quinta-feira, agosto 30, 2007

Petroleo 8



O sabor amargo da dependência

O ministro português da economia acaba de anunciar o arranque do projecto de construção da barragem do rio Sabor (DN online 30-08-2007), após receber o livre trânsito da União Europeia e depois de um processo que se arrastou durante 10 anos e continua a não ser pacífico. Valerá a pena destruir o único rio selvagem do país, e provavelmente um dos poucos que restam na Europa, para obter menos de 1% da energia que os portugueses gastam anualmente de forma inconsciente e nada eficiente? Num país que importa 90% da energia que consome, qual a rentabilidade efectiva do anunciado investimento a cargo da EDP? Vão-se investir mais de 350 milhões de euros na desfiguração de um aprazível afluente do rio Douro. Valerá a pena? Os postos de trabalho a criar são evidentemente temporários e provavelmente recrutados em Marrocos ou no Paquistão! Pelo caminho ficarão uns milhares de hectares de mato precioso e terrenos agrícolas submergidos durante uma boa centena de anos. Já alguém contabilizou os efeitos ecológicos e económicos finais deste tipo de interferências no frágil anel biótico de que fazemos parte? Por um por cento da energia que consumimos, valerá a pena? E se, em vez de continuarmos a desperdiçar energia por todos os poros da nossa ineficiente economia, das nossas ineficientes cidades, das nossas ineficientes casas e dos nossos maus hábitos de recém chegados ao mito do consumismo, diminuíssemos a nossa factura energética em 20% até 2012? Outros, muito mais ricos do que nós, estão a fazê-lo! (2)

... e do fim de um paradigma

É certo que outras barragens e mini-hídricas estão a caminho. E é certo também que o actual governo "socialista" parece apostar na energia eólica e na energia solar, em alternativa à solução nuclear (1) desejada e proposta por alguns (Mira Amaral, etc.) Todas estas fontes renováveis virão a representar por junto, salvo erro, não mais de 20% da energia total actualmente consumida? Quer dizer, continuaremos a depender em pelo menos 80% de fontes energéticas situadas no exterior: Espanha e França, no que toca à electricidade, Argélia, Angola, Irão, Arábia Saudita, etc., no que respeita ao petróleo e gás natural. Ou seja, seremos forçados a competir com os Estados Unidos, a China, a Rússia, o Japão, a India e o resto do mundo por um recurso energético de que todos dependem criticamente, mas que entrou definitivamente na metade descendente da sua curva de existência (o célebre sino de M King Hubbert, conhecido como Peak Oil, ou Pico do Petróleo).

Existe pois um problema muito sério na segurança energética do país, na medida em que estamos gravemente dependentes do petróleo e do gás natural, ao mesmo tempo que somos um país pobre, em fase de desindustrialização acelerada, descapitalizado, improdutivo, desorganizado, envelhecido, com a demografia estagnada, e sobretudo entregue a umas elites políticas levianas e incapazes de lidar com as consequências brutais da mutação civilizacional que se aproxima a passos largos.

Três consequências potencialmente trágicas poderão decorrer da actual emergência energética: uma crise alimentar profunda, a destruição criminosa dos solos agrícolas (ver o excelente artigo Peak Soil, de Alice Friedemann) e a implosão económico-social das grandes cidades!

Neste cenário pré-catastrófico, o episódio da barragem do rio Sabor é um detalhe sem significado para o desafio que temos pela frente. Não deixa, porém, de ser sintomático do estado de sonambulismo em que vegeta o actual ministro português da economia e em geral o governo de que faz parte.


Post scriptum

Os movimentos ecologistas manifestaram uma vez mais a sua oposição à construção da barragem do rio Sabor. A União Europeia tirou-lhes a razão e autorizou o governo português a fazer o que quiser. Este episódio significa, por um lado, que a União Europeia entrou, de facto, num processo de regressão provavelmente irreversível. Como escreve Eric Le Boucher -- L'échec de l'Europe de l'énergie-- no Le Monde de 30-08-2007,
"Après le rejet de la directive Bolkestein qui devait ouvrir les marchés de services à la concurrence, voici le refus des OPA transfrontières dans l'électricité au profit de la constitution de " champions nationaux". L'Europe des services est morte, l'Europe de l'énergie aussi."

Por outro lado, e precisamente por causa desta regressão "nacionalista" da Europa, os movimentos ambientalistas terão que mudar radicalmente de estratégia, sob pena de perderem toda a autoridade e sobretudo toda a eficácia de actuação. Mais do que acampamentos negativos, o Green Peace e a sua vasta prole europeia precisam de definir, pela positiva, uma visão plausível das respostas a dar à dramática mudança de paradigma energético que toda a humanidade sofrerá ao longo deste século. Estamos a entrar numa emergência global (energética, ambiental, climatérica, social e bélica) de proporções inimagináveis. Precisamos de estudar rapidamente os seus contornos e precisamos de definir e implementar rapidamente estratégias de recuo sustentáveis (como defende James Lovelock.)


Última hora!

Um comunicado indigente, em péssimo português e pior economês...

BARRAGEM DO BAIXO SABOR. COMUNICADO DA CIP. 2007.AGO.31

"A CIP aplaude a decisão de avançar com a construção da barragem do Baixo Sabor já e de, assim, se dar um novo impulso à realização do programa de aproveitamentos hidroeléctricos. Desta forma, o Governo não só cumpre o que, em devido tempo, estabeleceu como objectivos nacionais para a promoção das energias renováveis e para o melhor aproveitamento dos recursos nacionais, como o faz no sentido certo."

A CIP não sabe que a energia hídrica tem uma presença negligenciável no consumo total de energia em Portugal?

A CIP não sabe, por outro lado, que as barragens têm servido sobretudo para a proliferação de desportos náuticos movidos a petróleo e a construção de "resorts" turísticos, que por sua vez atraem consumos energéticos intensos, produção de CO2 e metano e escandalosos gastos de água com os inevitáveis campos de "golf"?

"As vantagens desta decisão, desde sempre defendida pela CIP, já foram indicadas e são esmagadoras:

· Criação de condições técnicas necessárias para o sistema eléctrico Português acomodar, com segurança, os elevados níveis de potência eólica previstos para Portugal para os próximos anos, através do "armazenamento" de energia, por bombagem, dos excedentes de produção eólica nos períodos de menor consumo."

O que esta algaraviada pretende dizer é que o génio Pimenta convenceu a CIP (não precisava!) de que manter as eólicas a trabalhar durante a noite para trazer de volta às albufeiras a água despejada durante as descargas provenientes do funcionamento das turbinas, permitirá finalmente criar uma máquina perpétua! Mas a que preço?

Sabemos hoje que a retenção dos sedimentos orgânicos nas albufeiras, junto às barragens, que a EDP tem a obrigação de depositar regularmente nas embocaduras dos rios, mas não cumpre, preferindo vender a matéria orgânica e os detritos a empresas irresponsáveis, quebra o ciclo ecológico que há milhares de milhões de anos estabelece um importantíssimo regime de trocas entre a terra e o mar, sem o qual o planeta vivo que conhecemos nunca teria chegado a existir, e que, por causa desta evidente estupidez, poderá estar neste preciso momento a ser seriamente comprometido. As falésias caem por toda a costa portuguesa, em boa parte por causa destas e outras irreverências humanas.

E além do mais, se as ventoinhas não descansarem, o seu desgaste será maior e durarão menos, i.e. haverá uma maior rotação de capital fixo (investimentos mais frequentes, mais produção industrial, mais transportes, mais especulação bolsista, mais concentração,....) e mais subsídios públicos às empresas produtoras/fornecedoras de electricidade, como a EDP, a Iberdrola, a Fenosa, etc.

A CIP fez estas contas? Seria mais útil começar por aí, em vez de se apressar a emitir comunicados disléxicos, reverentes e obrigados.

"· Gestão energética e hídrica do Rio Douro em situações extremas de seca e melhor utilização da potência hidroeléctrica instalada a jusante deste Rio."

O que é uma gestão enérgica e hídrica do rio Douro?!
Onde fica a potência hidroeléctrica a jusante do rio Douro?! Na Bemposta? No Picote? Em Miranda do Douro? No Pocinho? No Carrapatelo? Em Crestuma? No Torrão? Em Viseu? No Douro internacional?

Tencionam a CIP, a EDP, a SOMAGUE (hoje maioritariamente espanhola) e a Teixeira Duarte promover a retenção generalizada das águas nas albufeiras (através do mecanismo de reversão das descargas) nas 43 barragens da bacia do Douro? Só em algumas? Quais? Porquê? Têm números sobre o assunto? Sabem do que falam?

"· Redução da dependência externa induzida pelas centrais de ciclo combinado a gás natural."

Mas o assunto deste comunicado não são as barragens e em particular a barragem destinada a destruir o rio Sabor?

"· A contribuição para o cumprimento das metas de emissão de CO2 a que o País se comprometeu."

Esta frase é o fruto de uma mistificação completa dos dados sobre as causas da elevada intensidade energética da nossa economia, dos elevadíssimos níveis de ineficiência energética e dos escandalosos níveis de produção de CO2. Infelizmente, a grave situação em que o país se encontra é uma consequência directa do analfabetismo endémico da CIP e dos seus associados. Digo infelizmente, porque um mal destes não se cura de um dia para o outro. A não ser que a Europa eficiente entre por aqui adentro mais depressa que o esperado...

"A CIP realça os efeitos multiplicadores para a Indústria e para a economia que resultarão da realização deste programa e que excedem, em muito, a melhoria do perfil energético e da segurança do abastecimento de electricidade."

Algaraviada sem nexo!

"A construção de vários aproveitamentos hidroeléctricos em prazo próximo será levada a cabo com uma grande incorporação nacional, quer em projectos, quer em realização de obras, potenciando o emprego e, sobretudo, a tão desejável oferta em áreas especializadas."

Onde está o famoso efeito reprodutivo do Alqueva? Não continua o Alentejo às moscas? Não chegaram à conclusão que o melhor, agora, é vender as margens da albufeira ao mercado imobiliário, para projectos turísticos, mais campos de golfe, mais motas de água, ao mesmo tempo que se vão vendendo as herdades às empresas espanholas para que elas expandam os seus agressivos negócios agro-industriais e agro-energéticos? Já viram uma imagem de satélite de Almeria? Então vejam!!

"A CIP acompanha com interesse e empenho o esforço na criação de novos clusters, de que é exemplo a nova fileira das energias renováveis mas, recorda que, para as barragens, o know-how e a capacidade de realização já existem e são internacionalmente reconhecidos como competitivos."

Balelas! Para já, as renováveis só estão a ser encaradas pelo lado do lucro fácil das empresas e dos interesses económicos que vêem neste "cluster" mais uma oportunidade se continuarem a viver à conta de subsídios e oligopólios protegidos pelo Estado, através dos partidos do Bloco Central e seus esporádicos acólitos.

"A realização deste programa terá como efeito a recuperação da actividade no sector da construção e obras públicas, e, também, um incremento dos sectores eléctrico e metalomecânico de alta tecnologia, quer para fabricos e equipamentos, quer quanto às actividades de instalação e montagem."

Voltamos ao caso do Alqueva... Provem o que dizem. Falem-nos do Alqueva!!

"Serão igualmente de referir os efeitos positivos, quer na dinamização dos serviços que acompanham sempre estas realizações, quer na criação de emprego local estável e de qualidade."

Sabe a CIP quantas pessoas são precisas para a manutenção local de uma barragem/ central eléctrica? Nunca passearam pelas barragens de Portugal? Vêem por lá muitos trabalhadores, vêem?

"A dinamização da actividade destes sectores vitais da economia portuguesa e os efeitos positivos óbvios no emprego por ela induzidos serão um passo firme no sentido da retoma económica."

Enviar comunicados vazios de conteúdo não custa nada. Mas é uma pena quando o seu autor é a organização que representa a indústria portuguesa. Na realidade, não passa do acto falhado de uma entidade virtual.

"Por estas razões, a CIP saúda este passo no sentido do pleno aproveitamento das capacidades e do conhecimento já existentes no País e, mais uma vez, insiste com o Governo para que prossiga nos rumos agora traçados dentro dos calendários previstos, e sem hesitações."

O modelo económico que comanda a política portuguesa chegou a um beco sem saída. O betão está pela hora da morte e pouco haverá a fazer neste domínio daqui para o futuro. Mas isto não significa que não haja coisas muito importantes por fazer. Pelo contrário! Basta pensar nas oportunidades económicas associadas à mudança do paradigma energético e industrial na era pós-carbónica.

Precisamos de fazer uma travagem de emergência à escala mundial. Isso significará menos consumo de petróleo e de gás natural, menos emissões, cidades mais eficientes, maior segurança alimentar, maior sustentabilidade e autonomia dos sectores produtivos, mudança drástica de comportamentos económicos, sociais e culturais, muito maior solidariedade e activismo cívico... e um Estado bem mais esclarecido e interveniente.

Como se vê, não faltam oportunidades!

- OAM



Notas e Referências

1 - A opção nuclear em Portugal equivaleria a aumentar ainda mais a nossa dependência energética (pois teríamos que importar todo o urânio, já transformado em combustível pronto a usar), a incrementar os custos de gestão da própria produção (construção de centrais, segurança, manutenção e reprocessamento ou "exportação" de resíduos), a ampliar desnecessariamente os riscos de contaminação ou mesmo de acidentes (à medida que os equipamentos forem envelhecendo), e a criar alvos potenciais num contexto de guerra internacional. Por outro lado, sinais da escassez na produção de urânio (devido aos vultuosos investimentos necessários), o seu preço e a hesitação de vários países na construção de novas centrais aconselham uma oposição frontal à introdução deste tipo de energia em Portugal. Ver também O Renascimento do nuclear?

Chegou-me entretanto às mãos esta imprescindível fonte para entender o problema energético português:

"A intensidade energética da economia portuguesa degradou-se continuamente desde 1970. Entre 1992 e 2002 Portugal teve o maior crescimento no consumo de energia primária e de energia eléctrica per capita da Europa a 25 (Eurostat).
Quanto maior a intensidade energética das actividades económicas maior a sua vulnerabilidade à flutuação dos preços da energia. Para Portugal, o problema do abastecimento em combustíveis fosseis não reside na sua eventual escassez mas sim na ausência de meios para os adquirir."

in A ENERGIA NUCLEAR É NECESSÁRIA PARA O DESENVOLVIMENTO DO PAÍS? (PDF)
J. Delgado Domingos, Prof.Cat.(jubilado) do IST, Instituto Superior Técnico, 22 Fevereiro 2006.

2 - Em 2003 a mobilidade custou a Houston (EUA) 14% do seu PIB, à capital francesa, 6% e a Singapura, 4,7% do respectivo Produto Interno Bruto. As percentagens do transporte público (relativamente aos privados) nos casos citados são sucessivamente de 1,2%; 17% e 52,75%!

Quanto nos custa a nós, portugueses, em % do PIB, a nossa desequilibrada mobilidade?

Se o transporte colectivo eléctrico regressasse a Lisboa, ao Porto e a Coimbra, e fosse introduzido em Sintra, na Margem Sul do Tejo, em Braga, Aveiro, Setúbal e Faro, quanto seria a poupança na nossa factura energética e no volume escandaloso das nossas emissões de gases com efeito de estufa? O lóbi da construção e os bancos não desistem de pressionar o governo e os partidos do Bloco Central (até lhe pagam campanhas eleitorais!) para que sejam lançadas grandes obras públicas. Ele é a Ota (agora Alcochete), o TGV Lisboa-Porto -- que é o que promete mais receitas aos construtores e à banca, mas deixando o país endividado até à medula --, e agora as barragens em catadupa.

O metro do Porto é um bom contra-exemplo de algo que se pode fazer, dando a ganhar aos construtores e à banca, e dando trabalho às pessoas, sem deixar de servir ao mesmo tempo os interesses estratégicos do país. Será que ninguém entende estas verdades comezinhas?

Ver PDF de Rui Rodrigues (26-01-2004)

OAM #234 30 AGO 2007

segunda-feira, agosto 27, 2007

Crise global

O fim da confiança no dólar

Aug. 27 (Bloomberg) -- "U.S. stocks fell after a report showed the glut of unsold homes rose to a 16-year high last month and analysts said reduced demand for mortgage securities may hurt earnings at Countrywide Financial Corp."

Aviso por e-mail, "a reter :
- Segundo a Câmara de Comércio e Industria alemã, cada vez mais empresas "Mittelstand" (as médias empresas) não conseguem fazer o "roll over" (renovação) dos créditos .

- estima-se que a Banca tenha cerca de 300 mil milhões de US Dólares de créditos subprime nos seus livros, que não conseguem vender.

- desde 1929-31 que não se via um pânico na Banca desta dimensão; a Alemanha não sofria uma crise desta dimensão desde 1931.

- 146 bancos alemães solicitaram crédito de emergência ao Bundesbank, a pagar 5% de juro (contra máximos "normais" de 3-4%).

- os analistas falam de 40% de probabilidades de uma recessão económica nos EUA, que afectará a economia europeia em função dos ajustamentos nas taxas de juro (habitação e consumo). Os efeitos far-se-ão sentir nos 2º e 3º trimestres de 2008."

Comentário:

O que não deixa de ser assustador é o facto de os americanos terem conseguido exportar largas porções do seu crédito mal-parado para o resto do planeta e em particular para a Europa (razão pela qual a crise do subprime atingiu tão duramente a banca alemã e francesa). O que não deixa de ser caricato é que a tão propalada "mão invisível" do mercado se chame afinal BCE e Fed, e que venha aflita socorrer os especuladores, criando para eles taxas de juro especialmente favoráveis, enquanto mantem em alta as taxas dos juros hipotecários das famílias cada vez mais endividadas da América, da Europa e do resto do Mundo!

Isto vai acabar mal. Basta pensar na actual corrida aos armamentos, nomeadamente nucleares, em curso desde que se tornou evidente que o dólar (USD) deixou de ser, de facto, uma moeda fiável para o mundo, e que a sua imparável desvalorização poderá levar os EUA a um golpe de estado monetário mundial.

À semelhança da exportação do crédito mal-parado americano para a Europa, Japão e outros países, os EUA podem muito bem estar neste momento a cozinhar a criação de um "novo dólar"! Há quem diga que o truque seria este: nos Estados Unidos, por cada dólar velho, os americanos receberiam um dólar novo. Mas fora da América, cada dólar novo passaria a custar 2, 3, ... 4 dólares velhos! Se este assalto tiver lugar no espaço de 2 anos, o resto do mundo ficará provavelmente sem saber o que fazer. Mas se demorar mais, é muito possível que a SCO (Shanghai Cooperation Organization) se desfaça da maioria dos dólares em carteira (na China, Rússia, Irão, etc...), indexe os preços do petróleo, gás natural e muitas outras matérias primas a um cabaz de moedas credíveis (euro, iene, franco suiço) e declare publicamente que responderá proporcionalmente a qualquer provocação militar vinda dos EUA ou de qualquer dos seus aliados.

A coisa está mesmo feia!

OAM #233 27 AGO 2007

segunda-feira, agosto 20, 2007

OGM

GloFish
GloFish, o primeiro animal doméstico geneticamente modificado.
Desenvolvido pelo Dr. Zhiyuan Gong em 1999, foi introduzido no mercado dos EUA
em Dezembro de 2003 pela Yorktown Technologies. Comercialização proibida na Europa.


Deserto transgénico

Silves (Portugal): Activistas destroem cultivo de milho transgénico

"Cerca de cem activistas contra os OGM (Organismos Geneticamente Modificados) destruíram hoje (17-08-2007) cerca de um hectare de milho transgénico cultivado numa herdade em Silves, enquanto o proprietário, em lágrimas, os tentava desmobilizar." Diário Digital

"Foi apresentada pela primeira vez prova científica irrefutável do impacto na saúde de milho transgénico. Trata-se da variedade MON 863, produzida pela Monsanto (a maior multinacional de sementes transgénicas do mundo) e que foi objecto de estudo toxicológico pela própria empresa." Plataforma Transgénicos Fora, in Resistir

A acção de Silves foi levada a cabo por uma organização chamada Movimento Eufémia Verde. O estilo é conhecido e continua a ter excelentes resultados nas acções exemplares da Green Peace. Como em Portugal os movimentos ecologistas foram em geral anestesiados pelas burocracias partidárias e universitárias, não estamos habituados a que assumam entre nós mais do que formas piedosas de contestação... e negociação. A acção de Silves vem por isso colocar-nos perante uma situação nova. De repente, o país, e em primeiro lugar os agricultores, acordaram para o problema dos Organismos Geneticamente Modificados (OGM).

Se o agricultor visado pela acção exemplar é, como parece, um pequeno empresário, e não uma média ou de preferência grande empresa agro-industrial, então a acção de Silves (que nada tem que ver com um "acto de desobediência ecológica", como eufemisticamente se lhe referiu Miguel Portas no blog Europa sem Muros) foi pouco inteligente, injusta e contraproducente relativamente aos objectivos que aparentemente pretende prosseguir. Em Portugal, como em toda a parte do mundo, não se provocam os pequenos protagonistas, mas os grandes. Ameaçar a pequena propriedade, ou o produto do trabalho legítimo, quando temos várias grandes empresas agro-industriais à mão de semear, é um erro imperdoável. Por outro lado, a complexidade dos problemas visados não se aborda já daquela maneira legalmente tão desamparada. Em democracia, temos armas mais lógicas e eficazes: a opinião, a investigação cidadã, a discussão pública e os tribunais.

Mas a questão de fundo não é esta! O que eu e todos nós queremos saber é se os OGM devem ou não ser combatidos e irradiados de vez da produção agrícola mundial. Mas aí as coisas são menos óbvias do que à primeira vista parecem...

O problema pode ser visto sob quatro ângulos distintos: o da manipulação genética, o da produção agro-alimentar e agro-energética, o da saúde pública e o da sustentabilidade ecológica das práticas industriais intensivas, frequentemente resultantes da associação oportunista entre a ciência mercenária, as tecnologias dela resultantes e a lógica do capital financeiro na actual fase de concentração e globalização.

1) A manipulação genética em si, de que a criação de OGMs é um aspecto cada vez mais corrente no actual estado de desenvolvimento das sociedades tecnológicas, não deve, na minha opinião, estar em causa, ainda que os resultados da mesma, pela sensibilidade das matérias que abrange, deva merecer uma vigilância científica, técnica, jurídica e democrática muito apertada. O que não podemos permitir é que um tão decisivo domínio da realidade social pós-contemporânea (na medida em que a sua actualidade se projecta sistematicamente no futuro) seja capturado pela esfera privada da globalização económica, nem por fundamentalismos ecológicos desinformados, meramente corporativos ou simplesmente pequeno-burgueses.

2) Quanto à produção agro-alimentar, devemos ter em conta que a mesma precisa, em primeiro lugar, do auxílio da ciência e das novas tecnologias para atingir as metas da produção alimentar exigidas pela demografia humana actual (6,6 mil milhões de pessoas) e expectável até ao fim do século 21 (9,4 mil milhões). Quando recolhia elementos para este artigo descobri um facto curioso, para não dizer macabro: o crescimento explosivo do cultivo da soja transgénica na Argentina (ajudando este país a sair da gravíssima crise económica de 1999-2002), tal como no Brasil, tem como principais mercados a Europa e a China. No primeiro caso, a Europa, as rações de soja transgénica tornaram-se cruciais para a pecuária deste continente ao substituirem as farinhas animais entretanto proibidas e que até à crise da BSE eram dadas ao gado herbívoro! No caso da China, a demografia, a melhoria da dieta alimentar de centenas de milhões de pessoas (com maior consumo de carne e peixe) e o empobrecimento crescente dos solos aráveis do país colocam-no numa situação de verdadeira dependência dos grandes produtores mundiais de proteínas.

3) O uso dos OGMs tem vindo a levantar suspeitas cada vez mais numerosas e fundamentadas sobre o potencial perigo dos mesmos para a saúde humana e de outras espécies de vida cuja destruição pode desencadear efeitos destruidores em cadeia de dimensões imprevisíveis. O mais recente argumento técnico para atacar os alimentos transgénicos teve aliás origem na demonstração realizada pela própria Monsanto de que o OGM conhecido por MON 863, um milho transgénico com propriedades insecticidas e de resistência ao herbicida glisofato, utilizado intensivamente na produção do milho transgénico para consumo humano e produção de rações, afectava a reprodutibilidade dos ratos estudados em laboratório, causando-lhes mesmo danos nos rins e fígado. Entretanto, um alerta científico sobre este tema, publicado em Março de 2007, da autoria de Mae-Wan Ho, Joe Cummins e Peter Saunders, "GM Food Nightmare Unfolding in the Regulatory Sham", ISIS Report (PDF) vem chamar a atenção para a gravidade do problema.

4) Finalmente, no que se refere aos efeitos das práticas intensivas das indústrias agro-alimentares e agro-energéticas, sabe-se que estão a provocar dois tipos de desastre imediato: por um lado, a competição entre a produção de alimentos e a produção de bio-combustíveis não só está a destruir extensas áreas florestais no Amazonas (literalmente queimadas para dar lugar à soja), como está a provocar um aumento intolerável dos preços dos cereais e leguminosas em todo o mundo, com efeitos sociais catastróficos entre as populações mais pobres do planeta; por outro lado, o uso dos pacotes tecnológicos da Monsanto, como o conhecido Roundup Ready (sementes transgénicas insecticidas resistentes ao herbicida Glifosato, por sua vez fornecido para permitir maior rentabilidade na produção da soja, milho, trigo, arroz, canola, algodão, etc....), por parte de países como o Brasil e a Argentina (mas também os EUA e o Canadá), está a provocar não apenas a esterilização e impermeabilização galopante dos solos (causando cheias onde menos se espera), mas também alterações de consequência imprevisíveis nos equilíbrios ecológicos locais e regionais. Para cúmulo, estes pacotes tecnológicos esgotam a sua eficácia ao fim de algum tempo, originando espécies resistentes ou, quando não é o caso, a emergência de novas "pragas".

Tendo presente estas quatro componentes do problema, não me parece que o assunto possa ser tratado de ânimo leve, dadas as suas envolventes económicas, sociais e sanitárias de larga escala. Estão em causa ao mesmo tempo a sobrevivência alimentar e a saúde imediata de milhares de milhões de pessoas, como está em causa toda uma cadeia de produção agrícola para fins alimentares e energéticos. Por outro lado, não parece razoável propor a eliminação pura e simples das aplicações genéticas nas indústrias agro-alimentares e agro-energéticas por causa dos sérios, mas eventualmente controláveis, problemas existentes. A gripe espanhola, conhecida entre nós por pneumónica, e causada pelo sub-tipo H1N1 da estirpe A do virus da gripe, matou durante a pandemia de 1918-1919 entre 50 e 100 milhões de pessoas em todo o planeta. As pragas de fungos (oídio) e insectos (filoxera) tiveram um efeito devastador e alteraram a distribuição da produção vinícola mundial durante mais de cinquenta anos (1863-1919), sendo ambas responsáveis entre nós, segundo alguns historiadores portugueses (Jorge Borges de Macedo e outros), pela profunda crise económica que levaria à emigração em massa para o Brasil (1881-1900 = 316 204; 1901-1930 = 754 147) e à concomitante queda do regime monárquico. Ou seja, dispensar as ciências biológicas e os sistemas organizativos e de produção tecnológica avançada no actual estado de complexidade dos eco-sistemas perturbados pela espécie humana não só é inverosímil, como teoricamente inaceitável, sendo previsivelmente catastrófica qualquer tentativa de parar, sem mais, a actual inércia industrial e pós-industrial. Isto não significa, obviamente, que o sistema não esteja a derrapar e que, portanto, não sejam necessárias medidas drásticas de monitorização, controlo e mitigação dos sérios problemas detectados. O sistema está virtualmente fora de controlo, e precisamente por isso, vai ser necessário um enorme esforço e sangue frio para dominá-lo nas décadas que se seguem.

À medida que as populações se urbanizam e o seu ciclo reprodutivo e familiar deixa de estar associado à criação de alimentos e à troca directa, passando estas tarefas para sistemas operacionais pós-humanos (ainda que transitoriamente controladas pela lógica infernal e desumana do valor capitalista), regista-se invariavelmente uma quebra da natalidade e, por efeito dos elevados níveis de segurança sanitária e médica, um envelhecimento populacional. É por isso que as sociedades industriais e pós-industriais vêem as suas tribos tradicionais desaparecerem, enquanto as sociedades agrícolas e pré-urbanas continuam jovens e numerosas (até por beneficiarem de algumas das tecnologias sanitárias e médicas contemporâneas.)

As perspectivas de crescimento demográfico mundial continuam a ser muito preocupantes, apesar da progressiva diminuição da taxa de crescimento demográfico (2,19% em 1962; 0,49% est. em 2049.) Em 2008, segundo as Nações Unidas, mais de metade da população mundial viverá em áreas urbanas, sendo que esta percentagem de urbanização chegará aos 60% por volta de 2030, correspondendo a mais de 5 mil milhões de pessoas. O mundo rural perderá para as cidades, neste mesmo período, mais de 27 milhões de pessoas. Sem percebermos todas as implicações desta alteração da demografia e da economia humanas, não será possível ter uma imagem mais nítida da complexidade dos desafios postos pela actual mutação dos respectivos processos reprodutivos, altamente socializados, tecnológicos e globalizados.

Por mera prudência, seria de limitar o uso intensivo dos processos biotecnológicos avançados das indústrias agro-alimentares e agro-energéticas a regiões demarcadas com Denominação de Origem Controlada, em vez de considerar levianamente que estes processos, largamente experimentais, são por definição inócuos e podem ter lugar indescriminadamente. Por outro lado, nenhum agricultor, nenhuma comarca ou região agrícola, e nenhum país pode ser obrigado a aceitar a introdução dos organismos transgénicos nos respectivos sistemas de produção, ou cadeias de consumo, devendo por isso ter assegurado o direito de reclamar contra a invasão, premeditada ou involuntária, das suas terras, povoações e produtos de consumo, por OGMs. Cabe à ciência provar a não-toxidade e o carácter benigno das suas invenções, bem como o ónus de corrigir os erros que eventualmente cometa. As indústrias, por sua vez, devem abster-se de usar os OGMs e os Roundup Ready como potenciais armas biológicas, pois é o que sucede sempre que tentam impôr contra a vontade das comunidades processos de produção tecnologicamente duvidosos, mal testados, ou perigosos.

Da Plataforma Transgénicos Fora! (entrevista a Gilles-Éric Séralini)

Pergunta - Em 2000, 99% dos OGM eram plantas-pesticidas, que toleram um herbicida total (71%) ou que produzem um insecticida (28%). Como estamos em 2007?

Prof. Séralini - Pior! A proporção é de 100%: 68% absorvem um herbicida sem morrer (são bombas de herbicida), 19% produzem um insecticida e 13% fazem as duas coisas simultaneamente. A verdadeira segunda geração de OGM, testada nos campos desde 1998, apresenta estas duas características. É evidente que em meio aberto os produtores de OGM se interessam sobretudo pelos pesticidas. E isso manter-se-á de aqui a cinco ou dez anos: os OGM objecto de quase todos os pedidos actuais de autorização toleram dois herbicidas, produzem dois insecticidas ou combinam estas quatro características."

"(...) - Estas plantas de um ou mais pesticidas são em grande maioria a soja e o milho?

- Sim. Os últimos números são: 57% de soja, 25% de milho, 13% de algodão, e 5% de colza. E o trigo e o arroz estão a chegar. Estes números provam que os OGM agravam os problemas da agricultura intensiva no mundo. Entre as 30 000 plantas comestíveis cultivadas, uma trintena fornece 95% da energia alimentar mundial e quatro - a soja, o milho, o arroz e o trigo - mais de 60%. Tendo cada planta pelo menos uma centena de variedades, é muito complicado e custoso assegurar uma patente sobre uma delas. Basta no entanto aos produtores de OGM escolherem as poucas que alimentam a humanidade para se apropriarem do essencial da alimentação mundial."

"(...) - Na sua opinião porque há tão poucos investigadores que partilham a sua vontade de fazer progredir a avaliação dos OGM, nomeadamente os seus efeitos sobre a saúde?

- A comunidade dos investigadores em biotecnologias não é um meio apropriado para avaliar os riscos. Ela não se destina a isso mas a produzir novos OGM em colaboração com as empresas. Dito isto, quando me pediram em 2003 que passasse em revista os trabalhos das comissões científicas que aconselharam os ministros europeus sobre os OGM relativamente aos pedidos de autorização, verifiquei que nesses trabalhos o meu ponto de vista era maioritário: numerosos cientistas têm críticas a formular em relação aos OGM de pesticidas. Simplesmente estão obrigados ao segredo."

Texto integral da Entrevista com o Prof. Séralini

Referências



Última hora!

Obrigado Mário Crespo!

(27-08-2008). O gongórico Crespo tem manifestado uma obsessão policial contra os ecologistas e a favor da indústria agro-alimentar.

Mas será realmente assim?

O "pivot" da SIC Notícias, no jornal das 9 de hoje, entrevistou o porta-voz da Verde Eufémia, procurando uma vez mais demonstrar que o néscio doutorando é uma espécie de terrorista: mais precisamente, um eco-terrorista (ou um "terrorista soft" - como o ministro da administração interna, Rui Pereira, admitiria poder-se apelidar, em última instância, este género de sujeitos.)

O rapaz lá foi respondendo como sabia ao inquisidor-mor da SIC (very sick indeed!) Para Crespo, por trás daquele eco-impreparado, se não havia um eco-terrorista, no mínimo, haveria um gajo do Bloco, ou um gajo a soldo de uma empresa qualquer (de nome francamente irrelevante), ou, pelo menos, um agente do Putin! Sim do Putin, cujo convite dirigido ao eco-radical, para ir a Moscovo, participar numa conferência internacional sobre transgénicos, o dito eco-fundamentalista suspeitamente aceitara. Nem a Judite faria uma inquirição com tal detalhe e exibição de indícios!

A "régie" berrava ao gongórico Crespo para acabar com aquela pessegada deprimente. Mas ele, qual Joana D'Arc dos embaixadores da Monsanto em terras lusitanas, insistia furiosamente na tortura mediática do imberbe doutorando.

Como eu gostaria de ver esta criatura da SIC, cuja moleira se fechou para sempre, inquirir com fúria semelhante o Senhor Vaz Guedes sobre os 200 mil euros pagos ao PSD. Como eu gostaria de ver esta caricatura do "Sixty Minutes" perguntar ao governo e ao Senhor Salgado, como foi possível fazer-se em Portugal (não em Angola) um negócio tão obscuro e completamente ruinoso para o Estado quanto o da venda da falida PGA (Portugália Airlines) à desesperada TAP. Corrupção? Fraude? Roubo? Quando se usa um colarinho branco, não são precisas máscaras!

O gongórico homúnculo do Jornal das 9 anda preocupado com a pequena propriedade privada e com o eco-terrorismo. Mas andará?

Então se anda, porque não estudou a lição de José Bové e não enquadrou, como deveria, se fosse um profissional sério, a acção de Silves no âmbito mais amplo e absolutamente actual das acções do mesmo género que ocorrem, neste preciso momento, por exemplo, em França (ver Les OGM, un choix de politique agricole, par Hervé Kempf, LE MONDE)?

Então se anda, porque não indagou os principais grupos agro-alimentares e agro-energéticos portugueses (BES, GALP, EDP, Banif,...) sobre a ingente questão dos transgénicos? Vão aplicar OGMs nas suas vastas propriedades e nos seus ambiciosos projectos bio-energéticos? À custa de quê? À custa de quem? E o governo, que pensa sobre o assunto? E o PS, se ainda existe, mudou de opinião? E o país, será que vai reagir ou ficar bovinamente indiferente até que a miséria lhe caia em cima?

O gongórico locutor, sem saber o que faz, fez bem: colocou na ordem do dia, muito para lá da acção dos mascarados de Silves (que obviamente terão que amadurecer), um tema que irá dar muito que falar. Sobretudo quando alguns dos que sustentam a SIC (e manifestamente detestam que se fale de certos assuntos) começarem realmente a queimar a pelada terra portuguesa, não em nome da segurança alimentar, mas sim da guerra energética que aí vem, e dos lucros, claro está.

(25-08-2007 01:56) Indexar o Pão Alentejano ao etanol?

Se o Alentejo, e pelos vistos o Algarve também, se transformarem em vastas plantações de milho transgénico para a produção de etanol, crescendo ao longo da Costa Vicentina, não apenas "resorts" de luxo, mas também destilarias de etanol, que sucederá ao preço do Pão Alentejano?

É isto que a poeira lançada sobre o infeliz episódio de Silves, de momento, e por manifesto interesse do governo (o PSD transformou-se num zombie), não deixa ver. Mas é fundamental lançar a discussão!

Se o debate estratégico sobre a política de transportes é fundamental para a reorganização da nossa relação com a Espanha (e foi desencadeada pela blogosfera de forma absolutamente notável); se o debate em torno das duas grandes áreas metropolitanas portuguesas (Lisboa e Porto) é decisivo no processo de adaptação da nossa sociedade ao aquecimento global e ao encarecimento irreversível da energia; a questão da segurança alimentar, no quadro entretanto criado pela indexação progressiva e de facto do preço do pão ao preço do biodiesel, pode vir a transformar-se numa crise de um dramatismo sem precedentes.

Perante a fragilidade do actual poder político e a manifesta e durável impotência das oposições, não resta outra alternativa que não passe por desejar lucidez ao actual governo do PS, ao mesmo tempo que a mobilização das energias civis do país deve seguir o seu curso próprio, redobrando a sua capacidade de observar e analisar os fenómenos, construindo os necessários alertas e propostas de solução dos problemas, num diálogo exigente com todos os poderes instalados.

A rentrée promete!

Referências:

A Challenge to Gene Theory, a Tougher Look at Biotech
By DENISE CARUSO
The New York Times
Published: July 1, 2007

THE $73.5 billion global biotech business may soon have to grapple with a discovery that calls into question the scientific principles on which it was founded.

Last month, a consortium of scientists published findings that challenge the traditional view of how genes function. The exhaustive four-year effort was organized by the United States National Human Genome Research Institute and carried out by 35 groups from 80 organizations around the world. To their surprise, researchers found that the human genome might not be a "tidy collection of independent genes" after all, with each sequence of DNA linked to a single function, such as a predisposition to diabetes or heart disease.

Instead, genes appear to operate in a complex network, and interact and overlap with one another and with other components in ways not yet fully understood. According to the institute, these findings will challenge scientists "to rethink some long-held views about what genes are and what they do."

(...)

Yet to date, every attempt to challenge safety claims for biotech products has been categorically dismissed, or derided as unscientific. A 2004 round table on the safety of biotech food, sponsored by the Pew Initiative on Food and Biotechnology, provided a typical example:

"Both theory and experience confirm the extraordinary predictability and safety of gene-splicing technology and its products," said Dr. Henry I. Miller, a fellow at the Hoover Institution who represented the pro-biotech position. Dr. Miller was the founding director of the Office of Biotechnology at the Food and Drug Administration, and presided over the approval of the first biotech food in 1992.

Now that the consortium's findings have cast the validity of that theory into question, it may be time for the biotech industry to re-examine the more subtle effects of its products, and to share what it knows about them with regulators and other scientists.

Denise Caruso is executive director of the Hybrid Vigor Institute, which studies collaborative problem-solving.

BIOFUELLED
Jun 21st 2007
From The Economist print edition
Grain prices go the way of the oil price
Economist.com

"EVERY morning millions of Americans confront the latest trend in commodities markets at their kitchen table. According to the United States Department of Agriculture, rising prices for crops—dubbed "agflation"—has begun to drive up the cost of breakfast. The price of orange juice has risen by a quarter over the past year, eggs by a fifth and milk by roughly 5%. Breakfast-cereal makers, such as Kellogg's and General Mills, have also raised their prices. Underpinning these rises is a sharp increase in the prices of grains such as corn (maize) and wheat, both of which recently hit ten-year highs. Analysts are beginning to ask, as they have of oil and metals, whether higher prices are here to stay."

BUY FEED CORN:
THEY'RE ABOUT TO STOP MAKING IT...

by F. William Engdahl, July 25, 2007

(...) "In the mid-1970's Secretary of State Henry Kissinger, a protégé of the Rockefeller family and of its institutions stated, "Control the oil and you control entire nations; control the food and you control the people." The same cast of characters who brought the world the Iraq war, the global scramble to control oil, who brought us patented genetically manipulated seeds and now Terminator suicide seeds, and who cry about the "problem of world over-population," are now backing conversion of global grain production to burn as fuel at a time of declining global grain reserves. That alone should give pause for thought. As the popular saying goes, "Just because you're paranoid doesn’t mean they aren’t out to get you."

PEAK SOIL: Why cellulosic ethanol, biofuels are unsustainable and a threat to America
Contributed by Alice Friedemann, April 10, 2007

Ethanol is an agribusiness get-rich-quick scheme that will bankrupt our topsoil.

Nineteenth century western farmers converted their corn into whiskey to make a profit (Rorabaugh 1979). Archer Daniels Midland, a large grain processor, came up with the same scheme in the 20th century. But ethanol was a product in search of a market, so ADM spent three decades relentlessly lobbying for ethanol to be used in gasoline. Today ADM makes record profits from ethanol sales and government subsidies (Barrionuevo 2006).

The Department of Energy hopes to have biomass supply 5% of the nation’s power, 20% of transportation fuels, and 25% of chemicals by 2030. These combined goals are 30% of the current petroleum consumption (DOE Biomass Plan, DOE Feedstock Roadmap).

Fuels made from biomass are a lot like the nuclear powered airplanes the Air Force tried to build from 1946 to 1961, for billions of dollars. They never got off the ground. The idea was interesting -- atomic jets could fly for months without refueling. But the lead shielding to protect the crew and several months of food and water was too heavy for the plane to take off. The weight problem, the ease of shooting this behemoth down, and the consequences of a crash landing were so obvious, it’s amazing the project was ever funded, let alone kept going for 15 years.

Biomass fuels have equally obvious and predictable reasons for failure. Odum says that time explains why renewable energy provides such low energy yields compared to non-renewable fossil fuels. The more work left to nature, the higher the energy yield, but the longer the time required. Although coal and oil took millions of years to form into dense, concentrated solar power, all we had to do was extract and transport them (Odum 1996)

With every step required to transform a fuel into energy, there is less and less energy yield.

(24-08-2007 00:30) Jaime Silva, ministro da agricultura aproveita contradições do Bloco

O gongórico Crespo (hoje estava mais cool) entrevistou o ministro da agricultura. Jaime Silva, revelando uma malícia requintada, aproveitou a oportunidade para explorar as contradições óbvias que grassam dentro do Bloco de Esquerda, entre Louçã e Portas, cujo blogue é, ao que parece, um acto falhado, entre os parlamentaristas de São Bento e o de Bruxelas, e entre os eternos bolcheviques e a extrema-esquerda chique. Por um lado, a dança de genes entre o PS e o Bloco, claramente comandada neste caso pelo aristocrático ministro, pode ser um recado a Lisboa, ao vereador Sá Fernandes, para que não pregue nenhuma partida a António Costa. Mas foi, antes de mais, uma inesperada aberta para o PS defender os pequenos e médios proprietários (e empresários) do país e exigir que o debate político se situe em patamares de clara legalidade democrática, recusando frontalmente fundamentalismos historicamente deslocados. Esta clarificação serve que nem uma luva ao PSD, por onde perpassa uma onda de populismo virulento (pré-eleitoral) que convem amainar -- nem que para tal se deixem revelar algumas verdades inconvenientes... A rentrée de Outono promete.

(23-08-2007). Para o gongórico Crespo: a primeira bio-guerra do século 21

Trivial Pursuit:

A - Há vários anos que o exército norte-americano bombardeia com Roundup Ready --fornecido pela Monsanto-- vastas zonas agrícolas da Colômbia, seguindo o famoso Plan Colombia, com particular incidência nos seus campos de coca (uma planta de cultivo tradicional, milenar naquelas paragens de altitude) a pretexto de combater a produção de cocaína, quando na realidade o que estão a fazer é garantir a manutenção dos preços altos da mesma nos mercados internacionais, e por conseguinte as escandalosas margens de lucro das máfias que se alimentam do comércio ilegal de drogas (onde se inclui invariavelmente gentuça com fortes ligações aos grandes poderes deste mundo, seja na Colômbia, em Marrocos, na Espanha, em Portugal ou nos Estados Unidos).

Como classifica este tipo de acções: eco-terrorismo, guerra biológica, eco-genocídio, qualquer uma destas opções, duas delas (quais?) ou todas elas? Estou certo que o estruturalista da SIC Notícias, com tempo, há-de chegar à resposta certa.

B - Novas pandemias de propagação rápida podem estar no horizonte próximo, alerta hoje (23-08-2007) a Organização Mundial de Saúde (BBC News online). A circulação de pessoas à escala global (2,1 mil milhões de pessoas a viajar de avião em 2006) e a enorme falta de transparência existente nas indústrias multi-milionárias da pecuária e agricultura tecnológicas (onde se fazem há anos as michórdias mais inacreditáveis e criminosas), compõem o "cocktail" explosivo denunciado pela OMS.

Pergunta: denunciar, perseguir, castigar e sobretudo impedir a multiplicação deste tipo de armadilhas biológicas é um acto democrático inadiável ou, por eventualmente ameaçar a propriedade privada, pode cheirar a terrorismo? Estou certo que o estruturalista da SIC Notícias, com tempo, há-de chegar à resposta certa.


23-08-2007. Ainda o gongórico Crespo

Não lhe pagam para ter opinião, e muito menos para fazer de polícia de costumes, mas apesar disso, insiste em vender-nos a ideia de que os eco-radicais pequeno-burgueses que atacaram em Silves são "eco-terroristas". Que saberá ele de terrorismo?! Por exemplo, o Bush é ou não um terrorista de Estado e um genocida, tendo em conta que foi e é o máximo responsável pelos 135.129 mortos do Iraque, pela execução exibicionista de Saddam Hussein e pela destruição daquele país na sequência de uma invasão ilegal? E sobre invasões e esbulhos, saberá ele alguma coisa? Por exemplo, quando os norte-americanos e ingleses tomam de assalto o Iraque e ocupam as suas zonas petrolíferas(1), preparando uma lei (Hydrocarbon Law) destinada a entregar 80% das receitas do petróleo às inocentes Chevron, Exxon, BP, e Shell, o que é isto? Invasão de propriedade alheia? Roubo? Terrorismo? O Crespo, incomodado com o "hate mail" recebido nestes últimos dias, afirmou durante a sua "performance" no Jornal das Nove de hoje, que andava a guardar as direcções IP de quem lhe escrevia. Pior do que um "pivot" gongórico, só mesmo um "pivot" estruturalista (sim, ele disse estruturalista!)

1 - Iraq Oil Bush Cheney Chevron BP Shell Exxon - A Review


21-08-2007. Deserto Transgénico: a batata azul da BASF

A Comissão Europeia, através da especializada European Food Safety Auhority (onde os lóbis da indústria química, biológica e farmacêutica europeia têm gente muito insistente e persuasiva), está em vias de aprovar uma batata geneticamente modificada da BASF para fins industriais diversos, entre eles a produção de goma (para envernizamento de capas de revista, por exemplo) e rações para animais. Para além dos genes potenciadores da percentagem de goma na nova batata (azul), o transgénico desenvolvido pela multinacional belga contem ainda sequências genéticas com marcadores resistentes aos antibióticos, os Antibiotic Resistant Marker Genes (ARGMs), cujo uso prescreveu em 2004, segundo as próprias directivas europeias!

De facto, na directiva Genetically modified organisms GMOs: deliberate release into the environment (repeal. Direct. 90/220/EEC), de 17-04-2001, foi decidida "a identificação e eliminação dos OGMs que contenham genes resistentes a antibióticos usados em tratamentos médicos e veterinários. Esta eliminação terá lugar até ao fim de 2004 no casos dos OGMs já comercializados, e antes do final de 2008 no caso da OGMs autorizados para pesquisa experimental."

A aprovação deste novo transgénico por parte da UE parece pois votado a adensar a polémica sobre a aparente leviandade com que estes assuntos têm vindo a ser abordados e regulados pelas instâncias políticas comunitárias.

A batalha cívica pela transparência, precaução e controlo apertado do uso das tecnologias genéticas vai seguramente ganhar contornos cada vez mais nítidos na arena democrática europeia e mundial. Em Portugal não começou da melhor maneira, mas irá prosseguir, estejam ou não estejam os anões da política e os reaccionários de sempre para aí virados.

Portugal preside neste momento à Comissão Europeia. Seria bom que alguém no actual governo dissesse ao primeiro ministro o que fazer.

Ref.: Euractiv

20-08-2007. O Mário Crespo, da SIC, passou-se!

No Jornal das Nove de hoje parecia um bufo furibundo, intimando o ministro da administração interna a prender toda a gente, quer dizer, os tais 100 eco-radicais que destruiram a plantação de milho de Silves. Chegou ao ponto de oferecer a reportagem da SIC como meio de prova, para que não faltasse ao ministro argumentos para prender o que insinuou serem perigosos eco-terroristas e predadores da propriedade privada. Nem queria acreditar! Salvou a SIC o bom senso e os conhecimentos de Paulo Pereira (um dos ministros mais simpáticos e competentes deste governo à deriva), que soube acalmar a fúria do gongórico locutor, já um pouco senil, diga-se de passagem. Uma coisa é condenar a acção destes esverdeados encapuçados, por mal ajustada e descontextualizada. Foi o que fiz. Agora confundir o sucedido, com terrorismo, ainda por cima pela boca do pivot de um telejornal, é virar a realidade de pernas para o ar. Oh Mário, começa a ler o Herberto Helder!

OAM #232 20 AGO 2007

sexta-feira, agosto 17, 2007

Nuclear 2

Yellowcake
Yellowcake - o precipitado sólido a partir do qual de processa o combustível nuclear.


O renascimento do nuclear?

O preço do urânio triplicou em apenas um ano.
Em 2040, 2050 como muito, este minério será uma raridade virtualmente inexplorável...

Apesar da bondade visionária de James Lovelock, a verdade é que o tão propalado renascimento do nuclear não tem pernas para andar. E não é por causa de questões de segurança, ou simples resistência dos povos que não querem re-edições revistas e ampliadas de Three Mile Islands, nem Chernobyl. O motivo porque a energia nuclear não será uma alternativa ao pico petrolífero mundial é muito mais simples e irredutível: não há urânio suficiente!

Ou melhor, o chamado EROEI (Energy Returned on Energy Invested) tornar-se-à desinteressante assim que a exploração das principais zonas mineiras de urânio (Austrália, Cazaquistão, Canada, África do Sul, Namíbia, Rússia, Brasil, EUA, Uzbequistão) se tornar demasiado cara e consumidora de água e de energia nos processos de escavação, processamento e enriquecimento do combustível nuclear.

As reservas conhecidas de urânio natural em 2006 somam 3.142.000 toneladas
O consumo anual de urânio é equivalente a 65.000 toneladas de urânio*
A extracção anual de urânio é 40 mil toneladas
Duração estimada das reservas: 48-50 anos

* -- 20 mil das quais têm origem no processamento de combustível a partir do arsenal abatido de 30 mil bombas nucleares da ex-URSS

Post scriptum: Recebi um comentário da Chantal Tremblay (e depois disso, referências oportunas sobre o assunto, compiladas pela Maria de Fátima Biscaia) chamando-me a atenção para a probabilidade de assistirmos a um prolongamento da era nuclear, seja por efeito de uma maior rentabilidade das futuras centrais (por exemplo, se utilizarem a tecnologia canadiana conhecida por CANDU), seja sobretudo pela entrada em cena das centrais alimentadas com tório (cuja tecnologia tem vindo a ser desenvolvida pela India) assim que o ciclo do urânio e do plutónio atingir o pico. As maiores reservas de tório encontram-se nos seguintes países: Brasil, Turquia, India, EUA, Noruega, Gronelândia, Canadá.

CANDU

(...) by avoiding the uranium enrichment process, overall utilization of mined uranium in CANDU reactors is significantly less than in light-water reactors (about 30-40% less, using current designs).

Compared with light water reactors, a heavy water design is "neutron rich". This makes the CANDU design suitable for "burning" a number of alternative nuclear fuels. To date, the fuel to gain the most attention is mixed oxide fuel (MOX). MOX is a mixture of natural uranium and plutonium, such as that extracted from former nuclear weapons. Currently there is a worldwide surplus of plutonium due to the various United States and Soviet agreements to dismantle many of their warheads, and the security of these supplies is a cause for concern. By burning this plutonium in a CANDU it is removed from use, turning it into energy. - in Wikipedia


THORIUM

Much development work is still required before the thorium fuel cycle can be commercialised, and the effort required seems unlikely while (or where) abundant uranium is available.

Nevertheless, the thorium fuel cycle, with its potential for breeding fuel without fast neutron reactors, holds considerable potential long-term benefits. Thorium is significantly more abundant than uranium, and is a key factor in sustainable nuclear energy. - in Wikipedia


Referências

Desperately seeking uranium
Article by Michael Petek
Wednesday 15th August 2007, 19:59

A little makes a lot?
By John Busby
Aug/07/2007

Introduction to CANDU systems and operation, Lecture Notes by Dr. George Bereznai (PDF)

Thorium fuel cycle - Potential
benefits and challenges IAEA-International Atomic Energy Agency (PDF)

Uranium Proved Reserves

17th IAEA Technical Meeting on Research Using Small Fusion Devices
22nd to 24th October 2007 Lisbon, Portugal
The 17th IAEA TM on "Research Using Small Fusion Devices" will be held in Lisbon, hosted by the Government of Portugal through the Centro de Fusão Nuclear of the Association EURATOM/Instituto Superior Técnico (EURATOM/IST).

OAM #231 17 AGO 2007

quarta-feira, agosto 15, 2007

Mattel Made in China

De como um apanhador de cócó
poderá levar a Mattel à falência

Croquetes para o Tannerzinho...
Lindo menino :-)
Agora é preciso apanhar o cócó...
Mas com o fantástico apanhador da Mattel é um prazer :-)
Cuidado, não engulam a pilha!! Made in China... Sold by USA...


A Mattel está a recolher mais de 18 milhões de brinquedos em todo o mundo (BBC online, 14-08-2007). O desastre começou com a recolha de bonecos e miniaturas pintados com tintas contendo chumbo (ingrediente tóxico e proibido pelas legislações de vários países, EUA, Japão e Europa incluídos), ou contendo pequenas pilhas de fácil acesso e que qualquer criança poderá levar à boca e engolir! Os personagens envolvidos nesta inesperada saga, que já levou ao suicídio do principal sócio da emprea chinesa que fabricou os brinquedos, vão desde Sarge, um jipe do filme "Cars", até Batman, Barbie, One Piece, Dog Daycare e Polly Pocket. A lista de brinquedos abrange mais de 70 produtos diferentes (BBC online) e pode não ficar por aqui.

Nos Estados Unidos e na Europa surgiram recentemente outros produtos oriundos da República Popular da China igualmente perigosos, entre os quais uma versão falsificada e tóxica da pasta dentífrica Colgate, comida para animais domésticos que envenenou e matou milhares de cães e gatos nos EUA, peixe e marisco contendo químicos ilegais e perigosos, frangos e outras aves alimentados com hormonas proibidas, em suma, um verdadeiro descalabro. Apenas se conhece a ponta deste icebergue. Mas uma coisa é certa, se o número de casos continuar a aumentar, a marca Made in China (frequentemente escondida nas zonas menos acessíveis dos produtos) poderá passar a ser sinónimo, não apenas de produto barato, frágil e mal acabado, mas também, de produto perigoso, desencadeando uma crise comercial sem precedentes entre o ávido país asiático e os seus maiores clientes e investidores: EUA, Europa e Japão.

O Ocidente ganancioso destrói as suas economias de produção em nome da produtividade, do lucro e sobretudo da especulação bolsista, exportando máquinas, sabedoria e tecnologia para os países de mão-de-obra barata (ou mesmo em regime de escravatura disfarçada.) Pressiona o Oriente para que forneça produtos cada vez mais baratos, para poder aceder a mercados cada vez mais amplos, mas também porque o consumidor ocidental, apesar das aparências, está cada dia mais pobre. Os países como a China, onde a corrupção é generalizada e não existem mecanismos de controlo à altura do crescimento económico em curso, resvalam com facilidade para o pior da economia capitalista: exploração desenfreada dos trabalhadores e total desprezo pelo consumidor final. A culpa, no fundo, é nossa...

Deixei de comer Sushi como forma de protesto contra o barbarismo japonês no que se refere à caça desenfreada e cruel do atum, da baleia, dos golfinhos e em geral de todos os grandes cetáceos. Sopa de barbatana de tubarão, uma especialidade bárbara de chineses e tailandeses, entre outros, para o que matam milhões de tubarões anualmente, com o único fito de lhes retirar as barbatanas dorsais, nunca mais! Quanto aos produtos "Made in China" (1), sobretudo alimentares e de vestuário, não obrigado.

Post scriptum - o título completo deste post deveria ser "De como um apanhador de cócó e a pedagogia escatológica de Barbie poderão levar a Mattel à falência". Na realidade, Barbie ensina aos miúdos de todo o planeta que, como postulou Lavoisier em 1789, "Na natureza nada se perde, nada se cria, tudo se transforma". E assim é: Tanner, o cachorro de Barbie, papa biscoitos de cão (certamente indigestos, pois são fabricados na China.) Mais tarde, Tanner dejecta os biscoitos pelo ânus, sob a forma de caca. Depois de cuidadosamente recolhidos pelo apanhador de cócó (scooper), são higienicamente depositados no recipiente do lixo. Quando os biscoitos acabarem... vai-se ao recipiente do lixo e recicla-se a caca de Tanner, dando-a de novo a comer, como biscoitos. Uma extraordinária demonstração de pedagogia escatológica que fará certamente muito pelas fantasias eróticas do futuro. Presume-se, claro está, que as famílias mais puritanas e abastadas comprarão sucessivas recargas de biscoitos, para que o cocó não volte à boca do pobre animal.



Notas e referências

1 - Des aliments en provenance de Chine dangereux pour la santé
LEMONDE.FR avec AFP | 29.08.07 | 19h34

"Après les jouets, les tubes de dentifrice, la nourriture pour chiens et chats aux Etats-Unis, les produits à base d'herbes médicinales au Canada, c'est au tour des aliments en provenance de Chine et importés en France d'être pointés du doigt. Certains présentent des risques graves pour la santé, selon une étude du magazine L'Expansion à paraître jeudi 30 août.

Sont particulièrement incriminés des colorants interdits découverts dans des sauces ou dans des gâteaux de riz, des moisissures cancérigènes sur des fruits secs, des résidus d'antibiotiques dans des lots de miel et de poissons, des traces de mercure sur des anguilles ou encore des stocks de nouilles incluant des composants génétiquement modifiés... Une trop longue liste des ingrédients impropres à la consommation relevée par le magazine. Ainsi, pour les aliments, 263 notifications pour produits dangereux ont été relevées en 2006, selon le réseau d'alerte rapide de la Commission européenne. Et, au cours des sept premiers mois de l'année 2007, L'Expansion fait état de "209 problèmes".

En Europe, les importateurs sont responsables en matière de sécurité alimentaire. Ils doivent assurer la traçabilité des produits tout au long de la chaîne alimentaire, identifier leurs risques et alerter les autorités sanitaires en cas de doute."


OAM #230 15 AGO 2007

terça-feira, agosto 14, 2007

Aeroportos 34

PlaneStupid webpage header
Acampamento contra a expansão do aeroporto de Heathrow atrai milhares de europeus a Londres
(BBC online). Ver o sítio activista Plane Stupid. Contem com algo semelhante em Portugal para breve!


Voar para quê?

45% dos voos europeus percorrem distâncias inferiores a 500 Km (1)


"No more sustainable development; what we need is a well-planned sustainable retreat". - James E. Lovelock (Gaia, medicine for an ailing planet. Nov. 2004.)

O tráfego aéreo não pára de crescer, sobretudo devido ao turismo de massas e à emergência do fenómeno Low Cost, que começou por revolucionar o negócio do transporte aéreo e projecta-se, num horizonte que vai até 2011, para novas áreas de oportunidade: transporte ferroviário, marítimo e fluvial, aluguer de automóveis, hotelaria, organização de viagens, seguros e casinos online!

Tudo isto se deve, em grande parte, a três fenómenos concomitantes, mas transitórios:
  • a explosão económica da Ásia à custa de trabalho humano virtualmente gratuito e aparentemente inesgotável, de que o crescimento do turismo mundial é reflexo;
  • a globalização dos mercados financeiros;
  • e o consumo livre de energias e matéria primas não renováveis.
Se não estivéssemos já a sofrer na pele as consequências deste crescimento irreflectido, patente, por exemplo, no catastrófico Verão por que estamos a passar, dir-se-ia que um tal modelo de prosperidade, de que apenas 10% da humanidade usufrui plenamente, teria um horizonte de vida confortável pela frente. Mas como a realidade, infelizmente, é a que é, teremos que pensar muito em breve nas limitações objectivas crescentes que se colocarão à circulação de pessoas e bens por esse mundo fora (e a essa cada vez mais bizarra prática hedonista a que chamamos turismo). O preço dos combustíveis será uma delas, dificilmente mitigável no curto prazo; a outra, ainda mais difícil de atalhar, é o aquecimento global e as alterações climáticas que provoca, imprevisíveis no tempo, no espaço, na dimensão destrutiva e com graves consequências para o frágil equilíbrio deste grande organismo que é a Terra.

Há muito que os anos 2030, 2050 e 2100 (ao virar da esquina) têm vindo a ser sugeridos pelos mais diversos estudos científicos (de M. King Hubbert a James Lovelock, passando por Donella Meadows e o Clube de Roma) como pontos de inflexão, seja na viabilidade do actual modelo de crescimento demográfico, económico e civilizacional, seja na própria estabilidade física e ecológica do planeta. Estas previsões deveriam levar-nos a pensar seriamente nas nossas opções de futuro e nos correspondentes investimentos, tornando-nos mais activos junto daqueles em quem votamos e de quem esperamos que governem no interesse público. Infelizmente não é o que está a acontecer. Pelo contrário, aquilo que vemos à nossa frente parece-se cada vez mais com a última valsa no salão nobre do Titanic!

Se tivermos que fazer uma travagem brusca no consumo de combustíveis fósseis, por onde iremos começar? Pelos automóveis privados e autocarros urbanos e suburbanos? Pelos veículos pesados de transporte de mercadorias? Pelos barcos? Ou pelos aviões?

Pelo comboios eléctricos (ou magnéticos) sobre carris, pelos autocarros eléctricos (os Trolleys, lembram-se?), pelos velhos Eléctricos da Carris, e pelas diversas modalidades de metropolitano (pesados, ligeiros, subterrâneos, de superfície ou aéreos) não será certamente, pois não usam petróleo, nem gás natural. Se não se inventar nada que seja capaz de sequestrar os gases com efeito de estufa no momento da sua libertação pelas actuais frotas mundiais de carros e de aviões, creio bem que as medidas de emergência começarão por este lado, ainda que paulatinamente e sempre a reboque das crises. Primeiro, onerando o uso destes meios de transporte, depois restringindo-o administrativamente.

Os aviões serão as primeiras vítimas (aplicando-se-lhes em breve os impostos de que estão isentos e há muito recaiem sobre os demais consumidores de hidrocarbonetos). Os efeitos sociais das restrições serão, porém, muito mais graves no caso dos automóveis, afectando centenas de milhões de pessoas e intermináveis fileiras da actividade económica global. Se não tiverem sido criados meios de transporte alternativos movidos a energia eléctrica, a hidrogénio ou mesmo a energia nuclear, até à crucial, inevitável e cada vez mais próxima decisão de parar boa parte da frota mundial de veículos movidos pela combustão de energias fósseis, assistiremos a convulsões sociais de proporções gigantescas, que nenhuma "lei anti-terrorista", nem forças policiais e militares, serão capazes de sustar. E o problema é que uma parte muito significativa destes meios de transporte irá colapsar, independentemente do que os políticos forem capazes de fazer até lá. Se não por efeito da subida incomportável dos preços dos combustíveis, será pelos custos crescentes derivados dos riscos de catástrofe, ou pela estagnação económica mundial decorrente do inevitável abrandamento do crescimento asiático, que já hoje ameaça os equilíbrios geo-estratégicos globais, por efeito da pressão que exerce sobre os mercados financeiros, energéticos, de matérias primas e da própria alimentação!

Temos pois que analisar com extrema cautela o alcance e o retorno previsível dos mega-investimentos em infra-estruturas aeroportuárias. A pressão dos banqueiros e das grandes empresas de construção neste assunto tão sensível é o último argumento a ter em conta por qualquer governo responsável. Por mim, a intuição e os dados que afluem todos os dias dizem-me que a prioridade deve ir imediatamente para a revisão urgente da actual política de transportes. Das prioridades que se me afiguram cada vez mais evidentes, destaco a necessidade de adequar os aeroportos existentes à conjuntura numa perspectiva temporal até 2020, deixando a reserva de Alcochete para reapreciação ulterior. Destaco, por outro lado, como prioridade emergente, a necessidade de dotar o país de uma rede ferroviária inter-urbana, urbana e suburbana suficientemente apertada para competir com os demais meios de transporte no prazo de uma década.

Mas como a gravidade dos problemas que teremos que enfrentar no futuro imediato não se restringe à temática dos transportes, antes se plasma nela por efeito da crise energética global e dos modelos de sociedade que temos, duas outras questões terão que ser revistas com a máxima urgência: a autonomia energética e a autonomia e segurança alimentares. Numa primeira avaliação, teremos que pensar à escala europeia. Mas à medida que as distâncias ficarem mais caras, seremos forçados a contar, cada vez mais, com o potencial interno de produção e distribuição alimentar. Destruir os solos aráveis ou comprometer os mares e os rios no que têm de vida, potencial nutritivo e capacidade de produção energética, em nome de uma sociedade de serviços condenada (e de que o turismo será a primeira vítima) será o nosso mais do que certo suicídio se entretanto não formos capazes de fazer deflectir tal trajectória irresponsável e criminosa.
"We are like passengers on a large aircraft crossing the Atlantic Ocean who suddenly realize just how much carbon dioxide their plane is adding to the already overburdened air. It would hardly help if they asked the captain to turn off the engines and let the plane travel like a glider by wind power alone. We cannot turn off our energy-intensive fossil-fuel-powered civilization without crashing, but we need something much more effective than the Kyoto Agreement. My hope lies in that powerful force that takes over our lives when we sense that our tribe or nation is threatened from outside. In wartime we accept without question the severest of rationing and will readily offer our lives. Perhaps when the catastrophes of the intensifying greenhouse become frequent enough we will pull together as a global unit with the self-restraint to stop burning fossil fuel and abusing the natural world." - James E. Lovelock (Gaia, medicine for an ailing planet. - Nov. 2004.)
Actualização (22-08-2007)

CML adopta modelo Portela +1 (Alcochete)

O executivo da Câmara de Lisboa aprovou ontem, numa reunião que se prolongou por sete horas, a proposta da vereadora Helena Roseta que visa exigir do Governo que no estudo comparativo que o Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC) está a desenvolver sobre o novo aeroporto da capital seja incluída a alternativa Portela + 1 (hipótese Alcochete). Todas as forças votaram a favor, menos o PS, que se absteve. “Porque achou que se devia abster”, justificou o presidente, António Costa. (in Correio da Manhã)

COMENTÁRIO: talvez fosse melhor deixar em aberto o "+1"...

O essencial é activar nos próximos 2-4 anos um aeroporto no Montijo, destinado às Low Cost, com o que se aliviaria de imediato a pressão sobre a Portela, prolongando-se ao mesmo tempo a vida do Aeroporto Internacional de Lisboa (na versão Portela + Montijo). Esta estratégia permitira deslocar a prioridade dos investimentos na política de transportes para a ferrovia (Alta Velocidade e Velocidade Elevada) e para os portos, tendo como horizonte de acção o período 2007- 2020. Caso a pressão do transporte aéreo continuasse a aumentar (o que duvido), a reserva de propriedade do campo de tiro de Alcochete lá estaria para acolher então o projecto de um cidade aeroportuária que, por volta de 2025, substituiria de vez a solução Portela+1.

Muito em breve, quer dizer, ao longo de todo o ano de 2008, se verá o impacto efectivo da Alta Velocidade ferroviária no transporte aéreo entre Madrid e Barcelona. Daí haverá que retirar conclusões práticas para a definição das nossas prioridades relativamente às modalidades de transporte mais económicas, mais rentáveis e mais sustentáveis.

Por outro lado, a entrada em funcionamento do novo aeroporto (privado) de Ciudad Real (denominado Madrid Sur), no final deste ano, bem como a modernização/expansão operacional do aeroporto de Badajoz e a sua transformação numa base da Ryanair, prevista para meados de 2009, serão outros tantos dados decisivos para avaliar qual a melhor estratégia de adaptação as rápidas mudanças de paradigma no transporte aéreo e ferroviário.

A posição adoptada pela Câmara Municipal de Lisboa é oportuna e relevante. Sobretudo porque a abstenção do respectivo presidente, António Costa, tem um claro significado político.


Carambola Jardim pode entornar dromedário


No rescaldo da bagunça que actualmente vive o aeroporto da Portela, por exclusiva incompetência e má política do governo e das suas ANA e TAP e Groundforce (que apesar de maioritariamente espanhola, tem a TAP como sócia), a inaudita ANA resolveu atacar o aeroporto da ilha de Porto Santo. Má jogada!

O nosso Alberto da Madeira, em plena forma, disparou: os aeroportos do arquipélago são património regional e quem neles manda é o governo eleito da ilha. Por conseguinte, despedir pessoas e fechar o aeroporto em certas horas, em nome da produtividade, nem pensar. O que é preciso, diz o macho da Madeira, é arrumar com a inviável TAP... e criar uma nova companhia! Andar com remendos não vai resolver nada na velha, ruinosa e ingovernável TAP.

Ele tem razão. E mais, se decidir pôr os aeroportos da Madeira nas mãos das Low Cost, bye bye TAP!

O Relatório da Comissão do Sistema Aeroportuário, nomeada por despacho do Ministro das Obras Públicas - ORIENTAÇÕES ESTRATÉGICAS PARA O SISTEMA AEROPORTUÁRIO NACIONAL -, de 30 de Junho de 2006, é todo um cardápio da ligeireza de quem aconselha o actual governo.


Já para o Montijo!
"As previsões de longo prazo do ACI (Conselho Inernacional de Aeroportos) apontam para uma duplicação do número de passageiros aéreos, que deverão chegar aos nove mil milhões em 2025" - Público, 19-08-1007.
Isto quer dizer que, sendo optimistas, Lisboa poderá esperar cerca de 25 milhões de passageiros em 2025. Distribuam-se 12 milhões pela Portela (i.e. menos do que o movimento em 2006) e 13 milhões pelo Montijo (voos Low Cost), e temos o problema resolvido. Entretanto, façam-se os estudos sobre o NAL na margem esquerda do Tejo, com tempo, e se for caso disso, decida-se a sua construção para entrar em funções em 2025 ou 2030.

Se o governo insistir nas megalomanias tecnicamente infundadas dos alfaiates que tiram as medidas à estratégia aeroportuária nacional, o país e Lisboa perderão a oportunidade de aproveitar o actual boom do transporte aéreo de baixo custo (que jamais pagará as taxas absurdas no NAL), perderão competitividade a ritmo acelerado e desastroso para Badajoz, Ciudad Real e Madrid, e acabarão por fazer descarrilar toda a política de transportes do país nas próximas duas décadas!

Eu sei que andam por aí muitos Migueis de Vasconcelos, deserdados da educação, que ainda comem com os cotovelos em cima da mesa e transportam pentes no bolso traseiro das calças, mas cuidado: Portugal ainda tem janelas!


Madrid-Marraqueche ligado pelo AVE em 2027-30...

Espanha e Marrocos decidem construção de túnel rodoviário e ferroviário entre Tarifa e Tânger. (Swiss Info)

Este projecto confirma as ambições de Madrid na frente atlântica europeia.
A concretização desta visão geo-económica tem passado, nos últimos 26 anos (a Espanha entrou na NATO em 1981), pelo aumento constante da sua influência económica em Portugal, no Reino Unido (onde tem vindo a adquirir bancos e empresas tão importantes como a BAA, ou seja, a companhia que é dona dos 7 aeroportos ingleses mais importantes, além do aeroporto de Nápoles), e agora na Holanda (onde disputa com o Barclays a aquisição do maior banco flamengo, o ABN-Amro). A possível criação de um Banco do Mediterrâneo, projecto acarinhado sobretudo pela Catalunha e políticos portugueses atentos, vai na mesma direcção e pretende contrabalançar o peso da França no norte de África (cuja iniciativa está a ser fortemente retomada pelo novo presidente francês, Nicolas Sarkozi).

As investidas e tomadas de posição em grandes empresas na América Latina, e mesmo a evidente aproximação ao mercado norte-americano, são outras tantas marcas da nova prioridade estratégica do país vizinho: tornar-se o principal protagonista da frente euro-atlântica. Para tal, as costas portuguesa e marroquina são, na verdade, imprescindíveis.

Portugal deve ter bem presente que uma tal estratégia por parte de Madrid será impossível de concretizar sem a sua cooperação. Estando o Brasil no pelotão dos países emergentes do BRIC, e do G8+5 , é bom de ver que a responsabilidade portuguesa é bem maior do que parece à primeira vista.

A importância estratégica de Portugal volta a estar uma vez mais assente em três pilares cuja soberania e controlo não pode, sob nenhum pretexto, alienar:

1 - a frente atlântica - o mar, os portos, os aeroportos e a necessidade de reforçar os laços com a Galiza;
2 - as plataformas marítimas do continente e dos arquipélagos da Madeira e dos Açores
3 - a língua portuguesa

Se um dia houver Ibéria, a capital será Lisboa e portuñol a respectiva língua franca :-) Nesse T ibérico, a testa da ponte euro-atlântica será formada pelo eixo luso-galaico e o tronco que a suporta não poderá deixar de estender-se ao longo do eixo transiberiano entre Lisboa, Madrid e Barcelona.


Demitam os gajos da ANA! E o dromedário das obras públicas, também!!


Se outro facto faltasse para acabar de vez com a Ota, a actual crise financeira mundial pode muito bem ser o golpe de misericórdia numa das ideias mais tortas deste país. Agora, nem Ota, nem Alcochete! A única coisa a fazer é ampliar a Portela rapidamente e em força, e operacionalizar o Montijo para as Low Cost. Precisamos, no entanto, de gente competente à frente de uma operação de emergência. Os boys que por lá se arrastam, com bons salários e sempre de cócoras, devem ser urgentemente dispensados.

O Aeroporto de Málaga, o mais antigo de Espanha que continua a operar na sua localização original e com uma pista só (desde 1919), é o quarto mais movimentado daquele país, com 13 milhões de passageiros em 2006 (1 milhão mais do que a Portela). A primeira fase de um plano de expansão que prevê duplicar a sua capacidade para 20 milhões de passageiros até 2010 inaugurou em 24 de Julho passado (El País, 24-07-2007.) Em 2010 este aeroporto passará a ter duas pistas e uma estação multimodal subterrânea por onde passarão comboios suburbanos, o metro e...o AVE!
Ora aqui está um modelo de referência para quem não é rico, como nós, e tem que deixar de espremer sistematicamente o contribuinte, corromper as "elites" e engordar o BES e outras instâncias pouco recomendáveis.


Excitações


Só incompetência? Ou plano intencional para favorecer o embuste da Ota?
Público (16-08-2007). "Estamos preparados para situações normais, não como esta", diz o director da Portela. Das oito passadeiras rolantes que transportam as malas na parte das chegadas, metade são de concepção antiga e servem apenas dois voos de cada vez, prevendo-se que sejam substituídos em Setembro. Os restantes servem quatro aviões ao mesmo tempo.

A falta de equipamentos adequados é visível no terminal de bagagens em transferência, um pequeno prefabricado junto às posições de estacionamento dos aviões de longo curso, onde, nas primeiras horas da manhã, se concentra uma boa parte da actividade. Com uma dezena de voos de longo curso a chegarem entre as 6h30 e as 9h00, cada um com 500 a 600 bagagens no porão, estão ali, no máximo, 20 trabalhadores (por falta de espaço para mais), que têm de separar as bagagens à vista, lendo as etiquetas das malas e encaminhando-as para o voo final ou para a aerogare.

É que neste terminal não existem sensores de leitura óptica, o que "aumenta a margem de erro", salienta o porta-voz da Groundforce, António Matos. A isto, juntam-se os bloqueios das tapetes (passadeiras rolantes) nas máquinas de raio x das bagagens de porão, que acabam por operar 600 malas por hora, face a uma capacidade prevista de escoamento de 900 a 1200.
O director do aeroporto reconhece a falta de sensores de leitura óptica para a bagagem em transferência, mas diz que o investimento da empresa se fez de acordo com as necessidades apontadas pelos prestadores de serviços de handling e pelas companhias aéreas, a começar pela TAP.

As lacunas na formação de trabalhadores de assistência em escala contratados temporariamente para combater os "picos" da época alta é outra das falhas apontadas pelos responsáveis do aeroporto e pela TAP. A maioria dos 400 trabalhadores temporários contratados pela Groundforce como reforço para o Verão está concentrada em Lisboa e representa praticamente um terço do total ao serviço da empresa na Portela.

Já André Teives chama a atenção para os dados recolhidos pelo sindicato no sistema interno do aeroporto: entre Janeiro e Março, cerca de 41 por cento dos atrasos da TAP foram devidos a problemas da própria companhia aérea e outros 41 por cento a atrasos nos voos com passageiros em trânsito, que iam apanhar outro avião na Portela. Outros 9,2 por cento foram da responsabilidade da ANA e à Groundforce cabe 4,8 por cento.

Se um ou mais aviões com muitos passageiros se atrasarem muitas horas, quando chegam ao aeroporto podem já não ter o número de trabalhadores que, ao início da manhã, ali estavam para descarregar os aviões."Estamos a falar de uma companhia aérea que não cumpre o seu próprio planeamento, por falta de meios disponíveis", afirma André Teives.

Ampliado el aeropuerto de Málaga (El País, 24-07-2007)

La ministra de Fomento, Magdalena Álvarez, inauguró ayer la ampliación de la terminal T-1 del aeropuerto de Málaga y los nuevos edificios de aparcamientos y de Aviación General, en los que se han invertido más de 160 millones de euros.
Estas obras están incluidas en el Plan Málaga, que prevé invertir más de 1.000 millones de euros hasta 2010 para duplicar la capacidad actual del aeropuerto: 13 millones de pasajeros por año.

En la T-1 se ha ampliado la sala de facturación con nueve nuevos mostradores, hasta un total de 29; se han incorporado tres nuevas puertas de embarque a la ya existente; se ha creado un tercer canal de tratamiento de equipajes, y se ha remodelado la fachada exterior, con una inversión de siete millones de euros.

El nuevo edificio de aparcamientos P-1 tiene siete plantas, dos de ellas subterráneas, con unas 2.500 plazas. Este edificio de aparcamientos ha supuesto una inversión de más de 150 millones de euros, cifra en la que se incluye una nueva estación para autocares y nuevos viales que aún se encuentran en ejecución.

Por último, la nueva terminal de Aviación General acogerá los vuelos privados, los aerotaxis y la escuela de vuelos, tiene más de 3.400 metros cuadrados y ha costado 4,7 millones de euros.

El Plan Málaga se encuentra actualmente a un 30% de ejecución y prevé una nueva terminal.



Notas

1. Uma compilação rápida de exemplos que confirmam a afirmação de que boa parte dos voos europeus, que aliás ocorrem dentro da Europa, percorrem distâncias perfeitamente ao alcance de transportes terrestres movidos a energia eléctrica não oriunda da combustão de hidrocarbonetos.

Distâncias entre cidades (em Km)

Londres-Paris (414)
Londres-Amsterdão (494)
Londres-Bruxelas (328)
Londres-Antuérpia (337)
Paris-Berna (556)
Paris-Frankfurt (592)
Paris-Colónia (508)
Frankfurt-Praga (552)
Madrid-Lisboa (638)
Madrid-Barcelona (628)
Madrid-Sevilha (538)
Madrid-Málaga (544)
Madrid-San Sebastian (469)
Madrid-Santander (393)
Madrid-Bilbau (395)
Madrid-Valencia (352)

Lisboa-Porto (313)
Lisboa-Faro (299)
Lisboa-Braga (366)
Lisboa-Aveiro (244)
Lisboa-Caia (236)
Lisboa-Coimbra (196)
Lisboa-Leiria (129)
Lisboa-Castelo Branco (258)

Porto-Braga (53)
Porto-Viana do Castelo (71)
Porto-Valencia (124)
Porto-Vila Real (116)
Porto-Bragança (253)
Porto-Aveiro (68)


OAM #229 14 AGO 2007