quinta-feira, maio 12, 2011

China: pena capital para políticos corruptos

Se a moda pega...

Xu Zongheng, antigo presidente da câmara de Shenzhen, condenado à morte por corrupção.

Former Shenzhen Mayor Sentenced to Death

Xu Zongheng (许宗衡), the former deputy party secretary and mayor of Shenzhen, was sentenced to death, with a two-year reprieve by Zhengzhou Municipal Intermediate People's Court on May 9 on charges of accepting bribes.

The former mayor was also stripped of his political rights for life and had all his personal property confiscated — Economic Observer.

Former Head of Galaxy Securities Sentenced to Death for Accepting Bribes

Xiao Shiqing (肖时庆), the former Chairman of Galaxy Securities, one of China's largest and oldest securities firms, was handed a death sentence with a two-year reprieve after the Henan Province Higher People's Court found him guilty of accepting approximately 15.46 million yuan in bribes and making about 100 million yuan from insider trading — Economic Observer.

Nunca iríamos tão longe. Mas nem sequer investigar quem desfalcou o país, também é inaceitável. Para além dos efeitos da crise, houve claramente um assalto premeditado e organizado ao país, de que o roubo do BPN é um dos episódios mais graves, seguido do polvo mafioso das PPP (SCUTs, fornecimento e tratamento de águas e resíduos, barragens e hospitais), tão ao mais pesado de consequências para a pobreza que vai recair sobre mais de 90% da população portuguesa.

Anda por aí uma petição a favor da investigação dos putativos criminosos que assaltaram o país. O memorando da Troika exige a independência e celeridade dos tribunais e dos órgãos reguladores e fiscalizadores assim que o próximo governo entre em funções. Quando 1500 a 3000 trabalhadores da TAP ficarem na rua, após declarada a falência da empresa que, tanto quanto julgo saber, já deixou de pagar a Segurança Social dos seus empregados, a dita petição poderá chegar rapidamente aos 100 mil subscritores!

A China tem hoje um regime e dois sistemas. Compete no mercado mundial usando esta duplicidade: por um lado, é liberal e pela iniciativa privada e contra as barreiras alfandegárias à circulação de mercadorias e capitais (da China para fora, mas não de fora para dentro da China!), e por outro, os seus principais bancos, seguradoras e empresas são estatais, e continua a não haver liberdades burguesas de expressão e criação, ao mesmo tempo que a corrupção endémica do regime é episodicamente castigada com condenações à morte exemplares — usualmente por injecção letal, seguindo a receita americana, embora fazendo uso dum meio expedito de aplicação da pena, as chamadas carrinhas da morte (Death Vans). São executados, em média, 10 mil chineses por ano, entre eles vários empresários e políticos corruptos.

Sou contra a pena de morte, como boa parte dos portugueses, mas não defendo nem a condescendência, nem a impunidade que parece imperar actualmente entre nós.

segunda-feira, maio 09, 2011

Colar de Pérolas

Bin Laden, o Paquistão e o porto de Gwadar
O que é que isto tem que ver com o "TGV"?

Porto de águas profundas de Gwadar, Paquistão e Mar Arábico.

 O assassínio de Bin Laden, se é que o homem ainda era vivo e estava onde dizem que estava, pode ter servido mais de um propósito. O primeiro, melhorar a depauperada popularidade de Barack Obama; o outro, revelar ao mundo que o Paquistão manteve sob sua custódia o terrorista mais procurado do planeta, e que portanto traiu o amigo americano.

No entanto, este pode ter sido apenas mais um dos sucessivos incidentes que acabará por conduzir a humanidade a uma nova guerra mundial, ou, se tivermos juízo, a uma nova divisão do mundo, em duas metades, como outrora Portugal e Castela fizeram, assinando o Tratado de Tordesilhas. Se a Europa e os Estados Unidos não concordarem com a China uma revisão das regras da globalização, a luta desesperada dos grandes países, blocos de países e alianças, pelo acesso às fontes de energia, matérias primas e alimentos, tornar-se-à explosiva, ao ponto de poder provocar uma guerra mundial de proporções dantescas. Há, como se sabe, nos Estados Unidos e em Israel, um visão estratégica que aposta na antecipação de uma guerra com a China, antes que esta se torne imbatível. Mas há também quem defenda que um cenário de guerra global provocará uma aliança imediata entre a China e a Rússia (com o Paquistão a caminho?), tornando-a, assim, um MAD (Mutual Assured Destruction).

String of Pearls: Meeting the Challenge of China's Rising Power Across the Asian Littoral. By Lieutenant Colonel Christopher J Pehrson. SSI

China's rising maritime power is encountering American maritime power along the sea lines of communication (SLOCs) that connect China to vital energy resources in the Middle East and Africa. The "String of Pearls" describes the manifestation of China's rising geopolitical influence through efforts to increase access to ports and airfields, develop special diplomatic relationships, and modernize military forces that extend from the South China Sea through the Strait of Malacca, across the Indian Ocean, and on to the Arabian Gulf. A question posed by the "String of Pearls" is the uncertainty of whether China’s growing influence is in accordance with Beijing’s stated policy of "peaceful development," or if China one day will make a bid for regional primacy. This is a complex strategic situation that could determine the future direction of the China’s relationship with the United States, as well as China’s relationship with neighbors throughout the region.

A China, de facto, não para de lançar as suas redes em todos os mares disponíveis, à medida que o seu crescimento empobrece objectivamente as antigas potências coloniais e imperiais do Ocidente — com dificuldades crescentes de subsidiar as suas armadas e os seus aliados subordinados. O novo porto de águas profundas de Gwadar, paquistanês, mas construído pela China e administrado pela Autoridade Portuária de Singapura, aproximando as fontes petrolíferas da Arábia, da África, e do Irão, por via terrestre (pipeline), da China, através de território paquistanês (ver este vídeo: The Karakoram Highway), é um movimento estratégico de peso por parte de Pequim, que certamente deixou os americanos do Pentágono muito irritados.

Porto de Gwadar (Google maps)

China has acknowledged that Gwadar’s strategic value is no less than that of the Karakoram Highway, which helped cement the China-Pakistan relationship. Beijing is also interested in turning it into an energy-transport hub by building an oil pipeline from Gwadar into China's Xinjiang region. The planned pipeline will carry crude oil sourced from Arab and African states. Such transport by pipeline will cut freight costs and also help insulate the Chinese imports from interdiction by hostile naval forces in case of any major war.

Commercially, it is hoped that the Gwadar Port would generate billions of dollars in revenues and create at least two million jobs. In 2007, the government of Pakistan handed over port operations to PSA Singapore for 25 years, and gave it the status of a Tax Free Port for the following 40 years. The main investors in the project are the Pakistani Government and the People's Republic of China, making China's plan to be engaged in many places along oil and gas roads evident — in Wikipedia.

Recomendo vivamente aos que entre nós ainda têm dúvidas sobre a importância das ZEE e dos portos de águas profundas, nomeadamente no Atlântico, norte e sul, que estudem o desenho das linhas de comunicação que a China está neste preciso momento a construir —de que o porto de Gwadar é porventura a mais recente ousadia— e retirem as suas conclusões. Algeciras e o triângulo Sines-Setúbal-Lisboa são plataformas portuárias multimodais absolutamente estratégicas para os tempos difíceis e violentos que aí vêm. Vitais para a Europa, e fundamentais para Portugal.

É tempo de os assuntos logísticos do país deixarem de ser matéria de verborreia inconsequente por parte dos nossos imprestáveis políticos. A imprestabilidade destes conduziu-nos à bancarrota e à humilhação de preferirmos ser governados por uma Troika estrangeira do que pelas nódoas partidárias que temos. Não queiramos que sejam os outros a determinar em breve o que teremos que fazer com os nossos portos de águas profundas e com as nossas ligações ferroviárias a Espanha e ao resto da Europa!


POST SCRIPTUM: este texto foi suscitado pela leitura de um artigo de Elaine Meinel Supkis.

domingo, maio 08, 2011

Passos de Lebre

O líder do PSD, nesta verdadeira corrida de obstáculos, é mais matreiro do que parece! Paulo Portas: sempre aceita um passo de dança com Sócrates, ou não?

©António Carvalho. “Empalagado” — exclusivo para O António Maria e CHICOTE

Alguns burros pobres e esfomeados continuam a arrastar as patas obedientes por uma cenoura virtual. É o caso de uma parte notória dos nossos comentadores televisivos, que mais parecem autómatos biológicos atacados pela Síndrome de Estocolmo. Espero que o seu contágio seja superficial junto de quem for votar no próximo dia 5 de junho, e que o programa de mudança hoje apresentado por Pedro Passos Coelho tenha o número suficiente de votos para ser testado, em consonância inevitável com o Memorando de Entendimento da Troika.

À partida, por ter sabido esperar, o PSD está neste momento bem adiantado face aos partidos que resolveram antecipar os seus programas de trazer por casa ao trabalho aturado, certeiro, radical e calendarizado da delegação de representantes da Comissão Europeia, Banco Central Europeu e FMI.

Agora, das duas uma: ou fazem como os obsoletos do PCP e do Bloco que decidiram rejeitar qualquer contacto com os nossos credores (como se as suas ajudas de custo partidárias tivessem sido pagas com o suor dos rostos das respectivas turmas parlamentares), e neste caso o que escreveram ou deixaram de escrever é totalmente irrelevante — quando poderia não ser; ou então, nos casos do PS e do PP, lá terão que ajustar, contorcer, negar e reformular boa parte da lenga-lenga vertida nas suas pueris cartilhas eleitorais, com sempre, de mera circunstância. Quem passou agora a estar na defensiva? Todos menos o PSD!

Ainda não li todo o programa eleitoral apresentado hoje por Passos Coelho para um Novo Portugal 2020, mas ouvi-o e sublinho aqui as “mensagens finais” do documento (PDF da versão integral). O PSD quer, em declarada e construída sintonia com o Memorando de Entendimento da Troika, o seguinte:
  1. Um Portugal Solvente e Prestigiado a tender para o equilíbrio, com elevado prestígio na União Europeia e no Mundo e elevada credibilidade nos mercados financeiros.
  2. Um Portugal com um Sistema Político Próximo dos Cidadãos, merecedor de elevados níveis de confiança por parte dos portugueses.
  3. Um Portugal com uma Sociedade Confiante, com elevada mobilidade, dinâmica e solidária, com instituições fortes e independentes, respeitados pelos portugueses, com um elevado grau de confiança interpessoal e contratual.
  4. Um Portugal com uma Justiça Célere e Para Todos, garante de transparência e segurança nas relações interpessoais e contratuais.
  5. Um Portugal com uma Economia Competitiva globalmente inovadora, exportadora, com elevada atractividade global ao nível da agricultura, da floresta, da economia do mar, da indústria transformadora, do turismo, dos serviços e de segmentos económicos da nova economia e geradora de valor e de empregos nas novas actividades económicas em crescimento.
  6. Um Portugal Melhor Administrado, com um Estado facilitador do crescimento e do desenvolvimento sustentável, com uma administração pública eficiente, inovadora e orientada para os cidadãos e para as empresas, com pessoas motivadas e baseados em modelos de organização flexíveis, com actualização intensa das novas tecnologias da informação e garante da coesão social.
  7. Um Portugal com Território Inteligente, seguro, sustentável e atraente, conectado por comunicações de banda larga e serviços móveis, espaços urbanos de qualidade com novos modelos de relação casa-trabalho, suportado por redes de energia eficientes e sustentáveis e de transportes inteligentes.
  8. Um Portugal de Empreendedores, centrados em inovações para a economia global e suportados por um dinâmico ecossistema financeiro, científico, empresarial e institucional.
  9. Um Portugal mais Qualificado e confiante, com competências ajustadas aos requisitos da empregabilidade da economia global e tecnológica do século XXI.
  10. Um Portugal mais Justo, Coeso e com Protecção Social sustentável, com serviços sociais personalizados, eficientes, factores da inclusão social, à medida das capacidades do País, em condições de sustentabilidade, com menores assimetrias sociais, com escolas devidamente inseridas nas comunidades locais, e sistemas de saúde, de educação e de segurança social adaptados às necessidades das pessoas e com reforço progressivo da sua liberdade de escolha.
Tal como o Memorando da Troika (PDF), este é um documento a ler na íntegra (PDF).

Em primeiro lugar, para ver o grau de compaginação razoável entre os dois programas, sabendo-se desde já que o primeiro é bem mais detalhado e tem prazos, ao contrário do programa eleitoral do PSD —que ainda padece de alguns tabus tipicamente partidocratas. Por exemplo, não refere sequer a necessidade óbvia de diminuir o número autarquias, a começar por Lisboa e Porto, que deverão ser rapidamente transformadas em cidades-região, com órgãos representativos e executivos semelhantes às regiões autónomas, i.e. com governos próprios, diferentes das demais câmaras municipais e sem, pelo menos, metade das freguesias actualmente existentes.

Em segundo lugar, para que esta eleição estabeleça pela primeira vez uma relação exigente, informada, crítica e construtiva, entre os cidadãos e o futuro governo — o qual, com grande probabilidade, agora que conheço o programa, e depois da prestação de hoje de Passos Coelho, será laranja.

Pela minha parte, que sempre votei no PS, e às vezes até mais à esquerda, o PSD já tem um voto garantido!


POST SCRIPTUM: Passos Coelho tem um calcanhar de Aquiles. Chama-se Miguel Relvas — uma insuportável e conflituosa criatura, que há-de dar muitos problemas ao provável próximo primeiro-ministro.

O fim do Bloco

A quadratura impossível entre Estaline, Mao e Trotsky
Louçã sofreu uma lesão cognitiva na adolescência que lhe impede qualquer pragmatismo ou pensamento criativo. Já era assim 1975...

O PS não vai voltar a governar à esquerda, acusa Gil Garcia

Com críticas duras à direcção de Francisco Louçã, o rosto principal da oposição interna à actual liderança disse que um PS sem Sócrates é uma “fantasia” e justificou que é uma “proposta bizarra” uma coligação à esquerda com o PS sem o actual secretário-geral Sócrates. Porque o PS não vai renegociar a dívida externa, acusou.

O líder da Ruptura/FER, que defendeu ao longo da VII Convenção do BE, uma coligação com os comunistas, foi mais longe, ao afirmar que o maior “empecilho” para a unidade da esquerda é, depois da reunião de Francisco Louçã com Jerónimo de Sousa, defender que “cada um deve ir na sua bicicleta.” E acrescentou que, ”enquanto cada um de nós anda na sua bicicleta", o PS continua a ganhar as eleições.”

No final do discurso, Garcia afirmou que Louçã só voltará a contar com os signatários da Moção C quando “discursar à esquerda contra os Governos do regime”, sem alianças com o PS. À moção C coube hoje a eleição de 11 membros para a Mesa Nacional do partido, num total de 80. — in Público.

Francisco Louçã é, desde os tempos em que estudava no liceu Padre António Vieira, um militante marxista a quem as leituras da IV Internacional, e em particular de Ernest Mandel, avariaram definitivamente algum do código genético responsável pelo pensamento racional autónomo. Desde então, como um relógio inteiramente previsível, o seu mundo intelectual resume-se a uma cópia defeituosa do pensamento tardio e pessimista de Léon Trotsky face ao ascenso do estalinismo e do fascismo no mundo, nas vésperas, aliás, do seu assassínio por um agente de Estaline.

Para Louçã, a missão dos marxistas revolucionários (leia-se trotskystas), já não é tomar quanto antes o poder, formar conselhos operários e decretar a ditadura do proletariado, porque faltam evidentemente as condições objectivas e subjectivas para que tal possa ocorrer nos países do que Mandel chamava o “capitalismo tardio”. Há que esperar!

A esta espera do regresso das condições objectivas e subjectivas maduras e necessárias para uma nova situação pré-revolucionária que abra de novo caminho à revolução socialista, chama-se “entrismo”.

O “entrismo” é basicamente isto: sobreviver ao ciclo ainda longo do “capitalismo tardio”, através de uma simbiose oportunista com os partidos socialistas pequeno-burgueses por essa Europa fora, tanto penetrando no interior dos respectivos aparelhos, criando neles células clandestinas, como formando partidos socialistas revolucionários autónomos e dispostos ao jogo eleitoral burguês. Em ambos os casos, os trotskistas mandelianos, de que Francisco Louçã é há décadas uma eminência parda, limitam a sua missão na Terra a duas regras intransponíveis: a regra canónica, ou seja, preservar o dogma trotskista, e evangélica, a qual passa por educar os socialistas, e os social-democratas desviados, na palavra marxista, leninista e trotskista original, preparando-os assim para o inexorável tempo da revolução socialista. Mais recentemente, o “entrismo” mandeliano, que é fundamentalmente uma forma de organização clandestina de inspiração tipicamente jacobina, tem alargado o leque dos seus hospedeiros potenciais a todo o tipo de movimentos sociais que “objectivamente” ameaçam o edifício do “capitalismo tardio”: dos católicos progressistas (oriundos em Portugal, por exemplo, do Graal), aos movimentos anti-racistas, gays e lésbicas, etc. A mais recente tentativa retórica de estender esta forma de oportunismo militante aos movimentos cívicos espontâneos, deu-se no apelo patético que Francisco Louçã lançou hoje à Geração à Rasca, para que juntos façam um segundo 25 de Abril!

Sem conhecermos esta matriz genética irremediável do pensamento clonado de Francisco Louçã, não se percebe a sua eterna e visceral arrogância para com Partido Comunista, bem como o seu amor pedagógico por Manuel Alegre, Paulo Pedroso, Ferro Rodrigues e, no limite, se for mesmo preciso, pelo próprio Pinóquio Pinto de Sousa!

Foi assim em 1975, é assim agora e será sempre assim. Pois uma degenerescência cognitiva não se corrige sem um longo processo de desconstrução teórica associado a uma indispensável psicanálise.

Os partidos portugueses, especialmente o PCP e o Bloco, são evidências puras do atraso cultural da nossa democracia. São, na realidade, tal como as corporações, os sindicatos, e a burguesia financeira que tanto atacam, evidências de agrupamentos sociais privilegiados com uma indisfarçável  dependência rentista do Estado — i.e. dos impostos que pagamos. Quanto mais cedo nos vermos livres destas sobrevivência arcaicas da nossa cultura política, mais cedo daremos espaço e oportunidade às novas formas de acção política de que as sociedades actuais precisam, como do pão para a boca, para enfrentar os sérios problemas de sobrevivência global que temos pela frente.

From Portugal with love



And we could go on:
  • the president of the European Comission is a Portuguese guy;
  • Another Portuguese smart guy is presently the vice-president of European Central Bank;
  • the director of the European Department of the International Monetary Fund is a Portuguese fellow;
  • The UN High Comissioner for Africa also happens to be a Portuguese (an ex-prime minister);
  • and the CEO of the first private bank of England, Lloyds Banking Group, is also a native from Portugal.
We just have to solve a few internal problems. That's all. And it won't take too long. Meanwhile we ask the rest of the Europeans to have a little patience, and drop by for a free ride on our magnificent beaches ;)

sexta-feira, maio 06, 2011

Voto na Troika!

Uma revolução contra os privilégios

A conferência histórica que pode transformar a bancarrota portuguesa numa oportunidade


Acabei de ler o Memorando de Entendimento dos representantes dos nossos principais credores. Recomendo a todos a leitura imediata (aqui, o meu PDF sublinhado) deste verdadeiro programa contra os privilégios conservados ou restaurados pelo velho poder corporativo, burocrático e clientelar que, sob a protecção da partidocracia instalada ao longo de trinta e tal anos de democracia aparente, conduziu Portugal à bancarrota. Se for cumprido — e tem grandes hipóteses de ser, pois de contrário não haverá massa para os funcionários públicos (nem para os bancos!)— o amplo e preciso programa desenhado pela Troika formada pelo FMI, BCE e Comissão Europeia, será certamente a segunda grande revolução política democrática depois do 25 de Abril de 1974. Chamem-lhe uma invasão bem intencionada.

A maioria dos problemas sistémicos da nossa irracionalidade colectiva e subserviência aos poderes corporativos, clientelares, burocráticos, partidocratas, sindicais e mafiosos, foram detectados e são atacados com medidas certeiras, equilibradas, justas e cruzadas que, à medida que forem cumpridas, transformarão radicalmente a face deste país. Mais do que saber que partido vai ganhar as próximas eleições (e é bom que seja o PSD, por motivos óbvios que não devem nada ao seu putativo mérito), o mais importante de tudo é traduzir quanto antes este documento e distribui-lo gratuitamente pelo país inteiro, sobretudo entre as classes profissionais e em todas as universidades. E depois de o distribuir, iniciar uma longa e criativa discussão sobre os seus conteúdos, sector a sector, sem dar demasiado espaço ou tempo aos principais prejudicados com a sua implementação. Estes, depois de se recomporem deste fortíssimo soco nos seus privilégios, irão reagir fortemente contra a sua aplicação. Da "Esquerda" à "Direita" ouviremos em breve um clamor contra a Troika, certamente envolto em discussões parcelares e encapsuladas de retórica interesseira e desonesta. Talvez venha a ser inevitável criar um partido para defender este programa e atacar quem prefere enterrar o país a perder privilégios que nunca mereceu, nem merece.

Por nós, iremos estar atentos e desmontaremos sem hesitação todas as mentiras e demagogias da nomenclatura formada pelos privilegiados de "esquerda" e de "direita". Nenhum programa partidário, que em geral não passam de conversa hipócrita e fiada, foi tão longe, depois do programa do MFA, na defesa do desmantelamento do poder corporativo em Portugal. Ao contrário do que tem sido propalado, este poder difuso, disseminado, entranhado, biopolítico, não só não diminuiu depois da ditadura, como aumentou e cresceu em extensão e descaramento.

Muito mais do que um programa de austeridade o Memorando da Troika é um plano de salvação nacional assente em duas ideias primordiais:
  1. não podemos gastar mais do que ganhamos, ou não podemos consumir/importar mais do que produzimos/exportamos;
  2. e também não poderemos libertar a sociedade e a economia se permanecermos sujeitos a um regime corporativo, desigual, injusto, corrupto e autoritário, ainda que disfarçado de democracia parlamentar.
Reflexão final depois de a Troika ter afirmado que não precisa da assinatura de Cavaco Silva para activar o Plano de Resgate da Bancarrota Portuguesa de 2011: ao contrário do que cheguei a pensar, não precisamos de nenhum presidencialismo. Precisamos é de um presidente meramente simbólico, e com metade do orçamento!

POST SCRIPTUM (07-05-2011 16:18) — a tradução portuguesa do Memorando da Troika já está disponível online, graças ao serviço público prestado pela Aventar, um dos milhares de nós de cidadania da Blogosfera. Obrigado Aventar. LINK.

quarta-feira, maio 04, 2011

Bin Laden ou Geronimo?

Chamar a Bin Laden, Geronimo, revela bem o estado de decadência da América

Geronimo, chefe Apache derrotado e humilhado pelo invasor europeu.

In 2009, Ramsey Clark filed a lawsuit on behalf of people claiming to be Geronimo's descendants, against, among others, Barack Obama, Robert Gates, and Skull and Bones, asking for the return of Geronimo's bones — in Wikipedia.

O grande guerreiro apache Geronimo foi derrotado pelas tropas americanas ao fim de dezenas de anos de guerra contra o invasor europeu. Preso, julgado e afastado para sempre das suas terras, num processo de humilhação imparável que viria a culminar na sua conversão em atracção de espectáculos e feiras, esta figura lendária da história americana foi agora usada como nome de código de Osama Bin Laden, no âmbito da anunciada operação de captura do líder saudita da Al-Qaida.

O militar que supostamente atingiu no coração e na testa o antigo guerrilheiro saudita e notório terrorista, destruindo-lhe o crânio, terá gritado "Geronimo!" — ao que se terá supostamente seguido uma ovação de Obama e do seu círculo próximo na Casa Branca, como se estivessem a ver um filme de cowboys e índios.


Das duas uma: ou estão a ver televisão, ou participando num crime de guerra e invasão de território soberano

As explicações oficiais sobre a operação que terá levado à segunda morte de Bin Laden (pois, segundo Benazir Bhutto, este já teria sido assassinado anos antes) parecem tudo menos convincentes.

A primeira imagem passada para a imprensa americana e largamente publicada era um grosseiro trabalho e Photoshop. A segunda imagem, que publicamos abaixo, é mais uma falsificação caricata. Aguardam-se novas provas substanciais do êxito da grande caça ao homem que já estava morto!

O relato diz que Bin Laden foi atingido na cabeça por um militar de elite da US Navy conhecida por SEAL. Na cabeça?! Desde quando é que se atinge na cabeça um alvo de caça tão precioso? As duas primeiras fraudes publicadas mostram, de facto, simulações gráficas desastradas de orifícios de entradas de balas. No entanto, depois de ver denunciadas estas falsificações grosseiras, o governo americano pôs a circular outra história: o tiro na cabeça teria sido, afinal, devastador, tendo arrancado metade do crânio do terrorista. Daí a hesitação em exibir o troféu de caça. Hummm.... Queremos ver a nova foto-montagem!

Se a primeira foto-falsificação (post anterior) parece retirada dum sítio de pornografia violenta, esta veio certamente dum salão de efeitos especiais para filmes de série B

Voltando a Geronimo. Como refere Elaine Meinel Supkis em Operation Geronimo: Get That Skull, há algo de verdadeiramente soturno e umbilical na correlação estabelecida entre o guerrilheiro muçulmano Osama Bin Laden e o guerrilheiro apache Geronimo.

A caveira e alguns ossos do antigo chefe índio terão sido roubados da sua sepultura por membros de uma associação académica sinistra, da universidade de Yale, chamada Skull and Bones. Um dos presumíveis autores deste roubo foi o antigo estudante de Yale e mais tarde banqueiro de Wall Street, Prescott Sheldon Bush, pai de George H. W. Bush (ex-presidente dos EUA) e avô de George W. Bush (ex-presidente dos EUA).

Para completar esta intriga é preciso recordar que o pai de George W. Bush foi sócio do pai de Bin Laden em negócios relacionados com petróleo, construção civil e armamento. Bin Laden, por sua vez, liderou a guerra da CIA contra a invasão soviética do Afeganistão, até ao momento em que cortou relações com a monarquia corrupta e ditatorial da Arábia Saudita, e declarou guerra à América.

Será que alguém pediu a cabeça de Bin Laden para a colocar ao lado do crânio e ossadas roubados da tumba do lendário chefe apache?

Eu inclino-me para a hipótese menos “gore” — a de estarmos na presença de mais um enorme embuste do decadente império americano e de um crime de guerra executado ao mais alto nível político, e em directo da Casa Branca!

ÚLTIMA HORA (04-05-2011 10:17): as interrogações na imprensa de referência já começaram (ler este artigo do Guardian)

terça-feira, maio 03, 2011

Troika manca

O FMI está meio falido, não sabiam? 
Teve que vender 400 toneladas de ouro ao longo dos últimos 4 anos; desde 2007...

Uma forte divergência entre os membros da troika (Comissão Europeia, Banco Central Europeu e FMI) sobre o montante total da ajuda externa a Portugal está em risco de rebentar com o calendário de conclusão e anúncio do programa de assistência e provocar um sério problema ao país — in Público.

Para quem não saiba: o FMI está também virtualmente falido, e depende cada vez mais da... China que, por sua vez, quer ver a sua posição devidamente valorizada no respectivo conselho de administração.

A China tem apenas 3,82% dos direitos de voto no órgão máximo do FMI (Board of Directors), mas os falidos EUA e Reino Unido têm, respectivamente, 16,6% e 4,3%!!

Para mais detalhes sobre quanto e a quem o FMI vendeu 1/8 das suas reservas de ouro, basta consultar esta página do FMI.

A segunda morte de Bin Laden

Uma história muito mal contada... e perigosa

A infografia do lado direito foi mostrada pela imprensa americana como prova da morte de Osama Bin Laden. Basta olhar para a foto da esquerda para perceber a grosseira falsificação e a impostura.

A segunda morte de Bin Laden é uma encenação manhosa que deve suscitar as maiores preocupações entre as pessoas de paz. Pode estar em curso uma operação especial em larga escala visando, num primeiro momento, subir as cada vez mais desfavoráveis sondagens sobre a performance de Barack Obama, mas num segundo momento, que pode ocorrer ainda este ano, algo bem mais sinistro: criar o pretexto para desencadear uma guerra nuclear contra o Paquistão, ou mesmo antecipar uma guerra contra a China, que a ocorrer seria a terceira guerra mundial que muitos antevêem como inevitável. No imediato, há mesmo quem suspeite que a guerra financeira do dólar contra o euro possa dar em breve um salto qualitativo a partir deste episódio.

Quando vi a história quase caricata do anúncio daquela que será a segunda morte de Osama Bin Laden (ver as declarações da certamente bem informada, e tragicamente assassinada, Benazir Bhutto) coloquei os seguintes cenários possíveis:
  1. Bin Laden terá sido de facto morto no dia 1 de maio (hora americana). Mas se foi, porque não exibiram o corpo, o troféu, de forma convincente, como é da mais elementar prudência na arte da guerra? Porque decidiram atirar o corpo do homem ao mar, com o argumento pífio de que não quiseram infringir a norma religiosa muçulmana sobre enterros? Não o enterraram, pois não? Atiraram-no ao mar! Basta comparar a fotografia oficialmente divulgada pelo governo americano do suposto cadáver de Osama bin Laden, para se perceber que não passa duma grosseira infografia.
  2. Bin Laden foi morto pela segunda vez, ou seja, não foi morto. E neste caso, estamos perante uma operação de ilusionismo bélico, e de uma manobra cujo alcance falta conhecer em toda a sua extensão. No imediato, serve para melhorar a imagem deteriorada do presidente de um império falido, ferido no seu orgulho, e portanto perigoso. Serve para retirar tropas do teatro de guerra no Afeganistão, e possivelmente preparar uma guerra contra o Paquistão. Servirá, quem sabe, para justificar uma provocação terrorista sem precedentes. Há quem fale mesmo num ataque nuclear à Alemanha (ler o Telegraph de 26 de abril último), com base numa suposta bomba nuclear que Osama bin Laden teria em seu poder, e que seria desespoletada caso fosse morto pela CIA...



As teorias da conspiração proliferam, mas nem todas são teorias da conspiração (escutar esta entrevista sobre a segunda morte de bin Laden).

Há, constatada a mais do que provável falsidade da segunda morte de bin Laden, legítimas e fundadas razões para tentar perceber o que pretendem os Estados Unidos com mais esta operação dos seus serviços secretos, em clara violação do direito internacional.

A troca de cadeiras na CIA e no Pentágono (Panetta no Pentágono, Petraeus na CIA), anunciada em 27 de abril, tem que estar relacionada com esta operação. Robert Gates não gostou do que viu, ou do que lhe pediram, e resolveu sair. Temos pois os homens certos nos lugares certos... mas para fazer o quê?

segunda-feira, maio 02, 2011

Vencidos da Vida

O que é que correu assim tão mal?



A equipa liderada por Eduardo Catroga já entregou ao líder do PSD a proposta de programa eleitoral. Emocionado, Catroga admitiu que pertence a uma geração que não deixa Portugal melhor. TSF, 30-04-2011.
Todas as escolas reabilitadas pela Parque Escolar mais do que triplicaram os consumos energéticos. Em declarações ao Biosfera, muitas revelaram temer não ter dinheiro para manter os sistemas de ar condicionado e ventilação mecânica a funcionar. Se tal vier a acontecer, a qualidade do ar interior pode ficar pior do que estava antes das obras. Tudo por culpa de um conceito de escola em função dos sistemas mecânicos e de leis desajustadas à realidade. RTP/ Biosfera (Farol de Ideias).

Ao ver Eduardo Catroga dar conta do trabalho realizado para o programa de governo do PSD, reconhecendo o fracasso de um regime que se prepara para deixar atrás de si um país falido e com escassos recursos para se reerguer, fiquei tão comovido quanto ele. Que de tão errado fizemos afinal para desbaratar o capital de esperança nascido em 25 de abril de 1974? Esta é uma pergunta que vai levar décadas a responder.

Quando ontem ouvia o actor que faz de primeiro ministro recitar literal e repetidamente a mesma deixa teatral aos monocórdicos jornalistas que lhe perguntavam sobre os custos directos e indirectos da escandalosa operação E.P.E. Parque Escolar (2,9 mil milhões de euros gastos na requalificação especulativa de noventa escolas secundárias, a cargo da quinta mais endividada empresa pública portuguesa), pensei, este gajo, a turma de piratas que o colocou onde ainda está, e o PS são certamente os mais próximos, directos e pesados responsáveis pela bancarrota do país. Não basta, pois, perderem as próximas eleições; terão também que responder em tribunal pelos crimes de ocultação estatística, manipulação de informação e dilapidação do erário público.

O vendedor de atoalhados tinha, entretanto, decorado a oração populista, que recitava mais ou menos assim:

— Se fosse em Lisboa, não se importavam, não era? Mas como é na província...
— O que vocês queriam é que eu não investisse na educação e na qualificação do país! Mas não, tra-la-lá tra-la-lá, tra-la-lá....

A nenhum dos jornalistas precários lhe ocorreu uma de duas perguntas:

— Ó senhor primeiro ministro, diga lá ao país quem é que vai pagar a factura destas três novas pontes Vasco Gama;
— Ó senhor primeiro ministro, diga lá quem é que vai pagar a triplicação das facturas energéticas deste novo parque escolar. Os directores das escolas já começaram a dizer que sem dinheiro do ministério da educação, terão que desligar o ar condicionado e que não vão poder pagar à E.P.E. Parque Escolar o que esta tenciona cobrar-lhes nos próximos anos. Quem vai então pagar estas facturas, senhor primeiro ministro?

O grau de destruição infligido ao potencial produtivo do país foi enorme, e decorreu sobretudo nos últimos dez anos. Nos últimos cinco, quando já era evidente a crise do endividamento especulativo iniciada nos Estados Unidos e o maremoto que atingiria inevitavelmente a Europa, José Sócrates, Teixeira dos Santos, e o PS multiplicaram-se em road shows e power points sobre a gloriosa caminhada de Portugal para o topo do desenvolvimento tecnológico (bolseiros e investigadores científicos já começaram a fugir de novo...), para o topo das energias renováveis (ambas falidas: a solar e a eólica...), para o topo da mobilidade em matéria de novas autoestradas e aeroportos às moscas, e ainda para o topo da resistência à crise internacional. Resultado: a bancarrota do país!

Todos os indicadores apontam, uma vez assumida toda a informação escondida ou disfarçada pelo INE e pelo governo, para a maior crise que alguma tivemos desde finais do século 19. Endividamento, desemprego e emigração atingiram proporções verdadeiramente criminosas. Tão cedo não nos levantaremos. Foi isto que emocionou Catroga, e é isto que me deixa furioso uma boa parte dos dias.

Mas pior: a crise conjuntural, que é muito grave, cai, de facto, em cima de uma crise larvar, mais grave ainda, pois tem origem num modelo inviável de sociedade, de economia e de poder, que arrastamos connosco desde a independência do Brasil.

Enquanto não percebermos que o que está em causa é o fim de um longuíssimo ciclo de vida colonial, a que não poderemos regressar, seremos incapazes de nos redefinirmos como nação e como país independente. E não seremos capazes de nos governar, nem mesmo na qualidade de estado federado.

Em breve, se não houver uma nova e desta vez verdadeira revolução democrática em Portugal —pois continuamos essencialmente iguais ao que fomos na primeira república, e ligeiramente diferentes do que fomos durante a ditadura (mas aqui por mérito do ditador)— seremos engolidos pela Espanha, pelo BCE e por Bruxelas, e tratados como mera província europeia, sob vigilância e rédea curta.

É isto que queremos? Se é, votemos no mitómano que atirou o país para o caixote do lixo da História. Se não, ponhamos a imaginação a trabalhar. Há uma estreita janela de oportunidade, mas tempo escasso para agir.

domingo, maio 01, 2011

Portas, primeiro ministro?

Creio que foi neste blogue que, pela primeira vez, se colocou a hipótese de Paulo Portas vir a ser o próximo primeiro ministro. O próprio acabaria por anunciar formalmente essa ambição no passado dia 29 de abril. Et pour cause!

Como aqui já se escreveu, há uma hipótese, embora remota, de Sócrates e a pandilha de piratas de que faz parte tentarem aliar-se ao PCP e ao Bloco de Esquerda de forma subreptícia, em volta de uma solução alternativa ao pacote de saneamento financeiro que a troika proporá em breve: reestruturar a dívida soberana. É o que designo por Frente Populista. Embora altamente improvável, esta vitória de Pirro não é de todo impossível, e se vier a ocorrer, o mais provável primeiro ministro deste governo condenado ao insucesso seria, não o exausto e descartável Sócrates, mas Ferro Rodrigues.

Portugal é neste momento a borboleta cujo bater de asas pode ditar involuntariamente o futuro do euro, da Alemanha e da Europa. Não nos esqueçamos que está em curso a primeira grande guerra financeira mundial, e que os PIGS são o primeiro e principal campo de batalha desta guerra, enquanto de Cabul a Marraquexe continuam a guerra e os conflitos militares assimétricos pela reconstituição do Império Islâmico (em si mesma favorável aos interesses da China, Japão, Brasil, Turquia, mas também aos interesses geoestratégicos da Europa mediterrânica e do sudoeste atlântico: Grécia, Itália, Espanha e Portugal).

Quero crer, porém, que a solução da troika vencerá o primeiro round do saneamento da dívida soberana portuguesa, apoiado-se nomeadamente nas imensas reservas financeiras da China — que já tornou oficial o seu interesse em manter a Europa estável e o euro como alternativa de recurso ao colapso do dólar americano. Se assim for, a derrota do PS de Sócrates e da tríade de Macau será redonda. Mesmo assim, o PSD e o CDS poderão não conseguir a maioria imprescindível à revisão constitucional objectivamente imposta pela troika como contrapartida do auxílio comunitário. O país precisa, de facto, de uma maioria constitucional para ultrapassar a bancarrota a que Sócrates, a tríade de Macau e o PS conduziram o país. E neste caso, só mesmo um governo de coligação entre o PSD, CDS-PP e PS será garantia suficiente para uma aprovação unânime do resgate comunitário da dívida portuguesa. Passos Coelho jamais aceitaria o regresso de Sócrates. E Sócrates, se se mantiver como consigliere da tríade que capturou o PS, jamais aceitaria ser segundo do actual líder do PSD. Logo, Paulo Portas poderá mesmo aparecer em breve como a única solução prática disponível para resolver um verosímil impasse pós-eleitoral.

Em qualquer caso, penso como Eduardo Catroga: Sócrates e uns tantos mais devem ser julgados pela destruição financeira de Portugal.

sábado, abril 30, 2011

A Frente Populista

PCP, Bloco e... PS apostam na bancarrota de Portugal

Álvaro Santos Pereira: votar no actual Governo “é votar na bancarrota”

"Vão haver consequências muito graves se votarmos no Governo atual. Votar no Governo atual, quando a mim é votar na bancarrota, é votar para os nossos filhos emigrarem, é votar para ter a maior taxa de desemprego dos últimos 90 anos, votar neste Governo é votar na irresponsabilidades e certamente votar na bancarrota do país", afirmou o economista durante a sua apresentação no evento final do movimento "Mais Sociedade" — in Jornal de Negócios (29-04-2011).

Sócrates e a União Europeia

Já aqui escrevemos sobre a possível vantagem negocial de, uma vez claramente falidos (situação em que efectivamente nos encontramos), negociarmos a bancarrota directamente com os nossos principais credores (Espanha, Alemanha, França e Reino Unido), em vez de negociar um resgate com o Fundo Europeu de Estabilização Financeira e o FMI. Na primeira opção, os nossos credores poderiam ser convencidos a aceitar um corte nas suas expectativas de lucro com a dívida portuguesa (o tal "hair cut"); mas na opção que Bruxelas e Frankfurt querem, Portugal fica fora dos mercados de financiamento externo enquanto durar a quarentena do resgate, e vê diminuir a margem de negociação à medida que a situação evolua num ou noutro sentido.

Em que ficamos? Quem irá esticar a corda? Sócrates? Se o fizer, terá que se socorrer de uma viragem bem nítida em direcção aos partidos à sua esquerda. O PCP já defende algo parecido com a negociação directa com os credores, fora da tutela do FMI (uma posição negocial de total realismo). Este golpe de asa, por incrível que pareça, poderia colocar toda a zona euro perante um enorme dilema: retirar a Portugal o euro, dando início a um inevitável Harakiri da moeda única; ou aceitar um grande debate político sobre o buraco negro do endividamento soberano europeu — de onde pudesse sair simultaneamente uma governação económica e financeira comunitária mais coerente e coesa, mas também mais solidária — in “O grande tuga”, O António Maria (10-04-2011).

Lendo o Expresso de hoje, 30 de abril, verifiquei que o debate sobre as alternativas para tratar da falência do país, a que dez anos de estagnação e seis de roubalheira e manipulação de massas, ao compasso diário de um tele-ponto mentiroso e obsessivo-compulsivo, nos conduziram, já está ao rubro. Inspiradas pelo Economist, multiplicam-se as opiniões que defendem uma reestruturação da nossa dívida colectiva, i.e. a assunção da bancarrota.

Que é melhor para Portugal? Assinar um contrato de resgate financeiro com a troika da Comissão Europeia, BCE e FMI, ou preparar desde já o terreno para uma reestruturação da dívida com os principais credores: Espanha, Alemanha, França e Reino Unido? O PSD, o CDS e parte do PS inclinam-se claramente para a primeira alternativa. O PCP tem vindo a defender a segunda opção. O Bloco de Esquerda, ao excluir, como o PCP, qualquer contacto com a troika, inclinar-se-à em breve para o cenário da ruptura de pagamentos e subsequente reestruturação da dívida soberana.

No primeiro caso, ainda que temperado pelo aparente bom senso do FMI, que se tem oposto à fúria liberal do BCE e do senhor Barroso, seremos forçados a adoptar um conjunto de medidas de grande austeridade, em troca do dinheiro adiantado pela troika para pagamento das dívidas inadiáveis, ao longo dos próximos três anos. Neste período, a redução do endividamento será uma prioridade absoluta, ficando a entrada de euros no país dependente do cumprimento do acordo que os credores e fiadores da nossa dívida exigem ver assinado até meados de maio pelos principais partidos do arco da governação (PS, PSD e CDS-PP). Neste período, se o acordo for mesmo conseguido, como se espera, a democracia portuguesa e o seu imprestável sistema partidário e constitucional ficarão suspensos numa espécie de quarentena, ou sanatório — como em tempos, num acto falhado premonitório, Manuela Ferreira Leite sugeriu!

Na alternativa em que o Economist, o Financial Times e em geral a frente anglo-saxónica anti-euro apostaram, mais cedo ou mais tarde, mesmo havendo um resgate inicial (que falhará, dizem, como na Grécia já falhou) é inevitável uma reestruturação das dívidas soberanas dos PIGS e, como consequência, o colapso do euro — objectivo estratégico do dólar-libra na sua guerra pela manutenção da moeda americana como principal meio de pagamento internacional.

Esta segunda opção supõe, no essencial, o seguinte: os países altamente endividados, interna e externamente, como a Grécia, a Irlanda, Portugal e Espanha —elos fracos de uma crise de endividamento especulativo mundial—  irão acabar por anunciar ao mundo que não poderão pagar parte das suas dívidas, alegando impossibilidade prática de o fazer, mas também que a responsabilidade das mesmas deve ser justamente repartida entre quem pediu e não deveria ter pedido, e quem emprestou e não deveria ter emprestado.

Será este o jogo escondido de Sócrates? Se for, precisará de fazer uma frente populista com o Bloco e com o PCP, que o senhor Cavaco terá naturalmente que empossar!

A minha convicção, porém, é que o FMI estará atento a esta deriva populista e ao consequente descarrilamento do sistema monetário europeu. Não podemos, no entanto, deixar de contar com os imponderáveis em crises como a que atravessamos. Se um país da União Europeia rejeitar o auxílio a Portugal, que acontecerá em Lisboa, e depois em Bruxelas, Paris e Berlim?

Numa perspectiva mais ampla e a mais longo prazo, porém, Portugal terá sempre que pagar a sua dívida, ou boa parte dela. E mais do que isso: terá que aprender muito rapidamente a mudar de hábitos e atitudes. A nossa Constituição terá que mudar, o nosso Estado terá que encolher, os nossos partidos terão que ser refundados, a burguesia encostada ao orçamento terá que ir à vida, e o povo terá que ser menos bovino. O velho mundo colonial morreu … acordem!!

sexta-feira, abril 29, 2011

Precisamos de mudar!

O discurso de Passos Coelho começa a ganhar forma

Precisamos de um ministro das finanças fiável e íntegro — coisa que neste momento não temos. É extraordinário que Portugal esteja, nesta curva perigosa da sua história, sem ministro das finanças, e que este, em vez de já ter batido com a porta (acordando o PS da sua modorra oportunista), se veja transformado num tapete abjecto para Sócrates limpar os pés e esfregar as mãos, substituindo-o por um zé ninguém (como é que ele se chama, mesmo?) nas negociações em curso sobre a bancarrota a que o PS e a tríade de Macau conduziram o país.

Os meninos traquinas e a rapaziada de calças roçadas de tanto opinar já devem ter percebido que cada vez que espetam alfinetes nas costas do líder laranja que elegeram, apenas fortalecem o rapaz da Jota. Os passos de Coelho ganham rumo a cada dia que passa. Já não são de coelho, mas de quem fez uma aposta forte no futuro.

Tem razão Passos Coelho: nesta altura do campeonato, ceder é morrer. Se os portugueses não o elegerem agora, pior para todos nós, pois tal significaria deixar o país entregue a uma esquerda cada vez mais imbecil e irresponsável e ao bando de piratas que persiste em arruinar Portugal.

Já disse que votarei, pela primeira vez, no PSD. O meu coração bate à esquerda, mas não o voto. Quando o PS mudar, voltarei a comprar rosas. Até lá, limito-me a cuidar daquelas que tenho no meu jardim.

Passos Coelho: "Eu sei que o Governo vai mudar" 
O líder do PSD, Pedro Passos Coelho, afirmou hoje que Portugal precisa de “restaurar a confiança”, de ter uma “verdadeira regulamentação da concorrência”, “investimentos reprodutivos” e disse saber que o “governo vai mudar”.

No discurso que fez no encerramento do Observatório para o Emprego da distrital do PSD em Vila Nova de Famalicão, o líder social-democrata deu conta do que o “país precisa”, destacando quatro pontos: “uma boa concorrência, simplificar as coisas, pôr as Finanças em ordem e de uma nova liderança”.

Segundo Passos Coelho “ainda há muita batota” e Portugal precisa de “uma verdadeira regulamentação da concorrência” pois o país não pode ter “um empreendedor que cumpra e um que não cumpra e seja beneficiado por isso”.

Para o líder do PSD “a aposta tem que ser na economia e isso não significa fazer TGV nem autoestradas”, mas sim “um investimento reprodutivo”.

Assim, adiantou, “o programa do PSD vai estar focado em fazer crescer Portugal” e isso passa por “exportar mais dando as mãos a países que falam português e que podem ajudar Portugal a chegar a novos mercados”.

Pedro Passos Coelho afirmou ainda que é preciso “restaurar a confiança na capacidade de Portugal” para cumprir o que é acordado.

“Precisamos que no final do dia se inverta o que se tem passado: uma incapacidade de cumprir o que acordámos”, pois, se tal acontecer com o acordo de ajuda externa, disse Passos Coelho, “o resultado será desastroso”.

Mas para que seja possível “varrer os maus resultados”, defendeu, “é preciso pôr as Finanças em ordem e de um Governo que dê o litro”.

O líder do PSD referiu ainda que “para que tudo isto aconteça o Governo tem que mudar”.

Pedro Passos Coelho acabou o discurso mostrando-se convicto que tal vai acontecer: “Eu sei que o Governo vai mudar”. — in i online.
Um aplauso e dois reparos apenas sobre um discurso que começa a ganhar forma, e uma boa forma:
  1. o reconhecimento implícito de que as PPP rodoviárias são um cancro mortal, é um grande passo político;
  2. a persistência das dúvidas sobre a rede ferroviária em bitola europeia (ligação Caia-Pinhal Novo), sobretudo depois de o governo espanhol ter anunciado que todos os troços entre Madrid e Badajoz (Caia) acabam de ser adjudicados, é um erro crasso (se quiser, explico-lhe porquê);
  3. o silêncio sobre o novo aeroporto de Alcochete, que a ser levado por diante implicaria a destruição do aeroporto da Portela, é deveras ensurdecedor; diga, ao menos, que com um novo governo só haverá novo aeroporto se os privados o quiserem construir suportando integralmente os respectivos custos, sem bombons, i.e. sem levarem em troca a ANA e os terrenos da Portela — como até Marcelo Rebelo de Sousa, que não sabe nada de aeroportos, chegou a promover na televisão.

quinta-feira, abril 28, 2011

Quem liquida, afinal, o Estado Social?

Não é o FMI, estúpido!

PPP - novo Hospital de Braga, Estado/GrupoMello

120 PPPs e concessões irão custar aos contribuintes 60 MIL MILHÕES DE EUROS! 

Este modelo de economia burocrática revela que Portugal continua, mais do que nunca, nas mãos de uma burguesia rendeira e de uma classe política  parasitária que protege a primeira contra os interesses da maioria.

Como diz Estela Barbot, quem rebentou e continua a rebentar com o Estado Social não é o FMI, mas esta corja indolente e oportunista, com as suas auto-estradas desertas e outras megalomanias (hospitais e fundações de luxo, estudos e mais estudos sobre cidades aeroportuárias que ninguém pediu, nem são economicamente viáveis, etc.)

Deve ser isto que os presidentes vivos querem preservar com a sua Nova União Nacional !

PPP - Parcerias Público-Privadas
Relatório 2010
Julho 2010
Direcção Geral do Tesouro e Finanças, de Julho de 2010
PDF-LINK

Artigo original de Rui Rodrigues, Público/Transportes (LINK)

Relato sobre as afirmações de Estela Barbot (Económico)

terça-feira, abril 26, 2011

Maioria silenciosa

Um partido que leva o país à bancarrota pode ganhar as próximas eleições!
...cerca de 1 milhão de eleitores beneficiam do CSI ou RSI, devem esse beneficio ao PS e a maioria tem consciência disso. Agora junte-se-lhes os boys que infestam os sectores administrativo ou empresarial do Estado e as empresas privadas que vivem à sombra do governo. É esta a almofada que suporta o PS e amortece o efeito dos erros cometidos pelo governo.

Se observarmos os resultados das eleições legislativas de 2009, vemos que o PS recebeu 36,6% com cerca de 2 milhões de votos. Donde concluímos que o governo PS pode levar o país à bancarrota sem que daí advenha, como consequência, a perda das eleições legislativas. Só um voto nulo maciço do restante eleitorado, um voto anulado com uma frase de protesto contra o PS, pode desalojar os socialistas do governo — in Cidade Lusa.
A maioria cor-de-rosa criou uma base populista de apoio formada pelo CSI (Complemento Solidário para Idosos), RSI (Rendimento Social de Inserção) e pela imensa rede de jobs for the boys-and-girls tecida pelo sistema partidário no seu conjunto, com especial destaque, ao longo da última década e meia, para o PS.

De leitura obrigatória, a análise da Cidade Lusa mostra como a tríade de Macau, de forma metódica e sibilina, montou a sua base de sustentação populista.

O PS poderá assim voltar a ganhar as eleições, colocando Portugal na senda dos novos regimes proto-fascistas que aí vêm. Há, porém, um limite objectivo que não conseguirá superar: para o nível catastrófico do nosso endividamento público e privado, nem que tivéssemos o petróleo de Chávez ou de Kadafi nos safaríamos do colapso, ou de uma correcção abrupta da  fantasia social em que vivemos. Se a Alemanha não quiser perder, uma vez mais, a Europa, é o que nos obrigará a fazer. Se a Espanha não quiser voltar ao terrível espectro de uma guerra civil, é o que nos obrigará a fazer. Ou seja, ambos os países, que são os nossos dois maiores credores (a que se segue a França), têm uma só escolha pela frente: ou deixar Portugal resvalar para um regime populista perigoso, com o efeito de boomerang que uma tal degenerescência da democracia pode causar, ou levantar imediatamente uma barreira financeira intransponível às tácticas oportunistas e corruptas que hoje imperam no espectro partidário lusitano.

Estive esta madrugada a reler um texto fundamental de Garret Hardin, publicado pela revista Science em 1968: The Tragedy of the Commons. Seria bom que os pessoas sérias e inteligentes deste país o relessem também.

domingo, abril 24, 2011

Portugal a descoberto

Ganhar com a falência de um país adormecido
A especulação é uma droga. Quem conhece os seus efeitos, não lhe resiste!

Um dos maiores vigaristas da nossa praça financeira é amigo íntimo (mesmo íntimo) de um dos maiores vigaristas que a política portuguesa alguma vez conheceu. Ambos apostam em lucrar como nunca com a falência de Portugal. Não os engavetem a tempo, e depois queixem-se!

Até Mário Soares se apercebeu do verdadeiro perigo que a democracia portuguesa corre se continuar entregue por mais alguns meses à turma de piratas que nos conduziu à beira do precipício.

Uma atitude firme do governador do Banco de Portugal, suspendendo por seis meses, ou ilegalizando mesmo, as operações a descoberto (short selling) com as obrigações e os títulos da dívida soberana —uma das clássicas e mais perigosas formas de especulação financeira (1) de que há memória— poderá, porém, fazer toda a diferença. Se Carlos Costa tiver coragem para avançar, e Pedro Passos Coelho antecipar o seu apoio a esta defesa in extremis do país, contra a grande pilhagem especulativa em preparação, ainda poderemos evitar que Portugal se transforme, como diz K. neste seu pertinente alerta, numa "colónia de escravos".

Começou o ataque a Portugal e à Grécia

POR FAVOR LEIAM ATÉ AO FIM:

As seguintes operações estão em andamento na Grécia, Portugal (e possivelmente em Espanha e Itália), com o objectivo de ganhar todo o dinheiro possível utilizando as dividas dos periféricos Europeus e os 400 mil do fundo de estabilização, instrumentalizando os stress tests dos bancos:

O objectivo é tirar partido da ineficiência criada pelo BCE, que emprestou dinheiro a juros reduzidos aos bancos portugueses para comprarem dívida pública portuguesa, o que duplicou o problema original.

A posterior subida dos juros no mercado secundário fez cair o valor das obrigações compradas pelos bancos portugueses. Esta queda do valor das obrigações fez cair os ratios de capital dos bancos. Quando os Stresstestes começaram, os bancos portugueses aperceberam-se da situação e levaram o Governo a um pedido de ajuda de cerca de 100 mil milhões.

Os 100 mil milhões destinavam-se inicialmente a comprar dívida pública portuguesa.

Assim, existem 100 mil milhões de Euros que poderão ser retirados do País com a seguinte

TÉCNICA:

A ideia é, vendendo obrigações a descoberto (short selling) criar a ilusão da existência de dois buracos que não existem, um na dívida e outro nos activos dos bancos, forçando o dinheiro da ajuda a tapar o buraco que seria criado nos bancos por uma reestruturação. Isto permite ganhos adicionais com short selling nos bancos.

Os juros são pressionados em alta no mercado secundário de obrigações portuguesas (fácil, pois é pouco líquido) no periodo em que é feito o stress test aos bancos.

Os ratios dos bancos descem fortemente obrigando o dinheiro da ajuda a ser usado para recapitalização dos bancos, de acordo com as exigências dos stress tests.

A dívida em si acaba por ser restruturada por pressões de agentes financeiros e meios de comunicação sobre o poder políticas e FMI (já o estão a fazer na Grécia). Ao não pagar o valor total da obrigação, estas vão proporcionar um ganho na maturidade às posições short, criando assim um buraco REAL nos activos dos bancos que assim substitui o anterior (que era VIRTUAL). Todo este dinheiro é discretamente ganho em posições curtas de Obrigações e de Bancos, sendo coberto pelo dinheiro do fundo de estabilização e FMI, deixando Portugal com uma dívida gigantesca. 
A única maneira de evitar este roubo é denunciar a situação e impedir a todo o custo a reestruturação da dívida publica. Receio que nem toda a gente esteja a ter a percepção disto. Quando comecei a ouvir as notícias sobre a reestruturação na Grécia, não vi ninguém a alertar para esta situação, por isso decidi partilha-la com o maior numero de pessoas antes que seja demasiado tarde, pois pode acontecer a situação de Portugal roubar-se a si prioprio sem se aperceber, dar o lucro a estrangeiros, criando assim um gigantesco buraco nas contas publicas, o que iria levar à crise que se tentou evitar e transformar o país numa colónia de escravos (tal como a Grécia).

Divulguem e comentem o mais possível. Manobras deste tipo já foram feitas com sucesso.

Se as obrigações maturarem (i.e. se a dívida não for reestruturada), os ratios dos bancos ficam normais e as posições short dos especuladores vão ter um prejuízo elevado, obrigando-os à compra de obrigações no mercado secundário, levando os juros a níveis normais, retirando-lhes os lucros e forçando os capitais a regressar ao país pela compra de acções dos bancos para short covering.

Os stress-tests serão assim instrumentalizados pelos especuladores. É esse o seu fim.

Vamos tentar evitar que isto de facto aconteça, informando o poder político e a opinião pública da situação.

K.
in Jornal de Negócios/Caldeirão de Bolsa

NOTAS
  1. Short selling (especular a descoberto) — Esta forma de especulação tem conduzido à ruína bancos e países ao longo da já longa história do Capitalismo. Basicamente, trata-se de ganhar, e de ganhar muito, com as dificuldades alheias. O especulador a descoberto snifa as presas feridas, por exemplo, como é o nosso caso, de sobre-endividamento, e aposta na sua desgraça. Como? Sempre da mesma maneira: compra e promete pagar mais tarde um dado lote de obrigações, moedas, terrenos, casas, obras de arte, flores, o que seja, desde que manifeste um claro potencial de especulação (no valor, por exemplo, de 1000 euros). Na data prevista o especulador terá que honrar o contrato de compra e venda, e pagar os 1000 euros, ou devolver as obrigações (em ambos os casos pagando uma comissão). Entretanto, o que se passou? É simples: o especulador vendeu no mesmo dia e pelo mesmo preço as obrigações —que ainda não pagou— a um comprador que naturalmente ignora os meandros da operação. Entretanto, o valor destas cai, em linha com a aposta do especulador. Quando tal ocorre, este volta a comprar um lote de obrigações, desta vez por menos dinheiro (por exemplo, por 800 euros) e devolve-as a quem lhas vendeu por mil.  Ganhou, portanto 200 euros (menos a comissão paga aos intermediários), sem produzir um único cêntimo de riqueza. Mas a riqueza terá que vir de algum lado! De onde? Invariavelmente, de quem produz, de quem poupa e de quem paga impostos. É por isso que estes processos de pilhagem legalizada acabam não raras vezes por conduzir a revoluções e guerras civis.

sexta-feira, abril 22, 2011

Italianos põem barbas de molho

União Europeia precisa de prova de esforço
Italy proposes new Treaty change

Italy's Finance Minister Giulio Tremonti called yesterday (19 April) for a new revision of the EU Treaties in order to equip the European Union with updated tools to face immigration, the economic crisis and energy challenges — EurActiv, 20-04-2011.

Itália antecipa um debate inevitável: a União Europeia pode não sobreviver à presente crise, que tem ainda pela frente cinco ou dez anos de doloroso empobrecimento, sem um debate radical sobre os seus efectivos desígnios. É preciso saber se o que está em causa é a criação de uma economia baseada numa nova moeda ajustada à diversidade europeia, ou se, pelo contrário, o que está em causa é a imposição a todos os povos europeus de uma economia baseada no euro-marco. Se for este o caso, o mais provável é que a Europa volte a dividir-se entre a estepe germânica e eslava, e a velha Europa ocidental, mediterrânica e atlântica, que então se voltará de novo para os continentes americano e africano em busca de uma nova base financeira de sustentação. Claro que teremos que pagar as nossas dívidas, mas não o dinheiro perdido pelos piratas, bancos aventureiros, especuladores e fundos de investimento imprudentes, no casino da especulação imobiliária e dos derivados.

O colapso português veio mostrar que, depois de nós, se continuar a proliferar o egoísmo nacional entre os vários estados europeus, a troika baterá às portas da Espanha e da Itália. No entanto, se estes dois gigantes europeus forem ao tapete, pouco ou nada sobrará do sonho europeu. Uma Europa a duas velocidades, com duas taxas de juro directoras, soçobrará antes de ver a luz do dia, pois tal cenário significaria a colonização inevitável dos PIIGS (Portugal, Irlanda, Itália, Grécia, Espanha) pela Alemanha, França, Holanda, Dinamarca e Áustria. Ora não é disto que rezam os tratados europeus!

Seria muito grave que as elites corruptas dos PIIGS aceitassem, numa primeira fase, expropriar pela via fiscal os respectivos cidadãos e empresas, para depois entregarem os bens de raiz e capitais espoliados, não apenas aos credores legítimos, mas também aos especuladores sem nome da actual crise financeira mundial. Seria o caminho mais curto para uma guerra civil europeia.

Do ponto de vista da teoria económica e das soluções técnicas que possam efectivamente ajudar a superar a trapalhada em que estamos todos metidos, há ainda muito trabalho por fazer, e seria bom que as negociações actualmente em curso com a troika encarregue de desenhar o resgate financeiro de Portugal, em vez de um mero palco de imbecilidades mediáticas para eleitor oportunista entender, permitissem verdadeiramente discutir e encontrar soluções pragmáticas, eficazes e equilibradas.

Li a carta de Eduardo Catroga ao homenzinho que substituiu o imprestável, demitido, arredado e desgraçado ministro das finanças de Sócrates, Teixeira dos Santos. Mais verdade e transparência nas estatísticas e nas contas públicas, menos Estado, menor captura deste pelo máfia palaciana e partidária das PPPs (é mesmo, Eduardo Catroga?), menos expropriação fiscal da riqueza criada e da poupança privada, privatizações integradas em objectivos de crescimento económico, um sistema bancário fortalecido e orientado mais para a economia real do que para o financiamento imparável da despesa pública — em suma, austeridade, sim; mas abrindo uma janela de oportunidade ao crescimento, sem o que, o objectivo do resgate não será conseguido.

Estou em geral de acordo com as intenções. O documento deveria ter sido, porém, mais concreto, explicitando sobretudo as grandes obras que não devem realizar-se, por mal pensadas e desnecessárias (autoestradas escandalosamente inúteis, aeroporto de Alcochete, ou as barragens do Sabor, Tua e Fridão, por exemplo), ou cuja concretização, embora estrategicamente justificada e até acordada com terceiros países, deve ser adiada até que o pior da presente crise passe (por exemplo, a ligação ferroviária em bitola europeia —para pessoas e mercadorias — entre o Pinhal Novo e Caia, ligando a grande Lisboa, Setúbal e Sines a Espanha e ao resto da Europa).

Por outro lado, falta uma proposta concreta dirigida à troika, sobre a modalidade concreta do resgate. Recomendo a este propósito uma discussão interessante iniciada por António S Mello e John E Parson em volta da proposta surpreendente do governador do banco nacional irlandês, Patrick Honohan, de indexar os pagamentos da dívida irlandesa ao crescimento do Produto Nacional Bruto do país.

Só com austeridade (receita da troika), não vamos lá (e nisso o PCP e o Bloco têm razão). Mas fazendo depender o grau da austeridade e o resgate da dívida apenas dos resultados do crescimento, também não, pois pode transformar-se rapidamente, e uma vez mais, numa ilusão contabilística à medida da criatividade dos melhores vigaristas. Antonio S Mello e John E Parson sugerem, pelo contrário, uma variante da regra de Taylor (1993) para disciplinar as finanças dos PIGS no contexto de uma moeda regional. A discussão só agora começou, mas promete! Espero que Eduardo Catroga leia Betting the Business, antes de fechar o programa do PSD — que o senhor dos Passos tem vindo a sangrar às pinguinhas!

A Eurolândia, para sobreviver, terá no essencial que prosseguir com determinação três objectivos estratégicos:

   1. criar um verdadeiro governo económico e financeiro comunitário, decorrente da composição partidária do parlamento europeu, solidário, transparente e com poderes de imposição executiva sobre os estados nacionais (os que não adaptarem as respectivas constituições às novas regras deverão assumir o preço da sua independência e abandonar o euro);
   2. defender a economia europeia no quadro de uma divisão internacional do trabalho mais equilibrada e justa, e de uma revisão urgente da organização do comércio mundial, evitando sobretudo cair na armadilha do endividamento indirecto (défice comercial) e directo (emissão de dívida europeia) a favor da China, país com uma agenda imperial evidente;
   3. promover o rejuvenescimento demográfico da Europa, seja pela via de uma discriminação fiscal positiva aplicada à natalidade, seja pela adopção de políticas de imigração selectivas e condicionadas à aceitação prévia das leis europeias (processos pró-activos de legalização; contrato de cidadania europeia, etc.)

Se os directórios partidários, capturados pelos interesses mesquinhos de cada nação e grémio, continuarem a assobiar para o lado, e não encararem com coragem os verdadeiros problemas da Europa, estaremos inexoravelmente condenados à decadência e mesmo a um empobrecimento inesperadamente rápido e muito acentuado.

sábado, abril 16, 2011

Expulsos do Paraíso?

Não, não podemos ser os chineses (pobres) da Europa!

A histeria anti-germânica do PS, partido acarinhado e financiado durante décadas pelos social-democratas alemães, é mais um tiro na testa dos portugueses dado pelas agora histéricas criaturas dependentes da tríade de piratas que assaltou o PS e Portugal e nos conduziu à bancarrota. Sim, se a Alemanha der ouvidos à retórica recente de Mário Soares, e à verborreia febril da funcionária cor-de-rosa Ana Gomes, acabando por nos deixar resvalar para fora da moeda única europeia, o nosso país perderá literalmente a face, tornando-se mais um estado pária dos muitos que preencherão a geopolítica do futuro. Eu só compreendo as palavras de Mário Soares como um táctica negocial — mas é tarde para isso, além de que foi esta mesma espécie de chantagem europeia o estratagema usado sem vergonha por Sócrates ao longo dos últimos três anos e meio.

É difícil passarmos a ser os chineses (pobres) da Europa, se formos expulsos do euro. E isto por quatro razões básicas:
  1. a nossa dívida tornar-se-ia muito mais pesada e porventura eterna...
  2. o que exportamos bem (têxteis, calçado e máquinas/utensílios) já o fazemos apesar da valorização do euro face às demais moedas mundiais; 
  3. mas como precisaremos sempre de divisas fortes para comprar a energia que move a nossa economia e o país em geral (petróleo, gás e matérias primas, nomeadamente alimentares), a saída de Portugal do sistema monetário europeu acabaria por destruir o sector exportador, tornando impagável a nossa gigantesca dívida colectiva;
  4. estamos a perder população e a envelhecer..., o que somado a uma desvalorização de 50% ou mais da nossa economia, e a não conversão automática da nossa futura moeda fraca, mergulharia o país numa espiral inflacionista, emigração em massa e possível guerra civil.
Só temos, pois, um caminho: emagrecer o Estado > aumentar a transparência > atacar a endogamia do regime > e aumentar dramaticamente a racionalidade e o pragmatismo de todo o sistema político.

Como no início desta emergência escrevi, não passaremos sem uma taxa de IVA de 25%, pelo menos durante dois ou três anos. Só depois deste aperto inicial, será possível e desejável aliviar progressivamente a carga fiscal, beneficiando os criadores de riqueza e recuperando assim parte do produto indevidamente apropriado por capatazes especados diante de quem bule, burocratas que arrastam os pés por esse país fora entre as onze e as cinco e meia, e pela virtualmente inútil nomenclatura partidária.

Emagrecer o Estado implicará também uma separação de águas radical nos sistemas públicos de educação, saúde, justiça e administração do território. O Estado Social terá que tranformar-se nos próximos três a cinco anos num Estado Essencial — o que não for urgente e estratégico (em suma, essencial) não deve continuar nas mãos do Estado, e deve passar tão rapidamente quanto possível aos domínios da iniciativa privada e das comunidades auto-organizadas (associações, cooperativas e organizações de cidadania). O estado autárquico, por exemplo, depois de uma diminuição drástica do número de municípios (sobretudo nas grandes áreas metropolitanas de Lisboa e Porto) terá que encontrar inevitavelmente novas formas de financiamento para além das transferências do Estado central e da cobrança de taxas e impostos locais; e para conseguir atingir tal objectivo terá que ganhar constitucionalmente (já na próxima revisão) uma muito maior autonomia administrativa e capacidade de negociação, seja com as comunidades de onde emanam, seja com as irmandades que conseguirem estabelecer pelo país e por esse mundo fora.

Entretanto, persiste a possibilidade de o euro colapsar, seja pela via do regresso das moedas europeias nacionais (uma hipótese, apesar de tudo, inverosímil); seja pela via da emergência de duas bandas no euro: uma banda forte e uma banda fraca. Neste caso, a moeda manter-se-ia a mesma, mas as taxas de juros do BCE seriam diferenciadas consoante o pedinte...., sem que, ao mesmo tempo, os bancos nacionais e os governos pudessem depois repercutir directamente o preço caro do dinheiro em taxas de juro nacionais, regionais ou locais.

Ou seja: se é verdade que a sobrevivência do euro está em causa, esta dependerá menos da diminuição do espaço euro, do que do seu alargamento (nisto a Alemanha teve e continua a ter razão) e, sobretudo, da aceitação por todos os países que quiserem permanecer nesta zona monetária, de um verdadeiro governo económico europeu — o qual passará a vigiar directamente as contas públicas de todos os seus membros, nomeadamente através dum mecanismo de aprovação/rejeição europeia dos orçamentos de estado. Por menos do que isto não vamos a parte alguma.

É verdade que a especulação tonou conta do mundo. É verdade que o buraco negro dos chamados derivados financeiros equivale a mais de dez vezes o PIB mundial. Mas nada disto diminui o fundamental: os Estados Unidos e a Europa vivem acima das suas possibilidades há pelo menos trinta anos. Nós, portugueses, vivemos acima das nossas possibilidades, pelo menos desde que a última árvore das patacas inundou o país de riqueza que não criámos, que outros criaram por nós e que agora, legitimamente, querem ver retribuída.

O discurso anti-germânico, sobretudo vindo dum partido que acaba de realizar um congresso proto-fascista, é preocupante.

quinta-feira, abril 14, 2011

Um FMI mais humano

Estela Barbot — uma tragédia contada aos pequeninos
Para recuperar a credibilidade, Portugal precisa de uma verdadeira dona de casa

A entrevista realizada por José Gomes Ferreira (na SIC) a Estela Barbot vale cada segundo da conversa. Estela Barbot, antiga empresária, membro da Comissão Trilateral do Clube de Roma, e actual conselheira do FMI, em palavras simples, muitas vezes cavalgadas pelo seu raciocínio agudo e ultra-rápido, deixou os desajeitados mas nem por isso menos arrogantes machos da política portuguesa num verdadeiro buraco de vergonha.

Depois de Manuela Ferreira Leite e Medina Carreira, esta celtibera de pelo claro e olhar de lince fez o mais compreensível e demolidor retrato do desastre a que o tele-ponto da tríade de Macau conduziu o país. O PS, capturado por um inacreditável polvo cor-de-rosa (sim, é mesmo uma rede mafiosa) atirou Portugal para a bancarrota, e não quer sair da toca de corrupção, manipulação e intriga que defende desesperadamente. Como qualquer ditador árabe ou africano, José Sócrates está agarrado ao poder como uma lapa depois de tocada pelo momento da verdade. Vai ter que ser arrancado de São Bento, como Mubarak, Kadafi e Laurent Gbagbo, e enviado à barra dos tribunais, se não acordar a tempo do paraíso alucinado onde se refugiou. Até nisto nos estamos a transformar rapidamente num país do terceiro mundo!

Os machos partidários deste país (do Bloco ao CDS) fizeram de Portugal um atoleiro de onde é cada mais difícil escapar sem enormes estragos e feridas duradouras. Venham pois as mulheres! Estela Barbot, Manuela Ferreira Leite, Paula Teixeira da Cruz, Maria João Rodrigues, Assunção Cristas, Manuela Arcanjo, tomem conta do meu país, já!

NOTA: José Gomes Ferreira questionou-se, pela primeira vez, sobre a inutilidade óbvia do novo aeroporto (até que enfim ;) E Estela Barbot demoliu numa frase de bom senso o desastre financeiro e técnico que foi a todavia incompleta modernização da linha ferroviária no norte, que liga Lisboa ao Porto e Braga. João Cravinho, hoje no BEI, bem poderia pedir desculpa a todos nós por este erro monumental, bem como pela lunática invenção das SCUTs — as quais, afinal, vão ter desastrosos custos para o utilizador! Esperemos que o Eduardo Catroga veja e medite seriamente nas palavras de Estela Barbot, e se deixe de fantasias aeroportuárias no programa que o PSD vai apresentar em breve o país.

Ver entrevista

quarta-feira, abril 13, 2011

Populismo pós-moderno

O comício de Matosinhos fez-me lembrar outros tempos...

Carrilho diz que congresso do PS foi a cassete de Sócrates
No seu comentário semanal na TVI24, Carrilho voltou a repetir a ideia de José Sócrates “construiu uma história em que ele [Sócrates] é o herói” e que foi ao congresso “transformar a boa história numa cassete.”

“Não houve uma única ideia no congresso”, acrescentou Carrilho, que não foi à reunião socialista. “Foi como se todos os socialistas assumissem o teleponto de Sócrates.”

Carrilho salientou ainda que o PS “vai avançar para as eleições sem programa” e em que José Sócrates se apresenta “como um cartão de crédito” — in Público.

Manuel Maria Carrilho tem sido uma das poucas vozes avisadas do PS com a lucidez e coragem suficientes para denunciar o plano inclinado que Sócrates trouxe ao partido fundado por Mário Soares e a Portugal.

O ajuntamento partidário do último fim-de-semana fez-me pensar no que conduz realmente um povo ao fascismo. É só isto: a ameaça de miséria e o desemprego em regimes partidários parlamentares corrompidos. Sobretudo o desemprego urbano e suburbano, que num primeiro momento (uma ou duas décadas) o proteccionismo partidário e burocrático ainda disfarça com emprego público financiado por empréstimos e por uma fiscalidade cada vez mais agressiva.

Chega, porém, um momento em que deixa de ser possível esconder a realidade, e a ameaça de colapso social ameaça a continuidade dos próprios regimes. É aqui que a irracionalidade crescente pode levar os líderes outrora democratas à metamorfose e ao surgimento inesperado de caudilhos, cuja tropa de choque é formada, precisamente, pelo tipo de clientela que hoje vive e sobrevive apenas à custa dos partidos. A unanimidade do comício de Matosinhos, onde sintomaticamente nem Carrilho, nem Mário Soares estiveram, foi terrivelmente premonitório a este propósito. Aquela gente já é uma tropa de choque em movimento! A cassete do líder foi ali apresentada, saudada e unanimemente tomada como hóstia do desespero e agressividade que rapidamente irá tomar conta de milhões de portugueses.

O embate partidário em curso, da parte de todos os partidos que disputam assentos parlamentares, conselhos de administração, direcções-gerais, e toda a espécie de indecorosas mordomias, transpira cada vez mais estes perigosos odores populistas. O fascismo pós-moderno, que terá outra cor e dimensão mediáticas, pode estar, efectivamente, ao virar da esquina. Não digam, se o pior ocorrer, que não foram avisados.

Basta ler o excelente estudo editado por Daniele Albertazzi e Duncan McDonnell —Twenty-First Century Populism (2008) — para perceber claramente como novas formas de populismo estão a crescer rapidamente em toda a Europa e poderão eventualmente conduzir, antes de a presente década chegar ao fim, ao colapso da União Europeia, a uma nova guerra civil europeia ou, pelo contrário, mas só se tivermos juízo, à urgente paragem da globalização suicida das últimas três décadas.

Precisamos dum NOVO TRATADO DE TORDESILHAS! A América e a Europa devem proteger as respectivas economias. A China, o Japão e a Índia, mas  também a Alemanha e a Rússia, ou entendem rapidamente que é do seu interesse uma nova divisão internacional do trabalho, favorável ao equilíbrio, e não mais às deslocações tectónicas dos centros de produção, nem à especulação desenfreada, ou acabaremos numa guerra global que acabará com um parte substancial da humanidade.

O FMI até poderá ser uma bênção para o nosso país — sobretudo se conseguir rapidamente acantonar a parasitária, mole e indecorosa burguesia palaciana que temos. Sobretudo se conseguir rapidamente colocar os nossos deputados a andar de metro e autocarro. Sobretudo se conseguir limitar os danos à nossa independência e sustentabilidade provocados pelo terrorismo fiscal e pelos monopólios que há décadas têm vindo a destruir o nosso tecido económico e a discriminar os portugueses em duas grandes categorias: os que vivem à custa do Estado, nomeadamente pela via da cunha familiar e/ou partidária, e aqueles que emigram.