segunda-feira, maio 22, 2017

Europa alivia castigo


source: tradingeconomics.com

A dívida continua alta, mas o país começou a crescer em 2013...

“O Governo saúda esta decisão. Portugal trabalhou arduamente para alcançar este resultado e dará seguimento a este trabalho para melhorar as perspetivas da economia e da sociedade portuguesas. Esta decisão é um momento de viragem na medida em que expressa a avaliação da Comissão de que o défice orçamental excessivo de Portugal foi corrigido de forma sustentável e duradoura” — in Dinheiro Vivo, 22/6/2017.

Se isto não é reconhecer os méritos da Troika, de Passos Coelho/Paulo Portas, e a confirmação de que António Costa/Centeno prosseguiram um programa de austeridade (ainda que mais leve e compensado por uma devolução de rendimentos aos funcionários públicos e pensionistas), não sei o que é.

Estão todos de parabéns, senhores deputados e governos, apesar do que doeu à maioria de nós. Até o PCP e o Bloco, afinal, acabaram por baixar os braços. Ainda bem.

Já agora, reparem como o gráfico acima desmente a basófia da Geringonça quando faz propaganda sobre os méritos da recuperação do país. Foram os portugueses que, apertados pelo garrote dos credores, reagiram em uníssono!

POST SCRIPTUM
Maria Luís Albuquerque não deixa os créditos por mãos alheias e avisa...
“Tivesse Portugal sido governado entre 2011 e 2015 por quem tanto enalteceu o Siryza e estaríamos em apuros semelhantes.” 
“A explicação para o crescimento nos países que, tal como nós, ultrapassaram com sucesso a fase mais difícil do ajustamento é semelhante à que se aplica a nós. A conjuntura externa é favorável e as reformas empreendidas estão a dar frutos. 
(...) 
Onde está a alternativa, afinal? Houve reposição mais rápida de rendimentos a alguns — trabalhadores do sector público com salário superior a 1500€, acompanhada de um aumento do salário mínimo e de um aumento, mínimo, diga-se, nas pensões. Mas ao mesmo tempo aumentaram os impostos indiretos que afetam todos independentemente do seu nível de rendimento, incluindo aqueles que nunca tiveram reduções de rendimento por este ser muito baixo e que se vêem sem aumentos há anos de mais. A sobretaxa do IRS, que ia desaparecer por ser inaceitável o “esbulho fiscal”, continua cá para a classe média, e vai continuar. A austeridade para os serviços públicos agravou-se — veja-se o regresso aos pagamentos em atraso no SNS — e os cortes nunca foram tão fundos e tão cegos. O controlo do défice passou a ser a prioridade das prioridades e parece que afinal é possível crescer sem reestruturar a dívida. E o crescimento é impulsionado pelas exportações, ou seja, pelo rendimento dos estrangeiros. Para modelo de esquerda para lá da retórica não está nada mal. Para a alternativa reclamada é que parece faltarem alguns quesitos... 
(...) 
Ouve-se, com orgulho, que os resultados da Educação em Portugal nunca foram tão bons como os relativos a 2015, com o reconhecimento que tal implica do acerto das políticas seguidas. A maioria que governa o país arrasa com todas essas reformas e rompe com o modelo que provou estar certo. Os prejudicados são, como sempre, os que menos alternativas têm. Onde está a exigência de um acordo duradouro para a Educação, que nada mude sem avaliar os resultados do que foi feito? 
A descida consistente do desemprego desde 2013 deve-se inegavelmente à reforma laboral, feita em acordo com os parceiros sociais. Se o que foi feito deu evidentes bons resultados, importaria continuar, não? Não. Nem se ouve falar no assunto, para lá dos protestos fingidos de PCP e BE que supostamente reclamam pela sua reversão.”   
— in Público, 22/5/2017  

Há, porém, outras formas de olhar para as estatísticas de sucesso que alegraram Costa e Centeno. O post de Pedro Romano no blogue Desvio Colossal é, a este respeito, do mais sensato que li nestes últimos dias.
Uma explicação trivial (mas palavrosa) para o maior crescimento económico do milénio  
Maio 18 by pedro romano/ Desvio Colossal 
O crescimento do PIB de 2,8% – o ritmo mais alto do século, como as televisões não se cansam de repetir – deixou muita gente surpreendida, algumas pessoas radiantes e outras naturalmente desgostosas. A surpresa é justificada, porque nas análises que fui lendo nos últimos tempos não havia nada que sugerisse uma aceleração tão forte. Mas penso que a ‘explicação’ para este crescimento, se é que assim lhe podemos chamar, é mais prosaica do que se presume. (...)  

Se o PIB cresceu nos últimos anos e a produtividade estagnou, isso significa que toda o crescimento resulta da expansão do emprego. Isso torna a coisa mais trivial, porque tira logo de cena toda aquela conversa interessante acerca dos “novos processos produtivos”, a “reorientação do tecido económico”, “subidas na cadeia de valor” e por aí fora. Mas também nos facilita imenso a vida: para explicar o crescimento do PIB, basta-nos explicar o crescimento do emprego. (...) 
(Se) o contributo da produtividade para este crescimento é virtualmente nulo, (...) tudo se resume a saber se este ritmo de criação de emprego pode ser mantido. A curto e médio prazo, a resposta sensata é: não sabemos. Tudo depende dos factores – internos e externos (como estes) que condicionam a necessidade das empresas de contratar mais ou menos trabalhadores. Não faço ideia de como evoluir estas condições, mas parece-me que não há razões a priori para se antecipar uma grande travagem (ou, em sentido contrário, uma grande aceleração). 
Mas, no longo prazo, é óbvio que os números desta ordem não serão mantidos. Por uma razão simples: o que está a acontecer desde 2013 é uma recuperação cíclica – as pessoas que perderam os seus empregos estão agora a fazer o percurso inverso, passando do desemprego para o emprego. E há um limite até onde este processo pode ser levado, que é determinado (surpresa!) pelo número de desempregados.

Atualizado em 22/5/2017, 23:39 WET

domingo, maio 21, 2017

O tigre português

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Afinal, não é só turismo, nem vistos gold. 


boom das exportações e do investimento produtivo que aflui agora abundantemente ao país (1) assenta em vantagens competitivas geradas desde o final século passado, e de que a aposta na formação, o domínio crescente de línguas estrangeiras (sobretudo inglês e francês) e os preços competitivos da propriedade e do trabalho acabam por ser decisivas na hora de combater uma profundíssima crise económica e financeira, ou pelo menos, de reagir aos seus efeitos mais nefastos com as armas que melhor dominamos: dar corda aos sapatos quando é preciso!

Centenas de milhar de portugueses emigraram para não deixar de pagar as suas hipotecas imobiliárias, em vez de ocuparem as praças do país ao som dos megafones populistas da desgraça. Mais, para muitos deles não se trata já de emigrar, mas de assumir a Europa e o Mundo como um espaço comum, e Portugal a sua casa de férias. Deixando para trás a endogamia própria dos pequenos países, centenas de milhar de portugueses (a diáspora portuguesa conta com mais de dois milhões de almas) aprenderam a dominar os idiomas do mundo, e a competir segundo as regras da globalização, mas também da transparência e da verdadeira igualdade de oportunidades. A pouco e pouco estas jovens gerações trazem a lição de volta ao país que os viu nascer e partir. O sucesso sem precedentes de muitos deles (2) é conhecido, e muitos mais há sem o mesmo protagonismo público.

Por cá, a Justiça e os políticos têm começado a expulsar da Política os mais corruptos, e, apesar das divergências, têm estado unidos no essencial: corrigir os erros mais crassos, pagar as dívidas, e seguir em frente. A dupla cesarista formada pelo presidente da república e pelo primeiro ministro, apesar de irritante, tem sabido potenciar os sinais da recuperação económica e financeira do país e, sobretudo António Costa, tem levado a cabo uma diplomacia externa hábil e com sinais de indiscutível visão estratégica. Sublinho, a este propósito, as suas manobras táticas no seio da União Europeia e as suas importantes visitas à China e à Índia.

Poderia ter sido Pedro Passos Coelho a cavalgar hoje a onda de sucesso português. Não foi, porque lhe coube o ónus de castigar os portugueses, e sobretudo porque não aprendeu a falar com os portugueses. A história recente ensina-nos que basta uma subida empinada e prolongada dos preços da energia para deitar por terra o melhor dos governos. O preço do petróleo continua baixo, provavelmente não regressará tão cedo aos 100 dólares, mas poderá ainda assim subir de uma guerra para a outra, ou na sequência de um novo colapso financeiros mundial, para valores que prejudiquem seriamente a nossa balança comercial e as taxas de juro da nossa dívida. Esperemos que tal não lhes aconteça (nos aconteça) nos próximos dois ou três anos. Mas como o seguro morreu de velho, o melhor é prevenir, e enquanto pau vai e vem, puxem as orelhas ao Mexia, e obriguem-no a baixar os preços especulativos internos da energia! Quanto aos rentistas preguiçosos, erradiquem-nos de vez da nossa realidade macro-económica (3).


NOTAS

  1. Galicia agranda el milagro económico portugués llenando sus polígonos
    Más de 300 pymes tienen sede en un país que repunta tras librarse del rescate
    M. SÍO . VIGO / LA VOZ 21/05/2017 05:00

    Antes de ganar Eurovisión, Portugal ya se había quitado de encima otros muchos complejos ante Europa. De entrada, el de ser un país rescatado. Hace meses que la Comisión Europea contempla sorprendida lo que ya todos llaman el milagro portugués, el que lo sitúa en el punto de mira de todas las grandes inversiones que planean sobre el Viejo Continente. Hay datos que dan cuenta de ese momento dulce. El año pasado consiguió captar más de 900 millones de euros de inversión extranjera directa. Con Tesla merodeando por la Región Norte, el país vecino se ha convertido en un polo de atracción de capital extranjero en sectores punteros como el tecnológico (Siemens) o el aeronáutico (Embraer).

    Y en esta pujanza de Portugal, el capital gallego -tan cercano geográfica e históricamente- está jugando un papel muy importante. Hay cifras y son sorprendentes. Se las ha puesto el Círculo de Empresarios de Ourense, que, en un informe a pie de campo, ha localizado más de 300 empresas gallegas instaladas en más de una veintena de polígonos industriales repartidos en la mitad norte de Portugal.

    ¿Qué clase de empresas? Pues según detalla el estudio, de todo tipo, pymes en su mayoría, con predominio de los sectores de alimentación, actividad turística, auxiliares de automoción, distribución, almacenamiento, manejo de mercancías y sector textil.

    Dicen los empresarios que la clave de estas localizaciones está en los costes. Ese estudio detecta en el norte de Portugal una veintena de parques empresariales (23 en concreto) en un radio de 50 kilómetros desde la frontera con el sur de Galicia, con 7 millones de metros cuadrados de suelo industrial a un precio medio de 20 euros el metro cuadrado y en los que hay una ocupación de hasta un 50 % de pymes procedentes del otro lado de la raia.

    • Álvaro Santos Pereira (OCDE) 
    • Álvaro Siza Vieira (arquiteto) 
    • António Guterres (ONU) 
    • António Simões (HSBC) 
    • Carlos Tavares (PGA) 
    • Cristiano Ronaldo (futebolista)
    • Durão Barroso (União Europeia) 
    • Elisa Ferreira (União Europeia)
    • Figo (futebol) 
    • Horta Osório (Lloyds)
    • Joana Vasconcelos (artista plástica)
    • Maria João Pires (pianista)
    • Maria João Rodrigues (União Europeia)
    • Salvador Sobral (músico)
    • Victor Gaspar (FMI)
  2. Costa sabe muito bem (e até Jerónimo de Sousa sabe) que o país tem que libertar as suas energias produtivas, começando por não atrapalhar mais a iniciativa privada das nano, micro e PMEs. Sabe que elevar o nosso PIB COGNITIVO é crucial para que Portugal se transfome num país rico, e culturalmente sofisticado. A mobilidade rodoviária foi conseguida no país inteiro. Falta agora pôr o Montijo a mexer, melhorar as pistas e o sistema de apoio à aterragem do aeroporto Sá Carneiro. Falta, enfim, ligar rapidamente a nossa rede ferroviária de mercadorias, e de passageiros, a Espanha e ao resto da Eurásia, fazendo da interoperabilidade ferroviária uma prioridade estratégica. Quanto às cidades-região de Lisboa e Porto, somos nós, os cidadãos, que temos que puxar as orelhas aos autarcas acomodados.

sábado, maio 20, 2017

Cesarismo bicéfalo veio para durar?

Quando o cesarismo bicéfalo (Marcelo-Costa) se esgotar (lá para 2018-2020) o sistema partidário colapsará, como tem vindo a ocorrer em tantos países.

Alguns jovens brilhantes do atual sistema partidário já devem estar a fazer as suas contas, como Macron fez, para saberem quando devem saltar fora do pântano e anunciarem novas soluções, realistas e honestas, para o país. O PSD, o PS e a esquerda estalinista e trotsquista são irreformáveis. Quando tal vier a ocorrer, o CDS também desaparecerá do mapa eleitoral.

Resta-me apenas uma dúvida, ao fazer este prognóstico: e se o cesarismo bicéfalo (de que a Geringonça é a almofada) for uma espécie de gelatina moldável —capaz de impingir não só a austeridade atual, como até agravá-la, se e quando for necessário— com o único objetivo de manter-se no poder a todo o custo?

Esta deriva cesarista só poderá consolidar-se por uma via institucional e governamental/partidária crescentemente autoritária, e por uma censura crescente nos principais órgãos da imprensa, ainda que muito bem disfarçada pela propaganda do sucesso que chega a não mais de 5% da população portuguesa.

Para já, Portugal tem vindo a tornar-se num refúgio de classes média altas e de fortunas em fuga do Médio Oriente, do Brasil, de Angola, da França e da Suécia e, pasme-se, dos próprios Estados Unidos!

O turismo é uma bênção.

Mas tudo isto de nada servirá se não houver uma refundação do estado paquidérmico e da democracia palaciana que temos.

Um banho de juventide no poder fazia-nos bem!

sexta-feira, maio 19, 2017

Nacionalidade e esquizofrenia

As moedas mundiais, que só apareceram na Época Moderna, têm tido uma duração média de 100 anos. 

Portugal foi, é e será um país europeu com os olhos virados para o mar.


El misterio portugués 
Gabriel Magalhães, 23/09/2009 03:31 | Actualizado a 02/10/2009 13:10. La Vanguardia 

¿Cuáles son los retos actuales de la portugalidad? El lector ya se ha dado cuenta de que, en realidad, Portugal es un país inviable. Siempre lo ha sido. No posee una individualidad geográfica; sus raíces más profundas las comparte con Galicia; su propio idioma es una evolución, una mundialización del gallego. La independencia portuguesa hay que crearla todos los días. Por eso, ser portugués cansa muchísimo.

Um texto subjetivo, quase justo, sobre o nosso país. Falha em dois pontos cruciais: é incapaz de explicar o mistério da nossa independência (ninguém em Portugal vive a esquizofrenia duma dupla nacionalidade imposta), bem como a existência dum idioma novo e seminal, vindo do galaico-português, que veio do latim, etc., mas que também veio do árabe, tanto no vocabulário, como na entoação da língua.

A manta de retalhos que existe na Península Ibérica resultou da chamada Reconquista Cristã, em resposta à queda do Império Romano e ao ascenso do Islão (que fecharia então o acesso a Rota da Seda, que a China está neste momento a reabrir, mas que há quem queira manter fechada...), e nem os Reis Católicos alteraram realmente este mosaico de nações. Rainhas portuguesas em Leão, Aragão e Castela foram 12...

Quanto ao futuro, diria que terminou em 2015 um ciclo de 600 anos de diáspora europeia moderna e contemporânea, cujo primeiro passo foi dado por Portugal, sob influência decisiva duma rainha portuguesa vinda de Inglaterra (Filipa de Lencastre), ao pisarmos terra em Ceuta, uma cidade estratégica que ainda hoje, mesmo tendo optado por ser espanhola, depois de 1640, continua a exibir na sua bandeira as cores de Lisboa e o brasão de armas de Portugal). Não é um pormenor!

Já agora: depois de completada a rede de autoestradas e depois da necessária atualização das ligações da nossa rede ferroviária à rede euro-asiática (2030), a prioridade será reconstruir uma marinha mercante e militar ligeiras ultra-moderna.


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Leituras recomendadas

The Rise of the Great Powers
Documentário televisivo chinês, difundido pela CCTV-2 em Novembro de 2006

The documentary “endorses the idea that China should study the experiences of nations and empires it once condemned as aggressors bent on exploitation” and analyzes the reasons why the nine nations rose to become great powers, from the Portuguese Empire to current United States hegemony. The series was produced by an “elite team of Chinese historians” who also briefed the Politburo on the subject.” In the West the airing of Rise of the Great Powers has been seen as a sign that China is becoming increasingly open to discussing its growing international power and influence—referred to by the Chinese government as “China’s peaceful rise.” (LINK)


The rise and fall of navies, Paul Kennedy, Herald Tribune, Aril 5, 2007.

"By 2010, China's submarine force will be nearly double the size of the U.S. submarine fleet The entire Chinese naval fleet is projected to surpass the size of the U.S. fleet by 2015." -- USA Congressional Research Service, March, 2007.

In the very first decades of the 15th century, the great Chinese admiral Cheng Ho led a series of amazing maritime expeditions to the outer world, through the Straits of Malacca, into the Indian Ocean, across even to the eastern shores of Africa. Nothing at that time compared with China's surface navy.

Yet, within another decade, the overseas ventures had been scrapped by high officials in Beijing, anxious not to divert resources away from meeting the Manchu landward threat in the north and about how a seaward-bound open-market society might undermine their authority.

Coincidentally, on the other side of the globe, explorers and fishermen from Portugal, Galicia, Brittany and southwest England were pushing out, across to Newfoundland, the Azores, the western shores of Africa.

While China's great fleets were being dismantled by imperial order, Western Europe was beginning to move into "new" worlds, full of ancient peoples and cultures in the Americas, Africa, Asia and the Pacific. Any place vulnerable to Western naval and military power was at risk. Above all, as the American naval captain A. T. Mahan taught us over a century ago in his classic book, "The Influence of Sea Power Upon History" (1890), the West valued navies as the key to global influence.

terça-feira, maio 16, 2017

A propaganda do crescimento

Trading Demographics

Os ventos sopram a favor da Geringonça até 2018...


Desde que a Geringonça apareceu, fui dizendo (nomeadamente num programa de televisão entretanto extinto—Política Sueca) que a mesma beneficiava de uma conjuntura nacional (fim do momento mais áspero da austeridade) e internacional (queda dos preços do petróleo, crise na Síria e no Médio Oriente, e crise na União Europeia) favorável. Que António Costa, a Geringonça e o cesarismo bicéfalo instalado na sequência da derrota do PSD e da substituição de Cavaco Silva, tinham possibilidades objetivas e subjetivas de fazer um, ou até dois mandatos. Também sublinhei várias vezes que ou o PCP e o Bloco aproveitavam rapidamente o início da legislatura para forçarem uma coligação a sério, ou seriam forçados a engolir, com o tempo, todos os sapos que António Costa e Marcelo Rebelo de Sousa lhes servissem numa bandeja de encómios.

Dito isto, o crescimento homólogo do primeiro trimestre de 2017 (2,8%), que aliás se vê no turismo, nas exportações e no boom de requalificação e especulação urbanas em curso, sendo de saudar (e também fruto de uma austeridade de esquerda evidente) pode não passar duma euforia temporária. O temporário pode, no entanto, durar até 2018 ou mesmo 2019.

Por outro lado, se olharmos para as tendências de médio-longo prazo,, a situação portuguesa continua a ser muito frágil. Basta reparar no gráfico do crescimento anual do país desde 1996 (Trading Economics), e na média desse crescimento (1,2%), ou nos valores (130%) e preço da dívida pública (3,33%), ou na relação entre as taxas de juro de referência do BCE (0%) e a inflação em Portugal (2%), ou na balança comercial (-821 milhões de euros), para percebermos que o comentador presidente tem razão: não é preciso embandeirar em arco. Nem muito menos ir atrás dos parasitas do orçamento.

POST SCRIPTUM

Como me referiu um amigo atento, e li no ECO, Dinheiro Vivo, e Jornal Económico, as receitas líquidas do Turismo em 2016 subiram para 12,6 mil milhões de euros. Por sua vez, as despesas dos portugueses no estrangeiro andaram pelos 3,82 mil milhões, no mesmo ano. Ou seja, as receitas líquidas geradas pelo turismo em 2016 devem ter rondado 8,78 mil milhões. Por comparação, no mesmo ano de 2016, a despesa pública em Educação foi da ordem dos 6 mil milhões, e o serviço da dívida pública custou cerca de 8,4 mil milhões. Já em termos líquidos, o aumento da receita do turismo terá sido da ordem dos 1,2 mil milhões de euros.

Por sua vez, no imobiliário, o investimento externo disparou para cerca de 4 mil milhões de euros em 2016 (3,3 em 2015). A subida foi, portanto, da ordem dos 1,1 mil milhões de euros.

Somando imobiliário e turismo (embora não saiba se posso fazer esta soma tão simplesmente) o montante é da ordem dos 16,6 mil milhões de euros.

Já no que se refere ao saldo da balança comercial, embora tenha melhorado, continua negativo e acima dos 900 milhões euros.

À pergunta sobre o que realmente contribuiu para o desempenho favorável da economia portuguesa em 2014, 2015 e 2016, e sobretudo para o otimismo que reina nalguns setores da sociedade desde 2015, a resposta é clara: foi o investimento externo. E este deve-se, em primeiro lugar, à conjuntura decorrente da queda dos preços do petróleo, e da disputa pelo fornecimento de gás natural à Europa entre a Rússia e vários paises do Médio Oriente. Os governos portugueses, de Pedro Passos Coelho, como de António Costa, tiverem nesta matéria um comportamento comum, procurando atrair pessoas e capitais para um país que, como sabemos, foi completamente descapitalizado pela estupidez e pela corrupção indígenas.

TURISMO UM CASO DE ESTUDO

“O Turismo de Portugal está a incentivar a parceria financeira entre o sistema público e a indústria privada de turismo. Eu gostaria muito de ouvir que isto acontece nos outros países e que é comum, mas não é, e Portugal mostra que é possível.” Dinheiro Vivo, 19/05/2017
O seu a seu dono, e neste caso chama-se Adolfo Mesquita Nunes, do governo 'da direita', de Passos Coelho e Paulo Portas. Cometeram um erro: deveriam ter anunciado o fim da austeridade e das medidas mais gravosas da mesma na campanha eleitoral que lhes retirou a maioria absoluta. A recuperação económica já tinha começado, nomeadamente nas exportações, no turismo e no investimento externo. Lembram-se dos Vistos Gold?


Atualizado em 19 maio 2017 08:20 WET

domingo, maio 14, 2017

Que dia!

Dia 13 de maio de 2017


Francisco ajoelha-se diante de Maria (é um Jesuíta, não se esqueçam), o Benfica faz o tetra, e Salvador Sobral vence e convence um festival desmiolado, com serenidade, sabedoria, sentimento e uma enorme esponaneidade. Nunca o Jazz teve tão eloquente e revolucionário intérprete português.

Salvador Sobral. A voz começa por lembrar-me a de Antony (agora Anohni), mas depois tudo muda, para melhor. Uma excelente voz e um músico que conquista imediatamente qualquer ouvido minimanente sensível e inteligente. Que ironia, tê-lo conhecido só agora, por ter ganho ontem a Eurovisão! A nova equipa da RTP está também de parabéns.

Mas que dia!

segunda-feira, maio 08, 2017

Macron e Putin

Macron e esposa durante comemoram vitória eleitoral.
Foto: REUTERS/CHRISTIAN HARTMAN


Irá a França aproximar-se da Rússia, como o está fazendo Angela Merkel?


“Os cidadãos de França confiaram-lhe a liderança do país num tempo difícil para a Europa e para toda a comunidade mundial. O aumento das ameaças do terrorismo e dos extremismos militantes é acompanhada pelo escalar de conflitos locais e pelo desestabilizar de regiões”, pode ler-se no telegrama enviado, de acordo com o Kremlin.  
“Nestas condições, é especialmente importante superar a desconfiança mútua e unir esforços para assegurar a estabilidade internacional e a segurança”, disse Putin a Macron.
Putin exorta Macron a “superar desconfiança mútua”.
RTP 08 Mai, 2017, 09:29 / atualizado em 08 Mai, 2017, 10:33

Israel é em grande parte uma construção do Reino Unido e da Rússia. Mais de metade da população judaica de Israel veio da Rússia ou tem origem russa.

Os judeus russos vítimas de perseguição do Czar Nicolau II (Pogroms) 'invadiram' Londres, nomeadamente a caminho da América, criando enormes problemas à comunidade judaica local, onde coexistiam sefarditas e ashkenazi (Disraeli era um judeu sefardita, enquanto Rothschild é considerado um judeu ashkenazi).

A solução encontrada para este êxodo de judeus de origem germânica, habitantes da Rússia, Polónia, Alemanha e Áustria (Ashkenazi), que se acentuaria enormemente com o advento do nacional-socialismo hitleriano, mas também durante a ditadura estalinista—ou seja, a criação do estado Sionista, de origem sobretudo Ashkenazi, de Israel— marca desde então as relações especiais que existem entre a Rússia e Israel.

Sendo Macron um 'discípulo' dos Rothschild, que declaradamente se assumem como membros do grupo dos judeus Ashkenazi, o apelo de Putin ganha especial significado...

Dívida, uma Supernova?

Fotografia: Axel Morin. Detroit.

Os que ganham muito são cada vez menos, e os que ganham pouco (cada vez menos) são cada vez mais. 


É este o verdadeiro paradoxo que o otimismo alucinado de alguns não alcança, ou alcança, mas ignora, preferindo as loas populistas a que os economistas desonestos conferem legitimidade académica.

E é também por isto que o declínio da era petrolífera deixou de se traduzir na subida dos preços do barril de crude, mas antes na deflação dos mesmos, arrastando países como a Venezuela, Angola, Moçambique, Nigéria, e o Médio Oriente em geral, para o colapso das respetivas sociedades.

Neste momento o status quo e o business as usual são meras aparências de estabilidade e progresso.

Na realidade, assistimos a divisões económicas, sociais e culturais profundas nas sociedades, que os movimentos populistas e o fundamentalismo religioso induzido refletem.

Estamos no fim de um ciclo de prosperidade mundial com mais de 100 anos, proporcionado pelo uso intensivo de energia abundante e barata, e por aquilo a que poderíamos chamar inflação criativa.

Esta grande revolução nos preços decorreu sensivelmente entre 1897 (D. H. Fischer) e o momento em que o decréscimo persistente da produtividade mundial, da inflação e do rendimento/consumo per capita anunciou o seu fim, dando lugar a medidas contra-cíclicas desesperadas, como a globalização e a desregulamentação laboral, comercial e financeira, o otimismo tecnológico, o endividamento público e políticas monetárias expansionistas, e ainda a grande especulação capitalista, entre 1983 e 2007, estimulada pela negociação eletrónica de títulos e outras operações financeiras (HFT), e pelos produtos financeiros complexos: Credit Debt Obligations (CDO), Credit Default Swaps (CDS), Asset Backed Secutioes (ABS), Over-the-counter Derivatives (OTC), etc.

O dilema atual é este: o petróleo é demasiado barato para quem o produz, e demasiado caro para quem o consome. Por outro lado, segundo defende Gail Tverberg, o endividamento, a eficiência e a complexidade como resposta à mudança de paradigma energético e ao fim de um ciclo económico de longa duração não impedem a chegada de uma nova era, que será necessariamente distinta da que agora declina rapidamente.

Vale a pena ler a este propósito o que Gail Tverberg apresentou recentemente em Bruxelas, num workshop promovido pela Comissão Europeia: “Elephants in the Room Regarding Energy and the Economy.”

Trata-se de uma súmula de recentes trabalhos seus, nomeadamene sobre a natureza dissipativa das estruturas económicas, e sobre o aviso paradoxal do fim da era petrolífera, ou seja, a queda dos preços do petróleo, provocada pelaa queda da procura agregada mundial de crude, pela queda dos rendimentos do trabalho, pela erosão imparável dos dividendos empresariais (nomeadamente nos produtos energéticos), pela divisão social que se agrava na maioria das sociedades desenvolvidas e ricas, ou ainda pelas crises políticas insanáveis que vão destruindo paulatinamente os estados e as instituições democráticas.

Eu recomedaria a leitura destas reflexões a Emmanuel Macron, mas também ao otimista cada vez mais irritante, Marcelo Rebelo de Sousa.




Most people assume that oil prices, and for that matter other energy prices, will rise as we reach limits. This isn’t really the way the system works; oil prices can be expected to fall too low, as we reach limits. Thus, we should not be surprised if the OPEC/Russia agreement to limit oil extraction falls apart, and oil prices fall further. This is the way the “end” is reached, not through high prices.



Many people think that the increasing use of tools can save us, because of the possibility of increased productivity.

mas...

Using more tools leads to the need for an increasing amount of debt.




—in “Why We Should Be Concerned About Low Oil Prices”
Posted on May 5, 2017 by Gail Tverberg @ Our Finite World

domingo, maio 07, 2017

Quem se mete com o António, leva!

Alberto Gonçalves.
Foto: Diana Tinoco/ Sol

Em vez do lápis azul assumido, o despedimento cobarde pela porta do cavalo, com desculpas de mau pagador...


“As coisas – principalmente a imprensa e a televisão – começam a adquirir aquele tom uniforme e ruço, típico da tropa e do socialismo”—Vasco Pulido Valente.

Os zelotas da Geringonça agem por simples medo de perderem empregos que são cada vez mais escassos e mal pagos, não por qualquer convicção ideológica, que aliás há muito deixaram de ter. A miséria mediática que grassa entre nós e por esse mundo fora é preocupante e deve ser denunciada pelo que é: um estado de censura; no caso vertente, num país que a proíbe expressamente na Constituição. Não o fazer só poderá contribuir para que um qualquer aborto venezuelano acabe por medrar no ventre da nossa democracia.

Censura em democracia, eis como classifico a decisão do Paulo Baldaia sobre Alberto Gonçalves.

Que tem o Tribunal Constitucional a ditar sobre esta denúncia que torno pública e a que junto prova?

SOL: Paulo Baldaia admitiu não apreciar o seu estilo de escrita... 
ALBERTO GONÇALVES: Quando Paulo Baldaia falou comigo ao telefone, foi a única vez e foi para me despedir. Era diretor há cinco meses. Disse que eu confundia os leitores do “DN”: havia quem só fosse à página do “DN” por minha causa e ficasse confuso com o resto do jornal, e havia leitores “naturais” do “DN” que ficavam confusos com a minha crónica, e a culpa era minha. Segundo o próprio me disse, o objetivo dele era o de evitar confrontos e agradar “à corte de Lisboa”. Não queria chatices.
[...]
SOL: A comunicação social? 
ALBERTO GONÇALVES: Completamente controlada. Ou quase toda – ainda há um jornal que me paga para escrever. Mas a crítica a este governo é diminuta comparativamente ao governo anterior, face a ações semelhantes ou a ações muito mais gravosas. De resto, os jornalistas simpatizam com este governo, naturalmente, com esta ideia de governo, com esta aliança. Nem é necessária grande pressão exterior.

sexta-feira, maio 05, 2017

Rui Moreira e Salazar



O frenesim autárquico acorda os mais distraídos

“Todos estamos à espera que haja uma má notícia europeia e, quando houver uma má notícia, isto cai”—Rui Moreira (Sábado, 4/5/2017)

Quero crer que Rui Moreira precisava neste momento de uma prova de vida mediática, ou não estivesse o país partidário em plena corrida autárquica. Depois do PS exigir mais lugares na lista de Moreira, este aproveitou para reiterar a independência partidária da sua candidatura. Alguém acredita? Pelo que me foram dizendo, a máquina que esteve na base da sua eleição, e agora exige um prémio maior para voltar a elegê-lo, foi o Partido Socialista.

Depois de Ana Catarina Mendes ter dito que "a vitória das listas que o PS integra serão as vitórias do PS", o protagonista principal do movimento “Porto, o Nosso Partido” (designação algo populista, convenhamos), acordou da sua letargia. De facto, embora a Câmara Municipal do Porto funcione bastante bem, esperava-se de Rui Moreira uma afirmação estratégica mais vincada e sobretudo mais clara enquanto líder da capital do Norte, nomeadamente no que se refere à própria influência do Norte na condução dos destinos do país, a qual continua muitíssimo abaixo do que lhe corresponde em criatividade e capacidade produtiva próprias.

Rui Moreira andou a marcar passo num ponto essencial para todo o país: fazer da cidade-região do Porto a capital económica, financeira e cultural do Noroeste Peninsular. Não se percebe, por exemplo, como a ligação ferroviária de alta velocidade entre Ferrol, Corunha, Santiago e Vigo não chega ao Porto. Será que ninguém tem coragem para exigir dos senhorios do Terreiro do Paço coisa tão óbvia?

Não basta parecer populista, é preciso sê-lo, nem que seja um bocadinho, para garantir a realização do que é racional, justo e oportuno.

Quanto à propaganda do medo que as palavras ditas por Rui Moreira aos estudantes poderão sugerir, uma coisa é certa: se Marine Le Pen derrotar Emmanuel Macron no próximo domingo (hipótese que as sondagens contrariam), tudo começará a mudar rapidamente na Europa, e em Portugal também!

No entanto, se Macron e a União Europeia prevalecerem (o que as sondagens asseguram), e se nos deixarmos de populismos, à esquerda, ao centro e à direita, e formos pagando o que devemos, não há razão nenhuma para inventar um novo Salazar. Já não temos colónias, lembram-se?

Mas atenção: nada dispensa uma reciclagem profunda da nossa democracia, corrupta e imbecil.

Ou as novas gerações mudam os partidos da corda na direção certa, ou estes terão em breve a mesma sorte dos partidos europeus que têm vindo a implodir, sobretudo na banda esquerda do arco-iris partidário.


DESENVOLVIMENTOS

Costa intervém e PS confirma Manuel Pizarro como candidato no Porto

...o secretário-geral do PS, António Costa, telefonou ao presidente da concelhia, Tiago Barbosa Ribeiro, a dizer que o PS tem de apresentar um candidato próprio. Por “uma questão de dignidade partidária”.

Público. Margarida Gomes, 6 de Maio de 2017, 10:27 actualizada às 12:45

Bem parecia que a a coisa estava combinada entre Ana Catarina Mendes e António Costa. Rui Moreira vai ter que dar ao pedal para manter o lugar. Talvez fosse o momento de apresentar ideias inovadoras para o Porto e o norte do país.
O PS tem três meses para definir quem representará o partido na corrida à segunda maior câmara do país, depois de Rui Moreira ter abdicado do apoio do PS às eleições autárquicas marcadas para 1 de Outubro.
[...]
De acordo com o Expresso, que cita fonte da candidatura independente, Rui Moreira avançará apenas com o apoio do CDS/PP; um partido que "sempre teve um comportamento exemplar, sem pressões nem exigências de negociações, ao contrário do PS".
Jornal de Negócios. Marta Moitinho Oliveira martaoliveira@negocios.pt05 de maio de 2017 às 18:29

A crise na aliança dissimulada entre Rui Moreira e os socialistas agravou-se nas útlimas horas, com Rui Moreira a dispensar o apoio dos socialistas à sua candidatura, em nome da independência e da rejeição dos jobs for the boys and girls. Das duas uma: ou o habilidoso Costa dá a volta ao texto nas próximas horas, ou a situação apodrece, e o PS terá mesmo que avançar com um candidato e com uma candidatura partidária à Câmara Municipal do Porto. O problema é que não será fácil desmentir a secretária-geral adjunta do PS, Ana Catarina Mendes, pois tal desautorização levaria custos pesados ao núcleo duro de António Costa. Rui Moreira, por sua vez, poderá vender caro um eventual apaziguamento com os socialistas. Aguardam-se os próximos episódios desta mini crise, sobre a qual espero não ter que ouvir o comentador-presidente Marcelo Rebelo de Sousa.

Atualizado em 6/5/2017 15:52 WET

terça-feira, maio 02, 2017

O dinheiro fácil acabou



O preço das posições conjuntas foi suportado pelo BCE. Quem diria!


O BCE voltou a reduzir as compras de obrigações soberanas portuguesas para um novo mínimo. No mês passado, as aquisições do banco central ao abrigo do programa alargado de compra de activos foram de 526 milhões de euros, o montante mais baixo de sempre, segundo dados divulgados esta terça-feira pela entidade liderada por Mario Draghi. Foram menos 137 milhões que em Março e o montante compara com as compras de 1.405 milhões de euros registados no mesmo mês do ano passado. 
—in Jornal de Negócios. Rui Barroso ruibarroso@negocios.pt
02 de maio de 2017 às 15:21

Entre novembro de 2015 e junho-julho de 2016 foi fartar vilanagem. Mas o festim acabou, como se pode observar na inversão da tendência nas compras de dívida pública portuguesa pelo BCE, a partir de junho, e mais ainda depois de dezembro de 2016.

A tentação de António Costa é grande, mas a maioria absoluta está longe de ser favas contadas.

Em 2017 vamos ter um ano sem grandes sobressaltos, com um crescimento tépido mas ainda assim provavelmente acima do registado em 2016. O pior mesmo será 2018... e 2019.

Entretanto, a Geringonça vai durar até gripar.

A grande questão é saber se nos próximos 12 a 18 meses haverá quem funde um movimento realista capaz de varrer do poder o incurável Bloco Central (agora alargado!) que deixou o país perder a sua soberania económico-financeira nos próximos 40 ou 50 anos.

Virar o jogo exige novos protagonistas. Como temos visto um pouco por toda a parte.

segunda-feira, maio 01, 2017

A praga da nova cozinha chegou a Évora

Será legal esta publicidade num Monumento Nacional, no centro de uma cidade Património Mundial?

Um Cartuxa 2013 por 70 euros?


As Pousadas de Portugal desde que foram entregues de mão-beijada ao Grupo Pestana vão de mal a pior (algumas até fecharam ou mudaram de mãos, como a Pousada do Marão e a de Vila Nova de Cerveira). O meu amigo espanhol insistiu, eu, contrariado, acedi, e lá fomos almoçar à Pousada dos Lóios, edifício histórico nascido nos finais do século XV, recuperado e adaptado a Pousada em 1957, mas cujo conforto e qualidade dos detalhes têm vindo a cair de ano para ano.

No tempo em que estes paradores pertenciam ao estado português, eram caros (menos para uma vasta clientela burocrática apaparicada pelo regime de Salazar), conservadores, invariavelmente bem situados, e com um serviço pouco sofisticado, mas por vezes simpático. Depois, ao serem entregues por atacado aos ditos privados, tornou-se poventura na nossa primeira PPP. Quando dá lucro, o concessionário agradece, quando não dá, a fatura vai, duma ou doutra forma, parar aos contribuintes.

Na restauração do Convento dos Lóios, a que outrora falhava a criatividade em nome da tradição gastronómica alentejana, só mesmo os empregados escapam. Tudo o resto, desde que mudaram de Chef, deriva do provincianismo avilez mais lastimável, e da praga da 'nouvelle cuisine' à portuguesa que inunda a televisão e o país desde que redescobrimos o caminho mais curto para o turismo: arrasar o que temos de bom para dar lugar ao novo riquismo e à especulação de sempre. A gentrificação que vai por esse país fora, sob os auspícios do Bloco Central e da Geringonça, é mais um maremoto que vai ajudar a destruir o que ainda resta de nosso neste país. Para já, ninguém viu nada, viu nada, ou soube de nada, como sempre. Daqui a uma década ou duas, pela certa, rezaremos por um qualquer macron que regresse numa manhã de nevoeiro para salvar a pátria dos devoristas que a deixaram em tão irreconhecível estado de estupidez, apatia e subserviência diante dos novos donos disto tudo.

Os comes e bebes nacionais são em si mesmo um património indispensável às nossas exportações turísticas, cuja modernização urbana é necessária, mas onde seria fundamental impedir a sua destruição alarve em nome de um bando de hunos saídos dos programas e concursos de culinária que fazem parte do grande vazio televisivo que diariamente nos afoga em esterco cultural.

Mas o pior mesmo é instituir a especulação e a vigarice como modo de vida da nossa chamada indústria hoteleira. Uma garrafa de Cartuxa 2013, que na Fundação Eugénio de Almeida, a menos de 100 metros daquele templo de tranquilidade, custa 14 euros, foi-nos debitada a 70 euros. Repito 70 euros!!!

Incrédulos, pretendemos confirmar o tamanho do assalto. Os empregados, constrangidos, confirmaram. Setenta euros.

A ameixa em cima desta Siricaia falsa é a publicidade pegada à esquina do monumento que sofre esta presença hoteleira indizível. Para quem não souber (o restaurante serviu duas mesas entre as 13:00 e as 15:00 do passado dia 29 de abril), a publicidade anuncia as suas iguarias: sardinhas em lata, wraps com cebola, alface e milho, azeitonas, croquetes de bacalhau, presunto acompanhado com umas amostras de flor de sal e curcuma espalhada pela mesa. Esta coisa indescritível foi baptizada assim: Alentejo Food With a Twist. What else?!

Quanto aos vinhos de 14 euros que custam 70, por agora, só mesmo para cleptocratas angolanos e distraídos como nós, que não têm o bom hábito de ler os menús antes de pedir o que quer que seja.

POST SCRIPTUM — um comentário a este post no Facebook alertou-me para o facto de haver dois Cartuxa Tinto 2013, produzidos pela Fundação Eugénio de Almeida, a Colheita 2013, e a Reserva 2013. O primeiro custa entre 14 e 15 euros, mas o segundo está à venda por 31,50 euros na Garrafeira Nacional. Não sei qual nos foi servido no almoço que motivou este post. Provavelmente foi o Reserva 2013, dado que deixou uma impressão de excelência a todos os três que almoçámos juntos. A verdade é que não fui eu o anfitrião. Na dúvida, salve-se a honra do convento! Mas apenas no que toca ao Cartuxa Tinto Reserva 2013, que custa 30 euros na Garrafeira Nacional, e 70 no restaurante da Pousada de Évora. O novo chefe está a destruir a memória do convento quando serve uma postinha de 100gr. de lombo de bacalhau a saber a badejo em cima de um lençol de migas que cabe numa colher de chá. Não é assim que se moderniza a gstaronomia alentejana!

quarta-feira, abril 12, 2017

O fractal de Tordesilhas

Coreia do Norte, a próxima guerra,
Mapa: NTI

Será que Trump se prepara para entregar a Coreia do Norte a Pequim?


One way or another, China and the United States will become partners.
Immanuel Wallerstein. Commentary No. 441, January 15, 2017—"China and the United States: Partners?"

Parece que o jantar entre Trump e Xi Jinping inaugurou um novo Tratado de Tordesilhas. Só que desta vez não há meridiano, mas um fractal. Pequim percebeu que terá muito rapidamente que tratar da Coreia do Norte, enquanto Washington negoceia com russos e iranianos a irradiação de Bashar al-Assad, em troco de uma partilha equilibrada dos recursos petrolíferos da região entre o Ocidente e o Oriente.

Os Estados Unidos sabem que a China tem pés de barro, pois as suas reservas energéticas já ultrapassaram o limiar de segurança, e a poluição química do país é uma desgraça. Sabem, portanto, que a expansão imperial da China —ao contrário do que pensa Immanuel Wallerstein— tem os dias contados, seja por causas de ordem geo-energética internas, ou de outra ordem: demográfica, tecnológica, militar, política e cultural. Assim sendo, os Estados Unidos de Donald Trump, depois da intervenção tipicamente imperial na Síria (aguardam-se novos capítulos...), passará muito provavelmente à ação na Coreia do Norte quando o facínora que domina o país menos esperar.

Em ambos os casos, os Estados Unidos farão concessões —embora regionalmente circunscritas— à Rússia e à China.

Publicações do controladas pelo PCC deram recentemente fé da sua enorme preocupação com a inesperada mas resoluta ação do novo presidente americano. A avaliar por dois editoriais sobre o assunto (um dos quais—mais explícito— viria a ser apagado), onde se fazem sérios avisos à Coreia do Norte sobre o perigo iminente que paira sobre o seu líder e o seu regime, a China prevê invadir a Coreia do Norte se e assim que Trump decapite o regime coreano do seu supremo líder, Kim Jong-un.

Vale, pois, a pena ler na íntegra os dois editoriais aludidos, ainda que um deles seja uma recuperação do original retirado da publicação onde apareceu originalmente: o Global Times.

Commentary: China’s bottom line on DPRK nuclear issue
Source
China Military
Editor
Huang Panyue
Time
2017-04-07
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BEIJING, April 7 (ChinaMil) -- Global Times mentioned the bottom line of China on DPRK nuclear issue in an article titled Commentary: The United States Must Not Choose a Wrong Direction to Break the DPRK Nuclear Deadlock on Wednesday, triggering wide speculation. 
According to the article, China very much hopes that the DPRK nuclear issue can be solved as soon as possible. But no matter what happens, China has a bottom line that it will protect at all costs, that is, the security and stability of northeast China. 
In connection with this, DPRK's nuclear activities must not cause any pollution to northeast China. In addition, the DPRK must not fall into the turmoil to send a large number of refugees, China will not allow the existence of a government that is hostile against China on the other side of the Yalu River, and the US military must not push forward its military forces to the Yalu River, the article said. 
Some experts interpret this as China’s acquiescence to the United States’ strikes to the DPRK. Is this really the case? 
First, “DPRK's nuclear activities must not cause any pollution to northeast China.” 
Is this sentence designed for the United States? Maybe, but it is designed for the DPRK more. We all know that the DPRK's sixth nuclear test is imminent, and various parties, especially China, are generally worried about this. 
It is very insidious for the DPRK to select Punggye-ri, located in Kilju County of North Hamgyong Province in DPRK, as the site for the nuclear test. The place is the farthest point from Pyongyang within the DPRK territory, but near the border of China and DPRK. 
Residents in northeast China suffered every time DPRK launched a nuclear test. The news may remain fresh to us: buildings showed cracks, and students in classes were evacuated to the playgrounds. 
With the increase in nuclear equivalents, the threat to the Chinese people nearby also surges. In particular, if by any chance nuclear leakage or pollution incidents happen, the damage to northeast China environment will be catastrophic and irreversible. 
This is the bottom line of China, which means China will never allow such situation to happen. If the bottom line is touched, China will employ all means available including the military means to strike back. 
By that time, it is not an issue of discussion whether China acquiesces in the US’ blows, but the Chinese People’s Liberation Army (PLA) will launch attacks to DPRK nuclear facilities on its own. 
A strike to nuclear facilities of the DPRK is the best military means in the opinion of the outside world. 
Firstly, the locations of DPRK nuclear facilities are fixed and known to the outside. 
Secondly, once the attack is launched, the DPRK’s nuclear weapons process will be permanently suspended. It has limited resources of nuclear materials and is strictly blockaded in the outside world, erasing the possibility for DPRK to get the materials again. 
Thirdly, nuclear weapons is DPRK’s trump card for its defiance of China and the United States. Once this card is lost, it will become obedient immediately. 
Finally, if DPRK's nuclear facilities are destroyed, they will not even fight back, but probably block the news to fool its domestic people. The DPRK will freak out if its nuclear facilities are destroyed. 
Second, “the DPRK must not fall into the turmoil to send a large number of refugees, it is not allowed to have a government that is hostile against China on the other side of the Yalu River, and the US military must not push forward its forces to the Yalu River.” 
This sentence is meant for the United States, because the premise of it is that the US military has launched attacks to the DPRK. We can understand it from two aspects. 
First, the 16th Group Army and the 39th Group Army of the Chinese PLA are both responsible for armed isolation of DPRK refugees. There is more than one such armed isolation zone which will not be laid exactly along the Sino-DPRK border, nor in China, but a few dozen kilometers from the border in the territory of DPRK. 
Second, the statement of “the US military must not push forward its forces to the Yalu River”, and that the US's ally Republic of Korea (ROK) must not push forward troops to the Yalu River as well is actually understood by the United States and ROK militaries that their troops will not encroach on the Yalu River. 
During the Korean War in the 1950s, the United States-led united army troops from multiple countries announced that the united troops would not advance the battlefront to the Yalu River, but would stop at 40 miles (64 kilometers) south of the Sino-DPRK border. They called this line MacArthur Line back then. 
The Global Times editorial also mentioned "it is not allowed to have a government that is hostile against China on the other side of the Yalu River." What does that mean? 
This is implying that once the US and ROK initiate the strikes, the Chinese PLA will send out troops for sure to lay the foundation for a favorable post-war situation. 
From this perspective, the Chinese PLA’s forward operations beyond Pyongyang, capital of DPRK, are for sure. 
China will not allow the situation in which areas north of the 38th Parallel are unified by the US and ROK. 
Now who do you think this editorial by Global Times is deterring? 
Disclaimer: The information, ideas or opinions appearing in this article are those of the author named Jin Hao from the Global Time and do not reflect the views of eng.chinamil.com.cn. Chinamil.com.cn does not assume any responsibility or liability for the same. If the article carries photographs or images, we do not vouch for their authenticity. 

Is North Korea nuclear crisis reaching a showdown? 
Source:Global Times Published: 2017/4/12 0:18:39

A new nuclear test or an intercontinental ballistic missile test, if conducted by Pyongyang at this time, will be a slap in the face of the US government and will intensify the confrontation between North Korea and the US.  
Presumably Beijing will react strongly to Pyongyang's new nuclear actions. China will not remain indifferent to Pyongyang's aggravating violation of the UN Security Council (UNSC) resolution.  
... 
More and more Chinese support the view that the government should enhance sanctions over Pyongyang's nuclear activities. If the North makes another provocative move this month, the Chinese society will be willing to see the UNSC adopt severe restrictive measures that have never been seen before, such as restricting oil imports to the North. Pyongyang's nuclear weapons program is intended for securing the regime, however, it is reaching a tipping point. Pyongyang hopes its gamble will work, but all signs point to the opposite direction.  
... 
Pyongyang should avoid making mistakes at this time.

CONFIRMAÇÃO

Como ontem noticiei: China pronta a invadir a Coreia do Norte, se for necessário...
China tells military to be ready to 'move' to North Korea border
By Elizabeth Shim  Contact the Author   |   April 12, 2017 at 9:27 AM 
April 12 (UPI) -- China has ordered its military to be on nationwide alert, in addition to areas near the North Korea border, as tensions escalate on the peninsula. 
The Information Center for Human Rights and Democracy, a nongovernmental organization in Hong Kong, said Beijing has ordered troops at all five military "regions" to maintain preparedness because of the situation in North Korea, according to Oriental Daily News in Hong Kong. 
According to the NGO, China's armored and mechanized infantry brigades in the provinces of Shandong, Zhejiang and Yunnan received the state mandate. 

Atualização: 12/4/2017 22:35 WET 

terça-feira, abril 11, 2017

Ninguém pergunta nada...



O próximo resgate


Se não travarmos a despesa pública e o estado partidário, se não pusermos na ordem as rendas excessivas da EDP e das PPP, um novo resgate é inevitável—especialmente se a diminuição dos estímulos do BCE conduzir a uma mais do que provável subida das taxas de juro, e se Trump continuar a provocar a Europa, atiçando o fogo e o terrorismo no Médio Oriente.

Até agora a transição democrática e a democracia que temos custaram 435,8 toneladas de ouro e três pré-bancarrotas seguidas de três resgates internacionais e três períodos de austeridade forçada.
  • Em 1971, o Banco de Portugal tinha 818,3 toneladas de ouro.
  • Queda da ditadura: 25 de abril 1974.
  • Situação pré-revolucionária: abril 1974-novembro 1975.
  • Vendas ouro entre 1976-1978: 172 toneladas.
  • Resgates: 1977 (Mário Soares), 1983 (Mários Soares), 2011 (José Sócrates) [video RTP]
  • Em 2001, o BdP tinha 606,7 toneladas.
  • Vendas de ouro entre 2001-2006: 224 toneladas.
  • Em Abril de 2012 o BdP tinha 382,5 toneladas.
  • O BdP não vendeu mais ouro desde 2006 porque, felizmente, está impedido de o fazer pelo BCE.
À grande destruição da poupança nacional e de capital somou-se um endividamento público e privado assustador.

A economia cresce mais devgar que o serviço da dívida pública, e o estado paquidérmico e corrupto que temos continua por reformar—pois é há muito a coutada da partidocracia instalada, da intelectualidade indigente e dos rendeiros do regime.

O Bloco Central Alargado (PS-PSD-CDS), mas também as esquerdas, falharam redondamente aos portugueses.

O futuro só não será mesmo negro se a a União Europeia sobreviver ao ataque americano, e reforçar as suas legítimas aspirações e desiderato.

Um buraco negro chamado Estado


Os governos são hoje grandes máquinas de lavagem automática de dinheiro de proveniência dissimulada. Dois casos bem conhecidos e de dimensão astronómica: a City de Londres e o Luxemburgo. Lavam tudo: dinheiro da droga, dos refugiados forçados a emigrar em direção à Europa, da exportação de armamento, explosivos e armas químicas, da Máfia, da Camorra, da rapaziada de Marselha, e dos políticos corruptos, da prostituição e do futebol.

Para esconder esta realidade os 'mass media' têm sido paulatinamente transformados em instrumentos de guerra psicológica. Veja-se o caso mais recente da operação Trump contra o estado sírio.

Brexit


O Brexit pode ter sido um tiro que vai sair pela culatra, reduzindo a uma espécie de náufrago os piratas de sua majestade. O império britânico morreu há muito, e a pantomima a que a pomposa elite britânica se dedica, em nada apagará o facto de a velha Albion ter dado um grande passo em direção à sua insignificância no dia em que resolveu apoiar-se na sua ralé e nos seus líderes populistas para defender a sua City e os seus paraísos fiscais, julgando que assim e uma vez mais dividiria o continente europeu. Este artigo mostra que a reação dos europeus, ingleses e não ingleses, vai na direção de um reforço da União Europeia e do seu espírito democrático e culturalmente aberto. Trump, Le Pen, Erdogan, Boris Johnson, e os indígenas do PCP e do Bloco, entre outros, acabam de dar um safanão à utopia europeia que, parece, acordou para a sua excecionalidade histórica.

A Espanha, que vai ocupar o lugar dos Ingleses no diretório europeu, força a Alemanha a olhar para a Península Ibérica com outros olhos.

A leste e no Médio Oriente a balbúrdia que convém à Internacional Terrorista promete continuar.

Enquanto durar a carnificina no Leste no Médio Oriente e norte de África muito dinheiro voará para Portugal e Espanha. Se ao menos os indígenas soubessem aproveitar positivamente a desgraça alheia...

sábado, abril 08, 2017

Atenção à TAP!


O cada vez mais difícil negócio da aviação


Este artigo publicado pela McKinsey é um alerta sobre a situação do transporte aéreo mundial e dos seus principais intervenientes: fabricantes de aeronaves—os que mais ganham com o negócio; agentes de viagens—que já nada ganham; ou os aeroportos e companhias aéreas—ambos no vermelho desde 2007.

O declínio da rentabilidade por lugar/Km começou em meados da década de 50 do século passado. Mas desde meados da década de 1970 (após a crise petrolífera de 73) que esta tendência declinante se manteve, em larga medida devido ao peso crescente da energia (os aviões a jato necessitam de petróleo de altíssima qualidade, de onde sai o Jet fuel) e da tecnologia desta indústria de ponta.

Percebe-se, depois de ler este artigo, que aventuras como o da propalada cidade aeroportuária de Alcochete não fazem qualquer sentido, ainda para mais num país falido, corrupto, irresponsável, cujo sistema bancário é hoje controlado por espanhois, catalães, chineses e angolanos.

E percebe-se, considerando as tendências expostas pela McKinsey, quão inverosímil é ouvirmos da TAP, endividada até ao tutano junto de bancos como o ex-BES, o BCP e a Caixa Geral de Depósitos/ Parpública, anunciar que contraiu responsabilidades junto da Airbus no valor de mais de 12 mil milhões de euros: 15 A320neo, 24 A321neo, e 14 A330-900neo.

Sendo a TAP pública, compete ao governo e ao parlamento conhecerem e reconhecerem a frágil situação da companhia. Têm, ao mesmo tempo, a obrigação de agirem rápida e drasticamente por forma a prevenir males maiores. Já bem basta a ruinosa inércia que demonstraram ao lidar com o colapso bancário do país.

Airlines perform a service that defines the modern age and is used by billions of people every year. Yet they do not make money at it. Over the most recent economic cycle, which included some excellent years, airlines still destroyed nearly $20 billion in value for their shareholders. Suppliers do much better (Exhibit 1). For example, aircraft manufacturers made $2 billion. Maintenance and repair organizations (MROs) along with providers of ground services and catering made $1.5 billion. And global distribution systems made $500 million and have enviable margins.


Airlines’ unit revenues are headed in only one direction: down (Exhibit 4). Airlines are becoming more efficient over time, by increasing in scale, optimizing the product delivery, and buying newer, more efficient planes. The improved efficiency over time reduces the unit cost base. Unfortunately for airlines (but happily for their customers), a highly competitive industry compels carriers to pass on these benefits to consumers in the form of lower unit prices.
in:
Buying and flying: Next-generation airline procurement
By Alex Dichter, Andreas Juul Sørensen, and Steve Saxon. McKinsey.

terça-feira, abril 04, 2017

Democracia online?


Falta uma alternativa às democracias populistas dominantes


A democracia online e os referendos deparam-se com alguns problemas. Se as perguntas não forem meticulosamente discretas, enquadradas e oportunas, correm-se riscos sérios de obter resultados absurdos ou indesejáveis. O Brexit que o diga!

A democracia deliberativa é uma coisa diferente, e uma alternativa lógica possível, procurando escapar às armadilhas populistas das chamadas democracias direta e referendárias, sem deixar de promover uma relação mais verdadeira e racional entre decisores e decisões. No fundo, precisamos de desenhar uma democracia simultaneamente cognitiva e inclusiva, em vez de deixarmos os regimes atuais apodrecerem sob o império da prepotência cesarista crescente, das burocracias partidárias e tecnocráticas, ou do populismo.

O artigo de Vinay Menon no The Star (1) sobre os acidentes que hoje ocorrem no marketing viral é um bom começo de reflexão.
Shall we ruin everything? Let’s put it to an online vote: Menon 
Asking the public to help name something is asking for trouble. 
Didn’t this lesson sail into clear view after theBoaty McBoatface imbroglio? Or five years ago, when Mountain Dew solicited names for a new apple-flavoured drink? That campaign, “Dub the Dew,” was hastily aborted when the company suddenly realized it might be forced to sell a beverage dubbed “Hitler Did Nothing Wrong.” 
— in The Star. By VINAY MENON
Sun., April 2, 2017

NOTA
  1. Devo esta leitura ao Pedro dos Reis. 

segunda-feira, abril 03, 2017

O fim da democracia

Manuel Casimiro
Serigrafia, 1972

Imaginação crítica e salvação


Nesta peça de Manuel Casimiro, de 1972 —curiosamente o mesmo ano em que Donella H. Meadows, Dennis L. Meadows, Jørgen Randers, e William W. Behrens III publicaram The Limits to Growth, e um ano antes da primeira grande crise petrolífera mundial— a metrópole moderna surge simbolicamente descrita como uma arquitetura e uma ideologia consumistas: cada arranha-céus é, nesta representação, uma embalagem do cabaz de compras típico de uma sociedade de consumo.

A intuição crítica do artista não poderia ter sido mais certeira, pois ocorreu naquele já longínquo ano de 1972 o fim da explosão económica que esteve na origem da ilusão do crescimento e da prosperidade perpétuas. A taxa de crescimento demográfico mundial atingira o pico em 1962. Metade das melhores reservas de petróleo americano (o puro e barato sweet crude oil) tinham já sido consumidas em 1970, pelo que seria a partir daquela data necessário poupar o petróleo remanescente e procurar satisfazer as futuras necessidades da voraz economia americana noutras paragens: Canadá, Irão, Iraque, Arábia Saudita, Líbia, Venezuela, Angola, etc. A primeria grande crise do petróleo ocorreria em 1973.

Recall from chapter 15 the four domains that I argued are the sources of deep satisfactions: family, vocation, community, and faith. In each of those domains, responsibility for the desired outcome is inseparable from the satisfaction. 
— in Charles Murray, Coming Apart.

Acabei de ler um livro de Charles Murray, publicado em 2012 sob o título Coming Apart—The State of White America, 1960-2010, onde se demonstra como o início do fim do Sonho Americano se fez acompanhar pelo declínio imparável das tão proclamadas quanto excecionais virtudes fundadoras da América: Industriousness, Honesty, Marriage, Religiosity. Este declínio atingiu sobretudo o que o autor chama new lower class, por oposição à new upper class, onde tais virtudes declinaram menos ou se mantiveram. Hoje existe uma elite económica, financeira e cultural que é sobretudo uma elite cognitiva, que se reproduz nos campus das grandes universidades e se aglomera em manchas urbanas e suburbanas muito bem delimitadas e homogéneas. Murray chama as estas manchas geográficas de poder económico, social e cultural, Super Zips. No extremo oposto desta novidade sociológica cresce a indigência económica, social e cultural, a uma velocidade tal que ameaça hoje claramente a estabilidade política da América—Yuval Noah Arari chama-lhe useless class. O populismo, de que Trump é o mais recente epifenómeno, é a face negra de uma moeda a caminho de uma desvalorização radical.

Quer na América, quer na Europa, este fenómeno alastra e põe em causa a nossa ideia de sociedade justa, e de democracia. Quem não viu até agora o perigo aproximar-se pertence, em geral, aos 1% dessa nova elite cognitiva protegida no interior de bolhas culturais que, mais cedo ou mais tarde, poderão implodir sob a pressão da mole hostil em que as maiorias democráticas se transformaram—deixando de se rever nas instituições políticas tradicionais e na dicotomia feliz esquerda/direita, que percebem como imprestáveis quimeras ou, pior ainda, como origens do mal.

Será que os artistas e os filósofos bem sucedidos serão ainda capazes de promover uma criatividade inclusiva? E se não forem, que poderemos esperar do resto da elite cognitiva: gestores, empresários, economistas, médicos, advogados, biólogos, engenheiros informáticos, funcionários públicos de topo, deputados, produtores, realizadores, atores e atrizes de teatro, cinema e televisão, jornalistas, etc?

Seria trágico continuarmos a meter a cabeça na areia, ou andar de óculos escuros pela vida que se deteriora à nossa volta. Ignorar a doença social que se vai transformando numa pandemia não a extingue. Pelo contrário, permite que se torne cada vez mais incurável e letal.

REFERÊNCIAS


  • Charles Murray. Losing Ground: American Social Policy, 1950–1980, Basic Books, 1984.
  • Charles Murray. The Bell Curve: Intelligence and Class Structure in American Life (with Richard J. Herrnstein), Free Press, 1994.
  • Charles Murray. Coming Apart: The State of White America, 1960–2010, Crown Forum, 2012.
  • David Hackett Fischer. The Great Wave: Price Revolutions and the Rhythm of History, 2000.
  • Donella H. Meadows, Dennis L. Meadows, Jørgen Randers, e William W. Behrens III. The Limits to Growth, 1972.
  • Jeremy Rifkin. The End of Work: The Decline of the Global Labor Force and the Dawn of the Post-Market Era, 1995.
  • Yuval Noah Arari. Sapiens: A Brief History of Humankind, London: Harvill Secker, 2014.
  • Yuval Noah Arari. Homo Deus: A Brief History of Tomorrow, London: Harvill Secker, 2016.


Atualização: 19 abril 2017 21:32 WET

sábado, abril 01, 2017

Aeroporto Cristiano Ronaldo


Quem será o último a rir?


O grande choque causado pelo busto alegre e bastante cinematográfico de Cristiano Ronaldo, que desde 29 de março de 2017 dá o seu nome ao aeroporto do Funchal, comprova apenas o sucesso do ícone escultórico criado por Emanuel Santos, antigo funcionário de limpezas do mesmo aeroporto, desempregado há três meses, 40 anos de idade, escultor autodidata como tantos. Só por si, esta descrição daria um bom documentário.

Os bustos que vemos pelas praças, jardins e rotundas portuguesas são em geral insuportavelmente académicos, mais parecendo máscaras mortuárias que celebrações da vida. Já alguma vez viram a galeria de horrores que dá pelo nome de Parque dos Poetas, em Oeiras? Pior, só mesmo a dita 'arte moderna' que infesta rotundas, estradas e auto-estradas por esse país fora. Ou ainda a mais recente corrida autárquica das estrelas cadentes do firmamento artístico contemporâneo indígena, como se o que ontem não prestava agora evita um precipitada descida de divisão social.

O insuspeito artista madeirense modelou um flagrante honesto do futebolista mais famoso do país e do mundo. Cristiano é assim, e não como o foto_pintam, nas campanhas da Armani e similares.




É certo que há um Cristiano Ronaldo que faz lembrar Marlon Brando, sobre tudo depois de ter sido encenado e fotografado por Mario Testino, Scott Frances ou Johan Renck, para a capa da Vogue, ou para a roupa interior da Armani. Há em ambos os ícones fisionomias bem desenhadas pelos genes, mais sensuais no olhar de Marlon Brando, mas a que a melhor simetria facial de Cristiano e a sua sobre-exposição mundial como ator e personagem dele próprio confere a sensualidade irresistível da realidade em ação. Quando ri, quando grita, quando chora.

Daqui a confusão de géneros que motivou o tumulto de opiniões. Um tumulto que só aumentou a popularidade do futebolista que hoje dá o seu nome a um importente aeroporto turístico, bem como ao ignorado desempregado que sem o prever saltou do anonimato mais absoluto para as redes sociais, imprensa e televisões de todo o mundo. Terá Emanuel Santos, ao menos, assegurado os seus direitos de autor? É que se o tiver feito, não precisará tão cedo de limpar o chão do Aeroporto Cristiano Ronaldo.

Serviço Público?


Um caso de violência sexual entre crianças não é um caso de pedofilia


Há que distinguir a 'investigação jornalística', do populismo tablóide que domina hoje boa parte dos meios de comunicação social. A RTP deveria, creio, ser uma guardiã do jornalismo útil, prudente, sério e de esclarecimento, deixando a exposição fácil e oportunista dos escândalos para a TVI e o Correio da Manhã. No caso que viria a resultar ontem de manhã na agressão criminosa contra um operador de câmara da RTP exigem-se todos os esclarecimentos possíveis. Evitar este escrutínio seria abrir a porta a uma espécie de terra de ninguém, nada saudável para uma democracia já ameaçada por perigos vários, de que uma deriva de regresso ao passado mental da censura não está totalmente excluída.

O que foi o repórter lá fazer?  
Vai e Vem. Publicado em Março 30, 2017 por estrelaserrano@gmail.com 
A RTP não adiantou quais os motivos da agressão nem explicou qual era o objectivo da reportagem. Tratando-se de duas crianças uma das quais alegadamente vítima de “agressão sexual” certamente a RTP não estaria à espera de filmar as crianças envolvidas ou os seus familiares. Pelo que não se ficou a saber que tipo de reportagem a RTP esperava fazer. 
(...) 
É evidente que qualquer violência sobre jornalistas é deplorável ainda mais quando se encontram no exercício de funções. Certamente o repórter agredido não fez mais do que recolher imagens de quem por ali se encontrava. 
Mas tratando-se de assunto tão grave e delicado, como a agressão sexual envolvendo  crianças, a recolha de imagens era absolutamente interdita. A lei de protecção de menores proíbe a exibição de imagens de vítimas de agressões sexuais e a RTP não desconhece as restrições impostas em situações envolvendo menores. 
+ 
Ainda a reportagem da RTP sobre distúrbios numa escola 
Vai e Vem. Publicado em Março 31, 2017 por estrelaserrano@gmail.com 
Deslocar a discussão para a agressão à equipa da RTP em vez de a centrar na substância do ocorrido na escola e nos procedimentos que devem ser adoptados na cobertura televisiva de crimes sexuais envolvendo crianças é fazer da RTP o centro da notícia coisa que, ela sim, é contrária às melhores práticas jornalísticas. 
O repúdio da agressão a um jornalista no exercício de funções não pode camuflar eventuais erros cometidos numa situação em que o jornalista se tornou ele próprio numa vítima. 
+

O assunto da reportagem abortada, motivada por um suposto caso de agressão sexual exercida por um miúdo de doze anos sobre uma criança de nove, azedou ao longo do dia de ontem, acabando os comentários de Estrela Serrano por suscitar a ira de 100 jornalistas da RTP, numa empresa que conta com 1100 funcionários. Estes jornalistas exigiram hoje a demissão de Estrela Serrano do Conselho de Opinião, o que não deixa de ser um péssimo augúrio.

Comentei ontem este incidente. Hoje acrescento, em defesa de Estrela Serrano, mais algumas palavras.

Um serviço público de televisão não deve andar atrás das audiências, nem querer competir com a TVI e o Correio da Manhã.

A RTP não é uma instituição intocável, mas continua a parecer impossível dar-lhe um perfil de verdadeiro serviço público, como a BBC ou a PBS americana, ou a Euronews, ou seja, onde não se transforme a informação desportiva numa diarreia perpétua de futebolismo infumável, onde não haja concursos desmiolados, nem telenovelas de cordel. Ou seja, um serviço capaz de elevar, em vez de perpetuar a inércia cultural de uma população pouco instruída e mal paga.

Dum serviço público espera-se e paga-se para ter informação criteriosa, esclarecimento crítico, diáspora, lusofonia, pedagogia e cultura em sentido amplo. Parece-me, no entanto, que o 'trade-off' deste híbrido, onde a esquina tablóide ocupa cada vez mais tempo de emissão, é escancarar 'ad nauseam' a janela hertziana paga por todos nós ao exercício da propaganda narcisista do poder e das suas oposições.

Colaborei com muito gosto num programa de televisão, na RTP3. Foi sobretudo um programa não contaminado pelos partidos. Talvez por isso tenha morrido tão cedo, apesar do bon share.

Por fim, a reação dos 100 jornalistas ofendidos com a opinião educada e objetiva de Estrela Serrano faz-me temer o pior de uma instituição que continua a resistir à mudança.

Porque não exigiram um inquérito interno ao sucedido, em vez de um saneamento?