sábado, outubro 21, 2017

O risco veio para ficar

Marcelo consola mulher destroçada pela tragédia dos incêndios.
Foto: Instagram/ Time

É preciso mudar radicalmente o conceito de segurança nacional


Este ano trágico trouxe ao conhecimento de todos não apenas a incompetência e arrogância dum governo de circunstância, oportunista e populista como nenhum de que tenha memória, mas também o retrato gritante da completa desorganização do nosso sistema de prevenção e combate dos riscos climáticos. Do amadorismo dos bombeiros, aos negócios sórdidos que rodeiam há décadas a indústria dos fogos florestais, passando pela falta da adequada dotação orçamental em matéria de prevenção de catástrofes e defesa da floresta, até ao nepotismo partidário criminoso que esteve na origem do descontrolo completo que tomou de assalto a Autoridade Nacional de Proteção Civil, o Ministério da Administração Interna e o Primeiro Ministro, tudo acabou por confluir numa destruição de vidas, de capital e de recursos naturais sem precedentes. Mais de cem mortes humanas e mais de duzentos feridos, milhares de animais mortos, mais de 500 mil hectares de terra queimada, largas dezenas de empresas reduzidas a cinzas e centenas de postos de trabalho comprometidos. As águas das chuvas transportarão nos próximos meses milhares de toneladas de detritos para as águas dos rios e albufeiras, em muitos casos já contaminadas pelos adubos oriundos da agricultura intensiva.

Os problemas sectorais precisam obviamente de soluções sectorais:

  • ordenamento do território, 
  • racionalização da exploração florestal, seja pela via da concentração compulsiva da exploração das terras, que não da sua propriedade, seja pela substituição de espécies sem rentabilidade económica (pinheiro bravo) por plantios sustentáveis (pinheiro manso, sobreiro, azinheira, carvalho, castanheiro, nogueira, amendoeira, cerejeira, etc.)
  • educação, desde o pré-escolar, das populações rurais, nomeadamente na prevenção e primeiro ataque aos fogos acidentais,
  • transferência de novos meios e novos poderes para os municípios e suas freguesias, 
  • profissionalização dos corpos de bombeiros (provavelmente o mais urgente e o maior investimento no imediato, depois das indemnizações às vítimas e aos familiares das vítimas mortais),
  • vigilância humana e eletrónica das florestas, 
  • atribuir à Força Aérea a competência exclusiva na coordenação e combate aéreo aos grandes incêndios florestais.
Mas se estes problemas particulares podem e devem ser resolvidos com determinação pelos especialistas sectoriais, falta igualmente considerar como um passo decisivo na viragem de página da incúria de Estado a que os partidos políticos trouxeram o País, criar um Conselho Superior da Proteção Civil, de natureza interministerial, integrado pelo primeiro ministro e pelos responsáveis ministeriais dos departamentos das finanças, administração interna, defesa nacional, e terra-mar, mas chefiado pelo Presidente da República.

O mundo entrou há já algum tempo numa zona de riscos sistémicos, de que as alterações climáticas e o fim da bonança petrolífera são as causas estruturais. Destas decorrem a queda da procura agregada global, a desinflação, a destruição das taxas de juro, o endividamento dos governos, empresas e famílias, a falência dos sistemas financeiro e de segurança social, e as crescentes tensões geoestratégicas entre os grandes consumidores de energia e de recursos naturais. 

Muito pouco podemos fazer para contrariar este terramoto civilizacional. Mas é importante conhecê-lo tão detalhadamente quanto possível, pois só assim um país poderá defender as suas populações, e precaver-se do pior, como seja, por exemplo, da sua sempre possível decomposição social e política. 

O que estamos a assistir em Espanha não é mais do que um efeito muito sério da crise que descrevemos sobre uma crise anterior, de ordem cultural e política. O grande endividamento da Catalunha tem origens semelhantes à da dívida pública mundial. Mas é agravada politicamente pelo facto de aquela nação não ser um país soberano, vendo logicamente o seu esforço fiscal ser agravado ao contribuir, por imposição de Madrid, para o alívio das dificuldades das demais regiões espanholas, cuja autonomia é, afinal, mais aparente do que real.

A dimensão dos riscos que hoje corremos são de uma ordem que nada tem que ver com os pequenos problemas do rotativsmo partidário do regime. Defendo, por isso, que o risco passe a ter um lugar central na configuração do regime e das suas instâncias de organização e poder.

Está na altura de começarmos a pensar num congresso nacional sobre os riscos sistémicos.


PS: este texto foi publicado 12 minutos antes da comunicação ao país do PM António Costa, no fim do Conselho de Ministros extraordinário de 21 de outubro de 2017.

sexta-feira, outubro 20, 2017

Bombeiros amadores, uma solução esgotada

Presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses Jaime Marta Soares
Foto: Lusa (recortada)

Membro da protecção civil - sob pseudónimo - denuncia o lóbi dos bombeiros.


O texto que transcrevo mais a baixo na íntegra chegou-me esta manhã à caixa de correio como bom. O que o mesmo descreve é algo que todos nós já mais ou menos sabemos: os bombeiros voluntários, enquanto associações dependentes do Estado, que por sua vez se dedicam ao negócio das ambulâncias e do correspondente transporte de doentes e sinistrados, alojando por vezes nos seus quarteis toda a espécie de serviços privados (os Bombeiros Voluntários de Carcavelos, por exemplo, prestam serviços de Psicologia, Osteopatia, Terapia da Fala e Dentista), não têm, nas sua esmagadora maioria, competências certificadas para lidar com fogos florestais. Nem com inundações, nem com terramotos, nem com ataques terroristas em larga escala. Para estas quatro grandes ameaças que pairam sobre sociedades cada vez mais envelhecidas e endividadas, os bombeiros da famosa Liga presidida pelo senhor Jaime Marta Soares, não servem, e é mesmo um crime lançá-los de forma temerária, sem meios adequados e bem geridos, e sobretudo sem conhecimentos, nem comando estratégico e político unificado, para a fogueira.

Sou de opinião que o combate aos grandes incêndios florestais, e em geral acudir a grandes catástrofes, deve caber em primeiro lugar aos corpos profissionais de bombeiros e serviços de emergência médica, cuja preparação e adequado apetrechamento logístico e equipamento terão que ser forçosamente garantidos pelo Estado. A Autoridade Nacional de Proteção Civil parece-me uma indispensável entidade de coordenação permanente nesta área, mas não pode ser mais uma central de emprego e negócios partidários, como a trágica interferência de António Costa e do PS no ANPC recentemente demonstrou. Para evitar esta pecha, tal como noutras instâncias da administração pública será necessário garantir mecanismos de supervisão pública automática (ou seja, sem mais burocracias supervisoras!) e começar por fazer depender a nomeação do responsável máximo da Proteção Civil de maioria parlamentar expressa e aprovação presidencial.

Nota importante: o presidente da ANPC nunca deverá ser, nem polícia, nem militar. Pois só assim poderá comandar, sem conflito de patentes, ações de proteção civil coordenadas com outros setores do Estado, nomeadamene policiais e militares.

Neste quadro reformado do sistema público de proteção civil, a formação profissional de bombeiros para grandes catástrofes —incêndios florestais, inundações, ataques terroristas em larga escala, e terramotos— é uma prioridade irrefutável. Assim como lançar uma campanha nacional de educação e prevenção dos grandes riscos, apoiada em quatro pilares: câmaras municipais, juntas de freguesia, paróquias, e uma rede de guardas florestais imediatamente reposta, sobretudo a norte do Tejo.

Neste quadro reformado, a Forças Aérea deve dispor dos principais meios aéreos de combate a incêndios, e só em última instância, i.e depois do reforço de meios provenientes de países vizinhos e da própria UE, é que se poderá colocar a questão de contratação de meios aéreos privados de combate aos fogos florestais.

Ao público o que é público, ao privado o que deve ser privado!


TEXTO RECEBIDO


«Por detrás de um vasto e emaranhado corpo legislativo sobre prevenção, vigilância e combate a incêndios, na prática essas tarefas, que são distintas e complexas, estão, por todo o País, entregues aos Corpos de Bombeiros Voluntários que dependem de Associações Humanitárias e respetivos órgãos sociais.

Essa dependência acarreta, necessariamente, uma dependência da área operacional em relação à área da gestão.

De uma forma geral, a gestão das citadas associações está completamente focalizada na sobrevivência económica e financeira das mesmas e essa sobrevivência não é assegurada pela área operacional, que é como quem diz, a sobrevivência económica e financeira das associações de Bombeiros Voluntários não é possível pelas atividades de prevenção, vigilância e combate. Estas são apenas usadas como instrumento de angariação da subsidiação suficiente (proveniente do OGE e dos orçamentos municipais), sendo, depois, parte substancial dos fundos obtidos usados na aquisição de equipamentos que nada têm a ver com prevenção, vigilância e combate quer de incêndios quer de inundações. Os equipamentos mais comuns e profusamente adquiridos são as ambulâncias, o que permite às associações especializarem-se como operadores do rentável mercado de transporte de doentes, entre outras atividades, como por exemplo clínicas e até ginásios.

A maior parte das associações, com o objetivo da subsidiação, mentem despudoradamente em relação ao número real de efetivos voluntários e mentem em muitas outras coisas, nomeadamente na faturação das refeições disponibilizadas aos operacionais nos teatros de operações, à ANPC, quando na maioria dos casos essas mesmas refeições são disponibilizadas pela própria população e associações cívicas ou pelos municípios, ou seja, um esbulho permanente.

Da mesma forma que usam os fundos para a aquisição regular desses equipamentos de negócio, também não os usam para a formação dos seus efetivos voluntários. A formação que lhes é prestada é precária, prestada na maioria das vezes pelas próprias associações, incompleta, tecnicamente deficitária, em que os homens e mulheres são envolvidas em teatros de operações perigosíssimos sem o mínimo de preparação, literalmente atirados às chamas em territórios que não conhecem e atirados, também, à ira das populações.

No dia em que em Portugal alguma instituição independente fizer uma auditoria aos fundos recebidos numa década pelas centenas de associações (incluindo os que resultam das coletas organizadas junto das populações) e os “compaginar” com os verdadeiros fins a que foram destinados cairá “Carmo e Trindade” e parte substancial de tudo ficará explicado.

A prevenção, a vigilância e o combate de incêndios e inundações, em Portugal, é um enorme exercício de manha e de fingimento. Uma manha reconhecida, um fingimento consentido.

Mas a morte dos Bombeiros Voluntários nos teatros das operações não são nem manha nem fingimento, são desperdícios intoleráveis de vidas humanas generosas, desperdícios que poderiam ser evitadas se o Estado (que neste caso é como quem diz a Assembleia da República o os sucessivos governos) assumisse as suas responsabilidades em matéria de soberania.

A prevenção, vigilância e combate destas tragédias deve ser uma missão pública e encarada exclusivamente como um serviço público essencial que passará pela criação urgente de um Corpo Nacional de Operacionais Bombeiros, de cobertura nacional e base distrital, com tutela, hierarquia própria, dotada de meios técnicos e humanos profissionalizados (o que implica uma formação de qualidade, certificada) com protocolos de colaboração específicos com o Exército, com a Marinha, com a Força Aérea, com a GNR, com a PSP e com os Municípios.

Este Corpo Nacional de Operacionais Bombeiros poderia, muito bem, absorver todos os efetivos voluntários ligados às associações que o quisessem (e também as pequenas forças profissionais de intervenção – GIPS e FEB) e as associações poderiam, perfeitamente, continuar a dedicarem-se ao transporte de doentes, aos ginásios, às clínicas, etc, etc., e viverem daquilo que o “mercado” possibilita.

A criação do citado corpo operacional e profissional, resolveria, por uma vez, todas as trapalhadas das descoordenações operacionais, dos comandos “pluri-céfalos”, das decisões tomadas por pulsões de egos e por necessidades económicas.

Há postos de comando instalados em teatros de operações que mais fazem lembrar uma opereta bufa, repleta de faisões engalanados, onde até há tempo para se beber um chazinho e comer umas bolachinhas, enquanto nos próprios teatros reina o caos e impera a morte.

Como se pode ler no célebre e recente Relatório da Comissão Técnica Independente, “teremos de orientar a atuação para a adoção de forças especializadas com elevado nível de qualificação, destinadas à resolução destas problemáticas, o que não se coaduna com amadorismos”. Acrescento que não coaduna com amadorismos nem com ganância.

O financiamento desse corpo operacional e profissional está por natureza já assegurado: bastará usar os imensos fundos do OGE e dos Municípios que são sistematicamente atribuídos às associações e suas representantes, com os resultados que o País, infelizmente, testemunha. O valor orçamentado pelo MAI para a ANPC e para o ano em curso foi de mais de 133 milhões de euros e para o próximo ano de mais 149 milhões de euros, montantes completamente incompatíveis com a qualidade do serviço prestado.

É evidente que o problema de fundo (a tragédia recorrente dos incêndios) não se resolve apenas com a criação deste Corpo Nacional de Operacionais Bombeiros, mas sim com novas políticas agrícolas, florestais, de planeamento demográfico e fiscais, mas a sua criação é condição sine qua non para que o mais importante possa começar a ser feito desde já: a salvaguarda de vidas humanas quer de bombeiros quer das populações afetadas. E isto para ontem!»

Coutinho de Moura, membro da protecção civil

quinta-feira, outubro 19, 2017

Votos de sangue

António Costa, uma criatura sem caráter.

Quanto sangue custa manter o minoritário Costa e a Geringonça?


Escrevi em 21 de junho do corrente ano neste mesmo blogue, para espanto e incredulidade de alguns, a seguinte frase: António Costa é o principal responsável pela tragédia de Pedrógão Grande. E expliquei porquê: foi Costa quem assinou, ainda no tempo do governo PS liderado por José Sócrates, o contrato ruinoso com o Siresp; foi Costa quem mudou o presidente da Proteção Civil (ANPC), trocando o anterior por um militar de aviário casado com uma gal do PS, do circulo costista, obviamente; e foi este militar de aviário, mais o não licenciado secretário de estado das florestas que procederam à substituição de dezenas de chefias operacionais na ANPC e nos corpos de bombeiros invocando que os mesmos não eram licenciados!

Desde então assistimos ao espetáculo de uma recolha monumental de donativos ter ido parar a uma nebulosa de bancos e instituições de solidariedade que, em vez de os dar a conhecer e em vez de os aplicar no auxílio imediato às vítimas, mantiveram o dinheirinho da generosidade popular a render juros financeiros e políticos! O tiro saiu-lhes, felizmente para os atingidos pela tragédia incendária, pela culatra.

Entretanto, vieram as eieições autárquicas.

O PS perdeu a maioria de Lisboa e não ganhou as eleições no Porto, vendo mesmo Rui Moreira obter uma maioria absoluta, apesar da campanha suja que PCP, Bloco e PS montaram contra o autarca independente, apoiado pelo CDS. Como se isto não bastasse, ficou definitivamente esclarecida a insignificância autárquica do Bloco (não passa de uma agremiação urbana pequeno-burguesa com hábitos burgueses), e percebemos com surpresa que o colapso autárquico dos comunistas é o sinal claro de um declínio inexorável.

Na noite das eleições o PS de Costa descia radiante, com um molho de jornalistas à sua volta, a centena e meia de metros que separa o Largo do Rato, do Hotel Áltis. Ficara então evidente para todos que Bloco e PCP tendem a perder votos e influência para o PS sempre que este vira, como dizem, à esquerda, por mais que os comunistas berrem nas ruas, ou por mais que os bloquistas encharquem a comunicação social com a sua presença desproporcionada.

A fartura foi tanta que Costa se viu na contingência de ter que dar mais umas malgas de lentilhas aos parceiros oportunistas da sua oportunista parceria, com receio de que estes pudessem roer a corda à Geringonça. Não é provável que o façam, mas António Costa, à cauttela, preferiu dar instruções ao rapaz bem mandado das financças para que este fizesse mais umas contas de merceeiro para o orçamento de 2018. E fez, aumentando mais impostos e taxas, diretos e sobretudo indiretos, preparando-se ainda para aumentar a austeridade das esquerdas onde o povo mal vê, se não depois dos desastres: corte nas despesas de capital (por exemplo na ferrovia e outras infraestruturas), cortes nas despesas correntes dos ministérios (mais cativações definitivas), e cortes em despesa pública essencial, como a saúde (sim, do Serviço Nacional de Saúde!) e a segurança.

O ministro da saúde, entretanto, falsifica informação sobre listas de espera nos hospitais públicos, cujo aumento durante estes dois anos de Geringonça é responsável por um número não determinado de mortes por ausência de resposta do SNS. A administração interna, por sua vez, leva cortes em rúbricas cruciais à manutenção de um dispositivo de combate aos incêndios florestais quando são mais precisos.

Para cumprir o défice, que continua a ser uma imposição da Troika, prosseguida agora pela chamada Comissão de Acompanhamento formada por representantes da Comissão Europeia e do BCE, António Costa e a Geringonça comprometeram e prometem continuar a comprometer de forma aventureira e populista a segurança do país.

Até hoje, cumprir ao mesmo tempo o défice exigido pelos nossos credores, satisfazendo também as exigências demagógicas dos comunistas e da extrema esquerda, mais os pedidos infantis do partido dos animais, custou este ano a Portugal para cima de 100 mortos, mais de 220 feridos, alguns milhares de milhões de euros em prejuízos materiais, e uma distorção populista da despesa pública, a qual irá ter novas e graves consequências no nosso bem estar estrutural.

Não creio que os funcionários públicos queiram ou votem neste suicídio.

As burocracias partidárias e sindicais continuam a fazer qualquer coisa para comprarem os votos de que tanto necessitam para justificarem a sua existência cada vez mais prescindível. Mas será que alguém já tentou explicar-lhes que os votos que tão desesperadamente procuram são, afinal, votos que causam sangue?

quarta-feira, outubro 11, 2017

Gaspar defende Rendimento Básico Incondicional

Vítor Gaspar, Diretor do Departamento de Assuntos Fiscais do FMI

Quem diria! Vitor Gaspar e o FMI defendem impostos sobre os rendimentos mais altos e ainda o... Rendimento Básico Incondicional!!!


Não é o Francisco Louçã, mas um primo seu, de direita, como gostam de acentuar despeitosamente os cadáveres das esquerdas, quem vem defender, num estudo do FMI, a necessidade de ponderar seriamente o chamado Rendimento Básico Incondicional (Basic Income, na terminologia inglesa), chamando curiosamente a atenção para duas entorses sociais que precisam de correção urgente: o agravamento brutal da disparidade dos rendimentos e da riqueza global, e a ineficiência (e corrupção, digo eu) dos mecanismos paternalistas e/ou populistas da chamada proteção social. 

Redistribuição mais justa da riqueza disponível, nomeadamente através de uma fiscalidade progressiva melhor desenhada, e a criação nos orçamentos públicos de uma nova rubrica na coluna das despesas, sem rendeiros, nem burocratas pelo meio, chamado Rendimento Básico Incondicional, eis o que propõe à discussão o famigerado Vítor Gaspar, Diretor do Departamento de Assuntos Fiscais do FMI.

Todos percebemos que só este tipo de alívio fiscal de índole social poderá ser uma alternativa credível à bolha criminosa gerada pelo alívio fiscal dos bancos e dos governos. 

Esta bolha, promovida pelo poder burocrático instalado está, aliás, outra vez, numa rota de colisão com a realidade. Quando rebentar, vai ser bem pior do que a crise imobiliária especulativa americana, e do que a crise das dívidas soberanas europeias, que começaram em 2007 e, verdadeiramente, ainda não terminaram.

Ora aqui está um tema para Santana Lopes digerir antes de apresentar o seu programa de regeneração do PPD/PSD.

El FMI propone subidas de impuestos a los ricos y la renta básica universal para atajar la brecha social 
Jose Luis de Haro (Nueva York)11/10/2017 - 15:30 

Es por ello que el informe centra buena parte de su atención en tres areas principales: los impuestos aplicado a las rentas más altas, la adopción de un régimen con un salario básico universal (UBI, por sus siglas en inglés) y la función del gasto público en el terreno de la educación y la salud.

(...) 
Otro tema candente y que ha cobrado protagonismo durante los últimos años es el del salario básico universal, que a ojos del director del Departamento de Asuntos Fiscales "tiene el potencial de tener un impacto significativo en la desigualdad y la pobreza". Sin embargo, Gaspar incide en que en los debates sobre este tema debe incluirse también el coste fiscal que este tipo de medidas tendría para los gobiernos y cómo financiarlas.
Para el FMI el coste de aplicar un salario universal varía según el nivel fijado. Como ejemplo, la institución estima que un sueldo de un 25% del ingreso per cápita medio, tendría un coste fiscal que rondaría el 6% y el 7% del PIB en las economías avanzadas y entre el 3% y el 4% en las economías de mercados emergentes y en desarrollo. 
Otro tema candente y que ha cobrado protagonismo durante los últimos años es el del salario básico universal, que a ojos del director del Departamento de Asuntos Fiscales "tiene el potencial de tener un impacto significativo en la desigualdad y la pobreza". Sin embargo, Gaspar incide en que en los debates sobre este tema debe incluirse también el coste fiscal que este tipo de medidas tendría para los gobiernos y cómo financiarlas.
Para el FMI el coste de aplicar un salario universal varía según el nivel fijado. Como ejemplo, la institución estima que un sueldo de un 25% del ingreso per cápita medio, tendría un coste fiscal que rondaría el 6% y el 7% del PIB en las economías avanzadas y entre el 3% y el 4% en las economías de mercados emergentes y en desarrollo. 
Además, su implantación debería estar precedida de un cuidadoso análisis por parte de los gobiernos en cuestión. En el Monitor Fiscal se recomienda que la implantación de un salario básico universal sirva como una opción para reemplazar el gasto social ineficiente. Al respecto se habla de alternativa a los subsidios sobre los combustibles.

O TGV chegou a Marrocos a 320 Km/h


250 Km/h não chega para ser competitivo com os aviões... Capiche? 


Portugal, de momento, é uma ilha ferroviária em decomposição. Basta olhar com olhos de ver para a Linha do Norte, para a ligação Porto-Galiza, ou para as linhas suburbanas de Sintra e Cascais. Prioridades: 
  1. ligação Lisboa-Madrid-Barcelona-resto da Europa
  2. ligação Porto-Galiza
  3. ligação Aveiro-Porto-Salamanca-Madrid-País Basco-resto da Europa
  4. privatizar progressivamente os serviços de transporte ferroviário de passageiros, mantendo públicas as infraestruturas, começando, desde logo, pela Linha de Cascais, antes que aconteça algum desastre!
Sobre uma mesma linha de alta velocidade (bitola europeia) pode e deve circular-se a várias velocidades. E as concessões de serviço de transporte podem e devem distribuir-se por concorrentes de nacionalidade diversa: portuguesa (comboios circulando abaixo dos 250 Km); espanhola, francesa e alemã, para comboóios circulando acima dos 250 Km.

Esperemos que a austeridade comece a bater no sítio certo!

O comboio já circulou na segunda-feira a 275 quilómetros por hora, num troço de 110 quilómetros, entre Kenitra e Tanger, no norte do país, na presença do ministro dos Negócios Estrangeiros francês, Jean-Yves Le Drian, que foi ver os progressos deste projeto “emblemático da relação bilateral franco-marroquina”. 
O custo total do projeto, financiado pela França em 50%, ascende a 22,9 mil milhões de dirhams (cerca de dois mil milhões de euros), um desvio em cerca de 15% a mais em relação às estimativas iniciais, feitas em 2007, segundo os números divulgados na segunda-feira.  
“Estamos a menos de nove milhões de euros por quilómetros, que compara com um padrão europeu de 20 milhões de euros”, sublinhou Rabii Lakhlii, o presidente do ONCF.  
SAPO24

Santana: "Alea jacta est"


O rio que Santana acaba de atravessar é um mero fio de água em plena seca. O Rubicão chama-se Costa.

“Hoje é um dia de boas notícias, Portugal ganhou e eu sou candidato à liderança do PPD/PSD” - RTP

Mete cada vez mais dó a promiscuidade entre os partidos da governança e os meios de comunicação tradicionais. Dito isto, Santana é o populista que o populista Costa, e a populista Geringonça, merecem.

Com o bloco das esquerdas a esboroar-se, o PS bem pode começar a pensar num sucessor de António Costa, menos populista, e disposto a jogar ao centro, porque a bipolarização esquerda-direita introduzida no país pelo segundo primeiro ministro que não ganhou umas eleições (o primeiro foi, precisamente Santana Lopes), revelou-se, como sempre afirmei, uma ideia perigosa e um populismo que poderá sair muito caro às esquerdas de cujas cavernas ideológicas sairam as sombras animadas do estalinismo, do maoismo e do trotsquismo, na forma caricata de uma Frente popular pós-moderna.

Nas próximas eleições legislativas, que poderão chegar mais cedo do que o cada vez menos seguro presidente Marcelo quer, António Costa e Pedro Santana Lopes irão procurar a legitimidade democrática plena que o primeiro não tem, e que o segundo não teve. Vamos, portanto, assistir a uma espécie de relegitimação épica do regime constitucional que temos.

Se Santana ganhar as diretas do PPD-PSD, como espero e desejo, pois abomino líderes políticos que desprezam as artes, o tempo para mostrar uma alternativa à Geringonça será porventura escasso. Talvez por isso, quase apresentou ontem na SICN um programa de governo!

As últimas eleições mostraram, uma vez passada a poeira da manipulação partidária montada pelo PS e pelos os loosers proverbiais do PSD, com a ajuda terceiro-mundista das agências de comunicação e da imprensa indigente que temos, o que já sabíamos: Portugal não é sociologicamente de esquerda. E mesmo o eleitorado jovem do envelhecido PCP, assustado com o aventureirismo sindical dos velhos caciques estalinistas do Partido (evidenciado de forma gritante na greve que ditaram na Autoeuropa) guinaram em direção à razoabilidade e à prudência.

Resta saber como irão evoluir Lisboa e Porto na nova dinâmica eleitoral saída das eleições autárquicas, onde os independentes não só não se esfumaram, como ganharam força e futuro.

Assunção Cristas é uma game-changer, como finalmente se percebeu. O PS perdeu a maioria na capital, e não ganhou ao independente Rui Moreira, mesmo manipulando sondagens à boca das urnas. Continuo a não saber o que é que o PS ganhou nestas Autárquicas!

Pedro Santana Lopes não deveria, em minha opinião, desgastar-se numa qualquer luta com Assunção Cristas, porque perderá sempre para a jovem líder. Mas deve, em minha opinião, conquistar o coração do Norte, pois é a norte que o futuro deste país tem as principais bases de sustentação económica efetiva. Um país sobre-endividado como o nosso não poderá manter por muito mais tempo uma economia virtual e burocrática paga pelo BCE e por uma espécie de fascismo fiscal.

Os estímulos do BCE vão retirar-se de cena, mais dia menos dia, e os juros do BCE vão começar a subir paulatinamente até aos 4%. Só falta saber se estes dois fatores de reversão do keynesanismo financeiro vigente ocorrrá até às próximas legislativas, ou depois de 2019.

António Costa está, por fim, entalado, ou seja, guinar a sua política de alianças à direita deixou de ser um cenário credível. Estará, afinal, de ontem em diante, cada vez mais prisioneiro do PCP e do Bloco. O que não deixa de ser uma ironia, pois quem meteu comunistas, maoistas e trotsquistas no bolso, começa agora a entrar nos bolsos destas sombras do marxismo.

Sabem o que é uma Garrafa de Klein? Foi no que a Geringonça se transformou. Só partindo-a o enguiço se desfaz.

segunda-feira, outubro 09, 2017

A ilusão politicamente correta

Origem desta imagem

Atravessar uma tempestade exige preparação e sangue frio. As invocações ideológicas e o atavismo só atrapalham e tornam a viagem mais perigosa.


Sem energia barata o mundo começa a encolher. Na demografia—cuja taxa de aceleração parou em meados da década de 1960—, no crescimento do produto agregado mundial, na capacidade de endividamento, em suma, no poder mágico dos governos e bancos.

Os Limites ao Crescimento chegaram, como previsto por Donella Meadows. Em breve saberemos se toda a nossa capacidade de pensamento, reforçada pela inteligência artificial, será capaz de dar conta do recado. Até lá, os ânimos individuais e coletivos agitam-se perigosamente. As pessoas passam-se (Las Vegas, outubro de 2017). Mas quando são as coletividades a passarem-se, a coisa agrava-se rapidamente. Os catalães, por exemplo, não querem ser mais espoliados fiscalmente para acudir à crise de rendimentos que afeta o resto da Espanha (exceto Madrid e as Baleares). O racional é simples, se a Catalunha empobrecer por causa do empobrecimento da Andaluzia, Galiza, Extremadura, etc., a prazo, todos empobrecerão de modo irremediável, destruindo-se deste modo, e ao mesmo tempo, capital, capacidade produtiva e poupança, ou seja, a própria esperança de gerir bem uma inevitável metamorfose civilizacional.


Why political correctness fails – Why what we know ‘for sure’ is wrong (Ex Religion)Posted on October 1, 2017, by Gail Tverberg in Our Finite World 

Most of us are familiar with the Politically Correct (PC) World View. William Deresiewicz describes the view, which he calls the “religion of success,” as follows: 
There is a right way to think and a right way to talk, and also a right set of things to think and talk about. Secularism is taken for granted. Environmentalism is a sacred cause. Issues of identity—principally the holy trinity of race, gender, and sexuality—occupy the center of concern. 
There are other beliefs that go with this religion of success: 
  • Wind and solar will save us. 
  • Electric cars will make transportation possible indefinitely. 
  • Our world leaders are all powerful. 
  • Science has all of the answers. 
To me, this story is pretty much equivalent to the article, “Earth Is Flat and Infinite, According to Paid Experts,” by Chris Hume in Funny Times. While the story is popular, it is just plain silly.

Portugal continua a arder!



Partidos, ocupados com o jogo das cadeiras, não querem saber do país. Apenas caçam e contam votos.


Quando o populismo triunfa, o mais certo é estarmos a caminho dum processo de extinção, no mínimo, cultural. Para já, estamos na fase mista do jogo de cadeiras económico, financeiro e social, onde todos jogam contra todos. O simples facto de os incêndios em Portugal se terem transformado num negócio que aproveita a tantos, menos a quem fica sem as árvores, casas e vidas, dá bem ideia do grau de alienação política a que já chegámos.

Em 1954 um relatório da FAO realça o quase perfeito dispositivo de prevenção e combate a incêndios, gerido pelos Serviços Florestais (SF), que defendia a floresta pública e comunitária portuguesa. O relatório chamava a atenção para o facto da defesa das matas privadas (a larga maioria) ser executada pelos proprietários e populares, sem equipamentos adequados, técnica ou coordenação. A desorganização agravava-se em incêndios de maior dimensão, a que podiam ocorrer unidades militares, alguns corpos de bombeiros e os SF. Dada “a riqueza e importância estratégica para o país” (estávamos em 1954!) recomendava-se que se investisse na gestão das matas privadas e se executassem medidas preventivas, expandindo a este património privado o dispositivo que protegia as matas sob gestão pública. 
Tiago Oliveira/ João Pinho in Observador, 8/10/2017

sexta-feira, outubro 06, 2017

A morte do PCP

Há uma vertente obviamente religiosa no PCP

Passos Coelho soube gerir a favor do PSD a derrota eleitoral em Lisboa. Jerónimo e a gerontocracia comunista ainda não acordaram.


Na realidade, estas eleições autárquicas assinalam o primeiro dia do resto da vida do PCP, que nunca mais será a mesma.

O declínio sindical e autárquico dos herdeiros de Cunhal é visível há já alguns anos. Basta reparar nas percentagens eleitorais que deslizam de forma consistente, basta observar a perda de sindicalizados na CGTP, basta analisar a ilegitimidade e mesmo legalidade duvidosa crescentes das suas lutas e sobretudo provocações de rua. Basta avaliar, agora, as razões de desespero que em 2015 levaram Jerónimo de Sousa a entregar o partido a António Costa, acreditando ingenuamente que o líder do PS era um homem de esquerda.

A Geringonça vai durar enquanto houver crédito externo, mas passará a caminhar manca de comunistas e aos ziguezagues. Houve um verdadeiro assalto aos bastiões do PCP, e quem o corporizou foi António Costa. Depois de meter o PCP parlamentar no bolso, não resistiu a papar-lhe as autarquias históricas—Almada, Barreiro, Alcochete e Évora—, aumentando também a maioria que já obtivera em Beja, e diminuindo ainda drasticamente a diferença que separa o PS do PCP nas restantes autarquias comunistas. Pior era impossível. Foi aliás esta hecatombe que levou António Costa a inventar a farsa da grande derrota do PSD, que o líder laranja aproveitou, para sair de cena, deixando espaço ao seu partido para se recompor.

Ou seja, António Costa deu, como já escrevi, uma verdadeiro abraço de urso a Jerónimo de Sousa. Mas o pior é os comunistas não terem saída fácil do buraco onde cairam. Para já, terão que aprovar o Orçamento, contenha este o que contiver, pois caso não o façam, e como Costa quer, lá se vão os pelouros em dezenas de câmaras onde o PS domina. Ou seja, se não engolirem todos os sapos do Orçamento de 2018, a derrota autárquica será ainda maior! E se ocuparem as ruas, para esconder o óbvio, as próximas legislativas serão uma espécie de golpe de misericórdia numa agremiação pré-histórica e sem emenda.

quinta-feira, outubro 05, 2017

A vitória da farsa


Parar para pensar...


... PS não só perdeu a maioria na Câmara como teve menos 10% dos votos, metade dos quais terão ido para o BE enquanto o PCP ficou praticamente igual. No concelho de Lisboa, a «esquerda» junta teve 57% em 2017 quando tinha tido 61% em 2013.... 
in Manuel Villaverde Cabral, Observador, 5/10/2017)

PPC deixou a corja do seu partido e as esquerdas alegres a falarem sozinhas. É bem feita!
As esquerdas, endogâmicas e oportunistas, convém alertar os mais distraídos, ou mais medrosos, atingiram o seu pico eleitoral. Não conseguem mais, nem com trombetas e toda a imprensa indigente no bolso. Ou seja, a partir daqui, a prova dos nove do que afinal as esquerdas são capazes, e é quase nada, vai traduzir-se negativamente nos seus próximos resultados eleitorais. Basta olhar para o buraco onde o PCP já caiu, e a inexistência local dos bloquistas. Em breve, se os populistas quiserem continuar a endividar o país, já não terão, nem Draghi, nem Totta! A sua esperança de vida começa a encurtar-se rapidamente.

Vai ser preciso uma abordagem da Política radicalmente nova. Se tivermos sorte, uma parte do atual espetro partidário e sobretudo novas energias sociais acabarão por mudar um regime que já só vive para manter a sua burocracia e os cleptómanos que dele se apoderaram.

Confederação Ibérica



O problema já não é se..., mas quando...


...e se, para lá chegar, os espanhóis irão passar por mais uma tragédia, com as profundas cicatrizes que sempre deixam, ao longo de várias gerações, no subconsciente dos povos.

Uma União Espanhola, uma união voluntária das nações espanholas, como existiu desde os Reis Católicos até à invasão napoleónica, que impôs a primeira constituição aos espanhois estabelecendo o princípio de um só estado, uma só soberania, uma só nação, seria uma maneira perfeitamente pacífica e produtiva de sair do funil histórico para onde os dois principais partidos do país (populares e socialistas), por absoluta inabilidade, estão a levar milhões de pessoas, para quem a Espanha negra nunca existiu, ou era já uma recordação ténue.

Uma União Espanhola seria melhor do que uma federação, pois definiria o perfil soberano de  cada autonomnia que optasse pela independência.

Por fim, quando o processo espanhol estabelizasse, poderíamos pensar numa Confederação Ibérica, incluindo Portugal, ou seja, poderíamos caminhar paulatinamente para uma parceria de estados soberanos em nome de uma convergência regional e ultramarina com pergaminhos históricos evidentes.

Os tempos que se aproximam serão muito exigentes. Seja por efeito das alterações climáticas, seja por efeito dos picos demográfico e energético, as tensões sociais, económico-financeiras e políticas tenderão a avolumar-se exponencialmente. As crises migratórias, mas também as tendências nacionalistas e populistas (de direita e de esquerda) evidenciam por toda a parte a sua imparável emergência. Só o bom senso, e sobretudo o conhecimento efetivo das causas que realmente nos afligem, poderão evitar o pior.

Pelo que conheço da história europeia e pelos meus amigos espanhóis, formulo aqui um desejo sincero e veemente: que a crise catalã deixe de ser uma coisa má para todos, e se transforme numa coisa boa para todos!

Monarch falida


Numa economia virtual as Low Cost não teriam fim. Na economia real  têm!


Os aviões são um negócio que perde ou ganha pouco dinheiro. O negócio principal está nos aeroportos.

Por causa desta debilidade estrutural, o transporte aéreo de passageiros tem sido altamente subsidiado pelos governos, direta e indiretamente. Ou seja, os governos, e portanto os países, endividam-se por conta das suas ditas companhias de bandeira. Por outro lado, os governos praticamente isentaram as companhias aéreas de impostos sobre os consumos astronómicos de petróelo fino de que necessitam para voar.

A isto acrescem agora três novas causas da inviabilidade a prazo do transporte aéreo para todos:
  • o fim anunciado da expansão monetária promovida desde 2008 pelos bancos centrais americano, europeu e japonês, 
  • a mortalidade natural dos turistas reformados, que não são integralmente substituídos por novos idosos, porque estes últimos estão a ver as suas pensões a desaparecer. 
  • e, por fim, a destruição das classes médias, atualmente em curso.
O futuro pertencerá mais ao Skype, ao Facebook, e à Amazon, do que propriamente às companhias aéreas.

Já agora, acrescente-se: a TAP voltou a ter grandes prejuízos que se vão somar à sua tão gigantesca quanto dissimulada dívida (pública) acumulada.

Não é por acaso que se vislumbra uma nova guerra social no horizonte.

terça-feira, outubro 03, 2017

O António Maria e o PS




A quem me lê


O PS teve nestas Autárquicas 1.956.703 votos
O António Maria ultrapassou hoje 1.500.000 visualizações. Deixem-se sorrir por um dia!

Grão a grão, sem outra motivação que não seja pensar o meu país e o mundo de forma desinteressada, sem depender do dinheiro alheio, nem de ambições ou obsessões partidárias, sem subserviência diante seja de quem for, sem cartas escondidas, procurei e continuarei a procurar perceber o que se passa.

O mundo mudou. Os riscos e os perigos crescem por toda a parte. Decorrem, principalmente, do fim próximo das energias baratas, do pico demográfico mundial e do envelhecimento populacional, das alterações climáticas induzidas ou não pela ação humana, da queda tendencial da procura agregada mundial, dos novos equilíbrios fomentados pelo terror, da falência dos estados, da destruição das classes médias, dos autoritarismos populistas que, à direita e à esquerda, renascem como cogumelos numa madrugada de outono.

Portugal não está bem, mas está melhor que a esmagadora maioria dos países deste planeta. O nosso sistema político e constitucional, e o nosso sistema partidário, apesar de os fustigar quase diariamente com críticas e avisos, gozam de equilíbrios, quase naturais, invejáveis. As últimas eleições mostraram claramente que os eleitores portugueses são tolerantes e gostam da democracia que temos. Podemos e devemos melhorar a transparência das instituições e dos órgãos de poder, podemos e devemos ter uma administração pública mais eficiente, e sobretudo mais próxima dos cidadãos*, podemos e devemos ajudar quem produz e cria, podemos e devemos continuar a defender a Europa, podemos e devemos ajudar os nossos amigos espanhois a ultrapassar o regresso, muito grave, de uma crise de identidade velha de muitos séculos. Portugal está a perder população, a qual, por sua vez, tem vindo a envelhecer rapidamente. Em breve teremos que criar condições favoráveis a uma imigração criteriosa, oriunda sobretudo da Europa e dos países que falam a nossa língua e não ofendem a nossa religião dominante.

Estamos a iniciar uma metamorfose cultural profunda. É fundamental conhecê-la.

Obrigado por me lerem, E obrigado pelos comentários, quase sempre privados, que me impediram até hoje de terminar um projeto incialmente previsto para não durar mais de 500 posts. Esta é a mensagem 2316.




* Uma das propostas de António Costa que nunca critiquei e aplaudo é a de fortalecer o poder autárquico, dando-lhe mais poderes e mais meios. As câmaras municipais e as juntas de freguesia são o sal da nossa democracia. As Áreas Metropolitanas de Lisboa e Porto devem caminhar para verdadeiras cidades-região. Se preciso for, para atingir este desiderato, recorra-se ao referendo, para conhecer a vontade popular sobre este passo de coordenação e eficiência. É no entanto no reforço de poderes e meios das freguesias que reside, mesmo nas grandes cidades, o essencial desta pequena revolução institucional. Basta pensar nos incêndios deste verão em Portugal, ou nas tragédias climáticas que têm atingido o continente americano, mas também Àfrica, a Indonêsia, China, etc., para concluirmos que é fundamental e urgente transformar o poder democrático numa malha fina capaz de decidir de forma decidida e transparente sobre a multiplicação dos riscos imprevistos, sobretudo ecnómicos, financeiros e climáticos, que vieram para durar.

segunda-feira, outubro 02, 2017

As saudades que o PCP vai ter da direita!




Títulos para uma imprensa sem imaginação


António Costa deu um abraço de urso ao PCP

Avisei: PCP ou forçava uma coligação, ou morreria nos braços 'das esquerdas': PS e BE

Avisei: dividir o país entre esquerda e direita seria mau para a esquerda...

Se este PS durar no poder duas legislaturas, o PCP desaparece

O declínio em Beja, a perda de Loures e os coices de Almada e Barreiro ditam o crepúsculo do PCP

As perdas eleitorais do PCP são estruturais. Desenganem-se os beatos da ortodoxia!

Quem derrotou o PCP em Peniche foi o ex-PCP

O PCP morreu de velho

O PCP está a morrer nas cidades, mas no Alentejo também!

As saudades que o PCP vai ter da direita!

O problema dos jovens do PCP é que são velhos :(

Qual o preço da greve na Autoeuropa? Uma hecatombe autárquica no PCP

O PS não ganhou o Porto e perdeu a maioria em Lisboa. Vitória? Só se for sobre o PCP

Medina: menos 3 vereadores

Não é Passos Coelho que está mal, mas o PSD, que sofre do mesmo atavismo que o PCP

Cristas, a principal vencedora

Quatro vencedores com significados distintos: PS, Rui Moreira, e Isaltino de Morais

Independentes e partidos urbanos jovens alteram paisagem partidária

Nem a esquerda subiu tanto, nem a direita caíu a pique: ~51% vs ~45%

Em suma:

PS de Seguro, Lisboa, 2013: 50,91%
PS da Geringonça, Lisboa, 2017: 42,02%

AVISO: empresas de sondagens e agências de comunicação perdem credibilidade todos os dias

ATUALIZAÇÃO | RESULTADOS FINAIS (comentário)

Só o PCP levou um valente coice (eleitoral) do PS.
O PS subiu, mas poucochinho: 2013: 36,26% (923); 2017: 37,82% (929)
O Bloco começou a comer, também, o eleitorado do PCP.
Os independentes vieram para ficar, e crescer.
Costa meteu o PCP e a imprensa no bolso :(

2013 | 2017
PS: 36,26% (923) | 37,82% (929)
PSD: 16,70% (531) | 16,07% (493)
PCP: 11,06% (213) | 9,46% (171)
Independentes: 6,89% (112) | 6,79% (130)
CDS: 3,04% (47) | 2,6% (41)
BE: 2,42% (8) | 3,29% (12)
PS + coligações = 923 | 968
PSD + coligações: 817 | 733
CDS + coligações: 51 | 53
PCP: 213 | 171
Independentes: 112 | 130

Ver resultados finais, para afastar o lixo mediático dos últimos dias...
SGMAI

Atualizado em 4/10/2017 23:23 WET

sábado, setembro 30, 2017

Marcelo promove geringonça autárquica

Uma no cravo, outra na ferradura, quadratura do círculo, geringonça, Marcelo!


Uma nota presidencial escusada, para não dizer de apoio a António Costa


Nota da Presidência da República
Como é evidente, o Presidente da República não apoia nenhuma candidatura eleitoral e reprova qualquer tentativa de aproveitamento ou manipulação da sua posição.
Esta tarde, quando se dirigia da Igreja do Loreto para Belém, cruzou muitos lisboetas em diversas ações de campanha, de pelo menos três partidos, que saudou como sempre faz; quando estava no carro parado no trânsito, cruzou uma quarta candidatura, tendo a cabeça de lista atravessado a rua para o cumprimentar. Nada neste encontro autoriza qualquer interpretação de apoio específico.

Toda a gente sabe que o presidente da república, Marcelo Rebelo de Sousa, só presta o seu apoio diário à Geringonça, bem como a qualquer asneira que esta, ou os seus subscritores, façam: Pedrógão Grande, Tancos, Autoeuropa, Sindicato dos Enfermeiros, e o que aí vem.

Toda a gente sabe que Marcelo tem um fraquinho oportunista pelo pândego furioso António Costa, ou seja, que apoia sem a necessária e institucional distância o PS, o PCP e o Bloco de Esquerda, sendo que o PCP e o Bloco defendem a saída de Portugal da zona euro, e da NATO. E o PS, PCP, e Bloco, não se cansam de morder diariamente as canelas do regime angolano.

Os falidos e cada mais indigentes meios de comunicação social que temos, e as invisíveis agências de comunicação pagas a peso de ouro que os alimentam e dirigem, aproveitam qualquer coisa para fazer escândalo e assim exibir algum share aos anunciantes.

Acontece que esta estratégia desmiolada já transformou a velha comunicação social que temos numa espécie de pornografia sem graça, nem erotismo.

Do futebol obsessivo, aos 'reality shows' dementes, passando por concursos grotestos e a captura dos canais de debate político pela nomenclatura partidária, tudo vale para manter um sistema político institucionalmente esgotado.

A crise é tanta que deputados (nomeadamente europeus!) e autarcas, ex-deputados e ex-ministros, se esgadanham e multiplicam por jornais, revistas, rádios e televisões, na qualidade de comentadores (incrível, não é?), como se não fosse óbvio para qualquer chofer de táxi o peixe que invariavelmente servem.

Este é o verdadeiro estado de uma nação agarrada a riquexós motorizados a que chamam Tuk Tuk, procurando assim disfarçar a verdadeira natureza desta meia-escravatura: neoliberalismo dos pobres e endividados, dominado por um estado clientelar, corrupto, corporativo e autoritário que regressa subrepticiamente sob o manto diáfano das dita esquerda.

Enfim, é tudo isto que o atual presidente da república, Marcelo Rebelo de Sousa, acarinha em nome das suas próprias fantasias infantis realizadas.

Teresa Leal Coelho recusou ter falado em apoio, elencando que “aquilo que aconteceu foi uma troca de palavras simpáticas, afetuosas”. 
“Havia um meio de comunicação social presente e que interpretou como uma palavra de apoio. Aquilo que eu disse é que foi uma palavra amiga”, referiu a candidata, acrescentando que “a palavra apoio não foi referida”. 
JN

Mas vamos à falácia da nota presidencial:

—se desautoriza, como desautorizou, a candidata autárquica por Lisboa do principal partido português, ainda que na Oposição, qual é a única conclusão que se pode tirar, sabendo-se que a alternativa ao PSD em Lisboa se chama PS, ou PS+Bloco, ou PS+Bloco+PCP? Não é preciso apostar no Euromilhões para chegar a uma conclusão, ou é?

A incontinência verbal de Marcelo é mais aparente do que real, e é mais oportunista do que estratégica. Basta escutar cuidadosamente os seus silêncios, e os seus ses. Por exemplo, a propósito da greve que o PCP promoveu na Autoeuropa, ameaçando os investimentos alemães em Portugal, ou as reticências legalistas exibidas na abordagem da greve dos enfermeiros. Não defendeu a Geringonça, contra os austeritários da direita, o regresso das 35 horas à Função Pública? Então?

Para memória futura.

quarta-feira, setembro 27, 2017

Maintenant!





Em marcha, pela Europa!
Emmanuel Macron propõe a refundação da Europa, nem mais, nem menos.


Aproveitando o Brexit, a profunda crise de liderança americana, e a vitória pálida de Angela Merkel, em parte por causa do modo inábil como lidou com a crise dos refugiados das guerras e da fome, Emmanuel Macron parece ter apostado todas as suas cartas neste discurso estratégico e sem ambiguidades sobre o futuro da Europa.

Ou refundamos a Europa, assegurando os valores inalienáveis da democracia e do estado de direito, ao mesmo tempo que lançamos um programa ambicioso de recentramento estratégico e tático, ou as manobras e ameaças, visíveis e invisíveis, visando a destruição da União Europeia e da sua moeda continuarão a ganhar terreno.

Uma Europa a várias velocidades, onde cada um possa pedalar no pelotão da frente, desde que tenha bicicleta e pernas para tal, mas uma Europa onde quem se atrasou ou começou mais tarde não possa travar os que correm mais e vão à frente, dotada de um sistema fiscal equilibrado e justo, de uma política financeira coerente, de meios de defesa e segurança verdadeiramente comunitários, eis o que a França de Macron quer ver discutido a partir deste outono.

Os lugares deixados vagos pelo Reino Unido no Parlamento Europeu deverão, na proposta do presidente francês, ser ocupados por verdadeiros deputados europeus, e não por mais 73 delegados de propaganda partidária provenientes dos partidos que já se fazem representar em Estrasburgo.

Este discurso de Emmanuel Macron na Sorbonne, para começar, não está nada mal!

Estou 100% de acordo com a estratégia de Emmanuel Macron. É a única maneira de fortalecer a Europa e de impedir o ascenso do populismo (de direita, mas também de esquerda), fruto de regimes partidocratas e burocráticos corruptos e desajustados à complexidade social, ecológica, cultural e tecnológica dos nossos dias.

DN: Apoiante de metade do Parlamento Europeu ser eleito através de listas transnacionais, o presidente francês parece vir dar razão ao artigo do Politico segundo o qual Macron não só quer pôr os cidadãos europeus de vários países a debater o futuro da UE como estará a tentar criar "uma aliança de partidos europeus, ou mesmo um verdadeiro partido, que apoie a sua visão de uma Europa mais "protetora" a tempo dos próximo escrutínio" europeu. 
Segundo Pieyre-Alexandre Anglade, deputado francês e descrito pelo Politico como um dos "agentes" de Macron, a ideia é atrair pessoas de vários setores: dos liberais, dos sociais-democratas ou do Partido Popular Europeu para aquilo que seria uma espécie de En Marche! europeu.

SUBLINHADOS DO DISCURSO DE EMMANUEL MACRON

ActuTV Actualités et Vidéos

Discours complet du président français Emmanuel Macron à l'université de La Sorbonne
Ce qu’il faut retenir de l’intervention d'Emmanuel Macron à La Sorbonne
Macron espère relancer la machine européenne, dépourvue selon lui de vision de long terme depuis des années, affaiblie par une ouverture à tous vents à la mondialisation et enlisée dans la bureaucratie, la surréglementation et des décisions à l’unanimité, freinées notamment par la Grande-Bretagne. Voici ce qu’il faut retenir de son discours.

Défense.
« Ce qui manque le plus à cette Europe de la défense, c’est une structure stratégique commune », assure le président de la République. Il propose de créer une « force commune d’intervention » européenne pour 2020, un budget de défense commun et une « doctrine commune » pour agir.

Emmanuel Macron propose également une « initiative européenne d’intervention » et préconise en outre « d’accueillir dans nos armées des militaires venus » d’autres pays européens. Par ailleurs, il appelle à créer un « parquet européen » pour lutter contre le terrorisme. Ainsi, il faut selon le chef de l’Etat mettre en place au plus vite le Fonds européen de défense, la coopération structurée permanente et les compléter par une « initiative européenne d’intervention » pour intégrer les forces armées européennes.

Terrorisme et sécurité
Le président souhaite créer une académie européenne du renseignement pour « assurer le rapprochement de nos capacités de renseignement » mais également une « force commune de protection civile », notamment pour aider en cas de catastrophes naturelles.

Migrations
« Pour maîtriser efficacement nos frontières, accueillir dignement les réfugiés (…) et renvoyer rapidement ceux qui ne sont pas éligibles au droit d’asile », il faut créer un office européen de l’asile et une police européenne des frontières. L’objectif : accélérer et harmoniser les procédures migratoires ; mettre en place des fichiers interconnectés et des documents d’identité biométriques sécurisés. Mais il faut aussi installer un programme européen de formation et d’intégration pour les réfugiés.

Le carbone au juste prix
Emmanuel Macron a proposé de fixer au niveau européen un « juste prix » pour le carbone - dont les échanges permettent de pénaliser les industries polluantes - « suffisamment élevé » pour encourager la transition écologique, d’au moins 25 à 30 euros la tonne.

Il a aussi proposé de mettre en place un programme industriel de soutien aux véhicules propres et aux infrastructures nécessaires (bornes de recharge…) et de créer une « force commune de contrôle » qui assure la sécurité alimentaire des Européens.

Une Agence européenne pour l’innovation
Emmanuel Macron entend créer une Agence européenne pour l’innovation, finançant en commun des champs de recherche nouveaux, comme l’intelligence artificielle.

Il a cité pour modèle l’agence américaine de recherche militaire DARPA, agence du département de la Défense des États-Unis, chargée de la recherche et développement des nouvelles technologies, qui dans les années 1970 a été à l’origine de la création d’internet.

Emmanuel Macron a aussi rappelé sa volonté de taxer les entreprises numériques en taxant la valeur « là où elle se crée », et de réguler les grandes plateformes.

Economie et social
Le président français veut faire de la zone euro, le cœur de la puissance économique de l’Europe dans le monde. Il veut créer un budget qui permette de financer des investissements communs, avec des impôts liés à ce budget. Et assurer la convergence sociale et fiscale des pays de l’UE en fixant des critères qui rapprochent progressivement les modèles sociaux et fiscaux.

Le respect de ces critères conditionnerait l’accès aux fonds de solidarité européens.

Il faudrait définir une fourchette de taux d’impôt sur les sociétés pour 2020 ainsi qu’un salaire minimum, adapté à la réalité économique de chaque pays, encadrer la concurrence par les niveaux de cotisations sociales et créer une taxe sur les transactions financières affectées à l’aide au développement.

Culture et savoir
Que chaque jeune Européen ait passé au moins six mois dans un autre pays européen (50 % d’une classe d’âge en 2024) et que chaque étudiant parle deux langues européennes d’ici 2024.

Créer des universités européennes, réseaux d’universités qui permettent d’étudier à l’étranger et de suivre des cours dans deux langues au moins.

Démocratie
Pendant six mois, des « conventions démocratiques », soit des débats nationaux et locaux sur la base de questions communes dans toute l’UE, seront organisées en 2018 dans tous les pays de l’UE volontaires pour définir la feuille de route de demain.

Le chef de l’Etat espère ainsi renforcer le Parlement européen par des listes transnationales, dès 2019, en utilisant le quota des députés britanniques partants. Par ailleurs, il souhaite qu’en 2024, la moitié du Parlement européen soit élue sur ces listes transnationales.

Atualizado em 27/9/2017 10:04 WET

terça-feira, setembro 26, 2017

A euforia traiçoeira da Geringonça

Mário Centeno
Foto—autor: desconhecido

O lençol não estica!


“O Estado e o setor privado continuam muito endividados. Só graças às taxas de juro baixas aplicadas pelo BCE é que estes custos são suportáveis”. 
“Os problemas de Portugal não acabaram. Estão piores”, avisa Commerzbank
Observador, 21/9/2017

A euforia da Geringonça não passa de uma armadilha em que iremos cair outra vez, ou não fossemos governados, e eleitoralmente dominados, por uma minoria agarrada aos impostos e à dívida.

Não há nenhum mérito indígena nas estatísticas económico-financeiras mais recentes.

São só ventos favoráveis, mas efémeros, que sopram de leste: juros historicamente baixos, petróleo a menos de metade do seu preço mais alto de sempre (2012), turismo em fuga da Europa oriental, do Médio Oriente e norte de África, bolha da aviação LowCost, e deslocações de capitais do Brasil, Angola, França, Estados Unidos e China, para um país ameno e ainda barato chamado Portugal.

Bastará que os juros do BCE comecem a subir (1), ou que o preço do barril regresse aos 90-100 USD pb (2), ou ainda que o despesismo recomendado pelos nossos funcionários-economistas tome o lugar de Mário Centeno (mortinho por zarpar de Lisboa em direção à Europa!), para que entremos em águas agitadas.

A tendência da nomenclatura oportunista de esquerda no poder será a de compensar a subida do preço da dívida que então crescerá mais rapidamente, com novos agravamentos de impostos e expropriações de riqueza alheia, e uma ainda maior degradação das infraestruturas e do funcionamento dos serviços públicos.

O empobrecimento mais acelerado das classes médias fará depois o resto: ou teremos um novo partido de esquerda radical populista a caminho do poder, ou uma radicalização ainda mais populista do PS (venezuelização bolivariana!), ou então, acabará por aparecer um partido de direita populista a sério, capaz de ir buscar votos a todo o espetro partidário vigente.

NOTAS

  1. ECB Official interest rates 1999-2016
  2. OPEC oil prices 1960-2017

segunda-feira, setembro 25, 2017

4000 euros/ano para todos!

Ilha (pormenor), Porto (2011)

Em vez de despejar dinheiro nos bancos, governos e burocracia, porque não despejá-lo nos nossos bolsos, diretamente?


Hoje vou falar de Rendimento Básico Incondicional no ISCTE. Comigo estarão, online, Bruna Augusto e Marcus Brancaglione, dois ativistas brasileiros do RBI.

Creio que chegou o momento de promover e realizar meia dúzia de experiências em Portugal. Por exemplo, na Cova da Moura, na freguesia de Campanhã, no Porto, nas freguesias atingidas pelos trágicos incêndios deste verão, e onde os donativos chegam a conta-gotas e sob controlos institucionais e burocráticos paternalistas que nenhum doador exigiu (Pedrógão Grande, etc.), ou mesmo numa pequena cidade de 17 mil habitantes, como Montemor-o-Novo.

Numa base de 4000 euros/ano por pessoa, se o RBI fosse aplicado a toda a população residente, financiando-se numa parte do IRS, IRC e IVA do país, o esforço direto no Orçamento de Estado andaria pelos 41,3 mil milhões de euros, ou seja, pouco mais do que 29% da despesa pública. Esta reforma do orçamento implicaria naturalmente um grande corte nos custos burocráticos e rendas do chamado 'terceiro setor'. Haveria menos peso burocrático do estado neste setor, haveria menos IPSS (e mais poder institucional e capacidade financeira descentralizada nas Juntas de Freguesia e municípios eleitos), haveria menos rendas abusivas, acabariam as isenções fiscais inexplicáveis, e existiria mais transparência nesta espécie de economia paralela em que os intermediários da fome e da desgraça alheia se transformaram paulatinamente ao longo de décadas.

A despesa pública de 2017, inscrita no OE2017, foi de 141 mil milhões de euros.

Outros dois números a ter em conta são, a dívida pública portuguesa, que neste momento supera os 243 mil milhões de euros, e o PIB, que em 2016, rondou os 185 mil milhões de euros.

Será impossível pensar numa medida como o RBI que, se fosse aplicada em 2018, andaria pelos 42 mil milhões de euros, num país onde o PIB vai a caminho dos 190 mil milhões? Não creio. Ainda que uma tal reforma constituísse, na verdade, um verdadeiro ataque ao estado burocrático e corrupto que temos.

Eis, pois, uma discussão que o empobrecimento das classes médias exige desde já.


ISCTE
A esperança no Rendimento Básico Incondicional
A economia e a política do RBI

António Cerveira Pinto
Bruna Augusto
Marcus Brancaglione

Hoje 25-9-2017, 18:30-20:00
ISCTE-IUL
Auditório ONE02 - Caiano
Av das Forças Armadas, Lisboa
Organiza: movimento RBI-TTcc

Streaming aqui (começo a falar aos 27:37)

Atualizado em: 26/9/2017 08:58

terça-feira, setembro 12, 2017

Filial europeia do ICBC acusada de branquear máfias chinesas em Espanha

Sede do ICBC em Xangai (Bund)


A insuportável distração da imprensa portuguesa que ideologia tem?


O maior banco do mundo, o chinês  ICBC—Industrial and Comercial Bank of China, tinha montado em Espanha um esquema monumental de lavagem de dinheiro proveniente de tríades de piratas chineses, em colaboração com o paraíso fiscal luxemburgês—what else?!

O esquema foi descoberto e noticiado na imprensa internacional em 2016.

A acusação formal chegou agora dos tribunais espanhóis. Leram alguma coisa na imprensa portuguesa nos últimos seis meses sobre este escândalo? Eu não.

Para que conste.

La Audiencia Nacional imputa al mayor banco del mundo por blanquear fondos de mafias chinas 
El Mundo. 11 SEP. 2017 14:24 
La Audiencia Nacional ha imputado a la filial europea del ICBC (Industrial and Comercial Bank of China) por blanqueo continuado de fondos de grupos criminales chinos activos en España. Se trata del mayor banco del mundo por activos y el tercero por capitalización bursátil. El auto dictado por el juez Ismael Moreno explica que, según la investigación, el personal de la entidad ICBC España, bajo las órdenes del Consejo de Administración de la entidad ICBC Luxemburgo, puso en marcha a finales de 2010 un establecimiento bancario en España, con una única sede en aquellos días en Madrid, cuya línea de negocio casi exclusiva fue ser un instrumento de blanqueo de las ganancias ilícitas obtenidas por grupos criminales, mayoritariamente de nacionalidad china, que obtenían pingües beneficios sobre todo en exportaciones e importaciones fraudulentas con China y en la economía sumergida dentro del mercado nacional”. 
Ler mais aqui

Banco da China acusado de lavagem de dinheiro em filial da Espanha 
O Globo. Por AP, 11/09/2017 15:56 / Atualizado 11/09/2017 15:57 
MADRI — O juíz da Corte Nacional da Espanha, Ismael Moreno, acusou o braço europeu do banco estatal chinês - Commercial Bank of China Europe (ICBC) - de ajudar a lavar mais de 214 milhões de euros naquele país entre 2011 e 2014. Sete altos executivos ligados à instituição já estavam sendo investigados desde fevereiro de 2016.
Em comunicado divulgado nesta segunda-feira, Moreno afirma que a filial do banco em Madri ocultou os depósitos por meio de empréstimos a clientes no exterior, em sua maioria transferências para a China. 
Ler mais aqui

Reportaje Especial: Cómo el mayor banco de China se vio atrapado en una gran causa contra el lavado de dinero 
Por Angus Berwick y David Lague
31/7/ 2017 13:24 
MADRID (Reuters) - Pocos minutos antes de las 8 de la tarde del 8 de agosto de 2012, dos ciudadanas chinas que vivían en España - una banquera y su cliente - mantuvieron una abrupta conversación telefónica. 
Wang Jing era directiva de la sucursal madrileña del Industrial and Commercial Bank of China, controlado por el Estado. La cliente, Xu Kai, era uno de los supuestos líderes de un grupo internacional de lavado de dinero que supuestamente usó a la entidad para transferir fondos ilegales a China. La red utilizaba supuestamente varias cuentas a nombre de residentes chinos de España, en algunos casos sin su permiso, para realizar las transferencias. Pero había una pega. 
Poco antes, el mismo día, según la banquera Wang, había llegado a la sucursal una mujer para quejarse de que se estaban haciendo transferencias desde su cuenta sin su conocimiento. Wang reprendió a Xu y le dijo que se asegurara de que los titulares de la cuenta utilizados en el plan estaban al tanto. 
“Tienes que mirar por ti y asegurarte de que esas personas sean obedientes”, advirtió Wang para añadir que si había más quejas, el banco tendría “problemas”.
De hecho, el banco ya tenía problemas. Grandes problemas. La policía española estaba escuchando. 
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Maior banco do mundo, chinês ICBC, tem resultado mais fraco em uma década 
Reuters, 31/3/2017 
Os principais bancos da China estão se preparando para lançar medidas neste ano para reduzir o peso sobre correntistas endividados e a inadimplência [incumprimento], que atingiu o maior nível em uma década no ano passado diante de um crescimento do PIB mais lento em 25 anos. 
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Commercial and Industrial Bank of China to open branch in Portugal 
27 January 2012 
Lisbon, Portugal, 27 Jan – The Industrial and Commercial Bank of China (ICBC) has made a request to the Bank of Portugal (BdP) to open up a subsidiary in the Portuguese market and is already setting up its management team, Portuguese weekly newspaper Sol reported. 
The aim of the Chinese bank, which will be the first from China to establish itself directly in Portugal, is to open in Lisbon in the second half of the year, although the final schedule depends on when it receives approval from the Bank of Portugal. 
Via its subsidiary in Macau, the ICBC has already been present in the Portuguese capital for a few years, but only via a representative office and with a reduced amount of business compared with what it now plans on receiving authorisation to open up a subsidiary. 
The arrival of the ICBC in Portugal is a result of the acquisition of the Seng Heng Bank, as when the deal was made the Macau-based bank had already been authorised (in 2006) to open up a representative office in Portugal, and thus the move is “simply a legacy” of that. 
In 2009, the Chinese bank boosted its ties with Portugal by setting up cooperation protocols with Portuguese banks Banco Espírito Santo and Millennium bcp to make investment between China and Portuguese-speaking countries easier. 
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domingo, setembro 03, 2017

A terceira ameaça à Geringonça

A Autoeuropa é da Volkswagen ou do PCP? A resposta é óbvia!

Ready to T-Roc?


Pode não ter passado duma guerra entre estalinistas e trotsquistas. Mas a verdade é que não falta espaço no mundo para acomodar a Autoeuropa. Em Espanha, ao contrário de Portugal, não há cadáveres comunistas adiados, e existirá em breve uma rede ferroviária para passageiros e mercadorias interoperável com o resto da Europa. Ou seja, ou o PS controla rapidamente os danos causados pelos senhores Jerónimo de Sousa e Arménio Carlos, ou os alemães, reforçados agora pelo espírito Macron, poderão de um momento para o outro perder a paciência e convidar os esquerdistas indígenas a comerem urtigas.

O pomo aparente da discórida que levou à inusitada greve na Autoeuropa foi o trabalho ao sábado.

Mas então os telefones, a rádio e televisão e a internet, ou os hospitais, ou as esquadras, museus, teatros, cinemas, casinos, restaurantes, bares, aeroportos, comboios, autocarros, táxis, elétricos, tuc-tucs, centenas de supermercados e milhares de lojas não trabalham aos sábados? Será que as dezenas de milhar de famílias das pessoas que trabalham nestas empresas e instituições sofrem o que as famílias aristocráticas da Autoeuropa não podem sofrer? Por onde anda a lógica da dirigente máxima do Bloco? Queimaram-se-lhe os neurónios durante o incendiário mês de agosto? Até os funcionários públicos, até os políticos, ou pelo menos alguns, trabalham aos sábados!

Num texto anterior —As duas ameaças à Geringonça— chamei a atenção do PS para dois dos perigos maiores que ameaçam a frente popular pós-moderna formada pelo PS, PCP e Bloco: o preço do petróleo, que tem vindo a subir paulatinamente, e o fim do conforto monetário proporcionado pelo BCE às democracias despesistas do sul da Europa, anunciado para 2018-2019. A conjunção destas duas tendências poderá, sobretudo se houver nova crise financeira global, pulverizar o cimento frágil da presente coligação disfarçada. Mas há um terceiro perigo!

O momento Hartz de Emmanuel Macron

A expansão monetarista levada a cabo pelo BCE está a chegar ao fim. Observando os resultados nos países que mais beneficiaram deste alívio —Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha— verificamos que foram, no mínimo, duvidosos. À exceção da Irlanda, nenhum dos restantes PIIGS conseguiu corrigir a trajetória da respetiva dívida pública, e a este grupo de países incapazes de controlar as suas contas somou-se entretanto a França.

Os valores das dívidas públicas em % do PIB nos anos 2008, 2012, e 2016 são os seguintes:

  • Portugal: 71,7—126,2—130,4
  • Irlanda: 42,4—119,5—75,4
  • Itália: 102,4—123,3—132,6
  • Grécia: 109,4—159,6—179
  • Espanha: 39,4—85,7—99,4.


É neste contexto que o modelo alemão (65,1—79,9—68,3), sobretudo após a anunciada saída do Reino Unido (50,2—85,1—89,3) da UE, e depois da derrota estrondosa dos socialistas em França, começa agora a ganhar um valor heurístico renovado junto das elites europeias mais atentas.

Macron anunciou uma reforma laboral radical em França. Insuportavelmente neoliberal? Não. O novo presidente francês, apoiado numa confortável maioria parlamentar, apenas quer implementar em França, em nome da competividade europeia ameaçada, a mesma reforma laboral que o social-democrata alemão Gerhrard Schröder, e os Verdes (imagine-se!), impuseram aos sindicatos alemães entre 2003 e 2005, através do célebre plano Hartz, e da Agenda 2010.

Alemães e franceses, livres do atrito permanente provocado pelos ingleses de sua Majestade, estão agora mais decididos que nunca a reforçar a União Europeia, criando um coração inteligente mais forte, isto é, uma verdadeira união bancária e fiscal, um sistema de segurança unificado, e uma verdadeira estratégia europeia de defesa. Quem aceitar as novas regras continua, quem não aceitar que se junte aos náufragos britânicos. A verdade é que a decadência de Washington exige este género de fórceps estratégico, e as crises no Médio Oriente e na Coreia também!

À luz desta análise vejo no incidente entre a Geringonça e a Autoeuropa o terceiro prenúncio do fim da estratégia oportunista de António Costa. O pacto que este propôs ao PSD e ao CDS não passa duma farsa populista. O único pacto lógico e necessário ao país é o que garantir simultaneamente uma reforma do estado e uma reforma laboral adequadas à sustentabilidade da nossa economia, sem o que assistiremos à emergência insidiosa de um populismo de estado apoiado numa espécie de fascismo fiscal. Mas para que este cenário se impusesse, assistiríamos primeiro a uma caça às bruxas da opinião livre. Já estivemos mais longe!


REFERÊNCIAS

The Brief: A ‘plan B’ for the grand bargain

By Jorge Valero | EURACTIV.com  1/09/2017 (updated:  1/09/2017)

Britain’s exit from the EU progressed this week in slow motion. But one collateral effect of Brexit is Angela Merkel’s resolution to push for further integration of the eurozone, as Juncker would say. Her 17-point lead in the polls ahead of the 24 September general election, and her rival Martin Schulz’ support on the issue, mean this is sure to be central to the campaign.

But Merkel is still the chancellor of Germany, where taxpayers are against giving money to profligate and uncompetitive southern member states, the argument says.

Mutti‘s brother in arms to complete the reform of the 19-member eurozone, French President Emmanuel Macron, presented yesterday his long-awaited labour market reforms.

France aims to have its ‘Hartz’ moment fifteen years after the plan was unveiled in Germany to unlock the potential of the EU’s powerhouse.

If Macron succeeds, the impact will go far beyond turning his country into Europe’s second power. It will be the stepping stone toward the ‘grand bargain’ the eurozone has been waiting for between the northern guardians of fiscal discipline and the southern champions of shared protection when the next turbulence comes.


German labour-market reform
Hartz and minds
A new and controversial law takes effect this weekend
The Economist, Dec 29th 2004 | BERLIN


TRY calling a German bureaucrat after 3pm and the chances are that you will get no answer. But the Berlin branch of the Federal Employment Agency has recently been open as late as 10pm, weekends included. A dozen employees, surrounded by brown folders, are busy typing data into computers. “We have no choice but to get this done by the end of the year,” says one. The scene is replicated in 180 job-centres across Germany: thousands of staff are working extra shifts to prepare the launch on January 1st of “Hartz IV”. This law, based on the work of a commission led by Peter Hartz, Volkswagen's personnel director, is Germany's most important labour-market reform since the war.

[...]

The stakes are high. If Hartz IV succeeds, Germany will have taken a big step towards helping its army of long-term unemployed off the dole and into work. If it fails, there will be pressure to break up the Federal Employment Agency, or privatise it. And the popularity of Chancellor Gerhard Schröder's government, which has risen, could plummet. That may be why Mr Schröder has said that, if anything goes wrong, it will be the fault of Wolfgang Clement, his economics minister.