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terça-feira, julho 03, 2018

Refugiados, uma crise artificial


Nós, sim, tivemos uma crise de refugiados de guerra! Em 1974-75.


Não há dia, nem noticiário, indígena ou internacional, que não nos encha a cabeça com a crise dos refugiados. Ora são refugiados de guerra, ora são refugiados políticos, noutros casos ainda, refugiados da fome que pagam fortunas a redes ilegais de migração para atravessar o Mediterrâneo—e para, às vezes, nele perder a vida—, em suma, dizem as televisões e os jornais, uma crise humanitária a que os malvados europeus se têm mostrado cada vez mais insensíveis, sobretudo por causa do populismo de direita em ascensão.

Os argumentos, sempre lancinantes e vagos, da ONU e das ONG, por sua vez, deixaram de nos convencer, em parte, pela repetição das suas ladaínhas carpideiras sobre factos mal contados, e sobretudo mal explicados aos povos da Europa. 

Mas afinal, porque está esta questão a envenenar a política, a comunicação social, e as redes sociais europeias, ameaçando a estabilidade da União e da sua moeda? 

Se repararmos bem no quadro publicado na Statista, por Patrick Wagner (que aqui republicamos), dos 29 países que consam desta lista (UE + Turquia), à exceção da Letónia e da Estónia, onde o número de não nacionais residentes chega aos 12% e aos 6% das respetivas populações, em nenhum dos restantes países, até finais de 2017, a população de refugiados ultrapassa os 4,6% (Turquia). Nos casos sempre badalados —Alemanha, Holanda, Áustria, Itália, e França— os refugiados não chegam aos 2%. Por sua vez, na Suécia, célebre pela sua política de acolhimento a refugiados políticos, e onde a nova vaga de imigrantes corresponde 3,25% da sua população nacional, os protestos têm sido menos audíveis, e a proatividade das respetivas autoridades públicas praticamente exemplar.

Quando António Costa se mostra magnânimo perante os microfones da terrinha, afirmando que Portugal pode acolher mais refugiados, e afirmando também que já comunicou essa disponibilidade aos seus parceiros comunitários, está simplesmente a fazer figura de urso, e a fazer de nós parvos!

Portugal é o país de toda a União Europeia a 28 que menos refugiados acolheu em percentagem da sua população: 0,2% (1 682). A Espanha, para citar o país vizinho, recebeu 54 028, 1,2% da sua população, mais de cinco vezes mais em percentagem do que nós! Onde estão os jornalistas do meu país?!

A razão porque digo que a crise europeia de refugiados que entope os canais da informação é ainda uma crise menor e perfeitamente gerível com humanidade e bom senso, advém de uma comparação: a crise de refugiados em Portugal que se seguiu à descolonização precipitada pela queda da ditadura. Foram mais de 500 mil pessoas, das quais pouco mais de metade nascida no continente europeu, ou seja, no total, 5% da população portuguesa residente à época!

Os então chamados “retornados” trouxeram enormes problemas de gestão e administração a um país por sua vez abraços com uma crise pré-revolucionária sem precedentes. No entanto, há quem pense, e bem, que este afluxo de refugiados trouxe mais benefícios do que prejuízos.

A crise europeia de refugiados, em boa parte causada pelos americanos e pelos europeus desde a Guerra do Iraque (2003-2011) —a que se seguiram a Guerra Civil Iraquiana, a Primavera Árabe, e a Guerra da Síria—, mistura-se com a guerra assimétrica movida contra os 'infiéis' americanos e europeus pelos movimentos radicais islâmicos, nomeadamente sob a forma de ataques terroristas de grande eficácia mediática. É nesta mistura explosiva entre crise de refugiados e guerra assimétrica que os governos europeus perderam o norte e a capacidade de gestão conjunta dos efeitos de uma crise que antes de ser de refugiados é sobretudo uma crise político-militar e uma crise bélica, onde religião, petróleo e gás natural fazem o cocktail de todas as desgraças.

Estou, neste tema, ao lado de Angela Merkel e dos suecos. É preciso desdramatizar (com informação clara e detalhada) as verdadeiras proporções da crise de refugiados, em vez de alimentá-la com gasolina e populismo político e mediático, como fazem a toda a hora as redações acríticas dos meios de comunicação, e os serviços secretos de vários países.

Quanto ao Governo português, recomendo mais vergonha nas palavras, ações concretas, e menos festarolas em volta do senhor António Vitorino e da sua eleição para a ONU de Guterres. A ONU inspira-me pouca ou nenhuma confiança no que faz pelo mundo.

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