quinta-feira, outubro 31, 2013

Um governo sem bitola

AVE, a segunda maior rede de Alta Velocidade do mundo. Link1, Link2

Os governos são responsáveis, o parlamento é responsável, os autarcas são responsáveis...

Artigo publicado no dia 18 de Maio no Público Online
Por Rui Rodrigues

O actual Governo português, apesar dos financiamentos que existiam, optou por não fazer nada até 2015. Esta decisão levanta uma questão ainda não esclarecida nem respondida: o que aconteceu aos fundos europeus que tinham sido assegurados para o novo troço Poceirão-Caia, do PP3?

Que se pretende fazer para que Portugal não caia na encruzilhada da “ilha ferroviária” a que os responsáveis levaram o País, apesar de todos os avisos que foram feitos?


BITOLA IBÉRICA ACABA EM BADAJOZ

No passado dia 13 de Maio de 2013 realizou-se em Madrid a XXVI Cimeira Luso-Espanhola. Relativamente ao transporte ferroviário de mercadorias, foi decidido criar um grupo de trabalho para se definirem as futuras ligações entre os dois países.

A informação mais importante, contudo, foi divulgada dois dias após a referida Cimeira, e consistiu num estudo encomendado pelo Ministério de Fomento espanhol onde se admite o encerramento de 48 linhas ferroviárias de bitola (distância entre carris) ibérica.

O mapa do encerramento das vias já foi divulgado no site do jornal “El País”.

O Governo espanhol já fez saber que a ligação internacional na fronteira de Badajoz, em bitola ibérica, deixará de existir logo que a nova linha de bitola europeia Badajoz-Madrid, esteja concluída em 2015 ou 2016.

Esta decisão era esperada pelas razões que já foram publicadas, há muito tempo, neste suplemento. O principal argumento consiste no facto da Espanha estar a investir na nova Rede Transeuropeia de Transportes (RTE-T) e não ter obrigação, nem interesse, em manter antigas vias que não sejam competitivas e sem tráfego.
          
PORTUGAL MAIS ISOLADO

Algumas das decisões já anunciadas por responsáveis portugueses deixaram de fazer sentido e iremos enumerá-las através da descrição exata das diferentes propostas anunciadas pelo atual Governo português desde Junho de 2011 relativamente ao projeto do novo troço ferroviário Poceirão-Caia.

  1. Numa entrevista, dada à publicação “Transportes em Revista”, de Novembro-Dezembro de 2011, o atual Secretário de Estado dos Transportes, Sérgio Monteiro, relativamente ao troço Poceirão-Caia, defendeu a construção de uma linha com uma via única de bitola europeia e outra via única de bitola ibérica. Foi acrescentado: “até à primeira metade de 2012 haverá investimento no terreno”.
  2. No dia 27 de Março de 2012, o Primeiro-ministro Passos Coelho, na visita que efetuou ao porto de Sines, afirmou que “o seu Governo gostaria que a ligação do porto de Sines à rede europeia“ estivesse “a ser executada até 2014”, ano previsto para a conclusão do “alargamento do Canal do Panamá”.
  3. Mais tarde, no dia 29 de Outubro de 2012, o novo Presidente da REFER, Rui Loureiro, numa entrevista publicada no “PÚBLICO”, sobre a ligação ferroviária a Badajoz, deu a entender que só seria construído um novo troço Évora-Badajoz e, após a sua finalização, seria feita a ligação à via única, que já existe, Évora-Vendas Novas-Poceirão-Sines, em bitola Ibérica.
  4. Por fim, no dia 7 de Fevereiro de 2013, o Secretário de Estado dos Transportes, Sérgio Monteiro, fez uma conferência de imprensa onde foi divulgado que, até 2015, nada seria feito. Em vez da linha de altas prestações para mercadorias e passageiros, várias vezes anunciada nos meses anteriores, o Governo iria optar por uma Linha de Transporte de Mercadorias (LTM), que serviria apenas para transporte de carga entre os portos de Sines, Lisboa e Setúbal a Badajoz, em bitola ibérica, e que teria um custo de 700 milhões de Euros. Na altura, ficou a saber-se que não existia nenhuma alternativa ao projeto de execução do troço Poceirão-Caia e que nem sequer foi apresentada qualquer solução concreta para ligar os portos do Sul à nova rede de bitola europeia.
  5. Passado pouco tempo, após a desistência da nova ligação ferroviária à U.E., surpreendentemente, foi anunciada intenção de investir 1000 milhões de euros num novo porto na Trafaria.
  6. Por fim, a 13 Maio de 2013, após a XXVI Cimeira luso-espanhola, realizada em Madrid, o Governo português decidiu criar um grupo de trabalho com Espanha, para se definirem as ligações ferroviárias entre os dois países. Ver documento (pdf) sobre o que ficou acordado entre Portugal e Espanha.

CONSEQUÊNCIAS

Todas as opções que foram anunciadas, tanto pelo Secretário Estado dos Transportes e pelo Presidente da REFER, para ligar o Sul de Portugal a Badajoz, que incluíam a bitola ibérica, deixaram de fazer sentido, pois já falta pouco tempo para estar concluída a nova linha Madrid-Badajoz, em bitola europeia.

Nos próximos anos, as ligações em Vilar Formoso e Valença também deixarão de ter bitola ibérica. Já foi divulgado publicamente que, quando a nova via Madrid-Santiago de Compostela estiver concluída, em 2018, a linha Corunha-Vigo passará a ser em bitola europeia. No caso de Vilar Formoso, ainda não existe data definida mas o mesmo vai ocorrer nos próximos anos.

Atualmente, existem comboios de mercadorias que fazem o transporte ferroviário de Portugal para Espanha, e vice-versa, pela rede existente de bitola ibérica. Brevemente, nem isso vai ser possível.

A situação muito provável de Portugal se tornar numa ilha ferroviária já levou algumas pessoas a sugerir a hipotética utilização de comboios de mercadorias de eixo variável. Se esta opção muito dispendiosa fosse viável, a Espanha nunca teria construído uma nova rede de bitola europeia.

O que vai acontecer é que os contentores, vindos da Europa, além Pirenéus, vão ter que ficar “retidos” na plataforma logística de Badajoz. A opção mais rápida, barata e viável será o transporte direto dos contentores em camiões desde Badajoz até ao ponto de destino, na região de Lisboa, uma vez que a distância é de cerca de 200 Km.

E O FUTURO?

Neste momento existe o sério risco de nada ser feito até 2015 e, mais grave ainda, nem sequer existem planos concretos para o próximo Quadro financeiro 2014-2020.

Um país, para se candidatar a fundos comunitários, tem que apresentar um projeto de execução que, no caso da ferrovia, em média, pode atingir um custo até 8% do total da obra. Um projeto de execução pode levar bastante tempo a elaborar e é necessário fazer um concurso internacional. O do Poceirão-Caia já foi realizado.

O único Projeto Prioritário (PP) a que Portugal se candidatou, no atual pacote financeiro, 2007-2013, foi o PP3 - Poceirão-Badajoz-Madrid-Valladolid-Irún-França.

Na linha Aveiro-Salamanca, por exemplo, Portugal não tem nenhum projeto de execução , pelo que só poderá ser apresentado para o próximo pacote financeiro 2014-2020.

O atual Governo português, apesar dos financiamentos existentes, optou por não fazer nada até 2015.

Esta decisão levanta uma questão, ainda não esclarecida nem respondida: onde estão os fundos europeus que tinham sido assegurados para o novo troço Poceirão-Caia, do PP3?

O que se pretende fazer para que Portugal não caia na encruzilhada da “ilha ferroviária” a que os responsáveis levaram o País, apesar de todos os avisos que foram feitos?

quarta-feira, outubro 30, 2013

Salazarismo ferroviário

Viaduto ferroviário de Alcácer do Sal; linha Sines-Évora (em bitola ibérica?)

TEN-T Corredor Atlântico; bitola europeia, da fronteira espanhola até Pequim!

TEN-T Corredor Mediterrânico; bitola europeia, da fronteira espanhola até Pequim!

A caminho da ilha ferroviária!

Espanha, depois de ter anunciado que descontinuará as suas linhas de bitola ibérica junto à fronteira portuguesa, prepara portos secos ao longo da fronteira com Portugal, país falido a caminho de um novo Salazarismo, desta vez, ferroviário.

Salamanca inaugurará em breve um porto seco em Salamanca para acolhimento e posterior transporte ferroviário das mercadorias provenientes dos portos portugueses da Figueira da Foz, Aveiro e Matosinhos, para o resto da Espanha e União Europeia... até à Turquia, se for o caso!

Quem apostou em autoestradas e aeroportos, e boicotou as ligações ferroviárias em bitola europeia entre Portugal e Espanha e o resto da Europa deve estar satisfeito. Nomeadamente os concessionários de autoestradas e vendedores de portagens, e as frotas TIR. Imagino que haverá também algumas contas bancárias na Suíça e noutros paraísos fiscais, de alguns advogados e políticos indígenas, que engrossaram mais de 7 dígitos com este negócio, que é um atentado à segurança estratégica do país. A Justiça tem aqui a prova de uma conspiração económica muito mais grave do que os cortes temporários de vencimentos e pensões dos funcionários públicos. Faça o que tem a fazer, se quiser. Algum dia tudo isto será esclarecido.

Sempre insistimos que a política de transportes dos governos do Bloco Central da Corrupção iriam dar nisto: em vez de ligações ferroviárias contínuas dos portos portugueses até Espanha e resto da Europa, seremos forçados a entregar as nossas mercadorias, os contentores e os graneis desembarcados nos portos portugueses aos portos secos de Salamanca e Badajoz de onde seguirão por ferrovia de bitola europeia para toda a parte, sobretudo à medida que o transporte ferroviário se for tornando menos competitivo, seja pelo preço dos combustíveis, seja pelas penalizações fiscais que começam a recair sobre os meios de transporte poluentes. É que sendo a rede portuguesa velha e em bitola ibérica, persistir como burros ao serviço de piratas na rejeição e boicote permanentes do projeto europeu conhecido por TEN-T, Redes Trans-Europeias de Transportes, fará que não haja outra solução se não entregar a Espanha o grosso do negócio de transporte de mercadorias trans-europeu com origem em Portugal. No sentido contrário, i.e. do continente europeu até Portugal o negócio ficará todo nas mãos de alemães, franceses e espanhóis! Estupidez tamanha seria inimaginável se Portugal não tivesse sido, como foi, tomado de assalto por um bando de ladrões.

Porto de Leixões e Zaldesa apresentaram oferta conjunta a operadores logísticos

“O porto de Leixões e a Zaldesa realizaram uma apresentação conjunta dos seus serviços a importantes operadores logísticos internacionais, na cidade espanhola de Salamanca. Entre os operadores logísticos estavam, por exemplo, a Luís Simões, a Chrono Express e a Transitex.

Para além da apresentação dos serviços actuais do porto de Leixões e da Plataforma Logística de Salamanca, foi ainda destacada a futura nave da Zaldesa na Plataforma Logística de Leixões que, recorde-se, será gerida pela Zaldesa.

Nesta reunião em Salamanca estiveram ainda, para além de representantes das duas administrações e dos operadores logísticos, membros da CCDR Norte, da Direcção-Geral de Transportes da Junta de Castela e Leão e da Alfândega de Salamanca” — in CargoNews (29-10-2013).

E no entanto, os nossos economistas e políticos de pacotilha só falam de pensões. Das suas pensões, evidentemente!


POST SCRIPTUM

Os nossos irmãos nem queriam acreditar!
Este vídeo do Canal Badajoz revela até que ponto Portugal anda literalmente a entregar o ouro a Espanha. Em vez de ligarmos os portos portugueses à Europa, estamos a ligá-los a uma fileira de portos secos na raia do país vizinho. Manda carajo!!!



Ler também: Do Panamá a Badajoz (e ver mapa de supressão de linhas de bitola ibérica junto à raia espanhola.)

ÚLTIMA ATUALIZAÇÂO: 30 out 2013, 14:02

terça-feira, outubro 29, 2013

Poupar, mas onde?

Imagem do suíço Défense, protection de la population et sports

Menos estado na economia e na sociedade!

Reduzir o insuportável peso do Estado na economia e na sociedade é condição sine qua non para nos vermos livres da pesada canga em que se transformou a dívida pública.

No entanto, basta olhar para os números do Orçamento para se perceber que não é desejável, seria injusto, e corre o risco de se tornar socialmente explosivo, operar mais cortes em pensões e salários. 

OE2014 - Despesa (em euros): 172 033 969 466
  • Operações da dívida pública: 118 313 000 000 (Class. Econ.)
  • Juros e outros encargos da dívida pública: 7 239 118 126  (Class. Econ.) 
  • Despesas correntes c/ pessoal: 8 365 309 489,00 (Class. Econ.)
  • Orçamento da Segurança Social: 56 359 074 291
    • Caixa Geral de Aposentações: 9 314 603 486 (Class. Econ.)
    • Segurança social:  9 508 206 832 (Class. Econ.)
  • Saúde: 8 493 696 643 (Class. Func.)
  • Educação: 6 627 311 432 (Class. Func.)
  • Segurança e ordem pública: 2 897 580 973 (Class. Func.)
  • Defesa nacional: 1 852 142 583 (Class. Func.)
    • Ação governativa e serviços centrais de suporte: 464 197 450
    • Exército: 606 744 414
    • Marinha: 487 519 005
    • Força Aérea: 341 621 307
  • Instituições sem fins lucrativos da Segurança Social: 1 913 512 439 (Class. Econ.)

Percebe-se que o nosso quase insolúvel problema tem um nome: endividamento excessivo!

Os responsáveis por este precipício são principalmente os partidos com assento parlamentar e a corja devorista que alimentaram e de que se alimentaram. O governo PS de José Sócrates foi o último e mais gravoso responsável pelo descalabro do país e pelas décadas de sacrifício financeiro e social que temos pela frente. Basta pensar no buraco das PPP, com encargos superiores a mais de 60 mil milhões de euros, no refinanciamento público dos bancos piratas, o qual supera os 12 mil milhões de euros, e no ainda mal conhecido buraco dos SWAP, que poderá ultrapassar em muito os 1,5 mil milhões anunciados, para entender a gravidade do consulado do mentiroso compulsivo que tem vindo a provocar o país como se de um simples arruaceiro se tratasse. Pinóquio Sócrates? Nunca mais!

Passos Coelho desafiou esta tarde o PS (e já agora, o PCP e o Bloco) a apresentarem orçamentos de estado alternativos ao do governo. Ora aí está uma forma de entalar a Oposição despesista e populista nas suas próprias antinomias.

A minha proposta de Orçamento alternativo é simples: 
  • menos deputados, 
  • menos autarquias (criação das cidades-região de Lisboa e Porto), 
  • renegociação de todas as PPP e contratos SWAP, 
  • menos subsídios às obscuras IPSS (recebem mais do que toda a Defesa Nacional!!!), 
  • fim do Exército e criação de um Sistema Unificado de Defesa e Proteção Civil como pilar essencial da estratégia de defesa nacional, com grande ênfase estratégico na marinha e na aviação costeira, 
  • criação imediata de condições efetivas de entrada da iniciativa privada comercial e cooperativa nos sistema educativo e de saúde, 
  • contração drástica da burocracia judicial, 
  • transparência absoluta de todos os gastos de dinheiros públicos por parte das fundações e instituições particulares de solidariedade social, de que são exemplo o Banco Alimentar, a Cáritas, a Cruz Vermelha, a  União das Misericórdias e a recém criada Confederação Portuguesa do Voluntariado.

Nada disto pagará instantaneamente a pesada dívida que a cleptocracia que capturou a democracia contraiu em nome do povo português. Pagá-la vai custar sangue, suor e lágrimas. Mas só depende dos portugueses consegui-lo. Não da corja que nos trouxe até aqui.


POST SCRIPTUM

A propósito do 'milagre económico' lusitano (em Espanha a conversa é a mesma)
Pires de Lima diz que Portugal está a viver um "milagre económico"- RTP

Companhias low cost garantem mais de 60% dos turistas no Norte - PÚBLICO

As ‘low cost’ foram um verdadeiro balão de oxigénio para o Norte ( para Lisboa e Algarve, também!)

O aeroporto de Porto, devido às low cost, aumentou em mais de 3 milhões o nº de passageiros transportados.

Se cada um dos novos 1,5 milhões de turistas (ida-e-volta*2=3M) gasta, em média, 300 euros por estadia, como refere a notícia, então temos uma ideia das vantagens económicas para  a região norte: 500 milhões de euros frescos na região!

Outra grande surpresa é saber que os turistas vindos de Espanha estão quase em 1º lugar. Isto dá uma ideia do crime cometido relativamente à ligação ferroviária entre a região de Lisboa e todas as cidades de Espanha, através da linha de Alta Velocidade Lisboa-Madrid, que poderia estar pronta em 2016, não fosse Portugal ter sido capturado pelas tríades dos aeroportos, das autoestradas e do betão imobiliário alimentado por fundos de especulação financeira indígenas e multinacionais.

Só de pensar que houve cretinos em Lisboa a defender o encerramento do aeroporto Sá Carneiro, em nome da rentabilidade das infraestruturas aeroportuárias, ficamos com uma ideia da dimensão da asneira no nosso país. De facto, se o NAL da Ota tivesse ido para a frente, o Sá Carneiro teria sido condenado à irrelevância!

A corja do novo aeroporto que felizmente borregou deveria ir toda a tribunal!

Foi isto que Pires de Lima se esqueceu de referir no seu vago discurso sobre o ilusório 'milagre económico' português!

Juntem a desvalorização fiscal (menos consumo/ menos importações) ao impacto do turismo e das vendas de refinados petrolíferos no PIB e terão boa parte do milagre económico português explicado às criancinhas.

ÚLTIMA ATUALIZAÇÃO: 30 out 2013, 11:17 WET

Cães danados?

Que faço, ministra? Afogo-os todos?

Menos Estado, por favor!

Segundo o jornal Público esse limite fixa-se em dois cães e em quatro gatos, mas existem excepções, já que os detentores de raças nacionais puras registadas podem até dez animais nos prédios rústicos ou mistos.

Esta actualização da lei já em vigor (que impõe um limite de três cães por apartamento) tem dividido as opiniões entre as várias associações animais e de veterinária — in Notícias ao Minuto.

Mais uma ideia peregrina de um governo com tendências concentracionárias, e proto-fascistas em sede fiscal, que continua a fazer o que a corja devorista lhe impinge.

A única coisa a que os donos dos animais domésticos devem estar obrigados é registar os seus animais numa base de dados central (que deveria ser privada embora obrigada a contrato de serviço público), colocar chips eletrónicos para seguimento e controlo dos animais, pagar uma taxa fixa por animal, e assinar uma carta de respeito pelos animais de companhia, tomando por esta via conhecimento dos seus direitos e deveres relativamente à responsabilidade de ter e cuidar de animais de companhia. Se um dado animal causa incómodos aos vizinhos, à comunidade, ou suja e perturba a via pública, bastará que o incómodo seja provado diante de um juiz de paz não totalmente destituído da faculdade de julgar, para que o dono do animal seja obrigado a resolver o problema sem atentar contra os direitos do animal em causa. É a sociedade civil que deve resolver os seus pequenos problemas. BASTA DE ESTADO A MAIS!

Os donos de animais domésticos devem organizar-se em pequenas associações (bastam 6 amigos com cães, ou gatos, para formarem uma associação de proteção dos direitos dos seus animais e dos respetivos donos) e vigiar todos os acordos que possam ser estabelecidos entre governos oportunistas e corruptos e os por vezes falsos representantes nacionais dos direitos dos animais.

A ideia peregrina de que tudo tem que ser legislado, condicionado, proibido e usurpado pela via fiscal e aduaneira é uma ameaça sem precedentes à democracia — curiosamente, com a colaboração ativa ou passiva dos partidos polítcos, que normalmente andam entretidas com fait-divers.

segunda-feira, outubro 28, 2013

Abriu a caça a Belém

Marcelo Rebelo de Sousa.
Foto © Miguel Gaspar (in Jornal de Negócios)

Marcelo candidato a pré-candidato

A dedução é simples: o PS vai ganhar as próximas Legislativas. Daí a aflição de Sócrates e de Costa..., e as faltas de Seguro aos palcos que ambos montaram a semana passada. Logo, o próximo PR não será Costa mas alguém do PSD. Santana e Durão estão fora da corrida, por demasiadas culpas no Cartório, Rio não avançará com Passos de Coelho à frente do PSD. Logo, Marcelo parece ter caminho aberto. Entretanto, o homem terá que decidir se o que disse esta noite à Judite de Sousa é a brincar ou a sério. Se for a sério, deverá deixar o seu programa de televisão, o mais tardar, no início de 2014. As duas coisas juntas é que não, ou teremos que passar a gramar um interminável rol de 'notas' e recomendações livrescas semanais!

PS: António José Seguro, apesar das boas perspetivas eleitorais, vai ter enormes dificuldades políticas na discussão inevitável da refundação constitucional do regime que vem a caminho. Só a emergência de um novo partido fundado em bases ideológicas radicalmente distintas dos missais que formataram a partidocracia que conduziu Portugal à bancarrota e a péssimos hábitos de gestão e de poder, seremos capazes de passar o Cabo das Tormentas do que ainda falta do Programa de Resgate, bem como do inevitável Programa Cautelar, cujos condicionalismos serão ainda fortíssimos, com repercussões pesadas sobre a economia e sobre as pessoas, com particular destaque para a classe média, a mais atingida pela profunda crise do Capitalismo que não terminará tão cedo quanto gostaríamos. Faço parte de um grupo de democratas que apostam na emergência institucional do Partido Democrata. Gostaria que este partido pudesse fazer a sua prova de fogo nas próximas eleições europeias — pela importância que estas terão em toda a União Europeia. O nosso problema é um problema nosso, mas é também um enorme problema europeu que tem que ser resolvido. É muito cedo, do meu ponto de vista, para falarmos sobre as próximas eleições presidenciais, embora perceba muito bem o movimento posicional de Marcelo Rebelo de Sousa.

domingo, outubro 27, 2013

Cunhal contra a Europa

Álvaro Cunhal. Foto @ Alfredo Cunha

Jerónimo de Sousa: adesão à União Europeia e ao euro foi um "erro profundo"

O secretário-geral do PCP disse hoje que a adesão à União Europeia "foi um erro profundo" que levou à actual situação do país e sublinhou que o antigo líder comunista Álvaro Cunhal previu os efeitos dessa opção — Económico com Lusa , 27/10/13 18:10.

Haver um partido que se oponha ao euro e à nossa presença da União Europeia é bom para o debate público. Que o PCP venha agora clarificar a sua posição é também positivo, mas exige-se que este partido seja daqui em diante consequente e alternativo nesta matéria. Ou seja, que diga ao país o que faria se fosse governo e se Portugal abandonasse a Zona Euro, ou mesmo a União Europeia. Tim tim tim por tim tim. Sem meias palavras, nem promessas vagas de amanhãs que cantam. Por exemplo, quanto custaria a gasolina, o gasóleo, a eletricidade, o pão e a carne no seu modelo de regresso ao escudo. Em que é que a sua proposta difere da indigência venezuelana?

Álvaro Cunhal foi um devoto estalinista da URSS, mesmo depois desta se ter esfumado sob o peso da sua ineficiência, ortodoxia fundamentalista, injustiça e criminosa corrupção. Na realidade, Cunhal sempre esteve contra a Europa, e imaginou o futuro de Portugal como um Salazarismo de sinal contrário: concentracionário, fundamentalista, paternalista, burocrático, ditatorial, isolacionista, provinciano, corrupto e eternamente injusto. Enquanto o PCP não se libertar desta doença obsoleta, será rejeitado pelos portugueses. Se persistir na irracionalidade, à medida que o proletariado industrial se for reduzindo a uma classe residual, progressivamente substituída por autómatos inteligentes, o PCP acabará por se tornar um partido irrelevante. O determinismo histórico que tanto exaltaram conduziu, afinal, à extinção do proletariado!

sexta-feira, outubro 25, 2013

Do Panamá a Badajoz

Comboio com amoníaco descarrila no Poceirão, 24/10/2013

Enquanto os comboios portugueses continuam a descarrilar, a rede espanhola de bitola europeia, articulada com os seus portos de águas profundas e o resto da Europa, avança!

Um vagão de um comboio de mercadorias que transportava amoníaco descarrilou na tarde desta quinta-feira na estação do Poceirão, em Setúbal, levando à queda de uma cisterna com 30 toneladas daquele produto. Segundo fonte do Comando Distrital de Operações de Socorro (CDOS), não há risco de fuga nem feridos — Público, 24/10/2013 - 19:06.

Segue-se uma epístola aos incompetentes e perdulários sobre a falta de tino e de estratégia portugueses em matéria de transportes, de onde ninguém sai vivo, do governo moribundo, à ADFER, passando pelo outrora confiável Instituto Superior Técnico.
Caro Senhor Engº ML,

O Congresso da ADFER foi uma revelação: nem sequer projecto existe para aceder às verbas do QREN para o 2014-2020 :(

A malta que entenda lá o que quiser entender; acreditem no vidente de Pamplona, rezem à virgem de Guadalupe, vão de joelhos até Fátima, mas qualquer porto português que queira competir com os espanhóis, que queira ser interessante para estrangeiros, ou que pelo menos queira sobreviver —e neste ponto a questão é mesmo de sobrevivência— teremos que explicar aos responsáveis políticos o que significa a sigla UIC, dê lá por onde der!

Face ao estado em que está o material circulante de passageiros —a vida útil da maioria já está mais para lá do que para cá— gastar dinheiro em bitola ibérica seria pura perda de tempo e de recursos financeiros que não temos. Trate-se, pois, de mudar a bitola, por exemplo na remodelação da Linha de Cascais, desviando temporariamente e por troços os tráfegos para a estrada, enquanto se substitui a via. Idem para as vias existentes em direção à fronteira. Caso não saibam fazê-lo, questionem os japoneses sobre o assunto.
Mau seria começarmos todos a ver, ano sim, ano não, descarrilamentos de comboios por falta de aderência aos carris!

Quanto aos portos portugueses, quem dera à Espanha ter a nossa costa atlântica...

Se qualquer porto português quer ter uma dimensão pelo menos europeia, terá que considerar a incontornável bitola UIC. O apregoado porto da Trafaria sem UIC seria mais uma réplica de Sines —qual aeroporto de Beja na Trafaria—, a não ser que fossem usados camiões de 60 toneladas, ou se fizesse o sempre desejado (pela malta da Mota, do senhor Ho e do BES, claro) aeroporto da OTA em Alcochete, para aí operar os famosos A380 de carga aérea tão queridos do banqueiro Ricardo. Subsistiria, porém, uma dúvida: como levar metade ou mais da carga até Espanha? Ninguém está a ver contentores da Trafaria e de Setúbal a voarem até Madrid, ou mesmo até Barcelona, a não ser um completo lunático, que acredite em renas voadoras, claro.

Realize-se uma listagem sobre as prioridades dos portos portugueses, atendendo à sua importância e necessidades de investimento. Em qual é mais urgente investir, e que retorno se irá obter desse investimento. É de apostar já em Aveiro, dada a localização das nossas empresas exportadoras? Ou em Sines?

Uma coisa afigura-se-me mais ou menos óbvia: a questão do Panamá irá por certo promover um maior acesso de e para os portos europeus. Atente-se, por exemplo, na experiência canadiana e americana na costa virada ao Pacífico, face ao aumento das trocas comerciais com a Ásia. Na aviação comercial é a mesma coisa: o seu principal equipamento (aviões) dirige-se para a onde? Para a Europa? Não, os 777 voam para a China, Índia, Japão, Coreia e o resto da Ásia e Austrália!

Ora havendo um aumento das trocas comerciais com a Ásia, alemães, franceses, mas também os asiáticos, estão a tratar de antecipar soluções. Este é um cenário que Espanha soube reconhecer e aproveitar para rentabilizar por três ou mais vias:
1) investimentos da UE via fundos do QREN 2007-2013 e 2014-2020,
2) taxas que os utilizadores irão pagar;
3) e redução da importação de energias fósseis necessárias à operação de veículos térmicos (locomotivas e camiões diesel).

E Portugal? Bom, Portugal comporta-se como uma verdadeira ilha (1) pejada de meias soluções, cada uma 'melhor' do que a outra. Diga-se em abono da verdade que nunca vi tanto caço previsível junto. Por vezes, com os meus amigos, até lhes chamo "UNS PORTENTOSOS CAÇOS, DE PRIMEIRA!"

O material ferroviário em Portugal atingiu, todo ele, pelo menos, metade da sua vida útil. Na linha de Cascais é já um cadáver. Será assim rentável um investimento em bitola ibérica para durar 20 a 25 anos? Não me parece. Aliás, a primeira linha a ser reconvertida para UIC será a Linha de Cascais. O traçado é o mesmo. Basta mudar balastro, travessa UIC, carril de 56, e fazer um acordo com a Bombardier para fornecer comboios numa base de parceria. Se o transporte for bom para nós, vocês lucram, se não for, também terão que arcar com parte do prejuízo. Assuma-se que durante dois anos vai haver comboios em condições de circulação muito especiais, recorrendo-se ao transporte rodoviário para mitigar as faltas, e faça-se uma Linha de Cascais em condições. Acreditem numa coisa: as pessoas voltam à Linha e todos ficam a ganhar. O que temos neste momento, e a evidente falta de perspetivas aceitáveis, é que não nos leva a lado algum.

Voltando aos portos...

Nas ligações com a Europa há APENAS 2 LINHAS QUE INTERESSAM.

Já vi o mapa 2, 3, 4 e 5 vezes e não me parece haver muitas alternativas. Temos duas linhas - a da Beira Alta e a Linha do Leste (agora Poceirão / Caia), que me faz recordar o PowerPoint do "Conde Costa Cabral".  Simples, mais simples, é impossível.

Assim sendo, temos que decidir o que realmente queremos:

—Potenciar a indústria nacional (aquela que exporta)? Então estamos a falar da Beira Alta.
—Ou fazer transbordo de contentores de navios para comboios? E então estamos a falar de Sines.

Por mais volta que se dê, é assim, não é preciso nenhum Viegas de palanque para nos iludir, exceptuando aqueles que gostam de ser enganados, e olhe que também os há, ... UNS CAÇOS DE PRIMEIRA.

A opção Beira Alta.

Como já se escreveu, a Beira Alta potencia os portos da Figueira e Aveiro.

Em praticamente toda a linha da Beira Alta existe feixe de linhas nas estações mais importantes, o que potencia o transporte de mercadorias. A linha está feita (o investimento maior está realizado). É só trazer a dita até à Figueira, como era na origem, e da Figueira levá-la, não pela Linha do Norte, que está congestionada, mas até Aveiro.

Para sul, é puxada até Coimbra, onde se poderá ligar ao Metro de Coimbra, que funciona igualmente em UIC. Ficamos, assim, com o problema do Centro resolvido, e escusamos de recorrer ao porto seco de Salamanca, bem como ao parque de estacionamento aí construído para passageiros com destino a Madrid.

Os tráfegos de passageiros da Linha da Beira Alta não se relacionam com Lisboa, mas sim com Coimbra, por questões de saúde, educação, trabalho,.... . Alguém que se dirija a Lisboa ou ao Porto terá que fazer transbordo em comboios de bitola ibérica em Coimbra para a Linha do Norte. Desde que os comboios circulem à tabela e existam boas condições de enlace, ninguém se queixa.

A opção é Sines.

Se for Sines a opção escolhida, a única solução para circulação de comboios em total segurança é, no mínimo, uma via dupla UIC. Ao lado da atual (que é ibérica) que deve ser aproveitada para o transporte de materiais e iniciar a duplicação em UIC. Inicialmente poderão conviver as duas bitolas, considerando situações como a do Pego. É claro que Setúbal terá de se articular com Sines apesar do 'estrangulamento' do Outão.

Caso queira, posso aprofundar mais este assunto, muito embora muita coisa esteja publicada neste blogue sobre o mesmo tema.

De Ermidas-Sado até à fronteira a única bitola que interessa (A ÚNICA) é a UIC.

Por acaso haverá tráfego que se veja de contentores que justifiquem a bitola ibérica entre Sines e Beja, ou entre Sines e Évora? Terá Beja, por exemplo, indústria que justifique a bitola UIC? Olhe, nem UIC nem aeroporto! Até hoje ainda estou para perceber como é que aquele iluminado do Augustus Mateus foi desencantar aquela do ‘transhipment’ de pescado em Beja. É claro que almoçou uma fantástica sopa de alimado de cação (Fish Dog) que deve ter adorado e saiu do restaurante a abanar o rabo, mas entre um alimado e um aeroporto vai uma grande distância. Olhe, agora têm uma SCUT entre Sines e Beja, toda em estaleiro, que ninguém sabe como nem quando acabar, e no entanto, aos Domingos, os caçadores adoram os viadutos para a caça aos tordos, os cães ficam por baixo dos viadutos à espera que a caça caia. Haja alguém que dê uso à infra-estrutura!

Desculpe a expressão: PORRA QUE É MUITA INCOMPETÊNCIA À SOLTA.

E depois há o outro lado...

ACREDITE O MEU AMIGO QUE AS OPORTUNIDADES DESPERDIÇADAS POR PORTUGAL VÃO SER CRITERIOSAMENTE APROVEITADAS POR ESPANHA.

Acha que os espanhóis perdem uma? Questione a ADFER lá do sítio e pergunte-lhes a opinião. Acha que eles se deixam enrollar?!

E é assim: temos duas linhas que interessam...

A indústria nacional, a tal que é supostamente exportadora, está balanceada numa das linhas, a da Beira Alta, e Sines na outra. Se o Viegas e o seu amigo Tão (o tal dos eixos telescópicos) lhe segredarem que é pelas Termas de Monfortinho, porque o que está a dar é Coria, não acredite. Os últimos que compraram Cória foram os romanos, e até hoje ainda não souberam como lá foram parar!

Trate pois prioritariamente destas duas linhas, aprendendo com Cascais, deixando para a fase seguinte as outras. Olhe que com tanta auto-estrada no sentido norte-sul (são três!) não vai haver certamente falta de transporte.

Os políticos servem para quê? E o que é que se pretende?

A melhor solução é tratar de fazer a coisa com cabeça, tronco e membros, em vez de se tentar privatizar, não a solução, mas o problema. Trate-se de comprar os comboios à Bombardier, definindo no cronograma o tempo para a realização da obra.

Explique-se às pessoas que o encerramento parcial da linha de Cascais tem como objectivo melhorar a qualidade de transporte e de vida das pessoas. Estas não são tão burras como querem fazer parecer que elas parecem. Pela abstenção, votos nulos e brancos das últimas eleições as pessoas bem demonstraram que não andam tão distraídas como nos querem fazer crer.

O Senhor Engº deve saber, bem melhor do que eu, que um comboio não tem a mesma flexibilidade que um autocarro. Quer fazer a obra como? Tipo modernização da Linha do Norte? Então o Sr. escreveu que o processo de modernização da Linha do Norte foi o que se vê - um fiasco, e quer repetir o mesmo em Cascais?!

Já agora falem com a DB, que eles têm uns comboios todos porreiros na margem esquerda do Reno. Aproveite-se uma encomenda de um operador grande para se comprar umas 50 composições para Cascais com 25 Kv.

Acredite, se quiser. Por mais que lhe custe acreditar, não há outra alternativa.

A linha da Beira Alta, creia o meu amigo, desde a sua modernização, não transportou um parafuso! Todo o tráfego escolheu o IP5. Feche a linha para obras que ninguém dá por isso. Quer uma linha com que dimensão: nacional ou internacional? Se é para ser nacional, deixe estar como está e está muito bem. Se é outra a ambição, já começa a ser tarde :(

Zé Ferroviário

NOTAS
  1. A propósito da ilha ferroviária em que o governo moribundo ainda em funções quis transformar Portugal sugere-se a análise atenta das linhas de bitola ibérica que a Espanha vai suprimir junto à fronteira portuguesa. Todas as ideias de construir vias de bitola ibérica para Espanha caíram por terra. Sérgio Monteiro foi muito mal aconselhado (ou quis ser mal aconselhado...). Esta política levou-nos, porém, ao desastre. A Espanha decidiu, não só levar a bitola europeia aos seus principais portos no chamado Corredor Ferroviario Mediterráneo (Algeciras, Barcelona,  Valéncia, etc.), como fechar as linhas, não rentáveis, de bitola ibérica, junto à fronteira portuguesa (ver mapa/ El País). OAM