Media Capital e Impresa em pânico com privatização da RTP
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| Manuela Moura Guedes, um furacão a que não estávamos habituados. | 
O  Expresso reafirmou este Sábado (
LINK) a sua história sobre a investigação a  Bernardo Bairrão supostamente realizada pela pouco Secreta portuguesa.  Bernardo Bairrão era administrador da 
Média Capital, o grupo que detém a  TVI, onde Miguel Pais do Amaral possui 10% do capital (1) e a Prisa (dona  do El País) tem a maioria (84,69%), sendo que também a Caixa de Aforros  de Vigo, Ourense e Pontevedra (Nova Caixa Galicia) detém 5,05% do grupo.
Bernardo Bairrão era pois administrador de uma empresa cujo comando  pertence a um dos mais poderosos e políticos grupos de comunicação  espanhol, com origens que remontam à era de  Franco, mas cujo alinhamento pelo PSOE é  a matriz genética e estratégica  desde o primeiro dia em que o El País  apareceu nas bancas. Bernardo Bairrão preparava-se pois para ser secretário de Estado da administração interna do actual governo português. O melindre, mais do que óbvio, é escandaloso!
Na qualidade de administrador da Media Capital, Bernardo Bairrão despediu Manuela Moura Guedes nas vésperas  das eleições legislativas de 2009, para proteger o primeiro ministro (José Sócrates) que tentara controlar a TVI através de uma entrada da PT na Media Capital e que queria, por outro lado, numa espécie de dois em um, ajudar o El País e Zapatero. O canal de televisão português com maior audiência deixaria assim de ter vozes inconvenientes e evoluiria rapidamente para uma espécie de vaquinha ideológica dos socialistas ibéricos.
Um dos homens que concretizara esta estratégia (ainda que parcialmente, pois a Prisa acabou por não precisar de vender a Média Capital) foi Bernardo Bairrão, o mesmo que iria agora entrar no âmago do governo de Passos Coelho. Menos mal que Manuela Moura Guedes  enviou um SMS ao primeiro ministro avisando-o da asneira crassa em curso. 
É, porém, preciso  regressar ao tempo em que o grupo Prisa pensou vender a Media  Capital para realizar receitas urgentes destinadas a resolver um  gravíssimo problema de incumprimento potencial das suas obrigações  financeiras, para percebermos a outra dimensão deste caso, e sobretudo  do empenho extraordinário do Expresso e da SIC (i.e. do cada vez mais  frágil grupo Impresa, de Pinto Balsemão) em fazer do não-caso Bernardo  Bairrão uma arma de arremesso contra o actual governo. 
A  Ongoing, que hoje se posiciona claramente para entrar na privatização  da RTP, manifestou em 2009 a intenção de tomar posições accionistas  activas (i.e. com capacidade de controlo e gestão) tanto no grupo Impresa (onde tem aliás uma participação histórica),  como na Media Capital. A Impresa exibia já uma curva declinante  aparentemente sem regresso, e o grupo Prisa tinha sido mais ou menos  forçado a colocar à venda a Media Capital como forma de arrecadar  receitas necessárias a por em dia o seu desequilibrado balanço. Quis o  destino que nenhum dos grupo de média fosse parar às mãos da Ongoing e  das do seu novo estratega para a área das indústrias de comunicação e conteúdos, José Eduardo Moniz.
Com o acordo da Troika  ficou entretanto decidida a privatização da RTP — um monumental centro de custos (2), sede  de mordomias sem fim e gestão aventureira dos escassos recursos fiscais  existentes. No actual estado da tecnologia, a existência de televisões  públicas não tem qualquer justificação, e a sua subsistência apenas  revela a pulsão paternalista e o desejo de manipulação de massas que o  poder partidário e o poder político conservam como uma espécie de  direito natural. Basta pensar no trauma que à época foi a privatização  do venerável Diário de Notícias para percebermos rapidamente que o caso  da RTP é exactamente da mesma natureza: uma vez privatizada, ninguém mais pensará nisso, e o país deixará de carregar ao lombo um cancro  despesista.
Os arquivos da RTP devem juntar-se à Cinemateca, e ambos os  arquivos devem ser integrados na Biblioteca Nacional, formando um novo e  único organismo de conservação e disponibilização pública de  documentos. É assim que se poupa e ganha eficácia, transparência e  independência democráticas.
Desde que a privatização da  RTP foi anunciada (e não seria sério privatizar apenas um canal; é preciso mesmo  privatizar toda a empresa), tanto Pinto Balsemão, como os espanhóis da  Prisa, decidiram agitar as águas mediáticas, alertando para a  ameaça que um novo canal privado de televisão colocaria à sobrevivência da  SIC e da TVI. Ou seja, um canal público que é simultaneamente um buraco  financeiro e uma empresa incompetente, nomeadamente na criação de  audiências e na captação de receitas publicitárias, faz afinal bem à SIC e à  TVI. Pois é, mas faz mal, aliás muito mal, ao bolso dos portugueses!
Bernardo  Bairrão manifestou-se publicamente contra a privatização da RTP, em  nome dos interesses da Prisa. Colocar este personagem, depois de semelhante declaração, na administração interna do  país, ainda por cima com o cargo de secretário de Estado, seria como  meter uma raposa dentro dum galinheiro e pedir-lhe que tomasse conta das  galinhas! Elementar, não é?
Finalmente, toda a gente  sabe nos "bas-fonds" da comunicação social portuguesa, que uma RTP privada,  eventualmente controlada por uma aliança entre a Ongoing e a TV Globo, dirigida por José Eduardo Moniz, levar-nos-ia não só à segunda grande  revolução na indústria mediática portuguesa, como acabaria por dar lugar à cooptação de uma das duas concorrentes, a Media Capital ou a Impresa, pela nova RTP.
Esta  é a realidade que a indigente e manipulada imprensa que temos não  desvenda, preferindo usar os canais de comunicação de massas à sua disposição para  arquitectar uma guerra estúpida e injusta contra o actual governo. Espero bem que estes novos fariseus falhem o seu encapotado objectivo.
PS: A Prisa não voltou a receber no seu regaço Bernardo Bairrão, como seria normal. Moral da história: para evitar problemas com o novo ciclo político português, e com o que se aproxima em Espanha, o melhor mesmo é colocar uma catalã no lugar outrora ocupado por Bairrão. Há que por as barbas de molho, como se diria em Espanha: 
efectivamente!
NOTAS
- Segundo o Jornal de Negócios de 19-07-2011, Pais do Amaral vai comprar mais 20% da Media Capital. Daí, creio, a sua oposição à privatização da RTP. Resta perguntar se a oposição do CDS é um tributo de Paulo Portas ao seu antigo patrão.
- A  RTP, mesmo depois de por lá ter assado o famoso Almerindo Marques, tem mais funcionários do que a TVI e a SIC juntas, um passivo que daria para comprar duas pontes Vasco da Gama, e recebe mais dinheiro do Estado do que de publicidade. Consegue aliás a proeza de estar apenas a 13% do conjunto das indemnizações compensatórias pagas pelo Estado ao sector de transportes (ver este gráfico, relativo às contas de 2010, publicado pelo blogue Aventar.)
LINKS
Prisa vende posição na Media Capital abaixo do preço justo. 
Jornal de Negócios - 30 Setembro 2009 | 09:44
PRISA vende el 35% de Media Capital y el 25% de Santillana por 400 millones. 
EL PAÍS - Madrid - 28/09/2009
Prisa vende 30% da Media Capital à Ongoing (act.2). 
Jornal de Negócios - 28 Setembro 2009 | 19:58
Ongoing interessada em ter posições de "controlo partilhado".  
Público - 02.07.2009 - 15:49 (Por Lusa)
ÚLTIMA ACTUALIZAÇÃO: 19 Julho 2011