sexta-feira, março 11, 2011

Presidente subliminar

Cavaco Silva aponta estratégia ordoliberal para Portugal
Como tem a faca e o queijo na mão... Sócrates acabará por ser demitido.

Por mais que Francisco Assis e Miguel Macedo tentem dourar a pílula, a verdade é que Cavaco Silva colocou José Sócrates a caminho do cadafalso. Suspeito, aliás, que Passos de Coelho se veja forçado a seguir, encapuçado, no mesmo auto de fé que começou a ser instaurado à degenerada democracia que empurrou Portugal para uma bancarrota que poderá escravizar-nos ao longo dos próximos noventa anos!

As palavras de posse do actual presidente da república foram demasiado claras, cortantes e audíveis, para que este regime indecoroso, corrupto e incompetente, dure muito mais. Cavaco ontem fez um discurso tipicamente cesarista, iniciando assim o processo de uma nova relação institucional com o povo português, cujo futuro está em aberto. O que lhe faltou em votos para uma legitimidade substancial no mandato que ontem iniciou, poderá em breve recuperar como resultado de um programa político que é seu. Muito acima dos partidos acossados por uma opinião pública cada vez mais impaciente, as palavras de Cavaco tiveram o sopro supra partidário de um autêntico programa de salvação nacional — a que o formalismo da actual democracia indecente acabará por sucumbir.

Sócrates jamais se demitirá por livre vontade e iniciativa própria. Nisto não difere de nenhum dos ditadores que recentemente têm vindo a provar o sabor amargo da poeira da ira popular. Não lhe desejo a mesma a sorte, mas todos sabem que a paciência tem limites. Em suma, acabará por ser demitido por Cavaco Silva, quando já nada nem ninguém der um cêntimo pelo mitómano.  O cronómetro da crise está efectivamente nas mãos do presidente, que ontem premiu o botão.

A manifestação da Geração à Rasca, que traduz o tal direito à indignação que tanto agrada a Mário Soares, é a próxima estação do calvário de Sócrates. Pudesse ele, e faria o mesmo que José Eduardo dos Santos. Mas não pode...

Hoje, em resultado da cimeira extraordinária dos chefes de estado e de governo da Eurolândia, outro grande prego será porventura martelado no caixão do actual governo. A agonia, sob o olhar atento de Cavaco, prosseguirá nua e crua, até que não reste qualquer dúvida sobre a necessidade imperiosa de demitir o desgraçado pirata a que a súbita fuga de Guterres, do pântano "socialista", abriu caminho.

Um dos motivos por que suspeito que a demissão de Sócrates estará, no cronómetro de Cavaco Silva, sincronizada com o afastamento de Passos de Coelho, e a sua substituição por um líder mais social-democrata, é que o discurso de tomada de posse do novo presidente afasta liminarmente qualquer apoio ao actual líder laranja.

Cavaco Silva sabe que a receita neoliberal está nos antípodas do que é necessário e é possível fazer nas actuais circunstância de explosão da bolha das dívidas soberanas. Nem neoliberalismo, nem socialismo burocrático. A única receita que poderá fazer algum efeito no corpo exangue da nossa economia chama-se ordoliberalismo, vem da Alemanha do pós-guerra, e encontra nas economias emergentes, nomeadamente a da China, ecos cada vez mais convincentes. Sem um efectivo direito à propriedade privada, sem liberdade empresarial, e sem circulação internacional de pessoas e mercadorias, regressaríamos a uma qualquer forma de Idade Média. Mas, por outro lado, sem equilibrar estes direitos com os direitos, igualmente inalienáveis, ao bem público e ao bem comum, as sociedades tendem a precipitar-se numa fatal espiral de egoísmo individual, de grupo e de geração. Ou seja, a liberdade individual, e a liberdade dos grupos de interesses, têm ou devem ter na teleologia republicana um princípio moderador imperativo, de que a propriedade pública (nomeadamente dos recursos estratégicos) e o bem comum são constituintes democráticos inalienáveis. Há, pois, um trilho por explorar entre o socialismo corrompido do PS, do PCP e dos trotsquistas-e-estalinistas-unidos do Bloco de Esquerda, e o liberalismo imberbe, colado com cuspo, de Passos de Coelho. O estimável Eduardo Catroga que se cuide, pois, quando recomenda ou aceita a ideia louca de entregar as autoestradas, os aeroportos e a saúde a uma única família do nosso desgraçado e incestuoso capitalismo (o Grupo Mello), está, consciente ou inconscientemente, a tentar apagar um fogo com gasolina!


Discurso presidencial comentado
Pela minha parte, pode contar o Governo com uma magistratura activa e firmemente empenhada na salvaguarda dos superiores interesses nacionais.
Não disse com a “minha colaboração leal”, mas sim magistratura activa e firme...
...serei rigorosamente imparcial no tratamento das diversas forças políticas, mantendo neutralidade e equidistância relativamente ao Governo e à oposição.
Ou seja, o PSD que não espere tratamento deferente, pelo menos enquanto mantiver o incapaz Passos de Coelho a fazer de chefe partidário e putativo candidato primo-ministerial.
Os indicadores conhecidos são claros. Portugal vive uma situação de emergência económica e financeira, que é já, também, uma situação de emergência social, como tem sido amplamente reconhecido.
Quer dizer, estão criadas as condições para a presidencialização do regime.
Nos últimos dez anos, a economia portuguesa cresceu a uma taxa média anual de apenas 0,7%, afastando-se dos nossos parceiros da União Europeia. Esta divergência foi ainda mais evidente no caso do Rendimento Nacional Bruto, que constitui uma medida aproximada do rendimento efectivamente retido pelos Portugueses. O Rendimento Nacional Bruto per capita, em termos reais, cresceu apenas 0,1% ao ano, reflectindo na prática uma década perdida em termos de ganhos de nível de vida.

De acordo com as últimas estimativas do Banco de Portugal, “o crescimento potencial da economia portuguesa, o qual determina a capacidade futura de reembolso do endividamento presente”, é actualmente inferior a 1% e, em 2010, o valor real do investimento ficou cerca de 25% abaixo do nível atingido em 2001.

O défice externo de Portugal tem permanecido em valores perto de 9% do produto, contribuindo, por força do pagamento de juros ao exterior, para a deterioração do saldo da balança de rendimentos, cujo défice anual, de acordo com o Banco de Portugal, se aproxima rapidamente dos 10 mil milhões de euros, privando a nossa economia de recursos fundamentais para o seu desenvolvimento.

Simultaneamente, a taxa de poupança nacional tem vindo a decair, passando de cerca de 20% do produto em 1999 para menos de 10% nos últimos dois anos.

Em 2010, o desemprego atingiu mais de 600 mil pessoas, o que contrasta com cerca de 215 mil em 2001. Nestes dez anos, a taxa de desemprego subiu de 4% para um valor de 11%.

Os dados publicados pela Comissão Europeia indicam que, em 2008, o número de residentes em Portugal que se encontravam em “risco de pobreza ou exclusão social” superava os 2 milhões e 750 mil, o que equivale a cerca de 26% da nossa população. De acordo com as informações qualitativas disponibilizadas pelas instituições que operam no terreno, esta situação ter se á agravado nos últimos dois anos.
Arrasador!
Neste contexto, surpreende que possa ter passado despercebido nos meios políticos e económicos o alerta lançado pelo Governador do Banco de Portugal, em Janeiro passado, de que, e cito, “são insustentáveis tanto a trajectória da dívida pública como as trajectórias da dívida externa e da Posição de Investimento Internacional do nosso País”.
Esta vai direitinha para os políticos de serviço e para os banqueiros.
Neste contexto difícil, impõe-se ao Presidente da República que contribua para a definição de linhas de orientação e de rumos para a economia nacional que permitam responder às dificuldades do presente e encarar com esperança os desafios do futuro.
Segunda nota presidencialista evidente.
A nível estrutural, e como há muito venho a insistir, temos de apostar de forma inequívoca nos sectores de bens e serviços transaccionáveis. Só com um aumento da afectação de recursos para a produção competitiva conseguiremos iniciar um novo ciclo de desenvolvimento. Este é um desafio que responsabiliza, em primeiro lugar, o Estado e o sistema financeiro. De resto, é fundamental que os Portugueses assimilem, de forma convicta, a necessidade de produzir mais bens que concorram com a produção estrangeira. Um défice externo elevado e permanente é, por definição, insustentável.
Pelo menos neste passo do discurso o PCP deveria ter batido palmas. Mas não bateu, claro. E no entanto...
Ainda no âmbito da afectação de recursos, é necessário estimular a poupança interna e travar a concessão indiscriminada de crédito, em especial para fins não produtivos e para sustentar gastos públicos. É imperioso reafectar o crédito disponível para as pequenas e médias empresas criadoras de valor económico e de emprego e para as exportações.
É isto que o BCE e a senhora Merkel farão com todos os PIGS: travar a fundo o insaciável endividamento especulativo e burocrático.
Em paralelo, é essencial traçar um caminho que permita o reforço da nossa competitividade e o aumento da produtividade do trabalho e do capital. A perda de competitividade da economia portuguesa é talvez o sintoma mais grave das nossas fragilidades.
Aqui, uma nota para Cavaco: sem partir a espinha à burguesia geriátrica e clientelar que cerca e definha o país, e que V. bem conhece, isto é, sem arrumar de vez o compadrio e o proteccionismo burocrático que atropelam e esmagam há séculos a iniciativa e a criatividade nacionais, as suas palavras continuaram a esfumar-se no deserto da indiferença.
Neste contexto, é crucial a realização de reformas estruturais destinadas a diminuir o peso da despesa pública, a reduzir a presença excessiva do Estado na economia e a melhorar o desempenho e a eficácia da administração pública.
Palpite:  duvido que as criaturas que actualmente se sentam na Assembleia da República alguma vez se atrevam a dar semelhante passo. E se for assim, têm razão aqueles que já começaram a defender uma mudança de regime. A evidente degenerescência da actual democracia portuguesa não deixa lugar a muitas saídas.
É preciso valorizar a iniciativa empresarial e o conceito de empresa como espaço de diálogo e cooperação entre gestores e trabalhadores, captar e manter investimento de qualidade e aproveitar as vantagens comparativas de que Portugal dispõe.

É crucial aprofundar o potencial competitivo de sectores como a floresta, o mar, a cultura e o lazer, as indústrias criativas, o turismo e a agricultura, onde detemos vantagens naturais diferenciadoras. A redução do défice alimentar é um objectivo que se impõe levar muito a sério, tal como a remoção dos entraves burocráticos ao acesso da iniciativa privada à exploração económica do mar.
100% de acordo! Não é isto a essência da social-democracia? Que estranha praga atacou os corações ideológicos do PS e do PSD?
As iniciativas locais de emprego e os investimentos de proximidade são aqueles que podem produzir resultados de forma mais imediata e que melhor podem ser avaliados, reformulados ou reproduzidos.
100% de acordo. Mas não interessa à clientela que alimenta a federação partidária instalada.
Urge remover os obstáculos à reabilitação urbana, cujas potencialidades de criação de emprego e de promoção turística, embora há muito reconhecidas, permanecem em larga medida desaproveitadas.
100% de acordo. Mas é preciso mudar primeiro o paradigma do financiamento autárquico que imperou nas últimas décadas.
Não podemos privilegiar grandes investimentos que não temos condições de financiar, que não contribuem para o crescimento da produtividade e que têm um efeito temporário e residual na criação de emprego. Não se trata de abandonar os nossos sonhos e ambições. Trata-se de sermos realistas.
Porque será que o CDS de Portas, e o PSD de Passos de Coelho, leram nestas palavras “TGV”? Também poderiam ter lido novo aeroporto da Ota em Alcochete (ou embuste aeroportuário nº 2), mas não leram. Porque será? Também podiam ter lido novas SCUDs em projecto, mas não leram. Porque será? Também podiam ter lido novos hospitais PPP. Mas não leram. Porque será? Também podiam ter lido barragens. Mas não leram. Porque será? Cavaco percebeu e avisa que não há dinheiro. Já todos sabemos disso. Mas então porque insiste a direita, em vésperas de regressar ao poder, num último e desesperado assalto à riqueza nacional (ANA, portos, sistema de saúde, bacias hidrográficas, etc.), para desgraça de todos nós?
A nossa sociedade não pode continuar adormecida perante os desafios que o futuro lhe coloca. É necessário que um sobressalto cívico faça despertar os Portugueses para a necessidade de uma sociedade civil forte, dinâmica e, sobretudo, mais autónoma perante os poderes públicos.
A marcha para um presidencialismo menos mitigado já começou.
O País terá muito a ganhar se os Portugueses, associados das mais diversas formas, participarem mais activamente na vida colectiva, afirmando os seus direitos e deveres de cidadania e fazendo chegar a sua voz aos decisores políticos. Este novo civismo da exigência deve construir-se, acima de tudo, como um civismo de independência face ao Estado.
O populismo acabará por ir ter com Cavaco se os partidos insistirem no encapsulamento atávico dos seus privilégios.
Em vários sectores da vida nacional, com destaque para o mundo das empresas, emergiram nos últimos anos sinais de uma cultura altamente nociva, assente na criação de laços pouco transparentes de dependência com os poderes públicos, fruto, em parte, das formas de influência e de domínio que o crescimento desmesurado do peso do Estado propicia.
O populismo ameaça a Europa, mas não seremos capazes de o evitar, se a passividade de todos nós continuar a dar rédea solta aos piratas que tomaram de assalto a democracia.
É uma cultura que tem de acabar. Deve ser clara a separação entre a esfera pública das decisões colectivas e a esfera privada dos interesses particulares.
100% de acordo!
Os cidadãos devem ter a consciência de que é preciso mudar, pondo termo à cultura dominante nas mais diversas áreas. Eles próprios têm de mudar a sua atitude, assumindo de forma activa e determinada um compromisso de futuro que traga de novo a esperança às gerações mais novas.

É altura dos Portugueses despertarem da letargia em que têm vivido e perceberem claramente que só uma grande mobilização da sociedade civil permitirá garantir um rumo de futuro para a legítima ambição de nos aproximarmos do nível de desenvolvimento dos países mais avançados da União Europeia.
É preferível que o apelo venha de Cavaco, do que uma inesperada Le Pen Lusitana qualquer...
Necessitamos de recentrar a nossa agenda de prioridades, colocando de novo as pessoas no fulcro das preocupações colectivas. Muitos dos nossos agentes políticos não conhecem o país real, só conhecem um país virtual e mediático. Precisamos de uma política humana, orientada para as pessoas concretas, para famílias inteiras que enfrentam privações absolutamente inadmissíveis num país europeu do século XXI. Precisamos de um combate firme às desigualdades e à pobreza que corroem a nossa unidade como povo. Há limites para os sacrifícios que se podem exigir ao comum dos cidadãos.
Por mais cordatos e subtis que os actuais líderes parlamentares do PS e do PSD sejam, a verdade é que a política portuguesa se deixou corromper até à medula. Sem rupturas internas, de onde brotem porventura novos partidos, a gangrena que actualmente enche de pús a matriz partidária do regime acabará por liquidá-lo.
A pessoa humana tem de estar no centro da acção política. Os Portugueses não são uma estatística abstracta. Os Portugueses são pessoas que querem trabalhar, que aspiram a uma vida melhor para si e para os seus filhos. Numa República social e inclusiva, há que dar voz aos que não têm voz.
Somos um país cristão. Este pormenor, que a estúpida “esquerda” portuguesa ignorou até agora com arrogância ganhará, quando menos se esperar, a força de um magma imparável.
O exercício de funções públicas deve ser prestigiado pelos melhores, o que exige que as nomeações para os cargos dirigentes da Administração sejam pautadas exclusivamente por critérios de mérito e não pela filiação partidária dos nomeados ou pelas suas simpatias políticas.
Além do mais, a gula partidária revelou-se como uma monumental degenerescência do ideal democrático.
A coesão entre as gerações representa um importante activo de que Portugal ainda dispõe. Os jovens não podem ver o seu futuro adiado devido a opções erradas tomadas no presente. É nosso dever impedir que aos jovens seja deixada uma pesada herança, feita de dívidas, de encargos futuros, de desemprego ou de investimento improdutivo.
A pesada herança que esta democracia degenerada deixará à minha filha e ao netos que ainda não tenho é infelizmente um dado adquirido e inultrapassável. Só esta responsabilidade sinistra move a minha indisfarçável ira.
É fundamental que a sociedade portuguesa seja despertada para a necessidade de um novo modo de acção política que consiga atrair os jovens e os cidadãos mais qualificados. O afastamento dos jovens em relação à actividade política não significa desinteresse pelos destinos do País; o que acontece, isso sim, é que muitos jovens não se revêem na actual forma de fazer política nem confiam que, a manter-se o actual estado de coisas, Portugal seja um espaço capaz de realizar as suas legítimas ambições. Precisamos de gestos fortes que permitam recuperar a confiança dos jovens nos governantes e nas instituições.
Acredito, senhor presidente (que asperamente critiquei, e em que continuo a depositar fracas esperanças), que não só a pobreza cruzou já o Mediterrâneo em direcção à Europa, mas ambém a revolta vem a caminho!
Seria extremamente positivo que os jovens se assumissem como protagonistas da mudança, participando de forma construtiva, e que as instituições da nossa democracia manifestassem abertura para receber o seu contributo. A geração mais jovem deve ser vista como parte da solução dos nossos problemas.
Fá-lo-ão, sobretudo a partir da nova Diáspora a que a nomenclatura bem sentada deste regime condenou centenas de milhar de portugueses ao longo dos últimos vinte anos.
Os nossos jovens movem-se hoje à escala planetária com uma facilidade que nos surpreende. Cidadãos do mundo, familiarizados com as novas tecnologias e a sociedade em rede, dispõem de um capital de conhecimento e de uma vontade de inovação que são admiráveis. Muitos dos académicos, investigadores, profissionais de sucesso e jovens empresários que trabalham no estrangeiro aspiram a regressar ao seu país, desde que possuam condições para aqui fazerem florescer as suas capacidades. Temos de aproveitar o enorme potencial desta nova geração e é nela que deposito a esperança de um Portugal melhor.
Uma vez mais, para que às galinhas cresçam dentes é preciso introduzir a ideia de mérito em Portugal.
Foi especialmente a pensar nos jovens que decidi recandidatar-me à Presidência da República. A eles dediquei a vitória que os Portugueses me deram. Agora, no momento em que tomo posse como Presidente da República, faço um vibrante apelo aos jovens de Portugal: ajudem o vosso País!
Este compromisso é talvez o momento crucial da tomada de posse presidencial.
Façam ouvir a vossa voz. Este é o vosso tempo. Mostrem a todos que é possível viver num País mais justo e mais desenvolvido, com uma cultura cívica e política mais sadia, mais limpa, mais digna. Mostrem às outras gerações que não se acomodam nem se resignam.
Dito assim, tão claramente, não tem volta atrás.
Sonhem mais alto, acreditem na esperança de um tempo melhor. Acreditem em Portugal, porque esta é a vossa terra. É aqui que temos de construir um País à altura das nossas ambições. Estou certo de que, todos juntos, iremos vencer.
Coragem, senhor Presidente!

quinta-feira, março 10, 2011

Parque Escolar e lóbi do betão

A arquitectura e as suas vítimas


Parque Escolar. Consumos energéticos triplicaram nas escolas requalificadas
Salas de aulas aquecidas no Inverno e frescas no Verão, quadros interactivos e retroprojectores em todas as salas, um computador para cada dois alunos, são só algumas das regalias que entraram em centenas de estabelecimento de ensino que foram requalificados pela empresa pública Parque Escolar. Só que a modernidade tem um preço alto. Em média, os consumos de água ou de energia eléctrica nas escolas que foram alvo de obras duplicaram ou triplicaram, fazendo disparar a factura mensal. Parque informático, climatização ou iluminação exterior instalados nestas escolas são actualmente um monstro guloso, que consome milhares de euros todos os meses — i (7 mar 2011).

A operação Parque Escolar, de Sócrates, foi mais uma demonstração de novo-riquismo e da corrupção de um regime que nunca soube nem sabe quanto custa o dinheiro. Empreiteiros, arquitectos, engenheiros e burocratas formam uma nomenclatura indecorosa e irresponsável, para quem a palavra sustentabilidade, economia de meios e de usos, e bom-senso, nada dizem. No caso da operação Parque Escolar, o escândalo é mesmo criminoso!

A legislação sobre obras e edifícios públicos foi desenhada e escrita para alimentar a economia estúpida e corrupta que nos levou à actual bancarrota. A primeira coisa a fazer no próximo governo é alterar semelhante aborto legislativo de alto a baixo.

A democracia degenerada que sucedeu à ditadura assenta em quatro pilares:

1. a família endogâmica do poder político (que engordou nos últimos 30 anos pela via partidária), 2. uma imensa e inútil burocracia, 3. uma elite económico-financeira clientelar, monopolista e protegida pelo Estado, 4. as corporações profissionais

Percebemos agora que o que mudou no 25 de Abril foi tão só uma parte muito pequena, e rapidamente integrada, da família endogâmica do regime — chamada partidos políticos. Tudo o resto se manteve (com outras fatiotas) como antigamente enquanto as ajudas comunitárias permitiram disfarçar a perda definitiva do império colonial.

Mas a ilusão terminou, e até 2015, seiscentos anos depois da conquista de Ceuta, estaremos como na crise de 1383-85: completamente falidos, à rasca, com o povo na rua... mas sem ingleses, nem galegos, nem biscainhos, para nos ajudar! Como se a tragédia à vista não fosse o que é (uma tragédia), temos ainda em curso uma emigração sem precedentes desde o século 19, na qual se inclui boa parte dos melhores licenciados, mestres e doutores do país.

Se as nossas desmioladas e preguiçosas elites e a corja partidária julgam que vão manter-se à tona do problema brincando alegremente com os seus jogos de retórica parlamentar e televisiva, desenganem-se!

quarta-feira, março 09, 2011

Betão e sucata

Uma casa e mais de um automóvel por cada dois portugueses



A bolha rebentou ao fim de vinte anos de crescimento virtual, especulativo e efémero. E a culpa é, efectivamente, dos políticos. Se não, para que servem e foram eleitos?

A receita, simples, surgiu originalmente para responder aos desafios do pós-guerra do final da década de 1940. Chamava-se o sonho americano: uma casa suburbana, um automóvel, televisão, centros comerciais e fast-food — o círculo perfeito de um capitalismo suportado por energia barata, um imbatível poderio militar e crédito virtualmente ilimitado. Chegou a Portugal com trinta anos de atraso, e duraria menos de três décadas.

Disto mesmo se deu conta Pedro Bingre do Amaral num estudo realizado para ajudar a fundamentar o enquadramento da Nova Lei de Solos, encomendado pelo Ministério do Ambiente e do Ordenamento do Território — “Análise das relações da política de solos com o sistema económico”.

Resumindo algumas das suas conclusões, publicadas pelo Expresso desta semana, em artigo de Carla Tomás, ficamos a saber que temos em Portugal mais de cinco milhões de casas, para uma população de 10,6 milhões, ou seja, um lar por cada duas pessoas. Nos últimos vinte anos construíram-se 80 mil alojamentos por ano, o equivalente a vinte cidades do tamanho de Coimbra, dispersas de forma inconcebível pelo território. Destas casas todas, porém, milhão e meio estão vazias.

Seja como for, o óbvio é que ultrapassámos larga e estupidamente as nossas necessidades em matéria de parque imobiliário doméstico, faltando apenas dizer que tanta compra implicou um endividamento privado (de particulares e empresas) na ordem dos €169 mil milhões, quando o PIB era de €180 mil milhões.

O autor do estudo, professor do Instituto Politécnico de Coimbra, afirma claramente que “houve uma bolha imobiliária portuguesa, ao nível da construção, que rebentou em 2006-2007”.

Uma das consequências desta deflação repentina está à vista de todos: a construção civil de novos edifícios praticamente parou. Outra, menos visível, detectada pelo estudo, é esta: “o valor do parque habitacional português (médio e baixo) poderá continuar a esboroar-se, atingindo os 85% em 2050” — a mais acentuada depreciação entre as economias ocidentais. Assim sendo, uma casa comprada por €200 mil (sobretudo em zonas suburbanas e mal servidas de transportes colectivos) poderá valer pouco mais de €30 mil daqui a quatro décadas. Os compradores e os bancos que sobreviverem a esta crise terão então pago muito caro a euforia iniciada no tempo do governo de Cavaco Silva.

Os bancos portugueses estão de tal modo assustados com esta situação que se recusam a aceitar as desvalorizações realistas dos imóveis —sugeridas por empresas especializadas— para efeito de execuções imobiliárias e outros contenciosos com construtores e proprietários hipotecados. A sua motivação é compreensível, mas totalmente inútil e mesmo contraproducente: querem evitar a todo o custo a desvalorização dos seus activos, que por sua vez foram dados como garantia dos vultuosos empréstimos que obtiveram dos mercados financeiros nacionais e internacionais. Mas a lei da oferta e da procura, que tanto acarinham, não pode ser suspensa quando convém, e fazendo esta o seu caminho, acabará por destruir parte significativa dos activos de bancos, construtoras e profissionais da arquitectura, da decoração e da engenharia civil. Uma pergunta pertinente que devemos fazer neste momento ao Estado é esta: para quem irão trabalhar os profissionais da construção civil nas próximas duas ou três décadas?

Um fenómeno semelhante ocorreu com os automóveis. Há mais de 5,7 milhões de veículos ligeiros no nosso país, ou seja, uma viatura por cada dois portugueses. Para servir e estimular a compra de mais automóveis, e sobretudo para alimentar uma indústria e um capitalismo pouco sofisticados, Estado, bancos e empresas endividaram-se até à desgraça, para construir uma das maiores e mais luxuosas redes de autoestradas por habitante e por área existentes na União Europeia. Resultado: o actual regime político hipotecou a sorte e o futuro dos seus filhos e netos, em nome da ganância e preguiça mental de uma democracia populista iludida pela mancha de demagogos eleitos que alastrou pelo país como autêntica nódoa civilizacional.

Viciados no dinheiro fácil, na irresponsabilidade e na prepotência, os mesmos que conduziram o país à bancarrota insistem ainda, obcecadamente, desesperados, com se nenhuma metadona os pudesse salvar, na tecla do betão e do automóvel. Como as casas já não se vendem, e os deputados europeus viram, escandalizados, as nossas autoestradas vazias, BES, Brisa, Mota-Engil e outros tantos piratas, querem agora um outro brinquedo para estragar, como estragaram tudo o resto onde tocaram. Esse brinquedo chama-se Novo Aeroporto de Lisboa. Ficará, se deixarmos, em Alcochete, e terá à sua volta uma cidade aeroportuária à imagem e semelhança dos devaneios bem pagos do senhor Augusto Mateus.

Só mesmo Angela Merkel nos poderá livrar desta corja!

terça-feira, março 08, 2011

Contagem decrescente

Geração Y exige mudança. 
Vai ser um verdadeiro choque tecnológico!



Depois dos Deolinda, vieram os Homens da Luta, e agora a interrupção descarada e corajosa de mais um discurso mitómano, demagogo, populista, mentiroso e cínico do indecoroso vendedor de banha da cobra que elegemos para primeiro ministro de Portugal — José Sócrates Pinto de Sousa.

Os da minha geração, e os da geração anterior, estão assustados! Porquê, pergunto-me? Não têm filhos e filhas, como eu? Ou será que os seus filhos e filhas não lhes fazem perguntas? A menos que os borrados de medo que em fila indiana entopem os canais velhos da comunicação social com ataques verbais à geração Y tenham todos metido as necessárias cunhas familiares e partidárias para salvaguardar o futuro dos seus entes queridos, decerto terão percebido já que a juventude está mesmo à rasca e entalada, entre a ilusão vazia da qualificação e das novas oportunidades, e a realidade negra do emprego precário e mal pago. A festa do consumo acabou, o país está na bancarrota, e o pior ainda está, obviamente, para vir.

Preparem-se pois, reaccionários do maio de 68, para uma nova revolução — desta vez à velocidade dos blogues (blogue da Geração à Rasca no Wordpress), dos e-mails, do Facebook e do Twitter!

Dia 12 de março haverá, ao que tudo indica (Público) manifs em pelo menos dez cidades portuguesas. A contagem decrescente deste regime já começou.

Uma democracia degenerada a caminho da cleptocracia

Novo Aeroporto: Brisa diz que projeto é a "frente mais importante" na diversificação do negócio em Portugal—Expresso.
 Só mesmo num país do terceiro mundo, falido, corrupto e sem vergonha, é que se admite a hipótese de uma velha família do capitalismo parasitário salazarista (o Grupo Mello), que nada fez ou faz pelo país, se não conduzi-lo, com outros, à bancarrota, arrogar-se o direito de receber do Estado que, com outros piratas capturou, tudo o que este tem de mais rentável.

Primeiro, os Mello expropriaram-nos (sob a designação falaciosa de "privatização") o negócio público lucrativo das autoestradas. Depois, atiraram-se à mina da saúde, através de PPPs escandalosamente ruinosas para o erário público. Agora, com a maior desfaçatez, querem ficar com todos (repito: TODOS!) os aeroportos do país, através da privatização da entidade que os administra com lucro (a ANA); e certamente, também, com os terrenos da Portela. Tudo isto a troco da construção (e exploração, claro) dum elefante branco chamado Novo Aeroporto de Lisboa, em Alcochete.

Para acontecer tamanho ataque ao bem público, o Estado terá então que perder as receitas avultadas e garantidas da ANA, e desfazer-se quer dos terrenos da Portela, quer da TAP. Um grande dispêndio, portanto, por parte dum país na bancarrota. Que diz o senhor Portas sobre isto? Nada! Que diz o senhor Passos de Coelho sobre isto? Nada! Que diz o Pinóquio sobre isto? Nada!

Ou seja, o Grupo José de Mello quer fazer um novo aeroporto desnecessário e de duvidosa viabilidade económica, a troco da ANA, dos terrenos da Portela e da TAP, recebendo ainda, certamente, generosos empréstimo do BEI. Que pensará o senhor Cravinho disto? Que opina o professor Marcelo sobre isto?

E se no fim tudo correr mal, como necessariamente correrá se o Bloco Central da Corrupção autorizar semelhante roubo e destruição do bem comum? Ficarão os Mello com bons terrenos para especulação? Stanley Ho sofreu desta mesma ilusão a propósito da Alta de Lisboa —um flop completo!

E se os terrenos da desactivada Portela, ou os terrenos do ruinoso NAL, nem para especular servirem? Fará a Caixa Geral de Depósitos o mesmo que fez com o BPN? Isto é, tapar um novo e gigantesco buraco financeiro privado, em nome do interesse nacional?! Poderá o governo de turno fazer o favor de expropriar, pela via fiscal, os cidadãos, em nome de um serviço público arruinado pela ganância previsível de um dos mais típicos exemplares da nossa burguesia parasitária e burocrática? Tenho as maiores dúvidas.

Para que precisamos de parlamento, governo ou presidente da república, se deixarmos que estes cenários de indigência continuem a exibir-se de forma tão pornográfica? Será assim tão difícil perceber que, se permitirmos mais este assalto e inacreditável abuso de poder económico por parte de uma família sem escrúpulos, continuaremos a destruir a democracia, e a abrir caminho a uma plutocracia, contra a qual, mais cedo ou mais tarde, o povo voltará a revoltar-se?

segunda-feira, março 07, 2011

Colapso em abril?

O governo de Sócrates poderá soçobrar já em abril, mais precisamente quando a Refer tiver que lançar nova operação de endividamento para pagar 300 milhões de euros de créditos vencidos. Esta é uma hipótese provável por quatro ordens de razões:
  1. a Refer abortou recentemente uma operação de endividamento para pagamento de dívida madura (1), e nada garante, antes pelo contrário, que uma nova tentativa venha a ter sucesso, sobretudo tendo em conta os últimos desenvolvimentos da crise económica e energética mundial;
  2. a cimeira europeia de 24-25 de março, sobre competitividade na Eurolândia, pode ditar o fim, a curto prazo, das compras indirectas de dívida soberana por parte do Banco Central Europeu (BCE);
  3. a subida anunciada da taxa de juro de referência do BCE , actualmente em 1%, irá agravar ainda mais os encargos com as sucessivas emissões de dívida pública portuguesa previstas, e aumentar inevitavelmente o já elevadíssimo desemprego, com a consequente pressão sobre os salários (ver post de Paul Krugman) e o inevitável crescimento das tensões sociais.
  4. a liquidez disponível do país é da ordem dos 4 mil milhões de euros, mas já em abril próximo será preciso pagar mais do que isto pela dívida obrigacionista de longo prazo que vencerá nessa data (2).
O PS de Sócrates já anda a preparar o PSD de Passos de Coelho para um novo pacote de medidas de austeridade. Até agora Passos de Coelho tem vindo a cair nas sucessivas armadilhas de envolvimento criadas pelo indecoroso governo do mitómano das Beiras. Está tão borrado de medo que é provável que venha a engolir mais um sapo cor-de-rosa! E no entanto, como escreve Álvaro Santos Pereira, o governo ainda tem muito por onde cortar (3), antes de impor mais sacrifícios aos portugueses.

Mas para aqui chegarmos será preciso desarticular previamente o actual Bloco Central de Interesses — o que, prevejo, só à força de manifestações, cada vez mais duras, acabará por acontecer.

ÚLTIMA ACTUALIZAÇÃO: 8 mar 2011, 0:36

NOTAS
  1. According to the central bank, Portuguese banks have not succeeded in making an international debt issue since April 2010. Net bond issues by banks in the first nine months of 2010 were insufficient to offset bonds maturing in the same period.

    Refer is Portugal’s most highly indebted state company with total debt of just below €6bn at the end of 2010, according to company reports. Analysts estimate its financing needs this year at €800m, including the redemption of a €300m bond that matures in April.

    Analysts estimate the total financing needs of Portugal’s state-owned companies at more than €3.8bn this year — in Portugal rail operator stalls on €500m bond. By Peter Wise in Lisbon and Anousha Sakoui in London. Published: March 3 2011 20:21 FT.com.

  2. Portugal has cash on hand of about €4 billion ($5.5 billion). Next month it must spend more than that to repay one of its long-term bonds, part of the €20 billion it will need this year to repay debt and cover its ongoing deficit, and for which it will have to pay around 7%, an interest rate that most observers agree is unsustainable — in One-Size Monetary Policy Rarely Fits All — in WSJ.com .

  3. Do lado das despesas há muito por onde cortar. Em primeiro lugar, podemos cortar 10% dos consumos intermédios do Estado. Estas aquisições de bens e serviços têm vindo a aumentar muito nos últimos anos e são um dos reflexos do excessivo despesismo do nosso Estado. Em segundo lugar, poderíamos efectuar uma redução entre 10% e 15% das despesas de todas as entidades e organismos públicos não essenciais. Segundo os meus cálculos, poderíamos obter poupanças entre 500 e 1000 milhões de euros se reduzíssemos as despesas de 60 destes organismos não ligados à Saúde e à Educação. Em terceiro lugar, podíamos levar a cabo uma verdadeira reforma do Estado que, a médio prazo, desse azo à fusão e extinção entre 30% e 50% de todas as entidades e organismos públicos. Em quarto lugar, poderíamos cortar entre 10% e 20% dos encargos gerais do Estado, nos quais se incluem o governo, a presidência da República, a Assembleia da República, o Tribunal de Contas, entre outras entidades. A extinção dos governos civis também deveria acontecer. Em quinto lugar, poderíamos cortar os apoios e créditos fiscais a muitas das centenas de fundações que o nosso Estado apoia — in Austeridade ou não, eis a questão. Desmitos.

sábado, março 05, 2011

EDP sob a mira dos mercados

Este foi seguramente o primeiro canal de comunicação a chamar a atenção para o endividamento estúpido da EDP, e para as fragilidades e manobras de propaganda barata do seu cabotino líder.

O BPI, segundo o Negócios Online de 4 Março 2011, vem finalmente avisar que a “...EDP pode ser uma armadilha de valor”. Os especuladores, o estado português e os partidos, estão pois formalmente alertados para a bomba-relógio que o endividamento aventureiro da principal energética nacional representa, não só para a sua autonomia empresarial, mas mais importante, para a eficiência, sustentabilidade e preço da energia de que o país precisa como de pão para a boca.

O mundo pobre começou um levantamento à escala planetária sem precedentes, em larga medida provocado pela subida imparável do preço do pão e da alimentação básica em geral. O mundo "rico" não deixará de lhe seguir os passos, assim que o preço da energia ultrapassar um determinado limiar.

Ninguém sabe exactamente qual será esse limiar. Recomenda a prudência que façamos tudo o que for necessário para não chegar a saber.

Os três primeiros passos a dar, na minha opinião, são estes:
  1. assumir urgentemente o controlo político, democrático e transparente, do sistema energético nacional, renacionalizando a maioria do respectivo capital (independentemente do que pensam os imbecis neoliberais de Bruxelas e de Frankfurt);
  2. lançar imediatamente (i.e. no prazo máximo de seis meses) um plano de estratégia e eficiência energética para o nosso país, capaz de reduzir de forma abrupta os escandalosos desperdícios de energia da nossa economia, das nossas cidades e do Estado. Desde logo, toda a legislação sobre obras e edifícios públicos, em matéria de escala, sustentabilidade económica e eficiência energética terá que ser imediata e radicalmente alterada (pois a que existe foi pensada e escrita para suportar a aliança criminosa entre betão e Estado);
  3. alterar radicalmente o nosso sistema de mobilidade e transportes, dando prioridade absoluta ao transporte colectivo (nomeadamente sobre carris), à energia eléctrica, à sociedade electrónica (para reduzir a mobilidade física), e ao reforço e protecção das cinturas agrícolas em volta das cidades (para diminuir o preço do transporte incorporado nos custo dos alimentos).
O crescimento e o desenvolvimento económico não podem continuar a ser medidos pelo consumo.

Esta foi uma aberração que durou enquanto durou o petróleo barato, o colonialismo, e a capacidade de as economias americana, europeia e japonesa imporem ao mundo uma abundância financeira fictícia, que se veio a revelar cada vez mais virtual e destrutiva.

A economia de um país tem que ser medida, em primeiro lugar, pela sua robustez estratégica (demográfica, energética, alimentar), pela capacidade própria de produção de bens transaccionáveis, e pela sua balança de transacções comerciais com o resto do mundo.

O consumo, em vez de ser um factor de enviesamento das estatísticas, deve passar a medir o equilíbrio social e a eficiência económica de cada país. Quem consome mais do que tem, ou pior ainda, o que não tem, nem tem condições para vir a ter, caminha inexoravelmente para a escravidão, ou para o suicídio.

Portugal está cada vez mais próximo deste dilema existencial. Talvez por isto, ultimamente, um número crescente de políticos começou anunciar a necessidade de uma mudança de regime (Manuel Maria Carrilho, Rui Rio, Pedro Santana Lopes). Temo-lo defendido há anos a esta parte, prognosticando que o PS e o PSD não sobreviverão intactos à inevitável metamorfose da democracia degenerada para onde deixámos resvalar o enorme capital de esperança criado pela queda da ditadura, em 1974.

A hora é de coragem e criatividade. As gangrenas que não são estancadas a tempo levam à perda, a princípio espaçada, dos vários membros do corpo. Quando finalmente se percebe a dimensão da tragédia, é tarde demais.

POST SCRIPTUM — Publicidade paga? Li no Expresso desta semana uma entrevista a António Mexia. Se o tamanho e destaque dos lençóis impressos não são propaganda descarada, parece. Doutro modo, como se explica que no quadro onde Pedro Lima e Vítor Andrade escarrapacharam o que chamam "Principais Indicadores dos Últimos Cinco Anos", não conste, nem a subida imparável do endividamento da empresa, nem a descida contínua das acções, nomeadamente da EDP Renováveis? Há uma coisa no mundo dos média chamada publireportagem. Convém chamar os bois pelos nomes!