quinta-feira, março 10, 2011

Parque Escolar e lóbi do betão

A arquitectura e as suas vítimas


Parque Escolar. Consumos energéticos triplicaram nas escolas requalificadas
Salas de aulas aquecidas no Inverno e frescas no Verão, quadros interactivos e retroprojectores em todas as salas, um computador para cada dois alunos, são só algumas das regalias que entraram em centenas de estabelecimento de ensino que foram requalificados pela empresa pública Parque Escolar. Só que a modernidade tem um preço alto. Em média, os consumos de água ou de energia eléctrica nas escolas que foram alvo de obras duplicaram ou triplicaram, fazendo disparar a factura mensal. Parque informático, climatização ou iluminação exterior instalados nestas escolas são actualmente um monstro guloso, que consome milhares de euros todos os meses — i (7 mar 2011).

A operação Parque Escolar, de Sócrates, foi mais uma demonstração de novo-riquismo e da corrupção de um regime que nunca soube nem sabe quanto custa o dinheiro. Empreiteiros, arquitectos, engenheiros e burocratas formam uma nomenclatura indecorosa e irresponsável, para quem a palavra sustentabilidade, economia de meios e de usos, e bom-senso, nada dizem. No caso da operação Parque Escolar, o escândalo é mesmo criminoso!

A legislação sobre obras e edifícios públicos foi desenhada e escrita para alimentar a economia estúpida e corrupta que nos levou à actual bancarrota. A primeira coisa a fazer no próximo governo é alterar semelhante aborto legislativo de alto a baixo.

A democracia degenerada que sucedeu à ditadura assenta em quatro pilares:

1. a família endogâmica do poder político (que engordou nos últimos 30 anos pela via partidária), 2. uma imensa e inútil burocracia, 3. uma elite económico-financeira clientelar, monopolista e protegida pelo Estado, 4. as corporações profissionais

Percebemos agora que o que mudou no 25 de Abril foi tão só uma parte muito pequena, e rapidamente integrada, da família endogâmica do regime — chamada partidos políticos. Tudo o resto se manteve (com outras fatiotas) como antigamente enquanto as ajudas comunitárias permitiram disfarçar a perda definitiva do império colonial.

Mas a ilusão terminou, e até 2015, seiscentos anos depois da conquista de Ceuta, estaremos como na crise de 1383-85: completamente falidos, à rasca, com o povo na rua... mas sem ingleses, nem galegos, nem biscainhos, para nos ajudar! Como se a tragédia à vista não fosse o que é (uma tragédia), temos ainda em curso uma emigração sem precedentes desde o século 19, na qual se inclui boa parte dos melhores licenciados, mestres e doutores do país.

Se as nossas desmioladas e preguiçosas elites e a corja partidária julgam que vão manter-se à tona do problema brincando alegremente com os seus jogos de retórica parlamentar e televisiva, desenganem-se!

quarta-feira, março 09, 2011

Betão e sucata

Uma casa e mais de um automóvel por cada dois portugueses



A bolha rebentou ao fim de vinte anos de crescimento virtual, especulativo e efémero. E a culpa é, efectivamente, dos políticos. Se não, para que servem e foram eleitos?

A receita, simples, surgiu originalmente para responder aos desafios do pós-guerra do final da década de 1940. Chamava-se o sonho americano: uma casa suburbana, um automóvel, televisão, centros comerciais e fast-food — o círculo perfeito de um capitalismo suportado por energia barata, um imbatível poderio militar e crédito virtualmente ilimitado. Chegou a Portugal com trinta anos de atraso, e duraria menos de três décadas.

Disto mesmo se deu conta Pedro Bingre do Amaral num estudo realizado para ajudar a fundamentar o enquadramento da Nova Lei de Solos, encomendado pelo Ministério do Ambiente e do Ordenamento do Território — “Análise das relações da política de solos com o sistema económico”.

Resumindo algumas das suas conclusões, publicadas pelo Expresso desta semana, em artigo de Carla Tomás, ficamos a saber que temos em Portugal mais de cinco milhões de casas, para uma população de 10,6 milhões, ou seja, um lar por cada duas pessoas. Nos últimos vinte anos construíram-se 80 mil alojamentos por ano, o equivalente a vinte cidades do tamanho de Coimbra, dispersas de forma inconcebível pelo território. Destas casas todas, porém, milhão e meio estão vazias.

Seja como for, o óbvio é que ultrapassámos larga e estupidamente as nossas necessidades em matéria de parque imobiliário doméstico, faltando apenas dizer que tanta compra implicou um endividamento privado (de particulares e empresas) na ordem dos €169 mil milhões, quando o PIB era de €180 mil milhões.

O autor do estudo, professor do Instituto Politécnico de Coimbra, afirma claramente que “houve uma bolha imobiliária portuguesa, ao nível da construção, que rebentou em 2006-2007”.

Uma das consequências desta deflação repentina está à vista de todos: a construção civil de novos edifícios praticamente parou. Outra, menos visível, detectada pelo estudo, é esta: “o valor do parque habitacional português (médio e baixo) poderá continuar a esboroar-se, atingindo os 85% em 2050” — a mais acentuada depreciação entre as economias ocidentais. Assim sendo, uma casa comprada por €200 mil (sobretudo em zonas suburbanas e mal servidas de transportes colectivos) poderá valer pouco mais de €30 mil daqui a quatro décadas. Os compradores e os bancos que sobreviverem a esta crise terão então pago muito caro a euforia iniciada no tempo do governo de Cavaco Silva.

Os bancos portugueses estão de tal modo assustados com esta situação que se recusam a aceitar as desvalorizações realistas dos imóveis —sugeridas por empresas especializadas— para efeito de execuções imobiliárias e outros contenciosos com construtores e proprietários hipotecados. A sua motivação é compreensível, mas totalmente inútil e mesmo contraproducente: querem evitar a todo o custo a desvalorização dos seus activos, que por sua vez foram dados como garantia dos vultuosos empréstimos que obtiveram dos mercados financeiros nacionais e internacionais. Mas a lei da oferta e da procura, que tanto acarinham, não pode ser suspensa quando convém, e fazendo esta o seu caminho, acabará por destruir parte significativa dos activos de bancos, construtoras e profissionais da arquitectura, da decoração e da engenharia civil. Uma pergunta pertinente que devemos fazer neste momento ao Estado é esta: para quem irão trabalhar os profissionais da construção civil nas próximas duas ou três décadas?

Um fenómeno semelhante ocorreu com os automóveis. Há mais de 5,7 milhões de veículos ligeiros no nosso país, ou seja, uma viatura por cada dois portugueses. Para servir e estimular a compra de mais automóveis, e sobretudo para alimentar uma indústria e um capitalismo pouco sofisticados, Estado, bancos e empresas endividaram-se até à desgraça, para construir uma das maiores e mais luxuosas redes de autoestradas por habitante e por área existentes na União Europeia. Resultado: o actual regime político hipotecou a sorte e o futuro dos seus filhos e netos, em nome da ganância e preguiça mental de uma democracia populista iludida pela mancha de demagogos eleitos que alastrou pelo país como autêntica nódoa civilizacional.

Viciados no dinheiro fácil, na irresponsabilidade e na prepotência, os mesmos que conduziram o país à bancarrota insistem ainda, obcecadamente, desesperados, com se nenhuma metadona os pudesse salvar, na tecla do betão e do automóvel. Como as casas já não se vendem, e os deputados europeus viram, escandalizados, as nossas autoestradas vazias, BES, Brisa, Mota-Engil e outros tantos piratas, querem agora um outro brinquedo para estragar, como estragaram tudo o resto onde tocaram. Esse brinquedo chama-se Novo Aeroporto de Lisboa. Ficará, se deixarmos, em Alcochete, e terá à sua volta uma cidade aeroportuária à imagem e semelhança dos devaneios bem pagos do senhor Augusto Mateus.

Só mesmo Angela Merkel nos poderá livrar desta corja!

terça-feira, março 08, 2011

Contagem decrescente

Geração Y exige mudança. 
Vai ser um verdadeiro choque tecnológico!



Depois dos Deolinda, vieram os Homens da Luta, e agora a interrupção descarada e corajosa de mais um discurso mitómano, demagogo, populista, mentiroso e cínico do indecoroso vendedor de banha da cobra que elegemos para primeiro ministro de Portugal — José Sócrates Pinto de Sousa.

Os da minha geração, e os da geração anterior, estão assustados! Porquê, pergunto-me? Não têm filhos e filhas, como eu? Ou será que os seus filhos e filhas não lhes fazem perguntas? A menos que os borrados de medo que em fila indiana entopem os canais velhos da comunicação social com ataques verbais à geração Y tenham todos metido as necessárias cunhas familiares e partidárias para salvaguardar o futuro dos seus entes queridos, decerto terão percebido já que a juventude está mesmo à rasca e entalada, entre a ilusão vazia da qualificação e das novas oportunidades, e a realidade negra do emprego precário e mal pago. A festa do consumo acabou, o país está na bancarrota, e o pior ainda está, obviamente, para vir.

Preparem-se pois, reaccionários do maio de 68, para uma nova revolução — desta vez à velocidade dos blogues (blogue da Geração à Rasca no Wordpress), dos e-mails, do Facebook e do Twitter!

Dia 12 de março haverá, ao que tudo indica (Público) manifs em pelo menos dez cidades portuguesas. A contagem decrescente deste regime já começou.

Uma democracia degenerada a caminho da cleptocracia

Novo Aeroporto: Brisa diz que projeto é a "frente mais importante" na diversificação do negócio em Portugal—Expresso.
 Só mesmo num país do terceiro mundo, falido, corrupto e sem vergonha, é que se admite a hipótese de uma velha família do capitalismo parasitário salazarista (o Grupo Mello), que nada fez ou faz pelo país, se não conduzi-lo, com outros, à bancarrota, arrogar-se o direito de receber do Estado que, com outros piratas capturou, tudo o que este tem de mais rentável.

Primeiro, os Mello expropriaram-nos (sob a designação falaciosa de "privatização") o negócio público lucrativo das autoestradas. Depois, atiraram-se à mina da saúde, através de PPPs escandalosamente ruinosas para o erário público. Agora, com a maior desfaçatez, querem ficar com todos (repito: TODOS!) os aeroportos do país, através da privatização da entidade que os administra com lucro (a ANA); e certamente, também, com os terrenos da Portela. Tudo isto a troco da construção (e exploração, claro) dum elefante branco chamado Novo Aeroporto de Lisboa, em Alcochete.

Para acontecer tamanho ataque ao bem público, o Estado terá então que perder as receitas avultadas e garantidas da ANA, e desfazer-se quer dos terrenos da Portela, quer da TAP. Um grande dispêndio, portanto, por parte dum país na bancarrota. Que diz o senhor Portas sobre isto? Nada! Que diz o senhor Passos de Coelho sobre isto? Nada! Que diz o Pinóquio sobre isto? Nada!

Ou seja, o Grupo José de Mello quer fazer um novo aeroporto desnecessário e de duvidosa viabilidade económica, a troco da ANA, dos terrenos da Portela e da TAP, recebendo ainda, certamente, generosos empréstimo do BEI. Que pensará o senhor Cravinho disto? Que opina o professor Marcelo sobre isto?

E se no fim tudo correr mal, como necessariamente correrá se o Bloco Central da Corrupção autorizar semelhante roubo e destruição do bem comum? Ficarão os Mello com bons terrenos para especulação? Stanley Ho sofreu desta mesma ilusão a propósito da Alta de Lisboa —um flop completo!

E se os terrenos da desactivada Portela, ou os terrenos do ruinoso NAL, nem para especular servirem? Fará a Caixa Geral de Depósitos o mesmo que fez com o BPN? Isto é, tapar um novo e gigantesco buraco financeiro privado, em nome do interesse nacional?! Poderá o governo de turno fazer o favor de expropriar, pela via fiscal, os cidadãos, em nome de um serviço público arruinado pela ganância previsível de um dos mais típicos exemplares da nossa burguesia parasitária e burocrática? Tenho as maiores dúvidas.

Para que precisamos de parlamento, governo ou presidente da república, se deixarmos que estes cenários de indigência continuem a exibir-se de forma tão pornográfica? Será assim tão difícil perceber que, se permitirmos mais este assalto e inacreditável abuso de poder económico por parte de uma família sem escrúpulos, continuaremos a destruir a democracia, e a abrir caminho a uma plutocracia, contra a qual, mais cedo ou mais tarde, o povo voltará a revoltar-se?

segunda-feira, março 07, 2011

Colapso em abril?

O governo de Sócrates poderá soçobrar já em abril, mais precisamente quando a Refer tiver que lançar nova operação de endividamento para pagar 300 milhões de euros de créditos vencidos. Esta é uma hipótese provável por quatro ordens de razões:
  1. a Refer abortou recentemente uma operação de endividamento para pagamento de dívida madura (1), e nada garante, antes pelo contrário, que uma nova tentativa venha a ter sucesso, sobretudo tendo em conta os últimos desenvolvimentos da crise económica e energética mundial;
  2. a cimeira europeia de 24-25 de março, sobre competitividade na Eurolândia, pode ditar o fim, a curto prazo, das compras indirectas de dívida soberana por parte do Banco Central Europeu (BCE);
  3. a subida anunciada da taxa de juro de referência do BCE , actualmente em 1%, irá agravar ainda mais os encargos com as sucessivas emissões de dívida pública portuguesa previstas, e aumentar inevitavelmente o já elevadíssimo desemprego, com a consequente pressão sobre os salários (ver post de Paul Krugman) e o inevitável crescimento das tensões sociais.
  4. a liquidez disponível do país é da ordem dos 4 mil milhões de euros, mas já em abril próximo será preciso pagar mais do que isto pela dívida obrigacionista de longo prazo que vencerá nessa data (2).
O PS de Sócrates já anda a preparar o PSD de Passos de Coelho para um novo pacote de medidas de austeridade. Até agora Passos de Coelho tem vindo a cair nas sucessivas armadilhas de envolvimento criadas pelo indecoroso governo do mitómano das Beiras. Está tão borrado de medo que é provável que venha a engolir mais um sapo cor-de-rosa! E no entanto, como escreve Álvaro Santos Pereira, o governo ainda tem muito por onde cortar (3), antes de impor mais sacrifícios aos portugueses.

Mas para aqui chegarmos será preciso desarticular previamente o actual Bloco Central de Interesses — o que, prevejo, só à força de manifestações, cada vez mais duras, acabará por acontecer.

ÚLTIMA ACTUALIZAÇÃO: 8 mar 2011, 0:36

NOTAS
  1. According to the central bank, Portuguese banks have not succeeded in making an international debt issue since April 2010. Net bond issues by banks in the first nine months of 2010 were insufficient to offset bonds maturing in the same period.

    Refer is Portugal’s most highly indebted state company with total debt of just below €6bn at the end of 2010, according to company reports. Analysts estimate its financing needs this year at €800m, including the redemption of a €300m bond that matures in April.

    Analysts estimate the total financing needs of Portugal’s state-owned companies at more than €3.8bn this year — in Portugal rail operator stalls on €500m bond. By Peter Wise in Lisbon and Anousha Sakoui in London. Published: March 3 2011 20:21 FT.com.

  2. Portugal has cash on hand of about €4 billion ($5.5 billion). Next month it must spend more than that to repay one of its long-term bonds, part of the €20 billion it will need this year to repay debt and cover its ongoing deficit, and for which it will have to pay around 7%, an interest rate that most observers agree is unsustainable — in One-Size Monetary Policy Rarely Fits All — in WSJ.com .

  3. Do lado das despesas há muito por onde cortar. Em primeiro lugar, podemos cortar 10% dos consumos intermédios do Estado. Estas aquisições de bens e serviços têm vindo a aumentar muito nos últimos anos e são um dos reflexos do excessivo despesismo do nosso Estado. Em segundo lugar, poderíamos efectuar uma redução entre 10% e 15% das despesas de todas as entidades e organismos públicos não essenciais. Segundo os meus cálculos, poderíamos obter poupanças entre 500 e 1000 milhões de euros se reduzíssemos as despesas de 60 destes organismos não ligados à Saúde e à Educação. Em terceiro lugar, podíamos levar a cabo uma verdadeira reforma do Estado que, a médio prazo, desse azo à fusão e extinção entre 30% e 50% de todas as entidades e organismos públicos. Em quarto lugar, poderíamos cortar entre 10% e 20% dos encargos gerais do Estado, nos quais se incluem o governo, a presidência da República, a Assembleia da República, o Tribunal de Contas, entre outras entidades. A extinção dos governos civis também deveria acontecer. Em quinto lugar, poderíamos cortar os apoios e créditos fiscais a muitas das centenas de fundações que o nosso Estado apoia — in Austeridade ou não, eis a questão. Desmitos.

sábado, março 05, 2011

EDP sob a mira dos mercados

Este foi seguramente o primeiro canal de comunicação a chamar a atenção para o endividamento estúpido da EDP, e para as fragilidades e manobras de propaganda barata do seu cabotino líder.

O BPI, segundo o Negócios Online de 4 Março 2011, vem finalmente avisar que a “...EDP pode ser uma armadilha de valor”. Os especuladores, o estado português e os partidos, estão pois formalmente alertados para a bomba-relógio que o endividamento aventureiro da principal energética nacional representa, não só para a sua autonomia empresarial, mas mais importante, para a eficiência, sustentabilidade e preço da energia de que o país precisa como de pão para a boca.

O mundo pobre começou um levantamento à escala planetária sem precedentes, em larga medida provocado pela subida imparável do preço do pão e da alimentação básica em geral. O mundo "rico" não deixará de lhe seguir os passos, assim que o preço da energia ultrapassar um determinado limiar.

Ninguém sabe exactamente qual será esse limiar. Recomenda a prudência que façamos tudo o que for necessário para não chegar a saber.

Os três primeiros passos a dar, na minha opinião, são estes:
  1. assumir urgentemente o controlo político, democrático e transparente, do sistema energético nacional, renacionalizando a maioria do respectivo capital (independentemente do que pensam os imbecis neoliberais de Bruxelas e de Frankfurt);
  2. lançar imediatamente (i.e. no prazo máximo de seis meses) um plano de estratégia e eficiência energética para o nosso país, capaz de reduzir de forma abrupta os escandalosos desperdícios de energia da nossa economia, das nossas cidades e do Estado. Desde logo, toda a legislação sobre obras e edifícios públicos, em matéria de escala, sustentabilidade económica e eficiência energética terá que ser imediata e radicalmente alterada (pois a que existe foi pensada e escrita para suportar a aliança criminosa entre betão e Estado);
  3. alterar radicalmente o nosso sistema de mobilidade e transportes, dando prioridade absoluta ao transporte colectivo (nomeadamente sobre carris), à energia eléctrica, à sociedade electrónica (para reduzir a mobilidade física), e ao reforço e protecção das cinturas agrícolas em volta das cidades (para diminuir o preço do transporte incorporado nos custo dos alimentos).
O crescimento e o desenvolvimento económico não podem continuar a ser medidos pelo consumo.

Esta foi uma aberração que durou enquanto durou o petróleo barato, o colonialismo, e a capacidade de as economias americana, europeia e japonesa imporem ao mundo uma abundância financeira fictícia, que se veio a revelar cada vez mais virtual e destrutiva.

A economia de um país tem que ser medida, em primeiro lugar, pela sua robustez estratégica (demográfica, energética, alimentar), pela capacidade própria de produção de bens transaccionáveis, e pela sua balança de transacções comerciais com o resto do mundo.

O consumo, em vez de ser um factor de enviesamento das estatísticas, deve passar a medir o equilíbrio social e a eficiência económica de cada país. Quem consome mais do que tem, ou pior ainda, o que não tem, nem tem condições para vir a ter, caminha inexoravelmente para a escravidão, ou para o suicídio.

Portugal está cada vez mais próximo deste dilema existencial. Talvez por isto, ultimamente, um número crescente de políticos começou anunciar a necessidade de uma mudança de regime (Manuel Maria Carrilho, Rui Rio, Pedro Santana Lopes). Temo-lo defendido há anos a esta parte, prognosticando que o PS e o PSD não sobreviverão intactos à inevitável metamorfose da democracia degenerada para onde deixámos resvalar o enorme capital de esperança criado pela queda da ditadura, em 1974.

A hora é de coragem e criatividade. As gangrenas que não são estancadas a tempo levam à perda, a princípio espaçada, dos vários membros do corpo. Quando finalmente se percebe a dimensão da tragédia, é tarde demais.

POST SCRIPTUM — Publicidade paga? Li no Expresso desta semana uma entrevista a António Mexia. Se o tamanho e destaque dos lençóis impressos não são propaganda descarada, parece. Doutro modo, como se explica que no quadro onde Pedro Lima e Vítor Andrade escarrapacharam o que chamam "Principais Indicadores dos Últimos Cinco Anos", não conste, nem a subida imparável do endividamento da empresa, nem a descida contínua das acções, nomeadamente da EDP Renováveis? Há uma coisa no mundo dos média chamada publireportagem. Convém chamar os bois pelos nomes!

sábado, fevereiro 26, 2011

O lóbi desesperado da EDP

Camilo Lourenço: “Portugal precisa, rapidamente, de reduzir a dependência dos combustíveis fósseis.” Negócios online, 25-02-2011.


Inocentemente ou não, Camilo Lourenço está a fazer um frete mediático a António Mexia, por duas razões principais:
  1. porque a nossa principal dependência energética não é suprível pela energia eléctrica (as barragens assassinas de Sócrates-Mexia não substituem nem nunca substituirão de forma significativa o petróleo, nem o gás natural — mas aumentarão a eutrofização das albufeiras, afastarão os turistas dos vales do Douro, Tua, Sabor, e Côa, ameaçarão a segurança da cidade de Amarante e, antes de mais, custarão uma pipa de massa aos consumidores indefesos, precisamente, em barris de petróleo!)
  2. porque aquilo que o cabotino Mexia quer é aumentar, ainda que seja para accionista burro e investidor incauto verem, os activos de uma empresa sobre endividada, da qual faz parte uma famosa EDP Renováveis, em queda catastrófica, que acaba de anunciar que já não distribui os dividendos de 2010, e cujas acções caminham a todo o gás para o preço da bica (1).
Tudo isto é grave, sobretudo se tivermos presente que o objectivo dissimulado do cabotino Mexia já só pode ser um: evitar o desaparecimento da empresa antes de a mesma poder ser tomada de assalto por uma grande energética espanhola, francesa, alemã, brasileira, angolana ou chinesa. É a síndroma TAP que move o cabotino Mexia, e as suas antenas mediáticas!


REFERÊNCIA

Para ajudar a compreender este problema, sobre o qual temos escrito frequentemente, transcrevo este elucidativo texto de João Joanaz de Melo.

Há século e meio que em Portugal as políticas de obras públicas megalómanas têm sido entendidas como paradigma de desenvolvimento.
Por João Joanaz de Melo, Professor de Engenharia do Ambiente na Universidade Nova de Lisboa.

No sector energético, apesar das belas intenções pela eficiência energética, o esforço é dirigido para os empreendimentos caros e de eficácia duvidosa: barragens, carro elétrico, micro-geração, TGV, com investimentos previstos na próxima década orçando em dezenas de milhar de milhões de euros – o investimento do Estado em eficiência energética mal chegará a 150 M€ no mesmo horizonte.

Os defensores do Programa Nacional de Barragens de Elevado Potencial Hidroeléctrico (PNBEPH) tentam adquirir uma patina de respeitabilidade invocando motivações ambientais. Alegadamente, estes empreendimentos agressivamente promovidos pelo Governo e pelas grandes empresas eléctricas (EDP, Iberdrola e, em menor escala, Endesa) destinam-se a reduzir a dependência energética, diminuir a emissão de gases de efeito de estufa e permitir armazenagem de energia eólica recorrendo à bombagem. Objectivos meritórios, mas infelizmente falsos.

As motivações ambientais seriam para rir se não fossem para chorar. As 9 grandes barragens recentemente aprovadas (7 do PNBEPH, mais Baixo Sabor e Ribeiradio) são verdadeiros crimes ambientais, preparando-se para destruir as paisagens maravilhosas e habitats raros dos últimos grandes rios selvagens de Portugal. Será também destruída a identidade, a cultura e os meios de desenvolvimento local, de que a condenada linha do Tua é um exemplo desolador. O emprego gerado nas grandes barragens é na ordem de 2 a 10 vezes inferior, por euro investido, a alternativas como o turismo rural, a requalificação urbana ou a eficiência energética.

Em termos energéticos, estas 9 barragens representarão apenas 1% do consumo de energia do País, gerando 2 TWh/ano de electricidade. O investimento requerido será oficialmente de 3 600 M€. Somando a isto os lucros das grandes eléctricas e os encargos financeiros, os cidadãos portugueses irão pagar pelo menos o dobro, durante décadas, na tarifa ou nos impostos – uma dívida brutal sobre os nossos filhos e netos (as concessões vão até 75 anos).

A mesma quantidade de energia poderia ser poupada com investimentos na ordem de 360 M€ (10 vezes menores), em medidas de eficiência energética com retorno até 3 anos, com enorme potencial de receitas para as famílias e para as pequenas empresas de gestão da energia e de requalificação urbana; e com muito mais eficácia na redução da dependência externa e de emissões de GEE.

Quanto à bombagem hidroeléctrica, o PNBEPH diz que precisamos idealmente de 2000 MW. Ora, entre os sistemas já funcionais e os projectos em curso, só em barragens já existentes, teremos a curto prazo 2507 MW instalados.

Não se vislumbram objectivos ambientais ou sociais para a febre das barragens: apenas o favorecimento das grandes empresas eléctricas e construtoras, e a captação de receitas extraordinárias para o Orçamento de Estado, atirando com os custos para as gerações futuras. Já passámos a fase de vender os anéis – agora querem mesmo cortar-nos os dedos.

NOTAS
  1. Foi seguramente este o primeiro blogue a chamar a atenção para o endividamento estúpido da EDP, e para as fragilidades e manobras de propaganda barata do seu cabotino líder.

    O “BPI: ‘EDP pode ser uma armadilha de valor’” — Negócios Online, 04 Março 2011) vem finalmente alertar os especuladores, o estado português e os partidos, para a bomba-relógio que o endividamento aventureiro da principal energética nacional representa para a sua autonomia e para a eficiência, sustentabilidade e preço da energia de que precisamos como de pão para a boca.

sexta-feira, fevereiro 25, 2011

Portugal estatístico

Oito curvas fatais

Recebi dum amigo o link para este post de Alvaro Santos Pereira, professor em Vancouver, e autor do blogue Desmitos. São sete, aliás oito gráficos fatais, que curiosamente não encontramos em nenhum documento oficial. Nem na Pordata parece haver a noção prática de que todos precisamos de conhecer os números básicos da nossa economia sem precisar de uma hora para os encontrar. Tentem, por exemplo, ler o Relatório do Orçamento de Estado, e digam-me em que página aparece escrito o valor em euros do PIB português em 2008, 2009 e 2010. Ofereço uma assinatura grátis deste blogue a quem mo disser!

Em síntese, os dados são estes (ver mapas nesta página e nesta — cortesia de Alvaro Santos Pereira):
  1. A média do crescimento económico é a pior dos últimos 90 anos
  2. A dívida pública é a maior dos últimos 160 anos
  3. A dívida externa é, no mínimo, a maior dos últimos 120 anos (desde que o país declarou uma bancarrota parcial em 1892)
  4. O desemprego é, no mínimo, o maior dos últimos 80 anos. Temos 610 mil desempregados, dos quais 300 mil são de longa duração
  5. Voltámos à divergência económica com a Europa, após décadas de convergência
  6. Vivemos actualmente a segunda maior vaga de emigração dos últimos 160 anos
  7. Temos a taxa de poupança mais baixa dos últimos 50 anos
  8. A dívida externa líquida tem vindo praticamente a duplicar de valor de ano para ano desde 1996 (de 10% do PIB em 1996, para um pico de 112% do PIB em 2010)

quinta-feira, fevereiro 24, 2011

Eficiência energética

Como escrevemos e estava escrito nos astros...
Os Trolleybus e os Eléctricos não precisam de toneladas de pilhas para andar 100Km!

EDP Renováveis - Pode a casa-mãe tirar a Renováveis da bolsa?

Jorge González Sodornil, analista do Sabadell, diz: "não podemos descartar um potencial 'buyout' da EDP Renováveis [por parte da EDP]". A empresa portuguesa "está a negociar bem abaixo do valor dos seus activos, o que supõe que a EDP pode comprá-la abaixo do custo de investimento", refere ao Negócios.

Com a explosão da bolha das dívidas soberanas, a reconversão energética alimentada por impostos está condenada. O caminho já não é produzir mais, ainda que diferente, mas produzir menos, desperdiçar menos, e consumir racionalmente. É inevitável uma concentração europeia das empresas estratégicas, sob forte supervisão de Bruxelas. A EDP, tal como muitas outras empresas que viveram à sombra do endividamento bolsista especulativo e de subsídios governamentais oportunistas, está condenada. A propaganda e os road shows de António Mexia parecem-se cada vez mais com as deambulações frenéticas do peripatético Sócrates. Dois em um para despachar quanto antes!

E já agora sobre o carro eléctrico: já imaginaram uma bicha de carros junto dum desses carregadores de baterias com que o governo mitómano de Sócrates salpicou o país, para telejornal obediente ver?

Autocarro a baterias?! Esta gente desmiolada não sabe o que é um Trolleybus? Não se lembram deles no Porto e em Coimbra? E que tal por ou repor as linhas de Eléctrico e de Trolley nas principais urbes do país: Grande Lisboa, Grande Porto, Coimbra, Setúbal e Braga? E que tal criar corredores para bicicletas em todas estas cidades? E que tal criar uma linha de crédito para compra de bicicletas urbanas? As nossas universidades deixaram de pensar livremente, e pensam, pelos vistos, o que lhe pagam para "estudar" e "pensar"!

ÚLTIMA HORA

quarta-feira, fevereiro 23, 2011

Sade revisitado



Portugal está cada vez mais perto do Egipto, de Marrocos, e da Líbia. Já ultrapassámos a Grécia na trapaça estatística sistemática. Temos, inesperada e inexplicavelmente, um ministro da diplomacia com receio de condenar os ditadores cleptocratas e sanguinários do norte de África. E temos agora, incrédulos e de olhos esbugalhados, a evidência do submundo prisional a cargo dum pedreiro-livre imbecil, assessorado por um intelectual orgânico que, como é timbre dos estalinistas renegados, por baixo do verniz conserva um anti-humanismo intelectual que, à menor oportunidade prática, revela toda a sua miséria mental e falta de princípios.

Espero que o imprestável Cavaco perceba de uma vez por todas que a sua posse como presidente da república repetente não vai ser nem um mar de rosas, nem o povo lhe tolerará a indiferença ou o calculismo hipócrita.

E espero que o próximo dia 12 de Março seja o início do fim de um regime que já nada mais pode provar em defesa da sua extraordinária irresponsabilidade, corrupção e autoritarismo dissimulado.

Precisamos mesmo doutra República, e doutra Democracia!

NOTÍCIA ACTUALIZADA pelo Público (24-02-211).
COMENTÁRIO: Será legal? Não é humano, com certeza. E pelo aspecto premeditado e experimental da acção, mais parece um aviso à sociedade... O ministro e os demais responsáveis deverão responder por este acto de intimidação colectiva!

terça-feira, fevereiro 22, 2011

TAP no fim da pista

Previsível e doloroso
os responsáveis devem ser responsabilizados!


Companhia reduz salários já este mês e corta mais de 15% na despesa global.
O Governo autorizou a TAP a fazer incidir os cortes salariais maioritariamente nos subsídios de férias e de Natal e ainda nas componentes variáveis da remuneração, soube o DN. DN online.

A TAP tornou-se uma companhia sem futuro. Tudo o resto é doloroso e triste. Só tem uma saída digna: reestruturar-se, i.e. despedir, indemnizando uns milhares de funcionários, e depois integrar-se na Lufhtansa — e não na IAG — International Consolidated Airlines, a companhia resultante da fusão entre a Ibéria e a British Airways, a caminho de nova fusão, desta vez com a American Airlines (ver notícia em Jornal de Negócios).

Os dados estão lançados, e dizem respeito a todo o sector de transportes, que Mário Lino e Ana Paula Vitorino, sob a batuta do intratável Sócrates, espécie de Roberto sempre-em-pé da tríade de Macau, conduziram a uma evitável ruína. A saber:

  • A TAP vem perdendo, dia-a-dia, posição nos quatro principais aeroportos nacionais (Portela, Sá Carneiro, Faro e Funchal) para a Ryanair, easyJet e demais companhias de voo de baixo custo (Low Cost).
  • O abuso de posição dominante que a TAP tem nas ligações entre a Europa e o Brasil já foi contestada pela União Europeia e tem os dias contados (a nova companhia aérea resultante da fusão entre a Ibéria e a British Airways, IAG, começou já a atacar este monopólio irregular).
  • A rota mais lucrativa da TAP —Lisboa-Luanda— não chega, obviamente, para justificar, e muito menos tirar do vermelho, uma companhia aérea que é uma das muitas empresas públicas que tem alimentado a nomenclatura demo-populista e corrupta do regime.
  • Pretender meter a TAP num saco de privatizações três-em-um, fazendo desta companhia falida e da lucrativa ANA um presente para quem ganhasse o futuro contrato de construção/exploração do improvável Novo Aeroporto da Ota em Alcochete, além de ser uma conspiração criminosa do Bloco Central, dificilmente convencerá qualquer investidor com juízo. O Grupo Mello já começou a posicionar-se para sacar o que lhe parece ser mais um negócio chulo, muito característico das economias que levaram os PIGS à situação dramática em que se encontram. Mas eu dou-lhe um conselho à borla: não se meta nisso, e invista na ferrovia!
  • Privatizar um monopólio de Estado como a ANA, que garante a prestação de serviço público a todo o país, substituindo-o por um monopólio privado, além de imbecil e criminoso, teria como consequência inevitável prejudicar seriamente o serviço público nos aeroportos deficitários — a maioria dos que estão ao serviço!
  • A prioridade absoluta em matéria de transportes é a diminuição da factura energética dos mesmos, e isto só se consegue de duas maneiras: 1) pondo de pé um Plano de Mobilidade e Transporte de Baixa Intensidade Energética, Ecológico e Sustentável Para Pessoas e Mercadorias; e 2) dando máxima prioridade ao transporte colectivo. A destruição em curso da rede ferroviária portuguesa é, portanto, um crime. Até a Linha do Norte corre risco de colapso e de descarrilamentos, em particular nos troços Ovar-Gaia e Coimbra-Alfarelos!
  • O CDS e o PSD berram todos os dias contra o TGV, mas nada dizem dos 50-60 mil milhões que querem sacar dos nossos impostos, sob a forma de maior endividamento (claro!), para o Novo Aeroporto da Ota em Alcochete, para as ruinosas PPPs das autoestradas e hospitais, para as inúteis e assassinas barragens que apenas servem para aumentar artificialmente os activos da sobre endividada EDP, para a alfândega das bitolas que a Mota-Engil vai herdar de Sócrates no Poceirão, para o obscuro mundo das águas municipais, e para a enviesada requalificação do Parque Escolar.
  • Com a escalada inflacionista do petróleo tudo começará a ficar mais caro: o pão, o café, o algodão. Mas o que verdadeiramente poderá apressar o colapso das economias mais fracas e dependentes, como a nossa, são três eventos ao virar da esquina: a subida vertiginosa dos preços dos combustíveis; a subida das taxas de juro do BCE; e o encerramento do mercado da dívida soberana para países financeiramente destruídos, como Portugal.

segunda-feira, fevereiro 21, 2011

FMI

Geração à Rasca têm melhores antecedentes do que Vicente Jorge Silva pensa...



Vale a pena ouvir este extraordinário libelo de um artista contra a miséria democrática e o pântano cultural a que uma certa corja financeira e partidária conduziu o país. José Mário Branco está muito mais próximo das gerações “rasca” (X) e “à rasca” (Y) do que muita gente do tempo de Vicente Jorge Silva e da minha (um pouco mais nova) geração — cujo conforto herdado sem esforço de uma ditadura podre, mas poupada e com poupanças, se vê agora exposto como um acto de dilapidação histórica de recursos e oportunidades. Andámos distraídos. Confiámos demasiado em economistas de bolso e penduras de toda a espécie. O resultado está à vista. Muitos de nós fizemos asneira sem intenção dolosa, e até sem proveito próprio, mas a verdade é que deixámos o país caminhar para a ruína. Mais vale acordar agora deste pesadelo, e fazer o que tem que ser feito, do que permanecermos na cobardia porreira, irresponsável e oportunista.

A entrada do Fundo Europeu de Estabilização Financeira, do BCE e do FMI em Portugal é não só inevitável, como necessária, pois doutro modo, o saque actualmente em curso por parte das ratazanas que correm pelos corredores, prateleiras e fundos ainda fornecidos deste moribundo regime demo-burocrático, será mais catastrófico para todos nós e para os nossos filhos, netos e bisnetos. Teremos pela frente, no mínimo, cem anos de vergonha e solidão.

Ainda hoje li no Expresso um alarve da EDP ameaçar o país a propósito dos devaneios eólicos da empresa que o cabotino Mexia conduziu ao sobre endividamento (um passivo de mais de 29 mil milhões de euros).

A EDP, apesar deste descomunal endividamento, ainda vale alguma coisa, ao contrário da TAP, e é por isso que cairá um dia destes no papo de uma grande energética espanhola, alemã ou chinesa. É o preço de ter embarcado num processo de expansão encostado à especulação bolsista e a uma das várias tetas, hoje secas, do orçamento do Estado português. É o preço de se ter atravessado numa tecnologia que vive à conta dos impostos de dois países igualmente falidos: Portugal e os Estados Unidos. É o preço de não ter percebido a tempo que o mercado de emissões de CO2 equivalente não passou afinal de uma tentativa falhada de criar uma nova bolha especulativa que sucedesse à bolha imobiliária mundial e de alguma forma atenuasse o efeito devastador, e de duração desconhecida, do buraco negro dos derivados financeiros (cujo valor nocional supera em mais de dez vezes o PIB mundial).

Pois bem, a EDP, tal como a Mota-Engil, o BES e o Grupo Mello, entre outros, continuam a berrar pelas tetas orçamentais, mais do que todos os sindicatos juntos. Querem dinheiro! E os sindicatos? E nós? Vamos deixar que o capitalismo imbecil e clientelar, que não há meio de aprender que o colonialismo e a chulice autoritária acabaram, prossiga a sua tarefa assassina e suicida de liquidar Portugal?!

This is America

Bem prega frei Tomás...

Ex-analista da CIA, Ray McGovern, preso e espancado quando protestava em silêncio contra o belicismo americano, no preciso momento em que Hillary Clinton saudava a rebelião democrática egípcia. Os dirigentes americanos deverão temer pelo dia em que o povo americano perder também a sua paciência!



Hypocrisy has reached a new level as Secretary of State Hillary Clinton talked at George Washington University on Wednesday, disapproving governments that arrest protesters, not allowing freedom of speech. Former C.I.A. analyst Ray McGovern was taken from the audience by two security guards, beaten and left bleeding in jail. His crime? Standing silently with his back turned to Clinton, wearing a t-shirt that said “Veterans for Peace”. Officially it was “Disorderly conduct”. US News Source, 18-02-2011.

sábado, fevereiro 19, 2011

Outra classe política

Adeus betão

Paulo Portas: dois pesos e duas medidas

Portas acusa Governo e PSD de "fingirem" avaliação do TGV

Paulo Portas acusa o Governo e o PSD de só reavaliarem o TGV no papel, já que na prática o projecto continua a andar. "Há um fingimento. Oficialmente, o Governo diz que o TGV está para reavaliação, mas na prática, nos contratos e nas portarias, está a avançar com toda a velocidade", disse — Público, 19-02-2011.

Ajustes directos custaram 3,8 mil milhões de euros em 201

(…) em 2010 foram entregues quase 1,5 mil milhões de euros em obras sem concurso - este valor chegava para pagar a construção e manutenção do troço do TGV entre Poceirão e Caia ao longo de toda a concessão — Público 28-01-2011.

O velho clientelismo ruinoso do Bloco Central do Betão —bem expresso nas novas barragens (1) inúteis e assassinas (custo anunciado: 7 mM€), nas novas auto-estradas e SCUTs (custo estimado: 2 mM€), no novo aeroporto e TTT (custo por baixo: 10 mM€), nos dez novos hospitais PPP (custo estimado: 7mM€), e na chamada recuperação do Parque Escolar (custo anunciado: 2,5 mM€)— permanece intocado, a par da defesa canina dos privilégios dos gestores públicos —topo da carreira partidária de centenas ou milhares de boys&girls da nomenclatura que arruinou Portugal.

O modelo preguiçoso, oportunista e corrupto da economia portuguesa assentou nos últimos 30 anos em três pilares estruturais: financiamento comunitário, endividamento galopante, e betão. Interrompendo-se o fluxo dos dois primeiros, o terceiro pilar ruirá inexoravelmente.

A oposição tenaz do Bloco Central do Betão e de alguns banqueiros à correcção atempada deste paradigma deu no desastre à vista: a bancarrota de Portugal. Mas sem a ajuda subserviente dos partidos políticos, com especial destaque para o PS, PSD e CDS, os primeiros não teriam chegado onde chegaram, nem teriam causado tanto dano ao país. 

Não há nem nunca houve uma grande burguesia portuguesa independente. A burguesia palaciana e burocrática que sempre tivemos viveu e continua a viver nos corredores do poder e nutre-se directamente da teta orçamental, quer dizer, de alguma forma de espoliação e saque fiscal. O analfabetismo generalizado foi a condição cultural deste verdadeiro entorse civilizacional ao longo da nossa história. 

Os portugueses melhoraram os seus níveis de educação, sobretudo a partir do início da guerra colonial em África, e do contacto cosmopolita com outros povos e sistemas de governo induzido pela emigração, primeiro, em direcção a França e Alemanha, e mais recentemente, para o Reino Unido, Suíça, Luxemburgo, Canadá e Estados Unidos. Também por isto o actual regime tem os dias contados.

NOTAS
  1. No caso das barragens, Paulo Portas e o PSD não tugem nem mugem, porque o assunto está entregue aos manos Moreira da Silva (Miguel e Jorge), pupilos indirectos do senhor Pimenta verde, cujos interesses (não meramente teóricos, entenda-se) no desastre eólico são conhecidos de longa data.

Idos de Março

Sócrates, demite-te!

Durão diz que UE está pronta para ajudar Portugal
Durão Barroso, presidente da Comissão Europeia, revelou em entrevista concedida à BBC que a União Europeia está preparada para ajudar financeiramente Portugal. O governante disse que para isso acontecer basta o Governo pedir auxílio. — DN (19-02-2011).
Portugal one step closer to requesting EU bailout
A senior eurozone source alleges that the situation signals a Portugese bailout by April at the latest.
“Portugal is drowning. It’s not going to be able to hold on beyond the end of March,” the eurozone source said. “That’s already understood to be the case in financial markets, but now it’s also understood among [EU] finance ministers.” — Euractiv, 18-02-2011.

Posso estar totalmente enganado sobre a sobrevivência do governo socialista. Previsões políticas são sempre uma lotaria. A colocação de dívida pública portuguesa em 2011 é da ordem dos 20 mil milhões de euros (mais de 10% do PIB). Trata-se, porém, de um peditório financeiro essencial e indispensável para o financiamento do orçamento de estado deste ano e para acudir ao serviço da dívida pública que vence também ao longo deste ano: Março, Julho, Agosto, Outubro e Novembro.

Mesmo que parte do orçamento deste ano não seja executado, e que se atrasem pagamentos devidos a fornecedores, o endividamento acumulado e o défice orçamental são de tal grandeza que, sem compras maciças do BCE, a bancarrota já teria sido declarada. Os próximos dias e semanas dependem, portanto, do novo governo económico que sair da cimeira europeia de 11 de Março. Este conclave dos países do euro liderado pelo eixo franco-alemão marcará, segundo alguns observadores (LEAP), o início de uma descolagem europeia da trapalhada americana. O novo banco do mundo chama-se China, e este país anda a comprar dívida soberana de países da União Europeia ao BCE, em nome da estabilidade do euro. O colapso em curso da economia americana levará inevitavelmente a uma progressiva descaracterização do dólar como moeda de reserva mundial. A China e o Japão têm vindo a comprar grande quantidade de euros, mas também, nos últimos meses, importantes stocks de dívida soberana de alguns dos países mais aflitos da Eurolândia.

Para Durão Barroso e para o BCE uma crise política que implique a queda de Sócrates e eleições antecipadas é sobretudo preocupante no curto prazo pelas implicações que poderá ter nos juros da dívida pública portuguesa, e por contágio no resto da Zona Euro. A chantagem de Sócrates deriva aliás disto mesmo: se me deitam abaixo, serão responsáveis pela subida do preço do dinheiro que tem vindo a garantir a nossa sobrevivência! Mas o problema é que os juros têm vindo a subir continuamente, apesar da estabilidade governativa. E com o petróleo de Brent acima dos 100 dólares a coisa vai mesmo agravar-se. A mudança poderá mesmo ser encarada por todos (mercados incluídos) como a única hipótese para travar a escalada da crise financeira portuguesa, e impedir o contágio à Espanha.

Resumindo e concluindo: posso estar muito enganado, mas prevejo que este governo caia antes do Verão (já em Março, ou Abril...), ou com o chumbo do próximo OE...

A Oposição, toda a Oposição, será responsabilizada por viabilizar o descalabro da governação mitómana de José Sócrates, se não derrubar rapidamente este governo à deriva e em estado de negação catatónica.

Passos Coelho está sob enorme pressão, e corre sérios riscos de perder capacidade de manobra num futuro governo por si dirigido se deixar apodrecer mais a actual situação. Um governo Sócrates sem orçamento aprovado, gerido com duodécimos é teoricamente possível, e Sócrates estaria todo contente em seguir num tal cenário fantasista. Mas estaria Teixeira dos Santos? Estaria a Oposição? Estaria Cavaco Silva? Estaria Durão Barroso? Estaria o BCE? Estaria Angela Merkel? Estariam a China e o Japão? É o que falta saber, mas creio que já ninguém está de facto interessado em identificar-se com tamanha farsa e descaramento pseudo-socialista. Em política não há, como se sabe, almoços grátis!

Mesmo que Sócrates aguente mais seis meses, ou mais um ano, é urgente preparar desde já uma alternativa a Sócrates no próprio PS — e não apenas a esperada alternância via PSD.

António José Seguro, Francisco Assis e Sérgio Sousa Pinto devem concentrar-se imediatamente nesta tarefa, em vez de legitimarem uma farsa congressista de tipo coreano. Na minha opinião, Manuel Maria Carrilho é uma alternativa credível a Sócrates —por formação, por experiência governativa, pela reflexão programática evidenciada, e pela coragem que se lhe reconhece. Mas será que os jovens turcos do PS estarão em condições de avaliar objectivamente a situação?

sexta-feira, fevereiro 18, 2011

Mexia e Sócrates assassinam rios

EDP convence governo PS a destruir rios, bacias hidrográficas, paisagens protegidas e turismo

“São os projetos mais difíceis em que nos devemos empenhar, porque são eles que podem mudar as coisas” (Expresso) — José Sócrates.

O objectivo da endividada EDP, no que se refere ao subserviente Programa Nacional de Barragens com Elevado Potencial Hidroeléctrico, é aumentar o peso dos activos e receitas garantidas pelo Estado português através dos compromissos assumidos por este, a mais de trinta anos, com a construção de onze novas barragens virtualmente inúteis e altamente prejudiciais à sustentabilidade eco-turística e ambiental de toda uma região demograficamente deprimida, envelhecida e indefesa. O jornalismo distraído que temos acompanha, sem verdadeiro contraditório, o embuste.

Para produzir mais 3% da energia eléctrica que consumimos não é preciso destruir rios (Sabor e Tua), ameaçar cidades de inundação catastrófica (Amarante), comprometer o futuro ecológico e turístico de regiões inteiras (por exemplo, o Douro Vinhateiro, classificado pela UNESCO como Património da Humanidade), como estão a fazer os piratas que levaram Portugal à falência. Bastaria, para alcançar este objectivo de duvidosa necessidade, aumentar a potência das barragens existentes e lançar um verdadeiro plano nacional de eficiência energética naquele que é o país da União Europeia onde mais energia se desperdiça sem qualquer proveito económico.

Sim, a tríade de Macau, de braço dado com o BES, a Brisa, a Mota-Engil, o Grupo Lena, a Teixeira Duarte, e muitos outros, decidiram sobreviver à custa da poupança e bem-estar dos portugueses, bem como da pilhagem de um património acumulados ao longo de dezenas, ou mesmo centenas de anos. Rasgaram o país com autoestradas vazias, queriam fazer aeroportos faraónicos em leitos de cheia, e pressionam agora tudo e todos para que os deixem levar por diante, com voz piedosa e muita propaganda e patrocínios culturais hipócritas e populistas, os poucos rios intactos do país, ou boicotar a ligação do nosso periférico país às novas redes ferroviárias de bitola europeia construídas e em construção por essa Europa fora, para desta forma criminosa garantir negócios privados inconcebíveis (neste caso concreto, "oferecendo" à Mota-Engil a faculdade de criar uma alfândega privada entre bitola ibérica e bitola europeia, na chamada Plataforma Logística do Poceirão!)

O caso das barragens do Tua, do Sabor e do Fridão —verdadeiros ecocídios injustificáveis—, tal como a oposição à nova ligação ferroviária rápida, para pessoas e mercadorias, entre Lisboa, a segunda maior rede ferroviária de Alta Velocidade do planeta (precisamente, a espanhola, que conta já com 2600 Km), e o resto da Europa, que se prepara para construir ligações ferroviárias de Alta Velocidade até Moscovo, Pequim e Xangai, ou ainda a insistência em querer fechar o Aeroporto da Portela, um dos mais pontuais do mundo e longe, muito longe mesmo de estar esgotado, revelam, todos eles, a persistência de um modelo parasitário, irresponsável, corrupto e descarado de usurpação privada do bem público em nome da preguiça, incompetência e inércia histórica de uma burguesia burocrática inculta, imprestável e condenada ao desaparecimento. Se não a pararmos já, porém, queimarão o que resta do país intocado.

A EDP é uma empresa muito endividada. Comprou empresas de energia na América cuja rentabilidade está por demonstrar. Apostou no mercado especulativo dos créditos de CO2 equivalente, abortado pela China e pelo Brasil na Cimeira de Copenhaga de 2009. Nem o anúncio de hoje, pré-anunciado ontem, sobre o início das obras da barragem assassina do Tua impediu a EDP de sair do vermelho da bolsa (Jornal de Negócios, gráficos). A sua capitalização bolsista em 2010 (10.498M€) e o seu volume de negócios (10.238, 6M€) são ambos inferiores à sua dívida financeira líquida (16.246,40 M€). O total do passivo da empresa subiu 876.471.000€, de 2009 (28.268.725.000€) para 2010 (29.145.196.000€). Em suma, os ratings da EDP produzidos pelas principais agência de notação financeira poderão em breve ser afectados pelos impactos muito sérios dos endividamentos astronómicos das economias portuguesa, espanhola e norte-americana, bem como pelo colapso financeiro de centenas de cidades americanas. O outloook negativo da Standard & Poors emitido em Outurbo do ano passado foi um aviso:
  • Standard & Poors: A-/Negative/A2 (29/10/2010)
  • Moody's: A3/Stable/P2 (13/07/2010)
  • Fitch: A-/Stable/F2 (17/06/2010)
O discurso de José Sócrates, na sua mitómana irresponsabilidade e permanente conluio com o que de mais cabotino existe na economia portuguesa é bem o espelho de um país em declínio, que urge sustar.

quinta-feira, fevereiro 17, 2011

Geração à Rasca

O António Maria apoia esta manif!

Manifesto

Nós, desempregados, “quinhentoseuristas” e outros mal remunerados, escravos disfarçados, subcontratados, contratados a prazo, falsos trabalhadores independentes, trabalhadores intermitentes, estagiários, bolseiros, trabalhadores-estudantes, estudantes, mães, pais e filhos de Portugal.

Nós, que até agora compactuámos com esta condição, estamos aqui, hoje, para dar o nosso contributo no sentido de desencadear uma mudança qualitativa do país. Estamos aqui, hoje, porque não podemos continuar a aceitar a situação precária para a qual fomos arrastados. Estamos aqui, hoje, porque nos esforçamos diariamente para merecer um futuro digno, com estabilidade e segurança em todas as áreas da nossa vida.

Protestamos para que todos os responsáveis pela nossa actual situação de incerteza – políticos, empregadores e nós mesmos – actuem em conjunto para uma alteração rápida desta realidade, que se tornou insustentável.

Caso contrário:

a) Defrauda-se o presente, por não termos a oportunidade de concretizar o nosso potencial, bloqueando a melhoria das condições económicas e sociais do país. Desperdiçam-se as aspirações de toda uma geração, que não pode prosperar.

b) Insulta-se o passado, porque as gerações anteriores trabalharam pelo nosso acesso à educação, pela nossa segurança, pelos nossos direitos laborais e pela nossa liberdade. Desperdiçam-se décadas de esforço, investimento e dedicação.

c) Hipoteca-se o futuro, que se vislumbra sem educação de qualidade para todos e sem reformas justas para aqueles que trabalham toda a vida. Desperdiçam-se os recursos e competências que poderiam levar o país ao sucesso económico.

Somos a geração com o maior nível de formação na história do país. Por isso, não nos deixamos abater pelo cansaço, nem pela frustração, nem pela falta de perspectivas. Acreditamos que temos os recursos e as ferramentas para dar um futuro melhor a nós mesmos e a Portugal.

Não protestamos contra as outras gerações. Apenas não estamos, nem queremos estar à espera que os problemas se resolvam. Protestamos por uma solução e queremos ser parte dela.

Geração à Rasca


  • Deolinda

    Que Parva que eu sou


    Sou da geração sem remuneração
    e não me incomoda esta condição.
    Que parva que eu sou!
    Porque isto está mal e vai continuar,
    já é uma sorte eu poder estagiar.
    Que parva que eu sou!
    E fico a pensar,
    que mundo tão parvo
    onde para ser escravo é preciso estudar.

    Sou da geração 'casinha dos pais',
    se já tenho tudo, para quê querer mais?
    Que parva que eu sou
    Filhos, maridos, estou sempre a adiar
    e ainda me falta o carro pagar
    Que parva que eu sou!
    E fico a pensar,
    que mundo tão parvo
    onde para ser escravo é preciso estudar.

    Sou da geração 'vou queixar-me para quê?'
    Há alguém bem pior do que eu na TV.
    Que parva que eu sou!
    Sou da geração 'eu já não posso mais!'
    que esta situação dura há tempo demais
    E parva não sou!
    E fico a pensar,
    que mundo tão parvo
    onde para ser escravo é preciso estudar.

domingo, fevereiro 13, 2011

2030: end-of-the game

Onde não há petróleo...

Telegramas diplomáticos confidenciais divulgados pelo WikiLeaks revelam a incapacidade da Arábia Saudita de impedir a subida dos preços do petróleo, e o declínio a curto prazo da sua produção.
WikiLeaks cables: Saudi Arabia cannot pump enough oil to keep a lid on prices
US diplomat convinced by Saudi expert that reserves of world's biggest oil exporter have been overstated by nearly 40%

(…) According to the cables, which date between 2007-09, Husseini said Saudi Arabia might reach an output of 12m barrels a day in 10 years but before then – possibly as early as 2012 – global oil production would have hit its highest point. This crunch point is known as "peak oil".

Husseini said that at that point Aramco would not be able to stop the rise of global oil prices because the Saudi energy industry had overstated its recoverable reserves to spur foreign investment. He argued that Aramco had badly underestimated the time needed to bring new oil on tap.

"(…) Aramco's reserves are overstated by as much as 300bn barrels. In his view once 50% of original proven reserves has been reached … a steady output in decline will ensue and no amount of effort will be able to stop it. He believes that what will result is a plateau in total output that will last approximately 15 years followed by decreasing output" — Guardian, Tueaday 8 Feburary 2011.

Uma das consequências da revolução democrática que varre a margem sul do Mediterrâneo, com fortes possibilidades de se estender à Arábia Saudita, Iémen e vários outros países africanos populosos e jovens, será um maior consumo mundial de petróleo e gás natural. António Costa Silva adianta em artigo publicado no Expresso desta semana que este acréscimo será da ordem dos 30% nas próximas três décadas — se houver disponibilidade de produto, e quem possa pagar por ele, claro (acrescento eu). Ou seja, à pressão exercida pelo crescimento dos chamados países emergentes, entre os quais se incluem o Brasil, a Índia, a China e a Rússia, mas também a Turquia, o Vietname, a Tailândia e a Argentina, que crescem três a quatro vezes mais depressa do que os Estados Unidos e a União Europeia (ver quadro), virão somar-se ao longo desta e da próxima década uma série de vizinhos de longa data da Europa, onde o passado de colónias submissas poderá ter sido definitivamente enterrado no dia em que Hosni Mubarak foi apeado do poder.

Esta tendência para o equilíbrio mundial irá, no entanto, provocar uma tensão enorme nos mercados de matérias primas, dos alimentos básicos, e da energia. Pão, arroz, mas também todos os produtos industriais e serviços serão apanhados por uma onda prolongada e crescente de inflação, cuja origem primordial é, precisamente, a escassez progressiva do petróleo e a correspondente e imparável subida de preço. Nada do que se conhece tem o poder e a dimensão suficientes para substituir o petróleo e o gás natural na alimentação do estilo de vida e bem-estar criados pelo homem nos últimos duzentos anos.

As consequências deste facto, que um número crescente de indícios diplomáticos, relatórios oficiais e estatísticas comprovam, são praticamente inimagináveis. Desde 1972 que o relatório The Limits to Growth, encomendado aos cientistas Donella H. Meadows, Dennis L. Meadows, Jørgen Randers e William W. Behrens III, pelo Clube de Roma, previu o iminente colapso da civilização humana moderna em resultado de uma confluência galopante entre crescimento demográfico e exaustão das reservas potenciais de matérias-primas e alimentos. No vários cenários de The Limits to Growth, tal como no estudo pioneiro de 1956, desenvolvido por Hubbert M. King, "Nuclear Energy and the Fossil Fuels 'Drilling and Production Practice'" (PDF), o período compreendido entre 2030 e 2050 é apresentado como a barreira inultrapassável do actual paradigma energético do nosso crescimento como espécie. Sabe-se hoje que a energia nuclear não pode ser a salvação. E sabe-se que a única grande reserva energética disponível cuja capacidade de resposta se aproxima do petróleo e do gás natural é o carvão — depois de liquefeito. Acontece, porém, que esta operação é muito cara. Conclusão: o actual paradigma de desenvolvimento da espécie humana está irremediavelmente condenado — e a curto prazo! Se soubermos decrescer com graça, talvez nos safemos. Se não... a extinção parcial da espécie será a funesta herança que deixaremos aos nossos netos.

Enquanto o ruído surdo do fim dos tempos parece aproximar-se da nossa espécie, mas nos dá ainda algum tempo de análise e acção, a prioridade das prioridades chama-se eficiência energética — um bem que escasseia flagrantemente no nosso país. Se não pusermos rapidamente na ordem os piratas que nos levaram à falência, seremos dos primeiros povos a sucumbir!

Parva que sou



Foi assim que nos idos anos 60 teve início a revolução que acabaria com uma ditadura de 48 anos. Agora, voltamos a precisar de democracia, e de uma nova república. O senhor Mubarak Sócrates tem que partir e os partidos têm que mudar!

É certo que o Hip-hop português tem vindo a tocar estes temas, mas numa perspectiva mais moralista do que social. Por outro lado, o que os Deolinda conseguiram foi tocar o nervo sensível de toda uma geração a quem os pais (da minha idade) ensinaram as vantagens da educação (1), do conhecimento e da cultura na busca de uma vida com sentido e relativamente afluente. Hoje, infelizmente, limitamo-nos cada vez mais a ajudá-los a emigrar!

Por uma vez, transcrevo um artigo de Vasco Pulido Valente, que dá bem a medida da tragédia política em curso. A grande dúvida é a de saber se temos juventude suficiente para impedir a transformação da já degenerada democracia a que chegámos numa cleptocracia autoritária e policial, cujos indícios são cada vez mais visíveis no comportamento dos piratas que tomaram de assalto o PS e o Estado.

Mudar de regime

Vasco Pulido Valente - 15-01-2011

Dez milhões de portugueses foram vítimas de uma fraude, que os fará passar anos de miséria. Toda a gente acusa deste crime, único na nossa história recente, entidades sem rosto como os "mercados", a "especulação" ou meia dúzia de agências de rating, que por motivos misteriosos resolveram embirrar com um pequeno país bem comportado e completamente inócuo. Mas ninguém acusa os verdadeiros responsáveis, que continuam por aí a perorar como se não tivessem nada a ver com o caso e até se juntam, quando calha, ao coro de lamúrias. Parece que não há um político nesta terra responsável pelo défice, pela dívida e pela geral megalomania dos nossos compromissos. O Estado foi sempre administrado com senso e parcimónia. Tudo nos caiu do céu.

Certos pensadores profissionais acham mesmo que o próprio regime que engendrou a presente tragédia é praticamente perfeito e que não se deve mexer na Constituição em que ele assenta. Isto espanta, porque a reacção tradicional costumava ser a de corrigir as regras a que o desastre era atribuível. Basta conhecer a história de França, de Espanha ou mesmo de Portugal para verificar que várias Monarquias, como várias Repúblicas, desapareceram exactamente pela espécie de irresponsabilidade (e prodigalidade) que o Estado do "25 de Abril" demonstrou com abundância e zelo desde, pelo menos, 1990. A oligarquia partidária e a oligarquia de "negócios" que geriram, em comum, a administração central e as centenas de sobas sem cabeça ou vergonha da administração local não nasceram por acaso.

Nasceram da fraqueza do poder e da ausência de uma entidade fiscalizadora. Por outras palavras, nasceram de um Presidente quase irrelevante; de uma Assembleia em que os deputados não decidem ou votam livremente; de Governos que no fundo nem o Presidente, nem a Assembleia controlam; de câmaras que funcionam como verdadeiros feudos; de uma lei eleitoral que dissolve a identidade e a independência dos candidatos. Vivendo a nossa vida pública como a vivemos, quem não perceberá a caracterizada loucura das despesas (que manifestamente excede o tolerável), a corrupção (que se tornou universal), os funcionários sem utilidade, o puro desperdício e, no fim, como de costume, a crise financeira? A moral da coisa é muito simples: só se resolve a crise mudando de regime.

NOTA
  1. Sobre o drama da falta de emprego na juventude em todo o mundo, ver o gráfico deste artigo do Economist — Young and jobless - The Economist