segunda-feira, novembro 29, 2004

Santana Lopes 3


Cinha, porque me abandonaste?!


Quando todos pensavam que o actual Primeiro Ministro era a sério, soube-se ontem que não. Para espanto de todos os basbaques televisivos como eu, ele próprio confessou que o homúnculo de governante que porta o seu nome nasceu antes de tempo e encontra-se ainda em estado de gestação. Muito frágil, dentro de uma incubadora situada numa maternidade de que não fixei o nome, o Pedrinho Santana Lopes, futuro Primeiro Ministro de Portugal (aquilo que julgamos serem os factos, como já todos perceberam, não passa de uma ilusão televisiva) tem merecido o melhor dos tratamentos por parte do Partido Socialista. Naturalmente tolerante, o PS compreende o melindre ecológico que rodeia aquele corpinho engelhado, mas cheio de graça. Espera até que o seu exemplo de caridade se multiplique no regaço presidencial. — "Sr. Presidente, temos que salvar o menino, não acha?" O avatar dele diz cada vez mais disparates e alucina sobre cartas astrológicas, é certo. Mas temos que dar tempo ao tempo. O super-homem que lateja na incubadora está prestes a sair da bolha. E, além do mais, o Governo é dele, porra! Que nasça e que se amanhe, porra!
Entretanto, fora da incubadora, pululam os amigos, os ministros e os correlegionários do menino, todos aos pontapés na máquina! A Oposição, estupefacta. O Presidente, aflito. O Povo, rindo-se às gargalhadas (para não chorar). E o menino, cheio de nódoas negras, balbucia um murmúrio: "Cinha, porque me abandonaste?"
Entretanto, o lobo mau (Aníbal Cavaco Silva), vendo o seu partido prestes a cair nas garras de uma hiena desgraçada (Paulo Portas), uiva aos quatro ventos: imbecis para o lixo! Gente séria toca a trabalhar! Com o PS de Sócrates isto não vai lá! Temos que retomar o PSD nas nas nossas mãos. Ou então... Ou então... Se me chatearem muito faço outro partido, e pronto!
Coitado do Pedrinho, agora que parecia pronto a sair da maternidade, com o Partido Socialista a cuidar-lhe das nódoas negras, veio o lobo mau e estragou-lhe a festa. Nem a pulseira lhe valeu. Que pena. Aquele sorriso terno prometia. Mas os astros é que mandam. Essa é que é essa.

O-A-M #60 29 Novembro 2004