetary instrument by the general public or, indeed, governments. The reader may be wondering why elected democracies would wish to support this vast and virtually uncontrolled expansion of paper and digital money, and the attendant explosion in inflation and associated wealth destruction of saver's funds, and for what purpose this is all intended. The reasons, as this article proposes, are as awesome as the scheme itself.
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World Markets About To Crash Together
by Christopher Laird, Finantial Sense University (May 31, 2006)


Look at your stock portfolio right now. Imagine how you would feel if it dropped 50%.
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Why the Global Financial System is About to Collapse
by John Law (May 29, 2006)


The global financial system is about to collapse because the US dollar is about to collapse.
The US dollar is about to collapse because of a simple economic fact that no one has the power to change or conceal.
The fact is that the spontaneous remonetization of the precious metals is a Nash equilibrium.
What this means in English is that an ideal financial strategy for everyone on Earth is to buy as much gold and silver as they can, as soon as possible.
To oversimplify wildly, the reason to buy gold and silver is just that everyone else should buy gold and silver, too. There are two reasons to do it as soon as possible.
One is that anyone with an investment account can move money into gold and silver with a few mouse clicks. They trade on the US markets as the stock symbols GLD and SLV.
Two is that once this information becomes widely understood, US and probably global financial markets will be closed.
There is no way to know when this will happen. It could be tomorrow. It could be a year from now. It could be longer. Since the only way this kind of a financial panic meme can spread is through the Internet, history tells us nothing.
And the good news is that if governments manage the situation well, it does not have to be a global economic and political disaster. Quite the opposite, in fact.
Remonetization of precious metals is the next step in the slow, difficult reconstruction of the peaceful and prosperous liberal world that World War I destroyed. The lights are not going out. They are coming back on. The return to classical liberalism, which some call globalization, has barely started. It has already rescued hundreds of millions of people in liberalizing countries like China and India from lives of poverty and depression. Its only opposite is nationalism, which is a recipe for war and misery. It is not perfect, but nothing is, and it must continue.
These are obviously provocative assertions. I explain them below. My hope is that you will evaluate them by thinking for yourself, rather than trusting me or any other authority.

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Gold or Dross? Political Derivatives in Campaign 2000
by Reginald H. Howe (Aug 1, 2000)


(....) From leaving the gold standard in 1933 to today, excessive economic nationalism has characterized American conduct in international monetary affairs. But all tyrannies end, and the tyranny of the dollar will be no exception. Developing nations will not forever accept being milked of wealth and economic opportunity by dollar imperialism.
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Gold Derivative Banking Crisis
by Bill Murphy (May 1, 2000)


(...) Extensive research has led the Gold Anti-Trust Action Committee (GATA) to the conclusion that the gold market is being recklessly manipulated and now poses a serious risk to the international financial system.
*Annual gold demand, currently at record levels, exceeds mine and scrap gold supply by more than 1,500 tonnes. In the Washington Agreement of Sept. 26, 1999, 15 European central banks announced that they were capping their lending of gold and would limit their official sales of gold to 400 tonnes per year for the next five years. Some major gold producers have reduced their forward sales, and speculators have reduced their borrowed gold selling. Commodity prices and wages are rising. Yet the price of gold has declined steadily. With demand so much greater than supply, the price of gold should be rising sharply.
* According to the Office of the Controller of the Currency, the notional value of the off-balance- sheet gold derivatives on the books of U.S commercial banks exceeds $87 billion, which is greater than total U.S. official gold reserves of approximately 8,140 metric tonnes.
* Gold derivatives surged from $63.4 billion in the third quarter of 1999 to $87.6 billion in the fourth quarter, after the Washington Agreement was announced. The notional amount of off-balance-sheet gold derivative contracts on the books of Morgan Guaranty Trust Co. went from $18.36 billion to $38.1 billion in the last six months of 1999.
* Veneroso Associates estimates that the private and official-sector gold loans stood at 9,000 to 10,000 tonnes at the end of 1999. Most of these loans represent gold that has been sold in the form of jewelry and cannot be retrieved. Mine supply of gold for all of 1999, according to trade sources, was only 2,579 tonnes. Thus the gold loans are far too big too be repaid back in a short time. The swift $84 rise in the gold price following the Washington Agreement caused a panic among bullion bankers. But that was only a warning of what is to come.
* Federal Reserve Chairman Alan Greenspan and Treasury Secretary Lawrence Summers, responding to GATA's inquiries through members of Congress, have denied any direct involvement in the gold market by the Fed and the Treasury Department. But they have declined to address whether the Exchange Stabilization Fund, which is under the control of the treasury secretary, is being used to manipulate the price of gold.
* Several prominent New York bullion banks, particularly Goldman Sachs, from which the immediate past treasury secretary, Robert Rubin, came to the Treasury Department, have moved to suppress the price of gold every time it has rallied over the last year.
* The Gold Anti-Trust Action Committee believes that U.S. government officials and these bullion banks have induced other governments to add gold supply to the physical market in recent years to suppress the price. Britain's National Accounting Office is now investigating the Bank of England's decision to sell off more than half its gold. Contrary to proper accounting practice, reductions in gold in the earmarked accounts of foreign governments at the New York Federal Reserve Bank are being listed by the Commerce Department as the export of non-monetary gold. These "exports" from the Fed occur upon rallies in the gold price.
*Why would anyone want to suppress the price of gold?
1) Suppressing the price of gold has made it a cheap source of capital for New York bullion banks, which borrow it for as little as 1 percent of its value per year. Gold is borrowed from central banks and sold, and the proceeds are invested in the financial markets in securities that have much greater rates of return. As long as the price of gold remains low, this "gold carry trade" is a financial bonanza to a privileged few at the expense of the many, including the gold-producing countries, most of which are poor. If the price of gold was allowed to rise, the effective interest rate on gold loans would become prohibitive.
2) Suppressing the price of gold gives a false impression of the U.S. dollar's strength as an international reserve asset and a false reading of inflation in the United States.
*Too much gold is being consumed at too cheap a price. Massive amounts of derivatives are being used to suppress the gold price. If this situation is not corrected soon, there will be a gold derivative credit and default crisis of epic proportions that will threaten the solvency of the largest international banks and the world standing of the dollar.
The Gold Anti-Trust Action Committee requests that a full and complete investigation be launched into this matter as soon as possible. The longer the gold price is artificially held down, the bigger the eventual banking crisis.

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OAM #123 25 MAI 2006

quarta-feira, maio 24, 2006

Carrilho 2

Bárbara Guimarães em seus verdes anos.
Payola: pela boca morre o peixe 

“Such as it is, the press has become the greatest power within the Western World, more powerful than the legislature, the executive and judiciary. One would like to ask: by whom has it been elected, and to whom is it responsible?”

Em Portugal os portugueses têm vindo a descobrir nos últimos tempos que a sua democracia, ainda jovem de 30 anos, saída de uma ditadura provinciana e paternalista, está a ser pasto devorável de uma corrupção endémica que penetra aparentemente todos os poros da sociedade. Nada escapa: há corrupção nas polícias, no futebol, entre os políticos, ao mais alto nível da nata empresarial, nas repartições de finanças, nos hospitais, e, pasme-se, nos meios de comunicação social. Sim, também os jornais e televisões, alimentados com estagiários à borla e custos mínimos em geral, retroalimentados em cadeia por agências noticiosas e de comunicação sem escrúpulos, surgem agora cavalgados pela fúria ética de um político caído em desgraça, depois de a sorte lhe ter um dia soprado inesperadamente de feição. O político, do Partido Socialista, chama-se Manuel Maria Carrilho e a sua queda decorre de duas causas e dois momentos crucais.

As causas da queda: Manuel Maria Carrilho, candidato favorito a umas eleições autárquicas em Lisboa, perde-as contra um lugar-tenente apagado do principal partido da oposição (o PSD). O agente principal deste resultado foi a incapacidade de o candidato convencer o seu eleitorado potencial, deixando que o número dois do ex-Presidente da Câmara de Lisboa e ex-Primeiro Ministro, Pedro Santana Lopes (homem tão mediático quanto volúvel, vaidoso e incapaz, cujo governo fora poucos meses antes demitido pelo Presidente da República), lhe levasse a palma.

Os momentos cruciais: o político, que um casamento controverso e mediático com uma conhecida e muito sexy estrela de televisão (Bárbara Guimarães), elevara inevitavelmente a uma instância de estrelato bicéfalo, aprova a inclusão da referida estrela de televisão, e do filho que a união entretanto gerara, num vídeo da sua campanha eleitoral. O bébé e a mãe, num diálogo digno do kitsch mais patético de uma qualquer telenovela sul-americana, balbuciam loas ao papá e putativo futuro presidente da edilidade lisboeta. A sorte do candidato-filósofo (não esqueçamos que repetidamente se apresentou sob este manto de integridade) ficaria traçada a partir deste incidente. O estratego da campanha, um brasileiro chamado Edson Athaíde, foi mais ou menos despedido, deixando os comandos da agit-prop nas mãos dum aguerrido assessor de imprensa. As sondagens, até aí favoráveis ao candidato do PS, iniciam uma tendência de queda. As presenças de Bárbara Guimarães em sucessivas acções de campanha não fazem mais do que piorar a situação, ao contrário do que Carrilho e o seu incompetente staff calcularam. O nervosismo espicaça Carrilho. Mal aconselhado, resolve enfrentar na televisão o seu principal adversário com uma agressividade desnecessária e inconsequente. À medida que o debate decisivo decorria só me apeteceu telefonar-lhe para dizer: despede o idiota que te aconselha! Ninguém por aí leu o Robert Axelrod? Ninguém daí conhece nada da pacata sensibilidade lusitana?! Em suma, como se pior fosse impossível, o pior aconteceu. Já depois do debate, quando os candidatos se deveriam despedir um do outro, Manuel Maria Carrilho resolve não cumprimentar o adversário. Não sabia que estava a ser registado? Ninguém acreditou e ninguem acredita em hipótese tão inverosímil. As eleições foram assim e naquele momento ganhas por Carmona Rodrigues.

Uns meses depois, o inconformado Carrilho resolve publicar um livro, responsabilizando em grande medida os média pela sua derrota. Afirma mesmo que houve um conluio entre uma agência de comunicação e interesses imobiliários para provocarem a sua derrota eleitoral. Ainda não li o livro nem sei se vou lê-lo. Mas os principais argumentos têm sido repetidos à saciedade e resumem-se nisto: os órgãos de informação manipulam a informação; incensam e depois massacram os pobres habitantes do limbo mediático; servem directamente interesses económicos e políticos inconfessáveis; não são escrutinados; dependem cada vez mais de umas instâncias mercenárias chamadas agências de comunicação, em suma, ele foi vítima, não da sua própria incompetência político-partidária e eleitoral, mas de uma conspiração mediática patrocinada pelos construtores civis. Não é verdade!

Tudo ou quase tudo o que Carrilho diz sobre a demissão e mesmo a corrupção jornalística actual é provavelmente verdade. Basta ver como os telejornais e os jornais de papel têm vindo a tratar a burla nuclear do Sr. Patrick Monteiro de Barros! Os média tradicionais, sobretudo em Portugal, não passam de pescadinhas de rabo na boca, sem qualquer profundidade jornalística, sem qualquer diversidade informativa, sem uma réstea de integridade ética, totalmente subservientes da publicidade e da imbecilidade consumista, entregues à mais confrangedora endogamia, plagiaristas sem vergonha, em suma, verdadeiros infocaptos. Estou de acordo, e basta ler o que Paul Graham escreveu sobre os submarinos mediáticos, ou a definição que a Wikipedia dá de Payola (se queres informação, paga-a...), para concordarmos com o desgraçado filósofo. Na guerra contra os mass media corruptos estarei ao seu lado sem reservas. Mas que a culpa da sua derrota autárquica é coisa do seu mau feitio e dos péssimos assessores que o rodeiam, disso não tenho também qualquer dúvida. As minhas suspeitas sobre tudo isto foram levantadas neste mesmo blogue e infelizmente confirmaram-se.

OAM #122 23 MAI 2006