domingo, setembro 26, 2004

Socrates 3

Manuel Alegre: o pragmatismo das causas


Já se sabia que o candidato do aparelho iria ganhar. Tinha tudo a seu favor na lógica burocrática e interesseira dos exangues partidos políticos da nossa democracia. Mas o que não se sabia é que Manuel Alegre iria protagonizar o início de uma metamorfose profunda no pragmatismo corrompido de que padece a generalidade das forças partidárias do nosso País. De facto, o pragmatismo dos interesses, das subserviências e das pequenas e grandes corrupções chegou ao fim.
Maria Belem Roseira

E chegou ao fim por uma simples e única razão: deixou de haver margem de manobra para o despesismo corrupto, para a irresponsabilidade política e para a indecência manifesta. O tempo das vacas gordas dos Fundos de Coesão chegou ao fim. Malbaratámos esta oportunidade única de organizar as nossas vidas? Os políticos passaram o tempo a tomar conta de si mesmos? Deixaram o País de tanga e sem ideias? Vem aí um ciclo irreversível de recessões e uma imparável curva ascendente nos custos da energia e do dinheiro? Que fazer com os políticos que temos? Para já, vigiá-los de perto e sem descanso!

A vitória de Manuel Alegre não passou nunca por ganhar agora a direcção do PS. Passou sim, e conseguiu-o, por mobilizar a opinião socialista para o futuro da força partidária que, sózinha ou acompanhada, terá o destino do País nas mãos em 2006 ou em 2010. O número, sem precedentes, de militantes que pagaram as quotas atrasadas e acorreram às urnas, e o número de votantes regulares no PS que pediram — e continuarão a pedir — a sua adesão ao partido (entre os quais me incluo), não apenas na esperança de uma mudança imediata do comportamento político e ético do PS, mas sobretudo pela convicção de que é urgente preparar o Partido Socialista para os desafios dramáticos que a sociedade Portuguesa vai encontrar nas próximas duas décadas, representam, creio bem, o início de uma metamorfose sem precendentes na história dos partidos Portugueses. Os desafios do futuro imediato exigem, pois, muito mais do que um mero rotativismo eleitoral em volta do bloco central dos interesses que, ao longo das últimas décadas, se revelou incapaz de definir uma estratégia clara e sustentável para Portugal, mas soube, isso sim, aproveitar-se sem escrúpulos da abundância que transbordava das mesas orçamentais do poder.

Manuel Alegre e a sua equipa estão pois de parabéns por esta extraordinária e corajosa pedrada no charco.
Os escriturários da opinião pública, disfarçados nas suas cândidas máscaras de isenção jornalística (como se boa parte do jornalismo que temos não fosse uma mera sucursal das agendas políticas do atarantado poder económico lusitano), versejaram sobre as virtudes do pragmatismo, em volta da improbabilidade ministerial de Manuel Alegre, esquecendo que, a seu tempo, não faltarão nem candidatos nem boas escolhas, seja para o Governo, seja para a Presidência da República. Bastaria um pouco de honestidade intelectual para ter reparado na qualidade programática do Manifesto proposto por Manuel Alegre (sobretudo o ponto relativo à necessidade de recuperar a ideia de um Estado Estratega, por oposição ao traiçoeiro Estado Mínimo). Bastaria ter reparado nas prestações de Maria Belém Roseira, para saber que a mesma seria uma Primeira-Ministra infinitamente mais inteligente, arguta e humana que o populista desastrado Pedro Santana Lopes, o qual herdou o poder dum correlegionário transfuga, como se o poder não passasse duma Lotaria de fim-de-semana. Se os opinadores de pacotilha não dependessem tanto do que lhes pagam para dizer e escrever baboseiras, talvez dissessem a verdade. Assim, apenas conspiram a soldo do status quo.

Como escrevi, a propósito do escândalo de pedofilia (não percebo que faziam os manos Pedroso no campo de visão dos média, a noite passada, na sede de campanha de Manuel Alegre...), e também sobre a evolução da actual coligação partidária de direita, o sistema político estabilizado (e corrompido) em volta de um Bloco Central de poder acabou. Tal só foi possível enquanto rios de dinheiro afluiam ao nosso País. O mundo Ocidental vai ser forçado a aprender a superar a ideologia consumista, e o nosso País vai atravessar um longo período de penúria orçamental, desemprego e mal-estar. Neste quadro político-social, nada impedirá a radical clarificação dos interesses de cada um. Os partidos políticos tenderão, pois, a ser mais descaradamente liberais e populistas na banda direita do espectro partidário (a solução Buchista é a preferida pelo estratega Paulo Portas), e mais intervencionistas e sociais (sem prejuízo de um inevitável emagrecimento do Estado) na banda esquerda do mesmo espectro eleitoral. Isto significa que o tempo das maiorias absolutas (aliás episódico) acabou definitivamente. O nosso sistema partidário vai ter que aprender rapidamente a preparar cenários estratégicos de cooperação formal, i.e. coligações eleitorais de incidência governamental. O novo rotativismo será assim muito mais clarificador para todos os que votam e para todos os que exercem o poder.

Mas voltando ao novo sistema partidário em gestação (por força da dramatização social que aí vem), e que, em boa verdade, começou a ganhar claramemte forma na banda direita do espectro partidário, a partir do núcleo inovador formado em torno de Paulo Portas, o Partido Socialista, depois das eleições primárias de ontem, viu abrirem-se as portas de Pandora a uma transformação inevitável — a que José Sócrates deverá prestar a melhor atenção, se não quiser naufragar rapidamente nas tumultuosas águas conspirativas do aparelho que o elegeu. As direcções partidárias de todos os partidos com ambição governamental (mas também os sindicatos e associações patronais, as ONGs, etc.) terão, a partir agora, que adoptar mecanismos eleitorais e de validação das suas estruturas, públicos e transparentes . Sobretudo os partidos políticos, terão que abrir as suas portas, de forma institucionalmente clara, a quem neles vota. É por isto, e não pela espuma eleitoral de ontem, que a derrota de Manuel Alegre foi uma vitória.

- O-A-M #49 26 Setembro 2004

sábado, setembro 04, 2004

Bárbaros de Beslán

Petróleo, Guerras Assimétricas e Terrorismo


Sobreviventes de Beslan. Photo: Sky NewsO-A-M
#48
04 Setembro 2004

Depois de assistirmos a um Primeiro-Ministro de gatas perante o seu obstinado e calculista Ministro da Defesa, vimo-lo hoje babar-se de pena diante da tragédia de Beslán. Podia ter enviado uma mensagem de repúdio da acção terrorista. Podia ter enviado um fax de solidariedade com o povo Russo à pessoa (sinistra) de Vladimir Putin. Mas não, o importante foi desmultiplicar-se em poses televisivas lacrimejantes sobre o sucedido, fazendo alusões soezes à embrulhada em que se viu envolvido por causa das Women on Waves e da qual saíu completamente ridicularizado por Paulo Portas. Não vomitei, porque me ri.
Como se isto não bastasse, tive ainda a infelicidade de escutar o pomposo Ângelo Correia, armado em especialista do Médio Oriente e dos Assuntos Árabes, dizendo disparates de monta sobre a Chechenia. Para ele, o terrorismo não passa de uma fúria anti-civilizacional; as forças de intervenção militar não provocaram o terrível desfecho que os pais e mães das crianças temiam (e à semelhança do que sucedera em Moscovo); a Chechenia não tem interesse económico nenhum, muito menos que justifique aquele inferno; em suma, há que malhar nos turras, mesmo matando uns milhares de compatriotas pelo caminho, e pronto. Sempre gostaria de saber por quem corre este condottieri...

A minha posição de princípio sobre o terrorismo é a mesma que a defendida sobre o uso da guerra na resolução de conflitos de interesses: por mais sérios que estes sejam, nada os justifica numa sociedade tecnológica e informacionalmente aberta. Mas isto não significa alimentar a ingenuidade de pensar que o terrorismo (acções de sabotagem, assassinatos selectivos ou em massa, bombas humanas, raptos e sequestros, sobretudo dirigidos a alvos indefesos) seja uma invenção do Diabo. Ou que seja o resultado de mentes doentiamente saturnianas. Ou ainda uma praga, denominada agora com o pomposo nome de Choque de Civilizações. O TERRORISMO, como escrevi noutra ocasião [Vontade e Terror], TAMBÉM É A CONTINUAÇÃO DA POLÍTICA POR OUTROS MEIOS. Sem compreender as causas dos conflitos, não poderemos pois fazer qualquer juízo de valor sério sobre as suas consequências trágicas. Repudiamo-las como provas da barbárie humana, mas não devemos, por respeito à nossa faculdade de julgar, valorizar como intolerável uma acção terrorista, e como justificado o bombardeio massivo de cidades, vilas e aldeias por Forças Armadas de um qualquer Estado. As vítimas são as mesmas, e o seu horror também!

Sugiro, em suma, que nesta como noutras matérias da vida actual, busquemos activamente a informação para lá dos esquemas de contra-informação veiculados por uma imprensa de massas cada vez mais estupidificada, corrompida e directamente ligada aos interesses dos respectivos donos. Neste caso, recomendo vivamente a leitura do relatório sobre a Chechenia elaborado pela Radio Nederland.

Petroleo y terrorismo: una relacion explosiva

El diario holandés Het Financieele Dagblad, especializado en temas económicos, publica un artículo titulado: "El hambre de petróleo alimenta el terrorismo", de Heiko Jessayan.  El articulista constata que la ingerencia estadounidense convierte al Cáucaso en un verdadero polvorín. Detrás del drama del secuestro en Moscú, consecuencia del conflicto entre Rusia y Chechenia, están los intereses financieros de empresas petrolíferas transnacionales como Chevron, Exxon Mobil y Unocal. Según Jessayan la guerra fría está lejos de haber terminado.

artigo completo

Importante relatório sobre Chechenia

sexta-feira, setembro 03, 2004

Women on Waves 7

Bluff de Paulinho Portas vence Santana Lopes por K.O. ao primeiro assalto!


OAM
#47
03 Setembro 2004
Depois de levar um puxãozinho de orelhas do Presidente da República e Comandante Supremo das Forças Armadas, Santana Lopes proclamou (à laia de retaliação contra o excesso de zelo provocatório do Sr Portas) que o debate sobre a lei do aborto regressaria à agenda política já no próximo período legislativo. Anunciou que não gostava de coisas estáticas e que a inflamação pública em volta do aborto poderia acalmar muito em breve. A postura denotava uma óbvia confrontação com o chefe do partido minoritário da actual coligação. Iria resistir ao confronto?
Vimos, ao final da tarde de ontem, que não! O Paulinho bateu o pé; ameaçou rebentar com a coligação; e o Santana Lopes amochou que nem um cordeirinho manso antes do sacrifício. Que mau passe! Pensou que o seu amigo de tantas confidências iria tramá-lo? Pensou que ele estaria disposto a romper a coligação? Mau jogador de Póker este Primeiro-Ministro.
Paulo Portas jamais romperia a coligação, por que no dia em que o fizer, se o fizer antes de quebrar de vez a espinal-medula do PSD, perderá qualquer possibilidade de voltar ao poder em muito tempo, perdendo de seguida o PP (que naturalmente se revoltaria contra ele). Por outra parte, talvez seja mais fácil a Santana Lopes levar um Governo minoritário até ao fim da Legislatura, negociando habilmente com um PR tolerante e com um PS ainda em crise, do que prosseguir o Calvário da convivência com o actual líder do PP. Não ver o tabuleiro do actual xadrez político-partidário desta forma vai-lhe sair muito caro.
Quanto ao Presidente da República, perante o verdadeiro caos que reina na Administração Pública e a instabilidade psicológica que grassa na sociedade civil, a continuar o ambiente de confronto entre a ambição desproporcionada de Paulo Portas e a própria estabilidade institucional, o melhor será tirar as devidas ilações da filosofia que presidiu à decisão de empossar o actual governo de opereta. O chefe de um governo democrático não pode ser condicionado pelo seu Ministro da Defesa, sujeitando-se ciclicamente à chantagem do fim da coligação, sob pena de assistirmos a um aviltamento ainda maior do actual sistema político.

quinta-feira, setembro 02, 2004

Women on Waves 6

Artista, médica e navegante holandesa põe Governo Português em transe ideológico


WoW modelO-A-M
#46
02 Setembro 2004
Poucos saberão que há precisamente um ano as Women on Waves (WoW), apresentaram na Mediamatic Foundation / perspectives on digital culture uma exposição da sua actividade simultaneamente social, política e artística. Nela se puderam apreciar quatro instalações de Willem Velthoven, em colaboração com Rebecca Gomperts, a clínica móvel de abortos, A Portable, do Atelier van Lieshout (AvL), e documentação sobre a então mais recente expedição marítima das WoW. A clínica móvel, A-Portable, continua a ser considerada uma peça chave do Atelier van Lieshout, tendo sido aliás apresentada na Bienal de Veneza (2001) e na AvL Ville (Roterdão, 2002).
Como podemos ler no Sítio da Mediamatic Supermarkt,
os projectos iniciados pelas WoW transcendem as fronteiras tradicionais; não apenas entre países, mas também em domínios profissionais diversos, tais como o direito, a medicina, a navegação marítima, a arte e a literatura. Um dos objectivos cruciais das WoW é alertar a opinião pública. A par das campanhas de sensibilização e apoio, as artes visuais e os novos média, mas também a moda e a imagem em movimento têm-se vindo a revelar como ferramentas importantes deste projecto”.

Olhando para a história recente dos tactical media e do hacktivismo, categorias com menos de uma década, daquilo a que poderíamos chamar uma arte pós-Contemporânea, este foi porventura o gesto ético e artístico com maiores repercussões no quotidiano sócio-político de um País. Não se trata de nenhuma brincadeira. Mas poucas vezes uma “obra de arte” — ainda que híbrida—, foi capaz de precipitar um Governo europeu em tamanha atrapalhação. Enviar navios de guerra (ainda que obsoletos) contra uma embarcação europeia, desarmada, pacífica, com uma tripulação exclusivamente feminina e em missão ideológica mais do que legítima, deixou a actual maioria governamental numa figura caricata dificilmente ultrapassável. A gargalhada seria geral se o assunto não fosse, como é, demasiado sério.

Soube que a manifestação de ontem em frente à residência do Primeiro-Ministro foi, como muitas outras, anémica e pobre de ideias. A culpa principal é, obviamente, da decadência manifesta das forças políticas tradicionais (partidos, grémios e sindicatos); demasiado usadas, falhas de imaginação, burocratizadas e sobretudo corrompidas pela proximidade do Poder que a Democracia naturalmente lhes faculta. Creio sinceramente que a reforma dos métodos de debate e agitação política já só pode ter origem em vórtices criativos exteriores a este tipo de organizações. As ONG são um bom começo. Mas a minha convicção profunda é que o mais interessante há-de surgir dos novos colectivos em torno daquilo a que poderíamos chamar criatividade cognitiva. Mas para chegarmos aqui — como o fez Rebecca Gomperts e as WoW, precisamos de entender uma coisa essencial: vivemos sob a influência permanente de um novo tipo de realidade. Chama-se realismo mediático.

PS1 — As declarações do Primeiro-Ministro, à saída do Palácio de Belém, sobre o agendamento político da legislação sobre o aborto no decorrer do novo ano parlamentar, podendo ter em vista regulamentar a actual Lei por forma a incluir os riscos psicológicos no elenco das condições clínicas que possibilitam a IVG, é, para além de uma bofetada de luva branca no Sr Portas, um sinal extremamente auspicioso para o desenrolar civilizado deste terrível debate. Esperar para ver...

PS2 — Devo ao Nuno Sacramento (a quem enviei os meus blogs sobre as WoW) o link que me permitiu este artigo.

PS3 — No âmbito da Porto 2001, a convite de Miguel von Haffe Pérez, Meta Bauer comissariou a exposição First Story-Women Building / New Narratives for the 21st Century, na qual as WoW participaram. A acção em que estão neste momento envolvidas é assim uma segunda visita ao nosso País, cujo êxito espectacular se está a dever em grande medida ao atrofiamento neuronal irreversível dos rapazes que actualmente cavalgam o Governo Português. [04 Set 2004]

quarta-feira, setembro 01, 2004

Women on Waves 5

WOMEN ON WAVES ATTACKED BY PORTUGUESE GOVERNMENT, NOT IN OUR NAME!


Photo: Women on WavesBarcos de guerra bloqueiam Ms. Borndiep a 15 milhas da costa Portuguesa.
29-08-04, 17:15 : A Marinha de Guerra Portuguesa circunda o navio da Women on Waves e impedem a aproximação do navio à costa Portuguesa. Foto: Nadya Peek for Women on Waves.





OAM #45
01 Setembro
2004
Como se previa, o ministro fatal deste Governo de opereta esperou pouco para tramar o seu parceiro de coligação. Com o Primeiro Ministro em parte incerta, Paulo Portas começou uma guerra, com fragata, corveta e tudo, contra um pequeno rebocador transformado em navio de apoio à causa da legalização do aborto. A situação actual é a seguinte: Portugal bloqueou e bloqueia (através de ameaça militar!) a entrada em Portugal de um navio comunitário em missão de paz; Portugal impediu e impede a circulação livre de cidadãos comunitários no seu território, sem uma única base legal válida; o inenarrável Ministro da Defesa declara, com aquele seu ar parvo, que o assunto, para o Estado Português, está encerrado. O Primeiro-Ministro parece continuar de férias. O Presidente da República já deve ter regressado de Atenas... para assumir o cargo de Comandante Supremo das Forças Armadas. Só não se sabe se vai cumprir a sua promessa de garantir a tal continuidade do espírito do Governo legítimo que deu lugar à presente aberração.
Mas desenganem-se todos, a começar pelo Sinistro Portas: o assunto não está encerrado não senhor! Muito pelo contrário, só agora começou a deflagrar como uma verdadeira bomba mediática por essa Europa fora — a tal Europa Comunitária, de fronteiras abertas, com moeda única e uma soberania crescentemente partilhada, mas que o Paulo betinho sempre odiou (porque são assim alguns betinhos, que nunca viram nem tropa, nem guerra, na puta da vida), embora tenha, neste preciso momento, como seu Presidente, o homem que lhe deu a mão (ou a quem deu a mão): José Manuel Barroso.
O Paulinho conseguiu colocar a imagem do nosso País atrás das dos Irlandeses e Polacos, mas à sua maneira: i.e. estrondosamente. Para que toda a Europa confirme o que já suspeitava: que os Portugueses são um povinho atrasado com' ó caraças! E que gostam bué de Fundos Comunitários. Mas lá trabalhar, lavar os dentes, cortar as unhas, conhecer nem que seja mais um desportozinho além do futebol, deixar de cuspir para o chão, ou de estacionar em cima dos passeios, iss' é qu' era bom! Além do mais, os Portugas, ao que parece, têm a mania de foder as gajas e metê-las na pildra sempre que estas se atrevem a abortar fora duma clínica madrilena ou londrina.

Não em meu nome! Não em nosso nome!

Precisamos de gritar bem alto isto, ou algo parecido, ao longo deste mês. De modo a que saiba que em Portugal não habitam apenas indígenas da Idade Média, corruptos e atrasados mentais.

O nível da resposta da actual maioria à tempestade que se foi levantando depois do acto filho-da-puta de Paulo Portas ficou bem ilustrado na prestação da ex-comunista (e actual personagem rasteira do PSD) Zita Seabra. Depois de alardear como uma peixeira de fracos recursos oratórios que fora ela quem ensinara aos Espanhois como redigir a sua Lei do Aborto, deu-nos a conhecer que toda a sua recém-iluminação e clarividência sobre temas tão complexos como o da Interrupção Voluntária da Gravidez — inatingível por qualquer homúnculo de esquerda — tinha origem numa nova e fascinante Sociologia: a Sociologia do Cabeleireiro. Quem não passou, como ela, pelas passas dum Cabeleireiro, não pode saber até que ponto as mulheres Portuguesas estão tão bem informadas sobre como e onde abortar! Ficámos ainda a saber, de borla (um bónus para a plateia...), que já não existe proletariado. Metalúrgicos, mineiros, extractores de petróleo, montadores de automóveis, de televisões, de DVDs ou de computadores, apanhadores de café e chá, enroladores de charutos, operários têxteis, do calçado ou da indústria alimentar,... nada. Já nada disto existe. E quem lho disse, foi alguém, no cabeleireiro...
É certo que muito boa gente — tanto do PSD, como do PP — anda nestes dias com a pele arrepiada. E que alguma dessa gente teve a coragem de distanciar a sua opinião destas aberrações ideológicas e destes repelentes abortos do carreirismo. Temo, porém, que tais actos de civilidade e inteligência não cheguem para atalhar a verdadeira destruição ideológica actualmente em curso no interior do PSD, pela mão do Sr. Santana Lopes, e pela cabeça do Sr. Paulo Portas.

Estou disposto a assinar qualquer petição cujo título comece por: WOMEN ON WAVES ATTACKED BY PORTUGUESE GOVERNMENT, NOT IN OUR NAME!