quinta-feira, março 31, 2011

Amigos, amigos...

Brasil prefere EDP às obrigações virtuais
Era a este tipo de garantias que Dilma Rousseff se referia ao falar em "ajudar" Portugal... Mas esperem pela pancada espanhola!

Com activos conjuntos no Brasil, o interesse do grupo estatal brasileiro poderá passar pela compra de até 10% (da EDP)

O Estado português detém 25% do capital da eléctrica liderada por António Mexia.

A empresa terá contratado o Citibank para avaliar e analisar os números da companhia portuguesa e a estimativa é que o negócio fique perto de 600 milhões de euros (1.300 milhões de reais). Económico.

As carcaças ainda frescas da nossa economia devastada pela inépcia, irresponsabilidade e corrupção da nomenclatura partidária, financeira e corporativa instalada, são proteína irresistível para quem tem reservas, recursos e interesses estratégicos no nosso país: Brasil, Angola, Reino Unido, Canadá... Estados Unidos.

O nosso problema é que o número de carcaças frescas com alguma carne agarrada aos ossos é insuficiente para o buraco do nosso colectivo endividamento. Os 600 milhões de euros que a Eletrobras, empresa energética estatal brasileira, poderá vir a meter na EDP, comprando 10% da participação estatal portuguesa na empresa (e assim financiando indirectamente a nossa dívida pública), nem sequer chegam para duas barragens … quanto mais para as 11 que querem construir; e já nem falo do passivo acumulado da empresa portuguesa: mais de 18 mil milhões de euros!

Não deixa de ser curioso que, para sair da bancarrota em que estamos, algumas empresas portuguesas estratégicas, essenciais do ponto de vista do serviço público, se arrisquem a ser comidas por empresa estatais de outros países. É, a bem dizer, uma nova forma de colonização a que estaremos sujeitos se não houver quem se oponha a tamanha capitulação.

A nossa melhor saída do colapso para onde nos levaram não será certamente vender o sangue, os rins e os pulmões da nossa economia!

A única solução inteligente e decente passará inevitavelmente por uma lipoaspiração ao Estado, por baixar os impostos que afectam a produção de bens transaccionáveis e as exportações, e pela redefinição do Estado Social. Este terá que transformar-se, a muito curto prazo, num estado transparente e eficiente, onde o perímetro da sua presença na saúde, na educação, na burocracia e na economia seja radicalmente circunscrito. Precisamos de uma visão estratégica sobre as universidades, e sobre os serviços de saúde, delimitando drasticamente o que devem ser obrigações estratégicas da comunidade, e deixando à iniciativa privada, cooperativa e comunitária tudo o resto.

Mas para isto, claro, será preciso mudar de regime e fazer uma revolução!

Guerra contra o euro

Agências de rating atacam ferozmente o sistema monetário europeu, em nome do dólar e da libra
No entanto as economias americana, canadiana e britânica estão tão ou mais falidas do que a da Eurolândia!




Fitch avisa que cortará rating de Portugal se FMI não intervier

A agência Fitch deixa mais um aviso, peremptório, a Portugal: se o Estado não for socorrido pela União Europeia e pelo FMI, o rating da dívida soberana nacional pode baixar ainda mais em breve. Público.

Juros a subir. Mantém-se a pressão sobre Portugal

Ontem, a Fitch ameaçou baixar o rating de Portugal se o país não recorresse à ajuda externa e cortou a avaliação da Caixa Geral de Depósitos. Hoje, a Moody’s admite cortar a qualidade da dívida dos países da Zona Euro. RR.

Reestruturar a dívida em vez de pedir resgate “protege os contribuintes”

Raoul Ruparel, analista britânico do Open Europe, acredita que esta é a melhor opção, porque, desta forma, a factura era repartida também pelos investidores e não só pelos contribuintes europeus. RR.

Há dois problemas separados: o endividamento privado e soberano dos EUA/Canada e da Europa, e a guerra financeira $/£ vs. €. O primeiro é um buraco negro = +10x PIB mundial; o segundo, diz respeito a saber quem cai primeiro: se o euro, se o par dólar/libra.

Como as agências de notação financeira são anglo-americanas, percebe-se como esta artilharia pesada está a ser usada contra o euro. Foi percebendo este facto, aqui abordado várias vezes, que o nosso governo resolveu apostar no efeito dominó como estratégia de protecção, invocando a responsabilidade da Alemanha. Se nós cairmos, cai a Espanha, e caindo a Espanha, cai a Itália, a Bélgica e a própria França... Ou seja, seria a morte do euro!

Na realidade, se Portugal resistisse até Agosto, creio que seriam os americanos, ingleses, e as economias atreladas ao dólar a bater com os dentes na calçada. Daí que, apesar de tudo, a estratégia de resistência de Sócrates acabe por fazer sentido!

Sócrates poderá, pois, fazer depender um pedido formal de resgate da dívida portuguesa dum acordo prévio expresso de todos os partidos com assento parlamentar, bem como do próprio presidente da república. Ou então, deixar entrar o pais em bancarrota, propor depois uma reestruturação da dívida, e negociar directamente com os credores, ainda que com a mediação do BCE e do FMI. Seria, por assim dizer, a versão portuguesa do modelo revolucionário de reestruturação da dívida soberana seguido pela Islândia!

Cavaco e Passos de Coelho têm que ter mais cuidado no modo como pretendem defender o interesse nacional. Começando, desde logo, por esclarecer a sua posição sobre o pedido de resgate.

Eu já não posso ver o Pinóquio à frente, mas neste ponto particular, a sua estratégia é capaz de estar certa!


ÚLTIMA ACTUALIZAÇÃO: 31-03-2011 14:02

quarta-feira, março 30, 2011

Governo escondeu buraco do BPN

A pergunta é: porquê?



Eu tenho uma teoria: a tríade de Macau negociou o BCP pelo BPN. E que roube o melhor! A Caixa, essa, financiou o assalto de um e o buraco de outro. Uma cleptocracia no seu melhor.

Como avisámos a tempo e horas, a Caixa, por causa destas e doutras, há muito que caminhava para imparidades inexplicáveis. Os "mercados", entretanto, acordaram, e o resultado é mais do que previsível: mais um banco a caminho do lixo.

Quando o PSD quiser privatizar alguma coisa (a TAP, a Caixa Geral de Depósitos, as Águas de Portugal, a CP, o Metro, ou as PPPs) descobrirá, horrorizado, que ninguém compra empresas falidas com passivos monumentais —frutos apodrecidos de má estratégia, má gestão, excesso de trabalhadores e obrigações sociais financiadas por um estado igualmente na bancarrota.

Foi isto que a nova presidente do Brasil explicou, em palavras cristalinas como água, à prole aflita que a rodeava hoje em Coimbra — e de que as palavras do mitómano casmurro que ainda ocupa o cargo de presidente do governo são a melhor ilustração.

A queda de um pinóquio

Sócrates: “Calma, pá! Temos muitas oportunidades de falar.”



Enquanto os socialistas mais indigentes prestam homenagem ao vigarista que conduziu alegremente Portugal à bancarrota, o ainda mitómano primeiro ministro anda literalmente de cabeça perdida.

Como um qualquer adolescente apavorado com a perspectiva de perder o telemóvel, na verdade, José Sócrates não passa de uma caricatura deprimente do estado a que chegou a nossa democracia. E quem a ele se agarra de forma tão miserável, mais dó ainda me dá.

terça-feira, março 29, 2011

E o BPN, pá?

O BPN é a face cristalina desta democracia degenerada



Marketing de guerrilha pode inspirar novas formas de acção política. E nós, pá? E o nosso trabalho, pá? E o nosso dinheiro, pá? E a nossa vida, pá?

Apesar do ponto fraco desta iniciativa e do blogue que a promove ser o anonimato, reproduzimos o respectivo manifesto. Há sempre a possibilidade de esta acção não passar de uma manobra de contra-informação, no caso, visando limitar a acção de Cavaco Silva e do PSD. Esperemos que não, i.e. que seja genuína.

É o povo, pá! — Publicado em Março 28, 2011 por eopovopa

Quem somos
Não importa quem somos, mas aquilo que nos junta. Somos gente farta da falta de oportunidades e cansada do discurso mentiroso que afirma «não há outro caminho». Somos gente cujo investimento e sacrifícios dos pais na nossa educação resultou em desemprego e precariedade e ofende-nos ouvir dizer que a culpa da nossa precariedade é dos direitos que a geração deles conquistou. Somos gente que defende o trabalho digno e com direitos, independentemente da idade e habilitações literárias. Somos gente que está farta de ter a vida congelada e o futuro, nosso e dos nossos filhos, adiado. Porque não nos resignamos, protestamos. Exigimos respeito e reclamamos o direito à dignidade e ao futuro.

Ao que vimos
Vimos dizer que não nos comem por parvos. Não aceitamos o discurso que nos impõe a precariedade como forma de organização do trabalho. Desconfiamos de quem nos diz que «tem que ser assim» e «este é o único caminho» acenando com a chantagem da falta de patriotismo. Este país também é nosso e temos direito a cá viver e trabalhar. Exigimos pluralidade de opiniões porque sabemos que é nesse confronto que se encontram caminhos. Não aceitamos o pensamento único e sabemos que chegámos até aqui porque foram feitas escolhas: decidiram converter as pessoas em clientes e contribuintes. Nós dizemos que essas escolhas são erradas.

Porquê o BPN
Quando falamos do buraco nas contas públicas deixado pelo BPN referimo-nos a cerca de 6500 milhões de euros, ou seja, a mais de 13 milhões de salários mínimos, mais de um salário mínimo por cada habitante deste país.

A Caixa Geral de Depósitos enterrou directamente no BPN cerca de 4600 milhões de euros, a somar aos 2000 milhões de euros em imparidades (activos tóxicos), o que perfaz cerca de 4% do PIB. Explicitando: este valor assemelha-se ao encaixe total que o Estado português prevê fazer com o plano de privatizações. Dito de outra forma, assemelha-se ao valor previsto pelo plano de austeridade de 2010, em que para o cumprir foram necessários os PEC, mas também o fundo de pensões da PT, no valor de 1600 milhões de euros. Este é o valor da factura que todo nós estamos a pagar.

Quase três anos após a falência do BPN, podemos dizer que aquilo que estamos a pagar é a fraude,a promiscuidade entre a política e a finança, a cumplicidade e a troca de favores, os offshores, a evasão fiscal. Enfim, estamos a pagar o preço de um crime que não cometemos.

O caso BPN configura o processo de desagregação do Estado democrático, onde se salvam os accionistas e as entidades reguladoras, onde se escolhe salvar os activos nacionalizando os prejuízos à conta dos impostos que pagamos. O caso BPN diz-nos que em Portugal a fraude compensa e, quando esta vence, a democracia perde. Portugal está transformado num país onde há Estado máximo para alguns e Estado mínimo para quase todas as outras pessoas.

Quando nos dizem que o tempo é de sacrifícios , sabemos que a sua distribuição não é justa nem democrática. Quem escolhe salvar Bancos para salvar amigos legitima a corrupção. Para o fazer, corta onde é mais necessário: nos serviços públicos e nas prestações sociais.

Não nos falem de austeridade, falem-nos de  justiça.

Blogue de acção política E o povo, pá?

segunda-feira, março 28, 2011

Pela maioria

Já tínhamos batido contra a parede. Só que a representação mediática do evento decorreu em "slow motion"...

Standard&Poor's corta rating a 5 bancos portugueses
O Santander Totta passa assim de A/A-1 para BBB/A-3, a Caixa Geral de Depósitos passa de A-/A-2 para BBB/A-3, o BES e o BESI de A-/A-2 para BBB/A-3, o BPI de A-/A-2 para BBB/A-3, o BCP de BBB+/A-2 para BBB-/A-3. DN Economia, 28-03-2011.

Sondagem TVI: PSD venceria legislativas mas sem maioria absoluta
Se as eleições legislativas ocorressem hoje, o PSD seria o partido vencedor com 42,2 por cento dos votos, mais 9,4 pontos percentuais que o PS alcançaria (32,8), indica uma sondagem Intercampus para a TVI, a primeira avançada desde a demissão do Governo. Mas o partido de Passos Coelho não conseguiria uma maioria absoluta e para isso teria de se unir ao CDS-PP. Juntos chegariam aos 50,9 por cento dos sufrágios. Público, 28-03-2011.

Sem um governo de maioria, por mais mal que cheire, o país entrará em colapso económico e social. O colapso financeiro já se deu.

O presidencialismo mitigado do nosso regime constitucional vai finalmente ter que assumir uma face proeminente.

Quer a Alemanha volte as costas ao euro (tragédia n.1), quer coloque os PIGS em quarentena, forçando-os a uma saída temporária da moeda única, ou a uma queda brutal dos rendimentos do trabalho, na ordem dos 30% (tragédia n.2), a verdade é que estamos numa situação de emergência indisfarçável.

Uma maioria de esquerda, entre o PCP, Bloco e PS, seria um desastre completo, não por estes partidos serem de esquerda, mas por serem burocracias partidárias de estado, que odeiam a propriedade privada, a liberdade criativa e a produção — bens que preferiram trocar pela apropriação fiscal da riqueza disponível, em nome de uma igualdade social fictícia, que apenas serviu para manter e potenciar o velho corporativismo de Salazar, vestido, nos últimos trinta e tal anos, com uma toga democrática. O que faltou entre 25 de Abril e 25 de Novembro não foi a tal revolução socialista, que nunca esteve, de facto, na agenda, mas uma revolução democrática a sério. As castas mantiveram-se, dando uma côdea ao povo, e virando a casaca. Nada mais. É por isto que a nossa democracia degenerou e se aproxima fatalmente dum estado falhado e de uma cleptocracia. Não pensem que estou a exagerar.

Que podemos esperar agoral? A trajectória de Passos de Coelho está neste preciso momento a ser minada e objecto de ataques públicos sucessivos por parte dos seus próprios correlegionários! O PS pirata de Sócrates promete a terra queimada. Bloco e PCP continuam a falar e agir como zombies do marxismo-leninismo (não chamem Léon Trotsky para este filme, por favor!) Temo o pior...

O presidente da república deveria falar quanto antes ao país, e dizer claramente que não deixará o actual governo demissionário de Sócrates fazer mais estragos, nem agir como máquina de propaganda na campanha eleitoral que já começou.

Cavaco Silva deve também esclarecer o país que não empossará nenhum próximo governo minoritário. Ou seja, deverá dizer claramente aos eleitores que lhes cabe assegurar uma próxima maioria governativa.

E senhor Passos de Coelho, por favor, cale-se, antes de ter um programa eleitoral a apresentar ao país!

E já agora, substitua essa gente perigosa que o rodeia com ar vagamente desesperado: Miguel Relvas, Paula Teixeira da Cruz e Paulo Teixeira Pinto. Rodeie-se apenas de gente lúcida, arejada e corajosa.


POST SCRIPTUM
Três notícias do dia, sintomáticas:
  • Dia de escalada nos juros com novos máximos em todos os prazos (act.) — Jornal de Negócios.
  • 80% dos economistas europeus pensa que Portugal vai evitar incumprimento — Jornal de Negócios.
  • JPMorgan diz que Portugal poderá pedir ajuda já este fim-de-semana — Jornal de Negócios.

sábado, março 26, 2011

Passos de Coelho

E se o PSD não conseguir a maioria absoluta?



Daniel Bessa faz hoje um tardio mas nem por isso menos louvável acto de contrição sobre o silêncio cúmplice que a esmagadora maioria dos economistas portugueses manteve, entre 2006 e 2008, sobre o estado das nossas finanças públicas e o nosso endividamento externo. Apesar dos sinais de que uma grave crise de insolvência se aproximava das costas lusitanas, boa parte dos economistas e dos jornalistas limitou-se a comentar a propaganda governamental de José Sócrates como se fosse factual, dedicando páginas e páginas de análise paliativa aos cada vez mais martelados e ilegíveis relatórios oficiais. Era tão simples saber o que se passava!

Economistas avisados, como Daniel Bessa, ou Eduardo Catroga, Miguel Cadilhe, Luís Campos e Cunha, Cavaco Silva, e um longo etc., sabiam há muito, ou deveriam saber, que Portugal caminhava a passos largos para a falência, e que não é por termos um primeiro ministro mitómano, manipulador, propagandista e casmurro, nem por causa das pressões e conveniências das nomenclaturas económico-financeira e político-partidária que nos conduziram até aqui, que esconder a verdade ajudaria a resolver fosse o que fosse. A maioria dos economistas portugueses assobiou para o ar quando Medina Carreia e Manuela Ferreira Leite chamaram a atenção do país para o muro onde iríamos todos bater. Batemos. E agora?

Vamos por partes:
  1. Aníbal Cavaco Silva está tudo menos parado. Quem o critica por este lado, ou é tonto, ou teme o futuro. O reeleito presidente da república despediu José Sócrates de forma quase brutal, usando para este fim o próprio discurso de posse (de facto, o primeiro acto do presidencialismo sui generis que aí vem). O pobre diabo cor-de-rosa só teve tempo de inventar um incidente manhoso para tentar sair de palco, protegendo (é a única tarefa que de momento o aflige) a sua retirada e a retirada do exército de piratas e indigentes intelectuais que com ele levaram alegremente Portugal à bancarrota;
  2. O Partido Socialista corre o risco de uma cisão, ou de um definhamento prolongado, se demorar demasiado tempo a substituir o seu já inútil líder; deveria fazê-lo quanto antes, e não esperar pela crise de formação do próximo governo de base laranja;
  3. Passos de Coelho tem todas as condições para ganhar as próximas eleições, com maioria absoluta, desde que ignore os galináceos que começaram já a esvoaçar em volta da expectativa de um regresso em força do PSD ao poder;
  4. Ao contrário do que todos os analistas e alguns políticos de pequena dimensão opinaram, o volte-face na avaliação dos professores foi um golpe de mestre na campanha eleitoral violenta que o governo-partido-cacique ainda em funções se preparava para colocar na rua. Passos de Coelho mostrou, com esta simples e surpreendente iniciativa parlamentar, que estará disposto a deixar um corredor de oportunidade política e margem de manobra institucional aos partidos à esquerda do PS, entalando assim o PS;
  5. Em vez do comportamento Caniche que Sócrates vem exibindo, entre abraços e beijinhos à ama Merkel, Passos de Coelho, que também conhece as fragilidades do gigante alemão, explicou a esta física, considerada a mulher mais poderosa do planeta, que vai ter que lidar em breve com um novo primeiro ministro português, por sinal tão transmontano quanto o actual presidente da Comissão Europeia, e para quem, naturalmente, a dívida portuguesa é para pagar, mas sem assassinar os velhos do seu país, nem asfixiar o tecido económico que paga impostos reais (os impostos pagos pelos funcionários públicos, pelos políticos e pelos boys&girls do sistema são, na realidade, um mero desconto na dívida).
É bem provável que depois da decisão ontem anunciada in extremis pelos líderes comunitários, de criarem o Mecanismo Europeu de Estabilidade (ESM), que mais do que duplicará o actual fundo de salvação financeira da Eurolândia, não seja imperativo, do lado português, pedir o resgate do nosso sobre endividamento em pleno período eleitoral. A palavra sobre o IVA dada por Passos de Coelho aos mercados era o mínimo que havia a fazer para sossegar as aparências. A contradição desta decisão intempestiva com pelo menos um dos argumentos que conduziram ao chumbo do PEC 4 é, neste momento, irrelevante.

Escrevi neste blogue, há já muitos meses, que num país tão à rasca quanto Portugal, o IVA terá que subir até aos 25%, embora exceptuando alguns produtos essenciais (que não o golfe do BES na Comporta!) Atacar o consumo é o menor dos males numa economia que não pode sugar, mais do que Sócrates já sugou, os rendimentos do trabalho e os rendimentos dos profissionais liberais, e das nano, micro, pequenas e médias empresas. O que Bruxelas e Frankfurt querem ouvir é se há ou não redução da despesa pública, efectiva e em tempo útil, não como tal objectivo será alcançado. O PS, em nome da sua predadora base partidária, e da sua íntima e corrupta relação com uma nomenclatura económico-financeira imprestável e agarrada, como verdadeira carraça, às tetas do orçamento de estado, preferiu atacar o bem-estar de milhões de portugueses; o PSD não tem outra alternativa, se não fazer diferente — sob pena de colapsar ao fim de seis meses de governo.

Mas a pergunta do momento é esta: e se o PSD não consegue a maioria absoluta?

Estou convencido de que conseguirá, na medida em que uma parte significativa do eleitorado "socialista", perante a reeleição norte-coreana de José Sócrates para o cargo de cacique-mor do PS, tenderá a votar na mudança, e esta, a vir, só poderá vir do único facto novo das próximas eleições: a estreia de Pedro Passos Coelho. Falo por mim, que nunca votei à direita: se o mitómano vendedor de cobertores de Vilar de Maçada permanecer aos comandos do PS, votarei, naturalmente, embora pela primeira vez, no PSD, isto é, em Passos Coelho. A democracia deixou de ser dos partidos, e será cada vez menos dos partidos. O voto tem vindo a transformar-se num acto democrático instrumental destinado a premiar e sancionar os nossos representantes políticos — aqueles que os nossos impostos pagam para defender o interesse do país e o equilíbrio e justiça sociais. E assim deverá ser. A religião partidária acabou!

Mas repito: e se o PSD apenas conseguir uma maioria relativa? Como fará o próximo governo?

Se tal vier a ocorrer, é porque a campanha eleitoral do PS foi suficientemente populista e mentirosa para ter convencido uma apreciável fatia do eleitorado. E neste caso, teremos um grande impasse institucional. Das duas uma, ou o PSD+CDS fazem maioria, e neste caso teremos uma nova AD. Ou nem sequer fazem, e neste caso restará uma única hipótese de coligação governamental: PSD+PS+CDS, já que uma coligação PSD+PS, isto é a reedição do Bloco Central, com Passos Coelho no cargo de primeiro ministro, seria um absurdo inaceitável por parte de José Sócrates.

Como uma coligação PS+PCP+BE, ou mesmo um novo governo PS apoiado num compromisso de esquerda com o PCP e o Bloco, não ocorrerá antes de Cristo descer à Terra, as alternativas governativas pós-eleitorais, em caso de o PSD não conseguir uma maioria absoluta, só ou acompanhado do CDS, são escassas. E então, das duas uma: ou o PSD e o PS aceitam uma coligação com o CDS, apoiando Paulo Portas para o cargo de primeiro ministro, ou então teremos um governo de salvação nacional de iniciativa presidencial, apoiado pelos mesmos três partidos.

Se o mitómano casmurro que ainda nos desgoverna insistir numa vitória de Pirro, ameaçando destruir o PS e o país, então aconselho vivamente os meus concidadãos a votarem na nova carta do baralho democrático português: Pedro Passos Coelho. Escrevi o que acabo de escrever? Parece que sim!