Bitola europeia, já!
Para Ligar os portos de Lisboa, Setúbal e Sines ao resto da Europa
La UE reserva dinero para el AVE extremeño en sus planes hasta el año 2020 — HOY.es
Até que Espanha garanta uma linha de bitola europeia, para tráfego misto (passageiros e mercadorias) entre Badajoz e a fronteira francesa, sem rupturas de carga, nem distância a mais, podemos marinar o projecto português de Alta Velocidade, quer dizer, atrasar o início dos trabalhos um ou dois anos e empurrar a abertura da nova linha a conclusão lá para 2014-2015, negociando as soluções mais racionais e vantajosas para ambos os países.
Lisboa-Madrid é uma prioridade, pois ligar duas capitais e duas regiões separadas apenas por seiscentos quilómetros e onde residem mais de dez milhões de habitantes não pode ser considerado à partida um projecto economicamente inviável. Em Espanha, que tem hoje a maior rede AV do mundo, todas as ligações que operam entre cidades com mais de quinhentos mil habitantes —Madrid, Saragoça, Barcelona, Valência, Málaga, Córdova, Sevilha—têm-se revelado um êxito: retiram cada vez mais carros da estrada, diminuindo o número de acidentes e os custos de seguros associados, e fizeram cair a pique o tráfego aéreo.
Mas há uma prioridade, por assim dizer, mais essencial: aproximar os portos portugueses da Europa pela via férrea. Numa primeira fase há que ligar Sines, Setúbal e Lisboa a Madrid (um grande mercado energético, de matérias primas, de produtos manufacturados e de turismo), e depois ao resto da Europa. E numa segunda fase haverá que lançar as linhas Porto-Aveiro-Salamanca-Europa, e Porto-Galiza.
Uma das medidas que deve acompanhar este projecto é a obrigatoriedade de incorporação de uma certa percentagem de trabalho, produção e criação nacionais. Não devemos, por outro lado, perder a oportunidade de relançar a indústria ferroviária desenvolvendo um cluster tecnológico e criativo à sua volta.
Mais do que ruído, é preciso agora recuperar as ideias claras e pragmáticas, e agir em nome da rentabilidade dos projectos em agenda, alterando-os sempre que se justificar — sem prejudicar compromissos assinados.
ÚLTIMA HORA
Comissário dos Transportes diz que fundos para o TGV não poderão ser usados noutros projetos
Bruxelas, 30 jun (Lusa) -- O comissário europeu dos Transportes, Siim Kallas, defendeu hoje que os fundos comunitários destinados à ligação ferroviária de alta-velocidade entre Lisboa e Madrid não poderão ser usados noutros projetos.
"Em termos concretos, os fundos de coesão são uma decisão dos Governos e podem ser realocados, mas os fundos de projetos prioritários não podem ser realocados. Então, se o projeto for cancelado, este dinheiro não poderá ser usado e regressará ao orçamento europeu", afirmou Siim Kallas.
"Então, se o projeto for cancelado, este dinheiro não poderá ser usado e regressará ao orçamento europeu", acrescentou o comissário.
© 2011 LUSA - Agência de Notícias de Portugal, S.A.
Pires da Fonseca: Linha UIC deve ligar Poceirão a Bobadela, Setúbal e Sines
A linha ferroviária de Lisboa a Madrid aceita comboios de mercadorias, e não apenas passageiros. Mas deste lado da fronteira esta vantagem competitiva poderá ser desaproveitada, se a linha mista "morrer" no Poceirão, como está previsto.
Pires da Fonseca, presidente do CA da Takargo, diz que é um erro e um desperdício de dinheiros públicos deixar a linha UIC no Poceirão, ao invés de a fazer seguir para Bobadela, Setúbal e Sines, tornando estes portos mais competitivos do que o de Valência para servir a região de Madrid.
A diferença é, "apenas", um ganho superior a 200 km na ligação entre as duas cidades, para as mercadorias; e deveria obrigar à revisão do plano português de efectuar uma via dedicada de bitola ibérica entre Évora e Caia, que após a fronteira se dirige, já do lado espanhol, em direcção a Puertollano, onde entronca com a linha Madrid-Algeciras. Por outras palavras, essa linha seria dinheiro deitado à rua, porque, com ela, Valência será um porto ainda mais prioritário para alimentar Madrid — in Cargo News.
TRÊS OPINIÕES OPORTUNAS, EMBORA COM NUANCES...
O Governo precipitou-se na decisão sobre a nova rede de bitola europeia
Rui Rodrigues
O actual Governo português, antes de tomar qualquer decisão sobre a ligação Lisboa-Madrid, deveria ter informado o Governo espanhol.
Vamos aos factos:
Em 2003, Portugal assinou os acordos da Figueira da Foz, sucessivamente confirmados por três Governos nacionais: Durão Barroso, Santana Lopes e José Sócrates.
Em 2005, o Governo de Sócrates informou que iria adiar o projecto por cinco anos. Essa decisão foi tomada no local certo: a Cimeira luso-espanhola em que Sócrates participou.
Das quatro ligações acordadas (Valença, Vilar formoso, Elvas e V.R. Santo António), apenas se encontra em construção o troço Badajoz-Madrid.
A Espanha avançou com esta ligação (Badajoz-Madrid) na sequência do que ficou assinado na Cimeira luso-espanhola de 2005. Portugal assumiu, por seu lado, que terminaria o troço Caia-Poceirão até 2013.
Antes da assinatura dos Acordos da Figueira da Foz, em 2003, o Governo espanhol de então informou que se Portugal não estivesse interessado na ligação AV entre Madrid e Lisboa a Espanha construiria apenas a linha Badajoz-Madrid em Velocidade Elevada (VE), com um tempo de viagem de três horas, pois a ligação Madrid-Mérida-Cáceres-Badajoz, em Alta Velocidade, não teria tráfego que justificasse o investimento.
Portugal assinou os Acordos da Figueira da Foz. Para se garantir um tempo de viagem inferior a três horas entre as capitais ibéricas foi então acordado entre os dois países que a via a construir entre Madrid e Lisboa seria de Alta Velocidade e destinada a passageiros e mercadorias.
Se Portugal abandonar agora aquilo com que se comprometeu, a Espanha terá investido para nada milhares de milhões de euros numa Linha de Alta Velocidade (AV) com 400 quilómetros, entre Badajoz e Madrid. Ao não chegar a Lisboa, o investimento de Madrid daria prejuízo certo.
Portugal perderá toda a credibilidade internacional se levar por diante esta decisão intempestiva, e a Espanha terá depois todo o direito de não cumprir as restantes ligações ferroviárias previstas, em bitola europeia, entre os dois países. Portugal tornar-se-ia então uma ilha ferroviária condenada à extinção.
Algumas pessoas importantes, em Portugal, ainda não perceberam que num acordo entre dois países há que respeitar os interesses de ambas as partes.
O actual Governo não sabe ainda o que quer, nem apresentou nenhum plano alternativo.
Esta situação faz lembrar o que ocorreu em 2002 na Cimeira de Valência, onde o Governo português da altura apresentou propostas para um "T deitado", que não passavam de simples "riscos desenhados sobre mapas", chegando a impor traçados em território espanhol. Por seu lado, o Governo espanhol apresentou então dossiers com projectos de engenharia para justificar a sua posição. Essa Cimeira terminou num fracasso devido ao erro do "T deitado" que visava apenas servir o embuste da Ota.
O que fazer?
O actual Governo português cometeu 2 graves erros:
Uma coisa deve ficar clara: a Espanha já avisou, mais do que uma vez, que não vai mudar nada nos acordos assinados. Se alguém espera que pode impor novas decisões ao país vizinho, está redondamente enganado.
- Tomou uma decisão sem avisar o Governo espanhol.
- Não apresentou nenhuma alternativa.
Portugal deverá não só cumprir os seus compromissos, i.e. permitir a chegada da linha AV ao Poceirão (estação de mercadorias) e Pinhal Novo (estação de passageiros), como ainda ligar esta linha que vem de Espanha (e do resto de Europa), aos portos de Sines, Setúbal e Palmela (Auto-Europa).
Portugal teria assim maior credibilidade e construiria no futuro a restante rede ferroviária de bitola europeia, de forma faseada e em sintonia com o rendimento disponível.
Alta Velocidade Lisboa-Madrid. "A solução está nos detalhes".
Comunicado do IDP - 29 Junho de 2011
Vem o Instituto da Democracia Portuguesa (IDP) chamar a atenção para a decisão constante no Programa do XIX Governo Constitucional, apresentado em 28 Junho, de suspender a parte portuguesa do projeto de Alta Velocidade (TGV) Lisboa-Madrid. Para o IDP, é uma oportunidade única para redimensionar o projeto. A solução está nos detalhes.
O referido Programa indica que "poderá sujeitar-se o projeto (TGV) a uma reavaliação, incluindo o seu conteúdo e calendário, numa ótica de otimização de custos, à luz dos novos condicionalismos, e que deverá ter em conta o estatuto jurídico dos contratos já firmados".
Recomenda o IDP que tal decisão deve abrir uma fase de reflexão relativamente curta para dotar o projeto de Alta Velocidade de uma maior racionalidade, ainda que se incorra em eventuais penalizações com os adjudicatários da obra. Assim o exige um pensamento estratégico de longo prazo, ousado, articulado e coerente, no que se refere à ligação de Portugal à Europa.
A nova via tem que ser pensada com parâmetros do século XXI. É ponto assente que Portugal só terá acesso à fronteira francesa através da rede radial espanhola: que terá de adoptar a rede de bitola europeia de 1435mm de largura para não ficar isolado da Europa; que essa ligação deve suportar tráfego misto de passageiros e mercadorias com ligação aos portos de Lisboa e Sines; e que a ligação Lisboa Madrid se deverá fazer em não mais de 4 horas, de forma a competir com a rodovia e a ligação aérea.
A solução está nos detalhes. O custo de uma linha de AV pode variar entre 3 milhões de euros por Km, nas regiões planas de baixa densidade populacional e 60 milhões de euros por Km, devido ao custo de túneis, pontes e viadutos. Em zonas montanhosas, uma linha de AV atinge valores médios acima dos 30 milhões de euros por Km.
Poderão ser obtidas enormes poupanças no projeto de Alta Velocidade (TGV) através da moderação da velocidade máxima, sem quaisquer incómodos nos objectivos comerciais do transporte de passageiros e permitindo simultaneamente providenciar uma grande melhoria e compatibilização do tráfego de mercadorias.
As poupanças começam pelos primeiros investimentos de construção, em que a preparação dos terrenos, e o tamanho dos túneis têm um peso gigantesco, e as poupanças projectam-se ao longo da vida útil da ferrovia, com custos de manutenção e de exploração muito mais favoráveis. Em consequência, as tarifas de passageiros e de carga de mercadorias imediatamente resultarão muito mais competitivas.
Tendo em conta que a re-análise sobre as características da ligação são dependentes do consenso dos dois países ibéricos e que a esmagadora parcela do mercado de procura se localiza nos extremos, na Grande Lisboa, por um lado, e na Grande Madrid, há que contar com as maiores valias que as seguintes contribuições podem representar para a sustentatibilidade do projeto de Alta Velocidade
- Redução da velocidade máxima para passageiros de 300km/hora para 280/250, com perda de 10 minutos até à fronteira.
- Manutenção da velocidade de composições de mercadorias 25ton/eixo de 100/120km/hora.
- Compensação pela anulação da paragem de composições mais rápidas (280km/hora) na cidade de Évora. (perda de 15 minutos)
- Previsão de continuidade da ligação em bitola europeia até ao Porto de Sines.
- Extensão do acesso de passageiros em mais 10km em recta até ao Serviço Fertagus na Estação existente do Pinhal Novo, assegurando a interligação com as 4 linhas de metro em Lisboa. Estação central de check-in em Lisboa Entrecampos.
- Integração de energias renováveis nas Estações intermédias.
A redução da velocidade máxima de projecto de Alta Velocidade ofereceria as seguintes poupanças e vantagens operacionais imediatas.
- Muito maior compatibilização operacional entre diferentes famílias de composições de passageiros e mercadorias.
- A inclusão e exploração de outras composições de passageiros mais económicas, 160km/hora (tipo regional intercidades), 222km/hora (similar a Alfa convencional, não pendular).
- Custos expressivamente mais baratos de primeira implantação, seja nos traçados, seja nos custos de fundação e geotecnia, seja de catenária e ainda outros.
- Custos sensivelmente mais baratos em exploração, seja em manutenção da via e da catenária, seja em custos e energéticos, seja mesmo em custos de pessoal de segurança.
- Custos reduzidos em túneis e obras de arte.
- Custos reduzidos em estações e apeadeiros de travessia.
- Custos reduzidos em aparelhos de controle e desvio e de sinalização.
Considera o IDP que “os pactos são para cumprir”. Neste caso, os chefes de Governo de Portugal e Espanha acordaram na 19ª Cimeira Ibérica em 2004, na Figueira da Foz, num traçado estratégico de alta velocidade ferroviária (TGV).
Sugere o IDP que a parametrização do compromisso de ligação de alta velocidade entre Lisboa e a fronteira francesa, passando por Madrid, receba uma "prioridade absoluta" em Cimeira Ibérica a realizar em 2011, uma prática interrompida em Zamora, em 2009.
Considera o Instituto da Democracia Portuguesa que, nesta hora de crise europeia generalizada, uma Cimeira Ibérica em 2011 será um exemplo de cooperação entre os dois países que pode ser o ponto de partida para uma ampla cooperação entre os países “periféricos” da União Europeia no que toca a respostas económicas a problemas financeiros comuns. Em vez de se virarem as costas perante as respectivas dificuldades, é urgente o entendimento entre países “periféricos” da União Europeia, independentemente dos erros graves que cometeram na estratégia de desenvolvimento económico. A luta pela coesão europeia não pode mais vogar ao sabor das oscilações perversas dos mercados financeiros e exige cada vez mais firme governação. Saibamos dar à Espanha, à Europa e ao mundo o sinal certo de quem quer vencer crises e não o de viver a seu reboque.
Lisboa, 29 de Junho de 2011
A Direção do IDP
Contributo para um Plano Integrado de Transportes nacional, baseado numa rede de bitola europeia (actualização), Capítulos 13-14. Estudo coordenado por Luís Cabral da Silva (Eng.)
Quanto aos Transportes, há a registar a divulgação, em 28 de Março de 2011, do Livro Branco dos Transportes na UE, da responsabilidade do Comissário Europeu dos Transportes, Siim Kallas. É um documento que caracteriza as políticas europeias de longo prazo para a área dos transportes e de que se destaca o seguinte:
- Reconhece-se que a Europa, sendo deficitária quanto à produção petrolífera, não pode ficar refém dessa forma de energia nem da imprevisibilidade da flutuação dos seus preços, impulsionados pela crescente procura mundial, pelas disponibilidades da produção, pelas reservas com que ainda se poderá contar e também por uma significativa especulação;
- Reconhece-se que, na Europa, os transportes são responsáveis por 27 % das emissões de CO2 para a atmosfera e que há que reduzir rapidamente tal valor;
- Estabelece-se o ano de 2030 como horizonte para a redução de 50% no consumo de combustíveis “clássicos” em todos os transportes citadinos e o ano de 2050 para a sua eliminação total;
- Estabelece-se o princípio da descriminação activa para os transportes rodoviários para percursos superiores a 300 km e, simultaneamente, a opção pelos modos marítimo, fluvial e ferroviário, por serem os energeticamente mais económicos
- Aponta-se a necessidade da progressiva introdução de combustíveis hipocarbónicos (adição de bio-combustíveis) na aviação, bem como uma melhor gestão do espaço aéreo europeu.
ÚLTIMA ACTUALIZAÇÃO: 03.07.2011 11:32