terça-feira, junho 12, 2012

Criminosos até quando?

George Grosz — “Eclipse do Sol”, 1926

 Perdoar os devedores, e não os especuladores!

A crise é bancária. Metastizou-se em crise soberana. E ambas são suportadas pelos “europeus”. Por nós. Só numa democracia doente é que mentir a instituições europeias, como na Grécia, é mais grave que mentir ao povo, como em Espanha. A banca será ajudada. E nós, que lhes dizemos? Nada. Já dissemos tudo um outro. Já escrevemos tudo o que havia a escrever. Falta sofrer. Como é que se regressa do abismo?

Pedro Santos Guerreiro, “Toda a gente mente”, Negócios online (10 jun 2012)

Um editorial lúcido mas derrotista, imperdoavelmente derrotista.

Não basta verificar como todos nós fomos de algum modo embalados pelo fácil dinheiro virtual. É necessário revelar a origem das coisas, e perceber que há três grandes responsáveis pelo colapso financeiro em curso: o gang dos derivados, liderado por nove bancos de investimentos que a ninguém obedecem (1), os bancos imprudentes e/ou especuladores que obedecem ao gang anterior, e os governos de criminosos e populistas que conduziram o mundo a esta situação (2).

Sem chamar os bois pelos nomes, parecemos todos igualmente culpados, quando não somos!

Agora a Europa...

A Alemanha tinha e tem um plano, e estou de acordo com ele: fazer crescer a Europa, mas dotando-a de uma verdadeira estrutura financeira e fiscal coerente, e de um comando estratégico unificado. Claro que para aqui chegar foi preciso mostrar a cenoura a quem não a conhecia, ou não tinha ainda provado. Feita a prova, agora é preciso merecê-la!

Esta é certamente apenas uma parte da verdade. A outra é a guerra fria financeira que entre o dólar e o euro teria inevitavelmente que estalar, e continua neste preciso momento ao rubro! A falência do MF Global, por ter especulado com as dívidas soberanas europeias, ou o sombrio jogo inglês da alavancagem infinita conhecido por shadow rehypothecation, ou ainda as viagens recentes dos ministros das finanças português e espanhol a Washington para ouvirem o que Timothy Geithner tem a dizer sobre a exposição americana às dívidas soberanas ibéricas, são alguns dos exemplos mais evidentes sobre quem está verdadeiramente na origem da presente crise e ao mesmo tempo exposto às suas imprevistas consequências.

Perdeu-se o controlo da situação? É bem possível :(

Talvez por isso a solução convencional, isto é, salvar todos os bancos e todos os políticos, a todo o custo, acabe por ter que ser revista, e umas dezenas largas de bancos e algumas centenas ou até milhares de políticos devam ser irradiados da cena pública, por indecência e má figura, com uma mão atrás e outra à frente — sob pena de uma qualquer Comuna de Paris ressuscitar em versão hard-tecno, mas nem por isso menos cortante!

Recomendo, pois, aos teóricos, e sobretudo aos gasparinhos deste mundo em crise que meditem na sugestão de Steve Keen:

[The banks] have to suffer and suffer badly. They will have to suffer in such a way that in a decade they will be scared in order to never behave in this way again. You have to reduce the financial sector to about one third of its current size and we have to also ultimately set up financial institutions and financial instruments in such a way that it is no longer desirable from a public point of view to borrow and gamble in rising assets processes.

... 
I think the mistake [central banks] are going to make is to continue honoring debts that should never have been created in the first place. We really know that that the subprime lending was totally irresponsible lending. When it comes to saying "who is responsible for bad debt?" you have to really blame the lender rather than the borrower, because lenders have far greater resources to work out whether or not the borrower can actually afford the debt they are putting out there.

They were creating debt just because it was a way of getting fees, short-term profit, and they then sold the debt onto unsuspecting members of the public as well and securitized their way out of trouble. They ended up giving the hot potato to the public. So, you should not be honoring that debt, you should be abolishing it. But of course they have actually packaged a lot of that debt and sold it to the public as well, you cannot just abolish it, because you then would penalize people who actually thought they were being responsible in saving and buying assets.

Therefore, I am talking in favor of what I call a modern debt jubilee or quantitative easing for the public, where the central banks would create 'central bank money' (we cannot destroy or abolish the debt, which would also destroy the incomes of the people who own the bonds the banks have sold). We have to create the state money and give it to the public, but on condition that if you have any debt you have to pay your debt down -- no choice. Therefore, if you have debt, you can reduce the debt level, but if you do not have debt, you get a cash injection.

in ZeroHedge

NOTAS
  1. A exposição dos quatro principais bancos de investimento ao mercado de derivados financeiros OTC (“The Banks And Derivatives: Too Big To Fail Or Too Exposed To Be Saved?” Seeking Alpha, May 18, 2012) é superior ao triplo do PIB mundial. Só a exposição do JPMorgan supera em risco tudo o que o mundo produz num ano! Dos nove grandes especuladores financeiros do planeta, oito são americanos, e um inglês. Mais explicações para quê?

    JPMorgan Chase: 70.151.000.000.000
    Citibank: 52.102.000.000.000
    Bank of America: $50.135.000.000
    Goldman Sachs: $44.192.000.000.000
    HSBC: $4.321.000.000.000
    Wells Fargo: $3.332.000.000.000
    Morgan Stanley: $1.722.000.000.000
    State Street Financial: $1.390.000.000.000
    Bank of New York Mellon: $1.375.000.000.000
  2. “Nunca esperei viver num tempo em que Wall Street e a City tivessem poder suficiente para orientar a opinião pública do mundo ocidental, desenvolvido, a seu favor, depois de terem inquinado o mundo com uma desregulação quase completa da finança. Mas é o que está acontecer” — in José Gomes Ferreira, Estranho tempo, este, em que vivemos, SIC

    Esmiuçando um pouco mais teríamos ainda que acrescentar, nomeadamente a propósito deste notável artigo de José Gomes Ferreira sobre os verdadeiros culpados do colapso financeiro em curso, que o brinquedo chamado Derivados OTC (cujo valor nocional é = 12x o PIB mundial), os covis fiscais de sua majestade a rainha de Inglaterra e similares, e o HFT (High-frequency trading) são os três vértices da grande armadilha financeira desta crise, a qual terá que ser desativada por verdadeiros especialistas (seguir as reflexões deste homem: Steve Keen) e pela vontade férrea da tia Merkel !

    No entanto, as causas profundas são outras:

        1.    o fim do Colonialismo e a ascensão dos BRICS;
        2.    o declínio inexorável do petróleo barato;
        3.    a des-industrialização ocidental e consequente falsificação dos medidores do PIB (mede-se o consumo em vez de medir a produção!);
        4.    a destruição do trabalho produtivo (substituindo os trabalhadores por consumidores).

    A Dona Branca que a malta da City e de Wall Street mal-copiou do génio lusitano (Alves dos Reis e seus legítimos herdeiros) veio tão só atamancar esta sucessão de causas da verdadeira catástrofe que nos espera a todos :(
  3.  
Última atualização: 12 jun 2012 13:46

sábado, junho 09, 2012

Remarx?

Slavoj Zizek. d'aprés Luca del Baldo (2011)

Quem fará a revolução?

Slavoj Zizek em Atenas 2012 não é o Sartre cauteloso e realista que visitou Portugal em 1975.

O discurso proferido pelo filósofo radical esloveno Slavoy Zizek num debate promovido pelo partido Syriza, em Atenas no passado dia 3 de junho, e intitulado “The heart of the people of Europe beats in Greece”, merece o visionamento repetido por parte dos eleitores do PS, do Bloco e do PCP. Recomendo também que se complemente tal exercício com uma meditação sobre esta frase de Zizek retirada do seu volumoso The Paralax View:

(...) today, the only political agent that could logically be said to represent the interests of capital as such, in its universality, above its particular factions, is Third Way Social Democracy....)"

Quer dizer: Blair, Obama, Pinto de Sousa, mas também Hollande (mais perto do inspirador Olof Palm?) representam afinal o mecanismo crítico que tem garantido a continuidade do sistema que em retórica populista acusa de ser propenso à injustiça, mas reformável em democracia.

As contradições no interior do PPD/PSD, nomeadamente as que opõem hoje Balsemão e Cavaco a Passos Coelho, retratam de forma ímpar esta noção da representação contraditória, oscilante, rotativa, dos interesses dominantes do Capitalismo, mesmo numa fase de aparente implosão.

Ainda assim, creio que Zizek deveria inquirir a proveniência profissional da sua audiência interessada, antes de embrulhar entusiasticamente as suas palavras no calor das massas.

A burocracia, nomeadamente intelectual, nunca foi tão extensa, nem esteve tão integrada no aparelho político e administrativo do Capitalismo como hoje. Nunca tanta riqueza foi transferida das classes produtivas para os donos do capital, mas também para a crescente população, sobretudo urbana, cuja maior contribuição para o dito Crescimento tem decorrido sobretudo pelo lado do consumo e mais recentemente pela via sem saída do endividamento.



A intelectualização e burocratização do Ocidente foi conseguida através de duas vias: o desemprego do trabalho manual e das tarefas repetitivas a favor de tecnologias mais rentáveis e socialmente inertes, e a eliminação maciça de empregos rurais, industriais e mesmo pós-industriais para os antigos espaços coloniais, onde o preço do trabalho e os custos de contexto (higiene, segurança, ambiente) continuam a ser muito inferiores. Enquanto o preço do petróleo e do gás natural, e as novas sociedades asiáticas, africanas e latino-americanas, o permitirem, estas duas formas de substituir o trabalho produtivo na Europa e nos EUA continuarão a pressionar as economias destas regiões no sentido da sua desintegração financeira, social, política e cultural.

Desde 1973 para cá, o rotativismo keynesiano, mais social-democrata, ou mais neoliberal, foi garantindo a sobrevivência, embora empobrecendo, das chamadas classes médias. Mas a crise do endividamento explosivo das empresas, das famílias e dos governos, desencadeada em 2007-2008 com o rebentamento da bolha imobiliária americana e o colapso do Lehman Brothers, e que hoje se agrava hora a hora, está a levar os povos da Europa e dos Estados Unidos para um beco sem saída.

Salvo os mais ricos —pouco mais de cem mil portugueses, três milhões de americanos (EUA) e 5 milhões de europeus (UE)—, a crise ameaça levar ao empobrecimento muito rápido, pela via do desemprego, da falta de emprego, da queda das remunerações, e da subida criminosa dos impostos, mais de 806 milhões de europeus e americanos! Ora bem, não vejo eu, nem certamente Slavoj Zizek e muitos outros, como sairemos deste bloqueio em larga escala sem, ou uma paragem e reforma radical dos pressupostos da globalização, mediada até lá por uma revalorização do trabalho, das coisas e do dinheiro, ou então... uma revolução!

As ditas classes médias empobrecidas, quando perceberem que os mais ricos não irão em seu auxílio, por desorientação e impotência momentânea, mas também por puro egoísmo, ou mesmo banditismo descarado, e que o governo está irremediavelmente falido, irão progressivamente engrossar, nomeadamente com os seus conhecimentos específicos e grande potencial de fogo informativo, técnico e ideológico, as ruas do protesto democrático.

Os poderes instalados terão uma irreprimível tendência para reforçar as leis e as forças repressivas, sem cuidar sequer da constitucionalidade e legitimidade cultural das decisões. Gasolina, portanto, sobre uma fogueira que não pára de alastrar!

E agora?

sexta-feira, junho 08, 2012

Espanha?

Resgate iminente faz renascer a velha questão ibérica: uma Espanha única, impossível, ou uma Comunidade de Estados Ibéricos Independentes (CEII)?


As malfadadas torres Kyo, Caja Madrid e agora Bankia são um símbolo bem sugestivo do ascenso e colapso financeiro da Espanha

Entre 40.000 y 100.000 millones

La horquilla, pues, que se baraja sobre el dinero que necesitan las entidades españolas oscila entre los 40.000 millones y los 100.000 millones. En el seno del Partido Popular Europeo, su secretario general, Antonio López-Istúriz, ha asegurado en una entrevista en TVE que los bancos requerirán entre 80.000 y 100.000 millones para sanearse. "Las cifras que se están manejando están en torno a los 80.000 o 100.000 millones o menos, dependiendo de los informes", dijo el eurodiputado de la formación de Rajoy. El Mundo (8 jun 2012).


Más vídeos en Antena3

Los mineros retoman el corte de carreteras como protesta por la crisis en el sector

Los mineros del carbón intensifican sus protestas en su sexto día de huelga indefinida. Hoy han cortado varias carreteras en Asturias y León enfrentándose a los equipos antidisturbios lo que ha provocado retenciones kilométricas. El tráfico en la autovía A-66 ha estado interrumpido casi 4 horas. Además, los manifestantes también han interrumpido el tráfico ferroviario entre Asturias y La Meseta. Antena 3 (7 jun 2012).

Boa parte do buraco negro das finanças espanholas resulta de investimentos especulativos nos mercados imobiliários e de derivados financeiros OTC por parte de especuladores vários, mas também de fundos de pensões cujos rendimentos estavam a ser comidos pela inflação real e pela imprudente política de destruição das taxas de juros (BoJ, Fed, BCE). Se os especuladores devem assumir as suas perdas sem mais (é essa a regra do jogo!), já os fundos de pensões e as contas de poupança mais expostos criam um problema social grave. Aqui, os governos deverão intervir, protegendo as pensões e as poupanças, mas tomando o comando das instituições aventureiras.

Quanto à dívida pública espanhola, não há outro remédio se não encolher o Estado e as autonomias...

A Espanha poderá ter que caminhar para um estado federal — monarquia, ou república, não sabemos. Mas creio que seria prudente manter a monarquia durante mais uma geração, promovendo entretanto um estado federal, dentro do qual cada estado federado teria que viver, naturalmente, com o que produz e tem, deixando de reivindicar a Madrid uma ilusória e caríssima igualdade económica. Cada novo estado federado passaria a exigir democraticamente das suas administrações mais contenção de gastos, fim das mordomias e dos almoços grátis, e sobretudo estratégia económica, social e organizacional.

Numa segunda fase, já com a União Europeia bem adiantada, Espanha faria uma transição constitucional para o regime republicano federal a que Portugal se juntaria formando a Comunidade Ibérica de Estados Independentes. Esta Comunidade seria, por sua vez, uma das sub-unidades fortes da União Europeia consolidada.

A Espanha de hoje é um projecto político incompleto, sonhado desde o século X, mas que nunca foi cumprido, tendo dado origem a inúmeras e sangrentas guerras civis cujo resultado mais visível foi o atraso do nascimento de uma grande comunidade de nações livres, democráticas, responsáveis, pacíficas e produtivas. Sob bandeiras equívocas e ilusões sucessivas os povos ibéricos foram sendo arrastados ao longo da sua história católica para uma sangria sem nome nem desculpa, sobre a qual se erigiram os regimes arrendatários e déspotas que se mantiveram no poder até mais esta bancarrota geral da Ibéria.
El título de Imperator (totius) Hispaniae del latín, Emperador de (toda) España nació como término de la mano de los monarcas de León, al menos, en el siglo X. Fue usado esporádicamente en los dos siguientes siglos, según los reyes de la Iberia cristiana luchaban por la supremacía y por el imperiale culmen. Durante la Edad Media, el topónimo latino "Hispania", sus deformaciones (como "Yspania" o "Spania") o cualquiera de sus versiones romances (como "España" o "Espanna") se usaba, en singular o en plural, para referirse al total de la Península Ibérica — in Wikipedia.

Los monarcas que unieron las Coronas de Castilla y Aragón intentaron revivir el antiguo recuerdo de una Hispania romana o visigótica con el fin de promover una fidelidad mayor hacia una históricamente resucitada España in — España en Europa: Estudios de historia comparada: escritos seleccionados, página 75, Wikipedia.

Al final de la Edad Media, con el matrimonio de Isabel I de Castilla y Fernando II de Aragón, estas dos coronas peninsulares se aliaron, conquistando el Reino nazarí de Granada en 1492 y, posteriormente, el de Navarra en 1512 que continuó siendo un reino, acuñando moneda propia y con aduanas en el río Ebro hasta las guerras carlistas del siglo XIX. Los reyes navarros se refugiaron en sus posesiones allende de los Pirineos y posteriormente se convertirían en reyes de Francia — in Wikipedia.

Sem os abundantes subsídios da União Europeia e terminado o longo ciclo colonial do Ocidente, de que as teorias Keynesianas aplicadas à esquerda e à direita foram, percebemo-lo agora, mera manobra defensiva, a Ibéria volta a estar confrontada com os seus próprios demónios.

Voltaremos a repetir os erros do passado, deixando as elites fabricar um novo teatro de sombras para melhor reprimir as comunidades, ou seremos capazes de aplicar as nossas melhores energias, reagindo de forma criativa ao empobrecimento que aí vem, formando uma grande comunidade de nações ibéricas e europeias, democrática, solidária, justa, competitiva e livre?

TAP por 1 euro

Quem paga os 123 milhões de prejuízos da Ground, e os... 3MM da TAP?

Talvez fazer como o gajo de Braga: TAP a 1 euro, leilão no fim do mês!

Governo pediu aos sindicatos, com os quais estará reunido às 17h, para esperarem até esta sexta-feira por um aval à venda de 50,1% da operadora de handling. Se tal não acontecer, a tutela será responsabilizada pelos danos. Público, 8-06-2012.

Desde quando é que os sindicatos são parte interessada em processos de privatização, ainda por cima quando tais processos estão envolvidos por obscuras operações de encobrimento e transferência de dívidas?

As receitas até agora obtidas pelas privatizações realizadas sob supervisão da Troika não deverão chegar sequer para tapar o buracão escondido da TAP (que poderá ultrapassar os 3 MIL MILHÕES DE EUROS).

Faça-se, como há muito se vem propondo, uma auditoria independente ao Grupo TAP, incluindo naturalmente a Groundforce, a TAP Engineering & Maintenance, Fernando Pinto y sus muchachos, e a célebre compra da PGA ao BES. E só depois se desenhe um spin-off e a privatização integral ou parcial das empresas do grupo.

quarta-feira, junho 06, 2012

Groundforce é TAP!

Quem quer casar com a Carochinha?
Foto ©: Crisplant - Baggage Handling

Tentaram fintar o Álvaro, mas Gaspar estava atento e desviou para canto!

Impasse na privatização da Groundforce (2037 "colaboradores" !!!) causa reunião de emergência nas Finanças (Público, 6 jun 2012)

A Urbanos parece que já deixou cair a batata quente (Groundforce) inchada de dívidas impostas pela TAP do genial e catita gaúcho Pinto!

Como cocou um especialista atento:

    Em todo este processo onde se chegou a um passivo de 123 milhões não será licito concluir que houve uma deslocação da dívida da TAP para a Ground, ou seja, a TAP estabeleceu administrativamente o preço a pagar por cada operação (ex: bagagem, check in,...) que deveria pagar à Ground, independentemente do custo real que houvesse para a Ground. Por outras palavras, não esteve a TAP a atirar passivo para a Ground na esperança de que no futuro houvesse alguém que o fosse assumir.

    Indirectamente, [a TAP] "tentou" fazer-se competitiva à conta de uma empresa do grupo, "escondendo dívida" em terceiros, e agora está a "assobiar para o ar", como se nada fosse com ela. Num cenário destes, esta é de Mestre. Grande Gaúcho!!

    Caso não fosse o Gaspar a questionar o processo (não o passivo) o Álvaro perante [as fintas] do Gaúcho, não só comeu o isco, o anzol, a linha e a cana. Sendo o Álvaro um homem do Canadá, onde a concorrência está na ordem do dia, como é que o "coiso" enfiou um "barrete destes"!

A TAP é um dos dois únicos acionistas da Groundforce, com 49,9%, enquanto uma tal Europartners, ao que parece, nada mais do que uma empresa de fachada dos bancos BIG, Banif e Invest, detém 50,1% da sobre endividada empresa portuguesa de handling. Ou seja, para que a privatização pudesse seguir em frente de uma forma normal e civilizada, a TAP teria que assumir 61.377.000€ de prejuízos, e a Europartners teria que assumir a sua quota-parte do buraco, no montante de 61.623.000€.

A solução para a Groundforce não pode obviamente passar pela venda dos prejuízos à Urbanos como se fossem filets mignons!

A solução honesta e simples é esta: ou limpar a empresa de dívidas antes de a privatizar, ou na impossibilidade de o fazer, declarar falência e reabrir a Groundforce com novos acionistas, nova gerência e reestruturada.

Gaspar, com a Troika de sobrolho levantado, não permite mais jogos de passa-culpas e a sempre esperada faturação dos prejuízos, da incompetência e da corrupção aos indígenas que continuam a pagar impostos. Já ouviram falar da Bastilha? Há um momento em que ou o poder faz o que tem a fazer, ou sucumbe à ira dos povos!

Perguntas ao governo:

terça-feira, junho 05, 2012

Jubileu ao fundo!

Gráficos dos principais teatros de guerra financeira na Europa (com os EUA em pano de fundo...)


A dívida do Reino Unido, sobretudo financeira, é um barril de pólvora pronto a explodir!


Euro em situação dramática: sem um salto quântico federal, nada feito :(


Outra visão do mesmo problema


A Suíça já decidiu colar-se ao euro: 1€=1,20CHF


Afinal os EUA vão também a caminho da Fossa de Keynes !


CONCLUSÃO : o euro poderá vencer a guerra contra o par dólar-libra se e só se houver rapidamente um salto quântico no processo de unificação financeira e fiscal da Europa. 

Os EUA e o Reino Unido estão cada vez mais isolados, enquanto a Eurolândia continua a ter os apoios da China, Rússia e Suíça, e poderá em breve ter também a seu lado, imagine-se, Israel! A contenção do islamismo radical passará em breve a ser um assunto sobretudo europeu, russo e chinês, dispensando as provocações intermináveis e as ações militares ilegais, criminosas e desastrosas dos Estados Unidos.

Nesta conjuntura previsível, o interesse estratégico de Portugal passa obviamente pelo seu posicionamento geográfico e pelas suas relações de longa data com os países de língua oficial portuguesa (em particular, Brasil, Angola, Moçambique e Timor), assim como com a China.

A Alemanha, que é a locomotiva industrial, o banco e a principal estratega europeia, pode ter em Portugal um bom intermediário para as suas já intensas relações com o Brasil e a China, mas sobretudo pode esperar de Portugal a facilitação no acesso a uma zona do globo onde os germanos nunca tiveram grande êxito: África!

A Alemanha é pois o nosso principal aliado na União Europeia.

Não nos esqueçamos desta nova realidade a ponto de se concretizar. Se o euro soçobrar, a Alemanha sofrerá uma nova e estrondosa derrota histórica. Mas desta vez, se Wall Street e a City vencerem, toda a Europa sucumbirá a décadas de pobreza e grande violência.

Não nos fiemos mais na corja partidária e financeira que se habituou a viver de rendas, por cima e por baixo das mesas do poder e do criminoso tráfico de influências!


REFERÊNCIAS
Os gráficos foram retirados de artigos vários do ZeroHedge

Última atualização: 6 jun 2012 0:16

sábado, junho 02, 2012

Portugal, pagar até morrer


Só podemos saldar a dívida e crescer, com trabalho, poupança e equidade

Sem renegociar as PPP, sem privatizar a TAP e a exploração dos transportes ferroviários, e sem uma reforma profunda da administração pública e do Estado ficaremos escravos da dívida e da indecorosa nomenclatura que levou o país à ruína, pelo menos, até 2020!

Portugal é neste momento atravessado por três grandes dilemas:
  1. O nosso insustentável endividamento fechou as portas ao investimento externo e interno, forçando o Estado a submeter-se a um programa de resgate, sem o qual há muito teria deixado de pagar aos seus funcionários, não sendo por esta razão possível crescer significativamente, na medida em que tal crescimento, pedido pela retórica populista da Oposição (1), implicaria agravar o sobre-endividamento público e privado do país, por sua vez um cenário inaceitável para o único credor ainda disposto a ajudar-nos a sair desta situação: a Troika.
  2. Só uma parte, 50% a 62%, da dívida total do país, é passível de um PSI, também conhecido por haircut; e para piorar as coisas, dado que boa parte da dívida pública reestruturável está nas mãos dos principais bancos portugueses, nomeadamente a colossal dívida das PPP, uma renegociação da mesma, com vista a um desconto privado, corre o risco de rebentar simultaneamente com os principais bancos e grupos económicos portugueses, dada a exposição destes às tetas orçamentais da escanzelada República que uma nomenclatura de piratas sem freio conduziu à posição de refém indefesa dos credores de última instância;
  3. Não conseguiremos libertar-nos da colossal dívida acumulada, sem impormos uma racionalização drástica e urgente do aparelho de estado, das instituições democráticas e do setor empresarial público, exigindo frontalmente o fim da apropriação parasitária do bem comum pela nomenclatura financeira e partidária, e sem causar por outro lado uma redução dramática dos recursos humanos que constam da folha de pagamentos da administração pública.
Estes dilemas terão no entanto e de uma forma ou doutra que ser resolvidos, sob pena de o país inteiro ficar numa situação sem saída, caminhando rapidamente para a alienação progressiva da sua riqueza, e para o advento de uma instabilidade social de consequências imprevisíveis.

Cabe aos partidos em primeiro lugar (para isso vos pagamos) estudar e encontrar com urgência as soluções mais justas e equilibradas para estes dilemas. E cabe ao resto da sociedade participar neste debate. Caímos no poço da dívida. Teremos que saber e conseguir sair dele quanto antes!

Os recentes números da execução orçamental e do desemprego são dramáticos. Veremos o que nos espera na próxima Segunda Feira, ao tomarmos conhecimento do mais recente relatório da Troika.

Até lá será muito instrutivo ler três artigos recentes e interligados sobre Portugal, escritos sucessivamente por Dimitris Drakopoulos e Lefteris Farmakis, do Nomura's Research, Joseph Cotterill, do FT Alphaville, e Claus Vistesen, do Alpha.Sources.CV.

“The math here is very clear. With only about 50 to 62 percent of the debt outstanding liable to restructuring the idea that Portugal may return to the market under “normal” conditions is ridiculous, especially if we assume that this includes the prospect of international creditors doing the bid.

However, there is an important difference between Portugal and Greece. Where Greece had a substantial part of its debt outstanding held by foreign creditors the restructurable debt in Portugal is mainly held by domestic corporates and banks. This is due to the increasing re-nationalisation of sovereign risk on the back of the crisis and specifically the ECB’s LTROs which have incited banks to buy their respective sovereign’s debt. This adds another layer to the Portuguese case in the sense that if the private sector gets hosed, it will mean domestic banking and corporate defaults. The ensuing re-capitalisation would be impossible for Portugal to deal with without EU/IMF help.”

— in Alpha.Sources.CV, “Time Unlikely to be a Healer for Portugal’s Economy”, April 2, 2012

“If you don’t see what Nomura are getting at here, Portugal could burn bondholders, but increasingly those are its own banks. On the Greek pattern, it would then need a eurozone loan to recap those banks, making any debt relief a mirage. And any private bondholders remaining, all the more subordinated.”

— in “If you thought Greek bondholders were subordinated…”, Joseph Cotterill, FT Alphaville, Mar 29 2012 09:03

“In this report we discuss whether a PSI operation similar to that undertaken in Greece will be repeated in Portugal in the near future. Our view is that in the short term momentum has shifted towards the extension of a new financing package to Portugal for a few years (potentially covering its financing needs until 2015) without a PSI operation being set as a prerequisite. Over the medium term, however, we see a fairly high probability of a debt management operation going ahead in Portugal given the country’s significant macroeconomic imbalances and fiscal risks that are likely to significantly delay its return to financial markets.”

— in “Portugal: To PSI or not to PSI?”, by Dimitris Drakopoulos and Lefteris Farmakis, Nomura, 27 march 2012.

NOTAS
  1. A sustentabilidade da economia portuguesa sofre de quatro constrangimentos fatais: a sua aflitiva dependência do petróleo/gás natural; a sua escandalosa intensidade e concomitante ineficiência energética; a sua inaceitável dependência de capital, o qual financia basicamente o consumo mas não o trabalho propriamente produtivo, nem a suficiente produção de bens transacionáveis; e, finalmente, o envelhecimento e encolhimento demográficos que destruirão inexoravelmente a sustentabilidade do estado social que conhecemos nos últimos trinta anos, ficando o setor das exportações, o turismo e, uma vez mais, a emigração, como únicos travões ao empobrecimento em espiral do país. Os quadros e gráficos do estudo promovido pelo banco japonês Nomura são a este título elucidativos.

Última atualização: 2 jun 2012 10:52

sexta-feira, junho 01, 2012

Capitalismo: seis meses de vida?

Foi assim no Zimbabué. E na Europa como será?

Teremos seis meses, ou seis semanas para nos preparar?

Os bancos e o grande dinheiro em geral estão a refugiar-se debaixo das asas dos bancos centrais, comprando-lhes dívida soberana — na América, como na Europa, mesmo se os governos americano, alemão e agora também o suíço já não paguem quase nada pela emissão das suas dívidas soberanas, ou comecem até a cobrar por pedir emprestado! (1)

Nos casos da Grécia, Portugal, Espanha, ou seja, em países à beira da insolvência, os títulos de dívida são depositados no BCE como colateral para obtenção desesperada de liquidez em princípio destinada a economias paradas e endividadas até aos ossos. Acontece, porém, que os bancos dos países que se encontram na unidade de cuidados intensivos da Troika deixaram há muito de emprestar à economia, a não ser em casos pontuais para evitar o colapso de grandes empresas por sua vez endividadas aos bancos que se dispõem a renovar-lhes as linhas de crédito. Preferem mesmo deixar parte substancial do dinheiro que pediram ao BCE a 1% à guarda deste, recebendo em troca 0,25% ! (2)

A situação é desesperada. Sinais deste desespero são, entre nós, a subida imparável do desemprego, os "erros" da execução orçamental, a queda dramática das receitas fiscais apesar da violenta austeridade imposta a todos menos à nomenclatura execrável do regime, os prejuízos que começaram finalmente a saltar dos balanços escondidos das PPPs, grandes empresas do regime, bancos, empresas públicas e autarquias, ou ainda a falta de compradores para a TAP. Finalmente, a fuga de capitais para refúgios como a Suíça e o Reino Unido, que está em curso a grande velocidade, e ao contrário do que a subida dos depósitos domésticos poderá fazer crer, prova que a desconfiança de quem tem algum dinheiro no nosso país subiu para níveis que se podem perfeitamente classificar de corrida aos bancos, e que esta recai não só sobre a situação portuguesa mas também sobre o euro. O dinheiro está a fugir basicamente para a Alemanha, Suíça e Reino Unido.


Raoul Pal, The End Game

Em Espanha, o colapso do bad bank Bankia —que se propôs absorver os balanços catastróficos de boa parte das caixas regionais espanholas— ameaça todo o sistema bancário ibérico, cujo colapso em cadeia desencadearia de imediato a implosão do sistema financeiro mundial (3). O anúncio do Wall Street Journal (4) e subsequente desmentido do FMI (5) da preparação dum plano de resgate da Espanha só pode significar que a crise está a piorar de hora a hora (6).

É possível que uma chuva dourada de euros esteja ao virar da esquina para adiar por mais uns meses a tragédia. Mas é também provável que não chegue a tempo, ou que já não remedeie coisa nenhuma. E se assim for, talvez o futuro venha a decidir-se nos próximos seis meses (ou nas próximas seis semanas) com o pior dos desfechos.

Que tal um regresso aos anos 70 do século passado? Ou mais distópico ainda, que tal uma antecipação do Blade Runner para 2013 (a história passa-se em 2019)? Funcionarão os sistemas energéticos e informáticos se houver um colapso em cadeia na Europa, Reino Unido, Japão, China, EUA (7)?

Raoul Pal pensa que não... Vale a pena ler a sua sintética apresentação, cujos principais tópicos resumo:

  • os dez maiores devedores do mundo devem mais do que 300% do PIB mundial
  • 70 biliões de dólares (70x10E12) correspondentes apenas a uma parte da dívida do G10 (Bélgica, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão, Holanda e Reino Unido) são o colateral de contratos de derivados financeiros OTC com uma valor nocional de 700 biliões de USD, ou seja, 12x o PIB mundial
  • a crise da dívida britânica é tão grave quanto a da dívida soberana na zona euro
  • o Japão tem a maior dívida do planeta
  • a China afinal também tem um stock de dívida preocupante
  • e os Estados Unidos poderão andar 30 ou 40 anos para trás em matéria de rendimento per capita depois das próximas eleições presidenciais
  • ou seja, a conjugação, ou dominó iminente destas crises (que não nos dará mais de seis meses de tempo de fuga) acabará com o sistema bancário tal qual hoje o conhecemos (fractional reserve banking e fiat money)
  • os rendimentos das obrigações irão encalhar nos EUA, UK e Japão na casa dos 1% — e até provavelmente abaixo deste número, como provam os recentes leilões de dívida soberana na Alemanha e na Suíça (nota minha)
  • o mercado de obrigações irá pois morrer em breve :(
  • vários instrumentos de investimento, protecção e sobretudo especulação financeiras irão ser banidos assim que o colapso começar (short selling on bonds, short selling stocks, CDS, short futures, put options)
  • sobrarão apenas o dólar e o ouro depois do grande colapso...

“We don’t know exactly what is to come, but we can all join the very few dots from where we are now, to the collapse of the first major bank...

With very limited room for government bailouts, we can very easily join the next dots from the first bank closure to the collapse of the whole European banking system, and then to the bankruptcy of the governments themselves.

There are almost no brakes in the system to stop this, and almost no one realises the seriousness of the situation.” — in Raoul Pal, The End Game.

The End Game

NOTAS
  1. "Europe's "Teleportation To Safety" In One Chart". ZeroHedge, 05/31/2012.
  2. ECB key interest rates
  3. "IMF Begins Spain's Schrodinger Bail Out". ZeroHedga, 05/31/2012.
  4. "IMF Begins Talk On Spain Contingency Plans - Sources". Wall Street Journal, 30/05/2012.
  5. "Christine Lagarde nega plano de assistência do FMI a Espanha". Negócios, 31-05-2012.
  6. "Futuro do euro joga-se “nas próximas semanas”, diz o ministro espanhol das Finanças". Público, 31-05-2012 22:20.
  7. "Greece's debt woes mutate into energy crisis". Reuters, 1 jun 2012 10:09.
     
Última actualização: 1 Jun 2012 19:42

quinta-feira, maio 31, 2012

Piratas unidos atacam governo!

Miguel Relvas, o general das nicas

A solução é avançar com a privatização integral da RTP quanto antes. Transparência e que ganhe o melhor!

Bruxelas desafia Governo a "enfrentar os fortes interesses instalados". Empresas públicas e municipais, autarquias e regiões podem pôr em perigo o cumprimento das metas de 2012.

Os recados não são novos, mas são significativos pela insistência com que são repetidos. Primeiro: o Governo precisa de determinação para "enfrentar os fortes interesses instalados" que estão a obstruir reformas. Segundo: apesar de o plano orçamental português estar bem desenhado, subsistem diversos riscos que podem levar a uma derrapagem das metas do défice orçamental com as quais o País se comprometeu — in Negócios, 31 maio 2012.

Esperemos que estes dois transmontanos lisboetas, Barroso e de Coelho, se entendam e que o país deixe de ser uma coutada de rendeiros bancários e de chulos partidários, ambos, ainda por cima, sem qualidades.

É preciso ter presente que neste momento os autarcas piratas e os piratas das fundações estão unidos num combate de morte (ainda que com luvas de boxe revestidas do veludo mais fino) contra Passos de Coelho. Eu não posso com o Relvas nem com molho de tomate, mas a verdade é que o desajeitado está a servir de alvo para atingir o governo em funções — com a fanfarra mediática que juntou o império falido da Impresa, o império igualmente falido da Prisa e o império que não chegou a nascer nem chegará nunca a levantar voo do Azevedo júnior.

Do Pacheco Pereira à querida Clara Ferreira Alves, passando pelo meio-irmão do alcaide de Lisboa, aquilo a que temos vindo a assistir é a um maremoto de propaganda em causa própria. Expresso-SIC-TVI-Público juntaram-se para defender os patrões. Elementar para quem quiser ver as coisas como são.

Ora aqui está uma boa oportunidade para Passos de Coelho e.... Barroso ganharem pé numa imprescindível e mais acelerada substituição da geração que tomou o poder democrático das mãos militares que derrubaram a ditadura, não tanto para construir uma verdadeira democracia, mas antes para enriquecer desmesuradamente à sua sombra, ao mesmo tempo que levaram Portugal sucessivamente à falência!

A crise das ditas Secretas, e o episódio Relvas devem servir, por outro lado, para travar a desmiolada ambição dos cabeças de brilhantina do Compromisso Portugal. Do que precisamos é de corrigir rapidamente o regime, com sabedoria histórica, conhecimento técnico, determinação política e franqueza democrática.

quarta-feira, maio 30, 2012

O PSD afinal move-se!

Jorge Moreira da Silva, coordenador da comissão política do PSD: uma surpresa!

Jorge Moreira da Silva (PSD), uma das primeiras vozes politicamente articuladas que escutei ultimamente no domínio partidário deste país.

O vice-presidente do PSD Jorge Moreira da Silva avisou hoje que os sociais-democratas não têm “o papel de ‘baby-sitter’” do PS nem podem obrigá-lo “a ser um partido responsável” acusando os socialistas de uma “retórica radical” — in DN, 28 abril 2012.

A prestação que este jovem vice-presidente e coordenador-político do PSD acaba de ter no Jornal das 9 (SIC/Mário Crespo) surpreendeu-me pela sua qualidade e auto-controlo.

Seria bom que o PSD inaugurasse um novo paradigma de comportamento partidário, conquistando progressiva e pública independência de espírito face ao parlamento e face ao governo de turno. Em última análise, em democracia, são os partidos que decidem a vida dos parlamentos e dos governos. Mas devem fazê-lo assumindo-se claramente como instituições públicas transparentes, responsáveis e assertivas, sem prejudicar, claro, os poderes e competências dos demais.

O modo muito inteligente como Moreira da Silva defendeu a esperança e o direito das jovens gerações a não verem o seu futuro destruído pela terceira idade manhosa que nos governa, repondo a justiça e a lei onde quer que tenham sido violadas, manipuladas, enviesadas — é um claro sinal de que há outra juventude para lá das matilhas de jovens ambiciosos sem escrúpulos que de qualquer maneira pretenderam tomar de assalto o regime. Refiro-me claramente aos yuppies de gel e Mercedes que promoveram o chamado Compromisso Portugal. E quando digo terceira idade que nos governa, deveria ressalvar: ainda governa —nomeadamente tentando condicionar a ação de Passos Coelho.

Quem é este novo protagonista? Encontrei boas notícias: nasceu (1971) em Vila Nova de Famalicão, engenheiro e gestor por universidades do Porto, e já trabalhou profissionalmente para o Banco Europeu de Investimento, Comissão Europeia, Presidente da República e Nações Unidas. Um dos seus interesses: a Plataforma para o Crescimento Sustentável. Tudo mais claro, depois desta pesquisa rápida!

 Jorge Moreira da Silva: Europa precisa de Plano Marshall

“Se a Europa fizer aquilo que deve no estímulo à economia, na consolidação orçamental, na maior harmonização do mercado interno, na mobilidade de pessoas e de bens, se for capaz de fomentar a política industrial, a economia verde, o conhecimento, se for capaz de fazer destas alavancas verdadeiras alavancas do crescimento, isso não apenas ajudará a responder à crise europeia, mas fará com que a crise em Portugal possa ser respondida também de uma forma mais solidária da Europa em relação a Portugal”, afirmou” — in Negócios, 20 maio 2012.

A ideia sobre o novo Plano Marshall (x100, claro!) é certeira, mas implicará, como se sabe, um salto quântico na União Europeia, nomeadamente em matéria de integração de políticas fiscais e orçamentais, programas económicos e educativos propriamente ditos, justiça e até de ação policial —não só anti-terrorista, mas também anti-corrupção. Vai ser difícil, mas quando a Grécia começar a deitar sangue pelos ouvidos o resto da Europa compreenderá!

E no PS, quando é que surgirá sangue verdadeiramente novo?


REFERÊNCIAS

Jorge Moreira da Silva e o Congresso do PSD, programa Contracorrente, com Ana Lourenço, SIC-N

terça-feira, maio 29, 2012

A caminho da Grécia?

Lisboa deveria seguir o exemplo de Pequim, para não morrer de pobreza e estupidez

Precisamos de duas cidades-região: Lisboa e Porto

Governo exige impostos e taxas no máximo a câmaras em ruptura
O Governo quer obrigar as cerca de 70 autarquias em situação de ruptura financeira a aumentar todos os impostos municipais e taxas para níveis máximos, como condição para aceder à linha de financiamento de mil milhões de euros destinada a pagar as suas dívidas de curto prazo. O acordo foi ontem firmado entre o Governo e a Associação Nacional de Municípios e estabelece ainda que, para se candidatarem, as autarquias devem desistir de processos que tenham interposto ao Estado — in Negócios on-line, 29-05-2012 0:09.

Tal como o Negócios tinha também já avançado, na retenção do IMI houve recuo do Governo: os 5% já foram retidos nas transferências efectuadas este mês. Os municípios conseguiram, porém, assegurar que a verba adicional de IMI, resultante da reavaliação de imóveis, fica mesmo nos cofres das câmaras. Em causa estão 250 milhões de euros — in Negócios, 28-05-2012 20:48.

Em vez de exigir a reforma imediata dos maus hábitos autárquicos, o fim de empresas municipais manhosas, das comissões por baixo da mesa, das mordomias, dos automóveis de alta cilindrada, e de outras palermices ruinosas, o Relvas exige, vejam só, que se aumente a carga fiscal sobre os indígenas municipais! É caso para suspirar... se estes continuarem embasbacados com a "a nossa seleção", encolhendo uma vez mais os ombros a propósito das coisas que deveriam chamar a sua atenção, terão o que merecem :(

Se não impusermos, por imperativo democrático, poupança, regras de transparência e competência de gestão aos autarcas, e não forçarmos em lei uma supervisão sistemática dos gastos municipais, serão os nossos credores a fazê-lo. Se este governo pensa que pode ensinar os dez milhões de burros que pagam impostos a não comer, nem beber, desengane-se. À medida que forem perdendo peso, pagarão menos impostos, e depois de mortos ainda custarão, pelo menos, um caixão cada um!

O ministro Miguel Relvas é um cadáver adiado. Logo Passos de Coelho, das duas uma, ou o substitui ou não terá qualquer reforma autárquica, nem privatização da RTP, nem coisa nenhuma daqui para a frente, a não ser dores de cabeça que irão aumentar até se tornarem insuportáveis.

O governo deve desenhar com os deputados a inadiável reforma autárquica de uma ponta à outra, em vez de mercadejar remendos de merceeiro aos alcaides ("...as autarquias devem desistir de processos"). E deve discuti-la no parlamento e nas autarquias, e deve promover o debate público sobre o tema, e deveria mesmo levá-la a referendo. Se o povo não quiser racionalizar a administração local, então pagará do seu bolso o preço do imobilismo e da ignorância. O exemplo grego está aí para todos vermos como vão ser os futuros estados falhados da Europa.

O principal da reforma autárquica deve começar pelas regiões de Lisboa e do Porto, e não pelas freguesias rurais! É em Lisboa e no Porto que se deve eliminar a principal gordura autárquica, fundindo freguesias, e sobretudo criando duas cidades-região como são hoje todas as grandes cidades que funcionam bem: Londres, Paris, Pequim...

No caso de Lisboa, o ponto de partida deveria ser o regresso ao conceito de uma cidade-região decalcada do mapa da antiga Região de Lisboa e Vale do Tejo, o qual só foi abandonado para efeitos estatísticos e de angariação de fundos do QREN (por causa do embuste aeroportuário da Ota?).

Esta cidade-região seria, como a de Paris, ou a de Pequim, organizada em anéis ou semi-circulares, de Lisboa para a Grande Lisboa e desta para a região de Lisboa, marcada por dois grandes rios: o Tejo e o Sado. Uma assembleia com 50 deputados, um por cada um dos concelhos, um executivo formado por um presidente e nove vice-presidentes, e 30 ou 40 unidades técnicas de gestão (Pequim tem 47), dariam coerência, riqueza conceptual, coesão, e grande força democrática às decisões estratégicas. As freguesias da cidade-região deveriam reunir-se anualmente em congresso, tecnicamente bem assessorado, com a missão clara de reforçar o exercício local da democracia e garantir um desenvolvimento equilibrado de todo o território municipal. A poupança, a eficiência e a capacidade de idealizar e desenhar a nova metrópole sustentável (urbana, suburbana e rural) para o clube das grandes cidades-região polinucleares mundiais seria quase imediato. Numa década a criação das cidades-região de Lisboa e do Porto, marcadas pela sua história e urbanidade, mas também pelos seus estuários e pelas suas cuidadas zonas e riquezas agrícolas mudariam radicalmente a performance estrutural do país.

Pequim é assim (LINK):

I — Cidade antiga (da Cidade Proibida até ao 2ª anel)
  • Xicheng: 46,5 km2; 1.243.000 hab.; 26.731 hab./km2
  • Doncheng: 40,6 km2; 919.000 hab.; 22.635 hab./km2
II — Zona urbana entre os 2º e 5º anéis
  • Haidian District: 426.0 km2; 3.281.000 hab.; 7,702 hab./km2
  • Chaoyang District: 470,8 km2; 3.545.000 hab.: 7.530 hab./km2
  • Fengtai District: 304,2 km2; 2.122.000 hab.; 6.043 hab./km2
  • Shijingshan District: 89,8 km2; 616.000 hab.; 6.860 hab./km2
III — Subúrbios urbanos próximos (6º anel)
  • 7.490 km2; 6.322.000; 844 hab./km2
IV — Subúrbios exteriores e áreas rurais
  • 7.947,9 km2; 1.574.000; 198 hab/ km2
Cidade-região
  • 16.815,8 km2; 23.452.000 hab.; 1.395 hab./km2

Lisboa é assim (segundo o modelo LVT):

Mapa da cidade-região de Lisboa (LVT)
ampliar

I — Lisboa
  • 83,84 km2; 547.631.000 hab.; 6.531,9 hab./km2
II — Área Metropolitana de Lisboa
  • 2.940 km2; 2.819.000 hab.; 959 hab./km2
III— Região de Lisboa e vale do Tejo
  • 11.741 km2; 3.664.000 hab.; 312hab./km2

Comparando as superfícies das duas cidades-região, nem sequer são tão díspares quanto se poderia supor. Pequim tem cerca de dezassete mil quilómetros quadrados, enquanto a região de Lisboa tem quase doze mil. Onde as diferenças resultam muito fortes é nas sucessivas áreas densa ou mediamente urbanizadas e na densidade populacional de cada uma das cidades.

Esta comparação com Pequim serve apenas de exemplo do exercício que é preciso fazer, e do que deve fundamentar as discussões e as decisões políticas. Em vez da gritaria parlamentar, sempre esvoaçando por cima da espuma da realidade, ou destas reuniões caricatas entre autarcas sabidos e ministros tão ambiciosos quanto desastrados, precisamos de discussões adultas sobre os problemas.

Portugal está a um ou dois passos de entrar no clube dos estados falhados da Europa. Haverá alguém capaz de explicar a gravidade da situação ao rapaz que o PSD colocou a representar o papel de primeiro ministro de Portugal?

segunda-feira, maio 28, 2012

Limitar o défice externo

Só os fracos não se protegem!
Foto: Gabriel Moreno para Repsol

Argentina conhece bem as feridas da especulação. Faz bem em colocar-se na vanguarda de uma globalização não destrutiva!

The European Union filed a suit against Argentina's import restrictions with the World Trade Organization (WTO) today (25 May), intensifying the disputes between the South American nation and its trading partners.

The EU's executive Commission said the case followed restrictive measures by Argentina, including an import licensing regime and an obligation on companies to balance imports with exports. EurActiv, 25 May 2012.

Argentine President Cristina Fernández de Kirchner unveiled plans yesterday (16 April) to seize control of leading energy company YPF, which is controlled by Spain's Repsol, drawing swift warnings from the European Union and risking the country's economic isolation.

YPF has been under intense pressure from Kirchner's center-left government to boost production, and its share price has plunged due to months of speculation about a state takeover.

Kirchner said the government would ask Congress, which she controls, to approve a bill to expropriate a controlling 51% stake in the company by seizing shares held exclusively by Repsol, saying energy was a "vital resource". EurActiv, 17 April 2012.

A abertura ilimitada de fronteiras à circulação de investimentos (nomeadamente especulativos), de bens e serviços é prejudicial à economia mundial e aos países. Aliás não se percebe a discriminação: limitam-se de forma ultra-liberal os movimentos de pessoas, mas permitem-se transações financeiras especulativas globais, dumping mercantil e banditagem empresarial livre entre países sem qualquer limte. Esta globalização de piratas, como é hoje patente em todo o mundo, borregou.

A América Latina, como antes a Ásia e ainda hoje a África e parte do Médio Oriente são coutadas de caça livre dos países ocidentais. Claro que para que isto aconteça é fundamental contar nestes continentes e sub-continentes com nomenclaturas económicas, financeiras e políticas completamente corruptas e sem nenhum sentido patriótico. Assim tem sido até que a China, a Índia e em certa medida o Brasil inauguraram um paradigma anti-colonial menos corrupto e sobretudo mais estratégico, diferenciando-se claramente do não-alinhamento rasteiro do cartel inicial da OPEP.

Talvez porque a importância estratégica crescente destes países (sobretudo a China e a Índia) derive mais do trabalho do que da simples extração de riqueza dos subsolos, a defesa dos interesses históricos, económicos e culturais dos respetivos povos assumiu uma importância inédita nas negociação estratégicas bilaterais e globais. O voo de rapina que a Espanha inesperadamente rica (sabemos hoje que foi resultado de uma gravidez de aluguer) realizou nas décadas de 1980-1990 sobre as suas antigas colónias americanas fez estragos violentos nesses países, e revelou até que ponto o colonialismo continua vivo no subconsciente recalcado dos herdeiros do antigo império espanhol. A reação da Bolívia e da Argentina à arrogância de Madrid e do caricato e decadente rei espanhol (quem não se lembra da arrogância chula do senhor Juan Carlos quando se virou para Hugo Chávez e ralhou: "por qué no te callas?!") assinalam na realidade o fim de uma ilusão europeia: que os antigos impérios (português, espanhol, holandês, inglês e francês) regressariam aos respetivos locais do crime com os bolsos cheios de euros e um novo plano de rapina escondido entre sorrisos. Não vai acontecer!

A Europa vai ter que se reinventar. E vai ter que optar entre morrer ou criar um novo paradigma cultural de vida, onde a felicidade ande de mãos dadas com o resto do mundo e com a Natureza a quem tanto mal fez. Esta, aliás, começa responder com crueldade divina!

Assim como é legítimo e além do mais racional impor limites institucionais (e constitucionais) ao endividamento público das nações, também terá que passar à categoria de lei internacional o limite ao desequilíbrio comercial entre os países. A dívida externa bruta de qualquer país e a sua balança de transações devem ser limitadas por leis mundiais, e controladas com base em mecanismos de decisão automática. É este o debate que temos que começar desde já, em vez alimentarmos o circo macabro da expropriação fiscal dos povos em nome dos piratas financeiros e das burocracias populistas que por estupidez continuamos a deixar liderar processos destrutivos em nome de vontades eleitorais fabricadas.

domingo, maio 27, 2012

O tio Balsemão está vivo, porra!

Maria José Oliveira, jornalista do Público. Foto: Enric Vives-Rubio

O alvo não é o perfumado Relvas, mas Passos de Coelho

Balsemão vai processar Ongoing por causa de relatório sobre a sua vida privada


De acordo com o processo das secretas, que está no DIAP – Departamento de Investigação e Acção Penal - Jorge Silva Carvalho, ex-espião e então quadro da Ongoing pediu, no início de Setembro do ano passado, a Paulo Félix, então quadro da empresa, que elaborasse um relatório sobre Balsemão, em especial informações financeiras como os empréstimos que o grupo Impresa tinha e quando venciam. Não se percebe de quem terá partido o pedido inicial, mas são conhecidas as guerras entre o presidente da Ongoing, Nuno Vasconcellos e o seu padrinho Francisco Balsemão — in Público, 26 mai 201 18:37 

Que eu saiba os jornais sempre compilaram informação sobre empresas, eventos e pessoas. Se não fosse assim como é que conseguiam publicar os obituários a horas? A Ongoing (que é um grupo com investimentos vários no sector de conteúdos, nomeadamente informativos), tal como a Impresa, dona da SIC, do Expresso, da Visão e do resto do quase falido império de publicações presidido pelo notável timoneiro da imprensa portuguesa, Francisco Pinto Balsemão, têm dossiês e fazem relatórios todos os dias sobre A, B e C. Não espiam, investigam, compilam, analisam, sublinham e selecionam para depois organizar a cacha da notícia! Não confundamos, pois, os procedimentos típicos do jornalismo com os procedimentos típicos das políticas secretas. São parecidos, mas não são a mesma coisa. No primeiro caso, a missão é informar o público satisfazendo a liberdade da informação e o direito democrático a tê-la. No segundo, a informação serve para defender os interesses vitais e estratégicos do Estado. Os relatórios até podem conter informação idêntica, mas o uso e a forma que se pode ou não dar a essa informação é que varia radicalmente.

As anunciadas relações de promiscuidade entre a Ongoing e os o serviços secretos nacionais (SIED), por via de ex-funcionários destes serviços (Jorge Silva Carvalho, etc.) entretanto contratados pela Ongoing, se são ilegais (deveriam ser, mas duvido que sejam) têm que ser explicadas e demonstradas antes de as tomarmos por evidências numa guerra de gerações cujos contornos é preciso antes de mais conhecer.

No caso vertente, se o ministro Relvas fez as ameaças destemperadas que parece ter feito ao Público, nas pessoas de uma jornalista e de uma editora, deve ser liminarmente demitido. Ponto final.

E se o Jota PM não perceber isto mesmo durante este fim-de-semana, então o verdadeiro alvo deste golpe de aiquidô desenhado pela nomenclatura que promoveu uma democracia de piratas inimputáveis e que teme agora perder alguns dos privilégios acumulados é ele!

Em qualquer democracia normal já se saberia quem é o namorado oposicionista da jornalista do Público, não por qualquer curiosidade erótica, mas pela simples e óbvia necessidade de saber se pode ou não ter havido instrução partidária da jornalista. No jornalismo, como na política, o que parece é, embora neste caso, se identificarmos a motivação da guerra em curso, só por solidariedade de geração alguém do PS poderia estar envolvido nesta trapalhada.

Dito tudo isto, e estando eu de acordo com a privatização integral da RTP (1), pois não faz qualquer sentido haver televisões públicas broadcast nos dias que correm, salvo para financiar por debaixo do tapete, com dinheiro dos contribuintes, mais uma extensão partidária da democracia populista que temos, a verdade é que, pelo que hoje se julga saber, a operação RTP terá sido uma oportunidade para o senhor Relvas, afinal, tentar entregar uma infraestrutura pronta a usar e com marca registada há décadas a um Iznogoud que de cada vez que tenta assassinar o tio, perdão, o Califa, sai a perder e deixa os leitores a rir à gargalhada. Mais um motivo para despedir sem justa causa o perfumado Relvas quanto antes. O homem mentiu, e é irascível!

Francisco Pinto Balsemão ainda se cruza comigo na genealogia. Eu sou um Pinto pós-moderno herdeiro de uma larga genealogia de Pintos de Riba Bestança, dos senhores de Torre Chã, em Tendais de Cinfães, e ele também, mas herdou de outro ramo, que cresceu a partir de Balsemão, em Lamego. O distrito e o apelido são os mesmos, mas as histórias separaram-se há muito. Se faço esta excursão pela genética é para lembrar apenas que não é fácil, nem aconselhável, subestimar ou pretender destruir de ânimo leve as malhas que tecem o país. Eu também creio que o regime desta II ou III República morreu de falta de lucidez, de falta de união, de falta de estratégia, de falta de firmeza nos princípios democráticos e morais, de corrupção em suma. Mas isso não significa que o país possa ser assaltado por uma qualquer quadrilha de novos ricos, sempre muito perfumada e de pelo esculpido, mas muito estúpida e ignorante das realidades e histórias básicas do país. A transição é necessária, mas não pode fazer-se de qualquer maneira. Até por que o que parece frágil e velho, pode ser apenas antigo e por isso surpreendentemente forte!

O país caminha para uma balbúrdia. Sempre que esteve tão falido como agora está, ou veio alguém salvá-lo —cobrando um preço, claro—, ou perdeu-se em medo, assassínios, roubos e finalmente golpes de estado e guerras. Um exemplo claro do mal que os parvenu, mesmo bem intencionados, podem trazer a Portugal é a insensatez com que o Gasparinho, do alto da sua fraca coragem, começou a confiscar as células e as famílias produtivas do país. O resultado é este: perde impostos, rebenta com uma economia de resistência quase milenar, e desvia os poucos recursos que ainda existem para alimentar o mesmíssimo monstro e as mesmíssimas clientelas que objectiva ou intencionalmente consumiram, para mais de um século, Portugal.

A resposta do velho Pinto Balsemão ao seu afilhado sem regras é, tudo pesado, um sinal de esperança num país que parece desabar sob o peso de uma amnésia suicida.

NOTA
  1. Toda a poeira ofendida levantada em volta do caso das "secretas" tem uma razão: a guerra de poder em curso entre Francisco Pinto Balsemão e Nuno Vasconcellos. Este último é afilhado de casamento do primeiro, e dono de 23% da Impresa, maioritariamente detida por Balsemão. Esta batalha é a ponta de uma guerra entre os yuppies do Compromisso Portugal e a geração mais velha que, de uma maneira ou doutra, domina o país desde que conseguiram fazer regressar o MFA aos quartéis. Sem este pano de fundo não se percebe nada!

    Depois há o caso RTP. E aqui as contas são simples: se a Ongoing, por intermediação (pelos vistos desastrosa) de Miguel Relvas, tivesse conseguido ganhar a corrida à privatização parcial da RTP, teríamos a principal marca registada da televisão portuguesa nas mãos do Moniz. A consequência seria praticamente inevitável: ou a TVI, ou a SIC acabariam por sucumbir à nova RTP. Daqui a aliança que entre Balsemão e os senhores da Prisa se estabeleceu com um único propósito: impedir a privatização da RTP, ou na impossibilidade de o conseguir (por causa do Memorando da Troika), queimar por todos os meios a estratégia da Ongoing. É aqui que Miguel Relvas se transformou num alvo, pelos vistos fácil de atingir. Solução? Fechar pura e simplesmente a RTP broadcast e criar em seu lugar a RTP webcast, exclusivamente de serviço público, assente numa plataforma inovadora de redes sociais e serviços de conteúdos multicanal especializados.
REFERÊNCIAS

Última atualização 27 mai 2012 23:34

sexta-feira, maio 25, 2012

AKB48 vendem o Japão!

Num país de velhos, o Japão, nada excita mais do que a juventude...

Depois da AK47 vêm aí as AKB48... salvar o mais endividado país do planeta

Japan hires top girlband AKB48 to sell government bonds
Japan's cash-strapped government is reportedly turning to popular music group AKB48 to help it sell government bonds, as interest in the low-yield paper wanes  — in Telegraph.

Frankfurt quer as pernas do Ronaldo no caso del agujero de nombre Bankia —19 mil milhões de euros à vida :-( não for rapidamente tapado (com quê? cimento não serve, nem há! só se for mais um ou dois milhões de espanhóis desempregados?!)

Já o BOJ (Banco do Japão) quer "ídolos" tenrinhos para vender dívida pública do país com a maior dívida soberana do planeta :(

Olhando para o quadro da dívida pública mundial, ainda sem os dados de 2011, é caso para dizer que só encharcados em álcool, pastilhas e sexo virtual é que algum gestor de fundos ou pirata milionário irá comprar mais dívida pública onde quer que seja. A não ser que queira ter uma trip muita louca no interior do buraco negro dos derivados tóxicos que estão a destruir.... O CAPITALISMO!

Entretanto, enquanto não morrem, deliciem-se!

Ronaldo: o meu reino pelas tuas pernas!

As belas pernas de Cristiano Ronaldo poderão servir de colateral para salvar o falido Bankia, com um buraco de mais de 15 mil milhões de euros … e a aumentar!!!

A crise chegou ao balneário!

The most expensive footballer in history may now be used to guarantee the solvency of a Spanish bank. “Ronaldo in the bailout fund,” headlines Süddeutsche Zeitung. The daily reports that the Bankia group of savings banks, which financed Real Madrid’s acquisition of the Portuguese player, is now seeking to borrow funds from the European Central Bank. In response to the ECB’s demand for guarantees, Bankio are putting up… Ronaldo and the Brazilian Kaka, who also plays for the Madrid football club. In 2009, Real borrowed 76.5 million euros to pay transfer fees of 100 millions euros to Manchester United, and 60 million to Milan AC — in presseurop.

Um colateral com pernas chamado Ronaldo! Poderá o madeirense evitar a queda estrondosa do Bankia? Duvido. Mas que a tragédia está a ficar engraçada, lá isso está!

Infelizmente estamos dentro daquele proverbio: "Casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão!"

O Ocidente (Europa-América) —pela lógica capitalista convencional— apostou na liberalização dos mercados, por interesse próprio, e perdeu. Exportou as principais indústrias e o trabalho produtivo para a Ásia, e passou a medir o seu crescimento pelo consumo, isto é, pelo endividamento púbico e privado! É este o principal pecado mortal que nos condenou a esta situação aflitiva...

A Europa só tem agora uma saída: o federalimso puro e duro... com redução drástica e porventura tumultuosa das atuais nomenclaturas demo-populistas e das vastas burocracias administrativas e partidárias.

A Espanha, por exemplo, não pode continuar com o estado paquidérmico que tem (50% da dívida pública é gerada pelas ditas autonomias, incluindo as inúteis televisões autonómicas, e outras tonterias....) E Portugal tem que diminuir para metade o número autarquias urbanas, nomeadamente nas regiões de Lisboa e Porto, e para menos de metade o número de zombies inúteis e submarinos parlamentares que elegemos inconscientemente de quatro em quatro anos. E a Itália..., e a França.....

Entretanto, o Super Mário vai baixar os juros outra vez, e a Alemanha lá terá que autorizar a impressão de pelo menos mais um ou dois biliões de euros, agora que a China anunciou que não vai comprar mais dívida podre europeia, exigindo a Alemanha, porém, e eu apoio, a concentração das decisões estratégicas, orçamentais e fiscais nas sedes de poder da própria União.

E para alegrar este folclore teremos as pernas do Ronaldo como colateral do Bankia ;)

PROGNÓSTICO

Itália e França aliados no tema das eurobrigações.

A Alemanha acabará por ceder mas vai exigir uma maior federação europeia. É o salto quântico que os verdadeiros europeístas, como eu, esperam! Temos que reduzir os excessos de endividamento parasitário, e de burocracia, nomeadamente partidária, bem como de protagonismos provincianos de quem já não tem dentes para mastigar. Um salto de racionalidade, de transparência e de justiça, precisa-se urgentemente!

Troika, ajuda-nos a limpar Portugal da corja de corruptos inúteis! Sim, é escandaloso o nível de vencimentos auferidos por quem nada produz e levou o país à insolvência.