quinta-feira, janeiro 31, 2019

A caixa negra de um resgate

Caixa Geral de Depósitos (CGD) (3779646223)

Propaganda não é prosperidade, nem paga dívidas


Resgate a Portugal foi o terceiro maior de sempre na história do FMI 
O Jornal Económico. Mariana Bandeira, 03 Janeiro 2019, 14:09 
O resgate financeiro do Fundo Monetário Internacional (FMI) a Portugal foi o terceiro maior da história da instituição liderada por Christine Lagarde. O ranking das maiores injeções de capital do fundo é encabeçado pela Argentina e pela Grécia.

A venda de ouro português foi uma prática sistemática desde o fim da ditadura. Foi, aliás, esta venda que financiou, em primeiro lugar, os novos direitos sociais do Portugal democrático.

Tal delapidação só parou em 2010, quando o Banco Central Europeu proibiu o governo português de mexer nas 382,5 toneladas que ainda restam das 801,5 toneladas existentes em 1974 (Wikipédia).

Estas reservas são, pois, uma espécie de colateral dos 51,7 mil milhões de euros emprestados pelo BCE e pela UE, para evitar a bancarrota do país cor-de-rosa que temos.

Continuamos, ao fim de três anos de propaganda governamental e partidária responsável por uma divisão social e cultural crescente entre os portugueses, no top dos devedores mundiais:
  • quase 250 mil milhões de euros de dívida pública bruta (a líquida andará pelos 225 mM€) 
  • mais de 700 mil milhões de euros de dívida total. 
Existem mais ou menos dez milhões de contas bancárias em Portugal. Mas total do dinheiro depositado nos bancos não vai além dos 140 mil milhões de euros, ou seja, pouco mais de metade da dívida do Estado e das suas sinecuras.

Por outro lado, menos de 200 mil portugueses têm depósitos superiores a 100 mil euros.

É por estas e por outras que a recente decisão, do PS, PCP e Bloco, de forçar os bancos a comunicar ao fisco as contas com mais de 50 mil euros, se parece com a preparação para uma nova crise financeira indígena. Quando? Quando batermos outra vez à porta do FMI e do BCE, porventura na iminência de uma nova bancarrota nacional. O governo pretende, pois, saber em que bancos e contas estarão os montantes de depósitos e obrigações potencialmente sujeitos a perdas por efeito de um bail-in (resgate interno) em caso de nova crise bancária acompanhada de falência de bancos. A preocupação anunciada com fugas ao fisco não passa de uma cortina de fumo.

A crescente agitação sindical é um sinal claro de que a reversão da austeridade não aconteceu, e que o governo, aflito, se prepara para novas emergências. E você, já se preparou?

O grande buraco da Caixa tem uma cor dominante: a cor da rosa. Parece assim evidente que Geringonça rosa-e-vermelha tudo fará para esterilizar o novo inquérito e os possíveis processos judiciais que entretanto surjam à superficie. Basta investigar Joe Berardo e o que levou Elisa Ferreira (e Francisco Louçã...) para o Banco de Portugal, para que mais este esclarecedor artigo de Helena Garrido abra uma nova e mais negra Caixa de Pandora.
Se os deputados quiserem, haverá culpados na CGD 
Helena Garrido. Observador, 31/1/2019, 7:44 

Com a informação disponível neste momento já é possível concluir que o período que gerou mais perdas para a CGD foi o que vai de 2005 a 2007, quando Carlos Santos Ferreira era presidente do banco e Armando Vara e Francisco Bandeira faziam parte da sua equipa. No relatório e contas de 2016 conclui-se que 39,5% das perdas apuradas nesse ano (imparidades) vieram de financiamentos concedidos entre 2005 e 2007. 
É nesse período que se inicia o processo da Artlant com a espanhola La Seda; é nesses anos que se financia Vale do Lobo; é nesses anos que se concedem empréstimos que envolvem indirectamente a CGD na guerra pelo controlo do BCP e é nesse tempo que se dá crédito para controlar a Cimpor. Quando Carlos Santos Ferreira passa para o BCP, a administração seguinte da CGD, liderada por Fernando Faria de Oliveira e que vai até 2010, gera igualmente perdas significativas (23,6% dos 5,6 mil milhões de euros de perdas apuradas em 2016), mas já estamos perante erros por omissão, por não decidir acabar com alguns projectos.
Joana Amaral Dias: “A Caixa é um poço sem fundo” 
Jornal i, 01/02/2019 12:09 
Injetámos mais ou menos 20 mil milhões de euros na banca nos últimos dez anos; destes, seis mil milhões de euros foram para a Caixa. Recordo que, em 2012, a Caixa não fez parte do escrutínio da troika e logo nesse ano foram injetados pelo governo de Pedro Passos Coelho 1,5 mil milhões de euros sem qualquer auditoria. Agora não há imparidades no banco? Vão justificar esses 6 mil milhões como? E esta auditoria da EY é de 2000 a 2015 porque é óbvio que antes de 2000 exatamente a mesma promiscuidade se passou na Caixa Geral de Depósitos, não há dúvidas. Teve momentos melhores, teve momentos piores, talvez este momento tenha sido pior, sobretudo depois de 2005, mas isso não foi um vírus ou um bug do milénio. A Caixa sempre foi este poço sem fundo, serviu como braço forte do poder político para basicamente comprar aliados, para arquitetar uma perigosa rede clientelar que contribui para que Portugal seja campeão da corrupção.

Atualizado em 02/02/2019, 16:08 WET

quarta-feira, janeiro 30, 2019

Uma ciência do medo não é ciência

Trade and Migration @ Copenhagen Consensus

Parte significativa da ciência tornou-se, infelizmente, especulativa, ideológica e corrupta. Há boa e má ciência. A má ciência, uma espécie de máquina, dependente dos impostos que a financiam, que se alimenta da propagação do medo, está a expulsar a boa ciência do mercado. Por cá, e no resto do mundo.

Mas como não há bem que sempre dure, nem mal que nunca acabe, à litania do medo contrapõe-se paulatinamente uma espécie de novo otimismo racional. Vale a pena conhecê-lo.

Duas referências, para começar:


domingo, janeiro 27, 2019

Um novo Tratado de Tordesilhas, ou?

Federica Mogherini, chefe diplomática da União Europeia

Maduro terá que abandonar o poder em breve


A Rússia não tem força para transformar a Venezuela numa espécie de Ucrânia. E a China também não tem interesse em precipitar os acontecimentos nesta direção. O resultado de mais um braço de ferro entre o despotismo asiático e as democracias ocidentais só pode ser um: salvar ambas as faces, do Ocidente e do Oriente, levando o senhor Maduro a passar umas férias nas Caraíbas.

O modo como a crise na Venezuela evoluir (Guterres tem que abrir os olhos!) depois do reconhecimento de Juan Guaido pela maioria dos estados americanos (12 contra 3) e pela União Europeia, deixará ver de forma bem nítida a fratura em curso na famosa globalização. O recuo dos Estados Unidos e dos seus aliados na Síria depois de uma clara vitória da Rússia e do Irão da guerra civil que destruiu boa parte daquele país, será, por assim dizer, compensado com o despedimento de Maduro e a subsequente pressão contra a excessiva presença económica, militar e diplomática da Rússia e da China naquelas paragens. As negociações, que já estarão a decorrer, suponho, sobre a revisão drástica da permeabilidade do continente americano à influência chinesa, russa e indiana, ditarão a duração e os contornos mais ou menos violentos da guerra entre Maduro e Guaido.

O equilíbrio MAD nunca esteve na realidade em causa, mesmo durante a implosão da URSS. O que sim tem estado a mudar é a posição geográfica do centro de gravidade da prosperidade mundial. No século 15, por volta de 1430, a China fechar-se-ia paulatinamente ao mundo, assustada com o eterno perigo do Norte, ou por outro motivo ainda por esclarecer. O seu hoje incensado Almirante Zheng He (1371—1433 ou 1435), depois de sete viagens memoráveis (1403, 1407, 1409, 1413, 1416, 1421, 1429) pelos mares da China, Oceano Índico, até à costa ocidental de África, que poderiam ter aberto o caminho marítimo da China até à Europa, não chegou a conhecer o Infante Dom Henrique (1394—1460), vinte e três anos mais novo, o qual, em 1415, daria início a um ciclo de expedições marítimas que acabariam por nos levar à China, em 1513-1517, e ao Japão, em 1543.

Seiscentos anos depois, a China quer refazer a Rota da Seda, por mar e terra, cruzando toda a Eurásia, mas também os mares da China, o Oceano Índico, África e o Atlântico. A sua ambição é, pois, incomensurável com as pretensões algo tacanhas do que resta do império dos czares russos. Num certo sentido, podemos dizer que Putin é, de momento, o braço armado da China nesta sua acelerada fase expansionista, mas que a imensa terra russa é também uma espécie de espaço vital futuro da China.

Daqui a dificuldade de saber onde estão os meridianos do futuro Tratado de Tordesilhas que irá regular uma nova divisão ao meio do planeta humano. Há que procurá-los, pois a alternativa a uma divisão pacífica das influências pode ser mesmo a extinção da humanidade.

Existe uma teoria diferente sobre a carnificina venezuelana (1), a qual interpreta o 'golpe' contra Nicolás Maduro como uma placagem ao acesso oriental (sobretudo da China) ao petróleo venezuelano. De um ponto de vista geoestratégico, esta interpretação decorre de uma visão que, no essencial, diz isto: os impérios marítimos e coloniais que dominaram o mundo nos últimos seiscentos anos irão ceder ao poder da grande massa continental e humana que é a Eurásia. O objetivo tático para apressar esta mudança tectónica passa, segundo os teóricos desta visão, por separar a Europa ocidental da América, forçando-a a ser apenas a península ocidental cooperante de uma Eurásia centrada nos seus grandes poderes estratégicos: Alemanha, Rússia, Irão, Índia, e China.

Vale a pena, para uma melhor compreensão deste ponto de vista, ler dois artigos recentes (de que incluímos dois extratos) escritos por Pepe Escobar e por Federico Pieraccini.

“The supreme nightmare for the U.S. is in fact a truly Eurasian Beijing-Berlin- Moscow partnership.” 
“The Belt and Road Initiative (BRI) has not even begun; according to the official Beijing timetable, we’re still in the planning phase. Implementation starts next year. The horizon is 2039.” 
[...] 
“The New Silk Roads were launched by Xi Jinping five years ago, in Astana (the Silk Road Economic Belt) and Jakarta (the Maritime Silk Road). It took Washington almost half a decade to come up with a response. And that amounts to an avalanche of sanctions and tariffs. Not good enough. 
Russia for its part was forced to publicly announce a show of mesmerizing weaponry to dissuade the proverbial War Party adventurers probably for good – while heralding Moscow’s role as co-driver of a brand new game. 
Were the European peninsula of Asia to fully integrate before mid-century – via high-speed rail, fiber optics, pipelines – into the heart of massive, sprawling Eurasia, it’s game over. No wonder Exceptionalistan elites are starting to get the feeling of a silk rope drawn ever so softly, squeezing their gentle throats.” 
— in Pepe Escobar, “Back in the (Great) Game: The Revenge of Eurasian Land Powers”, Consortium News, August 2018.



“Even if the US dollar were to remain central for several years, the process of de-dollarization is irreversible.  
Right now Iran plays a vital role in how countries like India, Russia, and China are able to respond asymmetrically to the US. Russia uses military power in Syria, China seeks economic integration in the Silk Road 2.0, and India bypasses the dollar by selling oil in exchange for goods or other currency.  
India, China, and Russia use the Middle East as a stepping stone to advance energy, economic and military integration, pushing out the plans of the neocons in the region, thereby indirectly sending a signal to Israel and Saudi Arabia. On the other hand, conflicts in Syria, Iraq and Afghanistan are occasions for peacemaking, advancing the integration of dozens of countries by incorporating them into a major project that includes Eurasia, the Middle East and North Africa instead of the US and her proxy states.  
Soon there will be a breaking point, not so much militarily (as the nuclear MAD doctrine is still valid) but rather economically. Of course, the spark will come from changing the denomination in which oil is sold, namely the US dollar. This process will still take time, but it is an indispensable condition for Iran becoming a regional hegemon. China is increasingly clashing with Washington; Russia is increasingly influential in OPEC; and India may finally decide to embrace the Eurasian revolution by forming an impenetrable strategic square against Washington, which will shift the balance of global power to the East after more than 500 years of domination by the West.”
—in “Russia, China, India, and Iran: The Magic Quadrant That is Changing the World”
by Federico Pieraccini @ Strategic Culture Foundation, 25.01.2019


Post scriptum

Acabo de ler a comunicação de Georges Soros ao Forum de Davos deste ano. Pela sua clareza relativamente à China, recomendo a sua leitura e deixo aqui um extrato elucidativo.

Remarks delivered at the World Economic Forum 
Davos, Switzerland, January 24, 2019 
“China is not the only authoritarian regime in the world but it is the wealthiest, strongest and technologically most advance. This makes Xi Jinping the most dangerous opponent of open societies. That’s why it’s so important to distinguish Xi Jinping’s policies from the aspirations of the Chinese people. The social credit system, if it became operational, would give Xi total control over the people. Since Xi is the most dangerous enemy of the open society, we must pin our hopes on the Chinese people, and especially on the business community and a political elite willing to uphold the Confucian tradition.” 
—in Georges Soros
NOTAS



  1. Este relatório anual do Observatorio Venezolano de Violencia dá bem a dimensão da crise política, social e humanitária desencadeada pela ditadura de Nicolás Maduro.

Atualizado em 28/1/2018, 13:05 WET

sábado, janeiro 19, 2019

Stalindo!



O fim da suposta superioridade moral da esquerda


Não é um problema de cuecas. É um problema de máscaras que sucessivamente caem: o espancamento de gays na festa do Ávante, a generosidade do ex-BES para com a mesma festa, um gigantesco património imobiliário isento de impostos, e agora isto: o genro do secretário-geral Jerónimo de Sousa obtem adjudicação direta da Câmara Municipal (comunista) de Loures para realizar tarefas para as quais não tem histórico nem parece especialmente preparado. A Câmara diz que recebeu orçamento mais barato. Pois é, todos sabemos como se fazem estes orçamentos!

Dir-se-à que é o mesmo que os sucessivos governos escandalosamente fazem com os escritórios de advogados, etc. Pois, mas este é que é o ponto: não há nenhum problema de ilegalidade, até porque se desenharam as leis para que não haja. Mas há um problema de moralidade, e nisto, o PCP é, afinal, mais um partido político, igual aos outros, ou antes, mais hipócrita que os outros, pois assenta a sua lenga lenga ideológica numa superioridade moral que não possui, e numa epistemologia política que nunca passou de mera propaganda demagógica. Na primeira oportunidade, a máscara cai. Se pudesse, assim como louva os ditadores da Venezuela e da Coreia do Norte, o PCP imporia em Portugal uma ditadura do proletariado. Diz o seu Programa, recauchutado em 2016 por causa da geringonça, que mudou a "expressão", mas mantém o "conceito"!!!

Ler a propósito:

Contrato com genro de Jerónimo. Câmara de Loures repudia “eventual promiscuidade”
Observador, 18/1/2019, 13:16

PCP responde a nova realidade revolucionária
Sítio oficial do PCP, 25 Maio 2016

sexta-feira, janeiro 18, 2019

O embuste ferroviário da Geringonça

Aceder ao mapa interativo da UE


Orgulhosamente sós, mas socialistas!


Em 27 de Maio de 2010, a “Rede Ferroviária Nacional REFER E.P.E.” remeteu ao Tribunal de Contas, para efeitos de fiscalização prévia, um contrato de concessão, celebrado, em 8 de Maio de 2010, entre o Estado Português, enquanto Concedente, e a sociedade “ELOS – Ligações de Alta Velocidade, S.A.”, na qualidade de Concessionária, tendo por objecto a atribuição a esta última da concessão do projecto, construção, financiamento, manutenção e disponibilização de infra-estruturas ferroviárias no troço Poceirão-Caia e ainda do projecto, construção, financiamento, manutenção, disponibilização e exploração da Estação de Évora, o qual entrou em vigor na data da sua assinatura. 
—in Tribunal de Contas, Acórdão N.º 09/2012, 21.mar. - 1ªS/SS (Processo n.º 233/2011)
“Em vez de abordagens de concorrência desenfreadas que são sempre possíveis no mercado liberalizado, mas num mercado Ibérico que tem sempre uma proteção natural (bitola ibérica), precisamente a questão da bitola (a europeia) não nos faz sentido.” 
— Pedro Marques, ministro do planeamento (TSF, 21/10/2018) 

Em 2023, a Espanha vai concluir a sua ligação ferroviária UIC (vulgo, ‘bitola europeia’) a França, por Irún.

Até agora, janeiro de 2019, Portugal nada fez para cumprir o que sucessivamente assinou com a Espanha e com a União Europeia. Existe apenas um projeto desenvolvido pela sociedade ELOS para o novo traçado Poceirão-Caia em bitola europeia. Este projeto e o contrato estão prontos desde 2010, mas em 2012 o Tribunal de Contas recusou-lhe o necessário visto, encontrando-se desde então encalhado nos tribunais e na chamada Operação Marquês, nomeadamente por causa do envolvimento de José Sócrates e do Grupo Lena na embrulhada.

O dinheiro europeu que havia para a designada ligação ferroviária entre Lisboa e Madrid (Poceirão-Caia) perdeu-se. Só no Quadro Financeiro que se inicia em 2020 este processo poderá ser eventualmente retomado. Até lá, o Estado português não tem dinheiro para indemnizar a ELOS sem agravar o periclitante e vigiado défice público, quanto mais para realizar o que diz a propaganda eleitoral de António Costa.

O consórcio ELOS registou naturalmente os direitos do projeto de execução objeto do contrato público realizado. Se o Estado persistir na rejeição do mesmo, terá que lançar novo concurso, com a agravante de os futuros concorrentes saberem à partida que os governos indígenas se comportam como se vivessem numa qualquer república das bananas, onde há tribunais dominados pela política, e onde o direito é tratado como uma boneca de trapos.

O Estado alega que o concurso era ilegal. Mas quem elaborou o concurso foi a estatal REFER, hoje denominada Infraestruturas de Portugal (1). Logo, depois de condenado no tribunal arbitral a pagar 150 milhões de euros à ELOS, há uma probabilidade elevada de o Estado perder o recurso que fez para os tribunais judiciais.

A melhor opção para o interesse público seria pois chegar a acordo com a ELOS, retomando-se o contrato de concessão de 2010, que seria depois apresentado em Bruxelas com a correspondente candidatura aos fundos a disponibilizar pelo Quadro Financeiro que se inicia em 2020.

Qualquer país só terá acesso a fundos europeus se apresentar um projeto de execução. A propaganda, e os Power Point não chegam!

Dado que o troço em causa, entre o Poceirão e Caia, faz parte do Corredor do Atlântico, a comparticipação comunitária para a sua realização seria elevada. Este troço é provavelmente o mais fácil e o menos caro de construir em toda a Europa.

Dois anos e meio bastariam para concluir um projeto com estas características e dimensão.

A opção decidida por este governo aposta, porém, e uma vez mais, no erro, na ignorância crassa e na submissão a interesses de curto prazo (2), os quais irão transformar Portugal numa ilha ferroviária, com consequências destrutivas potenciais enormes e duradouras ao eliminar a necessária redundância do nosso sistema de transportes. Basta ver qual foi a resposta da Autoeuropa às sucessivas greves que o PCP provoca e dirige no porto de Setúbal: levar os carros para o porto de Santander!

Para já, a solução ainda é viável, pois a rede de bitola ibérica continua de pé em Espanha, mas assim que esta for descontinuada junto à fronteira portuguesa, o que certamente acontecerá até 2023, à Autoeuropa só restará uma resposta estratégica à instabilidade sindical e à política errática dos nossos desmiolados e corruptos políticos: transferir a sua fábrica de Palmela para Espanha.

Entretanto, esta foi a solução ferroviária anunciada pelo irresponsável e cobarde ministro Pedro Marques:

— Ligação Évora-Elvas: 80Km, via única, bitola ibérica

Custará 530 milhões de euros, mais 150 milhões de indemnização (+juros) à ELOS, ou seja, qualquer coisa, como 700 milhões de euros.

Esta falsa solução, que apenas se destina a vencer o medo atávico de Madrid, e os interesses de curto prazo dos operadores que entretanto tomaram conta da falida CP Carga, ficará rapidamente à mercê dos portos secos que a Espanha irá plantar em Salamanca e Badajoz.

Os portos de Matosinhos, Aveiro, Figueira da Foz, Lisboa, Setúbal e Sines, deixarão paulatinamente de receber mercadorias destinadas à Europa, ou mesmo a Espanha, assim que o país vizinho acabar com a bitola ibérica na raia, uma decisão já tomada e com datas conhecidas. Idem para as exportações de bens produzidos no nosso país.

Os grandes investimentos ferroviários desmiolados de Pedro Marques e de António Costa, e da nacionalista Geringonça, serão, em suma, um desperdício absoluto que pesará ainda mais na canga da divida pública e da falta de competitividade da nossa economia, tornando Portugal um país ainda mais periférico do que já é.

O novo troço Poceirão-Caia, com 167 Km, custaria 1200 milhões de euros. Chave na mão. Ou seja: 8,75 M€/ Km para uma solução errada, em vez de 7,2 M€/ Km numa solução certa e, além do mais, previamente assumida com Espanha e com a União Europeia!!!

Este post foi escrito em colaboração com Rui Rodrigues. Recomendamos a leitura da apresentação que se segue.

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NOTAS

1. “A de 1 de junho de 2015, na sequência do Decreto-Lei nº 91/2015 de 29 de maio, a Rede Ferroviária Nacional – REFER, E.P.E. (REFER, E.P.E.) incorpora, por fusão, a EP - Estradas de Portugal, S.A. (EP, S.A.) e é transformada em sociedade anónima, passando a denominar-se Infraestruturas de Portugal, S.A. (IP, S.A.).”
<http://www.infraestruturasdeportugal.pt/sobre-nos/historico/refer>
2. Perante a teimosia atávica do Bloco Central, formou-se uma espécie de oligopólio entre a Takargo, da Mota-Engil, associada para este efeito à espanhola Ibercargo, e o gigante MSC, a segunda maior empresa de transporte contentorizado do mundo, sediada na Suíça, e propriedade do bilionário italiano Gianluigi Aponte, que adquiriu a CP Carga S.A., mudando-lhe o nome para MEDWAY. O terminal rodoferroviário de Vila Nova de Famalicão é um remendo sem futuro, mas que assegura ao gigante MSC uma posição forte na grelha de partida da privatização do transporte ferroviário em Portugal, bem como no futuro do transporte contentorizado na Península Ibérica.

Atualização: 19/1/2019, 11:28 WET

A seca do PSD

O queiroziano conselheiro Menezes


PSD partido em três


A saída de Santana Lopes que rombo provocará no PSD, nas Europeias, e depois nas Legislativas? Montenegro, sem sequer se deslocar à arena dos conselheiros Acácio, para já, placou Rio, que até teve que repescar um cadáver de Gaia em seu auxílio para ver a sua moção aprovada, com apenas 25 votos de vantagem em 126!
Há muito que defendo o fim do Bloco Central, à esquerda, mas também à direita. 
A Geringonça acabou com o PS centrista. A cisão de Santana acabou com o PSD centrista. Só Rui Rio e o Parque Jurássico do PSD não entenderam ainda que o mundo mudou.
Carlos Moedas não virá para Lisboa tão cedo. Sobram portanto duas alternativas visíveis a Rui Rio: Luís Montenegro e Miguel Morgado. 

A crise europeia e a recessão mundial não chegarão a tempo de ferir dramaticamente a Geringonça, mas o PS não chegará à maioria absoluta. A Geringonça vai pois continuar por mais uma legislatura. 

O Rio vai entretanto secar. Se for até ao fim deste ano, Montenegro terá hipóteses de lhe suceder. Mas se fio de água se aguentar por mais um ou dois anos (2019-2020), então Morgado terá hipóteses de encabeçar um PSD muito diferente do atual.

Este país já não é para velhos que não souberam dar conta do recado enquanto mandaram.

terça-feira, janeiro 15, 2019

Era uma vez a TAP

Movimentos de passageiros nos aeroportos portugueses em 2017 (1)

Como tem vindo a TAP a perder os aeroportos para as low-cost...


As hélices dos ATR72 foram incapazes de competir com as turbinas dos B737-800 da Ryanair na ponte aérea entre Lisboa e Porto.

Se a TAP ainda detém 52% dos movimentos de passageiros na Portela, é igualmente verdade que esta vantagem relativa tem vindo a decair rapidamente face à concorrência das companhias e da lógica low-cost. Se incluirmos os voos low-cost realizados pela própria TAP, poderá concluir-se que a tendência dominante do transporte aéreo na Europa forçará a TAP a mudar radicalmente as ruinosas prioridades estratégicas estabelecidas por Fernando Pinto e pelo desmiolado Bloco Central que nos tem governado.

Por sua vez, o ataque das low-cost aos arquipélagos pode ser já considerado como a principal causa do boom turístico nos Açores. A TAP recua ano a ano em todos os aeroportos nacionais, e a SATA poderá não resistir a uma ofensiva privada às ligações entre os Açores e o continente americano, via Ryanair, ou IcelandAir. A IcelandAir é uma das potenciais compradoras da SATA, e já assegura a gestão da TACV - Transportes Aéreos de Cabo Verde.

Quanto à Portela, dado que 72% dos movimentos aéreos nos nossos aeroportos têm origem na Europa, a expansão do aeroporto de Lisboa dará necessariamente prioridade às companhias e tráfego low-cost.

Já nem a TAP usa as famosas mangas em parte das suas ligações aéreas — por dificuldades na triagem da bagagem, e por uma questão de preço (as mangas são caras, e as manobras de estacionamento consomem combustível) e rapidez, pois maioria dos passageiros ponto-a-ponto transporta a bagagem na cabine.

Como só 10% dos movimentos nos aeroportos portugueses são intercontinentais, haverá certamente na Portela novas áreas destinadas aos voos europeus ponto-a-ponto.

A ampliação da Portela não vai pois servir o estagnado hub da TAP, que tenderá aliás a sofrer mais com as crises económicas no Brasil, Venezuela e Estados Unidos, do que com a próxima recessão europeia. Algumas das mangas telescópicas construídas durante o consulado ruinoso do gaúcho Pinto deverão, pois, desaparecer. Do que a ANA precisa agora é de espaço para estacionar aeronaves, de explorar todo o espectro horário disponível e, finalmente, de continuar a otimizar a gare e os sistemas de check-in.

A ideia de que a Portela será um aeroporto para a TAP, IAG, Air France e Lufthansa, e o Montijo um apeadeiro para as low-cost parece-me, em suma, de pernas para o ar, pois conduziria a um negócio pouco eficiente. O conceito de eficiência dirá pouco às empresas públicas e a quem delas se serve, mas canta de modo completamente distinto junto das empresas que realmente competem no mercado e são ambiciosas, como a Vinci é.

Para já, portanto, a Portela vai ser transformada num aeroporto low-cost. Se houver crescimento que o exija, o Montijo será uma pista suplementar da Portela.

No entanto, a solução mais provável, apesar do acordo assinado entre o governo e a Vinci, é haver novo chumbo do estudo de impacte ambiental da solução Montijo, atirando o NAL para o fim da concessão: 2062.

Em 2040 será então retomada a decisão de construir o NAL de Rio Frio/ Canha, um aeroporto com 4 pistas, ligado por ferrovia à região de Lisboa e Setúbal, ao Algarve e a Espanha.

O aeroporto da Portela de Sacavém, projetado pelo arquiteto Francisco Keil do Amaral, será finalmente encerrado no dia 19 de outubro de 2062, depois de 120 anos de excelente serviço prestado ao país — dois anos depois da inauguração do Novo Aeroporto de Lisboa.

A venda dos terrenos da Portela contribuirá então para a construção do novo aeroporto.

Só não sei uma coisa: haverá ainda uma companhia portuguesa chamada TAP?

NOTAS

  1. ANAC – Autoridade Nacional da Aviação Civil. BET Boletim Estatístico Trimestral, nº36 - 4º Trimestre de 2017. 
Atualização: 16/1/2019 09:55 WET

segunda-feira, janeiro 14, 2019

The misandry fear (1967-2020)

Valerie Solanas. S.C.U.M. (Society for Cutting Up men) [1967, 1968*]

Life in this society being, at best, an utter bore and no aspect of society being at all relevant to women, there remains to civic-minded, responsible, thrill-seeking females only to overthrow the government, eliminate the money system, institute complete automation and destroy the male sex. 


It is now technically feasible to reproduce without the aid of males (or, for that matter, females) and to produce only females. We must begin immediately to do so. Retaining the male has not even the dubious purpose of reproduction. The male is a biological accident: the Y (male) gene is an incomplete X (female) gene, that is, it has an incomplete set of chromosomes. In other words, the male is an incomplete female, a walking abortion, aborted at the gene stage. To be male is to be deficient, emotionally limited; maleness is a deficiency disease and males are emotional cripples.

— in S.C.U.M. Manifesto 
(Society for Cutting Up Men)
by Valerie Solanas
New York, 1967

Women have a tremendous amount to lose by creating a lot of indifferent men. 


The Western World has quietly become a civilization that has tainted the interaction between men and women, where the state forcibly transfers resources from men to women creating various perverse incentives for otherwise good women to inflict great harm onto their own families, and where male nature is vilified but female nature is celebrated. This is unfair to both genders, and is a recipe for a rapid civilizational decline and displacement, the costs of which will ultimately be borne by a subsequent generation of innocent women, rather than men, as soon as 2020.

Now, the basic premise of this article is that men and women are equally valuable, but have different strengths and weaknesses, and different priorities. A society is strongest when men and women have roles that are complementary to each other, rather than of an adversarial nature. Furthermore, when one gender (either one) is mistreated, the other ends up becoming disenfranchised as well. If you disagree with this premise, you may not wish to read further.

[...]

Lefto-’feminists’ will be outbred and replaced very quickly, not by the conservatives that they hate, but by other cultures antithetical to ‘feminism’. The state that lefto-’feminists’ so admire will quickly turn on them once the state calculates that these women are neither producing new taxpayers nor new technologies, and will find a way to demote them from their present ‘empowered’ position of entitlement. If they thought having obligations to a husband was such an awful prospect, wait until they have obligations to the husband-substitute state.

[...]

Go to any department store or mall. At least 90% of the products present there are ones no ordinary man would consider buying. Yet, they occupy valuable shelf space, which is evidence that those products do sell in volume. Who buys them? Look around in any prosperous country, and we see products geared towards women, paid for by money that society diverted to women. From department store products, to the proliferation of take-out restaurants, to mortgage interest, to a court system rigged to subsidize female hypergamy, all represent the end product of resources funneled to women, for a function women have greatly scaled back. This is the greatest resource misallocation ever, and such malinvestment always results in a correction as the bubble pops.

[...]

This website has predicted that the US will still be the only superpower in 2030, and while we are not willing to rescind that prediction, I will introduce a caveat that US vitality by 2030 is contingent on a satisfactory and orderly unwinding of the Misandry Bubble. It remains to be seen which society can create economic prosperity while still making sure both genders are treated well, and the US is currently not on the right path in this regard. For this reason, I am less confident about a smooth deflation of the Misandry Bubble. Deflate it will, but it could be a turbulent hurricane. Only rural America can guide the rest of the nation into a more peaceful transition. Britain, however, may be beyond rescue.

— in “The Misandry Bubble”, by Imran Khan
The Futurist, January 01, 2010

An Antidote to Chaos


“Chaos, the eternal feminine, is also the crushing force of sexual selection. Women are choosy maters (unlike female chimps, their closest animal counterparts). Most men do not meet female human standards. It is for this reason that women on dating sites rate 85 percent of men as below average in attractiveness. It is for this reason that we all have twice as many female ancestors as male (imagine that all the women who have ever lived have averaged one child. Now imagine that half the men who have ever lived have fathered two children, if they had any, while the other half fathered none).41 It is Woman as Nature who looks at half of all men and says, “No!” For the men, that’s a direct encounter with chaos, and it occurs with devastating force every time they are turned down for a date. Human female choosiness is also why we are very different from the common ancestor we shared with our chimpanzee cousins, while the latter are very much the same. Women’s proclivity to say no, more than any other force, has shaped our evolution into the creative, industrious, upright, large-brained (competitive, aggressive, domineering) creatures that we are. It is Nature as Woman who says, “Well, bucko, you’re good enough for a friend, but my experience of you so far has not indicated the suitability of your genetic material for continued propagation.”

— in Jordan B. Peterson, 12 Rules for Life: An Antidote to Chaos (2018)

PS: I strongly advise you to read in tandem all Solanas' Manifesto, Peterson's 12 Rules, and Khan's post on the perils of misandry. It will certainly give powerful ammunition to anyone who wishes to follow the impact of gender issues on our societies for at least the last fifty years.

*
1967
self-published edition
excerpts from it were published as
Valerie Solanis
“S.C.U.M. Manifesto”
Berkeley Barb (June 7-13, 1968): page 4

1968
S.C.U.M. Society for Cutting Up Men Manifesto
(Olympia Press, New York)
with a preface by Maurice Girodias, and a commentary by Paul Krassner, “Wonder Waif Meets Super Neuter”

— in Smith, Donny, Valerie Solanas: Bibliography at the Wayback Machine (archived August 17, 2005)
https://web.archive.org/web/20050817015943/http://geocities.com/WestHollywood/Village/6982/solanas.html#paper

sábado, janeiro 12, 2019

O Rio secou. E agora?

Miguel Morgado


Santana, Montenegro, Morgado, ou uma iniciativa mais liberal?


A novidade, a juventude e o realismo informado serão fatores cruciais no desmantelamento do enquistado estado partidário e neo-corporativo que temos.

Vale, pois, a pena visitar um novo partido chamado Iniciativa Liberal e acompanhar as suas atividades. Não tem, e isso é bom, a carga populista reacionária de outras alternativas que começam a aflorar do pântano de dissolução em curso do atual regime.

Outra iniciativa liberal igualmente intrigante surgiu este fim de semana, desta vez com grande estrondo mediático. Chama-se MEL — Movimento Europa e Liberdade, quer dizer, a antítese da Geringonça, onde cresce dia a dia uma praxis anti-europeia e anti-ocidental, e ainda uma espécie de variante 'português suave' do socialismo chavista.

Aflito, Montenegro saltou também para a arena do colapso da desmiolada direita instalada, propondo-se desfazer o PSD. Vai consegui-lo! Se é bom ou mau para a democracia, é uma pergunta retórica que deixou de fazer sentido. Quando o furúnculo exibe tamanha quantidade de pús, há que espremer a borbulha, e pronto.

Marcelo, que poderia ser uma força de reforma constitucional, importante nesta curva apertada do regime democrático, está a revelar-se um embuste que nos vai custar os olhos da cara. O espelho partiu-se, e a criatura não sabe navegar sem mimos.

É certo que os portugueses estão tão habituados ao protecionismo e à corrupção do regime, que tudo aquilo que prometa maior liberdade e ousadia civilizacional assusta o regime e as pessoas acomodadas nas suas pequeninas conchas subsidiadas.

É, porém, melhor para todos nós libertar o regime das suas amarras neocorporativistas, e dos piratas que tomaram as rédeas do poder ao longo das últimas décadas, do que vermos, por inércia nossa, surgirem pequenos monstros de irracionalidade transformarem-se na face e espinha de um novo regime autoritário populista, de direita ou de esquerda.

Chegou o momento de malharmos no PS e nas esquerdas, pois o seu namoro com o populismo venezuelano, perante a apatia patética do presidente da república, ameaça tornar-se uma promessa de casamento. Os beijinhos do presidente são agora uma espécie de reality show. Disgusting!

Entretanto, a direita desmiolada, corrupta e inculta que temos, acordou enfim assustada com o óbvio: Marcelo não a vai salvar de coisa nenhuma, e Caracas pode estar ao virar da esquina.

Iremos sem dúvida assistir a uma implosão ruidosa e algo histérica da direita institucional e instalada, enquanto as esquerdas se agarram ao fascismo fiscal como se pudessem viver desta artimanha por muito mais anos. Não podem. Os credores não deixam.

O que eu quero dizer com isto é simples: tal como no resto do mundo, embora com algum atraso, Portugal vai precisar de novas referências políticas democráticas para se salvar de outra ditadura, ou, para já, de uma espécie de rotativismo populista, hoje 'de esquerda' (Costa, etc.), amanhã 'de direita' (Santana, etc.)

Se repararem bem, o país económico e financeiro português já não existe, ou o que dele ainda resta são duas realidades, felizmente com resiliência histórica. Por um lado, as pessoas que produzem, mais ou menos na clandestinidade fiscal, ou que emigraram e continuam a investir capital na sua terra, e as nano, micro e pequenas empresas. Por junto, estas são as verdadeiras tábuas de salvação da nossa soberania. Por outro lado, temos os sátrapas e capatazes indígenas (JL Arnaut e quejandos) dos poderes e empresas globais que têm vindo a comprar o país a patacos depois das asneiras e crimes da cleptocracia que arruinou Portugal. De fora disto fica uma enorme inércia institucional, partidária e burocrática, que nada produz e que se vem dedicando de modo cada vez mais descarado e desesperado ao assalto fiscal de quem produz ou simplesmente é topado a mexer-se!

O MEL deste fim de semana poderá chegar tarde demais às necessidade políticas do país. Já lá não vamos sem uma verdadeira transformação democrática do regime, com caras e ideias novas. E para aqui chegarmos, será indispensável apostarmos eleitoralmente em programas partidários e pessoas que querem e propõem ao país uma democracia simultaneamente responsável e liberal. O contrário, portanto, da direita e da esquerda que temos, ambas habituadas a viver do erário público, e a corromper-se alegremente com a pouca riqueza genuinamente criada pelos portugueses.

Este vai ser seguramente um ano agitado. Tempo de ouvir, ler e estar atento aos sinais de esperança.

Nota: quem é Miguel Morgado? Tentem no Google, mas vai ser difícil descobrir uma imagem sequer. Antecipou-se, porém, a Luis Montenegro, ao atirar-se à jugular de Marcelo, acusando-o de interferência nos assuntos internos do PSD. Boa malha!

Social-fascismo mediático

Pormenor de uma fotografia de Robert Mapplethorpe, exposta no Museu de Serralves


O jornalismo, na sua guerra insane pelas audiências, está a transformar-se rapidamente numa forma pidesca de fascismo mediático. Ana Leal, por exemplo [ver “Ana Leal”: grupo secreto quer “curar” homossexuais — TVI24], tem vindo a destruir tudo o que revelou sobre a corrupção, à medida que percebemos os métodos inaceitáveis, e provavelmente ilegais, do seu jornalismo infiltrado.

Ninguém vai a um médico, ainda por cima a um psicólogo, ou a um psiquatra, se não se sentir mal, quer dizer, doente, neste caso, dos cornos. Quer isto dizer que a homossexualidade é uma doença? Não! Então o que é? Será um estado absolutamente natural da personalidade? Também me parece que não. Um defeito biológico, ou genético? Até agora ninguém demonstrou que seja o caso. Então o que é, porra? Ninguém sabe ao certo, embora haja muitas teorias psicológicas e culturais sobre o assunto. Mas lá que por vezes é um problema que causa transtornos psíquicos e comportamentais a milhares ou milhões de pessoas, é.

E já agora, não confundamos amor com sexo. Podem estar juntos, mas estão muito mais vezes separados. Quando a crise da SIDA atingiu nos Estados Unidos e na Europa a sua fase epidémica e o seu pico mediático, não por acaso, se desenvolveu uma moral monogâmica entre os gays, e se promoveu até a adoção dessa instituição conservadora que é o casamento entre os homossexuais e lésbicas. O objetivo principal desta restauração cultural era apenas um: diminuir o grau de promiscuidade decorrente do facto, de todos conhecidos, de os homossexuais serem muito pouco ou nada fieis e estáveis nas suas relações amorosas e sexuais.

Estas questões são complexas e sensíveis. Devem ser discutidas de forma racional e substantiva, em vez de servir de palco à voragem canina e desmiolada dos novos gladiadores do circo das audiência televisivas. Mas mais importante ainda, as sexualidades alternativas, desviantes, ou fraturantes não devem extravasar em espaço mediático e poder político a sua real e histórica representatividade social. Nem muito menos ser englobadas nessa espécie de federação das causas fraturantes e politicamente corretas que tem servido de elevador eleitoral a vários partidos urbanos mais ou menos populistas, como é o caso, entre nós, do Bloco de Esquerda. A bolha de misandria que se tem vindo a formar ao longo das duas últimas décadas começou, aliás, a rebentar sob a forma de fenómenos de grande magnitude eleitoral, política e cultural, como foram os casos recentes das eleições de Donald Trump e de Jair Bolsonaro. Mas esta é uma discussão para outro post.

Atualização: 12/1/2019 11:43 WET

terça-feira, janeiro 08, 2019

Montijo por um canudo

Aeroporto virtual do Montijo. Uma quimera?

Num país de emigrantes, situado na União Europeia, as nossas elites há muito que deveriam saber que o negócio aéreo está situado esmagadoramente na Europa, e portanto, tem como seus principais clientes os nossos emigrantes e o turismo. O afluxo deste tipo de passageiros, desde 2010, tem levado os aeroportos de Lisboa e Porto a crescer na casa dos dois dígitos ao ano [1]. Mas tal só foi possível graças à chamada aviação low-cost [2].

A Ryanair foi em 2018 a maior companhia europeia de aviação por número de passageiros transportados (139 milhões contra 132, da Lufthansa), tal como a espanhola Vueling ultrapassou a Iberia em número de aeronaves e destinos. Como pudemos, pois, aturar um discurso de propaganda sobre a TAP, sistematicamente enganador, até que esta se tornasse uma empresa falida e inviável, que apenas continua a voar porque é alimentada com dívida portuguesa escondida? Porque não exigimos transparência relativamente a uma companhia que os portugueses adoram, mas que não pode continuar a viver como se não houvesse amanhã?

Tempo de chamar os burros pelos nomes, e de olhar para o futuro dos nossos aeroportos com olhos de ver:
  • 72% dos movimentos aéreos nos nossos aeroportos têm origem na Europa;
  • 18% são voos internos;
  • ou seja, só 10% dos voos dizem respeito a outros continentes: 4% de África, 2% da América do Norte, 2% da América do Sul, e 1% da Ásia/Pacífico (3).
 Ou seja, temos que ter tento na língua quando falamos da vocação intercontinental do hub da Portela.

A cerimónia de hoje (8 de janeiro de 2019) na Base Aérea nº6, que anunciou a solução Portela +1, sendo este 1 no Montijo, foi uma encenação com dois objetivos: comprar votos cor-de-rosa aos incautos da Margem Sul e, sobretudo, avançar imediatamente com a expansão operacional do Aeroporto Humberto Delgado, de facto, a rebentar pelas costuras, ou quase. Duplicou o número de passageiros entre 2010 e 2017.

A Vinci pagou mais de 3 mil milhões de euros pela ANA, e não estará certamente muito interessada em gastar mais 500 milhões no Montijo, quando pode investir 650 milhões na Portela e obter previsivelmente uma solução de viabilidade e rentabilidade aeroportuárias ajustada ao prazo da concessão: 2062.

Por outro lado, o Bloco Central mantém em aberto a opção do NAL, provavelmente onde sempre esteve previsto, desde 1972, quer dizer, algures entre a Herdade de Rio Frio e a povoação de Canha. A discussão regressa lá para 2040!

Faz esta leitura da sessão de propaganda de hoje no Montijo algum sentido?

Em que ficamos: avança a Portela primeiro, ou o Montijo?

Poderá qualquer das opções ser tomada antes de conhecido o novo EIA - Estudo de Impacte Ambiental?

Vejamos...

OPÇÃO A - Estudo de Impacte Ambiental favorável

H1 - avança primeiro o Montijo com inauguração prevista para 2022
  • Montijo torna-se aeroporto Low Cost;
  • Portela poderá precisar de menos investimento do que o anunciado, uma vez liberta dos militares (que por fim cederam espaço em terra e corredores aéreos preciosos), não precisar de destruir a pista 17/35 (que assegura a fiabilidade do aeroporto em condições meteorológicas desfavoráveis), ganhando ainda novas zonas de estacionamento em Figo Maduro e na área hoje ocupada pelo Terminal 2 (que entretanto desaparece);
  • inconvenientes que não são pequenos e mordem as margens comerciais da ANA Vinci: mais de 500 milhões de investimento precipitado no Montijo, e gerir duas infraestruturas ao mesmo tempo, prejudicando o hub da Portela: os passageiros que voam na Ryanair, de Bruxelas, ou Londres, Paris, etc., para Lisboa, podem querer seguir para Luanda, São Paulo, ou Pequim... e o Montijo ficará sempre, no mínimo, a uma hora de distância da Portela se somarmos os tempos de desembarque/embarque e recolha de bagagens entre os dois aeroportos.
H2 - avança primeiro a Portela, já em 2019
  • aumenta-se significativamente a capacidade operacional do aeroporto Humberto Delgado
  • Figo Maduro migra para o Montijo, aconteça o que acontecer...
  • taxas aeroportuárias aumentam... mas não tanto quanto se pensa;
  • Ryanair e as restantes Low Cost acomodam-se à expansão da Portela, e estabelecem aí mais bases;
  • o Montijo é sucessivamente adiado...
  • o NAL de Rio Frio/Canha volta à mesa de trabalho lá para 2040.

OPÇÃO B - EIA chumba Portela+1 (Montijo)

H2 - avança a Portela
  • aumenta-se significativamente a capacidade operacional, em terra e no ar, do aeroporto Humberto Delgado;
  • Figo Maduro migra para o Montijo, libertando espaço terrestre e aéreo em Lisboa;
  • taxas aeroportuárias aumentam... mas não tanto quanto se pensa...
  • Ryanair, easyJet, etc. acomodam-se à expansão da Portela, e estabelecem aí mais bases (as companhias Low Cost têm vindo a ganhar cada vez mais passageiros à TAP, em Faro, no Porto, no Funchal, em Ponta Delgada, mas também em Lisboa);
  • a TAP cria uma companhia Low Cost para a Europa e Norte de África;
  • o NAL de Rio Frio/Canha volta à mesa de trabalho, em 2040;
  • o NAL de Rio Frio/Canha inaugura em 2060, dois anos antes do fim da concessão da ANA à Vinci;
  • o famoso TGV [4], quer dizer as ligações ferroviárias previstas à rede europeia de bitola europeia, para passageiros (Alta Velocidade) e mercadorias volta à mesa de projetos e candidata-se aos fundos comunitários ainda disponíveis para este efeito (começando, naturalmente, pela nova ligação Pinhal Novo-Badajoz, em bitola europeia, preparada para Alta Velocidade, no caso dos passageiros, mas também para transporte de mercadorias, neste caso, com ligações derivadas para Poceirão, Setúbal e Sines).

RESUMINDO

H2, ou seja, a Portela, vai avançar primeiro! E se correr bem, o Montijo será adiado para as calendas gregas. Ou porque a Portela 2.0 chega para as encomendas, ou porque os ambientalistas, providencialmente, chumbaram a expansão do Montijo sobre o espelho de água do estuário do Tejo. Para isso serve a Zero e se lhes paga um tença anual adequada aos servicinhos que presta!

NOTAS
  1. Quer o aeroporto da Portela, quer o aeroporto Sá Carneiro, precisam de aumentar urgentemente as suas capacidades de movimentação de aeronaves e acolhimento de passageiros. Em ambos os casos é fundamental construir taxyways, novas placas de estacionamento e mangas, e melhorar os instrumentos de apoio à navegação aérea e manobras de descolagem e aterragem. Em ambos os casos há potencial para aumentar as respetivas capacidade aeroportuárias em mais de 50%. No Porto, está em causa fazer daquela infraestrutura o verdadeiro aeroporto internacional do noroeste peninsular. A extensão da rede AVE à Galiza reduzirá de vez as ambições internacionais de qualquer dos seus três principais aeroportos: Corunha, Santiago e Vigo.
  2. As companhias de bandeira também embarcaram, embora tardiamente, na aviação Low Cost, primeiro criando companhias 'charter', depois criando mesmo companhias Low Cost (Transavia, Eurowings, Iberia Express, etc.), e, no caso da TAP, promovendo programas de viagens Low Cost, embora neste caso, contra a lógica própria de uma companhia de bandeira convencional, cuja estrutura não foi desenhada para tal, seja nas aeronaves escolhidas e respetiva configuração, na organização dos recursos humanos e respetivas tarefas. É certo que a TAP tem feito um esforço notável para se adaptar aos novos tempos, mas as suas contas continuam no vermelho :(
  3. ANAC – Autoridade Nacional da Aviação Civil. BET Boletim Estatístico Trimestral, nº36 - 4º Trimestre de 2017. 

Atualização: 9/1/2019, 11:28 WET

sábado, dezembro 22, 2018

Coletes e sorrisos amarelos


A três dias do Natal. Percebe?


Foi uma espécie de ensaio geral. Governo, deputados e Marcelo sossegaram, sorriram e foram até magnânimos. O seu otimismo arrogante e populista joga paradoxalmente a favor da revolta cidadã que, aparentemente, começou hoje em todo o país, apesar do seu manifesto fracasso. Não estamos já na presença de uma geração à rasca, mas de um país à rasca, farto da corrupção, da ladroagem pública e da impunidade de banqueiros e políticos, porém sem liderança, nem energia.

Em França os coletes amarelos surgiram depois de o sistema partidário tradicional ter implodido, abrindo clareiras para três novas forças radicais: Frente Nacional, França Insubmissa e Macron. Em Portugal, nada aconteceu ainda ao nosso anafado e corrupto sistema partidário. Esta diferença é crucial para percebermos o flop do Vamos Parar Portugal. O amadorismo da iniciativa é evidente, nomeadamente na falta de um objetivo unificador claro, e ainda na ingenuidade de convocar uma manifestação agressiva nacional a três dias da Consoada e já com o décimo terceiro mês no bolso! Como se isto não bastasse, o Governo tem vindo a endividar-se à maluca dando tudo a todos, corroendo assim a infraestrutura material e humana do país. A economia continua, por outro lado e ainda, a beneficiar de enormes influxos de capital estrangeiro, receitas do turismo e remessas de centenas de milhar de novos e jovens emigrantes (milhares de milhões de euros por ano), com a decorrente melhoria do ambiente produtivo, laboral e económico, também do outro lado do funcionalismo público. Este, por sua vez, apesar de apaparicado em permanência pela Geringonça, é quem, afinal, agita semanalmente o país com greves e perturbações laborais. Mostrar o papão da extrema-direita, nomeadamente a propósito deste não acontecimento, mostra à evidência o cinismo da classe político-partidária instalada, mas também o estado zombie da maioria envelhecida da população. Portugal encontra-se indefeso perante a invasão pacífica, financeira e humana, em curso. As elites indígenas, na sua infinita preguiça e estupidez, têm o destino traçado: vender o corpo e a alma ao invasor, sem rebuço.

Os coletes amarelos lusitanos deveriam ter reclamado uma e uma só medida ao poder instalado: introduzir na Constituição portuguesa a figura do RIC - Referendo de Iniciativa Cidadã. Sem mudarmos o quadro constitucional na direção de um verdadeiro reforço da democracia participativa, sem acabarmos com o sufoco partidário que tudo controla e corrompe, as movimentações de rua servirão para alertar os políticos da sua falsa segurança e poder, mas não chegarão para mudar o regime, e é de uma mudança de regime que precisamos como de pão para a boca! Os atuais orçamentos participativos municipais são uma caricatura populista da democracia participativa que queremos.

Marcelo, ufano, confunde democracia com demagogia, e continua a sofrer de uma enorme miopia face à grande corrupção. Prefere, como temos visto, andar atrás dos pilha-galinhas de Tancos. Chama-se a isto mostrar serviço!

quinta-feira, dezembro 13, 2018

Joana 1, Serralves 0

Illustration by Paul Ryding for POLITICO

Uma artista síncrona com o seu tempo político e cultural


Joana Vasconcelos tem vindo a vencer a muralha de silêncio e piadinhas que erigiram contra ela. Desde que a conheço, não sei porquê, há uma elite indígena que detesta esta artista. Sempre vi nela uma profissional determinada, corajosa e comprometida com agendas ideológicas claras. Por exemplo, os direitos das mulheres, também nas artes. A antítese, portanto, dos artistas que pintam, fotografam e instalam por revista. Como artista prolífica que sempre foi, tem uma enorme produção. Peças como Sofá Aspirina (1997), Cama Valium (1998), o lustre construído com tampões de menstruação a que chamou A Noiva (2001-2005), a extraordinária Burka (2002) que vi ascender como Nossa Senhora ao teto do recém inaugurado MUSAC, e cair depois redonda no chão como uma puta apedrejada, Valquíria #1 (2004) e Pantelmina #3 (2004), Coração Independente Dourado (2004)—seguramente, uma das mais inteligentes, irónicas, e tocantes obras de arte produzidas na Europa na primeira década deste século—, a série Sapatos (2007-2010)—onde uma vez mais Gata Borralheira e Cindera dançam de forma sublime um sonho de mulher que a escritores como o pedinte literário António Lobo Antunes só pode mesmo distribuir socos—, e ainda a extraordinária Egéria (2018), da série Valquírias, expressamente pensada para o grande hall do Museu Guggenheim de Bilbau, entre outras, chegam e sobram para definir esta ainda jovem portuguesa nascida em Paris, como a mais importante artista do nosso país no primeiro quartel do século 21. Só falta saber porque carga de água, ou miopia de quem, o Museu de Serralves não viu o óbvio. Nunca dedicou uma exposição individual a Joana Vasconcelos, e a que no próximo mês de fevereiro irá ter lugar, depois de desalojar dois diretores da instituição (Suzanne Cotter e João Ribas), é o desfecho de um longo e silencioso combate que Joana venceu sem ruído e grande elegância. Mais grave ainda, o Museu de Serralves nunca lhe comprou uma obra de arte, até hoje. Agora, que tem menos dinheiro, e as obras de Joana Vasconcelos se cotizam sob a batuta de François-Henry Pinault, vai sair mais caro. Já agora, quantas obras comprou Serralves ao muito datado e nada original fotógrafo Robert Mapplethorpe? Quanto custou a centena e meia de aquisições da polémica exposição que ainda podemos espreitar neste museu portuense?

Joana Vasconcelos
THE VALKYRIE
Politico 
If you could reform one thing about the EU, what would it be?
“First I would change the fact that women don’t earn the same as men. I would make the human rights regarding women the first thing. Then I would change the politics toward immigrants.” 
Tell us something surprising about yourself.
“I’m an artist, but I could have been a karate teacher.” (She’s a 3 dan black belt.) 
What is the biggest loss the EU faces as a result of Brexit?
“The freedom of cultural speech and cultural movement. If we lose that we lose what makes us unique among the other continents.”

JOANA VASCONCELOS/JN: o Papa Francisco é atualmente a pessoa que mais admira e que poderia ter sido professora de Karaté, se não fosse artista. Acrescenta que gostaria de mudar os direitos dos imigrantes e das mulheres. E deixa uma declaração a propósito do Brexit: "Se perdermos a liberdade do discurso cultural, perdemos o que nos torna únicos entre os outros continentes." - Jornal de Notícias.


quarta-feira, dezembro 05, 2018

Las Bejas?

Casino.Org: Elysium City promises to put Spain’s “La Siberia” on the map. Despite having no major cities, airports, or rail connections nearby, a former Disney executive believes he can make it work. (Image: Cora Global)

A construção e novas cidades deixou de fazer sentido, exceto em África


A ideia por mim lançada em 2012 (1) era para Beja: Las Bejas! Ninguém ligou (o pessoal só pensa no OE). Porém, a recém anunciada Elysium City (2), por uma obscura empresa criada em 2015 em Orange, Califórnia (a Cora Global, dum tal John Cora), será provavelmente mais uma tentativa falhada de trazer uma réplica de Las Vegas para a Europa. Em Espanha, houve já duas animações 3D que deram em nada: a Las Vegas de Madrid e a Las Vegas de Barcelona. Castilblanco, o pueblo escolhido para Elysium, fica na Extremadura, a 139Km de Ciudad Real; a 100Km de Talavera de la Reina, a 218Km de Madrid, e a 430Km de Lisboa. Nenhum aeroporto por perto. Parece-me, pois, outro castelo de bits para entreteter um poder político cada vez mais atrofiado e sem ideias.

Depois da ascensão à dignidade parlamentar dum partido populista de extrema esquerda, financiado pelos dois últimos ditadores folclóricos da Venezuela, a Espanha vê-se agora confrontada com a inevitável réplica: a ascensão, cada vez mais preocupante, de uma extrema direita populista suportada pelos votos que se irão paulatinamente desviar do Podemos e do PP para a Vox. A queda de Andaluzia é um sinal claro de que se as esquerdas, uma vez implodido o centro partidário, nada têm para oferecer aos povos para além da austeridade, das agendas fraturantes, e da corrupção, então as classes médias empobrecidas acabarão por eleger novos regimes de autoridade. Necessariamente violentos e retrógrados? Não sabemos. A China, Singapura, e o Vietname, são regimes autoritários, e a democracia no Japão nada tem que ver com as democracias ocidentais. Porém, são economias prósperas, e as pessoas parecem conformadas.

As democracias ocidentais têm um enorme problema civilizacional pela frente, e não são as touradas. Este desafio chama-se fim de uma era de prosperidade assente em energias baratas, cuja primeira consequência grave é a contração demográfica e o envelhecimento das populações associado ao aumento da esperança de vida. Também por isto, a criação de novas cidades, ou apostas em novas e caríssimas infraestruturas, são ideias que começam a perder todo o sentido. O Portugal da Mota-Engil, tal como a Espanha da Acciona, FCC, Ferrovial, Sacyr e San Jose, correspondem a um modelo de desenvolvimento esgotado. O futuro na Europa e em geral nas cidades desenvolvidas de todo o mundo chama-se gentrificação, ou seja, reordenar a ocupação humana das cidades, sobretudo dos centros das aglomerações urbanas de média, grande e muito grande dimensão. O contrário, portanto, da suburbanização, que marcou boa parte da economia da construção de edifícios e sistemas de transportes durante os últimos sessenta anos.

A ideia de construir parques temáticos e tecnológicos fora das cidades deixou, pois, de fazer sentido. As novas disneilândias e os novos silicon valleys começam a nascer do próprio processo de gentrificação acelerada em curso em inúmeras cidades por esse mundo fora, incluindo Portugal. Percebi isto mesmo quando visitei pela primeira a cidade de Praga. Foi provavelmente ali que a fantasia urbana de Walt Disney nasceu. Mas enquanto a milenar Praga tem condições geográficas e estruturais para prosseguir a sua vida, e portanto incorporar no seu espaço-tempo um processo mais ou menos duradouro de disneificação, o mesmo não ocorrerá à Disneilândia, cujo futuro antevejo breve.

Las Bejas não será pois viável no tempo pós-contemporâneo de que fazemos parte desde 1993, o ano em que teve início Web. O que escrevi sobre esta fantasia, em 2012 e 2016, não tem futuro, tal como não tem futuro a terceira tentativa de vender ao povo uma cidade-casino na Extremadura espanhola.


NOTAS
  1. Pastel de Nata (2012), Lóbi do novo aeroporto não desiste! (2012); Macau: faites vos jeux (2016)
  2. Rádio Renascença 04 dez, 2018 - 08:57
    A Las Vegas europeia chegará a Badajoz em 2023
    Há uma nova tentativa de construir a próxima “Las Vegas europeia” na região da Estremadura espanhola, onde outro projeto semelhante foi frustrado no último verão, segundo avança o jornal "El País".
    A filial espanhola do grupo norte-americano Cora Global apresentou um megaempreendimento denominado “Elysium City”, em Castilblanco, perto de Badajoz, com um investimento previsto de 3.500 milhões de euros. A primeira cidade inteligente espanhola terá casinos, hotéis, vivendas, um centro comercial, uma marina e até mesmo um estádio.
    O promotor do novo projeto é o empresário John Cora, que trabalhou durante 30 anos na Walt Disney Company e foi vice-presidente dos parques temáticos da Disney. O empresário - como o próprio recordou na apresentação feita em Mérida perante Guillermo Fernández Vara, presidente da região da Estremadura - foi o principal defensor da construção da EuroDisney em Espanha, um parque temático que foi finalmente construído em Paris.

segunda-feira, dezembro 03, 2018

Menos propaganda!

World Bank - Portugal, GNI per capita

Mais gráficos e menos conversa podem ajudar a ultrapassar a ansiedade


Dados essenciais para compreender o que se passa em Portugal:

DEMOGRAFIA — regredimos até ao ano 2000 (o pico demográfico foi atingido em 2010, com 10,573 milhões de habitantes, caindo para 10,294 milhões, em 2017).

CRESCIMENTO — apesar da tímida recuperação iniciada a partir de 2014, o PIB encontrava-se em 2017 nos 217,6 mil milhões de dólares, que comparam com 240,17 mil milhões de 2007. Estas duas cifras ilustram a famosa 'década perdida'.

DÍVIDA PÚBLICA — 62,9 mil milhões de euros em 2000; 249 mil milhões em 2017.

* Enquanto o crescimento quase duplicou entre 2000 e 2017; a dívida pública quase quadriplicou. Quer dizer, o crescimento foi de tal modo alavancado em dívida (pública e privada) que, bastou o colapso financeiro mundial de 2008 e a grande recessão que se lhe seguiu, para encostar o país à bancarrota. Desde então vivemos apertados por um cinturão de credores a que não conseguimos escapar. Boa parte da economia deste século, afinal fictícia, faliu, e as suas marcas foram parar a mãos estrangeiras.

RENDIMENTO ANUAL 'PER CAPITA' — andámos 12 anos para trás: 19.820 USD, em 2017; 22.960, em 2010; 19.330, em 2006.

ENSINO: nos útimos 17 anos perdemos 17 mil estudantes no Ensino Primário. Sem olharmos para este declínio com olhos de ver não percebemos a bagunça que reina no setor nem o egoísmo sindical.

ESPERANÇA DE VIDA — 81 anos, em 2017; 78 anos, em 2006; 68 anos, em 1974.

Temos, assim três problemas graves pela frente: 1) envelhecimento, 2) regressão demográfica e 3) um estado partidocrático, burocrático, fiscalmente agressivo, politicamente prepotente e socialmente insustentável.

Soluções prioritárias:

1) simplificar o estado e as leis, tornando a administração pública mais leve e eficiente;

2) diminuir a omnipresença partidária na sociedade;

3) diminuir os impostos sobre as empresas e sobre o trabalho;

4) atacar a corrupção e o nepotismo, favorecendo a transparência de processos e o mérito;

5) desenvolver uma verdadeira indústria de recursos humanos, através de parcerias privilegiadas com os países de língua oficial portuguesa: Brasil, Angola, Cabo Verde, São tomé e Príncipe, Guiné-Bissau, Moçambique e Timor-Leste;

6) reforçar a estratégia atlântica, nomeadamente com o Reino Unido e a Irlanda, e os continentes africano e americano, diversificando ao mesmo tempo as nossas relações comerciais e culturais com os países da Ásia (China, Índia, Japão, Indonésia, etc.)

domingo, dezembro 02, 2018

A IV Revolução Informática

The first prototype of a computer mouse, as designed by Bill English from Douglas Engelbart's sketches. Wikipedia


The Mother of All Demos


A revolução de Douglas Engelbart, Alan Kay, Steve Wozniak, Steve Jobs, Paul Allen, etc., que deu à Microsoft e à Apple, e mais tarde, à Amazon, à Google e ao Facebook, todo o poder de que ainda dispõem, aproxima-se de uma nova fase: a computação quântica. Ou seja, caminhamos rapidamente para a IV Revolução Informática. As que a precederam foram: I - Mainframe computers; II - Personal computers; III - Internet.

O Maio de 68 em Paris não produziu nada de novo para a humanidade, mas The Mother of All Demos, apresentada em São Francisco, em 9 de dezembro de 1968, sim.

On December 9th, 1968 Doug Engelbart appeared on stage at the Fall Joint Computer Conference in San Francisco's Civic Auditorium to give his slated presentation, titled "A Research Center for Augmenting Human Intellect." He and his team spent the next 90 minutes not only telling about their work, but demonstrating it live to a spellbound audience that filled the hall. 
Instead of standing at a podium, Doug was seated at a custom designed console, where he drove the presentation through their NLS computer residing 30 miles away in his research lab at Stanford Research Institute (SRI), onto a large projection screen overhead, flipping seamlessly between his presentation outline and live demo of features, while members of his research lab video teleconferenced in from SRI in shared screen mode to demonstrate more of the system. 
This seminal demonstration came to be known as "The Mother of All Demos." 
Doug Engelbart Institute/ Doug's Great Demo: 1968


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quarta-feira, novembro 21, 2018

De Espanha...

São 'socialistas', mas...

O Brexit é apenas o princípio...


Um país de desmiolados indigentes e corruptos, ou... de Espanha, nem bom vento, nem bom casamento? O Brexit, a fragmentação da UE, o recauchutado eixo franco-alemão, e a mania centralista de Madrid podem ter ditado o fim das ligações ferroviárias AV com Espanha... As Low Cost e a TAP agradecem! A próxima vaga de camiões elétricos, as trotinetes GPS, os drones e os quadricópteros pesados, também. Mas sobretudo agradecem os portos portugueses e as novas frotas de navios de cabotagem que acudirão ao desmembramento nacional-populista da UE.

Sempre escrevi que a rede AV espanhola cometera um pecado mortal: fazer de Madrid o hub de toda a península ibérica. Tudo e todos têm que passar por Madrid, segundo a massa cinzenta da Moncloa. Pois não, Portugal não tem que passar por Madrid, sobretudo quando o Atlântico volta a ganhar protagonismo perante o colapso do eixo franco-alemão.

Lisboa e Porto, sim, serão hubs europeus nas ligações futuras de uma parte importante da Europa Ocidental com a África subsariana e o continente americano.

Os meus amigos defensores das redes transeuropeias de transportes, sobretudo ferroviários, estão a esquecer-se de alguns pormenores estratégicos em vias de voltarem a ser questões estratégicas da maior importância para o nosso país.

Quando for possível transportar mercadorias para França e resto da Europa sem passar primeiro por Madrid, então sim, haverá condições para avançar nas ligações ibéricas do TGV.

Vale a pena ler cada palavra desta notícia publicada no El Diario.es de 20/11/2018:

El primer ministro Costa pide tiempo para AVE Portugal-España, que puede no ser el Lisboa-Madrid. El PSOE responde que es prioritaria e innegociable la alta velocidad por Badajoz. 
El primer ministro de Portugal, António Costa, creen "hay que dar tiempo al tiempo" para que la inserción de Portugal en la red de alta velocidad en la Península Ibérica se haga realidad "y no necesariamente en esa conexión de Lisboa-Madrid, tal vez por otros caminos a los que necesitamos llegar más deprisa". 
En una entrevista con Efe, Costa señala que pese a las "excelentes" relaciones bilaterales, hay viejos proyectos pendientes, como el AVE (tren de alta velocidad) entre Lisboa y Madrid, que está todavía muy lejos. 
"Ese es un tema tabú en Portugal", admite el primer ministro luso en vísperas de la cumbre hispano-lusa donde se reunirá este miércoles con Pedro Sánchez en Valladolid
"Es un tema que divide y está muy politizado, no hay consenso", señaló Costa, que añade que "seguramente no sea en esta legislatura. Dudo que sea en la próxima", aventuró el líder socialista luso, para quien es prioritario consolidar la recuperación económica y generar un nuevo consenso sobre inversiones. 
"Después ya habrá tiempo para retomar ese debate en el futuro", concluyó.
Considera que la "prioridad" en las relaciones con España debe ser "el desarrollo de una relación transfronteriza" que impulse la economía de estas regiones.