quarta-feira, fevereiro 17, 2016

TAP ou TAL?

Após o Aeroporto da Portela, também a TAP acabará por ter novo batismo

TAP é a nuvem, mas alguém perguntou por Juno?


LUÍS MÓR: “Acho que a sua entrada [da Ryanair] - e de outras companhias ‘low cost’ [transportadoras de baixo custo] - em Lisboa é um grande equívoco porque pode inviabilizar um segundo aeroporto”.... in Notícias ao Minuto (07/10/13).

Eis a explicação dada em 2013 para a manutenção, à custa do contribuinte, de uma empresa mal gerida e falida chamada TAP. Sem a saturação artificial da Portela, sem o monopólio da TAP na Portela, e sobretudo sem uma TAP pública, seria impossível justificar um grande negócio chamado NAL, Novo Aeroporto de Lisboa. Foi penoso assistir à colaboração de tantos técnicos e instituições indigentes na impossível demonstração de que a Portela se encontra saturada há mais de uma década.

O NAL começou, no atual regime, por ser na Ota. Mas já no tempo de Marcello Caetano foram condicionados os usos de terrenos na margem sul do Tejo (triângulo de Rio Frio, Canha, Alcochete) para o efeito. Mas voltando ao NAL da Ota, construiu-se, a contar com o ovo no cu da galinha, a chamada auto-estrada do Ribatejo, A10, com uma longa ponte sobre o Tejo, com mais de 12Km, e o maior nó rodoviário do país (Carregado), e iniciou-se a construção da gigantesca plataforma logística fantasma de Castanheira do Ribatejo, tudo à conta do que viria a revelar-se uma operação de especulação e assalto à riqueza nacional sem precedentes. Alguém inquiriu? Foi alguém preso? Que eu saiba, não.

Mais tarde, quando Sócrates transferiu o NAL para as terras de Jamé, piratas acolitados no BPN encaminharam mais de 250 milhões de euros para a compra de terrenos em Rio Frio, contando, uma vez mais, com o ovo no cu da galinha, quer dizer, com um Novo Aeroporto de Lisboa, desta vez, em Alcochete (mais propriamente em Canha).

Por sua vez, o PS do tempo de Almeida Santos, de João Cravinho e do ex-comunista Pina Moura imaginou com Stanley Ho a venda dos terrenos do aeroporto da Portela ao magnata chinês, os quais se destinariam à famosa, prometida e luxuosa Alta de Lisboa que, como sabemos, borregou (muitos apartamento da primeira fase acabariam vendidos a preço de saldo).

Cereja em cima do bolo: a geringonça capitaneada por António Costa parece ter retomado a estratégia de desertificação aérea e ferroviária do país em nome do mais escandaloso e obscuro negócio do Bloco Central que, como se vê, está mais vivo que nunca. Repararam como o novinho ministro do Planeamento e Infraestruturas fugiu por três vezes às perguntas de José Gomes Ferreira sobre a solução Portela+1, i.e. sobre a solução Portela+Montijo? Para bom entendedor...

Metida a Esquerda oportunista, populista e desmiolada na algibeira, há agora que dividir o PSD, dando a cidade-região de Lisboa a Santana Lopes e a cidade-região do Porto a Rui Rio. É nisto que Costa parece andar entretido. Veremos se o novo presidente eleito irá tragar esta fava.

Rui Moreira venceu em toda a linha a estratégia furada da geringonça lisboeta, transformando a ofensiva TAP numa TAL—Transportes Aéreos de Lisboa

As explicações dadas pela TAP sobre as desistências de várias rotas no Porto, além de serem um embuste estratégico, pois demonstram que a TAP não é competitiva (facto comprovado pela imediata corrida de outras companhias Low Cost, mas também de bandeira, aos slots deixados vagos pela TAP), revelam ainda quatro realidades escandalosas:

  1. a TAP continua em situação de insolvência;
  2. a TAP, sobretudo depois de conhecidas as dificuldades da Azul no Brasil, não é capaz de atrair capital para renovar a sua frota e proceder à inevitável restruturação da empresa, a qual implicará sempre despedimentos e indemnizações;
  3. a TAP é uma empresa político-partidária, mas estando falida, resta saber até onde poderá contar com mais ajudas de estado, nomeadamente do tipo das que ficaram escancaradas na privatização e posterior pseudo-reversão da mesma. Os contribuintes terão que desembolsar pela privatização da empresa 21,9 milhões de euros (10.000.000-1.900.000-30.000.000), mais o que o prometido ‘corte de cabelo’ nos créditos mal parados da TAP que a banca, nomeadamente a Caixa, têm por saldar. Qual é montante total destas dívidas bancárias da TAP? Os contribuintes têm todo o direito de saber, antes de embarcarem no clubismo patético de um qualquer cineasta do regime;
  4. a TAP foi varrida do Porto pela concorrência europeia, como já antes fora de Faro, e sê-lo-à em breve dos arquipélagos atlânticos. Q.E.D.: a TAP está rapidamente a transformar-se numa TAL—Transportes Aéreos de Lisboa. De onde a pergunta: terão os portugueses do país inteiro, fora e de dentro de portas, que continuar a sustentar o desvario político-partidário de uma empresa regional?

ÚLTIMA HORA

A Federação do Porto da Juventude Socialista “recusa aceitar que a TAP se transforme em TAL(isboa) e arredores”, cenário que atribui aos “instintos centralistas”, reclamando do Governo que “assuma os interesses nacionais”, colocando “termo à presente indefinição”.
Jornal de Negócios



Mensagem acabada de chegar do nosso correspondente Garganta Funda, de Sarilhos Grandes
Dia grande para a Blogosfera, as coisas vão batendo todas certas. 
Com a simplicidade e frontalidade que se lhe conhece propõe a Blogosfera que, no seguimento das “boas novas” anunciadas pela TAP, esta  passe a chamar-se TAL, ou “a TAL”.  
As forças vivas do Norte (não foi apenas o Rui Moreira) resolveram o problema da TAP, e por cada rota cancelada da TAP a estratégia vai ser uma nova rota da Ryanair (e até de várias companhias de bandeira: British Airways, Lufthansa, Turkish Airlines, etc.), mandando o Costa e o seu parceiro Gaúcho meter a 'ponte aérea' num certo sítio.

Bem sabemos que existem especialistas que juram a pés juntos que a Ryanair recebe subsídios, que é favorecida e outras tretas do género. Esquecem, por exemplo, que as antigas paixões do Luis Mor(mente) pelos lados da Rússia —o grande filão da TAP, lembram-se?— custaram cada uma a módica quantia de 100.000€. Sim, cada nova rota tem aproximadamente este custo.

Espera-se igualmente alguma azia da imprensa que regulamente é convidada a viajar (e a passar férias) à conta da TAL, como é o caso da rapaziada do Económico. Por acaso, a amiga Hermínia anda muito calada, fazendo de conta de que “no pasa nada”, passando-se na verdade uma VERDADEIRA REVOLUÇÃO.

NÃO FOI A TAL QUE ABANDONOU O PORTO, MAS SIM O PORTO QUE DEFINITIVAMENTE ABANDONOU A TAL
Vai demorar algum tempo a perceber esta evidência, pois são conhecidas as limitações cognitivas de muitos a este propósito, mas é um facto que, paulatinamente, a TAL, pelo famoso efeito low cost, irá dar ao Porto a mesma configuração que deu a Faro.  
É claro que no Funchal e em Ponta Delgada a TAP (como a SATA) estão cada vez mais ameaçadas, encerrando diariamente a sua actividade. Na SATA andam todos calados que nem ratos. Será que corre tudo sobre rodas?

Da parte da AZUL, que ainda ontem veio oferecer aos seus colaboradores excedentários licença sem vencimento durante dois anos, esperando que a crise passe, fez contas e chegou à conclusão de que o financiamento de “investidores” chineses não chega para cobrir o passivo.  
Presumo que sejam esses mesmos “investidores” chineses que reconverteram o seu “papel verde” em empréstimo à TAL com o devido aval do PM Costa. 
Entretanto, a saída progressiva da TAL de alguns aeroportos europeus (pois quando eliminam uma rota europeia deixam de estar presentes, não apenas no Porto, mas também nas cidades europeias para onde voavam), levará a AZUL a reclamar os slots para si, pois, como poucos saberão, o real valor da TAP está nos slots que tem nos principais aeroportos europeus. Slots são as janelas temporais de descolagem disponíveis em cada aeroporto, normalmente -5 a +10 minutos relativamente ao horário de descolagem. 
Podem acreditar, NADA VOLTARÁ A SER COMO DANTES, e então depois da chegada dos A321LR e dos B737LR (versão melhorada do B757), e de os vermos nas unhas das Low Cost, vamos ter a costa leste dos EUA e Canadá, e o norte do Brasil, a serem servidos por Low Cost. Será que esta nova encomenda de 100 B737 da Ryanair não contempla esse cenário? Acredito que sim. Quando este cenário se verificar o futuro dos voos intercontinentais da TAP, perdão, da TAL, perdendo dinheiro como pelos vistos perde desde que põe as suas aeronaves no ar, estará definitivamente condenado.

O casamento da TAP com a falida Suissair foi um flop que saiu muito caro à empresa. Este casamento com a (falida) AZUL, seja lá em que proporção for, tem igualmente bastantes riscos. Deixa ver o que dizem os bancos credores, ..., por enquanto os chinocas estão a pôr a mão por baixo,.... Resta saber até quando.

53 novos aviões não será fruta a mais? 
A AZUL tem aviões em excesso e está desejosa de os alugar à TAL, como se viu com os ATR-70-600 e a famosa ponte aérea Porto-Lisboa.

No meio disto tudo, onde fica o Gaúcho? 
Não foi ele quem afirmou que eram as “Low Cost que tinham que cuidar-se com a TAP”? Onde está “a esquadra brasileira que salvou a TAP”.

TAL & QUAL.

sexta-feira, fevereiro 12, 2016

Bond, Portuguese bonds


source: tradingeconomics.com

Portugal Government Bond 10Y — Forecast 2016-2020 

The Portugal Government Bond 10Y is expected to trade at 2.58 percent by the end of this quarter, according to Trading Economics global macro models and analysts expectations. Looking forward, we estimate it to trade at 2.91 in 12 months time.
Trading Economics.

Subidas dos juros implícitos da dívida pública portuguesa podem revelar-se menos preocupantes do que os valores empinados desta semana sugerem. 


Há nitidamente uma pressão dos grandes fundos especulativos e dos chamados 'investidores institucionais' sobre a dívida portuguesa, sobretudo depois da 'máquina zero' do Banco de Portugal ter rapado 80% dos dividendos das obrigações seniores que detinham no Novo Banco ao verem transferidos os seus títulos para o banco mau, i.e. para o velho e falido BES.

Ou seja, os yields a dívida pública portuguesa dispararam, sobretudo por causa do modo desastroso como as autoridades portugueses têm gerido contratos e responsabilidades, ora revertendo negócios, ora defraudando as expectativas financeiras de quem apostou no mercado financeiro português.

A isto juntou-se um bom pretexto: a montanha mágica do Orçamento de 2016, que se foi revelando, dia após dia, um perfeito embuste ideológico e macro-económico.

E como pano de fundo, para apimentar a coisa, e derivado anunciado do regresso dos petrodólares a penates, temos no horizonte próximo sinais de uma mega-crise financeira global.


PS: sem bancos 100% indígenas (já que só restam a Caixa, o Montepio e o Crédito Agrícola, sendo os dois primeiros panelas de pressão à deriva), e com os 'grandes' bancos locais (BPN, BES, Banif, BCP, BPI....) em processo de fusão nuclear, ou de alienação a países estrangeiros (Angola, Espanha e China, para já...), onde é que a nomenclatura político-partidária que nos conduziu até aqui pensa que vai obter mais dívida a preços convenientes para manter a geringonça lusitana a funcionar? Da PIMCO ou da Black Rock, podemos esperar sobretudo litígios e algo ainda mais letal: um preço incomportável nas futuras emissões de dívida pública.

quarta-feira, fevereiro 10, 2016

E depois do dólar?


O pico de crescimento americano deu-se na década de 1950. Capiche?

Quando há crescimento há mais energia e petróleo produzidos


É a procura agregada, estúpido!


Lá para 2018... quando o embuste do petróleo/gás de xisto americano ficar totalmente a descoberto, os USA voltarão a comprar no Médio Oriente, África, Canadá, Venezuela, Brasil, etc., mas quando tal suceder, o mais provável é que precisem de comprar euros para comprar petróleo.

Ou seja, o castelo de cartas do sobre-endividamento americano acabará por ruir, e o dólar será então uma espécie de moeda-peste. Quando isto acontecer, o preço do petróleo será marcado em euros, mas não poderá ir além do que for realmente o poder de compra inscrito na procura agregada mundial.

Haverá então mais uns milhões de seres humanos a consumir energia fóssil. No entanto, não terão recursos para comprar petróleo caro. O paradigma do crescimento mudou: muitos mais a crescer, mas todos a crescer mais devagar e com um rendimento per capita decrescente.

Energia e matérias primas terão que manter preços acessíveis (barril de crude a menos de 80 dólares, etc.), sob pena de ficarem por produzir e vender.

Por sua vez, as energias alternativas e a eficiência energética não poderão diminuir as necessidades de petróleo, gás natural e carvão, em mais de 30%, isto se formos todos muito eficientes.... que não somos.

Portugal, descontando a gritaria populista dos partidos aninhados em volta da manjedoura orçamental, irá crescer menos, sempre abaixo dos 2%. E assim sendo, não pode pagar 3,7% de juros pela sua descomunal dívida pública (1). Nem deve continuar a financiar a despesa inútil e burocrática do estado e das suas PPP aumentando criminosamente a fiscalidade que incide sobre a energia e os produtos petrolíferos.

A única aposta correta é produzir mais e a bom preço, exportar mais do que importamos, racionalizar o estado (e o estado social) de acordo com uma fiscalidade adequada, justa, competitiva e transparente, combater a corrupção e alterar sobretudo o quadro legal que a estimula, e melhorar radicalmente a qualidade e o preço da nossa mobilidade interna e externa, física e digital.

BP vê preços do petróleo de regresso aos 100 dólares
JORNAL DE NEGÓCIOS. Patrícia Abreu | 10 Fevereiro 2016, 16:50

Os preços do petróleo têm estado a testar novos mínimos de 12 anos em 2016. Apesar de terem recuperado parte das fortes quedas registadas no ano, as cotações continuam bastante deprimidas. Mas isto pode estar prestes a mudar. O presidente da BP antecipa que os preços acelerem até aos 100 dólares por barril.
If Chesapeake Does Not Go Bankrupt In Just Over One Month, This Could Be The Trade Of The Year
ZERO HEDGE. Submitted by Tyler Durden on 02/10/2016 12:53 -0500
É preciso rever os comentários sobre a 'nova Arábia  Saudita'
Back in March 2013, when nat gas, and pretty much everything else, was trading far higher than where it is today, investors who believed in the vision of Chesapeake'snow long gone CEO Aubrey McClendon had no problem writing a check for $500 million of other people's money to the Oklahoma gas giant, hoping to generate a "whopping" 3.25% return by the time the bonds matured on March 15, 2016.

Sadly, since then things changed.

Chesapeake - as we previously reported - is now on the verge of bankruptcy having hired K&E as a restructuring advisor, and these bonds (maturing March 15, 2016) are currently trading at 80.5 cents on the dollar.  As the chart below shows, this results in a yield that is about 100 times where it was at issue, or just shy of 300%. 

Why oil under $30 per barrel is a major problem Our Finite World. Posted on January 19, 2016 by Gail Tverberg 
Experience over a very long period shows a close tie between energy use and GDP growth (Figure 3). Nearly all technology is made using fossil fuel products, so even energy growth ascribed to technology improvements could be considered to be available to a significant extent because of fossil fuels.



[...] 9. Many people believe that oil prices will bounce back up again, and everything will be fine. This seems unlikely. 
The growing cost of oil extraction that we have been encountering in the last 15 years represents one form of diminishing returns. Once the cost of making energy products becomes high, an economy is permanently handicapped. Prices higher than those maintained in the 2011-2014 period are really needed if extraction is to continue and grow. Unfortunately, such high prices tend to be recessionary. As a result, high prices tend to push demand down. When demand falls too low, prices tend to fall very low. There are several ways to improve demand for commodities, and thus raise prices again. These include (a) increasing wages of non-elite workers (b) increasing the proportion of the population with jobs, and (c) increasing the amount of debt. None of these are moving in the “right” direction.



[...] Conclusion 
Things aren’t working out the way we had hoped. We can’t seem to get oil supply and demand in balance. If prices are high, oil companies can extract a lot of oil, but consumers can’t afford the products that use it, such as homes and cars; if oil prices are low, oil companies try to continue to extract oil, but soon develop financial problems. 
Complicating the problem is the economy’s continued need for stimulus in order to keep the prices of oil and other commodities high enough to encourage production. Stimulus seems to takes the form of ever-rising debt at ever-lower interest rates. Such a program isn’t sustainable, partly because it leads to mal-investment and partly because it leads to a debt bubble that is subject to collapse. 
Stimulus seems to be needed because of today’s high extraction cost for oil. If the cost of extraction were still very low, this stimulus wouldn’t be needed because products made using oil would be more affordable. 
Decision makers thought that peak oil could be fixed simply by producing more oil and more oil substitutes. It is becoming increasingly clear that the problem is more complicated than this. We need to find a way to make the whole system operate correctly. We need to produce exactly the correct amount of oil that buyers can afford. 
Prices need to be high enough for oil producers, but not too high for purchasers of goods using oil. The amount of debt should not spiral out of control. There doesn’t seem to be a way to produce the desired outcome, now that oil extraction costs are high. 
Rigidities built into the oil price-supply system (as described in Sections 3 and 4) tend to hide problems, letting them grow bigger and bigger. This is why we could suddenly find ourselves with a major financial problem that few have anticipated. 
Unfortunately, what we are facing now is a predicament, rather than a problem. There is quite likely no good solution. This is a worry. 

NOTAS

  1. No dia 11 de fevereiro os juros a 10 anos chegaram aos 4,5% (Jornal de Negócios: Juros de Portugal sofrem maior aumento desde a demissão irrevogável de Portas). Se Marcelo não olhar para isto com olhos de ver, o cenário de um segundo resgate será verosímil antes do verão.... PCP e Bloco, ou formam com o PS uma coligação governamental—opção coerente com as 'posições comuns'—, ou terão que abandonar a geringonça—posição incoerente e antecâmara de um colapso duradouro das esquerdas—, provocando eleições antecipadas em 2017, ou mesmo no final deste ano.

Atualização: 11/2/2016 18:57 WET

terça-feira, fevereiro 09, 2016

Geringonça ou coligação?

Templo (zen) do Pavilhão Dourado, Séc.XIV, Quioto, Japão (2005)

De um governo sem legitimidade plena, ao aborto orçamental, foi um passo


“Um país que se limita a discutir onde gastar os milhões que sobram depois de pagar juros equivalentes a 10% do total de despesa pública, e depois de cortar outros tantos exigidos por Bruxelas, será sempre um país amputado do seu poder de decisão. O campo das nossas escolhas é cada vez mais curto e, mais tarde ou mais cedo, chegaremos à conclusão que não tem espaço suficiente para a democracia.” 
Mariana Mortágua, “É preciso ter lata” Jornal de Notícias (09/02/2016) 

Não chega, Mariana. É preciso passar do oportunismo aos atos, ou seja, ao compromisso de uma coligação com o PS!

Kongo, um das empresas mais antigas do planeta morreu no Japão em 2006, ao fim de 1400 anos de vida. Em situação comatosa está hoje o mais antigo banco do mundo, o Monte dei Paschi di Siena. As notícias sobre o Deutsche Bank são preocupantes. O que une estas três ocorrências é simples de avinhar: dinheiro fácil, destruição da poupança privada, exposição a bolhas especulativas e sobre endividamento.

O que realmente conduziu ao colapso da monarquia portuguesa, e depois ao colapso da I República, foi a mesma causa eficiente, ou seja, a irresponsabilidade da casta dominante, corrupção pandémica e fora de controlo, bancarrota e perda da maioria dos graus de liberdade que consubstanciam a soberania. Portugal encontra-se outra vez a um passo de perder a sua autonomia política. Por culpa dos outros? Por culpa de Bruxelas, da Alemanha, dos bancos ou das agências de notação financeira que contratámos? Não. Nós é que deixámos, uma vez mais, que o poder fosse apropriado por uma nomenclatura indigente, inculta e criminosa.

Expresso — Há mais aposentações, não vão entrar pessoas... 
Mário Centeno — Vamos usar a capacidade analítica que nos dá termos estudado muitos anos dados muito individualizados. Vamos analisar a utilização de recursos humanos na Função Pública. Não há ainda hoje um recenseamento da Administração Pública. Não sei, como ministro das Finanças, qual é o recenseamento de funcionários públicos.
E — Há muito tempo que não se sabe. 
MC — Desde 2005! Veja bem. Há 10 anos que não se sabe. Não é possível fazer a gestão de recursos humanos se não houver esse instrumento. 
[...] 
E — Fala de uma taxa de crescimento de emprego de 0,8%, quantos postos de trabalho é que vocês calcular criar? 
MC — Não sei esse número. 
[...] 
E — Sobre a questão das 35 horas... 
MC — Quando conseguirmos garantir do ponto de vista do Governo que esta medida se pode começar a aplicar, tendo garantias de não aumento da despesa. 
E — Ainda este ano? 
MC — Não lhe posso responder.

Sublinhei a tempo e horas que a geringonça nos levaria para uma austeridade de esquerda, versão cor de rosa vermelha da austeridade de Passos Coelho—a qual, e ao contrário do que a Troika reiteradamente defendeu, protegeu os rendeiros do regime, castigando para lá do tolerável quem se viu forçado a fugir do país. E denunciei também o exercício orçamental de Mário Centeno como sendo um embuste. O resultado da farsa partidária e jornalística que se seguiu, pontificada pelo imprestável Costa e pelo cínico Santos Silva, foi termos hoje em cima da mesa um aborto orçamental.

O ponto em que estamos não deixa muitas alternativas à geringonça.

A posição das muletas do PS de António Costa é insustentável. Ou avançam para um governo de coligação, assumindo, como é seu dever, as responsabilidades pelo que têm cozinhado no Soviete Supremo de São Bento e na Intersindical, ou serão vistos como oportunistas indignos de uma nova rodada de bonança eleitoral.

A crise bancária indígena soma e segue no vermelho. A desorientação governamental, nomeadamente no cada vez mais sórdido tema da TAP, ou no modo cobarde como o primeiro ministro desautorizou o seu ministro das finanças, são sintomas de uma gangrena que já começou a proliferar nos tecidos desconexos da geringonça.

É por isto que a sobrevivência depende agora, criticamente, da assunção de responsabilidades por parte de quem assinou as posições comuns que levaram, pela primeira vez na nossa ordem constitucional e tradição institucional, à formação de um governo minoritário liderado pelo partido que perdeu as eleições.

A única forma de remediar esta originalidade a que falta legitimidade democrática plena, e que tarde ou cedo sucumbirá, é transformar a geringonça num governo de maioria entre o PS, o PCP e o Bloco de Esquerda.

Bloco e PCP não podem mais esconder-se atrás do PS, nem António Costa poderá continuar a proferir alegremente disparates à esquerda e à direita.

Ou estes partidos abandonam a infantilidade de que têm dado provas, ou será o novo presidente da república a ter o ónus de suturar uma ferida onde o pus se acumula a cada dia que passa.

Atualização: 9/2/2016 11:39 WET

segunda-feira, fevereiro 08, 2016

Grandes devedores do BES

Gráfico elaborado pelo Expresso (certamente incompleto


No top25 dos devedores do BES estão: Mota Engil/Martifer (944  M€), Mello/Brisa (618 M€), Andrade Gutierrez (346 M€), Ascendi (516 M€), Tecnovia (283 M€), Teixeira Duarte (269 M€), Grupo Lena (229 M€), José Guilherme (223 M€), OPWAY (190 M€)...

O que têm estas empresas em comum? Uma gigantesca bolha imobiliária, e a base financeira especulativa de um regime que continua a desfazer-se dia a dia.

E da TAP, não consta nada?

quinta-feira, fevereiro 04, 2016

O próximo terramoto financeiro



Portugal não é seguramente a maior dor de cabeça da Alemanha!


O mundo financeiro global caminha para um reset, voluntário ou involuntário. Em ambos os casos catastrófico. Por algum motivo o FED desistiu do tightening, e o BCE decidiu aumentar a diarreia moneária, a que chama alívio quantitativo, em janeiro último, além da aplicação de taxas de juro negativas (Bloomberg).

O problema de fundo é este: assumiram-se e contrataram-se responsabilidades futuras para as quais não haverá dinheiro, na medida em que este depende de uma riqueza ainda por criar, que não será criada na dimensão estimada e inscrita na tinta invisível dos contratos de futuros, de que as promessas de pensões e as rentabilidades de astronómicos fundos de investimento, boa parte dos quais especulativos, são a maior dor de cabeça que poderemos imaginar.

"These Are Extremely Poor Results": Deutsche Bank Reports Titanic $7 Billion Annual Loss
Zero Hedge. Submitted by Tyler Durden on 01/21/2016 14:35 -0400

When it comes to picking a poster child for everything that’s wrong with Wall Street and the financial industry in general, it’s sometimes difficult to decide just who gets the blue ribbon for “most nefarious.”

Indeed, since 2008 we’ve learned that virtually every systemically important financial institution on the face of the planet has at one time or another engaged in some manner of chicanery be it the manipulation of the world’s most important benchmark rates, the peddling of worthless mortgage bonds, or the rigging of FX markets.

Having said all of that, Deutsche Bank may well qualify as the institution that “best” exemplifies the banking industry’s penchant for greed, corruption, and general malfeasance.

From rate rigging to book cooking to deplorable HR procedures, the German lender has it all and last summer, the bank showed co-CEOs Anshu Jain and Jürgen Fitschen the door amid shareholder pressure to reform the corporate culture and improve performance.

To be sure, new CEO John Cryan has his hands full.

The bank is saddled with mountainous legacy litigation and faces an uphill battle to streamline operations. Back in October, Cryan announced that Deutsche would cut 35,000 positions and exit 10 countries as part of a sweeping overhaul.

Oh, and Cryan also preannounced a massive loss and subsequently scrapped the dividend.

On Thursday, we got the latest bad news out of Deutsche as Cryan reported what he called “sobering” results for 2015. In short, the bank is staring down a net loss of €6.7 billion for the year, the first annual loss since 2008. The shares plunged.

more

quarta-feira, fevereiro 03, 2016

A falácia One-off do PS

João Galamba, deputado do PS

Qual é a falácia contida nesta frase do deputado João Galamba, do Partido Socialista?

“se os cortes dos salários dos funcionários públicos e a sobretaxa eram medidas temporárias, então não deviam ter contado para redução do défice estrutural quando foram tomadas e, por essa razão, também não devem contar para défice estrutural quando são revertidas”.— in João Galamba (Facebook)/Observador.
Os cortes, na realidade, não foram medidas temporárias, quando consideradas do ponto de vista orçamental (e de Bruxelas), ainda que o tenham sido quando vistas na ótica dos atingidos. Logo, os cortes e a sobretaxa foram mesmo medidas estruturais, tendo por isso contado para o défice.

Onde está, então, a falácia do Governo?

Nisto: é que os cortes e a sobretaxa só poderão extinguir-se quando o seu impacto orçamental for substituído por outras medidas estruturais com o mesmo impacto positivo no défice.

Ora como o Governo se limita a revogar as citadas medidas sem substitui-las por outras de idêntico impacto positivo no défice, as que ora propõe no esboço orçamental só poderão mesmo ser consideradas medidas estruturais, com impacto negativo no défice!!!

Capiche?

segunda-feira, janeiro 25, 2016

Marcelo: o Povo é quem mais ordena

Marcelo discursa depois da vitória.
Foto: Miguel Manso/ Público (pormenor)

As esquerdas bem têm que meter a viola do seu triunfalismo de secretaria no saco


António Costa deu mais um sinal da sua falta de caráter. Primeiro, furtando-se a assumir a derrota eleitoral do PS, de que é secretário-geral, depois, vindo falar imediatamente após o discurso do novo presidente para lhe recordar as abstenções, desvalorizando desta forma cínica a vitória do candidato de centro-direita. A verdade é que Marcelo foi eleito, António Costa, não!

Os resultados são inequívocos:

  • Marcelo superou em mais de 170 mil votos o resultado de Cavaco em 2011
  • Marcelo ganhou em todos os distritos do país, Alentejo incluído.
  • Marcelo ultrapassou Nóvoa em mais de um milhão de votos
  • Marcelo superou em mais de 650 mil votos o resultado do PS em 2015
  • O PS (Nóvoa e Belém) perdeu quase 500 mil votos para Marcelo e demais candidatos
  • Marcelo superou em mais de 300 mil votos o resultado acumulado do PSD+CDS+PPM em 2015
  • O Bloco (Marisa) perdeu mais de 80 mil votos para Marcelo e demais candidatos
  • Edgar (PCP-PEV) perdeu mais de 260 mil votos para Marcelo e demais candidatos
A indigência de algum jornalismo entristece-me. Por sua vez o regresso em força das agências de comunicação e dos agentes partidários de serviço é um mau sinal.

sábado, janeiro 23, 2016

O embuste orçamental de 2016

Mário Centeno, ministro das finanças

Mário Centeno baralhou e deu de novo as cartas da austeridade


A única coisa que vai crescer perigosamente em 2016—2019, se este governo não mudar de rumo, ou não for substituído, é a nossa exposição à irresponsabilidade populista da geringonça das esquerdas.

Quatro linhas de crítica a este esboço de orçamento:

  1. O PIB não vai crescer 2,1% em 2016, mas entre 1,0% e 1,7%.
  2. O Estado vai emitir 71,1 mil milhões de euros de dívida no período 2016-2019, em vez  dos 59 mil milhões previstos em setembro. Ou seja, mais 12,1 mil milhões de euros.
  3. Na antecipação do pagamento da dívida ao FMI, que o anterior governo programou saldar até 2017, Mário Centeno terá dado indicações ao IGCP para pagar, de 2016 a 2019, menos 6,6 mil milhões de euros do que estava previsto, empurrando esta responsabilidade para lá de 2019.
  4. O reembolso da dívida em 2016 será inferior em 400 milhões de euros do que o anteriormente provisto.

OE 2016 versus OE 2015

Défice: 2,6% [-0,4 pp]
Dívida pública: 126% [-2,7 pp]
Crescimento: 2,1% [sobretudo por via das exportações]
PIB potencial: 0,5% [0,1% em 2015 ; -0,4% em 2014]
Hiato do produto [PIB real - PIB potencial; en.: output gap]: -0,9% [-2,4% em 2015]
Remuneração por trabalhador: +2,1% [sobretudo por efeito dos aumentos do SMN e dos vencimentos nas administrações públicas]*
Investimento público: +4% [Portugal 2020]
Consumo privado: 2,6% [igual a 2015]
Consumo público: 0,0% [recua face a 2015: 0,2%]
Exportações: 4,9% [recuam 1% face a 2015: 5,9%]
Importações: 5,9% [recuam 1,6% face a 2015: 7,6%]
Procura interna: 2,4% [cresce 0,2% face a 2015: 2,2%]
Procura externa líquida (exportações-importações]: melhora de -0,7% para -0,3%

* No privado, pelo contrário, haverá contenção salarial e menor custo unitário por unidade de PIB. É assim que traduzimos esta frase sibilina de Mário Centeno: "No setor privado, a moderação salarial e a evolução positiva da produtividade, permitirão que os custos unitários do trabalho evoluam em linha com os dos principais parceiros comerciais, mantendo a competitividade das exportações nacionais."]

Outra asserção sibilina: "O Plano Orçamental apresenta uma saudável recomposição das receitas fiscais com a diminuição do peso dos impostos diretos, cuja receita diminui 3,4%, e aumento de 5,8% do peso dos impostos indiretos." Os impostos indiretos atingem sobretudo a aquisição de bens e serviços, ou seja, o consumo conspícuo (fiscalidade saudável), mas também os fatores de produção como o gasóleo e demais produtos petrolíferos, eletricidade, farinhas, circulação de pessoas, bens e serviços, etc. (ou seja, uma fiscalidade parasitária que atrofia o PIB potencial e a competitividade externa da economia). Já os impostos diretos, além de mais transparentes, podem gerar maior justiça fiscal e eficácia estratégica na economia.



source: tradingeconomics.com


Portugal GDP Annual Growth Rate  Forecast 2016-2020
GDP Annual Growth Rate in Portugal is expected to be 1.40 percent by the end of this quarter, according to Trading Economics global macro models and analysts expectations. Looking forward, we estimate GDP Annual Growth Rate in Portugal to stand at 1.02 in 12 months time. In the long-term, the Portugal GDP Annual Growth Rate is projected to trend around 1.27 percent in 2020, according to our econometric models.

terça-feira, janeiro 12, 2016

Calote ou restruturação suave?

Christine Lagarde
Foto: AFP/ Getty images

Os principais credores institucionais levam Portugal ao colo


Bruxelas aprova por mais seis meses regime português de apoio à banca 
Correio da Manhã/Lusa, 12.01.2016  11:23 
A Comissão Europeia voltou hoje a prolongar, por mais seis meses e até 30 de junho, o regime excecional de apoio às instituições financeiras em Portugal, criado há quase oito anos devido à crise. Desde a sua criação, em outubro de 2008, a medida de ajuda à banca foi prolongada várias vezes, a última das quais a 22 de julho de 2015, tendo agora sido prorrogada até 30 de junho próximo, anunciou o executivo comunitário. Em comunicado, a Comissão Europeia considera que o regime se enquadra nas ajudas de Estado a instituições bancárias devido à crise e que a extensão da medida está bem dirigida, proporcionada e limitada no tempo e no seu raio de ação. 
FMI: dívida pública deveria ter sido reestruturada 
Observador, 20/12/2015, 11:03 
O Fundo Monetário Internacional (FMI) assumiu, num relatório divulgado durante esta semana, que os programas de ajustamento implementados pela troika nos últimos sete anos em países como Portugal, tiveram várias falhas. No caso português, a principal falha apontada é o facto de não se ter considerado a possibilidade de uma restruturação da dívida pública.
FMI admite que programa de ajustamento pode ter aumentado dívida acima do esperado  
LUSA, 16 de dezembro de 2015, às 21:20 
Num relatório de avaliação de programas de resgate financeiro em 27 países iniciados entre 2008 e 2013 divulgado hoje, o Fundo Monetário Internacional (FMI) afirma que “o efeito de contração da consolidação orçamental na procura pode ter contribuído, com outros fatores, para aumentar o rácio de dívida pública face ao PIB [Produto Interno Bruto] mais do que o esperado no curto prazo”. 
Esse é o caso de Portugal, um dos países analisados neste relatório, indicando o Fundo que “esta tendência foi exacerbada devido a custos de recapitalização da banca”, bem como “da reclassificação da dívida de empresas públicas que estavam anteriormente fora do perímetro das administrações públicas”. 
BCE anuncia programa alargado de aquisição de ativos
BCE, 22 de janeiro de 2015

O BCE alarga as aquisições a obrigações emitidas por administrações centrais da área do euro, organismos e instituições europeias. 
O valor combinado mensal das aquisições de ativos ascenderá a €60 mil milhões. 
As aquisições realizar-se-ão, pelo menos, até setembro de 2016. 
O programa foi concebido para cumprimento do mandato de manutenção da estabilidade de preços. 
O Conselho do Banco Central Europeu (BCE) anunciou hoje um programa de aquisição de ativos de âmbito alargado, o qual visa assegurar o cumprimento do mandato do BCE de manter a estabilidade de preços e implica a adição de um programa de aquisição de obrigações de dívida pública aos já existentes programas de aquisição de ativos do setor privado, com vista a fazer face aos riscos de um período demasiado prolongado de inflação baixa. 
O Conselho do BCE tomou esta decisão perante uma situação em que a maioria dos indicadores da inflação observada e esperada na área do euro apresentava uma tendência para mínimos históricos. Como potenciais efeitos de segunda ordem na fixação de salários e preços ameaçavam afetar negativamente a evolução dos preços no médio prazo, a situação exigia uma resposta vigorosa em termos de política monetária. 

A restruturação suave da dívida portuguesa soma e segue.

Desde 2012 que Christine Lagarde e Olivier Blanchard (1) (2) vêm reconhecendo erros na política de austeridade aplicada ao seus sócios, nomeadamente a Portugal. Talvez por isto o FMI acabou por aceitar sucessivas trocas de dívida cara por dívida barata e alongamentos nas maturidades, propostos pelos gestores da dívida portuguesa.

De algum modo esta correção resulta do murro na mesa dado por Mario Draghi em 24 de julho de 2012 numa aparente declaração de guerra contra os grandes especuladores, sobretudo americanos, que têm atacado o euro:

‘Within our mandate, the ECB is ready to do whatever it takes to preserve the euro. And believe me, it will be enough.’/ ECB

Em 22 de janeiro de 2015 o BCE, depois de baixar sucessivamente a taxa de juro de referência, anunciou um programa alargado de aquisição de ativos, condição sine qua non para países como Portugal continuarem a aceder aos mercados da dívida soberana em condições sustentáveis. Já não bastavam os juros negativos introduzidos pelo BCE em 11 de junho de 2014!

O que não deixa de ser muito engraçado é o silêncio dos nossos macro-economistas. Ressaltam como especialmente patéticos os silêncios do PS, do PCP e do Bloco, nomeadamente os silêncios de Mário Centeno, de Eugénio Rosa, e de Mariana Mortágua. Engoliram mais um sapo, foi?

A verdade é que este enorme alívio dado pelo FMI, mas também pela Comissão Europeia e pelo BCE, ao governo de António Costa, um governo, recorde-se, suportado pelo PCP e pelo Bloco de Esquerda sempre que for conveniente aumentar a despesa pública ou os impostos, e pelo PSD sempre que for preciso forçar os contribuintes a engolirem elefantes bancários, cria todas as condições para, talvez pela última vez, acertarmos o passo com as nossas capacidade produtivas e riqueza realmente acumulada.

Daqui ao Orçamento 2016, e deste até ao fim da legislatura, nenhum partido com assento parlamentar poderá queixar-se da União Europeia, nem do FMI para desculpar erros próprios, ou a mais do que provável prossecução aventureira de receitas neo-neo-keynesianas, de que mais um embuste —o da falsa arborização da Segunda Circular— é já exemplo do provável regresso fatal ao lugar do crime.

Uma restruturação plena implicaria a renúncia efetiva de uma parte da dívida, e um 'haircut' junto dos detentores de instrumentos de dívida soberana portuguesa.

Esta medida, sempre defendida pelo Bloco de Esquerda (o PCP vai mais longe: defende a saída do euro!) foi sucessivamente rejeitada pelo PS, PSD e CDS. Daí que possamos falar de uma restruturação suave da nossa dívida, obtida à custa da queda das taxas de juro, dos alongamentos das maturidades, e da troca de dívida cara por dívida barata, mas também sob a proteção permanente dos nossos principais credores institucionais: o BCE e o FMI.

Quanto à austeridade, duvido que uma restruturação da gigantesca dívida portuguesa a evitasse.

O resultado da ilusão populista é a desgraça que continua a desfazer a Grécia. Seguiu, como todos sabemos, a via das restruturações sanguíneas. Entre nós, o preço de mais uma rodada de centralismo burocrático e demagogia esquerdista será bem pior do que a austeridade.

Apesar de suave, a restruturação em curso daquela que é uma das maiores dívidas soberanas do planeta, não deixará de capturar uma parte decisiva da nossa soberania, como se tem visto na alienação acelerada do sistema financeiro e bancário e em vários setores estratégicos da economia: energia, água, transportes e o mais que veremos durante o governo de António Costa.


NOTAS

  1. IMF/ World Economic Outlook/ "Coping with High Debt and Sluggish Growth", October 2012 (pdf)
  2. IMF Working Paper, "Growth Forecast Errors and Fiscal Multipliers2, January 2013
    By Olivier Blanchard and Daniel Leigh (pdf)

domingo, janeiro 10, 2016

O sinaleiro presidencial

Américo Thomaz, presidente da república portuguesa de 1958 a 1974, conhecido como o 'corta-fitas'

A nossa democracia tem vindo a perder sucessivos graus de liberdade


Com o fim à vista da essência do regime saído da Constituição de 1975, o parlamento vai tornar-se o refúgio democrático de um país onde o poder essencial de decidir o que é importante emigrou para Bruxelas, Estrasburgo e Frankfurt.

Desta circunstância ao embaciamento do cargo de presidente da república foi o passo de uma vigência: a do último mandato de Aníbal Cavaco Silva. Mesmo que Marcelo Rebelo de Sousa, o previsível próximo presidente, consiga promover uma grande coligação à portuguesa, a qual, na realidade, há muito existe e voltou a verificar-se no resgate público do Banif e na subsequente aprovação do orçamento retificativo (o PSD apoiou o PS, votando a favor ou abstendo-se, e depois deste passo garantido, o PCP e o Bloco puderam votar contra em nome das suas cada vez menos convincentes aparências), a abertura futura para acordos de regime orientados para a sobrevivência dos poucos graus de liberdade que ainda nos restam, ainda que necessária e urgente, já pouco poderá fazer pelo poder das elites nacionais. Daí a situação de impasse em que nos encontramos. O próximo presidente da república, mantendo embora os poderes da representação simbólica, da palavra, da chefia suprema das forças armadas, do veto constitucional e da dissolução do parlamento, será cada vez menos capaz de impor soluções às crises políticas que aí vêm. Estas, ou se resolvem no quadro parlamentar, ou terão que ser dirimidas em sucessivas eleições e referendos.

Nada impede, porém, num quadro extremo de degradação insanável da situação política, que os futuros presidentes da república, esgotada a capacidade de promover o diálogo institucional, e perante impasses perigosos, como aquele que poderia ter existido depois das últimas eleições legislativas, mas que acabou por se resolver matando uma convenção não escrita sobre quem deve governar depois de umas eleições legislativas, não use a palavra e a comunicação direta com o povo —i.e. as suas forças vivas— para promover governos de iniciativa presidencial. Seria sempre uma ultima ratio, mas o espaço para esta emergência existe, tem toda a legitimidade constitucional, e porque assim é, não se pode afirmar que o semi-presidencialismo tenha desaparecido. Serão mais os governos a depender do parlamento, do que o presidente a depender de ambos.

Se o próximo presidente vier a promover uma maior e mais isenta relação entre eleitos e eleitores, tornar-se-à então mais verosímil a emergência de uma nova balança institucional entre políticos, partidos políticos, parlamento, governo e presidência da república na sua relação democrática com o povo que a todos legitima direta ou indiretamente.

Profetizar que os próximos presidentes da república não passarão de sinaleiros do regime não chega para transformá-los em figuras decorativas do regime, como Américo Thomaz foi para Salazar e Marcello Caetano.

sábado, janeiro 09, 2016

A dívida crescerá em 2016, e o resto?


source: tradingeconomics.com

Em 2030 Portugal terá menos 529 mil residentes*. Vamos crescer como?


O Deutsche Bank tinha em dezembro de 2013 uma exposição ao buraco negro de derivados financeiros na ordem dos 54,7 biliões de euros (54,7x10E12), isto é, 19x o PIB da Alemanha! (1)

Só para termos uma ideia ainda mais dramática do problema, o PIB mundial em 2014 andou pelos 68 biliões de euros.

A fraude ambiental da Volkswagen pode ter sido o cisne negro que levou o sistema financeiro global dar mais um forte sinal de que caminha rapidamente em direção a um novo colapso.

Os sinais dados pela China desde o verão passado são evidentes.

Em suma, o ambiente externo favorece tudo menos a resolução dos nossos problemas.

O crescimento que António Costa, apoiado por Catarina Martins e Jerónimo de Sousa defendem, não existe, nem existirá tão cedo.

Haverá mais défice (ainda que parte dele seja ‘neutralizado’ com o apoio da CE e do BCE). E assim sendo pergunta-se: como iremos resolver o problema da nossa colossal dívida pública, quando em 2016 já se prevê (2) um novo endividamento junto dos mercados (garantidos pelo BCE, é preciso sublinhá-lo) na ordem dos 21,7 mil milhões de euros, 7 mil milhões dos quais destinados a financiar as necessidades líquidas do Estado, nomeadamente com o Novo Banco, o Banif, e a chamada “viragem da página da austeridade”?

É que com taxas médias crescimento 1,02% no final de 2016, e de 1,27% em 2020 [Trading Economics], e uma dívida a pagar taxas de juro médio acima dos 2%, estaremos cada vez mais entalados.

E entalados, neste caso, significa:

1) subordinação quase completa às exigências dos credores, a começar pelo BCE e Comissão Europeia;

2) insolvência crescente do nosso sistema financeiro e a consequente alienação do mesmo ao casino dos tubarões financeiros globais;

3) definhamento acelerado da grande burguesia nacional e dos seus grupos económicos;

4) novos apertos fiscais;

5) deterioração contínua do estado social apesar do aumento da despesa pública;

6) e o perigo de entrarmos num período de grande instabilidade política e social.

Convinha que a esquerda dissesse o que efetivamente quer, e como pretende atingir os seus objetivos estratégicos, se é que os tem.


* — Portugal, residentes

10.562.178 (INE, Censos 2011)
10.374.822 (INE, 2014)

United Nations
World Population Prospects; The 2015 Revision
Portugal

10.175.000 (UN, previsão elevada para 2030) | 2014 > 2030: -199 mil
  9.845.000 (UN, previsão média para 2030) | 2014 > 2030: -529 mil
  9.515.000 (UN, previsão baixa para 2030) | 2014 > 2030: -859 mil


NOTAS

  1. Notional amounts and gross market values of derivatives transaction, dec. 31, 2013. Zero Hedge.
  2. Estado prevê emitir até 20 mil milhões de euros em Obrigações do Tesouro este ano / 07 Jan 2016 Económico; IGCP quer até 20 mil milhões com obrigações em 2016 / 07 Janeiro 2016, 15:19 Jornal de Negócios.

Atualização: 18/01/2016 19:47 WET

sexta-feira, janeiro 08, 2016

Banca portuguesa por um fio

FOTO PAULO DUARTE / GLOBAL IMAGENS

António Costa diz que Fundo de Resolução não tem dinheiro


Agora percebe-se porque carga d'água Cavaco não viabilizou o governo de gestão do PàF, e deu posse a um governo do PS apoiado por comunistas de todas as cores. É que um governo de gestão não poderia ter tratado do caso Banif nas datas impostas pelo BCE. Faltava-lhe o apoio, ainda que implícito, de todo o parlamento. Ponto.

Foram as implicações da extrema debilidade do sistema bancário português e da insolvência do seu Fundo de Resolução que os banqueiros certamente explicaram a António Costa no célebre almoço do Ritz no dia 16 de novembro último. Não havendo bancos portugueses com recursos suficientes para comprar o Banif (o qual viria a ser saldado por 150 milhões de euros —ou até dado, se a este valor subtrairmos o crédito fiscal do Banif que o Santander herda), a menos que o Banif entrasse diretamente num processo de falência e liquidação, seria absolutamente necessário contar com um governo capaz de tomar decisões pesadas antes do fim do ano — ou seja, institucionalmente apto a resolver o banco, ainda que atirando o preço da operação para os bolsos dos contribuintes. Caso a resolução fosse empurrada até 2016, e uma vez que o Fundo de Resolução estava, e continua, nas lonas, o Banif seria muito provavelmente condenado à falência e liquidação.

Foi isto mesmo que os mesmos banqueiros que almoçaram com António Costa no dia 16 de novembro foram repetir a Cavaco Silva no dia seguinte, quando este os chamou a Belém.

Este cenário, já se si dramático, ficou ainda mais negro quando se soube no dia 8 de dezembro que o ECOFIN aprovara o chamado financiamento ponte no quadro do Fundo Único de Resolução.



08/12/2015 - Statement on Banking Union and bridge financing arrangements for the Single Resolution Fund. ECOFIN Ministers reaffirm the importance of deepening the Banking Union in the context of a well-functioning Economic and Monetary Union. Following the successful establishment of the Single Supervisory Mechanism (SSM), we welcome the forthcoming entry into force of the intergovernmental agreement on the transfer and mutualisation of contributions to the SRF (IGA), which will allow the Single Resolution Fund (SRF) to be fully operational on 1 January 2016. 
In line with the commitment taken in December 2013, Member States participating in the Banking Union agree to put in place a system of bridge financing arrangements in order to ensure sufficient funding to the SRF during the transitional period. As of 2016, each participating Member State will enter into a harmonised Loan Facility Agreement with the Single Resolution Board (SRB), providing a national individual credit line to the SRB to back its national compartment in the SRF in case of possible funding shortfalls following resolution cases of banks of the Member State concerned. With this agreement, participating Member States ensure a credible start of the SRF as of early 2016. 
The maximum aggregate amount of the credit lines of euro area Member States will amount to EUR 55bn, with a repartition key among Member States which follows the 2014 estimates of the Commission for contributions to the SRF. The aggregate amount and the repartition key will be reviewed by the end of 2017 or earlier, if a non-euro area Member State joins the Banking Union. The individual credit lines are to be drawn as a last resort, after having exhausted all other financing sources, including bail-in requirements under the BRRD as well as the steps foreseen under Article 5 of the IGA including the SRB's external borrowing capacity. Such system of national credit lines will ensure the protection of taxpayers and will be fiscally neutral over the medium term, as the banking sector of the Member State concerned will be liable for repayment of the amounts drawn under the credit line. It will ensure equivalent treatment across all Member States participating in the Banking Union in terms of rights and obligations, as well as incurring no costs for Member States not participating in the Banking Union.

Finalmente, quanto ao facto de o Banif ter caído por dez reis de mel coado nos braços do Santander, além do mistério associado à corrida ao banco provocada pela TVI, que falta esclarecer, em vez de ter ido parar às garras do maior fundo abutre do planeta, a Apollo Global Management, LLC. (Link1, Link2), a explicação é simples: só se o BCE fosse doido é que permitira tal movimento em vez de defender um dos grupos financeiros sistémicos da Eurozona, o Grupo Santander (1). Um banco que precisa de reforçar os seus rácios de capital, que já é um dos maiores bancos em Portugal e na Europa, que conhece bem o nosso mercado, e que se dedica à atividade bancária e financeira, nomeadamente através de aquisições sucessivas e da dispersão do capital por inúmeros acionistas de peso, e não tanto à rapina de empresas em dificuldades através dos famosos LBO (Leverage Buyout) seria sempre um opção melhor do que o voo da águia especulativa americana. Além do mais, segundo afirmou António Costa no programa Quadratura do Círculo, e ao contrário do que publica o Expresso de hoje, não houve nenhuma outra proposta vinculativa além da do Santander.

É triste vermos o primeiro ministro de Portugal dar explicações aos portugueses sobre os meandros de uma operação tão complexa quanto dramática pelas repercussões que teve e terá, não numa conferência de imprensa, não numa declaração ao país, complementar da que proferiu aquando da resolução do Banif, mas regressando ao programa televisivo de onde saiu para tomar conta do PS. Um primeiro ministro que se esconde da realidade não oferece confiança (2). Que fará se a crise financeira e bancária continuar em 2016, 2017, 2018, 2019, atingindo, por exemplo, o BCP, o Montepio, e a Caixa? Ficámos a saber que o BCE deu um rebuçado a António Costa pela oferta do Banif ao Santander: um ano mais para vender o Novo Banco. Mas, e se este for um rebuçado envenenado? Ou seja, e se este adiamento da venda do Novo Banco significar tão só inscrever os custos da operação no Orçamento de Estado de 2017?

É triste percebermos até que ponto o grande capitalismo português e os seus bancos, mas também os seus políticos, caminham tão rapidamente para a insignificância e para o desastre. Os graus de liberdade da nossa soberania esfumam-se a cada dia que passa. Não sei porque gritam tanto as araras e os cagarros do Soviete Supremo de São Bento.


ÚLTIMA HORA

António Costa foi dizer à Quadratura do Círculo, em modo informal e pachorrento, o que não poderia ter anunciado de modo mais institucional, nem através do seu ministro das finanças, sob pena de lançar o pânico imediato no país e nos mercados. Mas o pânico acaba de chegar, via Reuters. Qualquer pessoa atenta perguntará: depois de setembro de 2016 (mês em que a janela de generosidade do BCE se fecha) quem estará disposto a financiar países que não respeitam contratos, seja na banca, seja noutros setores? O alerta de maremoto financeiro indígena está dado!

La debacle de Novo Banco dificulta el acceso al mercado de la banca periférica
REUTERS, 9/01/2016 - 12:28 
Los bancos pequeños de la periferia en Europa tendrán dificultades para emitir nueva deuda por las pérdidas que asumirán previsiblemente los inversores con cinco emisiones de deuda senior en Portugal, según expertos que temen ahora un cierre temporal para nuevas emisiones de deuda por parte de entidades de menor tamaño. 
El Banco de Portugal conmocionó al mercado a finales de diciembre al transferir casi 2.000 millones de euros de deuda senior de Novo Banco al banco malo que aglutina los peores activos de Banco Espirito Santo desde su rescate en 2014. Tras el traspaso el valor de los títulos se acercó casi a cero, dejando a los inversores con escasas expectativas para recuperar su dinero. 
“Lo que ha pasado en Portugal dificultará el acceso al mercado de los bancos de segunda fila”, dijo un gestor de fondos. 
“Un inversor puede optar por invertir en un banco más débil o en un banco fuerte como HSBC o Citigroup. ¿Si creo que el año que viene un banco como HSBC no respetaría sus obligaciones de pago con los bonistas? No. ¿Pero un banco italiano de segunda fila?”.

E as notícias sobre a 'banca periférica' correm! Banif, qual foi a pressa? A realidade é como o azeite e os cadáveres: acaba sempre por vir ao de cima.

La banca española pierde 18.000 millones de valor en bolsa en cinco semanas 
El Economico/ EFE (10/01/2016 - 12:40): Los principales bancos españoles cotizados han perdido en poco más de un mes unos 18.000 millones de euros en capitalización bursátil, que se han esfumado, entre otras razones, por el descalabro de las bolsas chinas, la caída del precio del crudo y las tibias medidas anunciadas en diciembre por el BCE. 
Según datos del mercado, en sólo cinco semanas el valor bursátil conjunto de estas entidades -Santander, BBVA, CaixaBank, Bankia, Popular, Sabadell y Bankinter- ha pasado de 164.204 millones de euros a 146.293 millones 
La pérdida de capitalización ha sido muy desigual entre las entidades, siendo el Santander el que más se ha dejado en el camino con una reducción de su valor en bolsa de 14.671 millones de euros.  

NOTAS
  1. ¿Quiénes son los verdaderos dueños de Banco Santander? Francisco S. Jiménez - 16/01/2015, in Dirigentes_digital
    ¿Cómo es posible, que primero Emilio Botín, y luego Ana Patricia Botín, controlen con mano de hierro uno de los mayores bancos de Europa, cuando la familia apenas tienen un 0,77% de capital de la entidad? 
  2. Ouvido o programa da íntegra, há que reconhecer que as explicações dadas por António Costa clarificam a decisão tomada pelo Banco de Portugal, e pelo Governo in extremis. Só falta mesmo saber, e isso o Primeiro Ministro não explicou, porque não foi a resolução executada no dia 3 de janeiro de 2016. À luz do Mecanismo Único de Resolução e do chamado investimento ponte não se teria mitigado o novo rombo nas finanças públicas que todos teremos que pagar?
Atualização: 10 jan 2016 12:57

quarta-feira, janeiro 06, 2016

Aviões e comboios, o que está a mudar





As Low Cost fizeram mais por nós numa década, do que trinta anos de ronha e corrupção indígenas


Aeroporto do Porto prevê duplicar movimentos até 2022 
O aeroporto do Porto prevê continuar a aumentar o seu tráfego sustentadamente nos próximos anos. Em 2015 deverá ter um tráfego de 8 milhões de passageiros.
Se na última década o Aeroporto Francisco Sá Carneiro quadriplicou o número de passageiros, de cerca de dois milhões para os oitos milhões, os planos futuros são para duplicar os movimentos até 2022 bem como o volume de passageiros. 
Low Cost Portugal

As Low Cost fizeram mais pelo turismo do Porto em dez anos do que o ICEP em trinta. Deram ainda origem a uma actividade económica de 500 milhões de euros/ano. No aeroporto Sá Carneiro os passageiros em 2015 chegarão aos 8 milhões. Em 2022 deverão chegar aos 16 milhões. É obra!

Se houvesse um comboio de Alta Velocidade entre Vigo e Porto (já há 10 comboios/dia ligando Corunha, Santiago, Pontevedra e Vigo, em 01h23mn), então sim, o Sá Carneiro seria definitivamente o grande aeroporto do noroeste peninsular.

Quem andou e continua a sabotar o desenvolvimento do norte de Portugal?

Já agora, sobre o Aeroporto da Portela convém alertar para a besteira que a ANA-Vinci tem vindo a propagandear: destruir a Pista 17-35 em nome de mais espaço para estacionar a frota parada da TAP.

Esta pista permite ao aeroporto de Lisboa, onde são frequentes ventos cruzados, funcionar 365 dias por ano. Quando a ANA-Vinci afirma que 'no ano passado' (2014) apenas 0,89% dos movimentos utilizaram esta pista, ainda assim estamos a falar de pelo menos 160 mil passageiros que evitaram atrasos escusados (por haver precisamente a Pista 17-35) num aeroporto que é dos mais pontuais e mais seguros da Europa. Sempre quero ver até onde António Costa irá permitir esta liquidação apressada de um dos principais ativos do aeroporto da capital: a segurança.


Uma ilha ferroviária chamada Portugal

La alta velocidad llegará este jueves a Salamanca y Zamora 
Zamora y Salamanca contarán desde este jueves 17 de diciembre con Alta Velocidad. En plena cuenta atrás para la Navidad, la operadora Renfe ya ha puesto a la venta los billetes para los nuevos trenes Alvia que unirán a Salamanca con Madrid en 1 hora y 36 minutos -63 minutos menos que el trayecto habitual- y a Zamora con la capital den 1 hora y 33 minutos -22 menos que los actuales-. 
ABC, 16/12/2015 a las 09:29:49h. - Act. a las 19:03:07h.

Algumas centenas de milhar de portugueses ficarão mais perto de Madrid a partir deste mês de janeiro de 2016, sem precisar de passar pelo Porto ou Lisboa.

Os gabirus de Lisboa, como sempre, andaram a dormir, ou entretidos a sacar PPPs ao bruto indígena, com a colaboração prestimosa das araras e cagarros do Terreiro do Paço e São Bento.

Como se algo faltasse, o Santander-Totta, depois de meter o Banif no bolso por um pacote de amendoins (Obrigado Costa! Obrigado Pedro! Obrigado Jerónimo! Obrigado Catarina!), prepara-se para o próximo assalto, chamado... BES, ou melhor, Novo Banco.

Entretanto, o Soviete Supremo de São Bento deu ao novo ministério das infra-estruturas e do planeamento um ano (um ano, caramba!) para definir uma política de transporte ferroviário para Portugal. Pelos vistos, não existia. Fantástico, Mike!

Para mais tarde recordar...

Diário da República, 1.ª série — N.º 253 — 29 de dezembro de 2015  
ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA 
Resolução da Assembleia da República n.º 148/2015  
Plano Ferroviário Nacional  
A Assembleia da República resolve, nos termos do n.º 5 do artigo 166.º da Constituição, recomendar ao Governo a apresentação à Assembleia da República, no prazo de um ano, de um documento estratégico para o sistema ferroviário, que vise a promoção da mobilidade dos passageiros e das mercadorias, o qual servirá de base, num prazo breve e exequível, a um Plano Ferroviário Nacional, que tenha por orientação a requalificação e reabilitação da rede ferroviária e se traduza em princípios de sustentabilidade articulando os diversos sistemas de transportes e assente num modelo em rede, que inclua, defina e assegure: 
a) As linhas, ramais e trajetos interligados;
b) As linhas ferroviárias vocacionadas para abranger o território nacional;
c) As linhas ferroviárias vocacionadas para abranger os territórios regionais;
d) As linhas ferroviárias vocacionadas para assegurar as ligações transfronteiriças e ibéricas;
e) As linhas vocacionadas para assegurar a ligação transeuropeia;
f) As linhas ferroviárias vocacionadas para garantir os “hinterlands” portuários atlânticos e aeroportuários;
g) As linhas ferroviárias de vocação metropolitana e de vocação urbana;
h) As linhas ferroviárias e os ramais com elevado potencial de desenvolvimento territorial, incluindo turístico, no acesso a determinadas regiões;
i) A ligação progressiva a todas as capitais de distrito do território continental;
j) A conexão da rede ferroviária com outros meios de transportes, designadamente à escala local;
k) A ligação das áreas metropolitanas com os sistemas urbanos e o desenvolvimento de sistemas ferroviários ligeiros nas principais áreas urbanas;
l) Os subsistemas de ligação regional e urbana;
m) A intermodalidade entre os vários sistemas de transporte de passageiros e de mercadorias através de interligações entre os principais portos, aeroportos e fronteiras terrestres;
n) A interoperabilidade entre as redes ferroviárias, nomeadamente a articulação de linhas de bitola ibérica e da União Internacional de Caminhos -de -Ferro (UIC);
o) O planeamento, tendo em consideração o que acontece em Espanha, da construção de novas ligações ferroviárias internacionais, em bitola UIC, para o transporte misto de passageiros e mercadorias;
p) Um plano de investimentos plurianual que garanta a urgência do reforço da rede ferroviária nacional;
q) O desenvolvimento das componentes de manutenção e construção de veículos de transporte ferroviário, com base no reforço das competências e do know -how especí- fico existente na Empresa de Manutenção de Equipamento Ferroviário (EMEF), S. A., empresa pública.  
Aprovada em 27 de novembro de 2015.  
O Presidente da Assembleia da República, Eduardo Ferro Rodrigues.

segunda-feira, janeiro 04, 2016

Dívidas soberanas já não pagam juros

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A falência do neo-keynesianismo soma e segue


Government bond yields remain in negative territory. As of December 14, over 50% of European government bonds maturing in less than five years had a negative yield, roughly the same as in the run-up to the launch of ECB QE in March. Two-year government bond yields were generally lower on the year, despite some rebound after aggressively pricing further ECB easing ahead of the December meeting. (The German two-year yield, for example, bottomed out at -0.44% on December 2.) Looking beyond Europe, roughly half of two-year government bonds in the developed world trades at a negative yield. 
Sovereigns have issued debt at record-low—or altogether negative—yields. In April, Switzerland became the first country to issue 10-year government bonds at a negative yield; other governments did the same at shorter maturities. 
“What Does The Future Hold For Negative Rates In Europe? Goldman Answers”
ZeroHedge. Submitted by Tyler Durden on 01/02/2016 20:00 -0500

Os depósitos são um custo para os bancos, o qual, se não fosse contrabalançado com empréstimos a clientes e outras operações de crédito, acabaria por levá-los à falência.

O sobre-endividamento das pessoas, das empresas e dos governos que continuaram a investir (e sobretudo a especular) e a consumir, sem ao mesmo tempo produzirem o contra-valor equivalente ao gasto e às responsabilidades contraídas, acabou por explodir numa crise económico-financeira generalizada, a qual curto-circuitou os binómios procura-oferta (a procura caiu e continua a cair), investimento-lucro (ambos foram sucessivamente caindo) e produção-consumo (a queda de ambos gerou deflação).

Daqui à situação paradoxal em que os bancos centrais e de retalho hoje se encontram —ambos cobram taxas de juro crescentes pelos depósitos à vista, e de curto prazo— foi um passo.

Um passo que, por sua vez, atinge criticamente a poupança, ferindo de modo cada vez mais preocupante os fundos de pensões públicos e privados, em especial se, imprudentemente, estes tentaram iludir a destruição das rendas e dos juros jogando no casino dos derivados especulativos e outros produtos financeiros de risco elevado.

75% da reserva do Fundo de Pensões português já foi aplicado em dívida pública portuguesa.

Uma vez que a rentabilidade (yield) da dívida soberana portuguesa tem vindo a cair, quem nela investiu para obter algum rendimento (nomeadamente fundos de pensões e bancos) será sucessivamente penalizado. No caso dos fundos de pensões e de alguns bancos portugueses esta exposição ao endividamento compulsivo de um estado social que deixou de gerar riqueza e poupança suficientes, e portanto à insolvência potencial de governos e municípios, transformou-se numa serpente que morde a própria cauda. A poupança é engolida pela dívida pública em nome da sustentação de um estado social que devora essa mesma poupança e, pior ainda, que extingue a própria capacidade de a gerar. O fascismo fiscal em curso é a foice que, se não for afastada, acabará por ceifar rente o estado social que as esquerdas diariamente e aos gritos afirmam defender.

A rentabilidade das dívidas soberanas já é negativa no caso de obrigações públicas de curto prazo em países como a Alemanha (-0.44% nas obrigações a dois anos emitidas a 2 dezembro de 2015).

Resumindo: os estímulos neo-keynesianos são cada vez menos eficazes. Nem a deflação passa, nem o crescimento saudável regressa. E assim sendo, a bolha monetária, ou seja, a destruição do dinheiro, prosseguirá em direção ao mais completo desastre se não formos capazes de achar alternativas construtivas. O buraco negro existe, e já começámos a ser sugados para o seu infinito âmago.

sexta-feira, janeiro 01, 2016

Que mudou de 2015 para 2016?

Catarina Martins
Foto: Miguel Manso/ Público (2015)

Um ano que abalou Portugal


2015: os cinco colapsos
  1. Uma Banca cada vez menos portuguesa, dominada pelo BCE e por duas mulheres: Isabel dos Santos (BCP, BPI) e Ana Botin (dona do Santander/Santander-Totta/Banif). Teorias da conspiração à parte, o Santander detinha, em 2015, 4,6% do Grupo Prisa (Media Capital/TVI);
  2. O fim da bolha imobiliária fez enormes estragos na banca e nos grandes grupos económicos indígenas, sobretudo nos da construção civil;
  3. O Bloco Central, como se previa, desapareceu. Falta saber o que virá a seguir; dois casos de estudo: Bloco de Esquerda e CDS/PP;
  4. A indústria jornalística (Sol, i, Diário Económico, Público...) sofreu um tombo provavelmente irrecuperável; 
  5. A personalidade portuguesa do ano é: Catarina Martins.

2016
  1. Marcelo Rebelo de Sousa será eleito à primeira volta;
  2. A banca portuguesa continuará com graves problemas, nomeadamente no BCP e no Montepio (e a Caixa, a ver vamos). A soberania bancária continuará a perder graus de liberdade para o BCE e para a União Bancária (Fundo Único de Resolução, Mecanismo Único de Resolução e Sistema Único de Supervisão);
  3. O crescimento será anémico, quer o OE 2016 tente, ou não, estimular o PIB através do consumo (i..e de mais importações/ endividamento externo);
  4. A crise do estado social agravar-se-à entre episódios jornalísticos mais ou menos recorrentes, e muito ruído partidário, ou seja, a austeridade do tempo novo, a austeridade de esquerda, não será muito diferente da que a precedeu, nem menos escandalosa — a resolução do Banif e o Orçamento Retificativo deram o tom nos últimos dias de 2015;
  5. O Bloco de Esquerda poderá, em breve, exigir ao PS a sua entrada no Governo, deixando o PCP entalado entre a sua necessidade de sobreviver e o pânico de mudar o seu obsoleto registo ideológico, programático e estratégico.
  6. Todo o sistema partidário que nos conduziu à desgraça está em estado de choque, pelo que ou muda ou morre. O pontapé de saída foi dado por Catarina Martins, seguido pelo PCP e por António Costa. Pedo Passos Coelho despediu o CDS/PP, e Paulo Portas sai cautelosamente de cena, abrindo as portas a (espera-se) Assunção Cristas. Aggiornamento!

Banif, se fosse hoje....

Mecanismo Único de Resolução
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O que muda para os depositantes com as novas regras de resgate dos bancos?Público, 01/01/2016 - 08:15 
A partir de 1 de Janeiro, os depositantes acima de 100 mil euros podem ser chamados a assumir perdas quando um banco for resgatado. O que está em jogo com as novas regras europeias? Quinze respostas sobre o mecanismo único de resolução.

Notícia ou cortina de fumo? Falta o essencial que determinou o resgate público do Banif, que assim não seria se ocorresse hoje, dia 1 de janeiro de 2016. Chama-se 'financiamento ponte', a cargo dos bolsos dos causadores principais do colapso bancário em curso: os bancos!

On 8 December 2015, ministers issued the following statement: 
ECOFIN Ministers reaffirm the importance of deepening the Banking Union in the context of a well-functioning Economic and Monetary Union. Following the successful establishment of the Single Supervisory Mechanism (SSM), we welcome the forthcoming entry into force of the intergovernmental agreement on the transfer and mutualisation of contributions to the SRF (IGA), which will allow the Single Resolution Fund (SRF) to be fully operational on 1 January 2016. 
In line with the commitment taken in December 2013, Member States participating in the Banking Union agree to put in place a system of bridge financing arrangements in order to ensure sufficient funding to the SRF during the transitional period. As of 2016, each participating Member State will enter into a harmonised Loan Facility Agreement with the Single Resolution Board (SRB), providing a national individual credit line to the SRB to back its national compartment in the SRF in case of possible funding shortfalls following resolution cases of banks of the Member State concerned. With this agreement, participating Member States ensure a credible start of the SRF as of early 2016. 
—in European Council/ Council of the European Union, Statement on Banking Union and bridge financing arrangements for the Single Resolution Fund / 08/12/2015 10:20 Statements and remarks 884/15 Economy & finance.