quinta-feira, janeiro 20, 2011

Estado e liberdade

Alemanha, um exemplo a seguir...

Francisco de Goya - "Saturno devorando a un hijo", 1819-1823.

 Os países emergentes não são neoliberais, e os países governados por elites neoliberais são, aparentemente, responsáveis pela decadência do Ocidente, pela maior crise financeira desde 1929, e por uma vaga de destruição de riqueza (de empresas e de empregos) sem precedentes.

Esta é uma constatação a que não se consegue escapar. O mundo anglo-saxónico do dólar e da libra procuram resolver a actual crise financeira mundial insistindo estupidamente no abuso das práticas especulativas (Subprime; mais recentemente, a tentativa de criar um mercado mundial especulativo de emissões de carbono, etc.) e inflacionistas (Quantitative Easing; desvalorização competitiva das taxas de juro dos bancos centrais —Japão, EUA, UE; emissão imoderada de dívida pública; criação de moeda sob a forma de activos ficcionais, i.e. dívida pública, etc.) A Alemanha de centro-direita, pelo contrário, insiste na necessidade inadiável de impor uma maior disciplina orçamental aos governos e suas clientelas, e uma maior racionalidade nos negócios, insistindo também na necessidade de manter e potenciar elevados níveis de criação e produção efectiva de bens transaccionáveis, renovando as indústrias, com melhores tecnologias, mas também mais eficientes métodos de gestão e partilha social dos benefícios da produtividade e da competitividade. São duas visões que, curiosamente, continuam por debater — nos adequados termos que suscitam e merecem.

As duas citações que se seguem são bem sintomáticas do universo traçado por Christoph Schwennicke no excelente artigo publicado pelo Spiegel online. Que grande parte das pressões neoliberais na Alemanha tenha sido fruto, entretanto apodrecido, do SPD de Gerhard Schröder, é toda uma ironia política que o senhor Manuel Alegre, mas sobretudo quem no PS estuda a possibilidade de suceder a José Sócrates, deveriam estudar a fundo. Pois desse estudo poderá nascer um programa eleitoral que faça sentido e possa realmente prometer futuro a Portugal.

Tomás Correia: suspende pagamento
O Montepio (...) cessou as modalidade de reforma com juros de 4 a 6% por causa da crise e do aumento da esperança de vida. Já registava prejuízo de 30 milhões. — Correio da Manhã, 2011-01-19.

Central Bank steps up its cash support to Irish banks financed by institution printing own money

The Irish Independent learnt last night that the Central Bank of Ireland is financing €51bn of an emergency loan programme by printing its own money.
(…)
However, the figures also provide the latest evidence that responsibility for funding Ireland's broken banks is being pushed increasingly back on to Irish taxpayers. The loans are recorded by the Irish Central Bank under the heading "other assets". — Independent 2011-01-15.
 Germany and Europe Must Defy Political Trends
A commentary by Christoph Schwennicke

Germany's economy is in good shape because it resisted the fashion of neoliberalism. Europe should show the same defiance in the face of self-serving predictions that the euro is doomed. The financial and debt crises have highlighted the need for strong governments -- and for more Europe, not less.

(…)

The term "capital cover" was misleading in three ways. First, it covered up the fact that contributors must contribute fresh money of their own. Second, there was the risk inherent in the capital market. Finally, there was the question of who consistently benefits from this new system.

The risks have since caught up with the new system and, in the course of the financial crisis, brought down its apologists along with the economy. Hans Martin Bury, after serving as Schröder's right-hand man at the Chancellery, worked as an investment banker at Lehman Brothers, the firm whose bankruptcy triggered the financial crisis. Private health insurance companies face precisely the same problems -- obsolescence and financial difficulties -- as their competitors in the statutory health insurance system because, on the one hand, their hand-picked, young, healthy and dynamic clientele has become older and more susceptible to illness and, on the other hand, the return on their reserves is stagnating.

(…)
The Right Investment

The lesson to be drawn from the current experience should be not less Europe, but more Europe, a more integrated Europe, with weatherproof institutions like a European monetary fund, a common economic and social policy and -- if need be -- common bonds. Europe has more to offer and more to lose than just a common currency. It is more than a large trading zone. Continental Europe is a cultural zone with the world's most exemplary political value system. Anyone who attacks it or derides it is pursuing an interest, one that is economic or hegemonic. We should be aware of this. Even if Germany always supposedly pays more than everyone else, it's the right investment. — SPIEGEL online, 2011-01-18.
O nosso regime está no fim de um longuíssimo ciclo histórico. Um ciclo de seiscentos anos! Desde 1415, ano que levou Portugal a Ceuta, e daí a uma expansão marítima colonial sem precedentes, que duraria até à devolução de Macau à China, em 1999, vivemos uma situação privilegiada, apesar dos muitos que nunca lucraram nada com isso. Para esta reflexão, porém, importa reter um facto: o Estado foi sempre o centro do nosso universo económico e cultural. Todos dependemos dele até ao momento em que as suas inúmeras tetas coloniais secaram. À medida que foram secando, fomos caindo aos trambolhões, do Brasil para uma guerra civil e mais endividamento; do Mapa Cor-de-rosa para a ditadura de João Franco, o regicídio e a balbúrdia republicana que nos conduziria às ditaduras de Sidónio Pais e de Salazar; do 25 de Abril, aos solavancos de um regime cuja bancarrota só não foi ainda declarada porque a União Europeia nos tem posto a mão por baixo. As três últimas grandes tetas —emigração, turismo e fundos comunitários— estão em fim de ciclo, e vão provavelmente mirrar de vez até 2015. E depois de 2015, como vai ser? Ou melhor, e agora, que será feito de nós? O Estado? Qual Estado? Que novo Estado vamos querer e poder? O Estado alemão, que nunca foi outra coisa que não um think tank estratégico; ou o Estado português, tradicionalmente cabotino, arrogante, manhoso, preguiçoso, pejado de clientelas e carraças orçamentais, autoritário com os fracos e corrupto com os ricos e poderosos, em suma, faustoso, paquiderme, ignorante e cobarde? Só de ouvir o Pinóquio arranhar o seu inglês de fax, todo o meu patriotismo vacila!

Vamos precisar de Estado, dum Estado. Mas qual? Esta é a discussão de que dependerá a nossa continuidade histórica, ou o nosso desaparecimento (sim, as nações e os países aparecem e desaparecem.) Não percamos, pois, mais tempo com a tragicomédia mediática que entra pelas nossas casas dentro à hora de jantar!

quarta-feira, janeiro 19, 2011

Bolha fatal

Comissão Europeia aposta no gás de xisto
Shale gas is the subprime mortgage of the energy sector” — Jeff Rubin.



Protests spread over first European shale gas well

While the EU is looking at ways to diversify its energy supply, a new report has called for a moratorium on shale gas operations in the UK, just a month before mining company Cuadrilla hopes to launch its first “flare”.

(…) “With shale gas exploration you need to crack the rock underground using special chemicals and drill horizontally and continuously. Parts of the chemicals could get into underground drinking water sources,” he said.

(…) A European Commission representative gave a broadly positive reaction to the news.

“We believe that shale gas is an opportunity,” Marlene Holzner, spokesperson for EU Energy Commissioner Günther Oettinger, told EurActiv. “We need gas and gas demand will increase over the years so if we’re able to extract this gas, it will help us to rely less on imports.” — in EurActiv, 2011-01-18.

Compreende-se o desespero do Reino Unido e da Noruega depois de se ter tornado público e notório o declínio rápido das suas reservas de petróleo. Compreende-se o desespero dos países frios da União Europeia à medida que vão percebendo a sua dramática dependência do gás natural russo para se aquecerem em Invernos cada vez mais gélidos e intempestivos. O petróleo de Brent chegou hoje aos 97,09 USD.

Os países e as pessoas estão cada vez mais endividados, numa conjuntura de crise sistémica do Capitalismo, numa conjuntura de verdadeiro saque fiscal das populações europeias, e numa conjuntura de destruição de emprego e empobrecimento como não se via na Europa há décadas. Como se isto não bastasse, os grandes piratas da economia ocidental, que atraíram milhões de pessoas, centenas de milhar de empresas, centenas de cidades e dezenas de estados para falência, tentam agora desesperadamente colocar em marcha mais uma bolha especulativa.

A primeira tentativa falhada, depois do colapso imobiliário, foi a do nado-morto mercado mundial de créditos de carbono, que se havia pendurado habilmente nos movimentos anti aquecimento global. A segunda, foi e continua a ser a especulação em volta das dívidas soberanas, colocadas “no mercado” (para citar as palavras do nosso Pinóquio das arábias), como mais um produto de especulação financeira. Esta bolha vai esvaziar em breve, seja pela acção preventiva e ajuizada de Angela Merkel, seja pelo abandono progressivo do dólar, por parte dos principais países produtores de matérias primas e produtos manufacturados. Perante horizonte tão negro, o especulador dos especuladores, e criador do veneno chamado Credit Default Swap, J. P. Morgan & Co., acaba de fazer ressuscitar uma história com barbas, de que já se ouvira falar por cá em 2009: a suposta riqueza da Europa em gás de xisto (ou shale gas). Este milagre da especulação que algum corrupto lobby de Bruxelas acaba de lançar para o ar, além de consumir quantidades criminosas de água, de ameaçar com infiltrações potencialmente fatais terrenos, aquíferos e as próprias instalações urbanas existentes, sabe-se de ciência feita que é uma não solução, economicamente ruinosa, e com uma taxa de declínio duas vezes mais rápida do que a do gás natural convencional. Tal como o petróleo betuminoso, e o petróleo de profundidade, das ditas camadas pré-sal (com que a GALP e a Petrobras gostam de empolar as suas cotações em bolsa), o gás de xisto não dá para o que custa produzi-lo. Logo, é mais uma lebre para nos distrair, enquanto o Titanic da prosperidade económica, social e cultural do Ocidente caminha para uma irremediável decadência.
Unconventional Gas in Europe - Opportunities and Risks
By Alexandros Petersen, 6th January 2011

Bullish predictions are being made about a revolution in unconventional gas in Europe; yet, Europe’s threshold for larger-scale shale gas development still remains uncertain, with a range of obstacles – from environmental concerns to economic viability - balancing out the various incentives to move forward.  Unconventional gas, such as shale and tight gas, has had a dramatic impact on the US gas market, increasing energy security and steering prices downward as production and resources have headed in the opposite direction.  By 2008, shale alone accounted for 9.5% of all US gas production and by 2009, according to some estimates, 20% of US gas supply came from this source. Following these successes, Europe is now being aggressively explored for its suitability in terms of unconventional gas production as it hopes to follow in the footsteps of its transatlantic partner.  There has been a significant uptick in activity and dealmaking focusing on European shale in just the last six months. However, the picture in Europe is very different from the United States and, from an economic perspective, the play may not bear fruit.

É o gás de xisto a tal bala de prata que levará os Estados Unidos e a Europa a superar a profunda e longa crise em que se encontra? “If shale gas is a game changer, then why are all the major producers looking for oil??” — pergunta e responde Jeff Rubin. Vale a pena ouvi-lo na entrevista que deu no passado dia 13 de Janeiro ao canal BNN video.


POST SCRIPTUM
Para quem estiver interessado em colocar este tema na agenda da cidadania pró-activa, recomendo o portal web Gasland, de Josh Fox. E ainda a consulta deste insidioso PDF da Statoil (companhia norueguesa estatal de petróleos) sobre o futuro radiante do shale gas.

segunda-feira, janeiro 17, 2011

Tunísia, Argélia... Irlanda?

A Europa que abra os olhos!



Tunísia: O desempregado que derrubou um ditador

Na Tunísia, como em outros tantos países, não são as qualificações ou o mérito que determinam o sucesso. É antes o nome, o casamento ou a filiação partidária.

No desemprego, Bouazizi viu-se forçado a vender frutas e legumes nas ruas da sua cidade natal do centro-oeste, Sidi Bouzid, para alimentar a família. Mas não tinha a necessária licença de comércio, difícil de obter no labirinto da burocracia e corrupção tunisina. A 17 de Dezembro de 2010, a polícia confiscou-lhe a banca e a balança. Segundo testemunhos locais, terá sido agredido e humilhado pelas autoridades.

Nessa mesma sexta-feira, Bouazizi deslocou-se à autarquia de Sidi Bouzid para tentar regularizar a situação. Não conseguiu. Com o dinheiro que restava, comprou um litro de gasolina. Despejou o combustível sobre a cabeça e imolou-se pelo fogo.  — pedro.guerreiro{arroba}sol{ponto}pt . Sol, 2011-01-15.

Feliz ou infelizmente, a Europa envelheceu muito nas últimas décadas, e por esta única razão é altamente improvável que as suas crises venham a ser resolvidas por meio de revoluções sociais violentas. Com a possível excepção da Irlanda, onde a juventude poderia assumir ainda algum protagonismo (se não emigrasse tanto...), o resto da Europa, e mais ainda a Rússia, mas também a China, o Canadá e os Estados Unidos, ou a Austrália e a África do Sul, a Namíbia, o Botswana e o Zimbabué, exibem demografias praticamente estagnadas ou a caminho da estagnação. Pelo contrário, países como a Índia, Paquistão, Afeganistão e repúblicas do Mar Cáspio, à excepção do Casaquistão, o Sudeste Asiático e quase todo o continente africano, e ainda o México e toda a América Central e do Sul, à excepção de Cuba, da Guiana Francesa e do Uruguai, apresentam demografias pujantes, apesar da miséria material da esmagadora maioria das suas populações. Sem olharmos bem para este mapa demográfico da humanidade, dificilmente perceberemos as tendências de longo prazo, e até as modalidades prováveis de evolução histórica dos acontecimentos.

O que está neste momento a desenrolar-se na solarenga Tunísia, e que alastrou já à Argélia, Marrocos, Jordânia, Líbano e Egipto, e em breve poderá chegar à Arábia Saudita, é uma resposta social à crise energética mundial e suas consequências nefastas em toda a cadeia económica. Mas é também um despertar de energias revolucionárias que poderá deixar para trás o programa ideológico limitado e as tácticas terroristas de Bin Laden. A Al Jazeera escreve: “Tunisians have sent a message to the Arab world, warning leaders they are no longer immune to popular anger” — inTo the tyrants of the Arab world...” E no boletim deste mês do GEAB lê-se:
The downfall of pro-Western Arab regimes

Tunisia and Algeria were rocked by riots and Jordan, Egypt and Lebanon are experiencing serious problems. Beyond the reactions to higher prices for basic necessities, it is the first political shock of the "fall of the Dollar Wall". The regimes in question are typically powers supported at arm's length by Western money, that’s to say basically the US Dollar. The rapid erosion of Western credibility and financial resources especially US is already beginning to make itself felt, just like European impotence outside its borders. These countries’ elite are accustomed to feel "untouchable" thanks to their US and European protectors: their fall will be brutal as they realize only now that the "West" can’t really protect them. At least Mikhail Gorbachev warned Eastern European leaders that the Red Army would no longer intervene to support them! 2011 will, therefore, be the year when the "Western-Arab dominoes" start to fall. — in GEAB nr 51 - January 16, 2011.

De cada vez que é mais caro extrair um barril de petróleo, e de cada vez que a procura mundial de petróleo aumenta, por efeito do crescimento demográfico exponencial da humanidade, da expansão económica mundial, ainda que abaixo dos 4% (como se prevê para 2011), ou de um mero ciclo expansivo da produção industrial (como o que actualmente regista a Alemanha), acontece uma coisa inevitável: o preço real da alimentação sobe! E porquê?

Porque só é possível alimentar os actuais 6.900 milhões de seres humanos recorrendo ao auxílio de fertilizantes, pesticidas e sistemas de transporte dependentes do petróleo e do gás natural. Sem estes dois hidrocarbonetos, mesmo juntando ao carvão e ao nuclear todas as outras formas de energia em uso, incluindo todas as renováveis existentes e por existir, não há pão, nem água para todos. O pão que houver, e a água potável que houver, à medida que formos tendo consciência do fim do petróleo barato, serão cada vez mais caros e racionados.

O que está a suceder na Tunísia é o resultado de uma crise de recursos global. Subida insustentável dos preços do pão, água e energia, falta de dinheiro, falência das actividades empresariais, das cidades e dos governos, desemprego em larga escala, e uma corrupção cada vez mais descarada e insultuosa, são os mesmíssimos fenómenos que actualmente afligem as sociedades portuguesa, espanhola, grega, ou norte-americana. Há, porém, duas diferenças importantes: por um lado, as moedas fortes europeia e americana disfarçam, por enquanto, a especial gravidade da situação nos respectivos territórios económicos; por outro, a probabilidade revolucionária é mais elevada em países com demografias expansivas, onde corre o sangue jovem da rebelião, do que nos países envelhecidos (onde o tempo dos golpes palacianos, como na antiga Roma decadente, voltará a estar na moda.)

A guerra contra o Afeganistão, levada a cabo pela decadente civilização ocidental, é uma guerra de velhos, tecnologicamente assistidos por próteses sofisticadas e traiçoeiras, contra populações jovens que aspiram, como todos nós, ao bem-estar e à felicidade. O desfecho parece inexorável. Acabaremos por perder!

ÚLTIMA ACTUALIZAÇÃO : 2011-01-18 0:56

BP: Bolshoi Petroleum

Sem especulação, o capitalismo actual afunda-se como um Titanic
The Kremlin is about to become the biggest shareholder in BP

BP is set to do a $16bn share swap with Rosneft, Russia’s biggest oil producer. Rosneft – which is state-owned, hence the Kremlin connection – will own 5% of BP. BP’s stake in Rosneft will rise to near 11%.
So what’s behind the deal? It’s all about access to new reserves. BP is going to explore the Russian Arctic with Rosneft. This is a complicated, risky region. That’s why Rosneft needs BP’s expertise. The payoff could be huge – the region has been described as a new North Sea, in terms of its potential. — Money Week, 2011-01-17.
Para lá de toda a esperança em novas jazidas de petróleo escondidas pelo gelo do Árctico, o que está em causa nestes movimentos são três coisas distintas:
  1. negociar parcerias estratégicas onde o poder das armas deixou de funcionar — este cruzamento de participações poderá significar, em breve, impensáveis aproximações da BP ao Irão.
  2. aumentar os activos estratégicos das empresas, por forma a apreciar as respectivas cotações em bolsa, sem o que as gigantescas necessidades de capital fresco para investir, e sobretudo para pagar dívidas, não afluirá facilmente (por cá, insisto na observação atenta dos casos EDP e GALP, ambas presas apetecíveis e cada vez mais indefesas!)
  3. reparar o motor de arranque da economia capitalista mundial, i.e. as bolsas, para o que se procuram desesperadamente novas bolhas especulativas, que possam reparar o colapso da bolha imobiliária que antecedeu o colapso à vista da bolha soberana; e substituir as tentativas falhadas de criar duas bolhas verdes, uma a partir do mercado de emissões de carbono, e outra em volta das energias eólicas e solar. Há presentemente duas bolhas em formação, que poderão rebentar antes do tempo, mas ainda assim estão aí: a bolha do gás de xisto (shale gas), e a bolha do que poderíamos chamar a GLOBALIZAÇÃO IMPROVÁVEL —i.e. o cruzamento de participações entre gigantes económico-financeiros politicamente inimigos!

REFERÊNCIAS

domingo, janeiro 16, 2011

O Aviso

Tragédia dos Comuns
mais importante do que uma tempestade solar




Ver todo o documentário no sítio da Frontline.

O custo estimado da prevista grande tempestade solar de 2013 — 1 a 2 biliões de USD (o Furaccão Katrina terá custado entre 80 a 125 mil milhões) — é ainda assim insignificante quando comparado com o buraco negro dos derivados financeiros OTC, cujo valor nocional era, em Junho de 2010, segundo o BIS, de US$582.655.000.000.000 (10x o PIB mundial), e a que corresponderá, segundo o mesmo "banco dos bancos centrais", um valor bruto de mercado na ordem dos 24,673 biliões de USD.

Estamos pois a caminho de uma inimaginável tragédia com uma origem estrutural única: a exaustão dos recursos energéticos e naturais do planeta, que é, por sua vez, consequência paradoxal da insustentável demografia humana tornada possível pela qualidade do nosso desenvolvimento. É isto a Tragédia dos Comuns.

A crise mundial do endividamento, a que deram livre curso a desregulação da era Greenspan (de Clinton a Bush) e os instrumentos de especulação financeira, engendrados em 1987 por Drexel Burnham Lambert (os catastróficos CDO — Credit Default Obligation), ou em 1994, pelo J.P. Morgan & Co. (os catastróficos CDS — Credit Default Swaps), significa não só uma clara fuga em frente perante as dificuldades estruturais do Capitalismo, mas sobretudo a ocultação criminosa do que a crise petrolífera de 1972 significara: o fim próximo de um concentrado de energia e de materiais químicos acumulados ao longo de centenas de milhões de anos, cuja descoberta tornou possível as sociedades industriais afluentes dos últimos duzentos anos e a insustentável explosão demográfica da humanidade. Não vale a pena perdermos demasiado tempo com o jogo da culpa. Estamos perante uma emergência sem precedentes. É preciso pensar nas suas consequências, bem como nas respostas e custos das acções radicais que em breve seremos todos forçados a tomar.

A segurança e eficiência energéticas, e a autonomia e segurança alimentares, são as duas prioridades absolutas para qualquer país, ou grupo de países, que queira e possa agir desde já. Tudo o mais pode esperar.

É importante perceber as causas da actual crise sistémica do Capitalismo, contornando ao mesmo tempo a irresponsabilidade dormente dos bangsters e do seus spin doctors, e as orações cada vez mais ininteligíveis dos herdeiros oportunistas e burocráticos da esquerda marxista.

J20

Caça furtivo chinês chega uma década antes do previsto

China Flexes Its Muscles with Stealth Fighter Test

For a stealth fighter, it was a remarkably obvious flight, but perhaps that was the point. On a day when U.S. Defense Secretary Robert Gates was in Beijing meeting with Chinese President Hu Jintao, China's new stealth fighter took what is believed to be its maiden test flight, according to a defense analyst.

(…) While en route to Beijing, Gates told reporters that the U.S. had been tracking the development of China's stealth fighter but that the earlier tests had come as something of a surprise. "They may be somewhat further ahead in the development of that aircraft than our intelligence had earlier predicted," he said. — Read more in TIME.




As imagens captadas pelos planespotters chineses, que as autoridades de Pequim deixaram passar, revelam um facto muito importante: a China está adiantada no plano que traçou para a expansão da sua influência no mundo. A explicação deste adiantamento pode residir na própria crise sistémica do Capitalismo. O colapso precipitado e aparentemente incontrolável do Ocidente, sobretudo depois de rebentar a bolha incomensurável do mercado de derivados financeiros, não pára de fazer vítimas —mercado imobiliário, bancos, e agora as dívidas soberanas. O nervosismo, a impaciência e as explosões súbitas de violência, nomeadamente contra os poderes instituídos, começaram já a fazer as suas vítimas. Como se isto não bastasse, temos pela frente a confluência de duas crises anunciadas: a crise das alterações climáticas, e a crise energética global induzida pelo fim do petróleo barato. A inflação dos preços alimentares e o colapso, em breve, do sistema de transportes de pessoas e bens que há décadas usamos e consideramos uma trivialidade insubstituível, ameaçam já de forma grave —para lá de toda a retórica e impotência dos últimos dez anos— a segurança mundial.



Não é possível uma acumulação de riqueza e poupança, rápida e em grande escala, sem pelo menos uma de duas condições prévias: a sobre-exploração do trabalho humano, ou o acesso não limitado a abundantes recursos materiais, energéticos e alimentares. Pior ainda, nas actuais condições demográficas e de esgotamento das fontes de energia barata, de escassez de água potável, e de exaustão dos solos, ainda que regressássemos à escravatura, seria impossível alimentar a actual população mundial para lá de 2030, ou 2050. Desde 1972 que se prevê um colapso demográfico sem precedentes como desenlace possível da insustentabilidade do actual crescimento exponencial da humanidade e consequente decréscimo, igualmente exponencial, dos recursos disponíveis. Sem percebermos isto, não saberemos como, nem porquê, os poderes do mundo iniciaram a contagem decrescente de uma nova guerra mundial.

sábado, janeiro 15, 2011

Bangsters!

A China entra no próximo dia 3 de Fevereiro no ano do coelho.
E nós também. Saltam por todos os lados!



Pois é, o senhor Cavaco saiu-me um bom figurão. De acima de toda a suspeita, nada! Com mais umas  semanas de revelações ainda se punha em marcha um processo de Impeachment. Só não percebo o motivo porque a Tríade de Macau agiu tão tarde. Erro de cálculo, ou cálculo certeiro?

A minha teoria é há muito esta: a Tríade de Macau prefere ter o amigo da sociedade de bangsters SLN/BPN prisioneiro das suas inconfessáveis distracções, inconveniências, prováveis ilegalidades e escandalosas solidariedades.

Mas como o desajeitado Silva resolveu atacar a actual monitorização do BPN, os alarmes tocaram em São Bento, e a resposta não se fez esperar, contundente. Será possível arrefecer depois das eleições a actual dinâmica de embate fatal? Não sei...

Tenho, no entanto, um palpite: a Tríade de Macau não vai deixar cair no regaço dos bangsters do BPN toda a sementeira que fizeram no Brasil, Líbia, Argélia, Venezuela e China!

Fernando Fantasia, administrador da SLN e membro da Comissão de Honra da candidatura de Cavaco Silva, comprou 4000 hectares de terrenos em Alcochete (por 250 milhões de euros?) 15 dias antes de Sócrates ter anunciado o fim do embuste da Ota. Se compaginarmos isto com a tentativa insistente e já desesperada de boicotar a nova ligação ferroviária rápida, para passageiros e mercadorias, entre Lisboa (Sines-Setúbal) e Madrid (resto de Espanha), em nome da construção duma cidade aeroportuária (Augusto Mateus dixit) e de um novo aeroporto em Alcochete, com a consequente privatização da ANA, percebemos melhor os altos serviços que o traste Cavaco Silva poderá prestar à Nação. Votem nele, votem. Mas depois não se queixem!

O novo aeroporto de Alcochete é uma impossibilidade económica e financeira comprovada. A sua construção seria mais um prego no caixão de Portugal. Não nos esqueçamos que foram as Olimpíadas e o novo aeroporto de Atenas os principais responsáveis pela precipitação do colapso económico, financeiro e social da Grécia!

Jorge Coelho, Passos de Coelho, Aldeia da Coelha — vamos mesmo entrar no ano do coelho! Mas aquele de quem gosto mais é mesmo o candidato madeirense às presidenciais, José Manuel Coelho. Sinal dos tempos...

sexta-feira, janeiro 14, 2011

Pequim, meu amor!

TOYOTA: “Where there is a road, there is a Toyota.”
VW: “I’m not afraid of going anywhere in a Santana.”

Em 1992 a China produzia 1M de automóveis; em 2001, 2M, e em 2010: 18 Milhões!

Xangai: a China comprou 999 Ferrari desde 2004.
"China and Germany have never come face-to-face with conflict or dispute in history. Besides, Chinese think highly of German's sincere apology after World War II. That's why I say Germany has a natural advantage over Japan." — Yan Guangming in "European automakers cash in on China car boom" China Daily, 2011-01-14".
A China tornou-se em 2010 no maior construtor de automóveis do planeta, ultrapassando os EUA. E nesta corrida, convém dizer que o grande símbolo de identidade entre a nova China e o automóvel vem da Alemanha, mais precisamente da Volkswagen, e chama-se Santana.

Recordo a primeira vez que estive em Xangai, no ano de 1999, a impressão que então me causou o facto de nove em cada dez carros que me passavam pela frente, com especial destaque para os táxis, serem Santanas às cores, metalizados, com frisos e para-choques cromados, vidros negros atrás, estofos claros, e quando se tratava de um táxi, ao lado do motorista, a presença quase misteriosa, mas invariável, de um frasco de chá verde, entre os bancos da frente ou fixo em qualquer parte do tablier.

Mais recentemente, em 2008, estive em Pequim, poucas semanas antes do Jogos Olímpicos. O panorama automóvel já era outro, mas nem por isso menos alemão. Em vez da predominância dos velhos Santanas, abundavam, entre os táxis, os Volkswagen Jetta, em concorrência evidente com os sul-coreanos Hyundai Elantra ou mesmo Sonata. Mas o mais impressionante foi a abundância de Audis 6 e 8, e de Mercedes topo de gama, que desfilavam à porta do hotel e pelas ruas. Na zona onde estive durante uma semana, relativamente perto da Cidade Proibida e da Praça de Tianamen, não vi nenhum Ferrari, mas sim um esplêndido Porche 911 amarelo, descapotável, com o qual me cruzei, eu a pé, e ela ao volante, pelo menos meia dúzia de vezes.
Luxury carmakers are gearing up for rich pickings in the Chinese market

“By the end of 2009, the Chinese mainland had 875,000 millionaires, up 6.1 percent year-on-year, according to the 2010 Hurun Wealth Report - and top-end cars are on top of shopping lists of wealthy Chinese.”

“…By the end of 2009, the Chinese mainland had 875,000 millionaires, up 6.1 percent year-on-year, according to the 2010 Hurun Wealth Report - and top-end cars are on top of shopping lists of wealthy Chinese.”

“…In the first 11 months of last year, Audi’s China’s sales topped 200,000 units, maintaining its two-decade reign in the country’s luxury car market. But rivals BMW and Mercedes-Benz are not far behind.

From January to November 2010, BMW sold 152,866 vehicles - a massive rise of more than 90 percent from a year earlier - and Mercedes-Benz moved 129,500 vehicles in the same period, swelling 119 percent.” — in Posh parade, China Daily, 2011-01-14.

Imagino que dois anos e meio depois, com a economia alemã a crescer 3,6% em 2010, as ruas de Pequim comecem a polvilhar-se com outras marcas, mais liberais e menos institucionais: os BMWs, os Porches, e um número crescente de exemplares vermelhos do sempre irresistível Ferrari. Os chineses adoram o vermelho, o desenho europeu, e sobretudo a qualidade, fiabilidade e honestidade alemãs. Não são muito diferentes dos portugueses. Na realidade, somos dois países do mesmo signo: Peixes!

O rendimento disponível médio dos habitantes de Pequim (ler este  elucidativo artigo do China Daily) rondava, em 1983, os 5,7 euros mensais. Em 2010, chegou aos 2228 Yuan, ou seja, 256 euros. A moral da história é clara: enquanto a China enriquece a olhos vistos, americanos e europeus, sobretudo os europeus menos organizados e menos competitivos, como é o nosso triste caso, estão a empobrecer.

Em Portugal, apesar de ser quase impossível saber qual é o rendimento disponível per capita em Lisboa e no Porto, tal é a pobreza da informação económica disponível online, podemos fazer uma conta simples: se ao salário médio, de 894 euros, retirarmos 30% para impostos, obtemos um rendimento disponível mensal na ordem dos 626 euros. Como o desemprego continua a aumentar, nomeadamente em consequência do colapso financeiro do país e dos seus insustentáveis níveis de endividamento, é de prever que este valor continue a degradar-se. Resumindo: entre Lisboa e Pequim, o custo do trabalho já é irrelevante para o sucesso dum negócio. As rendas comerciais e de habitação são mais elevadas na capital chinesa do que em Lisboa, os serviços andam ela por ela, os impostos são mais baixos na China do que em Portugal (obviamente!) e, por fim, oportunidade e mercado são coisas que não faltam a oriente, e parecem ter-se evaporado no Ocidente. A conclusão do raciocínio é irrecusável: há que aprender Mandarim, e depressa.

A marca de roupa barata sueca H&M vai encerrar em breve a sua produção em Portugal. O motivo é simples de entender: só conseguem produzir trapos a custo zero se o trabalho for de borla. Ora o trabalho no nosso país já não é de borla, felizmente. Mas também na China deixou de ser! De facto, as fábricas que da Europa e da América se deslocaram para a China nas décadas de 80 e 90 do século passado, estão já a deslocalizar-se para novas paragens: Vietname, Cambodja e... México!

Em Portugal, se não nos libertarmos a tempo da democracia burocrática, palaciana, partidocrata e corrupta que nos conduziu até ao actual atoleiro, ainda acabaremos por importar, com fanfarras sindicais atrás e tudo, as maquiladoras de Tijuana e Ciudad Juarez para repovoar o Vale do Ave.

É preciso corrigir drasticamente o comportamento político das nossas elites burocráticas, ou a sua acção irresponsável e egoísta acabará por destruir o país. O maná acabou. Ajustar toda uma tradição colonial a novas regras de racionalidade, honestidade e inteligência colectiva, vai ser o nosso maior desafio, nesta e na próxima década.

ÚLTIMA ACTUALIZAÇÃO: 2011-01-14 17:39

quinta-feira, janeiro 13, 2011

Good bye Wall Street



Afinal Portugal não é o Lehman Brothers

Cavaco admite "grave" crise política e Alegre fica "perplexo"

Professor de Economia, homem de números, Cavaco Silva fez as contas: já tinha falado 12 vezes numa "crise política, económica e social". Certo. Mas o que não tinha dito de forma tão directa e clara era admitir o cenário de "crise grave". Ainda que pela dupla negativa. A frase, dita ontem no almoço-comício na Guarda, é muito clara e serve de aviso ao Governo para os cenários pós-eleitorais, caso se mantenha em Belém. Cavaco prepara o terreno para o que der e vier.

Depois de, na véspera, em Castelo Branco, ter desafiado o Governo a explicar melhor as medidas de austeridade e de "sacrifícios" impostos aos portugueses, o candidato foi mais duro. "Não podemos excluir a possibilidade de ocorrer uma crise grave em Portugal, não apenas no plano económico e no plano social, mas também no plano político", considerou — Público, 13/01/2011.

Cavaco é um provinciano imprestável e potencialmente perigoso na actual conjuntura! O que ele sabe de economia já a mim me esqueceu (que nem sou economista). Se não serviu até agora para nada, a não ser para criar o tal monstro administrativo do Estado, também não servirá, no futuro, para coisa alguma, ou a quem quer que seja (pois até nos seus investimentos domésticos é uma desastre). Esta criatura sem olhar está rodeada (aliás prisioneira) dum bando de piratas ainda pior do que a Tríade de Macau. Esta, ao menos, parece ter entendido duas coisas óbvias: que a crise portuguesa é um dos muitos reflexos da crise energética e de endividamento mundial (1); e que em vez de ler religiosamente o Wall Steet Journal e o Economist, ou tremer sob a batuta das três agências de notação nova iorquinas, é melhor prestar mais atenção ao que se publica no Spiegel online, no Daily China, e no China View (da Xianhua News Agency), ao mesmo tempo que se comparam as notações das manas Fitch Ratings, Moody's e Standard & Poor's com as da chinesa Dagon.

A guerra não declarada que americanos e ingleses lançaram contra o euro, em defesa dos seus falidos impérios e moedas de vento, sofreu ontem uma derrota histórica, com a colocação surpreendente de dívida soberana portuguesa nos mercados internacionais (80% dos títulos foram comprados por outros europeus, chineses... ), que o leilão de dívida pública espanhola de 13 de Janeiro consolidou. Portugal era o bater de asa que poderia deitar o euro a perder. Mas a asa não bateu —e isto, por mais que odeie escrever o resto desta frase, foi mérito do Pinóquio.
O Albert Maersk, o mais recente porta-contentores da classe "post panamax", da companhia dinamarquesa Maersk, que a partir de 2014 passará pelas novas enclusas do Canal do Panamá. A redução de custos de transporte será da ordem dos 30%.
 (C) In an elaborate ceremony attended by President Martinelli and most of the Cabinet, the Panama Canal Authority (ACP) announced that the consortium led by Spanish firm Sacyr had won the $3.2 billion contract to build the third set of locks, centerpiece of the once-in-a-century Canal Expansion project. This award marks an increased tide of Spanish influence in Panama. President Torrijos had established very close ties with the Spanish Royals, attending a ceremony in Madrid in his honor during devastating floods last November, during which Spain announced a gift of two helos to Panama. The Spanish government also established a regional crisis response center in Panama. In early June, President Martinelli visited the King of Spain, and the Spanish delegation at President Martinelli's inauguration, led by Prince Felipe, was very well received (ref A). We strongly suspect that the financially troubled Sacyr was able to offer a surprisingly low price due to backing from the Spanish government. — in Wikileaks.
 Sócrates fez jogging nos quatro continentes, numa maratona teimosa em busca de compradores e futuros investidores no nosso país. Explicou certamente ao mundo que Portugal e Espanha iriam estar em breve, de novo, no centro geográfico das trocas mundiais, e que isso mesmo fora já bem compreendido por Lula, Putin e Hu Jintao. Se não, porque é que a China pensa financiar um novo canal marítimo entre o Pacífico e o Atlântico, pelo meio da Nicarágua? Se não, porque carga de água Washington ficou furioso e conspirou contra o consórcio espanhol-italiano, liderado pela Sacyr (2), que ganhou o concurso internacional e está neste momento a construir as novas enclusas do Canal do Panamá? Se não, porque foi Vladimir Putin a Berlim dizer à querida chanceler alemã que a Europa ia de Lisboa a Vladivostoque? Se não, porque quer a China ligar a sua rede ferroviária à Europa (3) Se não, porque vai a China financiar a conclusão do caminho de ferro entre o porto atlântico angolano de Benguela e os portos índicos, tanzaniano, de Dar-es-Salem, e moçambicano, de Nacala? (4) Dívida soberana da União Europeia? Peanuts!

Eu fiz umas continhas de somar e cheguei à seguinte conclusão: a dívida externa do Reino Unido, mais de 9 biliões de dólares, é superior à dívida externa somada dos PIIGS (Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha), pouco mais de oito biliões de USD. Sobre que realidade escrevem então os escritores fantasma do Economist?! A dívida externa dos EUA, por sua vez, supera os 13 biliões de USD. Em que pesadelo estava ontem o senhor Paul Krugman quando espirrou no seu blogue este comentário lacónico e estúpido:
I’m with Calculated Risk here: it says something about the sheer desperation of the European situation that Portugal’s ability to sell 10-year bonds at an interest rate of “only” 6.7 percent is considered a success. If you think about the debt dynamics here — the burden of growing interest payments on an economy that is likely to face years of grinding debt deflation — an interest rate that high is little short of ruinous. But it is, indeed, not as bad as people were expecting last week; hence, success.

A few more successes and the European periphery will be destroyed. — Paul Krugman. "Pyrrhic Bond Auctions", January 12, 2011.

O crescimento na Alemanha disparou. Em breve poderão fabricar BMWs a hidrogéneo em Portugal (I'm kidding ;) A economia mundial vai crescer a uma média superior a 3%, ou seja, o preço do petróleo vai disparar até aos 100USD/barril. Portugal tem imensos problemas pela frente. Cito cinco :
  • endividamento excessivo
  • presença castradora do Estado e dos governos na economia e na vida dos cidadãos
  • excesso de impostos (5)
  • corrupção, sobretudo induzida pelo actual sistema partidário
  • afunilamento do sistema partidário
Mas tudo isto, que é pesado e muito preocupante, não nos deve toldar a visão. Há uma guerra contra o euro, que não é movida pelo Irão. De que lado está o traste Cavaco nesta guerra? De que lado está o senhor Passos de Coelho nesta guerra? Virei socialista, outra vez? Não. Continuo a pensar pela minha cabeça.


    NOTAS
    1. O que não desculpa os pecados graves do capitalismo burocrático e da nomenclatura que se apoderaram do país em nome de um regime democrático desfigurado.
    2. De que a antiga empresa portuguesa especialista em barragens, Somague, faz parte.
    3. "China To Connect Its High Speed Rail All The Way To Europe" — Inhabitat.
    4. For over a century, various Western colonial powers have tried to link the two African coasts. De Angola a contra costa (from Angola to the other coast) dreamed the Portuguese. Upon independence, civil war and chronic instability prevented any progress and that dream was all but forgotten. Now a new power from the East believes that this is the right moment to invest in that old dream. This is not without precedent. In the 1970s China built, at the request of Tanzania and Zambia, the Tanzan Railway, a massive 1,800 kilometer line linking landlocked copper-rich Zambia to the coast of China's long time ally Tanzania. Beijing built the railway at great cost to the PRC and after every Western country rejected the two African states. The Tanzan Railway would allow the PRC to move important commodities to the coast in a much faster and cheaper way substantially cutting down costs. The rail link would also benefit African nations and contribute to foster regional trade.
      Three decades later, China may reap some rewards for it continued relations Tanzania. Along with this gesture, China would only have to upgrade the existing line and connect it to the Bengela railway, which it already rehabilitated for the Angolan government. For the first time the continent may be linked from coast to coast, which may pave the way for potential economic benefits. — "China Building Africa's Economic Infrastructure: SEZs and Railroads". By Loro Horta. The Jamestown Foundation
    5. O argumento de que em Portugal há uma economia informal que não paga impostos, para justificar o terrorismo fiscal em curso, é um mau argumento. O dinheiro negro do mundo representa 2 a 5% do PIB mundial; a riqueza alojada em paraísos fiscais, regulamentados e piratas, representa qualquer coisa como 26% da riqueza existente no mundo, ou seja, uns 15,3 biliões de USD. Por sua vez, as economias informais no mundo não chegam aos 14% do PIB mundial. No Sul da Europa (Grécia, Itália, Espanha e Portugal), a economia que escapa aos impostos andará entre 20% e os 25%. Não é aqui, por conseguinte, que a porca do sobre endividamento das nações torce o rabo! Mas num monstro muito mais assustador, chamado mercado dos derivados financeiros —cujo potencial de desastre poderá andar à volta dos 600 milhões de milhões de dólares, isto 10 vezes mais do que a riqueza total criada anualmente no mundo inteiro! Vamos pois evitar dar atenção ao disco partido da demagogia populista dos partidos.

    sábado, janeiro 08, 2011

    Carris de Lisboa odeia turistas

    Eléctrico 28. Foto @ Marcelo Almeida (LINK)
    Um país de salteadores

    Os bilhetes de Eléctrico comprados ao condutor subiram de 1,20€ para 2,50€. Ou seja, uma ida-e-volta entre o Cais do Sodré e a Graça fica mais cara (5€) do que uma ida-e-volta entre a Graça e a Praia de Carcavelos num BMW. Que tal exportar o Pinóquio Sócrates e os administradores da Carris para a Sibéria?

    Deve ser assim que o autarca António Costa quer menos carros na cidade!

    Alguém me disse, entretanto, para ter calma, porque "este preço é apenas praticado na tarifa de bordo. Os turistas provocam atrasos gigantes por comprarem os bilhetes a bordo. Nos pré-comprados os preços não diferem dos restantes meios da Carris".

    O dinheiro dos turistas é, porém, melhor do que o nosso (na sua maioria importado e emprestado), porque é uma exportação de serviços sem sair de casa. Como tal, devemos atrai-lo com carinho e sabedoria, não com taxas de inflação anuais superiores a 100%. Seja como for, os outros bilhetes terão subido 15%, muito acima da inflação... Mas não foram reduzidas, que saibamos, algumas despesas muito desnecessárias, com comissários políticos e outra criadagem de luxo :(

    E já agora, terá o Alegre ou algum dos demais colegas de hemiciclo comprado algum dos novos, verdes e extraordinários bilhetes pré-comprados da Carris, da CP ou do Metro? Um por cada meio de transporte, claro! Experimentem alçar o traseiro dos Mercedes que vos oferecemos, e provem, nem que seja por um dia, a realidade inconcebível da vossa administração!

    Por fim: será constitucional criar um regime de excepção para o bilhete comprado a bordo com dinheiro, impondo-lhe um regime criminoso de hiperinflação? Quem disse que um estado, mesmo falhado, pode penalizar desta forma o dinheiro vivo? Quem disse que um estado, mesmo falhado, pode exigir dum viajante ocasional, por exemplo vindo do Porto, ou de Barcelona, que pague por adiantado viagens que não irá fazer? Ou mesmo que as venha a fazer, quem disse que um estado, mesmo falhado, como o nosso manifestamente é, pode forçar os cidadãos a fazerem compras antecipadas de títulos de transporte, sob pena de, se se atreverem a comprar um bilhete a bordo, lhes espetarem com uma tarifa assassina?

    Não sei, em suma, com que sonham os advogados desempregados. Há tanto que fazer, para endireitar este falhado país!

    sexta-feira, janeiro 07, 2011

    China-Ibéria

    Península Ibérica mais próxima da China
    O resto da Europa, especialmente, França e Reino Unido, não deixaram boas memórias na China. Os americanos provocam continuamente. A imprensa inglesa e americana é hostil.

    Xangai, Torre Xangai, da empresa Gensler (São Francisco)
    “Si China va mal, el mundo sufrirá las consecuencias” — CHENG SIWEI, Presidente do Foro Financeiro Internacional.

    A recente visita a Portugal do presidente Hu Jintao, e a visita a Espanha, já este ano, do vice-presidente e indigitado sucessor de Hu Jintao, Li Keqiang, na sequência das quais a China tornou claro que não deixará cair o euro, nem a Europa, por mais insistente que seja a ofensiva americana, inglesa e israelita contra a União Europeia, são eventos da maior importância, mas a que a desmiolada imprensa de cócoras que temos não tem dado a atenção devida, entretendo-se antes com o folclore montado pelo Clube de Bilderberg e pelo pessoal do Nobel.

    A China não só decidiu comprar títulos das dívidas soberanas da Grécia, Portugal e Espanha, como, sobretudo em Espanha, anunciou, pela voz do provável sucessor de Hu Jintao, toda uma estratégia de cooperação económica, tecnológica e cultural com a Península Ibérica. Compreende-se. A Espanha é a quarta economia da Europa (e o nosso maior credor, investidor externo e parceiro comercial) e tem uma vasta experiência no Sudeste Asiático e na América Latina, à qual acresce naturalmente a experiência que Portugal tem não só nestas mesmas paragens, como ainda em África. Ambos os países, Portugal e Espanha, são países atlânticos e mantêm em geral boas relações com as suas antigas colónias. Entre estas ex-colónias há países há muito independentes, como o Brasil, o Chile e a Argentina, e há outros que o são há menos de quarenta anos, como Angola, Moçambique, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Guiné-Bissau e Timor. Quase todos, porém, possuem importantíssimas reservas naturais, essenciais ao respectivo desenvolvimento, mas também necessárias ao crescimento rápido e em larga escala de países como a China.

    Vale pois a pena dar a devida importância ao artigo publicado pelo actual vice-presidente da China no El País, de que só consegui encontrar a versão inglesa publicada pelo jornal chinês English.news.cn. Nele se aponta o caminho que a China irá percorrer durante o seu previsível consulado à frente dos destinos da mais populosa nação do planeta e segunda economia mundial — a qual, segundo o Economist, até 2019, ultrapassará os Estados Unidos.

    Para termos uma noção dos problemas e das oportunidades que esta cooperação ibero-chinesa comporta, bastará referir este dado: a China irá transferir para o meio urbano, até 2020, qualquer coisa como 200 milhões de almas. Serão cerca de 400 novas cidades com 500 mil habitantes cada!

    China and Spain: A brighter future through win-win cooperation
    English.news.cn   2011-01-03 19:06:23
    by Li Keqiang

    BEIJING, Jan. 3 (Xinhuanet) -- "China and Spain: A brighter future through win-win cooperation", published by the Spain's newspaper "ElPaís", was written by Chinese Vice Premier Li Keqiang.

    “Every year, over 10 million farmers are moving into cities, and the trend may well last for years. It will generate tremendous investment and consumption demand, and will turn China into one of the biggest emerging markets in the world.”

    “...China is a solid champion of green economy. Many of the concepts and technologies that originated in developed countries, like circular economy, clean energy, low-carbon technology and sustainable development, have been more and more accepted by the Chinese business community and the general public, and have been applied in many aspects of their work and life.”

    “China's development will bring enormous opportunities of cooperation to Spain and other countries in Europe and beyond.”

    “There is much for China to learn from Spain's development experience and practices. At the same time, China, with its huge population and big market, will bring Spain tremendous business opportunities. Looking ahead, China-Spain cooperation is bound to grow in both width and depth. To divide something by 1.3 billon may be discouraging. But it is definitely encouraging and even exciting to multiply something by 1.3 billion. If each of the 1.3 billion people in China would buy a bottle of olive oil or taste a few glasses of wine, the demand will outrun Spain's annual supply. And if only a few in every hundred Chinese would travel to Spain every year, no hotel room in Spain will be left vacant. And for Spain’s transport, telecommunications, banking and insurance sectors, some of their biggest future customers would be Chinese. China supports Spain in the series of economic and financial adjustment measures Spain has adopted, and is convinced of the certainty of full recovery of the Spanish economy. China is willing to explore, together with Spain, the positive and effective forms of cooperation. China is a responsible long-term investor, both in the European financial market and in the Spanish financial market. China has confidence in Spain's financial market. It has purchased Spanish Treasury bonds and will buy still more.”

    Só não entende quem não quiser.

    POST SCRIPTUM — a TAP iniciou em Outubro passado ligações aéreas entre Lisboa e Pequim-Xangai, em regime de codeshare com a Air China. Tarde, mas acordou!

    quinta-feira, janeiro 06, 2011

    O pico da tragédia

    Não é preciso lançar o pânico. Mas é preciso uma solução

    A China extrai 95% da produção mundial de metais raros, e já começou a açambarcar e a restringir as exportações — Telegraph.

    Bens alimentares batem preços recordes em todo o mundo
    Os preços dos bens alimentares atingiram em Dezembro um máximo histórico por todo o mundo, alertou ontem a FAO, a organização das Nações Unidas para a agricultura e alimentação. O índice que reúne 55 matérias-primas alimentares negociadas nos mercados internacionais subiu em Dezembro para 214,7 pontos, o valor mais elevado desde a criação desta série estatística em 1990. O anterior recorde (213,6 pontos) remonta a Junho de 2008, em plena crise de alta de preços dos bens alimentares, o que gerou uma vaga de protestos nos países mais pobres de África e Ásia. O açúcar e o milho foram os que mais encareceram. A FAO alertou ainda que "continua a existir potencial para os preços dos cereais subirem". — DN, 6 jan 2011.

    Rare Earths: China´s not-so-secret secret weapon
    "… Without an immediate fix of China rare earths,  Japan´s automotive, electronic, military, scientific, medical and even green industries  were suddenly facing  imminent collapse." — Alan Parker, Toronto SUN, Thursday, January 6 2011.

    World faces hi-tech crunch as China eyes ban on rare metal exports
    Beijing is drawing up plans to prohibit or restrict exports of rare earth metals that are produced only in China and play a vital role in cutting edge technology, from hybrid cars and catalytic converters, to superconductors, and precision-guided weapons. — Ambroise Evans-Pritchard, Telegraph, 24 Aug 2009.

    Pico Alimentar: tenho insistido, de acordo com um número crescente de analistas e de observadores sérios, no estado objectivo de emergência para que caminhamos todos. A convergência entre o Pico Petrolífero, o Pico Demográfico e o Pico Alimentar, de que o Buraco Negro dos Derivados Financeiros e a crise sistémica financeira mundial são epifenómenos, imporá inevitavelmente uma dramática desorganização social nas várias escalas da organização humana: global, regional, nacional, e local.

    Consequências a curto prazo: à medida que os países produtores de matérias primas (nomeadamente energia, minerais convencionais e raros, e cereais) se forem apercebendo dos sinos da escassez, interromperão ou condicionarão drasticamente as exportações.

    A China já o anunciou relativamente às terras ou metais raros, o México deixará de exportar petróleo dentro de um ou dois anos, seguir-se-à a Venezuela e o Brasil, e quando isto acontecer o Médio Oriente e o Mar Cáspio formarão o vórtice explosivo das actuais e já muito graves tensões estratégicas mundiais. Ou a guerra permanente, ou uma divisão do mundo em grandes regiões de influência —com o consequente fim da globalização e o regresso a novas formas, porventura mais articuladas, de proteccionismo—, são inevitáveis.

    Novo Tratado de Tordesilhas: a ideia de um Novo Tratado de Tordesilhas, que há muito defendo, pode tornar-se em breve inevitável. Só falta imaginar a geografia desta divisão — uma tarefa nada fácil, e que exigirá muita imaginação, que é coisa que escasseia nos toutiços da esmagadora maioria dos actuais dirigente políticos mundiais. Desde logo, uma Europa de Lisboa a Vladivostok é o que mais convém à Eurásia. Só uma Alemanha de novo irracional e suicida poderia deixar-se provocar pelo eixo anglo-americano que, uma vez mais tenta encurralar Berlim, atacando em várias frentes. A guerra contra o euro é presentemente a mais encarniçada e perigosa de quantas os serviços secretos norte-americanos, ingleses e israelitas têm entre mãos!

    Morte deste regime e refrescamento partidário: entre nós, portugueses, é fundamental que os responsáveis políticos e cidadãos atentos olhem para a realidade com olhos de ver. A proliferação de candidatos presidenciais anti-sistema (1) é um sinal claro de que o regime está podre e precisa urgentemente dum refrescamento partidário e institucional (regras simples mas eficazes anti-corrupção, fim das mordomias inaceitáveis de que gozam a generalidade dos agentes político-partidárias e a burocracia de topo, restrição da acção do Estado ao que é essencial e socialmente justificável, libertação da sociedade civil, baixa imediata da carga fiscal sobre o trabalho e as empresas, etc.)

    Um novo partido: é necessário, pelo menos, mais um partido político, formado por dissidentes da nomenclatura actual, mas para onde confluam rapidamente caras novas, e sobretudo a imensa juventude qualificada deste país, estrangulada pela situação objectiva e pelo populismo demo-burocrático dominante. Esta juventude licenciada, com os seus mestrados e doutoramentos, que hoje tem que mentir diariamente sobre a suas qualificações (não como Sócrates, que as empolou fraudulentamente, mas auto-diminuindo os seus CVs, por imposição do desqualificado tecido empresarial existente), quando perceber que o mercado da emigração está esgotado, fará a diferença. Mas precisamos de criar muito rapidamente o contexto partidário e de cidadania activa capaz de acolher esta energia explosiva em formação.

    Esquerda-Direita: esta dicotomia, há muito esgotada, é o principal véu que cobre a mentira da nossa sociedade. Por baixo existe um sórdido regime de corrupção e burocracia que é preciso desfazer e substituir por uma verdadeira democracia. A democracia que temos é cada vez mais uma democracia formal, institucional, burocrática, endogâmica, nepotista, cabotina, populista, autoritária e profundamente irresponsável, ignara e incompetente. Curar uma tal monstruosidade não vai ser tarefa fácil. Mas se o não fizermos, o corpo que esta minocracia parasita morrerá da sangria imparável que lhe vem sendo infligida há décadas.

    História: Durante todo o século 18 Portugal "importou" 850 toneladas de ouro do Brasil. Quando as estourou, nomeadamente na sequência da resistência às invasões Napoleónicas, e da independência do Brasil, expropriaram-se as Ordens Religiosas, o país foi à falência, assassinou-se o rei, e a I República concluiu o festim mergulhando de novo Portugal na bancarrota. Salazar e a sua ditadura refizeram as finanças públicas, voltando a encher os cofres de ouro (em 1974 existiam 865,936 toneladas de ouro), desta vez vendendo volfrâmio a ambos os contendores da segunda grande carnificina mundial, e explorando os quase escravos moçambicanos que eram enviados para as minas de ouro da África do Sul. Após o colapso político da ditadura e a perda do que existia ainda do império colonial (1974-1999), Portugal entrou outra vez no caminho da bancarrota, desta vez ao som de uma democracia de telenovela.

    Desde 1974, os respeitáveis governadores do Banco de Portugal foram vendendo paulatinamente o ouro que tínhamos, em nome da democracia, claro! Venderam-se 483,396 toneladas, restando agora nos depósitos da Reserva Federal americana (local para onde Salazar enviou, à cautela, o metal precioso) qualquer coisa como 382,540 toneladas (resta saber se algum deste ouro se encontra ou não comprometido em SWAPS)

    Menos mal que a venda do que resta do nosso ouro já não depende apenas da leviandade do regime, mas precisa de aprovação superior do BCE!

    NOTAS
    1. Ao contrário do que dizem os "analistas" políticos ao serviço das agendas mediáticas da nomenclatura, todos os candidatos anti-sistema são bons, e é fundamental votar em qualquer deles: Defensor de Moura, Fernando Nobre e José Manuel Coelho. Os outros são farinha estragada do mesmo saco. E a abstenção não chega!

    terça-feira, janeiro 04, 2011

    TGV: Lisboa-Madrid em 3h45mn

    Bitola ibérica até ao Caia, bitola europeia até Madrid


    Solução provável engendrada pela REFER para o "TGV" Lisboa-Madrid
    España y Portugal inician los trámites de la estación internacional del AVE

    Casi por sorpresa. España y Portugal anunciaron ayer que inician los trámites para la construcción de la estación internacional del AVE en la frontera. El primer paso es la apertura del concurso público para la redacción del proyecto de construcción. HOY.es (29-12-2010).

    A Blogosfera está finalmente em condições de confirmar o que sempre previu: a ligação ferroviária entre Lisboa e Madrid como primeiro passo da integração de Portugal na nova rede europeia de transporte ferroviário de Alta Velocidade/Velocidade Elevada.

    Mas em nome dela, aproveitamos para fazer uma aposta: a linha portuguesa de "TGV" não será de Alta Velocidade propriamente dita, nem terá bitola europeia, enquanto a linha espanhola será em bitola europeia e permitirá a circulação de composições a velocidade superiores a 200Km/h. Ou seja: o futuro "TGV", português, andará a passo de caracol entre a Gare do Oriente e Évora, mais ligeiro até Caia (1), e aqui, como a Cinderela, calçará novos sapatinhos, transformando-se no AVE e correndo então a Alta Velocidade (200 Km/h) de Badajoz até Madrid. Vamos finalmente ter um "TGV" em Portugal, e um AVE em Espanha — lá para 2014-2015!

    Por várias vezes sugerimos que a monstruosa TTT Chelas-Barreiro deveria ser evitada a todo o custo, e que o "TGV" poderia atravessar a Ponte 25 de Abril, e terminar a sua viagem na nova estação central a construir onde hoje continua o buraco da antiga Feira Popular —deixando o apeadeiro da Gare do Oriente em paz e sem mais gastos inutilmente astronómicos. Bastaria para tal que o comboio, viajando sobre linhas de bitola europeia, entre Madrid e o Pinhal Novo, procedesse nesta estação à adaptação dos seus eixos telescópicos à bitola ibérica. A REFER, pelos vistos, pregou-nos uma partida: o "intercambiador" de rodados ficará afinal na estação do AVE a construir em breve na planície do rio Caia, e não na estação do Pinhal Novo, como aqui se sugeriu mais de uma vez.

    Como se mostra no gráfico da REFER, onde sublinhámos a lilás as ligações estratégicas dos portos de Setúbal e Sines a este projecto, o principal objectivo de Madrid —evitar o seu isolamento dos portos marítimos atlânticos—é atingido. E garantido este objectivo, o governo espanhol aceita a solução atamancada proposta em segredo por Lisboa. A justificação portuguesa é conhecida: não temos dinheiro, e os movimentos de passageiros previstos não pagam o projecto.

    Na realidade, o que persiste é a miragem do novo aeroporto da Ota em Alcochete. Esta continua a ser obsessão do Bloco Central do Betão. Esta continua a ser a obsessão do Bloco Central da Corrupção. Esta continua a ser a obsessão da nossa falida burguesia palaciana e dos seus incompetentes representantes: José Sócrates e Aníbal Cavaco Silva. Nem o primeiro ministro, nem o presidente da república que temos entenderam ainda duas realidades simples: por um lado, estamos e estaremos falidos por mais de vinte ou trinta anos, e por outro, o mundo caminha rapidamente para um colapso energético global, de cujos escombros não sobrarão nem grandes aeroportos, nem autoestradas (quanto mais portagens!)

    E porque o colapso energético já começou, e começou precisamente pelo lado do petróleo, induzindo uma verdadeira crise sistémica da sociedade industrial, da globalização e do sistema financeiro virtual que foi sendo criado ao longo dos últimos 40 anos, o melhor que podemos fazer e desejar é investir os parcos recursos disponíveis numa rede de transportes ferroviários, mista, multimodal, e onde a velocidade, na realidade, deixa de ser um factor crítico para o seu sucesso. Se as máquinas se moverem a velocidades entre 100 e 160 Km/h, e a rede de pontos de paragem for suficientemente densa, talvez consigamos aliviar a principal causa da nossa ruína: a dependência dos combustíveis líquidos importados. Persistir, porém, em sonhos alimentados a petróleo e gás natural é como caminhar mais depressa para o suicídio colectivo.

    NOTAS
    1. A melhoria das plataformas existentes, entre a gare do Oriente e o Poceirão, e entre o Poceirão e Évora incidirão sobretudo no sistema de sinalização, nos controlos automáticos de velocidade e travagem, e numa maior vigilância dos parafusos e travessas da linha, não tendo praticamente incidência na velocidade das deslocações (100 a 120 Km/h). Onde haverá ganhos de velocidade será na nova linha de bitola ibérica que será construída entre Évora e Caia (~160 Km/h). Como insistem as nossas fontes: "Na rede actual, o perfil da linha entre Lisboa e Évora permite que se viaje em conforto (embora em bitola ibérica). O problema era mesmo entre Évora e o Caia pois as soluções (antigas linhas de Évora) não permitiam nem tempos nem conforto."

      O famoso TGV Português seguirá pois, previsivelmente, este trajecto: Lisboa (Gare do Oriente/Roma-Campo Grande) / Ponte 25A / Pinhal Novo / Poceirão / Vendas Novas / Casa Branca / Évora / Caia / Badajoz-Espanha > Europa.

      Dada a crise económica, financeira e em breve diplomática mundial, aposto que o Plano Ferroviário espanhol será forçado a rever as suas metas. Das três prioridades estabelecidas: ligar as principais cidades do país com linhas de Alta Velocidade/Velocidade Elevada em bitola europeia; ligar Espanha ao resto da Europa através de três corredores de AV/VE (bitola europeia) —os chamados corredores norte, central e sul—; e migrar a restante rede nacional de transporte de pessoas e mercadorias para a bitola europeia, uma ficará de fora durante uma ou mais décadas: precisamente esta última. As principais cidades espanholas (excepto as do Norte) já estão ligadas pela rede do AVE: Madrid, Barcelona, Sevilha, Málaga, Valência, Córdova, Saragoça, Valladolid, etc.; os corredores de entrada em França serão cumpridos, a contento de Madrid, Paris, Bruxelas e... Lisboa. Já a mudança rápida das redes de internas de transporte de mercadorias, terá que esperar.

    segunda-feira, janeiro 03, 2011

    O assalto às reformas

    É preciso travar os piratas de Estado!

    E se quando aqui chegarmos os políticos nos roubarem as poupanças?
    European nations begin seizing private pensions
    The Adam Smith Institute Blog
    The Christian Science Monitor

    By Jan Iwanik, Guest blogger / January 2, 2011

    People’s retirement savings are a convenient source of revenue for governments that don’t want to reduce spending or make privatizations. As most pension schemes in Europe are organised by the state, European ministers of finance have a facilitated access to the savings accumulated there, and it is only logical that they try to get a hold of this money for their own ends. In recent weeks I have noted five such attempts: Three situations concern private personal savings; two others refer to national funds.

    Governos da Hungria, Bulgária, Polónia, Irlanda e França (!!) iniciaram um assalto sem precendentes às pensões de reformas dos seus países, entre outras coisas, para pagar dívidas de curto prazo dos respectivos dos governos e das suas imensas burocracias, salvar bancos falidos, nomeadamente públicos, e financiar os buracos dos próprios fundos de pensões e reformas, muitas destes em graves dificuldades, por terem andado a especular com juros, câmbios e derivativos financeiros, sem qualquer supervisão. É o descalabro anunciado.

    Em Portugal os ensaios também já começaram: no tempo de Manuela Ferreira Leite, o fundo de pensões dos CTT emigrou para fossa comum do Estado, na era Sócrates, até ver, o fundo de pensões da empresa privada foi empandeirado para a fossa comum do Estado, e na Caixa Geral de Depósitos, o respectivo fundo de pensões comprou a própria sede da Caixa!

    Que vão fazer os nossos burocratas parlamentares a este propósito? Tratar da vidinha deles, como sempre, enquanto as novas leis não chegam, ou tencionam discutir publicamente a destruição em curso do contrato social? Que diz o douto Louçã sobre isto? Que vai fazer ao seu PPR?

    Que tal sugerir à funcionária do Prós e Contras um debate público urgente sobre esta matéria?

    domingo, janeiro 02, 2011

    Grandes Obras

    Portugal 2010-2020 
    as três grandes prioridades de investimento chamam-se: ferrovia, eficiência energética e segurança alimentar

    in Plan Estratégico Para El Impulso del Transporte Ferroviario De Mercancías En España, 14/09/2010 (PDF)

    PS e PSD chegaram finalmente a acordo sobre as personalidades que irão coordenar o grupo de trabalho encarregado de reavaliar as Parcerias Público-Privadas (PPP): Guilherme de Oliveira Martins, mestre em ciências jurídico-económicas, independente próximo do Partido Socialista, e António Pinto Barbosa, professor de economia e fundador do PPD/PSD (1). Ambas as personalidades merecem grande respeito nas respectivas áreas profissionais, esperando-se que façam um trabalho tecnicamente competente e imune às pressões que sobre ambos pesarão enormemente, em particular, vindas do desmiolado e a caminho da falência Bloco Central do Betão — cuja miragem de salvação é o Novo Aeroporto de Lisboa, que não foi na Ota, como queriam, nem será em Alcochete, como querem e insistem todos os dias por todos os meios ao seu alcance. Nota importante: António Pinto Barbosa não é o irmão gémeo Manuel Pinto Barbosa, Presidente do Conselho Geral e de Supervisão da TAP!

    Escrevi e repito que os nossos economistas têm grandes lacunas de informação em três domínios decisivos para o futuro do nosso país: energia, transportes e segurança estratégica —nomeadamente, territorial, marítima, hídrica e alimentar. Sem a frequência de seminários intensivos sobre estes temas correm o risco de falhar, como falharam estrondosamente até agora, nas previsões, nos modelos de desenvolvimento propostos, e nas consultadorias que prestaram.

    Os casos Lusoponte, e aeromoscas de Beja —onde pontificaram as opiniões e propostas, respectivamente, de Joaquim Ferreira do Amaral e de Augusto Mateus, são a este título tristemente elucidativos: a ponte Vasco da Gama irá ser paga duas vezes pelos contribuintes, e o grande hub aeroportuário de Beja, de onde deveriam sair diariamente, segundo Augusto Mateus, toneladas de sardinhas —sim, sardinhas e carapaus!— para a União Europeia, está às moscas, provavelmente destinado a ser, no futuro, o parque de estacionamento para as aeronaves paradas da Portugália e da TAP que hoje atravancam as placas de estacionamento da Portela.

    A grande pergunta a fazer, nas vésperas da entrada do Fundo Europeu de Estabilização Financeira e do FMI num país tecnicamente falido, é esta: se nos últimos dez anos, apesar do afluxo contínuo de avultadas verbas dos fundos de apoio comunitário, Portugal esteve praticamente estagnado, que poderemos esperar em matéria de crescimento numa conjuntura duplamente marcada pela diminuição drástica do apoio comunitário e pelo colapso financeiro em curso das economias cujo modelo de crescimento (virtual) assentou basicamente na desindustrialização, nas importações, no consumo desmesurado de energia, bens materiais e serviços, e no endividamento? A resposta só pode ser uma: nenhum crescimento, salvo se algum grau de proteccionismo regressar aos grandes espaços económicos e demográficos do planeta —à semelhança do que há muito sucede no Japão, e também na China.

    A actual crise portuguesa deve ser vista, na realidade, como o ponto final do nosso modelo colonial de existência. Este modelo acabou de vez em 1974-75, mas os vícios por ele criados sobreviveram até hoje, nomeadamente na tipologia da nossa burguesia burocrática e palaciana, na presença desmesurada, paternalista e autoritária do Estado na sociedade (que as esquerdas marxistas reciclaram a seu favor), e na dependência sistemática do país e respectivas elites de uma qualquer árvore das patacas. O colapso do modelo colonial iniciado em 1415 foi progressivo. Começou com a independência do Brasil, teve outro grande abalo por ocasião da independência das possessões portuguesas na Índia, e culminou com a independência do resto do império entre 1974 e 1999. Cada uma destas perdas de território funcionou como epicentro de agudas crises económico-financeiras (1828, 1846-47, 1890-92, 1923, 1978, 1983), todas elas redundando, ao cabo de alguns anos, em graves crises de regime. O colapso financeiro de 2009-2011 terá como consequência inevitável o agudizar da crise de regime que já é patente, e a probabilidade de uma revolução institucional. O regime secular de autoritarismo burocrático, mediocridade técnica e institucional, incultura, clientelismo e dependência externa, perdeu os pilares sobre os quais assentou ao longo dos últimos seiscentos anos. Para sobreviver, Portugal precisa de se reinventar.

    E precisa tanto mais de se reinventar quanto o resto do mundo se encontra também à beira de uma dolorosa metamorfose. Ninguém nos virá ajudar pelos lindos olhos que já não temos. Dependemos agora inteiramente de nós próprios para sair do buraco onde caímos.

    O mundo, sobretudo o mundo desenvolvido e industrializado, está confrontado com três pontos de viragem potencialmente catastróficos:
    • o pico petrolífero, 
    • o pico alimentar e 
    • o pico do endividamento especulativo. 
     Resumindo: a produção de petróleo per capita decai desde 1970, a produção de cereais per capita começou a decair na década de 1980, e a bolha de derivados financeiros OTC, fruto de um modelo de crescimento especulativo pela via do consumo e do endividamento exponenciais, traduzia no final de 2009 um risco potencial de incumprimento de contratos de futuros equivalente a uns inimagináveis $615 trillions (615 biliões ou 615 milhões de milhões de dólares), quase 10x o PIB mundial (2).

    A gravidade de cada uma das curvas exponenciais acima mencionadas é por si só evidente. Mas o pior é que duas delas —a curva da alimentação e a curva da especulação resultante da criação de dinheiro a partir de castelos no ar— decorrem directamente da descoberta, exploração, abundância e esgotamento a curto prazo dos principais hidrocarbonetos que alimentaram e continuam a alimentar a era industrial e a modernidade tal qual as conhecemos desde meados do século 19 —momento a partir do qual as máquinas começaram a ser alimentadas a carvão, electricidade e petróleo.

    Vale a pena seguir o crash course de Chris Martensen sobre este tema...



    E ouvir ainda Robert Hirsch a propósito do seu mais recente livro, The Impending World Energy Mess (Equal Time, audio, 50:19 mn)

    As consequências do pico petrolífero têm um alcance potencialmente catastrófico para o mundo tal qual o conhecemos desde que Eça de Queirós escreveu A Cidade e as Serras (1892/1901). Teríamos mesmo que recuar aos tempos anteriores a 1830, quando pela primeira vez um caminho ferro e um comboio movido a vapor e alimentado a carvão ligaram duas cidades, Liverpool e Manchester, para imaginar o que poderá ser um futuro sem motores a vapor, ou de explosão, e um mundo sem electricidade, nem computadores, ou telemóveis. A humanidade poderá ver-se em breve imersa numa crise global de recursos sem precedentes. Para muitos analistas tal significará o fim de quase tudo o que hoje temos de barato e assumimos como dádivas naturais da civilização.

    Antes, porém, do dilúvio, ou da grande seca anunciada, há coisas que as pessoas e os governos podem fazer para mitigar o inevitável. A primeira delas é não agravar, por falta de informação, estupidez ou ganância, os factores da crise sistémica do actual modelo civilizacional. No caso presente, e em Portugal, não agravar o nosso endividamento, não agravar a nossa dependência energética, e não agravar a nossa dependência alimentar.

    Para não agravar, ou mesmo travar o crescimento exponencial do nosso endividamento público e privado, é preciso começar por redefinir as funções essenciais do Estado, aliviando a canga de burocratas e de burocracias que pesa sobre a sua eficiência, e sobre a viabilidade económica do país —nomeadamente na forma de tempo perdido e impostos assassinos (3). Neste ponto, diria que se não formos capazes de sensibilizar as lapas partidárias do regime, haverá que criar um movimento social contra os impostos e contra a burocracia, antes que estes inviabilizem definitivamente a independência nacional.

    Para não agravar ainda mais a dependência energética do país teremos que fazer quatro coisas:
    1. diminuir drasticamente a intensidade energética da nossa economia;
    2. aumentar drasticamente a eficiência energética de indústrias, serviços, edifícios e comportamentos; 
    3. renacionalizar, pelo menos parcialmente, os recursos energéticos comuns, acabando ao mesmo tempo com os oligopólios que hoje impedem a sociedade civil de produzir e consumir em pequena escala energia fora das redes; 
    4. dar máxima prioridade ao transporte colectivo urbano, suburbano, interurbano e internacional alimentado por energia eléctrica produzida no país. As oportunidades de investimento neste sector estratégico são enormes e compensam largamente os planos condenados ao fracasso de retomar o business as usual na estafada economia baseada em combustíveis líquidos baratos (autoestradas, aeroportos e plataformas logísticas).

    Para não agravar a nossa dependência alimentar, que acarreta por si só um agravamento automático da nossa dependência energética e do nosso endividamento (comercial, público e externo), é fundamental começar por definir um Plano Nacional de Segurança Alimentar, transparente e permanentemente aberto ao escrutínio democrático e discussão pública.

    Sendo a área dos serviços aquela que previsivelmente será mais afectada pela escassez tripla de petróleo, dinheiro e alimentos, pois não tem grande coisa para dar em troca daquilo que materialmente é imprescindível à vida —comida, guarida e mobilidade física—, será fundamental desenvolver estratégias de regresso à produção! Sobretudo enquanto durar a actual aceleração dos processos de automação e robotização computacionais das prestações de serviços, num quadro já caracterizado pela impossibilidade de crescimento das dívidas soberanas e das cargas fiscais (cofres naturais da segurança social), tornar-se-à imprescindível religar os indivíduos e as comunidades à produção e transacção dos bens essenciais à vida.

    A capacidade de produção alimentar em Portugal é limitada, mas ainda assim está longe de atingir o seu potencial. A propriedade rural encontra-se atomizada. Boa parte dos proprietários rurais vive e trabalha nas cidades, em grande medida por causa da revolução industrial e do desenvolvimento das cidades. Este período está, porém, a chegar ao fim. Em vez de se gastar inutilmente dinheiro público em Novas Oportunidades perdidas, talvez seja o momento de pensar onde melhor gastar os recursos financeiros que ainda vêm de Bruxelas. Por exemplo, lançando um programa nacional de agricultura biodinâmica e biológica, capaz de adaptar tecnologicamente os processos de cultivo e produção alimentar e florestal à escassez futura de adubos e pesticidas industriais (provenientes nomeadamente do gás natural e do petróleo), ao mesmo tempo que se especializa e confere competitividade cognitiva e social à agricultura, pecuária, piscicultura e silvicultura portuguesas. Estude-se, a este propósito o caso austríaco, para perceber até que ponto um país comunitário da Eurolândia pode abolir no seu espaço nacional todos os alimentos transgénicos e escolher uma via verde para a produção alimentar e conservação dos ecossistemas. Levar a segurança alimentar às cidades, e levar as cidades ao campo é todo um programa cujos impactos na mitigação dos constrangimentos que se seguirão ao fim do petróleo barato é demasiado grande para ser adiado. A inércia corporativa do regime tem que ser combatida e vencida, custe o que custar.

    No início deste ano negro, o mais importante de tudo é evitar os jogos florais parlamentares e os teatros de sombras permanentemente instigados pelo governo, pelas oposições e pelos lóbis corporativos. Libertar a sociedade civil e salvar o país de uma morte súbita começa por aqui. O mais importante agora é discutir soluções.

    NOTAS
    1. António Pinto Barbosa
      Fiscal das contas públicas certificou irregularidades no BPP
      05.01.2011 - 17:04 Por Cristina Ferreira. Público.
      O presidente do grupo de trabalho para criar a comissão encarregue de fiscalizar as contas públicas, António Pinto Barbosa, certificou durante cerca de dez anos as contas do Banco Privado Português, que foi intervencionado no final de 2008 pelo Banco de Portugal, para evitar a sua insolvência imediata.
      Mas haverá alguém que se salve deste naufrágio? — OAM
    2. Se em vez de se considerar o valor nocional OTC dos contratos de derivados, apenas se tiver em conta o respectivo valor bruto de mercado, ou seja a expectativa razoável de ganho, ainda assim está em jogo um volume de apostas especulativas sobre taxas de juros, desvalorizações cambiais, e outros activos virtuais, equivalente a 1/3 do PIB mundial, ou seja, mais ou menos 17 biliões de euros (17*10^12€).
    3. A "esquerda" monocórdica tem a mania de invocar a fuga aos impostos como argumento favorável ao aumento da carga fiscal. Está bom de ver que o argumento é idiota. Mas insistem, não querendo entender que se se combinar uma menor carga fiscal com uma vigilância e penalização forte aos infractores (começando pelos de cima) os resultados seriam bem melhores dos que os conseguidos com o terrorismo fiscal actualmente em curso. Um burro morto não paga impostos!
    ÚLTIMA ACTUALIZAÇÃO: 6 de Janeiro de 2011 22:00

      sábado, janeiro 01, 2011

      2011 - ressaca

      Baltika no. 7
      o melhor remédio para a ressaca desta madrugada
      Exclusivo: CHICOTE

      Produzida em São Petersburgo, uma das melhores cervejas do planeta.

      Há várias maneiras de curar uma ressaca de fim de ano —a pior de todas é parar de beber!

      Os ingleses gostam muito de curar os violinos partidos que chocalham algures na cavidade craniana, e o travo a bilhetes de lotaria na boca, tomando um pequeno almoço líquido, à base de cerveja preta com dois ovos crus inteiros, ambos mergulhados num copo de meio litro bem medido (o chamado pinto). Ou então curam a monumental bebedeira com o clássico Bloody Mary. Os mediterrânicos sofisticados procuram calmamente uma esplanada e pedem um Campari com soda.

      Opções que a CHICOTE não aprecia particularmente, mas compreende, passam por beber três Coca-Colas seguidas num copo sempre cheio de gelo, ou uma garrafa inteira de litro e meio de água Fastio ou Carvalhelhos gelada, devagarinho.

      Para quem não se preocupa demasiado com o preço das coisas, sobretudo no day-after de uma passagem de ano, e está hospedado num hotel de 4 ou 5 estrelas, a receita chama-se Black Velvet: um longo copo gelado para dentro do qual deslizam a meias um Krug Brut Champagne Grande Cuvée 2005 e uma Guinness.

      Mas a escolha urbana da CHICOTE vai para o que os ingleses, especialistas em tudo o que diz respeito ao álcool, chamam the Hair of the Dog that Bit You ("um pelo do que cão que te mordeu" — outra maneira de ver o problema teórico da ressaca). Basicamente a receia é esta: volta a beber um pouco do que transformou a tua cabeça num disco voador: um copito de vinho branco ou tinto de muito boa qualidade, ou uma cerveja estupidamente gelada, mas que seja uma cerveja premium, muito saborosa, leve, sem o rabo amargo do lúpulo — em suma, uma Baltika no. 7, criada nas famosas fábricas de cerveja de São Petersburgo, mas que faz hoje parte do império de 304 marcas da dinamarquesa Carlsberg. Para encontrar esta cerveja em Portugal, basta procurar uma loja de produtos eslavos, nomeadamente russos. A loja ucraniana situada na estação de comboios de Carcavelos é um dos pontos de abastecimento regular da CHICOTE. Já por lá passámos hoje, claro!